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O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO E A EXPERIÊNCIA


SOCIALISTA DO CAMBOJA DEMOCRÁTICO

Ives Natan de Castro Maia Menezes1

Resumo: Este trabalho tem como objetivo explorar o aspecto político e prático
do materialismo histórico dialético, conceituado por Karl Marx2, usando como
base a obra “A Ideologia Alemã”, de Karl Marx e Friedrich Engels, juntamente
com a experiência socialista do Camboja Democrático. Será analisado o
materialismo da conjuntura da época em que ocorreu a revolução Cambojana e
como esse conceito marxista é tão importante para a compreensão e prática do
socialismo. Para tal estudo, será levado em consideração que o Camboja não
foi uma experiência socialista convencional e como as particularidades do país
resultaram em uma das revoluções mais interessantes e distintas do século
XX. Tem-se o intuito de ressaltar a importância dessa revolução para o campo
socialista e para os estudos da ciência imortal do proletariado.

Palavras-chave: Materialismo histórico dialético. Camboja Democrático.


Socialismo.

Abstract: The objective of this article is to explore the political and practical
aspects of dialectical historical materialism conceptualized by Karl Marx, using
as a basis the work "The German Ideology" of Karl Marx and Friedrich Engels
together with a analysis of the socialist experience of Democratic Kampuchea.
For this study will be taken into account that Kampuchea was not a
conventional socialist experience and how the peculiarities of this country
resulted in one of the most interesting and distinct revolutions of the twentieth
century. It is intended to emphasize the importance of this revolutionary
experience for the socialist field and for the studies of the immortal science of
the proletariat.

1
Graduando do segundo semestre do curso de Serviço Social pela Universidade Estadual do
Ceará – UECE.
2
Karl Marx (5 de maio de 1818 - 14 de março de 1883) foi um filósofo, sociólogo, jornalista e
revolucionário socialista. Nascido na Prússia, mais tarde se tornou apátrida e passou grande
parte de sua vida em Londres, no Reino Unido.
2

Keywords: Dialectical historical materialism. Democratic Kampuchea.


Socialism.

INTRODUÇÃO

Na obra “A Ideologia Alemã”, Karl Marx e Friedrich Engels apresentam


pela primeira vez os conceitos encontrados posteriormente em sua obra mais
famosa “O Capital”, sendo um deles o materialismo histórico. Marx fazia parte
dos neo-hegelianos, que era um grupo de seguidores do filósofo Hegel 3, porém
como Hegel já havia falecido, os neo-hegelianos costumavam usar da filosofia
hegeliana para fazer uma critica à esquerda. E é justamente na sua obra “A
Ideologia Alemã” que Marx busca romper teoricamente e ideologicamente com
os neo-hegelianos.

O pensamento marxista é baseado no materialismo histórico, na


interpretação da história da humanidade a partir do seu aspecto material, ou
seja, na forma em que a sociedade se organiza para produzir materialmente
aquilo que é necessário para sua subsistência, acumulo e para satisfazer suas
necessidades. Através disto, Marx desenvolve o conceito do determinismo
econômico, que se trata da concepção de que a economia de uma sociedade e
a forma que esta sociedade está organizada irá determinar todas as relações
sociais.

No Camboja pré-revolução, a repressão aos militantes comunistas por


ordem do monarca Norodom Sihanouk era sangrenta. Em julho de 1962, Tou
Samouth, o principal líder do PRPK (Partido Revolucionário Popular de
Kampuchea) foi assassinado. Após este acontecimento os comunistas
cambojanos começaram a agir de maneira silenciosa, na maior das
clandestinidades. Isso até 1967, ano em que surge uma insurreição comunista
no território do Camboja. O movimento era formado em sua maioria por
agricultores/camponeses pobres e cheios de dividas, outra parte era composta
por pequenos proprietários. Após a viagem de alguns membros do comitê

3
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (27 de agosto de 1770 -14 de novembro de 1831) foi
um filósofo alemão. É considerado um dos mais importantes e influentes filósofos da história.
Pode ser incluído naquilo que se chamou de Idealismo Alemão, uma espécie de movimento
filosófico marcado por intensas discussões filosóficas entre pensadores de cultura alemã
(Prússia) do final do século XVIII e início do XIX.
3

central a Pequim, o partido resolveu adotar o pensamento de Mao Tse-Tung4.


E em 17 de abril de 1975, após uma série de ataques ao aeroporto de
Pochetong5, os revolucionários adentram a Phnom Penh, capital do Camboja.
A revolução havia triunfado.

MARX E OS NEO-HEGELIANOS

Em 1841, Feuerbach6 publicava a obra “A Essência do Cristianismo”,


devido esta ter sido a primeira investida contra o sistema hegeliano e sua ótica
cristã, o livro teve uma grade repercussão. Ao estudar as criticas ao
cristianismo, o pensamento de Marx ganhou novos horizontes. No entanto, o
jovem Karl buscava respostas que não eram apontadas pelos neo-hegelianos.

Então Marx percebeu, que apesar de uma ruptura proposta pelos jovens
hegelianos com a velha ideologia alemã, não era trazido nenhuma análise das
relações materiais humanas, mas sim a manutenção da visão idealista.
Feuerbach parte do pressuposto de que os homens organizavam-se dessa
maneira desigual e opressora por conta das influências cristãs. Porém Marx
compreende que a religião é apenas um produto da consciência humana,
assim busca compreender porque o homem desenvolveu essa divisão de
classes sociais.

Através da sua visão materialista histórica, Karl Marx conclui que a


consciência humana é a representação da realidade que ela vive, sua
consciência, portanto, era o reflexo da forma como a humanidade produzia sua
existência. Enquanto os neo-hegelianos apontavam como caminho uma
relação racional com a religião, Marx percebia que enquanto as relações de
divisão do trabalho permanecessem as mesmas, nenhuma mudança
substancial ocorreria na sociedade. Marx afirma que, os neo-hegelianos
buscavam criticar o método de Hegel, porém sem superá-lo. Para chegar a
esta conclusão o sociólogo Karl Marx foi estudar as formas materiais de

4
Mao Tsé-Tung foi um político, teórico, líder comunista e revolucionário chinês. Liderou a
Revolução Chinesa e foi o arquiteto e fundador da República Popular da China, governando o
país desde a sua criação em 1949 até sua morte em 1976.
5
Aeroporto Internacional, é um aeroporto que serve a cidade de Phnom Penh, no Camboja
6
Ludwig Andreas Feuerbach foi um filósofo alemão. Feuerbach é reconhecido pelo ateísmo
humanista e pela influência que o seu pensamento exerce sobre Karl Marx.
4

produção da humanidade, desde sua constituição primária até a chegada do


estado.

O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO

Marx afirmou que desde a primeira forma de constituição familiar, até as


formas de produção de hoje em dia que são formadas as relações servis e
opressoras. Para Marx, os indivíduos não são formados tal qual a imaginação
ou a consciência é desenvolvida, mas sim a forma como produzem
materialmente que determina suas relações religiosas, políticas e sociais. Os
homens ao desenvolverem sua produção material e a forma de intercâmbio das
produções, transformam essa realidade no seu modo de pensar.

As relações sociais são reflexos das relações de produção, pois todas as


nossas relações possuem algum determinante e fator econômico que permite
que essa relação ocorra. É necessário entender que toda sociedade ou
conjunto social é dividido em infraestrutura e superestrutura. A infraestrutura
está diretamente relacionada com o campo econômico, ou seja, a maneira que
a sociedade produz o produto necessário para sua subsistência, a partir dos
meios de produção e da força de trabalho. Em contrapartida se tem a
superestrutura, que é o campo ideológico da sociedade, a forma com que a
qual a sociedade pensa. Partindo do pressuposto do determinismo econômico,
a infraestrutura é determinante para o campo ideológico. Logo, a maneira com
que a sociedade pensa, se organiza culturamente, o Estado, a religião, a moral
e os costumes são reflexos da estrutura econômica.

O capitalismo é baseado no acumulo de bens, no trabalho individual que


resulta no enriquecimento do individuo e essa estrutura econômica determina
uma ideologia, que é baseada na ideia do mérito individual. Como a classe
dominante, no caso os burgueses, é a classe que detém o poder da
superestrutura, a ideia de que se você trabalhar bastante e se esforçar um dia
irá ter sucesso financeiro é disseminada entre a sociedade, essa ideia justifica
e legitima a estrutura econômica existente, com a finalidade de culpar os
indivíduos por sua condição desfavorável, assim justificando as desigualdades
econômicas e a exploração.
5

Partimos da análise de que materialismo é a concepção de que tudo


começa na matéria, no que é real, no que é palpável. Parafraseando Karl Marx:

“Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela


religião e por tudo o que se queira. Mas eles próprios começam a se
distinguir dos animais logo que começam a produzir seus meios de
existência, e esse passo à frente é a própria consequência de sua
organização corporal. Ao produzirem seus meios de existência, os
homens produzem indiretamente sua própria vida material.” (MARX,
KARL, 2001, p.10)

A história dos homens se funda na realidade, são homens materiais


construindo sua vida material. Não é algo guiado pela “razão” ou por alguma
força superior. Logo, se a realidade é construída por homens e mulheres, essa
realidade pode ser alterada. E é nesse ponto que chegamos a questão
dialética, de como a realidade pode ser alterada. Ou seja, o materialismo
histórico-dialético diz respeito as condições de existência material, o nosso
comportamento ao longo da história e como nós mudamos a história da
sociedade.

AS CONDIÇÕES MATERIAIS DO CAMBOJA

Para se entender as condições materiais do Camboja no período pré-


revolução, é necessário compreender a relação entre Vietnã e Camboja. O
Camboja assim como o Vietnã fazia parte do território da Indochina Francesa,
que foi uma parte do Império Colonial Francês no Sudeste da Ásia. A
federação era composta por três regiões: Vietnã, Camboja e Laos.

No ano de 1946 se inicia o movimento denominado de “descolonização”,


logo a sua influência se espalha em todo o extremo oriente como forma de
resposta ao histórico colonial e à atuação dos franceses na região. A guerra
por independência contou com o apoio das grandes potências comunistas:
China e União Soviética. O conflito durou oito anos, tendo seu fim em 1954,
quando um tratado de paz foi assinado. Após os conflitos o território Vietnamita
é dividido em dois: Vietnã do Norte, sob a influência soviética e o Vietnã do Sul
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com influência americana. Essa divisão ideológica mais tarde resultaria na


Guerra do Vietnã7.

Em 1968 influenciados pelo pensamento do camarada Mao Tse-Tung e


inspirados na Grande Revolução Cultural Proletária8, é organizado as bases de
apoio no campo cambojano e se dá início a Guerra Popular Revolucionária no
país. Então, em 1970 o governo americano em uma tentativa de gerenciar o
território do Camboja, orquestra um golpe encabeçado pelo general cambojano
Lon Nol, instaurando assim uma ditadura pró-ocidental, para a revolta dos
opositores nacionalistas e comunistas.

A EXPERIÊNCIA SOCIALISTA DO CAMBOJA DEMOCRÁTICO

Em 17 de abril de 1975, as tropas do Khmer Vermelho 9, após uma onda


de ataques intensos ao aeroporto de Pochetong para impedir a fuga do general
Lon Nol, adentram a Phnom Penh, capital do Camboja. A Guerra Popular teve
êxito, a revolução havia se instaurado.

Após o êxito da revolução, os comunistas tinham um grande desafio pela


frente: O país havia acabado de sair de uma guerra de oito anos, o povo
passava por uma crise de recursos, as cidades estavam inchadas de
miseráveis e o país corria risco de ser bombardeado pelos Estados Unidos.
Haviam numerosos campos despovoados e improdutivos e os sistemas de
logística e distribuição destruídos e sem perspectiva de uma reconstrução
rápida.

Então os comunistas cambojanos tomaram duas medidas polêmicas, a


primeira foi em relação a falta de recursos: Como os campos estavam
despovoados devido a guerra e aos bombardeios americanos, a população foi
cooptada da cidade para as cooperativas do campo, pois a produção de

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A Guerra do Vietnã foi um conflito armado que começou no ano de 1959 e terminou em 1975.
As batalhas ocorreram nos territórios do Vietnã do Norte, Vietnã do Sul, Laos e Camboja.
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A Grande Revolução Cultural Proletária foi uma profunda campanha político-ideológica levada
a cabo a partir de 1966 na República Popular da China, pelo então líder do Partido Comunista
Chinês, Mao Tsé-tung, cujo objetivo era neutralizar a crescente oposição que lhe faziam alguns
setores menos radicais do partido.
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Khmer Vermelho foi o nome dado aos seguidores do Partido Comunista da Kampuchea,
partido governante no Camboja de 1975 a 1979.
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recursos alimentares era uma medida de urgência naquele momento. A


segunda medida foi a abolição do dinheiro.

Durante dez dias após a libertação de 17 de abril, os quadros do Partido


Comunista explicaram as medidas de evacuação às massas em Phnom Penh.
E, na maior parte, as massas apoiaram essa decisão assim que a entenderam.
De fato, a maioria das pessoas deixou a cidade por conta própria, retornando
aos seus lugares de origem, dos quais se tornaram refugiados após os
bombardeios americanos terem destruído suas casas e campos de arroz.

Após as mobilizações para os trabalhos cooperativos o Camboja


Democrático conseguiu resolver os problemas de alimentação, vestuário e
moradia. Derrotou todas as tentativas do inimigo de derrubar o seu poder
político através de golpes de Estado ou invasões.

O fato do Partido Comunista do Camboja ter abolido o dinheiro da região


causa certo espanto, mas é necessário entender que se existia entre os
revolucionários cambojanos um pensamento de que, abolindo o dinheiro,
seriam abolidos a ganância e o individualismo. Como Marx cita na obra “A
Ideologia Alemã”:

“Para o materialista prático, isto é, para o comunista, trata-se de


revolucionar o mundo existente, de atacar e de transformar praticamente o
estado de coisas que ele encontrou.” (MARX, KARL, 2001, p.42 – p.43)

Em relação à abolição do dinheiro, foi criado um sistema de bônus, os


trabalhadores acumulavam horas de trabalho e essas horas de trabalho eram
usadas para as trocas de mercadorias e suprimentos. As pessoas usavam o
que precisavam e contribuíam com o que podiam para as cooperativas e para o
estado.

Os caminhões do estado visitavam regularmente as cooperativas,


carregados com os materiais disponíveis. Toda cooperativa poderia obter
mercadorias como máquinas de costura, rádios, roupas, cigarros e outros itens
não fabricados na cooperativa visitada. Todos os bens eram distribuídos com
base na necessidade. Por sua vez, depois de se produzir o suficiente para que
a cooperativa pudesse alimentar seu próprio povo, seu excedente de arroz era
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carregado nos caminhões do estado para os trabalhadores da cidade e para as


cooperativas mais necessitadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a análise da experiência socialista do Camboja Democrático


juntamente da leitura e estudo da obra "A Ideologia Alemã" se faz possível ver
como o materialismo histórico-dialético funciona na prática, principalmente
durante um processo revolucionário, em que se encontra uma sociedade em
constante transformação. Apesar de que em alguns pontos a experiência
socialista do Camboja se enquadra no que Marx chama de idealismo:

“A dependência universal, essa forma natural da cooperação dos


indivíduos em escala histórico-mundial, será transformada por essa
revolução comunista em controle e domínio consciente dessas forças
que, engendradas pela ação recíproca dos homens entre si, lhes
foram até agora impostas como se fossem forças fundamentalmente
estranhas, e os dominaram. Esta concepção pode ser, por sua vez,
concebida de maneira especulativa e idealista, isto é, fantasiosa,
como “geração do gênero por si mesmo” (a “sociedade enquanto
sujeito”) e, por isso, mesmo a série sucessiva dos indivíduos em
relação uns com os outros pode ser representada como um indivíduo
único que realizaria esse mistério de gerar a si mesmo.” (MARX,
KARL, 2001, p.35)

Entretanto, o processo socialista do Camboja Democrático é de suma


importância e tem muito a oferecer ao campo de estudos das ciências
revolucionárias, para assim se buscar maior compreensão de como se dão
esses processos.

Com este estudo podemos entender de forma prática, mas sempre se


fundamentando também na teoria, como se relacionam os diversos aspectos
de determinada sociedade e como, dessa forma, a mesma se transforma ou
simplesmente mantém a velha ordem capitalista. Karl Marx destaca a
importância de se romper com o Estado burguês e suas ideias: “As ideias
dominantes de uma época sempre foram as ideias da classe dominante.”, logo,
o rompimento com as ideias que buscam justificar a desigualdade e
exploração, só há de acontecer com a ruptura do sistema capitalista.
9

Para se melhor compreender a realidade de países subjugados ao


imperialismo e explorados e, além disso, buscar formas de lutar pela
independência e autonomia dos mesmos, é necessário estudar os processos
históricos e analisar as condições materiais e suas particularidades, para assim
evitar o dogmatismo ainda presente em alguns setores comunistas. Porém,
sempre buscando ressaltar a importância de se manter uma linha
revolucionária e não reformista. Pois como já elucidou o camarada Stalin 10:
“Você não consegue fazer uma revolução com luvas de seda.”

REFERÊNCIAS

MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Luis Claudio de Castro e


Costa. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 2001.

THE CALL’S EYEWITNESS REPORT: A VISIT TO A COOPERATIVE.


Disponível em: < https://www.marxists.org/history/erol/ncm-5/burstein-2.htm>.
Acesso em: 18 junho de 2018.

ENTREVISTA A NUON CHEA 2011 (27m40s). Disponível em:


<http://grandedazibao.blogspot.com/2018/04/entrevista-nuon-chea-2011.html>.
Acesso em: 18 de junho de 2018.

EN DEFENSA DE KAMPUCHEA. Disponível em: <https://goo.gl/vrEKwu>.


Acesso em: 18 de junho de 2018.

A KAMPUCHEA DEMOCRÁTICA. Disponível em:


<http://grandedazibao.blogspot.com/2011/09/kampuchea-democratica.html>.
Acesso em: 18 de junho de 2018.

10
Josef Vissariónovitch Stalin, foi secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e
do Comitê Central a partir de 1922 até a sua morte em 1953.

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