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MAx°WEOER
Ensaios de
Sociologia ...
Organização e Introdução: .
o i, H.Ho Gerth e C. Wrighl MiIIs
Quinta edição
Tradução:
Waltensir Dutra
RellÍSQõ Técni£a:
ProCoFernando Henrique Cardoso
E O I ToO R A
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tal honra. Na verdade, da, ou o prestígio, podem ser mesmo troca, ~ria, em si, oportunidades específicas de vida, o que cons-
a base do poder político ou econômico, e isso o.c0rreu muito tit~~ um fato ~co~ô:nico bastante elementar., Segundo a lei da
freqüentemente. O poder, bem como as honras, podem ser assc- u[~hd..2?e margmal, e~se modo de distribuiçio exclUI os não:"pro-
gurados pela ordem jurídica, mas, pelo menos normalmente, não pnetanos da competição pelos bens muito desejados; fa ..•.
orece
é a sua fonte primordial. A ordem jurídica .constitui antes um os proprietários e, na verdade, Ihc:s dá o monopólio para a aquisi.
fator adicional que aumenta a possibilidade de poder ou honrasj ç50 dês.ses bens. Em igualdade de fatôres, êsse modo de dis-.
mas nem sempre pode as.segurá~los. trihuição monopoliza as oportunidades de tr:msações lucrativ:J,s
para todos os que, dispondo de bens, não têm necessariamente
A forma pela qual as honras sociai's são distribuídas num.a
de trocá-los. Aumenta, pelo menos em geral, scu poderio nas
comunidade, entre grupos t(picos que participam nessa distribut-
guerras de preço com OS que, não tendo propriedades, só têm
';0 pode ser chamada de "ordem social". Ela e a ordem eco-
r J " d a oferecer seus serviços, em forma bruta, ou bens numa forma
nômica estão, decerto, relacionadas da mesma forma com a ar em
constit'uída através de seu próprio trabalho e queJ acima de tudo,
jurídica". Não são, porém, idênticas. A ordem ~ial é, pa~a
são compelidos a. se desfazer dêsses produtos para que ~sam.
nós, simplesmente' a forma pela qual os bens c: s~rvlços c:cono-
simplesmente, subsistir. Essa forma de distribuição dá ao's pro-
micos são distribuídos e usados. - A ord~m SOCial é, decerto,
prietários um monopólio da possibilidade de trõlnsíerir be:ns dõl
condicionada em alto grau pela ordem econômica, c: por sua vez
esfer:J de uso eomo "fortuna" para a esfera 'de "bens de capital"j
influi nela. isto é, dá-lhes a função empres::trial e tôd3s as oportunidades de
De:ss:l forma, "classes", "cstamento.s" e "partidos" são fenô- partici~ar ?ir~t~ ou indiret~ente dos lucros sôbre o capital.
menos da distribuição de podc:r dentro de uma comunidade. _ Tudo ISSO e valido dentro da arca na qual predominam as con-
dições de me:rcado pura e simple:smente. "Propriedade" e "falta
de propriedade" são. portanto, as categorias básicas de:. tôdas
2. Dtn:.RMIN •.••
ÇÃO D.••. SITU:\ÇÃO Dê. CL'.SSE PEL.••
as situações. de classe. Nã? importa se essas duas categorias se
SITV.-\ÇÃO DE MUC.I,.DO
tornam efetivas em guerras de preço ou e:n lutas competitivas.
Em DOSsa terminologia, 'lclasses:' ~ão são c<:munidades;' r:- Dentro dessas categorias, porém, as situaçócs de classe dis.
prc:sentam simplesmente bases POSSlVelS, e frequente~l de açao ti~~ue:n-se melhor: de um lado, segundo o tipo de propriedade
comuna!. I 'Podemos falar de uma "classe" quando: 1). certo utilizável para lUcro; de Outro .lado, segundo o tipo de, serviços
número de pessoas tem em comum um componc:~te causal espc. que podem sCr oferecidos no mercado. A propriedõlde dos edifí-
cHico em suas oportunidades de "ida, e na medida em que 2) cios de residêneiaj dos estabelecimentos produtores; armazéns;
ésse componente é representado exclusiv~mente pe10s interêsses lojasj terra cultiávelj grandes e pequenas propriedades - dife-.
econômicos da posse de bens e oportumdades de renda•. e 3) re:nças quantitativas com possLveis conseqüências qualitativ~s -;
é represemado sob as condições de mercado de produtos ou propriedade de minas; gado; homens (escravos); disposição sôbre
mercado de trabalho. [l'sses pomos referem. se à "situação de instrumentos móveis da produção, ou bens -de capital de: todos
classe", que podemos expressar mais sucintamente ~0..m0 a pp?r- . os tipos, especialmente dinheiro ou objetos- que possam ser tro-
tunidade típica de uma oferta de b~n.s, de condtç<?es de Vida cados por dinheii-o, fàcilmente e a qualquer momentOj contrôle
exteriores e experiências pessoais de vlda, e na rn~dlda em que do produto do próprio trabalho e de trabalho de outros,. diferin-
essa oportunidade é determinada pelo vol~~c: e tlpo de ~e.r, do segundo as variações na possibilidade de consumo. comrôle
ou falta dêlcs, de: dispor de bens ou habdt~ad~s em benefiCIO dos monop6lios transfcTÍvei"s de qualquer tipo - tôdas 'essas dis.
de r~nd:il de uma determinada ordc:m economlC3. A palavra tinçé<:s caracterizam as situações de classe assim como o Hsentido"
"classe" refere-se a qualquer grupo de p~ssoas que se encon- que elas podem dar, c dão, à utilização da propriedade,. especial.
trem na mesma situaçáo de: classe.] meD~e a propncdade que tem equivalentes monttários. Assim,
A forma pela qual a propriedade material é distribuída entre os prpprietários, por exemplo, podem pertencer à classe: dos 'arrcn~'
várias pessoas, que competem no mercado com a fmahdade de. dadores ou à classe dos empresários. .
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CLASSE, 'ESTAM'E'STO, pARTlDO
r,
2ii E•••••.
SAios fIE SOCtOLOCl1\
CLASS£~ ESTAMEl'.'TO. PARTIDO
223
Iítica (guerreiros, s:lcc:rdor(:s, ilrtc~ãos que s:io politicJmcnte im-
a guerf2, física e pSiquicamente). Mas a seleção está longe de
port2nlCS para a guc:rra e a construção. e assim por diante).
ser a única forma, Ou :l predominante, pela qual os estamemos
Porém mesmo os po\'os pá rias que: são mais desprezados podem.
são ~or'mados. A participação política ou situação de classe foi,
habitualmente, continuar cultivandQ. de algum modo, aquilo que em tôdas 3S épocas, pejo menos frcqüclUcmente decisiva. E
e. igualmente peculiar J comunidades étnicas c de ~Js(as: a crença
hoje a situação de classe é, de longe, o fator predominante, pois
em sua própria honra eSIXcífica. 1:: o cas,O dos Judeus.
decerto a possibilidade de um estilo de vida esperado para os
Apenas com os estamc:ntos neg:uivamente privilegiados o membros de' um estam:mo é, em geral, economicamente condi-
"sentimento de dignjdadc" sofre um desvio específico. Um cionada.
s~ntimtnto de dignidade é a precipitação nos indivíduos da honra
social e das. exigências convcnçionais que um c:st3memo positi- 8. PRI\'ILÉCIOS £ST~MEr-:T."IS
var,ncnte pdvilegiado cria para :1 condut.:1 de seus membros:. O
sen'timento de dignidade que caractcriz:::t os eS~Clm~ntOS Pos.!tl\'a- Para todas as finalidades práticas, a estratificação estamemal
rnc:i1lc privilegiados relaciona-se, naturalment~, com seu "ser" que vai de mãos dadas com uma monopolização de bens ou oportu-
núo tr::lOscc'nde a si mesmo, isto é, rdaciona-se com sua "belez:l nidades ideais c materiais, de um modo que chegamos a consi-
e excelência", Seu reino f.. "deste mundo". Vivem p:\r<! o derar como típico. Além da honra. cstamental específica, que
presente e explorando seu grande passado, O senso de dignidade sempre se baseia na distância c exclusividadc, encontramos toda
dás camad3s n~g~nivamente privilegi:ldas naturalmente se ;e:fer~ SOrte de mono?ólios materiais. Essas preferências honoríficas
a um futuro que está além do presente, sej:l desta vida ou de podem consistir no privilégio de usar roupas especiais, Comer
outró1, Em outras pal:lvras, deve ser nutrido peja crença nUl"!'la pratos especiais que são tabu p3ra outros, portar armas _
"missão" providencial e por uma crença num:l honra específica o que é bastante 6bvio em suas ronseqüênci3s _ o direito de
per:lnte Deus, A dignidade do "i';'vo c.s7?}h~do" é :l~imentad.a ~e~car-se a certas práticas artísticas por diletantismo, não.pro.
por uma crença. sej3 de que no :llcm os ultJmo~ ser30 os pn- fJssIonalmeme, ,como por exemplo tocar determinados instrumen_
meiros'\ seja de que, nesta vida aparecerá um MeSSIas para traz.er tos music3is. f: claro que os monopólios materiais proporcionam
à. luz do mundo que os enxotOu a honra oculta cio povo P3r1<l, os motivos mais eficienres para a exclusividade de um esrarncmo;
'Esse simples estado de coisas, e ~ão o "rcssen~imento",. que é embora em .si mesmos eles raramente sejam suficientes, quasc
tão fortemente ressaltado' na admirada construçao dc Nlctzsche . sempre exercem algu~<\ influência. Para o connubium entre
.':na G~n~a/ogia da Aforal, é a fonte da religiosidade cultivada membros de um mesmo eSt:lmento manter o monop6lio da mão
~Ios estamento~ párias. De passagem, podemos notar que ? re~- das fiJhas dentro de um círculo restrito tcm tanta ímponância
.sentimento s6 pode ser aplicauo corretamente em proporçao h. como o interesse que as famílias têm em monopolizar os possíveis
mitada; 'para u~ dos principa.is exemplos de Nietz,sche, o budis- pretend~ntes que. possam prover o futuro das filhas. Com o
.mo, não é. ~bsolutainente apltcável. c.re.s~nte fec~am~nto do estamemo as oponunidades preferen •
CJ21S convenCionaiS de emprego especial transformam_se num
. . . Incidentalmente, o desenvolvimento dos estamemos a partir
monopólio legal de cargos especiais para grupos limitados. Cer-
de segregaçõcs étnicas não constitui, de modo algum, o fenô-
ineno nOrmal. Pelo contrário, como as .•.•díferenças raciais" não ros bens se tornam objeto de monopolização pelos estamentos.
De modo típico, eles incluem os "bens vinculados" e freqüen.
..são, de forma aig~ma, básicas a todo se.ntimento subjetivo. de. ' ,
temente, tam b em as posses de: servos ou de criados e finalmente
uma comunidade' étnica, o fundamento racial supremo do esta-
ofícios especiais. Essa monopolização OCOrre positiva:nente quan:
.mento é, acertada e absolutamente, uma qucst50 de caso indivi-
dual concreto. Muito freqüentemente, um estame.nto é instru. do só- f' grupo em _questão est~ habilitado a possuí-los e a
mental na produção de um tipo antropológico puro.: Certamente, . controla-los; e negatIvamente quando, a fim de mamer seu
um en3mento é, em alto. grau) eficaz .n~ produção' de tipos ex • modo de vida específico, o estamemo não deve poS$uí.los e
controlá-los.
. tremos, pois. seleciona indivíduos pessoalmente qualificados (por
exemplo, a Cavalaria Medieval seleciona os que são aptos para O papel decisivo de um "estilo de vida" na "honrau do
grupo significa que os estamemos são os portadores específicos
ENSAIOS O( $Oc;IOLOCilA •
:CLASS'E, !ST •.••
M!NTO, PARTIDO' 225
224 "
QU:llnto~s condições econômicas!gerais que permi~em o pre. mearal", e podem recrutar seus membros de uma ou de outra.
domínio da organizaçAo "estamental"; pouco pode~os dlzc:r.Quan. Mas não precisam ser panidO$ exclusivamente de "classe", nem
. do a.s bases da. aquisição e distribuiç~o de ~ens sao relatlvamen_te uest"mentais". Na maioria dos casos, são até certO ponto partidos
. 'c'stáveis a organização estamemal é ~avoreclda. Toda repercu~ao de classe, e até certo pomo partidos estamentais, mêS algumas
'tecnológica e transformação econô~ica ~meaça-a c. coloca'i em vezes não são nenhuma das duas coisas. Podem representar
. primeiro .plano a ~jtuaçã<?de c1a~se..i ~~ ep?cas e pals~s em :q~e estruturas efêmeras ou duradouras. Scus meios de alcançâr O
a pura situação de classe poSSUIslgmflca£3o p:e~ommame ~s~o poder podem ser varÍ:ldos, indo dr:sde a violência pura e simples,
regularmente Os períodos de tra.ns~ormaçoes tecmeas e eeone:, de qualquer espécie, à cabala de votos 3tra\'é5 de meios gros.
micas. E. toda diminuição DO rJto?-0 d;e mudanças ~as estra~r seiras ou sutis: dinheiro, influência social, a força da argumen~
fic.áções econ8mÍcas lev.a, no dev,ido,:tempo, ao apar~c:mento. e laçãoJ sugestão, embustes prim~rios, e assim por diante, até as
organizaçõe.s es'tamcnt31s e con.tr,lbul para a ressurreJçao do lm~ t~tica~ mais duras ou mais habilidosas de obstrução parlamentar.
ponante papel das honras 50C13.1S. A estrutura socio16gica dos partidos difere de forma básica
segun:do o tipo de ação comunitária que buscam influenciar.
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