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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE DIREITO

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

IGUALDADE EM MATÉRIA CONTRATUAL:


AUTONOMIA E VULNERABILIDADE

ANDERSON BUSANELLO BACCARIN RODRIGUES

FELIPE REZENDE LOUREIRO HOBAICA

GABRIELLE TERRA DO NASCIMENTO

RODRIGO SILVA DO NASCIMENTO

PORTO ALEGRE

2018
1. INTRODUÇÃO

O contrato trata-se de acordo voluntário e lícito, entre as partes,


visando modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial. Para
Maria Helena Diniz, “contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na
conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação
de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir
relações jurídicas de natureza patrimonial” 1.

A noção de autonomia privada teve seu ápice com o liberalismo no


período da Revolução Francesa, onde predominaram os ideais relacionados
com o individualismo e a liberdade em todos os campos.

Por sua vez, as ideias de vulnerabilidade e proteção dos vulneráveis


estão intrinsecamente relacionadas com o surgimento do Estado Social e
proteção dos indivíduos, buscando a realização da justiça social e redução das
desigualdades.

Sendo assim, o Estado passa a ser não apenas o garantidor da


liberdade e da autonomia contratual dos indivíduos, passando a intervir nas
relações contratuais para promover não só a justiça distributiva, mas também a
justiça social2.

Segundo Montesquieu, o poder exercido sem qualquer controle


degenera em abuso: “todo homem que tem em mãos o poder é sempre levado
a abusar do mesmo; e assim irá seguindo, até que encontre algum limite”3.

No presente trabalho será feita uma análise da relação entre os


conceitos de autonomia da vontade e vulnerabilidade dos contratantes,
abordando aspectos de como esses dois conceitos se limitam e se
potencializam com o objetivo de atender à função social do contrato.

1
DINIZ, Maria Helena. CURSO DE DIREITO CIVIL BRASILEIRO. Vol. 3. São Paulo: Saraiva, 2008. P. 30.
2
LÔBO, Paulo. CONTRATANTE VULNERÁVEL E AUTONOMIA PRIVADA
(https://jus.com.br/artigos/25358/contratantevulneraveleautonomiaprivada)
3
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Trad. Gabriela de Andrada Dias Barbosa. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1968 v. 2.
2. AUTONOMIA DA VONTADE

A autonomia da vontade é um dos principais princípios do direito


contratual e está pautada na liberdade individual e na capacidade das partes
estabelecerem contratos entre si conforme os seus próprios interesses. É a
vontade, que, ao manifestar-se, retrata o interesse da pessoa física ou jurídica,
no meio social4. É princípio norteador fundamental na formação do contrato,
basicamente o principio estabelece que uma vez externada às manifestações
de vontades, o contrato se concretiza, estabelecendo um vínculo obrigacional
entre as partes.

Em Kant, em sua obra Fundamentos da Metafísica dos Costumes,


escrita em 1785, propôs o Imperativo Categórico. De acordo com esta proposta
a autonomia não é incondicional, mas passa por um critério de universalidade.
A autonomia da vontade é a constituição da vontade, pela qual ela é para si
mesma uma lei - independentemente de como forem constituídos os objetos do
querer. O princípio da autonomia é, pois, não escolher de outro modo, mas sim
deste: que as máximas da escolha, no próprio querer, sejam ao mesmo tempo
incluídas como lei universal.

Para Maria Helena Diniz: “O principio da autonomia da vontade se


funda na liberdade contratual dos contratantes, consistindo no poder de
estipular livremente, como melhor convier, mediante acordo de vontades, a
disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem
jurídica.”5.

A autonomia da vontade das partes sempre foi considerada uma das


pedras de toque da Teoria dos Contratos. Trata-se da ideia de que pessoas
livres e conscientes podem estabelecer em um contrato tudo àquilo que
desejarem, sem que nenhum terceiro possa intervir nessa relação, nem mesmo
o Estado. Trata-se de uma garantia dos indivíduos contra ingerências
desarrazoadas do Estado. Protege-se, em suma, a possibilidade de se fixar

4
AZEVEDO. Álvaro Villaça. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS TÍPICOS E ATÍPICOS: CURSO DE DIREITO CIVIL.
3. ed. São Paulo. Atlas, 2009.
5
DINIZ, Maria Helena. CURSO DE DIREITO CIVIL BRASILEIRO. TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS E
EXTRACONTRATUAIS. São Paulo: Saraiva, 2008, p.23).
livremente o conteúdo do contrato, o qual será realizado nos moldes do
princípio da liberdade contratual6.

Por fim, a noção de autonomia privada consiste no poder reconhecido


pela ordem jurídica ao homem, prévia e necessariamente qualificado como
sujeito jurídico, de juridicizar a sua atividade (designadamente, a sua atividade
econômica), realizando livremente seus negócios jurídicos e determinando os
respectivos efeitos.

3. VULNERABILIDADE

Vulnerável é todo aquele que pode ser facilmente atacado na sua livre
manifestação de vontade, relativamente à escolha de suas prioridades e
necessidades, cabendo à lei defendê-lo, sempre com o objetivo de fazer valer o
princípio da igualdade7.

A vulnerabilidade é o princípio básico que fundamenta a existência e


a aplicação do direito do consumidor, estabelecendo a presunção absoluta de
fraqueza ou debilidade do consumidor no mercado de consumo8.

O princípio da vulnerabilidade representa a defesa dos princípios


constitucionais da função social da propriedade, da defesa do consumidor, da
redução das desigualdades regionais e sociais e da busca do pleno emprego 9.

Pode ser considerada ainda como subprincípio derivado do grande


princípio social da equivalência material, no plano da teoria geral dos contratos.
É, todavia, princípio autônomo nas relações contratuais nas quais a
vulnerabilidade de um dos figurantes é presumida por lei 10.

6
SOBREIRA, Gilson. LIMITAÇÕES ACERCA DA AUTONOMIA DA VONTADE NOS CONTRATOS DE CONSUMO.
7
BONATTO, Claudio et DAL PAI MORAES, Paulo Valério. QUESTÕES CONTOVERTIDAS NO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR: PRINCIPOLOGIA, CONCEITOS, CONTRATOS. 4 ed. Porto Alegre. Livraria do Advogado, 2013.
8
MIRAGEM, Bruno. CURSO DE DIREITO DO CONSUMIDOR. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
9
BONATTO, Claudio et DAL PAI MORAES, Paulo Valério. QUESTÕES CONTOVERTIDAS NO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR: PRINCIPOLOGIA, CONCEITOS, CONTRATOS. 4 ed. Porto Alegre. Livraria do Advogado, 2013.
10
LÔBO, Paulo. CONTRATANTE VULNERÁVEL E AUTONOMIA PRIVADA
(https://jus.com.br/artigos/25358/contratantevulneraveleautonomiaprivada)
A vulnerabilidade pode ser distinguida em três grandes tipos:
vulnerabilidade técnica; vulnerabilidade jurídica; e vulnerabilidade fática11.

A vulnerabilidade técnica ocorre quando o consumidor não possui


conhecimentos específicos sobre o produto ou serviços que adquire numa
relação de consumo e, por outro lado, o fornecedor detém esse conhecimento.

Já a vulnerabilidade jurídica se dá quando há falta de conhecimento,


pelo consumidor, dos direitos e deveres característicos da relação de consumo
estabelecida, assim como o desconhecimento das possíveis consequências
jurídicas dos contratos celebrados.

Por sua vez, a vulnerabilidade fática abrange, genericamente,


inúmeras situações concretas de reconhecimento de debilidade do consumidor,
como a vulnerabilidade econômica, vulnerabilidade pelo reduzido
discernimento ou falta de percepção (consumidor-criança e consumidor-idoso),
vulnerabilidade devido ao pleno acesso das informações (consumidor-
analfabeto), vulnerabilidade devido a situações de debilidade física
(consumidor-doente).

4. AUTONOMIA PRIVADA X VULNERABILIDADE

A redação dos contratos pode apresentar-se, certas vezes, de modo


impreciso, de difícil compreensão, levando a conclusões que desvirtuam a
intenção objetiva das partes que fundamenta a avença. De modo a orientar,
sob este aspecto, a melhor execução do contrato faz-se uso do disposto no
artigo 112 do Código Civil:

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção


nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

A execução do ato obrigacional deverá sempre balizar-se por


princípios contratuais que buscam a efetivação da vontade das partes bem
como a atenuação da disparidade entre os figurantes. Eventualmente podem
ocorrer situações que demandem a extrapolação do texto que formaliza o
negócio jurídico, onde uma das partes, alegando que este não retrata de
11
MARQUES, Claudia Lima. CONTRATOS NO CÓDIGO DE DEFESA DO COSUMIDOR. 6 ed. São Paulo. Revista dos
Tribunais, 2011.
maneira fidedigna sua vontade, requer a superação da literalidade da clausula,
interpretando-a, de modo que se atinja a real vontade oculta sob o véu da
obscuridade semântica do texto.

Gonçalves (2017)12 disserta da seguinte maneira concernente ao


tema:

Parte-se da declaração, que é forma de exteriorização da vontade, para


se apurar a real intenção das partes. Esta deve, pois, ser considerada,
não no sentido de pensamento íntimo dos declarantes, pois não se
buscam os seus motivos psicológicos, mas sim o sentido mais
adequado a uma interpretação que leve em conta a boa-fé, e o contexto
e o fim econômico do negócio jurídico.

Como bem referido pelo autor, os princípios do direito contratual


conformam o modo de interpretação dos contratos, devendo, assim, ser
observados irrestritamente.

A interpretação poderá ser objetiva quando ao examinar o texto


contratual buscar-se a eliminação de imprecisões e ambiguidades. Terá caráter
subjetivo quando buscar a intenção comum do contrato.

Em contratos onde exista disparidade entre as partes, a interpretação


do texto será realizada sendo retomados princípios como o da boa-fé. Este
procedimento surge como meio mitigador desta desigualdade. Assim como
referido por Junior (2003) apud Gonçalves (2017) 13:

É comum, nos contratos em que se caracteriza a superioridade


intelectual, econômica ou profissional de uma parte, e
principalmente nos contratos de adesão, “a necessidade de
invocar-se o princípio da boa-fé para a eventual suspensão da
eficácia do primado da autonomia da vontade, a fim de rejeitar-se
cláusula abusiva ou imposta sem o devido esclarecimento de seus
efeitos, principalmente no tocante à isenção de responsabilidade
do estipulante ou à limitação de vantagens do aderente.

Em contratos como supracitado, presume-se o aderente em condição


vulnerável. A vulnerabilidade do contratante, como já referido, é fruto de uma
oposição à ideologia neoliberal que teve origem na concepção do Estado
Social. No que se refere às matérias contratuais, esta ideologia defende uma
12
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais. 14. ed. – São Paulo :
Saraiva, 2017. p. 76.
13
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 3: contratos e atos unilaterais. 14. ed. – São Paulo :
Saraiva, 2017. p. 78.
significativa intervenção estatal, transcendendo, assim, as barreiras da justiça
comutativa e distributiva, como bem aludido por Lobo (2012)14, estas apenas
qualificam as coisas como estão, enquanto a justiça social, buscada pelo
Estado Social, tem por meta transformá-las, de modo a reduzir as
desigualdades.

O controle do Estado tem caráter dispensável em contratos onde as


partes são presumivelmente iguais. Quando é citada a igualdade, dentro do
contexto contratual, refere-se a atributos dos figurantes os quais podem intervir
na negociação, desequilibrando a avença em favor de um ou de outro. O que
importa aqui são fatores que limitem a autonomia das partes. Qualidades que
não sejam relevantes dentro desta conjuntura, não configuram indicativo de
vulnerabilidade de um dos lados.

Segundo Lobo (2012)15 o papel do Estado, por meio de sua


intervenção, terá efetividade na proteção do contratante vulnerável, quando
forem cerceadas liberdades, referentes a materiais contratuais, aqui expostas:

I - limitação da liberdade de escolha do outro contratante,


sobretudo nos setores de fornecimento de serviços públicos
(água, luz, telefone, transporte etc), ou monopolizados. O
contratante fornecedor é obrigado a prestar o serviço a qualquer
pessoa que o demande. Cuida-se de obrigação compulsória de
fazer, não podendo haver recusa discricionária à contratação, que
poderá ser determinada judicialmente, além de importar
indenização por perdas e danos;

II - limitação da liberdade de escolha do tipo contratual,


quando a lei estabelece os tipos contratuais exclusivos em
determinados setores, a exemplo dos contratos de licença ou
cessão, no âmbito da lei de software, e dos contratos de parceria
e arrendamento no âmbito do direito agrário. São contratos
típicos, que consistem em numerus clausus. Nesta hipótese,
cessa a liberdade de escolher ou criar outros, pois o legislador
presume que os tipos que definiu são os que melhor protegem o
contratante vulnerável, segundo os dados da experiência. As leis,
principalmente o Código Civil, regulam os tipos que já estão
consagrados no tráfico jurídico: compra e venda, doação,
permuta, empréstimo, mandato, locação, fiança, empreitada,
corretagem, transporte, seguros. Porém, essa regulação é
tradicionalmente supletiva, com uso de normas jurídicas
dispositivas, ou seja, apenas incidem sobre os contratos se as
parte não tiverem estipulado de modo diferente ao que elas
dispuseram;

14
LÔBO, Paulo. Contratante vulnerável e autonomia privada. Revista do Instituto do Direito Brasileiro, v.10, p.6184.
15
LÔBO, Paulo. Contratante vulnerável e autonomia privada. Revista do Instituto do Direito Brasileiro, v.10, p.6185.
III - limitação da liberdade de determinação do
conteúdo do contrato, parcial ou totalmente, quando a lei define o
que ele deve conter de forma cogente, total ou parcialmente,
como no contrato de locação residencial, nos contratos do sistema
financeiro da habitação, no contrato de turismo, no contrato de
seguro. O contratante que exerce o poder negocial dominante não
pode contrariar os conteúdos fixados por lei, que dizem respeito à
essência desses contratos protegidos.

Nos contratos de adesão, como já mencionado, a vontade de uma


das partes é substancialmente limitada, submetendo-se aos ditames pré-
estabelecidos pela outra parte. Como meio de atenuar esta disparidade dentro
do contrato o Código Civil de 2002 tutela os interesses do aderente, levando a
interpretação das clausulas contratuais em direção benéfica a ele. O artigo 423
e 424 do Código Civil dispõem o seguinte com relação à matéria em pauta:

Art. 423 Quando houver no contrato de adesão cláusulas


ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação
mais favorável ao aderente.

Art. 424 Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que


estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante
da natureza do negócio

Dentro deste contexto, cumpre citar que os contratos devem observar


o principio social da equivalência material que impõe que o contrato seja
executado com equivalência de ônus e bônus pelas partes, evitando vantagens
ou onerosidades excessivas. Diversos artigos do Código Civil de 2002
consideram este principio como basilar para sua norma, especialmente aqueles
que dizem respeito à revisão do contrato desequilibrado, como artigo 317
(correção do valor de prestação desproporcional) artigo 478 (resolução por
onerosidade excessiva). Isto põe em evidencia a figura do juiz que,
aproximando-se da prerrogativa legislativa, irá retificar a orientação do contrato
em direção à realização da justiça social.

Por meio dos artigos supracitados, o legislador protegeu a parte em


desvantagem, uma vez que nos contratos de adesão acontece a mera
submissão do aderente, tomando-se em conta que este não tem poder de
modificar o contrato.

Outro eficaz artifício para resguardar os interesses do contratante em


situação vulnerável é a interpretação das clausulas contratuais segundo a
realidade social que circunda o ajuste, ou seja, levando-se em conta o princípio
da função social do contrato. Este entendimento está expresso no artigo 421 do
Código Civil:
Art. 421 A liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato.

Tartuce (2017)16 discorre a respeito da função social do contrato,


enunciando a sua dupla eficácia, interna e externa. Dentro do contexto, cumpre
apresentar os principais aspectos da eficácia interna:

a.1) Proteção dos vulneráveis contratuais – o CDC protege o


consumidor, a CLT protege o trabalhador e o CC/2002 protege o
aderente em dois dispositivos (arts. 423 e 424). [...]

a.2) Vedação da onerosidade excessiva ou desequilíbrio


contratual (efeito gangorra) – o que pode motivar a anulação (arts.
156 e 157 do CC), a revisão (art. 317 do CC), ou mesmo a
resolução do contrato (art. 475 do CC) [...].

a.5) Proteção da dignidade humana e dos direitos da


personalidade no contrato [...].

a.4) Nulidade de cláusulas anti-sociais, tidas como abusivas [...].

Por fim, cumpre mencionar, o Código de Defesa do Consumidor que,


partindo do paradigma do consumidor como em permanente desvantagem na
relação comercial, o define como em situação vulnerável.

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios:

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no


mercado de consumo;

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente


o consumidor:

a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações


representativas;

16
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2017.p. 411-412
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões


adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

O CDC materializa o que preconiza o Estado Social nas questões


contratuais quando é identificada uma posição em fragilidade entre as partes.
Estabelece o consumidor como a parte vulnerável e impõe a intervenção do
Estado na avença de modo a atenuar as desigualdades existentes.

Ainda é possível citar que em seus artigos 46 e 47 o CDC,


considerando o consumidor em condição de vulnerabilidade, impõe exegese do
texto contratual em beneficio do deste.

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não


obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade
de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os
respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a
compreensão de seu sentido e alcance.

Art. 47 As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira


mais favorável ao consumidor.

5. CASOS ANALISADOS E JURISPRUDÊNCIA

AI n.° 10024151633542001 MG

11ª Câmara Cível TJ-MG

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA ACOLHIDA


- AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL
- RELAÇÃO DE CONSUMO - NULIDADE DA CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DO
FORO - POSSIBILIDADE - VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR.

Tratando-se de contrato de compra e venda de imóvel, nos termos dos


artigos 2º e 3º, ambos do CDC, é de consumo a relação jurídica havida entre as
partes.

Não verificada a necessária liberdade do consumidor para contratar a


eleição do foro prevista no contrato e, diante do princípio da facilitação da
defesa do consumidor (art. 6º, VIII, do CDC), tem-se a nulidade da cláusula de
eleição do foro prevista em contrato de adesão, motivo pelo qual deve ser
mantida a opção do consumidor em ajuizar a demanda no foro de seu
domicílio.

Recurso conhecido e provido. No presente caso em estudo, foi


ajuizada ação de rescisão de contrato de compra e venda de imóvel, à qual foi
oposta exceção de incompetência ao juízo da comarca de Belo Horizonte, onde
foi ajuizada a demanda, por dispor, o contrato, de cláusula de eleição do foro e
que este seria na cidade de Jaboticatubas/MG, fora do domicílio do
consumidor.

Os julgadores de segunda instância reconheceram a abusividade da


cláusula por considerarem tratar-se de contrato de adesão, visto que a parte
contratante não formalizou expressamente a opção pelo foro contratual,
inclusive citando o § único, art. 112 do CPC/73 (aplicado ao caso) e a
jurisprudência do STJ, os quais expressam que a nulidade da cláusula de
eleição de foro em contrato de adesão pode ser declarada de ofício pela
autoridade judiciária, declinando-se a competência para o foro do domicílio do
consumidor.

Ao conhecer da natureza adesiva do referido contrato e dela, a


hipossuficiência do consumidor na relação de consumo entre as partes, dando
provimento ao recurso, é intrínseca a percepção de que, identificando-se a
situação de vulnerabilidade, temos um desequilíbrio de poderes no quesito da
expressão de vontades, visto que a formação do contrato de adesão se dá de
forma unilateral, tendo todos os seus termos e condições redigidos de acordo
com a manifestação de apenas um dos partícipes, sendo o outro obrigado a
aceita-los para contratar ou, então, recusar-se a fechar negócio com a
contratada.

Neste caso, o quesito da vulnerabilidade da parte consumidora age


como um equalizador para repelir a cláusula considerada abusiva ao
consumidor por restringir seu direto de facilitação à defesa, conforme art. 6º,
VIII, do Código de Defesa do Consumidor.
6. BIBLIOGRAFIA
BONATTO, Claudio et DAL PAI MORAES, Paulo Valério. QUESTÕES
CONTOVERTIDAS NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR:
PRINCIPOLOGIA, CONCEITOS, CONTRATOS. 4 ed. Porto Alegre.
Livraria do Advogado, 2013.
DINIZ, Maria Helena. CURSO DE DIREITO CIVIL BRASILEIRO. Vol. 3.
São Paulo: Saraiva, 2008.
DINIZ, Maria Helena. CURSO DE DIREITO CIVIL BRASILEIRO.
TEORIA DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS E
EXTRACONTRATUAIS.
LÔBO, Paulo. CONTRATANTE VULNERÁVEL E AUTONOMIA
PRIVADA(https://jus.com.br/artigos/25358/contratantevulneraveleautono
miaprivada)
MARQUES, Claudia Lima. CONTRATOS NO CÓDIGO DE DEFESA DO
COSUMIDOR. 6 ed. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2011.
MIRAGEM, Bruno. CURSO DE DIREITO DO CONSUMIDOR. 6. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. Trad. Gabriela de Andrada Dias
Barbosa. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1968 v. 2.
SOBREIRA, Gilson. LIMITAÇÕES ACERCA DA AUTONOMIA DA
VONTADE NOS CONTRATOS DE CONSUMO.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 3 :
contratos e atos unilaterais. 14. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 7. ed. rev.,
atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017.

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