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UNIVERSIDADE DE SANTO AMARO

LORENA OLIVEIRA DE SOUZA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLINICA E INSTITUCIONAL

SÃO PAULO
2016
INTRODUÇÃO

O estágio em Psicopedagogia Institucional realizado no município de São


Paulo, Estado de São Paulo e ofertado pela Universidade de Santo Amaro,
ocorreu no primeiro semestre de 2016, na EMEF Profª Ileusa Caetano da Silva
que atende o ciclo de Ensino Fundamental, de 1º ao 9º ano, com alunos de 6 a
16 anos.
As oficinas elaboradas foram realizadas com crianças de 09 a 10 anos,
matriculadas nos 4º e 5º anos respectivamente, por apresentarem grandes
dificuldades se considerarmos os conhecimentos específicos esperados para
as series que estão cursando.
A escola está situada no Cohab Educandário, região da Raposo Tavares
com altos índices de vulnerabilidade. No geral, não existem espaços culturais
de esporte e lazer, mas a escola é vizinha de uma unidade da Liga Solidária
(organização civil sem fins lucrativos) e alguns alunos frequentam cursos e
atividades esportivas neste espaço.

Considerando este contexto e em razão dos objetivos propostos, as oficinas


psicopedagógicas foram pensadas em três momentos distintos. O primeiro
buscou apreender as modalidades de aprendizagem presentes no grupo; o
segundo, investigar as relações vinculares e a ressignificação da relação que
as crianças estabelecem com o conhecimento nos mais diversos contextos e o
terceiro permitiu que os alunos pudessem se expressar através da percepção
de semelhanças e diferenças em sua forma de significar os processos de
aprendizagem.
1. IDENTIFICAÇÃO DO ESPAÇO DE INTERVENÇÃO

A instituição concedente do estágio foi a EMEF Profª Ileusa Caetano da Silva,


localizada na Rua D, número 10, bairro Jardim Educandário, no município de
São Paulo, estado de São Paulo.

A escola possui 7 salas de aula, sala de informática, sala de leitura, sala de


recuperação paralela e sala de atendimento especializado; parque com quadra
de areia, quadra poliesportiva, jardim, pátio e horta além do refeitório, cozinha e
2 banheiros para os alunos. A escola é bem equipada no que se refere a
equipamentos eletroeletrônicos como TVs, aparelhos de som e vídeo, assim
como, computadores. A sala de leitura, também utilizada como biblioteca,
possui um grande acervo entre obras específicas e de ficção. Todo o corpo
docente possui nível superior e alguns também pós-graduação em nível de
especialização e mestrado.
2. CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE ATENDIDA

A comunidade atendida está situada no distrito de Raposo Tavares e faz


parte da região com maior índice de vulnerabilidade da zona oeste da cidade
de São Paulo. A maioria dos alunos é composta por moradores do Conjunto
Habitacional – Cohab Educandário e bairros adjacentes considerada a
acomodação da demanda por vagas na região. É comum vários membros da
família (entre irmãos, primos e tios) estudarem na escola e por isso são
presença constante seja nos horários de entrada ou de saída.
O local é resultado do projeto de urbanização realizado com objetivo de
viabilizar áreas de moradia em um espaço anteriormente ocupado. A partir de
2011 surgiu a proposta de se criar o Parque Linear Nascentes do Jaguaré,
tendo em vista a presença de uma extensa área de mata preservada e uma
nascente. Neste movimento a EMEF Profª Ileusa Caetano da Silva e a Liga
Solidária foram espaços atuantes de educação ambiental e discussão para que
as demandas da população fossem levadas em consideração. O projeto
encontra-se parado desde 2013.
O bairro apresenta diversos pontos de distribuição e tráfico de drogas, bem
como espaços de receptação e desmanche de veículos roubados. Pequenos
comércios e algumas áreas ocupadas. Os moradores, em sua maioria, atuam
em prestação de serviços terceirizados ou no comércio informal.
3. ASPECTOS GERAIS DO ESTÁGIO
O estágio ocorreu semanalmente perfazendo um total de 8 encontros,
com duração de 3 horas cada, em formato de oficinas psicopedagógicas,
com um grupo de 9 crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem
e estão cursando a 4º e 5º séries do ensino fundamental I. As oficinas foram
divididas em 3 blocos de duas oficinas cada e um encontro de abertura e
outro para a devolutiva de fechamento do trabalho. Os blocos foram
estruturados da seguinte forma:

O encontro inicial buscou apresentar a proposta e conhecer mais as


crianças em um ambiente de conversa informal.

1º bloco: Oficinas de artes plásticas. Com uso de materiais diversos e


através de técnicas projetivas teve como objetivo apreender os primeiros
contornos das modalidades de aprendizagem presentes no grupo.
2º bloco: Oficinas de jogos teatrais e psicodrama. Buscou investigar as
relações vinculares e a ressignificação da relação que as crianças
estabelecem com o conhecimento nos mais diversos contextos.
3º bloco: Oficinas de contação de histórias. Com base na observação e
análise do material recolhido ao longo das duas primeiras oficinas.
Pretendeu que a partir da fruição e da conversa sobre diferentes
histórias, pertinentes as particularidades do grupo, as crianças
pudessem se expressar através da percepção de semelhanças e
diferenças em sua forma de significar os processos de aprendizagem.

Fechamento: Buscou apreender como foi o processo vivido por cada criança.
4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

1º encontro:

Buscou apresentar a proposta e conhecer mais as crianças em um ambiente


de conversa informal. Após a realização de jogos tradicionais as crianças foram
convidadas a expor seu entendimento sobre nossa proposta e porque achavam
que tinham sido convidadas a participar das oficinas. A maioria disse que
achava ser por não estarem indo bem na escola mas alguns disseram não
saber o porquê.
Jogos tradicionais: a) Pega-pega americano: um pegador é escolhido enquanto
as crianças correm, aquela que é pega deve virar uma estatua com as pernas
afastadas. Ela é salva quando outro colega passar por de baixo de suas
pernas.
b) Corre – cotia: sentados em roda as crianças cantam a cantiga “Corre cotia
na casa da tia, corre cipó na casa da vó, lencinho na mão, caiu no chão; moça
bonita do meu coração, pode jogar? Pode, ninguém vai olhar?”, enquanto um
dos colegas corre em volta com um objeto na mão, ao final, todos com os olhos
fechados, ele coloca o objeto atrás de um colega que deve correr para pega-lo
antes que ele termine a volta e sente novamente em seu lugar.

1º Dia de Oficina:

No primeiro dia de oficina, através do uso de materiais diversos (papeis


coloridos, livros didáticos velhos, revistas, jornais, cola, tesoura e lápis grafite)
as crianças foram convidadas a elaborar colagens que pudessem ilustrar sua
relação com a aprendizagem dentro do espaço escolar. A provocação feita foi:
“O que você já aprendeu e o que pode me ensinar a partir deste material?” De
modo geral, elas participaram ativamente, mas no começo alguns se
mostraram bastante resistentes dizendo que não sabiam o que fazer com
aqueles materiais e também que não sabiam desenhar. Com estímulo da
estagiária e o convite dos colegas realizaram a atividade, mas com pouco
envolvimento.
2° Dia de Oficina:
No segundo dia, utilizando apenas papel sulfite e lápis, as crianças
foram convidadas a desenhar a planta baixa de sua sala de aula. Neste
desenho foram orientadas a desenhar o professor e seus colegas da forma que
quisessem. Um pouco mais “soltos” tiveram dificuldades em entender o
significado da proposta de uma planta baixa. Dadas as devidas explicações,
novamente alguns alunos realizaram as atividades com pouco entusiasmo e
envolvimento.

3º Dia de Oficina:

Com base nos materiais produzidos nas oficinas anteriores, foi proposta
a realização de uma oficina de jogos teatrais. Composta por um jogo de
aquecimento, as crianças foram convidadas a retomar o “Pega-pega
americano”; e jogos cênicos de improvisação. Um dos jogos realizados foi “A
festa do detetive”, onde vários papeis foram distribuídos (um para cada criança)
e cada um possuía um papel: detetive, assassino e convidados. A cena de
fundo era uma festa e tal como no jogo tradicional a criança com o papel de
“assassino” deveria piscar para os colegas “matando-os” enquanto o detetive
buscava descobri-lo. O jogo todo foi muito animado e todos participaram
entusiasticamente. Pedindo para repeti-lo duas vezes. Neste momento os
vínculos observados anteriormente se mantiveram mas as crianças se
permitiram ampliar suas possibilidades de interação.

4º Dia de Oficina:

Aproveitando o entusiasmo do encontro anterior, novamente


propusemos um jogo tradicional como aquecimento, pular corda com as
cantigas tradicionais (“Um homem bateu em minha porta e eu abri, senhoras e
senhores põe a mão no chão, senhoras e senhores pulem de um pé só,
senhores e senhores deem uma rodadinha e vá para o olho da rua!”). A seguir
sugeri que eles se organizassem em trios e pensassem em uma cena com
começo, meio e fim que acontecesse dentro da escola. Em um primeiro
momento os três grupos criaram cenas que retratavam a violência entre
colegas. Após todos se apresentarem discutimos o porquê de todo mundo ter
pensado a mesma coisa e foram unanimes em dizer que as coisas são assim
na escola. Pensando na proposta de intervenção do psicodrama pedi que cada
um pensasse em um momento ruim vivenciado na sala de aula e pedi que um
a um fosse ao que convencionamos como palco e convidasse quantos colegas
quisesse para reproduzir esta cena. Duas crianças foram muito reticentes e se
recusaram a expor seu “momento”, os demais realizaram a proposta entre a
timidez e a euforia de estar sendo observado pelos colegas.

5° Dia de Oficina:

Considerando a exiguidade do tempo e a riqueza das cenas


apresentadas no encontro anterior, optei por trabalhar com a contação de
histórias dentro de uma perspectiva de criação e produção de textos. Em
duplas, com base em uma das cenas apresentadas, escolhidas livremente, as
crianças foram convidadas a registrar as histórias criando um outro final para
cada uma delas. Houve muitos impasses até que a dupla concordasse com a
cena escolhida mas ao final todos leram suas produções. Após todas as
leituras perguntei aos “donos” das cenas originais o que eles haviam achado e
quase todos disseram que nunca tinham pensado que aquele momento poderia
ter sido diferente.

6° Dia de Oficina:

Retomando a proposta anterior pedi que cada um escrevesse sua cena


e pensasse em um final diferente para ela. Depois do registro as folhas foram
trocadas e cada um leu para o grupo a produção do outro. Dessa vez o que
chamou a atenção foi ouvirem “seu texto” lido por outra pessoa.

Fechamento:

No ultimo encontro realizei um apanhado de tudo o que havia sido


produzido até então e devolvi tudo o que havia de material. Ao observarem
suas produções e usando como mote a fala inicial de que estariam ali por não
estarem indo bem na escola, perguntei se eles achavam que poderiam
melhorar e qual seria a forma de fazer isso. Os mais reticentes, desde o início,
responderam que não sabiam como melhorar e nem viam nada de mais no
material produzido ao longo dos encontros. Os demais estavam entre felizes e
espantados, especialmente por “descobrirem” que as “coisas podem ser de
outro jeito”.

5. ANÁLISE TEÓRICA

Pensar a atuação do psicopedagogo em uma instituição, mais


especificamente na escola em contexto periférico, requer clareza quanto a
especificidade das diferentes patologias do aprender, a saber: o fracasso
escolar, as dificuldades de aprendizagem e os distúrbios de aprendizagem uma
vez que “O nível e o tipo de vinculação que a criança estabelece com as
pessoas que a cercam vão determinar o nível e o tipo de vinculação
estabelecida com o conhecimento, repercutindo, assim, na sua aprendizagem
escolar.”(DALSAN, 2007) Assim, considerando os objetivos expostos no plano
de estágio, buscamos compreender em que medida as oficinas
psicopedagógicas podem contribuir para o delineamento das modalidades de
aprendizagem em um grupo e para a apreensão da forma como os vínculos se
estabelecem e como eles contribuem para a significação das aprendizagens
que acontecem no espaço escolar.

Em um primeiro momento, embasados pelas propostas de Pichon Riviere e


a Teoria dos Vínculos e Jorge Visca e as Técnicas Projetivas, buscamos
ressaltar que cada criança possui uma modalidade de aprendizagem advinda
de seu contexto familiar entendendo que cada família tem uma modalidade de
aprendizagem e esta orienta como as novas gerações vão se relacionar com o
conhecimento. Cada família fornece uma matriz que embasa este
relacionamento, num processo dialético que vai sendo construído ao longo da
vida do sujeito através de acréscimos e modificações de modo que o “sintoma
familiar” aparece no “não querer”, “não fazer”, “não conseguir”, “não poder”.(
ONÃTIVIA, 2011) Neste sentido, o vínculo “É a maneira particular pela qual cada
indivíduo se relaciona com o outro ou outros, criando uma estrutura particular a
cada caso e em cada momento.”(idem) Tais premissas foram bastante
ilustradas no decorrer da realização do estágio, onde, em geral, as crianças
construíram formas de relação específicas e poderíamos supor que estas estão
atreladas a matriz construída em seu contexto familiar uma vez que seus
agrupamentos se realizaram fundamentalmente com intuito de fortalecimento e
apoio e houve presença constante da fala de negação de suas potencialidades.
Neste sentido, concordamos com SOUSA quando diz que:

para que haja aprendizagem, o ser humano precisa estar em


condições de fazer um investimento pessoal em direção ao
conhecimento. Esse investimento, por sua vez está diretamente
ligado aos recursos pessoais mesclados as possibilidades
socioafetivas.” (SOUSA, 2011)

Ao pensarmos as modalidades de aprendizagem patológicas, tal qual


elaboradas por Alicia Fernandez e Sara Pain, e citadas por Eugenio (2011),
partimos do entendimento piagetiano onde “Os mecanismos funcionais de
assimilação e acomodação nascem a partir das necessidades do sujeito.
Diante de um desequilíbrio, ou seja, de um problema a ser resolvido, o sujeito
precisa mobilizar a sua ação em busca de uma nova solução.”(idem). Quando
este processo encontra-se fraturado a criança encontra dificuldades que a
levarão a uma série de sintomas como a pobreza de contato com a sua
subjetividade, a falta de iniciativa e excesso de imitação, no caso de
hiperacomodação; pobreza de contato com os objetos e déficit criativo, no caso
da hipoassimilação; predomínio da subjetivação e dificuldades em seguir
regras, no caso da hiperassimilação e ainda, a dificuldade de interiorização de
imagens no caso da hipoacomodação. Todas estas modalidades puderam ser
observadas no período de estágio considerando a especificidade das
dificuldades de entendimento, relacionamento e produção criativa
apresentadas pelas crianças durante a realização das oficinas
psicopedagógicas.

Ao pensarmos o contexto institucional em suas relações com as


dificuldades de aprendizagem apresentadas, podemos pensar nos fatores
institucionais que podem obstaculizar a aprendizagem. A avaliação diagnostica
institucional geralmente parte da queixa de um gestor, dos professores ou
mesmo dos pais e isso requer que ao apresentar uma proposta de trabalho o
psicopedagogo transforme esta queixa em uma demanda real do grupo com o
qual ele se propôs a trabalhar. Assim,

Propor oficinas criativas em que o jogo e a brincadeira façam parte da


proposta de intervenção colabora no desentrave das defesas, pois o
espaço de brincar funciona como um espaço transicional semelhante
ao espaço de vinculação afetiva mãe – bebe.( ONÃTIVIA, 2011)
Além de aprender a partir da ação conjunta e da construção e
reconstrução da relação com o conhecimento que possibilita às crianças uma
releitura de suas ações objetivando a construção de um pensamento autônomo
e criativo.

CONCLUSÃO

Com a realização das oficinas foi possível pensar como acontece a


atuação do psicopedagogo na escola e sobre a importância do trabalho
integrado entre os diversos agentes que trabalham no espaço escolar e
também sobre o entendimento de que a produção do fracasso escolar se dá
a partir e através de diversas instancias que vão desde os profissionais até
os espaços.

Pensamos que a interdisciplinaridade – base fundamental do trabalho


psicopedagógico: cuida dos “espaços entre” professores, alunos, família,
disciplinas, escola e objetiva possibilitar espaços de autoria e autonomia de
pensamento; ser ensinante e aprendente ao mesmo tempo considerando-as
como posições subjetivas. Estar na escola é importante porque o
psicopedagogo consegue observar a criança onde seu sintoma aparece.
Bem como, o trabalho com as oficinas psicopedagógicas, potencializa a
atuação em contexto institucional uma vez que permite delinear
modalidades de aprendizagem, apreender as relações vinculares e
resignificar os conhecimentos.
BIBLIOGRAFIA

EUGENIO, A. A. P. Revisitando a teoria de Jean Piaget. Apostila


Universidade de Santo Amaro – UNISA.

DALSAN, J. O enfrentamento do fracasso escolar em uma escola pública:


análise critica na perspectiva do cotidiano escolar. 2007. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2007.
FONTES, M. A. Concepções de psicopedagogia no Brasil: reflexões a
partir da teoria crítica da sociedade. 2005. Dissertação (Mestrado), Instituto
de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005

ONÃTIVIA, A. C. O processo de aprendizagem. . Apostila Universidade de


Santo Amaro – UNISA.

SOUSA, S. M. S. Aprender – não aprender: os múltiplos fatores que


interferem nesse processo. Apostila Universidade de Santo Amaro – UNISA.

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