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BIBLIOTECA DE CI£NCIAS SOCIAIS

MAx°WEOER

Ensaios de
Sociologia ...
Organização e Introdução: .
o i, H.Ho Gerth e C. Wrighl MiIIs

Quinta edição

Tradução:
Waltensir Dutra

RellÍSQõ Técni£a:
ProCoFernando Henrique Cardoso

E O I ToO R A
-- __ .••._ ,_,~. "..~.A. ._ .._ .._.__ . ._.~ ... _ •..__ .•.... _ ...

210 ENSAIOS DE SOCIOLOGIA

A reação conciliar, f' ao mesmo te~po nacionalista. cO~l~a


à universalismo do papado no desaparecJmemo da ld~de Medl.a
"leve sua .origem, em grande parte, nos interes~es dos mtelectuals
que desejavam ver as prebendas ~e. seu. pais reservad~ para
des e não ocupadas por estrangeiros vza Roma. AflO~l de
contas o nome natio como conceito legal para uma comumdad1c VII. Class •. Eslam.nla. Pc:rlida
organ{zada c:ocontra.se primeiro nas universidades e nos ,con:,L-
lios de reforma da Igreja. Naquela época, porém, a lJg~çao
tom a língua nacional per u não existia; esse do, pelos mouvos
expostos, é c:spedficamentc: moderno.
1. O PODE.R DET£RMINADO ECONOMICAMENn E A ORDEM SOCIAL
'" Se' acreditarmos que é cômodo distinguir o sentimento na-
Cional como algo homogêneo e especl!ic~meme à parte, só o•..pc-.
deremos fazer em relação a uma tcndencia para o Estado ~utono-
mo. E devemos ter plena ,consciência do fato de que sen~lmentoS
A LEI
seja mantida
EXISTE quando h. uma probabilid.de
por um quadro específico de homens que usarão
de que a ordem
de solidariedadel mu'ito heterog~neos tanto na sua natur~za ~omo
na' orjgem~, estão compreendidos pelos sentimentos naClonalS. a força física ou psíquica com a intenção de obter conformidade
com a ordem, ou de impor sanç.õcs pela sua viúlação. A estru.
tura de toda ordem jurídica influi diretJmente na disuibuição
do poder, econômico ou qualquer outrO, dentro de sua respectiva
comunidade. Isso é válido para todas as ordens jurídicas e não
apenas para a do Estado. Em 'g<:(a1,entendemos por "poder"
a possibilidade de que um homem, ou um grupo de homens,
realize SU:l vontade própria numa ação comunit~ri3 até mesmo
COntra a resis~ência de Outros que participam da ação.
O poder "condicionado ~conômicam~ntetl não é, decerto, idên-
tico ao "P9der" como tal. Pelo contrário, o aparecimento do
poder cconômko pode ser a conseqüência do poder existente por
outros motivos. O 'ho~em não luta pelo poder apenas para
enriquecer economicamente. O poder, inclusive o poder econô-
mico, pode ser desejado llpor si mesmo". Muito freqüentemente,
a luta pelo poder, também é condicionada pelas "honras" sociais
que de acarreta. Nem todo poder, porém, traz honras sociais:
o chefe político americano típico, bem COmo O grande especula-
dor típico, abrem mão deliberadameme dessa honraria. Geral-
mente, o poder "meramente econômico"l em especial o poder
financeiro puro ~ simples, não é de forma alguma. reconhecido
como b~se de honras sociais. Nem é o poder a única base de

Wirt.tchaft UM Gesel1.scha/t, parte UI. cap, 4. pp. 631-40. A


primeira sentença do parágrafo um c as vArias definiçõcs que. neste
capítulo. estão entre colchetes, não constam do texto original.
Foram extraidas de OI ,;ros contextos de Wirtschaft UM Gesellschaft.
CL.\SSE, ESTA).(E~"TO, PARTIDO
212 ENS.\IOS DE SOCIOLOClA

tal honra. Na verdade, da, ou o prestígio, podem ser mesmo troca, ~ria, em si, oportunidades específicas de vida, o que cons-
a base do poder político ou econômico, e isso o.c0rreu muito tit~~ um fato ~co~ô:nico bastante elementar., Segundo a lei da
freqüentemente. O poder, bem como as honras, podem ser assc- u[~hd..2?e margmal, e~se modo de distribuiçio exclUI os não:"pro-
gurados pela ordem jurídica, mas, pelo menos normalmente, não pnetanos da competição pelos bens muito desejados; fa ..•.
orece
é a sua fonte primordial. A ordem jurídica .constitui antes um os proprietários e, na verdade, Ihc:s dá o monopólio para a aquisi.
fator adicional que aumenta a possibilidade de poder ou honrasj ç50 dês.ses bens. Em igualdade de fatôres, êsse modo de dis-.
mas nem sempre pode as.segurá~los. trihuição monopoliza as oportunidades de tr:msações lucrativ:J,s
para todos os que, dispondo de bens, não têm necessariamente
A forma pela qual as honras sociai's são distribuídas num.a
de trocá-los. Aumenta, pelo menos em geral, scu poderio nas
comunidade, entre grupos t(picos que participam nessa distribut-
guerras de preço com OS que, não tendo propriedades, só têm
';0 pode ser chamada de "ordem social". Ela e a ordem eco-
r J " d a oferecer seus serviços, em forma bruta, ou bens numa forma
nômica estão, decerto, relacionadas da mesma forma com a ar em
constit'uída através de seu próprio trabalho e queJ acima de tudo,
jurídica". Não são, porém, idênticas. A ordem ~ial é, pa~a
são compelidos a. se desfazer dêsses produtos para que ~sam.
nós, simplesmente' a forma pela qual os bens c: s~rvlços c:cono-
simplesmente, subsistir. Essa forma de distribuição dá ao's pro-
micos são distribuídos e usados. - A ord~m SOCial é, decerto,
prietários um monopólio da possibilidade de trõlnsíerir be:ns dõl
condicionada em alto grau pela ordem econômica, c: por sua vez
esfer:J de uso eomo "fortuna" para a esfera 'de "bens de capital"j
influi nela. isto é, dá-lhes a função empres::trial e tôd3s as oportunidades de
De:ss:l forma, "classes", "cstamento.s" e "partidos" são fenô- partici~ar ?ir~t~ ou indiret~ente dos lucros sôbre o capital.
menos da distribuição de podc:r dentro de uma comunidade. _ Tudo ISSO e valido dentro da arca na qual predominam as con-
dições de me:rcado pura e simple:smente. "Propriedade" e "falta
de propriedade" são. portanto, as categorias básicas de:. tôdas
2. Dtn:.RMIN •.••
ÇÃO D.••. SITU:\ÇÃO Dê. CL'.SSE PEL.••
as situações. de classe. Nã? importa se essas duas categorias se
SITV.-\ÇÃO DE MUC.I,.DO
tornam efetivas em guerras de preço ou e:n lutas competitivas.

Em DOSsa terminologia, 'lclasses:' ~ão são c<:munidades;' r:- Dentro dessas categorias, porém, as situaçócs de classe dis.
prc:sentam simplesmente bases POSSlVelS, e frequente~l de açao ti~~ue:n-se melhor: de um lado, segundo o tipo de propriedade
comuna!. I 'Podemos falar de uma "classe" quando: 1). certo utilizável para lUcro; de Outro .lado, segundo o tipo de, serviços
número de pessoas tem em comum um componc:~te causal espc. que podem sCr oferecidos no mercado. A propriedõlde dos edifí-
cHico em suas oportunidades de "ida, e na medida em que 2) cios de residêneiaj dos estabelecimentos produtores; armazéns;
ésse componente é representado exclusiv~mente pe10s interêsses lojasj terra cultiávelj grandes e pequenas propriedades - dife-.
econômicos da posse de bens e oportumdades de renda•. e 3) re:nças quantitativas com possLveis conseqüências qualitativ~s -;
é represemado sob as condições de mercado de produtos ou propriedade de minas; gado; homens (escravos); disposição sôbre
mercado de trabalho. [l'sses pomos referem. se à "situação de instrumentos móveis da produção, ou bens -de capital de: todos
classe", que podemos expressar mais sucintamente ~0..m0 a pp?r- . os tipos, especialmente dinheiro ou objetos- que possam ser tro-
tunidade típica de uma oferta de b~n.s, de condtç<?es de Vida cados por dinheii-o, fàcilmente e a qualquer momentOj contrôle
exteriores e experiências pessoais de vlda, e na rn~dlda em que do produto do próprio trabalho e de trabalho de outros,. diferin-
essa oportunidade é determinada pelo vol~~c: e tlpo de ~e.r, do segundo as variações na possibilidade de consumo. comrôle
ou falta dêlcs, de: dispor de bens ou habdt~ad~s em benefiCIO dos monop6lios transfcTÍvei"s de qualquer tipo - tôdas 'essas dis.
de r~nd:il de uma determinada ordc:m economlC3. A palavra tinçé<:s caracterizam as situações de classe assim como o Hsentido"
"classe" refere-se a qualquer grupo de p~ssoas que se encon- que elas podem dar, c dão, à utilização da propriedade,. especial.
trem na mesma situaçáo de: classe.] meD~e a propncdade que tem equivalentes monttários. Assim,
A forma pela qual a propriedade material é distribuída entre os prpprietários, por exemplo, podem pertencer à classe: dos 'arrcn~'
várias pessoas, que competem no mercado com a fmahdade de. dadores ou à classe dos empresários. .
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215
CLASSE, 'ESTAM'E'STO, pARTlDO

:E.NS.-\IOS DE soct~l.OGIA muito, dependendo de se ter ou não desenvolvido da situ&l.~ão de


o c.l~sseuma ação comunid,ria por parte duma porção maior ou me-
. Os que não tê~ propriedade mas\
oferecem serviços .sã dis- nor daqueles que: estão igualmente afetados pela "situação de clas-
tinguidos tanto pelos tipos de serviçeis que prestam eomo pel. se'~,ou mesmo uma asscciação entre: cles, por exemplo, um "sin-
forma pda qual ~azem uso desses servisos, numa re1aç~oêontÍnua di~ato'\ da qual O indivíduo possa. ou não esperar resultados
. ou descontínuo. com um' recipiend5.r~. M:ls es~a e sempre a prç,missores. (A ação comunitária refere-se à ação que: é. orienta~
conotação. genérica do co~ceito de claf!:: que o upa de. oport~- da: pelo sentimento dos agentes de pertencerem a um todo. A
nidade no mercado' é o momento decISIVOque apresenta condl-. ação .societária, por sua vez, é. orientada nO sentido de um ajus-
ção 'comum para a sorte individu.1. "Situação de cla"e", nesse. tamento de interesses raçionalmente motivado.] O aparecimento
sentido, é. :em última análise, "situação de merQ.do". O cfeitq de uma ação societária ou mesmo comunit~ria, partindo de uma
da simples posse, por si, que enue os criadores de gado coloca" situação comum de classe, não é de modo algum um fenômeno
o escravo ou o serVO sem propriedades nas mãos do dono assede
gado, é apenas um precursor d. ve'rdadeira formação. de "el ": universal.
A sitUalfão de classe pode ser limitada, em seus efeitos) à
EntretaDto) no empréstimo de gado e na .crua se\'endade da lei
de dívidas nessas c.omunidades. pela primeira vez a simple:s HpoS_ criação de reações essencialmente homog2n(Qs, ou seja, dentro
si' como tal surge, decisiva, para o destino do ind~víduo. Isso de no!.sa terminol~gia, de "ações de massa". Não obstante,
contrasta bastante com as' c.omunidades agrícoi:ls baseadas na tra. pode não ter nem mesmo esse resultado. Além disso, com fre-
.balho. A relação eredor-dCvedor só se torna a base da~ "situações qüência surge apenas uma ação comunitária amorfa. Por exem-
'de classe" n.s cid.des onde 3 plutocracia criou um "mercado de plo, o "r~smungar" dos trabalhadores, conhecido na ética orien-
cré.ditO", por mais primitivO que seja, com t.axas de juro a~~ tal antiga: a desaprovação moral da conduta do feitor, que em
mentando segundo as proporções da escassez. e urna monopoh. sua significação .prática equivalia pro.••.avelmente a um fenômeno.
cada vez mais típico do mais recente desenvolvimento industrial,
z.~ão concreta dos créditos. Com isso, iniciam-se as "lutaS de
a "operação tartaruga", ou seja, a limitação deliberad<\ tio es.
classe". forço de trabalho pelos opcrários em virtude de um acordo
Aqueles .cujo destino não é determinado pela oportunidade tácito. O grau no qual a "ação comunitária" e possivelmentc a
de usar, em proveito próprio, bem e serviço$ no m~rcad~, l~tO 'lação societária" surgem das "ações de massa" dos membros de
é. os escravoS, não são, porém, Ul}13 "c1asse.", na senudo tCCnlCO uma da~~e depende de condições culturais gerais, especialmente
ela express5.o. São, antes) um "estamento". as do tipo intelectual. Também depende das proporções dos
contrastes que já tenham surgido) cstando especialmente ligada
à tr(tnsparéno'a das ligaçõcs entre as causas e as cOMeqüências
3. AçÃO CoMUNITÁRIA DtCOtl.'P..'E.N1'E. 00 l!'ôrtREss£ DE Cl.:,:tSE da "situação de c.lasse". Por mais diferentes que as oportuni.
dades de: vida possam ser, e.1sefato, em si mesmo, segundo tôda
Segundo a noSSa termino.\ogia, o £ator que cria "classe" é experiência, de forma alguma dá origem à "ação de classe" (ação
um interesse econômico claro, e na verdade, apenas os tnte:resses comunitária pelos membros de uma classe). O fatO de ser con-
lig.dos à existência do "mercado". Nóo obstante, o. conceit~ de dicionado e os resultados da situação de classe precisam ser
"interess pe classe". é acribígu.o: mesmo como concel{Qemplr~co claramente reconhecidos. pois somente então o contr3;ste das opor.•
é .ambíguoe na medida em que se entenda por ele algo akm tunidades de vida poderá ser considerado não como um dado
da .direção [atu.l de interesses que se segue com certa probabIli- absoluto. a ser ac~jto, mas como resultante: 1) da distribuição
dade da situação de da"e para certa "média" das pes~as suj"- de propnedade eXistente, ou 2) da estrutura da ordem econômica
à
. tas situação de d.sse .. Não havendo varia~óes n. Sltuaç;O de concreta. Só então é que as pessoas podem reagir cOntra a
dasse e outras circunstâncias, a direção na qual o trab.lhador es~rutura de. clas~es, .não ape~as auavés de atOSde protesto inter-
individual, por exemplo, deverá buscar seus interesses pode ~a- mJtentes e uraClonalS, mas sob a forma de uma associação ra~
fiar muito, dependendo do !a:o de e5t~r qualiftcado constltUCIO. danaI. Houve "situaçócs de c1assc" pertencentes à primeira
nalmentc) em grau alto. media ou baIXO, para a tarefa que .se
s
apresent.. Da mesma forma, • direção dos mteresse pode vanar
... .'

216 ENSAIOS DE. SOCIOLOCl.\


: CL."SS£, ESTA~IESTO, PARTIDo 217
categoria 1), excepcionalmente nítidas e c\'i?e~tcs nos, ceatras da empresa capitalista é precondicionada por um tipo específico
urbanos da Antigúidade e durante a Idade MedIa; e'pCClalmeote de "ordem jurídica", C1da tipo de situação de classe, e acima
nesse último caso, quando foram acumuladas ~rand~ ~ortunas de ludo. quando se baseia no poder da propriedade P'" u,
pelo monop61io de fato do comércio de produtos mdustnals desses torna~se mais.-cvidcntemente eficaz quando todos os Outros de-
centros ou do comércio de comestíveis.. Além disso, em certas terminantes das relaçõcs r"Ccfpio:.Js.são, na medida do possL ••.d,
circunstâncias temos o exemplo de economias rurais dos mais eliminados em sua signiíic:J.são. :t:. desse modo que a utiliz:1çâo
diversos períodos, quando a agricultura era explora,da ~e forn:a do poder d:1 propriedade no mercado consegue sua maior im-
crescente com objetivos de lu::ro. O exemplo h1St6nco malS portância soberana. . . .'
importante da segunda categorio..2) é a situação de classe do
"proletariado" moderno. Ora, Os chamados "estamentos" dificuham a realização 'ri •.
gorosa do princípio de mercado, puro e simples. No presente
conrexl,!, são de interesse para n6s apenas deste pomo de vista.
4. TIPOS DE "Lt:TA DE. CLASSE" Antes de os . examinarmos sucintamente, observemos que não
se pode dizer muita coisa de natUreza geral sobre Os tipos mais
Assim, toda classe pode ser portadora de um~ das ]'OssíYe:is específicos de, antagonismo cntre "classes". (em nosso sentido
e numerOsas formas de: "açáo de classe", embora ISSOn~o acon. da expressão). A grande tr:msformação, que ocorreu COntinua.
teça necessariamente. De ~ualque.r modo} u~a cl~~se nao cons- mente no p~s$ado e veio até a nossa época, podc=ser resumida. '
titui em si, uma comuDldade. Tratar a classe conc~ptual- embora 3 (:xpecsas de uma certa precisão: ;;1 luta no. qual as
me~te como tendo o mesmo valor de. "comunidade" leva à situações de classe são dC'ti.•.as se deslo::ou pro~essivam(:ntc,
deformação. O fato de homens na mesma situação d~ cla~sc primeiro, da fase do créditO de consumo para as lutas compe-
reagirem regularmente através de ações d~ massa <l s~ruaçoes titivas no mercado de produtos e, em seguida) para as guerras
tâo tangíveis quanto as econômicas. c reaglTe~ no 5en[ldo do.s de preço no mercado de trabalho. As "lutas de classe" da
interesses mais adequados à média deles, é lmpo~tante, e ~a Antigüidade .- na medida em que foram autênticas e não ape-
verdade simples, para a compreensão dos acomeClmentos ~tS- nas lutas entre estamemos - foram realizadas inicialmente pelos
tóricos. Acima de tudo, esse fato. não de.ve lev:lr àqu.cle opa camponeses endividados e talvez, também, pelos artesãos amea-
de uso pseudo:iencífico dos conceit?~ d.e "d~sse" e :'tnteresse çados pela sersid50 em conseqüência de dí-..;idase que lutavam
de classe" observado com tanta frequencta, hOje em dia, e que contra os credores urbanos, pois a sujeição por dívidas é. o re-
encontra sua expre.ssão mais clássica na 3firmação de. um autor sultado normal da diferenciação de riqueza nas cidades comer-
tale.ntoso: de que o indivíduo pode errar em relação aos seus ciais, especialmente nas cidades portuárias. Situação semelhante
interesses, mas que a "classe" é "infalí •.•.
el•• em re~3çã~ a esses existiu entre Os c~iadores de gado. As relações de débito, como
interesses. Não obstante, se as classes como tal nao sao ~omu~ tal, provocar3Jll o.ção de classe até a época de Catilin3. Jun-
nidades ainda assim as siru3ções de classe s6 aparecem a base tamente com isto e com um aumento no abastecimento de cc-
da com'unalização. A ação comunitária que cria situações de reais para a cidade, transporrando-os de fora,. surgiu a luta pelos
classe porém não ~ basicamente ação entre membros de classe meios de manutenção. Cenmllizou-se, em .prime.iro lug2f, em
idêntic.ai é ~a ação entre membros ?e classes difer~ntes~ Os tOrno do abastecimento de pão e na' determinação de seu preço..
atos comunitários que determinam diCelamentc a sltuaçao de Durou t.oda a Anrigüidade e toda a Idade Média. Os não-pro.
classe. do trabalhador e do empresário são: o mercado dc tra p

priecários, como tal, agruparam-se contr3 os que, real e. supos-


balho, o mercado de. produtos e a empresa c.api~alista. Mas, tamente, tinham interesse pela escassez do pão. Essa luta di-
por sua vez, a existência de um~ e~pres~ eapnah,Sl.3pressupõe fundiu-se até. envolver todos os produtos essenciais ao modo
a existência de: uma ação comunltána multo espeCifICae que é de vida e à produção artesanal. Houve apenas discussões inci.
especúicame.Dte estruturada para prot~ge~ ,a poss:, de ben~. ptT piente, de disputas salariais na Antigüidade 'e na Idade Média,
st, e especialmente o poder que os lndlVlduo~ te.m de .d,~s~r, que foram, .porém, crescendo lentamente até. os tempos moder-
em princípio livremente, dos meios de produçao. A eXlstenc13 nos. Nqs perlodos anteriores, elas foram comple.t:lmente se-
...~.~,
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218 E}-;S:\lOS DE SOCtOLOGIA C1.ASSE, £STA:!o.fEt-.""TO,P.UTlDO 219


cundárias às r~beliões de escravos, bem como às lutas no mer- distinções de classe estão ligadas, das formas mais variadas, com
cado de prod utos. as distinções de status, A propriednde como tal nem sempre é
(Js não-proprie,ários da' Antigüidade e da Idade Média pro- reconhecida como qualificação esumental. mas :1 longo prazo
tes'taram contra os monop61ios, as compras anteclpa~a.s, ~çam~ ela :3Ssimé, e com ex[t<lordinári:::tregularid:lde. Na economia
'barcamento, e a rett~nção de ~ns do mercado com a: finalidade: de subsistência da comunidade org:lnizada, cOm freqüência o
de aumentar os preços. Hoje em dia, a questão ccmeaI é .3 homem mais rjco é. simplesmente o chefete. Isso pode, porém,
determinação do preço do. trabalho. significar com freqüência apenas uma preferência honorífica. Por
exemplo. na ch:lmada C/democracia" moderna pura, isto é, a de-
,. Essa transição é retratada pela luta por acesso ao mertado mocraci:::t4estituída de quaisquer privilégios estamemais expres-
. e p'ara determinar o preço 'dos produtos. Tais ~utas foram trava-
sameme ordenados para os indivíduos, pode aconteccr qu~ $O-
das. entre comerciantes e trabalhadores, no SJstema de artesa..
mente as famí1ia~ pertencentes aproximadamente à mesm3 cate4
nato dom~stico, durante a. transição para os tempos .modernos: ,ç-oria tributária dancem umas com as outras, Esse exemplo
Como é um fenômeno bastante geral, devemos menCIonar aqUi
e citndo em relação a certas cidades suíças menores. Mas .il1hon4
que Os antagonismos de classes condicionados pela situação. ~e
raria estamemal não precisa, necessariamente, estar ligada a uma
mercado são habitualmente mais ~cerbos entre os que partiCI-
"situação de cla:ise". Pelo contrário, normalmente ela se opõc
pam, real c: diretamenre, co.mo adversários nas. guerras de preç?s. de forma acentuada às pretensões de simples propriedade.
Não é o homem que vive. de rendas, o ac!onlsta e o banquetro
que sofrem com a má .vont3de, do trabalhador, mas qua.::e Tamo'os proprietários como os não-proprietários pertencem
exclusivamente o industrial e os diretores de empresas que $aO ao mesmo estamentO e freqüentemente o fazem com resultados
adversários diretos dos trabalhadores nas guerras de pre.ços. Isso bem tangí\'eis. Essa "igualdade" da estima social pode, porém,
ocorre a despeito do £;1[0 de sor pr~d~<lme:ntepara as a.rcas do a longo prazo, tornar.se pre.cária. A "igualdade" social entre
homem que vive de rendas, d~, aClo~IS[~, c d~ banqueIro que os "cavalheiros" americanos, por exemplo, se expressa pelo fato
£luem os lucros mais ou menos gratUltos, e nao para os bolsos de que fora da subordinação determin:1da pel:1Sdiferentes fun-
dos. fabricantes ou dos administradores. Essa situação ~imples ções nos "negócios". seria considerado rigorosamente repugnante
tem sido, com muita' freqüência, decisiva para o pap,el que ,a - onde quer que a velha tradição ainda predomine - se até
situação de. dasse desempenhou na forma~ão dos partldo,S poli- mesmo o mais rico "chefe", ao jogar bilhar ou cartas em seu
titos: Possibilitou, por exemplo, as vanedades de s?C1ahsmo clube à noite, não tratasse o seu "funcionário" corno, sob tedos
patriarcal e as tentativas freqüentes - pelo ~enos antlgamem~ os aspectos, seu igual por nascime:mo. Se::riarepugnante que o
- dos estamcntos ameaçados de formarem alianças com o pro- "chefe" americano concedesse ao seu "funcionário" uma "bene-
letariado COntra a "burguesia". volência" condescendente, estabel"ecendo uma distinção de "posi-
ç~O", que o chefe: :llemão jam:1is pode dissociar de: sua atitude.
E essa um:! .das r:lzões mais 'importantes pelas quais na Amé-
5,. A HONM ESTAME""AL
rica o "espírito de clube" alemão jamais pode :l1cançar a atra-
ç-ão exercida pelos clubes .3meric:lnos,
.. Em contraste' com as classes, os grr'po$ d~ "ftatul.' s?0 nor-
malmente comunidades. Com freqüência, porém, são do tipo
amorfo. 'Em contraste cçm a "situação de classe" determinada 6. GARA!'fTIAS. DA ORCANlZAÇÃO ESTAMENTAL
apen:1s por motivos econômicos, d~s~jamos desi.gnar como "si:
ÚJaçâo de Itatus" todo co~po~cnte tJP1:~ do dc~t:no dos hom~nsJ
No conteúdo, a honra estamental é expressa normalmente
determinado por. uma esuma{Jva espeCifica, posltlva ou negativa,'
pelo fato de que. acima de tudo um ~Itilo d~ vida específico
da honrana. Essa honraria pode estar relacionada coril qual-
quer qualidade partilhada por uma pluralidade ~e indivfduos e, pode ser esperado de todos os que desejam pertencer ao círculo.
Ligadas a essa expcct<:l.tivaexistem restrições ao relacionamento
decerto, p~e estar relaCionada com uma SHuaçao de classe: as
"social" (isto é, ao rel:1cionamento que não se prenda a objetivos
220 u-s.ucs O£ SOClOLOCI •.•• CLASSE, EST.'\!'>1tNTO, P.'\llTIDO 221

econômicos ou quaisquer outros objetivos "Íuncionais" da em.


presa). Essas currições podem limitar os casamentos normais i~' SEGREG ..••ÇÁO. ~'£r)'o:tc..•.••E "V.STA"
ao círculo de status e podem levar a um completo fechamento
endogâmico. Tão logo deixa de haver uma mera imi:ação indi- Onde as suas conscquencias se realizaram c:m toda a exten-
viduai, socialmente, irrelevante, de outrO estilo de ..•..
ida, para haver são) o estamento evolui pJ.ra uma "casta" fechada. As distin-
uma a.ção comunaI consentida com esse caráter de fcch3mcntO, o ções est~mentai~ são, então, :sseguradas não simplesmente 'pelas
desenvoh'imento do stalus estará em prccesso. convençoes e lets, mas também pelos rituais. Isso ocorre de tal
modo que todo contato físico com um membro de qualquer casta'
Em sua forma característica, a organização estiJmental tendo que seja. considerada "inferior" pelos membros de uma casta
por base estilos de vida convencionois está surg:!1do no momemo "s~perior" é co'nsiderado como uma impureza, ritualístka e um
nos Estados Unidos, a partir da democc::lcia tradicional. Por .estl~r:naque ~eve ser expiado .por um ato religiow. As castas
exemplo, somente o morador de uma determinada rua ("a rua") IndIvIduals criam cultos e deuses bem distintos.
é considerado como pertencente à sociedade,. está qualificado
para o relacionamento social c é visitado e convidado. Acima . Em geral, porém, os estamemos só chegam a tais conseqüên-
de tudo, essa diferenciação se desenvolve de tal forma que produz Clas extremas quando h~ dife:-enças subjacentes. consideradas
estrita submi.ssão à moda dominante em dererminado monlCIltO como "tcnicas". A "casta" é, realmente, a forma natural pela
na sociedade. Essa submissão à moda existe também paro. os qual cos~u.mam "socializar-se" as comunidades étnica's.que crêem
homens na Am~rica, em grau desconhc:;cidona Alemanha. Tal no parentesco de sangue com os membros de comunidades ex-
submissão é considerada como um indício do Íato de: que um teriores e .0 .rdacionamento 5OC!a~. Essa sit.uação de casta é
determinado homem prcundt qualificar-se COn)O um cavalheiro, parte do' tenoI?cno de povos panas e se encontra em todo o
e faz que, pelo menos pn'ma jacit, seja tratado como tal. E ,mundo. Esses povos formam comunidades, adquirem tradições
esse reconhc:cimento torna. se tão importante para suas oportuni. ~cup2cionais especí[icas de arcesanatos, ou de outras artes, e cul-
dades de emprego em escabelecimentos "finos", e, acima de tudo, tivam uma crença em sua comunidade étnica. Vivem Duma
para o relacionamento social e casamento com famílias Hbem "diáspora" ri~orosa~ente. scg.r~gada de todo r,c:lacionamento pes-
consideradas", quanto a habilitação para o duelo entre os alemães, soal" ~ceto t~ de upo mevn3v.c:l, e sua situação é legalmente
na época do KaiSCi. Quanto ao reSto: cenas famílias residentes prec~na: N_30 o.bstante, em Virtude de. sua indis?ensabilidade
há longo tempo e, decerto, correspondememente ricas, por exem. cconomiC.a, 530 tolerados, :ealmeme, ,e. freqú.emememe privilegia-
pIo as primeiras famílias da Virgínia ou os descendentes, reais dos) ~ Vivem em .comuOldades pohucas dispersas. Os judcus
ou im:!.ginários, da "princesa índia" Pocahontas, ou dcs fundado- consututm o exemplo histórico mais impressionante.
res da Nq .•.a Inglaterra ou dos fundadores holandeses de Nova Uma segregação de Cstamentos que se 'transforma numa
York, os membros de seitas quase inacessíveis e de toda esp~cie ::cas~a""difere, em sua estrutura, de uma segregação simplesmente
de círculos que se distinguem através de quaisquer outras cara(;:- étmca : a estruwra de casta transforma as 'coexistências hori-
terísticas e insfgnias ... todos esses elementos usurpam a honraria z:ontais e ~esconexas de grupos etnkamente segregados num
estamental. O desenvolvimento do estamemo é. essencialmente s!stema SOCialde super e subordinação. Formulando correta-
uma questão 'de estratificação que se baseia na usurp:l.ção, ,que me~te: uma S?',ia~ização de tipo amplo integra as comunid:tdes
é a origem normal de quase toda honra estamental. ,Mas o ca. etOlcamente dly~d.•ld~ c~ ação com.unitária específica, política.
minho dessa situação puramente convencional para ° privilégio ~m .sua~ c.onsequen.cl.asdIferem precisamente porqu~: 3S coexis~
locaL positivo ou m~gativo, é percorrido facilmente tão logo tenClas et~lcas condiCionam uma repulsão e um, desprezo mútuos
uma certa estratificação da ordem soci:l,l tenh3, n;], verd:tde, sido mas permitem a t~da comunidade étnica considerar a sua pr6pri~
•..•.ivida" e tenha conseguido a estabilidade em virtude de urna honra ~om~ a mais. elevada; .a separa~ão de casta provoca uma
distribuição estável do poder econômico. subordtnaçao e um reconhCCIlDCntode "mais honra" em favor
dos estarnemos ~ c~stas privilegiados, pois as' diferenças éuucas
",,,espondem à Ju~ção desempenhada dentro' da associação pc_
.." ..- _----- ""._-._.- ,_.

r,
2ii E•••••.
SAios fIE SOCtOLOCl1\
CLASS£~ ESTAMEl'.'TO. PARTIDO
223
Iítica (guerreiros, s:lcc:rdor(:s, ilrtc~ãos que s:io politicJmcnte im-
a guerf2, física e pSiquicamente). Mas a seleção está longe de
port2nlCS para a guc:rra e a construção. e assim por diante).
ser a única forma, Ou :l predominante, pela qual os estamemos
Porém mesmo os po\'os pá rias que: são mais desprezados podem.
são ~or'mados. A participação política ou situação de classe foi,
habitualmente, continuar cultivandQ. de algum modo, aquilo que em tôdas 3S épocas, pejo menos frcqüclUcmente decisiva. E
e. igualmente peculiar J comunidades étnicas c de ~Js(as: a crença
hoje a situação de classe é, de longe, o fator predominante, pois
em sua própria honra eSIXcífica. 1:: o cas,O dos Judeus.
decerto a possibilidade de um estilo de vida esperado para os
Apenas com os estamc:ntos neg:uivamente privilegiados o membros de' um estam:mo é, em geral, economicamente condi-
"sentimento de dignjdadc" sofre um desvio específico. Um cionada.
s~ntimtnto de dignidade é a precipitação nos indivíduos da honra
social e das. exigências convcnçionais que um c:st3memo positi- 8. PRI\'ILÉCIOS £ST~MEr-:T."IS
var,ncnte pdvilegiado cria para :1 condut.:1 de seus membros:. O
sen'timento de dignidade que caractcriz:::t os eS~Clm~ntOS Pos.!tl\'a- Para todas as finalidades práticas, a estratificação estamemal
rnc:i1lc privilegiados relaciona-se, naturalment~, com seu "ser" que vai de mãos dadas com uma monopolização de bens ou oportu-
núo tr::lOscc'nde a si mesmo, isto é, rdaciona-se com sua "belez:l nidades ideais c materiais, de um modo que chegamos a consi-
e excelência", Seu reino f.. "deste mundo". Vivem p:\r<! o derar como típico. Além da honra. cstamental específica, que
presente e explorando seu grande passado, O senso de dignidade sempre se baseia na distância c exclusividadc, encontramos toda
dás camad3s n~g~nivamente privilegi:ldas naturalmente se ;e:fer~ SOrte de mono?ólios materiais. Essas preferências honoríficas
a um futuro que está além do presente, sej:l desta vida ou de podem consistir no privilégio de usar roupas especiais, Comer
outró1, Em outras pal:lvras, deve ser nutrido peja crença nUl"!'la pratos especiais que são tabu p3ra outros, portar armas _
"missão" providencial e por uma crença num:l honra específica o que é bastante 6bvio em suas ronseqüênci3s _ o direito de
per:lnte Deus, A dignidade do "i';'vo c.s7?}h~do" é :l~imentad.a ~e~car-se a certas práticas artísticas por diletantismo, não.pro.
por uma crença. sej3 de que no :llcm os ultJmo~ ser30 os pn- fJssIonalmeme, ,como por exemplo tocar determinados instrumen_
meiros'\ seja de que, nesta vida aparecerá um MeSSIas para traz.er tos music3is. f: claro que os monopólios materiais proporcionam
à. luz do mundo que os enxotOu a honra oculta cio povo P3r1<l, os motivos mais eficienres para a exclusividade de um esrarncmo;
'Esse simples estado de coisas, e ~ão o "rcssen~imento",. que é embora em .si mesmos eles raramente sejam suficientes, quasc
tão fortemente ressaltado' na admirada construçao dc Nlctzsche . sempre exercem algu~<\ influência. Para o connubium entre
.':na G~n~a/ogia da Aforal, é a fonte da religiosidade cultivada membros de um mesmo eSt:lmento manter o monop6lio da mão
~Ios estamento~ párias. De passagem, podemos notar que ? re~- das fiJhas dentro de um círculo restrito tcm tanta ímponância
.sentimento s6 pode ser aplicauo corretamente em proporçao h. como o interesse que as famílias têm em monopolizar os possíveis
mitada; 'para u~ dos principa.is exemplos de Nietz,sche, o budis- pretend~ntes que. possam prover o futuro das filhas. Com o
.mo, não é. ~bsolutainente apltcável. c.re.s~nte fec~am~nto do estamemo as oponunidades preferen •
CJ21S convenCionaiS de emprego especial transformam_se num
. . . Incidentalmente, o desenvolvimento dos estamemos a partir
monopólio legal de cargos especiais para grupos limitados. Cer-
de segregaçõcs étnicas não constitui, de modo algum, o fenô-
ineno nOrmal. Pelo contrário, como as .•.•díferenças raciais" não ros bens se tornam objeto de monopolização pelos estamentos.
De modo típico, eles incluem os "bens vinculados" e freqüen.
..são, de forma aig~ma, básicas a todo se.ntimento subjetivo. de. ' ,
temente, tam b em as posses de: servos ou de criados e finalmente
uma comunidade' étnica, o fundamento racial supremo do esta-
ofícios especiais. Essa monopolização OCOrre positiva:nente quan:
.mento é, acertada e absolutamente, uma qucst50 de caso indivi-
dual concreto. Muito freqüentemente, um estame.nto é instru. do só- f' grupo em _questão est~ habilitado a possuí-los e a
mental na produção de um tipo antropológico puro.: Certamente, . controla-los; e negatIvamente quando, a fim de mamer seu
um en3mento é, em alto. grau) eficaz .n~ produção' de tipos ex • modo de vida específico, o estamemo não deve poS$uí.los e
controlá-los.
. tremos, pois. seleciona indivíduos pessoalmente qualificados (por
exemplo, a Cavalaria Medieval seleciona os que são aptos para O papel decisivo de um "estilo de vida" na "honrau do
grupo significa que os estamemos são os portadores específicos
ENSAIOS O( $Oc;IOLOCilA •
:CLASS'E, !ST •.••
M!NTO, PARTIDO' 225
224 "

il honras esramentai~ a poss'e p(r J( reprcse::nta um acréscimo,.


de lod :IS 3S •.convençoe• s"." De qu'lquer modo que se mJnifeste,
é 1 mesmo nã.o sendo abertamente reconhecida como tal. Não
toda "estilização" da ••.ida se origina nos estamentos~)U . pc o obstante, se essa aquisição e poder econômico proporcionassem
menos conservada por eles. Apesar de. sua grande diversidade,
ao agente qu:a1quet honraria, sua riqueza resultaria em alcançar
os princípios das convenções estament2.lS ,revel.ar:' ~ertos traç~s "
t:
tí iCQs, especialmente entre as c3m3d~s .ma~s prJvll~gtadas. MUl.
eralmente, entre os cstamentos pnvllegla~os ha uma des9~a~
" )
I
mais honras do que as" pessoas 'que reivi'ndicam, com êxito,
2S honras em virtude de um estilo de vida. Portanto, todos
os grupos que têm imertsscs na ordem escamenta! reagem. com
lifi~3ÇãO de estamentOS envolvida pela execu~ao ?O tra~,alho ,flSlct especial violência precisamente contra as pretensõcs de aquisi-
comum. Essa desquo.lificação se esta .agora r3dlcan~h na ~m. - I ção exclusivamente econômica. Na maioria dos caso~ o vigor
. a contra 3 velha
tradição da estima pelo trêlba o.. UltO J da reaçi~ ~ proporcional à intensidade com que:: a ameaça é
f~~qüentememe toda empresa econ6mica faciao:ll, e esPdclíllm~~te I experimentada. O trata.mento re::speitosoque CaJderon d~ ,ao
"a atividade cmtlrcsariol", ~ considerada co":,o
uma e~ua I I. camponês, por exemplo, em 'oposição ao desprezo sirnuhân"oo e
ca ia social. A atividade artística e literána, também e coo. ostensivo de Shakespeare pela canaí/l~ ilustra a forma di£er:cnte
siJerada como trab.lho degradante, tão logo seja c~ploíada co: pela qual uma ordem estarncntal firmemente estruturada reage)
finalidades lucrativas, ou pelo menos quand~ esta rf jClOna a em comparação com uma ordem estamental que se tO,rnou.eco-
com um esforço físico pesado. Um cxem~lo e um eseu tO; que nomicamente precária. T rata. se d'o exemplo de um estado de
trabalha como um pedreiro, em s~,u í;O:I~:nto gl~r~~-po) em coisas que se' repete em tôda parte. Precisamente devido às
contra.ste co;n o pintor em seu cstud}~ ~crne an.e a u~ reações rigorosas contra "as pretensões da propriedade: p~ S~, o
salão, e as formas de prática musical ace:tavels pelo gru?~ prt~ "parv~nu" jamais é aceito, pessoalmente e sem reservas, pelos
vilegiado. grupos estamcmalmente privilcgiado~ por melhor que seu cstilo
de vida se ajuste ao dêles. 56 aceitarão seus descendentes que
9 CoNDiÇÕES E EFEITOS ECONÔMICOS D,'" riverem sido educados nas convenções do se'u grupo estarncmal
• ÜRGAXIZAÇÃO EST,-\Ml'.NTAL e que nunca tenham manchado sua honra pela atividade eco~
nômica pessoal.
A desqualificação freqüente das pessoas que se empregd' Quanto ao ~f~i/o gera! da ordem estamental, somente urna
ganhar um salário é um rcsultado direto do prinCIpIO c conseqüência pode ser apresentada, mas sua importância é gran-
'. d sse prinCipiOa uma d Istn wçao
3:
~:r~~titicação est~m~n~al, peculi à'bor"d:mdscocp~àe~' r~ge~~~d~
e~ de: o impedimento do livre desenvolvimento do mercado OCOrre
primeiro para os bens que os estamentos subtraem diretamente
°IPO~lçamocnCtc por ;'termédio do mercado. Esses dois fatores
CUSlva u. , d'"d' e da livré, troca pela monopolização. Essa monopolização pode
operam juntamente co.m v~rios outros fatores In IVI mus, qu ser efetuada seja legal ou convencionalmente. Por exemplo, em
serão mencionados m3JS adiante. " ~ muitas cidades helênicas durante a ~poca es?cclficamente esta~
Vimos acima que o mercaoo e seus proce~os ,nao co- mental, e tamb~m originalmente em Roma) o patrimônio .her-
u
~-' pessoais"- os "interesses funCIonaiS
nh ecem d!' Istmço•.
., , .• d . o do-ai dado (como se ,,'ê pelas velhas f6rmulas -de condenação dos
,
mlOam. Nada
.I.
conhecem de "honras. A
,.'f ar em es\ament
- perdulários) era. monopolizado, tal como o eram as propriedades
si nifica precisamente a inverso, ou seJa" a estra<l Icaçao em dos cavaleiros, camponeses, sacerdcles e especialmente a dien~
te~mos de "honras" e estilos de vida pec~~a:es aos p[~pos es: tela das guildas de oHcios e comércio. O mercado é limitado,
tamentals, com o ,,,;s
•..•. Se 3 simples aqwslçao'd' economlca e o e o pocer puro e simples da propriedade per s<, quc dá sua
poder econômico puro, ainda trazendo o esugma ~ sua ongem marca à "Íormação de classe", é POStO em segundo plano. Os
extra-estamental) pudessem conceder a quem os tivesse con6C:~ resultados desse processo podem ser muito variados. Natural-
uido as mesmas honras que os interessados em c.s13me~tos meme) não enfraque::em neccssariamen:c os çontrastes na situa-
~ virtude de um estilo de vida que pretendem para $1, a ção econômica. Fort:llccem freqüc~rem~nte C:$.Scs contraSte.s e,
ordem cstamcntal estaria amea~ada em su~ _bases ",lesmas, pn.n~ de qualquer modo, qU;lndo a estr<ltificação eSt3ment3l impregna
cipalmente, tendo em vista que, em condlçoes de 19.ualdade de lS
_-_ .•.._--_._._-_._- ..~--_..-
. ..:. -_.- .. _ ..~ ------- ..__ .- •......__ ....••._ _. __ ..__ .- '-""_ .

,226 ESSAIOS DE SOCIOLOGIA


CLASSE. EST.••.MENTO. PA,RTIOO
a comunidade tão fortemente COmoocorreu em t~~as. as :-omu- .
nidades políticas da Antigüid~de. e da, I~ade M~d13, JamaIs. po-
. demos falar de uma concorrenCt3;'de .mercad? re~lmen~e livre, lO, PARnoos
tal como :a' emendemos hoje. H~ .efeltos mais arpplos do que
. essa exclusão direta de bens espeCiaiSdo mercado:' Da cOntra- o lugar autêntico das "classes" é no COntextoda ordem eco_
dição entre a ordem estamental e a ordem exclu.sl,v.amenceeco- nômica, ao P:lSSOque os esramentos se colocam n3 ordem social,
nômica acima mencionada, segue-se que. na mal~rJa dos casos isto é, dentro da esfera da distribuição de "honras". Dessas es-
a noção de honras peculiares ao cscamemo abom!na de, forma feras, as classes e os estamentos influenciam_se mutuamente e à
absoluta aquilo que ~ eSsencial para o mcrc:ldo: o :re~'::Helo. fu ordem jurídica, e são por sua vez influenciados por ela. Mas
h abominam o regateio entre os pares e o.c2slonalmence os "partidos" vivem sob O signo do "poder".
ancas tabu o regateio em gera l' para os mem bro'se.d u m, estaa
tornam Sua reação é orientada para a aquisição do "poder" sodal,
men.ro. Portanto, em t6da partc, alguns estamemos, e ha,blwala ou seja, para a influência sobre a aç~o comunitária, sem levar
:.me~te os mais influentesJ consideram q~ase qualquer tlP? de em conta qU.11possa ser o conteúdo. Em princípio, os partidos
parlicipação aberta na aquisição econômica como um estigma podem existir num "clube" socialJ bem COmo num "Estado".
. absoloto. . Em contraposição às ações das classes c est:lrnentos em que isso
Simplificando, poderíamos dizer,_ assim, que as "~lasses" ~e nem sempre é o eJSO,as ações comunitárias dos "partidos" sem-
estratificarn de acordo com suas rdaçoes com a produçao e aqUl- pre signific<l.muma socialização, pois cais ações voltam-se sempre
sição de bensj ao passo .que os •' estamemos ., se estratificarn d~ para' uma meta que se procura atingir de forma planificada .
acordo com os princípios de seu consumo de bens, representado A meta pode ser uma "causa" (o partido pode: visar à realização
por "estilos de vida" espec.iais. . de um programa de propósitos ideais ou materiais), ou a meta
pode ser "pessoal" (sinecuras, poder e, daí, honras p3ra o líder
Um "grêmio profissional" é também um esta~ento, poiS n~r. e os seguidores do partido). Habitualmente. a ação partidária
malmeme reivindica 2S honras sociais apena3 em v~rtude' do eSitll~ 'lisa a tudo isso, .!iimultaneamente. Portanto. os partidos são
. de vida especial que pode determin~. ~s ~lfere~ças e~t~c possíveis apenas dentro de' comunidades de algum modo socia-
classes e estamentos se superpõem com fr~que~cla, Sao pree!sa- lizadas, ou seja, que têm alguma ordem racional c um "quadro"
mente as comunidades segregadas com malo~ rIgor em termos, qe de pessoas prontas a asseguráwla, pois os partidos visam precisa.
honra (as. castas indianas) que mostra.m hOle, embora dentr?: ~~ mente a influenciar esse quadro, e, se possível, recrutá-lo entre
limires muitos rígidos, um grau relativamente e}evado de l~cJf. os seus seguidores.
.ferença à renda pecuniária. Os br~manes, porem, buscam: tal Em qualquer caso indi ••.idualJ os panidos podem representar
renda de muitos modos diferentes. i interesses determinados através da situação classista" ou "esta.
II

QU:llnto~s condições econômicas!gerais que permi~em o pre. mearal", e podem recrutar seus membros de uma ou de outra.
domínio da organizaçAo "estamental"; pouco pode~os dlzc:r.Quan. Mas não precisam ser panidO$ exclusivamente de "classe", nem
. do a.s bases da. aquisição e distribuiç~o de ~ens sao relatlvamen_te uest"mentais". Na maioria dos casos, são até certO ponto partidos
. 'c'stáveis a organização estamemal é ~avoreclda. Toda repercu~ao de classe, e até certo pomo partidos estamentais, mêS algumas
'tecnológica e transformação econô~ica ~meaça-a c. coloca'i em vezes não são nenhuma das duas coisas. Podem representar
. primeiro .plano a ~jtuaçã<?de c1a~se..i ~~ ep?cas e pals~s em :q~e estruturas efêmeras ou duradouras. Scus meios de alcançâr O
a pura situação de classe poSSUIslgmflca£3o p:e~ommame ~s~o poder podem ser varÍ:ldos, indo dr:sde a violência pura e simples,
regularmente Os períodos de tra.ns~ormaçoes tecmeas e eeone:, de qualquer espécie, à cabala de votos 3tra\'é5 de meios gros.
micas. E. toda diminuição DO rJto?-0 d;e mudanças ~as estra~r seiras ou sutis: dinheiro, influência social, a força da argumen~
fic.áções econ8mÍcas lev.a, no dev,ido,:tempo, ao apar~c:mento. e laçãoJ sugestão, embustes prim~rios, e assim por diante, até as
organizaçõe.s es'tamcnt31s e con.tr,lbul para a ressurreJçao do lm~ t~tica~ mais duras ou mais habilidosas de obstrução parlamentar.
ponante papel das honras 50C13.1S. A estrutura socio16gica dos partidos difere de forma básica
segun:do o tipo de ação comunitária que buscam influenciar.
228 tN$.\10S DI. SOC10LOGI. ••

Os partidos também diferem segundo a organizJção da comu~


nidade por estamentos ou por classes. Acima de tudo, v:ui ••m
segundo 3 estrutura do domínio demro da comunidade, pois seus
líderes normalmente tratam da conquist:t de um::! comunidJde.
,
No conceito geral mantido aqui, não são produtos apenas de ,
formas especialmente modernas de domínio. Designaremos tam- VIl!. Bkoeracia
b<:m como partidos os "partidos" antigos c: mediev3is~ apesor de
a sua estrutura variar basicamente em relnção à estrutura dos
partidos modernos. Em virtude dessas diferenças que oferece
a estrutura de dominação, é impossível dizer qualquer cois:l
sôbre a estrutura dos partidos, sem discutir :u fOrnl:lS estruturais 1. CAA •••cTtafSTICA.s DA BlOltOeRACIA
de domínio social per g. Os partidos) que são sempre estru-
tUr3! que lutam pelo domínio, muito freqüentemente se orga.
nizam de um modo "autoritário" muito rigoroso. A B:Q0C1l:AC1A MODERNA funciona da seguinte forma específica:
No que se: relaciona com as "classes, os "estamentos" e os I.~~ege o prindpio de .área.s de jurisdiçâo fixas c oficiJÍs,
"partidos", devemos dizer em geral que eles pressupõem, neces- ordenadfs d:..
acor~o COm regulamentos,
normas ;admlnJStraUvas..
ou seja, por leis ou
'
sariamente", uma sociedade que os engloba. e especialmente uma
ação comunitária política) dentro da qual operam. Mas isto não 1. ]As atividades rêg~lares' necessárias aos objetivos da es-
significa que os partidos sejam confinados pelas fronteiras de trutUra governada burocraticamente são distribuídas de forma fixa
qualquer comunidade política. Pelo contrário, em todos os tempos como dçvcres oficiais.
ocorreu h:Lbitualmente que eles (mesmo quando visam ao uso 2. A aU[Qri.d?~c: de ?ar. 25 ordens nec.essária.s à execução
da força militar em comum) ultrapassam as fronteiras da co- : desses deveres. of.lClau se dlstnbui de forma estável, sendo rigo-
munidade política. Tal fato se observou no caso da solidariedaae rosamente delimitada pelas normas relacioo\ldas com os meios.
de interesses entre os oligarcas e os democratas na Hélade, entre ?e ~r~o..' físicos, sac~rd~[ais ou outros. que POSSiln1ser colocados
os guclfos e gibdinos na ld.de Média e no partido c,lvinis<. a dlsposlçao dos funCIOnarias ou 3utoridildes. .
durante o período de lutas religiosas. E cúminua sendo o caso
alé da solidariedade enlre os senhores de terra (congresso in.
3.~ Tomam-se medidas metódicas para a realização regula! ..
e COntmua desses ~<:veres e para a execução' dos direitos COrres-
ternacional de senhores de tcrra. agrários), e continuou entre os
pcndentesi soment~ as pessoas. que ~êm qualificações previstas
príncipes (sagrada aliança, decretos de K,r1sbad), trab,lhadores
por um regulamen~o geral são empregadas.
socialistas, conservadores (o desejo de uma intervenção russa por
parte dos conservadores prussianos em 1850). Mas .seu objetivo . Nos Governos! públicos e legais, esses trás elementos cons.
não é necesS3riameute o estabelecimento de um no\'o domínio tltuem a ua.utorida?e burocrátic3". No domínio cconômic'a pri- .
político internacional, isto é, territorial. Pretendem. principal- vado, constItuem ~ "3dministr<lção" burocrática. A burocracia
mente, inHuencíar o domínio existente.'" assim comprcendid.a. se desenvolve plen:lmemc: em comunidade~
pc.líricas e eclesiásti~as apenas no Estado moderno. e na economia
pnvadil, .apenas n~s maj~ avançad.as instituições do capitali.smo.
A a~to~ldade perJ11::l~e~t~ c' pública, com iurisdição fixa, -não
cOnSt.ltul a norm3 ~hlStonca, mas a c:xceçáo. Isso acomece até
me~mo na~ gr~~dcs estrutur~s políticas, como as do Oriente
.antlgo, Os ImperJos de conq~ma alemães e: mongólicos, ou das

o texto, publicado pl>slumamente. interrompe.se aqui, Oml-


timos um esboço Incompleto dos tipos de "estamentos guerreiros". WI1'UCh4/t und Ge$ellsc~ft,. parte lU. capo 6. pp. '650-78.

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