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«A ORAÇÃO DO CORAÇÃO»
A oração que leva ao descanso em que a alma habita com Deus, é a oração do coração. Para nós
que damos tanta importância à mente, aprender a orar com o coração e a partir dele tem importância
especial. Os antigos cristãos nos mostram o caminho. Embora não exponham nenhuma teoria sobre a
oração, suas narrativas e seus conselhos concretos apresentam as pedras com as quais é possível
construir uma espiritualidade. Os autores apoiam-se todos na “tradição do deserto”. Encontramos a
melhor formulação da oração do coração nas palavras do russo Teófano, o Recluso: "Orar é descer com
a mente ao coração e ali ficar diante da face do Senhor, Onipresente, Onividente dentro de nós". No
decorrer dos séculos, essa perspectiva da oração tem sido central na oração monástica.
Orar é ficar na presença de Deus com a mente no coração, isto é, naquele ponto de nossa
existência em que não há divisões nem distinções e onde somos totalmente um. Ali habita o Espírito de
Deus e ali acontece o grande encontro. Ali, coração fala a coração, porque ali ficamos diante da face do
Senhor, onividente, dentro de nós. É bom saber que aqui a palavra "coração" é usada em seu sentido
bíblico pleno. Em nosso meio, ela se tornou lugar-comum. Refere-se à sede da vida sentimental.
Expressões como "coração partido" e "sentido do coração" mostram ser comum pensarmos no coração
como o lugar quente onde se localizam as emoções, em contraste com o frio intelecto onde têm lugar
nossos pensamentos. Mas, na tradição judeu-cristã, a palavra "coração" refere-se à fonte de todas as
energias físicas, emocionais, intelectuais, volitivas e morais.
No coração, originam-se impulsos impenetráveis, além de sentimentos, disposições e desejos
conscientes. O coração também tem suas razões e é o centro da percepção e do entendimento.
Finalmente, ele é a sede da vontade: faz planos e chega a uma boa decisão. Assim, é o órgão central e
unificador de nossa vida pessoal. Nosso coração determina nossa personalidade e é, portanto, não só o
lugar onde Deus habita, mas também o lugar ao qual Satanás dirige seus ataques mais ferozes. Esse
coração é o lugar da oração. A oração do coração dirige-se a Deus a partir do centro da pessoa e,
assim, afeta toda a nossa compaixão.
Macário, o Grande, dizia: "A tarefa principal do atleta (isto é, do orante) é entrar em seu coração".
Isso não significa que o que ora deva procura encher sua oração de sentimento; significa que deve
esforçar-se para deixar que ela remodele toda a sua pessoa. O discernimento mais profundo dos
monges do deserto é que entrar no coração é entrar no Reino de Deus. Em outras palavras, o caminho
para Deus é pelo coração. Isaac, o Sírio, escreve:
"Procure entrar na câmara do tesouro... que está dentro de você e então descobrirá a câmara do
tesouro do céu. Pois ambas são a mesma coisa. Se conseguir entrar em uma, você verá ambas. A
escada para este Reino está escondida dentro de você, em sua alma. Se você purificar a alma, ali
verá os degraus da escada que deve subir."

E João de Cárpato diz: "É preciso grande esforço e luta na oração para alcançar aquele estado da
mente que é livre de toda perturbação; é um céu dentro do coração (literalmente 'intracardíaco'),
o lugar onde, como o apóstolo Paulo assegura, "Cristo está em vós" (2 Cor 13,5).
Em suas falas, os monges do deserto nos indicam uma visão bastante holística de oração. Eles nos
afastam de nossas práticas intelectuais, nas quais Deus se transforma em um dos muitos problemas
com os quais temos de lidar. Mostram-nos que a verdadeira oração penetra no âmago de nossa alma e
não deixa nada sem tocar. A oração do coração não nos permite limitar nosso relacionamento com Deus
a palavras interessantes ou emoções piedosas. Por sua própria natureza, essa oração transforma todo o
nosso ser em Cristo, precisamente porque abre os olhos de nossa alma à verdade de nós mesmos e
também à verdade de Deus. Em nosso coração passamos a nos ver como pecadores abraçados pela
misericórdia de Deus. É essa visão que nos faz clamar: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem
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misericórdia de mim, pecador". A oração do coração nos exorta a não esconder absolutamente nada de
Deus e a nos entregar incondicionalmente a sua misericórdia.
Assim, a oração do coração é a oração da verdade. Desmascara as muitas ilusões sobre nós
mesmos e sobre Deus e nos conduz ao verdadeiro relacionamento do pecador com o Deus
misericordioso. Essa verdade é o que nos dá o "descanso". Quando ela se abriga em nosso coração,
somos menos distraídos por pensamentos mundanos e nos voltamos mais sinceramente para o Senhor
de nossos corações e do universo. Assim, as palavras de Jesus: "Felizes os corações puros: eles verão a
Deus" (Mt 5,8) tornam-se reais em nossa oração. As tentações e as lutas continuam até o fim de nossas
vidas, mas com um coração puro ficamos tranqüilos, mesmo em meio a uma existência agitada.
Isso levanta o problema de como praticar a oração do coração em um ministério bastante agitado.
É a essa questão de disciplina para a qual precisamos agora voltar a atenção.

ORAÇÃO E MINISTÉRIO
Como nós, que não somos monges nem vivemos no deserto, praticamos a oração do coração?
Como ela influencia nosso ministério cotidiano?
A resposta a essa pergunta está na formulação de uma disciplina definitiva, uma regra de oração.
Há três características da oração do coração que nos ajudam a formular essa disciplina:
1. A oração do coração alimenta-se de orações breves e simples.
2. A oração do coração é incessante.
3. A oração do coração inclui tudo.
4. Alimenta-se de Orações Breves
No contexto de nossa cultura verbosa, é significativo ouvir os monges do deserto nos
aconselhando a não usar palavras em excesso:
Perguntaram a Macário: 'Como se deve orar?' O ancião respondeu: 'Não há, em absoluto,
necessidade de fazer longos discursos; basta estender a mão e dizer: Senhor, como queres e como
sabes, tem misericórdia. E se o conflito ficar mais ameaçador, dizer: “Senhor, ajuda”. Ele sabe muito
bem do que precisamos e nos mostra sua misericórdia'".
João Clímaco é ainda mais explícito:
"Quando orar, não procure se expressar em palavras extravagantes pois, quase sempre, são as
frases simples e repetitivas de uma criancinha que nosso Pai do céu ouve. Não se esforce em
muito falar, para que a busca de palavras não lhe distraia a mente da oração. Uma única frase nos
lábios do coletor de impostos foi suficiente para lhe alcançar a misericórdia divina; um pedido
humilde feito com fé foi suficiente para salvar o “bom ladrão”. A tagarelice na oração sujeita a
mente à fantasia e à dissipação; por sua natureza, as palavras simples tendem a concentrar a
atenção. Quando encontrar satisfação ou contrição em determinada palavra de sua oração, pare
nesse ponto".
Essa é uma sugestão muito útil para nós que tanto dependemos da capacidade verbal. A tranqüila
repetição de uma única palavra ajuda-nos a descer com a mente ao coração. Essa repetição nada tem a
ver com mágica. Não tem o propósito de enfeitiçar Deus, nem de forçá-lo a nos ouvir. Pelo contrário,
uma palavra ou sentença repetida com freqüência ajuda-nos a nos concentrar, a nos mover para o
centro, a criar uma tranqüilidade interior e, assim, a ouvir a voz de Deus.
Quando simplesmente tentamos ficar sentados em silêncio e esperar que Deus nos fale, nos vemos
bombardeados por intermináveis pensamentos e idéias conflitantes. Mas quando usamos uma sentença
bastante simples como: "Ó Deus, vem em meu auxílio”, ou "Jesus, Mestre, tem piedade de mim", ou
uma palavra como "Senhor" ou "Jesus", é mais fácil deixar as muitas distrações passarem sem nos
deixarmos iludir por elas. Essa oração simples, repetida com facilidade, esvazia aos poucos nossa vida
interior apinhada e cria o espaço sossegado onde habitamos com Deus. É como uma escada pela qual
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descemos ao coração e subimos a Deus. Nossa escolha de palavras depende de nossas necessidades e
das circunstâncias do momento, mas é melhor usar palavras da Escritura.
Quando somos fiéis a essa oração simples e a praticamos com regularidade, ela nos conduz
devagar a uma experiência de descanso e nos abre à presença ativa de Deus. Além disso, em um dia
muito atarefado, podemos levar essa oração conosco. Quando, por exemplo, passamos, no início da
manhã, 20 minutos sentados na presença de Deus com as palavras: "O Senhor é meu pastor", elas
lentamente constroem em nosso coração um pequeno ninho para si mesmas e ali ficam o restante de
nosso dia atarefado.
Até enquanto falamos, estudamos, cuidamos do jardim ou construímos alguma coisa, a oração
continua em nosso coração e nos mantém conscientes da orientação onipresente de Deus. A disciplina
não é agora dirigida para um discernimento mais profundo do que significa chamar Deus de nosso
Pastor, mas para a íntima experiência da ação pastoral de Deus em tudo que pensamos, dizemos ou
fazemos.

ORAÇÃO INCESSANTE
A segunda característica da oração do coração é ser incessante. A pergunta de como seguir a
ordem de Paulo: "Orai incessantemente" foi fundamental desde a época dos monges do deserto. Há
muitos exemplos desse interesse nos dois extremos da tradição monástica. Vejamos um dos principais:
Na famosa história do Peregrino Russo lemos:
"Pela graça de Deus sou cristão, mas pelas minhas ações sou um grande pecador... No vigésimo
quarto domingo depois de Pentecostes, fui à igreja para ali fazer minhas orações durante a liturgia.
Estava sendo lida a primeira Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses e, entre outras palavras, ouvi
estas: 'Orai incessantemente' (1Ts 5,17). Foi esse texto, mais que qualquer outro, que se inculcou
em minha mente, e comecei a pensar como seria possível orar incessantemente, já que um
homem tem de se preocupar também com outras coisas a fim de ganhar a vida".
O camponês foi de igreja em igreja, para ouvir sermões, mas não encontrou a resposta que queria.
Finalmente, encontrou um monge que lhe disse:
"A oração interior incessante é um anseio contínuo do espírito humano por Deus. Para sermos
bem-sucedidos nesse exercício consolador, precisamos suplicar com mais freqüência a Deus que
nos ensine a orar sem cessar. Orar mais e orar com mais fervor. É a própria oração que lhe revela
como orar sem cessar; mas leva algum tempo".
Então, o monge ensinou ao camponês a Oração de Jesus: "Senhor Jesus Cristo, tem misericórdia
de mim". Enquanto viajava como peregrino pela Rússia, o camponês passou a repetir essa oração com
os lábios. Até considerava a oração de Jesus sua companheira verdadeira. E, então, um dia, teve a
sensação de que a oração passou sozinha de seus lábios para seu coração. Ele diz: "... parecia que,
pulsando normalmente, meu coração começava a dizer as palavras da oração a cada batida... Desisti de
dizer a oração com os lábios. Passei simplesmente a ouvir o que meu coração dizia".
Aqui aprendemos outro jeito de chegar à oração incessante. A oração continua a orar dentro de
mim, até enquanto falo com os outros ou me concentro no trabalho manual. Ela se torna a presença
ativa do Espírito de Deus que me guia pela vida.
Desse modo vemos como, pelo amor sacrificial e pela atividade da oração de Jesus em nosso
coração, nosso dia todo se transforma em oração contínua. Sugiro que imitemos o peregrino russo, e
que, também nós, em nosso ministério atarefado, nos preocupemos em orar sem cessar, para que, seja
o que for que comamos ou bebamos, seja o que for que façamos o façamos pela glória de Deus. (Veja 1
Cor 10,31). Amar e trabalhar pela glória de Deus não pode permanecer uma idéia sobre a qual
pensamos de vez em quando. Deve se tornar uma incessante doxologia interior.
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A ORAÇÃO INCLUI TUDO


Uma última característica da oração do coração é que ela inclui todos os nossos interesses.
Quando entramos com a mente no coração e ali ficamos na presença de Deus, então todas as nossas
preocupações mentais se transformam em oração. O poder da oração do coração é precisamente que,
por meio dela, tudo que está em nossa mente se transforma em oração.
Quando dizemos a alguém: "Vou orar por você", assumimos um compromisso muito importante. É
uma pena que esse comentário muitas vezes não passe de uma expressão de interesse. Mas, quando
aprendemos a descer com nossa mente em nosso coração, todos os que fazem parte de nossa vida são
guiados à presença curativa de Deus e tocados por ele no centro de nosso ser. Falamos aqui de um
mistério para o qual palavras são inadequadas.
É o mistério em que o coração, centro de nosso ser, é transformado por Deus em seu coração, um
coração grande o bastante para abraçar todo o universo. pela oração, carregamos em nosso coração
toda a dor e tristeza humanas, todos os conflitos agonias, toda a tortura e a guerra, toda a fome,
solidão e miséria, não por causa de alguma grande capacidade psicológica ou emocional, mas porque o
coração de Deus uniu-se ao nosso.
Aqui vislumbramos o sentidos das palavras de Jesus: "Tomai sobre vós o meu jugo e sede
discípulos meus, porque eu sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas
almas. Sim, o meu jugo é fácil de carregar, e o meu fardo é leve" (Mt 11,29-30).
Jesus nos convida a aceitar seu fardo, que é o do mundo todo, um fardo que inclui o sofrimento
humano em todos os tempos e lugares. Mas esse fardo divino é leve e podemos carregá-lo quando
nosso coração se transforma no coração manso e humilde de nosso Senhor.
Vemos aqui o íntimo relacionamento entre oração e ministério. A disciplina de conduzir todo o
nosso povo com suas lutas ao coração manso e humilde de Deus é a disciplina de oração e também do
ministério. Enquanto o ministério significar apenas que nos preocupamos muito com as pessoas e seus
problemas; enquanto significar um número interminável de atividades que dificilmente conseguimos
coordenar, ainda dependeremos muito de nosso coração tacanho e ansioso.
Mas quando nossas preocupações são elevadas ao coração de Deus e ali se transformam em
oração, ministério e oração se tornam duas manifestações do mesmo amor universal de Deus.
Vimos como a oração do coração se nutre de orações breves, é incessante e inclui tudo. Essas três
características mostram como a oração do coração é o alento da vida espiritual e de todo o ministério.
Na verdade, essa oração não é apenas uma atividade importante, mas o próprio centro da nova vida
que queremos representar e na qual queremos iniciar nosso povo.
As características da oração do coração deixam claro que ela exige uma disciplina pessoal. Para
levar uma vida de oração não podemos passar sem orações específicas. Precisamos dizê-las de uma
forma que nos ajude a ouvir melhor o Espírito que ora em nós. Precisamos continuar a incluir em nossa
oração todas as pessoas com as quais e para as quais vivemos e trabalhamos.
Essa disciplina vai nos ajudar a passar de um ministério ativista, fragmentário e muitas vezes
frustrante para um ministério integrador, holístico e muito gratificante. Ela não vai facilitar o ministério,
mas simplificá-lo; não vai torná-lo doce e piedoso, mas sim espiritual; não vai fazê-lo indolor e sem
lutas, mas tranqüilo no verdadeiro sentido do que seja oração.

FONTE: "A Espiritualidade do Deserto e o Ministério Contemporâneo - O Caminho do Coração" - por


Henri J. M. Nouwen. Ed. Loyola - ano 2000.

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