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Anuário da Produção TURISMO E POVOS INDÍGENAS

Acadêmica Docente
Vol. III, Nº. 4, Ano 2009

RESUMO
Telma Medeiros Brito
Centro Universitário Ibero-Americano O estudo do etnoturismo é ainda recente no Brasil. Este artigo pretende abrir
UNIBERO Brigadeiro uma discussão sobre o tema e tem como objetivo apresentar uma análise
telma.brito@unianhanguera.edu.br
sobre o uso da imagem dos povos indígenas como atrativo turístico. A partir
da observação realizada em visitas a eventos turísticos e da pesquisa
bibliográfica, abordou-se a divulgação da imagem indígena de diversas
formas. O turismo utiliza-se, dentre outros fatores, dos recursos naturais, das
tradições culturais e das identidades regionais para seu desenvolvimento.
Desta forma, discutiu-se a importância da utilização destes fatores de forma
sustentável, respeitando as comunidades frágeis e com o devido cuidado
para que não haja interferências e alterações nestas culturas.

Palavras-Chave: etnoturismo; turismo cultural; turismo étnico.

ABSTRACT

The study of etnotourism is still recent in Brasil. This article aims to open a
discussion on the subject and aims to present an analysis on the use of the
image of indigenous people as a tourist attraction. From the observation
realized during trade shows visits and the literature searches, we addressed
the dissemination of Indian image in various forms. Tourism uses for its
development, among other factors, natural resources, cultural traditions and
regional identities. Thus, we discuss the importance of using these factors in
a sustainable manner, respecting the fragile communities and with due care
to avoid interference and changes in these cultures.

Keywords: etnotourism; cultural tourism; ethnic tourism.

Anhanguera Educacional S.A.


Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo
CEP 13.278-181
rc.ipade@unianhanguera.edu.br
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 19/9/2009
Avaliado em: 18/2/2010
Publicação: 19 de março de 2010
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise do uso da imagem dos
povos indígenas como atrativo turístico.

A partir da realização dos Jogos Indígenas na cidade de Bertioga, SP, iniciou-se


uma observação sob o olhar do turismo para entender como este setor, importante
econômica e socialmente, explora a imagem destes povos a partir da divulgação de
regiões turísticas próximas às aldeias indígenas.

Os Jogos Indígenas, visto como fenômeno cultural, são uma oportunidade para
que as diversas etnias indígenas se reúnam e discutam suas necessidades e também
mostrem sua cultura e jogos tradicionais. Olhando o evento como um fenômeno turístico,
algumas questões afloraram para a realização desta pesquisa.

O turismo é um setor que depende da história, cultura e tradição de cada povo


para poder se desenvolver. As realizações humanas, em todas as suas vertentes, podem
se tornar um atrativo turístico para se conheça o outro e assim, faça-se a relação entre o
‘eu’ e o ‘nós’.

Um dos segmentos do Turismo que mais cresce atualmente é o ecoturismo.


Segundo a organização Mundial do Turismo (OMT), em dados levantados em 2002, o
segmento apresentava crescimento anual de 20%. O segmento tem tal importância, que
naquele ano a OMT convocou uma Cúpula Mundial de Ecoturismo, como principal
evento do para o Ano Internacional do Ecoturismo, ocorrido no Canadá (Turismo em
Números, 2007)

O Ecoturismo tem estreita relação com o turismo desenvolvido próximo a áreas


indígenas, pois é realizado em áreas naturais, utiliza-se dos atrativos culturais e visa a
sustentabilidade. Segundo o Ministério do Turismo (BRASIL, 2006), o
ecoturismo é o segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o
patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma
consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-
estar das populações. Este segmento é caracterizado pelo contato com ambientes
naturais, pela realização de atividades que possam proporcionar a vivência e o
conhecimento da natureza e pela proteção das áreas onde ocorre. Assim, o ecoturismo
pode ser entendido como as atividades turísticas baseadas na relação sustentável com a
natureza, comprometidas com a conservação e a educação ambiental.

Embora também identificado como segmento do ecoturismo, o turismo indígena,


não tem ainda um conceito que o defina claramente. Esta foi mais uma questão que
aflorou para abordar-se, pois foram várias as formas de definir este tipo de turismo que
encontrou-se no decorrer deste trabalho.

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Algumas aldeias, como o caso dos Pataxó, já estão organizadas para receber o
visitante-turista e desta forma, obter renda com o desenvolvimento da atividade,
divulgando sua cultura e comercializando seus objetos de artesanato.

Em outros casos, como a divulgação da imagem indígena durante a realização do


II Salão do Turismo, não fica claro como cada localidade está explorando cada etnia e,
conseqüentemente, cada cultura.

Almeja-se com este trabalho, iniciar uma discussão numa área que se insere no
contexto da discussão da área de humanas, incluindo os povos, a tradição e a cultura, já
que deles depende para o seu desenvolvimento.

2. A IMPORTÂNCIA DO TURISMO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Antes de abordar o conceito que melhor se enquadra para definirmos turismo indígena,
faz-se necessário uma breve apresentação da área para a compreensão da mesma.

O turismo é uma importante atividade, que colabora para o desenvolvimento de


nações e também pela preservação de tradições culturais e do meio ambiente, já que estes
são matéria prima e recursos para realização da atividade. O turismo é uma das melhores
formas para se encontrar o bem estar econômico, social e cultural, pois gera renda,
favorece a criação de empregos, entrada de divisas que ajudam a equilibrar a balança de
pagamentos, aumenta os impostos públicos e aquece a atividade empresarial (OMT,
2001).

A atividade é vista por muitos como uma importante atividade econômica. A


Organização Mundial do Turismo – OMT, destaca que esta atividade tem mantido taxas
de crescimento superiores à outros setores da economia (OMT, 2001, p. 7). Tal impacto é
sentido diretamente pela população local, ou seja, os gastos com o turismo refletem na
melhora da qualidade de vida dos habitantes direta ou indiretamente envolvidos com a
atividade.

Embora fundamental no desenvolvimento econômico, não se pode ignorar


também sua importância no desenvolvimento social e cultural dos povos, já que o turismo
está ligado à área de humanas de estudo, pois a natureza da atividade turística é um
conjunto complexo de inter-relações de diferentes fatores (OMT, 2001, p.39).

Segundo a OMT, “o turismo compreende as atividades realizadas pelas pessoas


durante suas viagens e estadas em lugares diferentes de seu entorno habitual, por um
período consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros”. (OMT, 1994).

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Tal deslocamento para locais diferentes dos habituais cria uma expectativa nos
visitantes, já que estes buscam o novo, o inusitado em suas incursões pelo mundo.

Por ser uma atividade tão importante, necessita o envolvimento de vários


setores, incluindo o governamental, responsável por criar políticas para planejar controlar
o desenvolvimento, que deve ser sustentável, protegendo assim as identidades de cada
população local. Embora seja uma atividade que visa o desenvolvimento, o turismo pode
ser responsável pela interferência nos locais visitados. O uso indevido dos recursos ou
exploração dos lugares além de sua capacidade pode trazer trágicas conseqüências.

Para evitar estas situações é necessário o uso sustentável, ou seja, promover o


desenvolvimento sem degradação nem esgotamento dos recursos. O mesmo serve
quando nos referimos às tradições culturais das populações locais. Segundo a OMT (2001,
p.245), o desenvolvimento sustentável está baseado num conceito mais amplo do turismo,
que envolve critérios sobre meio ambiente socioculturais e econômicos.

Um dos aspectos fundamentais a serem considerados no turismo ao considerar


os aspectos culturais de uma população é a preocupação em se evitar a perda de
identidade cultural, que deve ser trabalhada como o próprio atrativo, motivo de visitação
(BAHL, 2009).

Seja qual for o segmento de turismo realizado nas mais diversas regiões do
mundo, não se pode deixar de considerar a sustentabilidade para o seu desenvolvimento.
O desenvolvimento sustentado do turismo
permite que o gerenciamento de todos os recursos de modo a atendermos a necessidades
econômicas, sociais e estéticas, preservando ao mesmo tempo a integridade cultural, os
processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica e os sistemas de apoio à vida
(TOURISM CANADÁ, 2001, p.193)

3. ETNOTURÍSMO, ECOTURISMO OU TURISMO CULTURAL?

Ao escolher o tema “Turismo e Povos Indígenas” para o presente trabalho, uma das
preocupações era utilizar o conceito mais próximo para falar sobre o turismo realizado em
áreas indígenas e próximo a elas. Encontramos várias denominações em folhetos do setor
e também em textos acadêmicos, tais como ecoturismo, etnoturismo, turismo cultural e
turismo indígena (BAHL, 2009). Não é pretensão deste trabalho encontrar a denominação
correta, mas sim, apresentar algumas classificações que poderiam ser utilizadas para
abordar o assunto.

A atividade de turismo realizada em áreas indígenas, independente de sua


denominação correta, deve, sem sombra de dúvida, se apoiar nos preceitos do turismo

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sustentável, ou seja, fazer uso sustentável dos recursos, manter a biodiversidade, envolver
a comunidade local, estimular o desenvolvimento da pesquisa relacionada aos problemas
vinculados ao tema, entre outras (SERRANO, 1997, p. 18).

As denominações acima mencionadas se enquadram no conceito de


sustentabilidade. Ao analisar os conceitos, verificamos que o de ecoturismo, atividade que
apresenta as maiores taxas de crescimento, se enquadra nessa discussão. O turismo
indígena pode ser classificado dentro do segmento de ecoturismo, conforme definição de
Ceballos-Lascurain (1987), que indica que ecoturismo
é o turismo que consiste em viajar para áreas naturais não degradadas ou não poluídas,
com o objetivo específico de estudar, admirar e fruir a paisagem e suas plantas e
animais, tanto quanto manifestações culturais (do passado e do presente) encontradas
nessas áreas.

A prática do turismo em áreas indígenas pode também ser conceituado como


turismo cultural, já que o objetivo dos visitantes é conhecer costumes de determinados
povos ou região, como dança, folclore, gastronomia, etc. Poderíamos ainda classificá-lo
como turismo alternativo, pois não se fixa em atividades convencionais do turismo
(PELEGRINI FILHO, 2000, p. 274-275).

Encontra-se menção também ao termo etnoturismo. Se considerarmos que etnia é


a coletividade de indivíduos que se diferencia por sua especificidade sociocultural,
refletida principalmente na língua, religião e maneiras de agir, podemos então dizer que o
turismo realizado com povos indígenas pode também ser classificado como etnoturismo.

Segundo Bahl (2009), o turismo étnico


está vinculado ao turismo cultural, pois utiliza elementos sociais oriundos de um
contexto espacial e do cotidiano de uma comunidade como atrativos turísticos expressos
por meio de uma base cultural.

O turismo realizado em áreas indígenas é, portanto, uma atividade turística não


convencional, realizada preferencialmente em áreas naturais, onde se pode apreciar não
só a paisagem local, mas também as suas manifestações culturais, já que cada uma das
diversas etnias possui uma especificidade sociocultural.

4. POVOS INDÍGENAS – TRADIÇÃO OU ATRATIVO TURÍSTICO?

Selvagens, exóticos, primitivos, gentis. Estas são algumas das classificações que o senso
comum utiliza para denominar os povos indígenas. Entender as diferenças culturais é
essencial para a realização de qualquer trabalho com as diversas etnias indígenas,
principalmente aquele relacionado com o turismo, que envolve o contato de diferentes
povos e culturas, com hábitos e costumes muito distintos dos indígenas.

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Os cuidados no turismo devem ser observados sob dois pontos de vista: o


primeiro deve levar em consideração os responsáveis pelo produto. O segundo deve
considerar o próprio visitante-turista.

O envolvimento dos diversos intermediários responsáveis pelo desenvolvimento


e comercialização de produtos turísticos deve ir além do simples negócio, principalmente
quando o produto turístico envolve culturas tradicionais, como é o caso das comunidades
indígenas. Deve-se ter como objetivo não somente a rentabilidade comercial, mas
também o respeito às tradições da cultura envolvida, preservando-a não como atrativo,
mas como tradição que deve ser mantida para as gerações futuras.

Com relação aos visitantes o procedimento deve ser idêntico, ou seja, respeitar a
cultura local, evitando influenciar ou mesmo modificar os usos e costumes daquele povo.

Um dos aspectos fundamentais para a realização do turismo étnico está


relacionado a se evitar a perda da identidade cultural, que também pode ser trabalhada
como atrativo ou mesmo o próprio motivo de visitação do lugar (BAHL, 2009).

Atualmente percebe-se uma mudança no hábito dos visitantes, que estão cada
vez mais exigentes e seletivos. Muitas pessoas estão dispostas a pagar mais para visitar
áreas mais bem conservadas e praticar atividades turísticas não predatórias. Isto facilita a
adoção de estratégias para manter o turismo sustentável (OMT, 2001, p. 259).

Há um recuo da demanda por “pacotes turísticos” estandardizados, e aumento


da procura por roteiros personalizados, como afirma Serrano (1997:16). Destacam-se,
assim, os destinos turísticos considerados exóticos, com grande interesse paisagístico-
ecológico. Podemos mencionar então os programas turísticos que envolvem visitas às
áreas indígenas, como o que vem sendo realizado no Monte Pascoal, ao sul da Bahia ou
no Alto Xingu, o primeiro envolvendo os índios Pataxó e o segundo envolvendo os Waurá
e Trumai.

Abordar-se-á a seguir alguns exemplos de diferentes formas de utilização da


cultura indígena no turismo brasileiro.

4.1. O caso dos Pataxó no Monte Pascoal

A região de Porto Seguro, ao sul da Bahia, é bastante procurada por visitantes de todo o
país, e também por estrangeiros, pois reúne diversos atrativos turísticos, principalmente
os naturais, com a combinação de praia e sol.

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Perto dali, ao pé do Monte Pascoal, está localizada a aldeia Pataxó. Assim como
outras etnias, a aldeia Pataxó preserva seus rituais, realizados quase sempre em ocasiões
especiais. Um dos rituais é acender um cachimbo para proteger contra os maus espíritos.
Para Huizinga (1993),
o homem primitivo procura, através do mito, dar conta do mundo dos fenômenos
atribuindo a este um fundamento divino. Em todas as caprichosas invenções da
mitologia, há um espírito fantasista que joga no extremo limite entre a brincadeira e a
seriedade.

Com o desenvolvimento da atividade turística na região, a aldeia também se


transformou num atrativo turístico, fazendo com que seus hábitos e rituais ganhassem um
novo significado. A apresentação dos costumes indígenas aos turistas surgiu em debates
e trabalhos na escola da própria aldeia. Com a autorização do cacique, vinte e nove
participantes indígenas formaram um grupo cultural e montaram oito ocas para atender
os turistas.

Segundo a Revista Host (abr./maio 2006), “é sinal de dias melhores na busca de


alternativas de sobrevivência e de convivência harmônica com a floresta”. O “cachimbo
da paz” é agora compartilhado com os visitantes, transformando o hábito e costume
tradicional em atrativo turístico.

A tradição indígena do cachimbo é mostrada aos turistas por um jovem pataxó.


A “apresentação” continua depois em outra oca, quando outro jovem explica a preparação
da moqueca de samucanda, um peixe da região que é assado numa folha de palmeira.
Após, os visitantes participam da dança do awê, que celebra a paz o amor e a união e
provam o cauim, bebida alcoólica fermentada de mandioca. Além de mostrar suas
tradições, os Pataxó têm ainda a oportunidade de vender seus artesanatos, garantindo
assim o seu sustento e sobrevivência.

Embora o acesso de turistas a em áreas indígenas seja proibido, pois estas são
protegidas por lei, a atividade é realizada em diversos locais, sem repressão. Segundo a
revista, a idéia de apresentar os costumes aos turistas não está somente ligada à
rentabilidade que a atividade pode trazer para a aldeia, mas também ao resgate e
preservação das tradições culturais dos antepassados.

Tradições foram feitas para serem cultivadas e preservadas, não para serem
expostas como mercadorias. Deve-se ter todo o cuidado possível ao expor estas tradições
para que as mesmas sejam preservadas em sua totalidade.

O contato entre culturas deve existir sempre, pois isto possibilita a troca de
informação e estimula o respeito pelo outro, porém, não se deve deixar o contato

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prevalecer em função da provável superioridade de um (neste caso, o homem branco) e


da submissão do outro (o indígena).

4.2. O caso dos Waurá e Trumai no Alto Xingú

Outro exemplo de exploração da cultura indígena pelo turismo é o apresentado no Alto


Xingu. Nesta região encontra-se o Parque Nacional do Xingu, localizado no Estado do
Mato Grosso, a 530 km de Cuiabá. O parque conta com trinta aldeias, com cinco mil
habitantes de quinze diferentes etnias.

Próximo do parque foi construído um empreendimento turístico hoteleiro,


chamado Xingu Refúgio Amazônico (Figura 1). Neste caso a reserva também foi
preservada, pois é proibida a entrada para exploração de atividades ou visitação de
turistas. O empreendimento, localizado a uma hora de barco das aldeias Waurá e Trumai,
foi implantado exclusivamente para atender a turistas.

Segundo a Embratur, o empreendimento foi projetado para gerar alternativas de


conservação dos ecossistemas naturais, através de estudos realizados por técnicos
especializados em ecologia e ecoturismo. Inaugurado em 2000, está localizado numa área
transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)1. Como infra-
estrutura, possui sete quartos, construídos no formato de uma aldeia indígena, como se
fossem ocas e que acomodam até vinte pessoas, restaurante e piscina em forma de deck
sobre o rio.

1 Segundo o IBAMA, uma RPPN é uma unidade de conservação em área privada, gravada em caráter de perpetuidade, com

o objetivo de conservar a diversidade biológica.

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Fonte: http://www.portaldopantanal.com.br/pt/pacotes_turisticos/xingu.php
FIGURA 1 – Xingu Refúgio Amazônico.

Para acompanhar os turistas, o empreendimento conta com a colaboração dos


indígenas da região, principalmente os Waurá, que são exímios conhecedores das diversas
trilhas do local. Além de se hospedar no empreendimento, os visitantes têm a opção de
dormir numa aldeia indígena, recriada próxima ao local (Figura 2).

Fonte: http://www.feliznatal.mt.gov.br/galeriafoto/532.jpg
FIGURA 2 – Xingu Refúgio Amazônico.

A recriação de ambientes é uma das alternativas utilizadas pelo turismo para


atrair visitantes às localidades. Neste caso, a recriação de uma aldeia indígena preserva o
meio ambiente natural e divulga as tradições da cultura local. O empreendimento afirma
ser benéfico à tribo, porém, não consegui-se identificar nos folhetos promocionais quais
são os benefícios reais, incluindo o financeiro, a tribo recebe.

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4.3. Salão do Turismo - exposição da cultura indígena como atrativo turístico

Durante a realização desta pesquisa, participou-se do II Salão do Turismo, em São Paulo,


de 02 a 06 de junho de 2006. Notou-se uma forte exposição da cultura indígena,
principalmente nas áreas de grande concentração no país, ou seja, nos Estados do Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul. Imagens indígenas foram utilizadas como atrativo turístico
e manifestações de dança e tradições serviram como pano de fundo na divulgação de
diferentes etnias.

Um dos atrativos era o cacique Amutuá Waurá, colaborador do empreendimento


Xingu Refúgio Amazônico, mencionado anteriormente, que estava no estande do Mato
Grosso mostrando a técnica de tatuagem com Jenipapo.

Fonte: a autora.

FIGURA 3 – Cacique Amutuá Waurá e Povos indígenas no Salão do Turismo.

No estande do Estado do Mato Grosso do Sul estava presente a Secretaria de


Turismo e Meio Ambiente da cidade de Miranda-MS. Segundo a Sra. Maria Célia da Silva
Bompard, secretária de turismo e meio ambiente, a cidade de Miranda tem a segunda
maior população Terena do Estado. A cidade criou o Centro Referencial da Cultura
Terena, localizado na entrada da cidade, que expõe e vende artesanato desta etnia.
Segundo a secretária, toda a renda é revertida à comunidade indígena.

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Fonte: a autora

FIGURA 4 – Salão do turismo. FIGURA 5 – Estande do Mato Grosso.

Notou-se que o turismo realizado próximo a terras indígenas ganhou destaque


neste evento promovido pela EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo), organismo
federal responsável pelo turismo no Brasil, muito embora, não tivesse sido a principal
atração do evento. Criou-se uma oportunidade para a divulgação das danças e tradições
indígenas, embora esta forma de turismo ainda não seja muito explorada, pois os
expositores não conheciam maiores detalhes, com exceção do empreendimento do Xingu.
Foi necessário o contato com um representante do governo local para que as informações
fossem obtidas.

Do ponto de vista da preservação das tradições e cultura indígenas, pode-se


afirmar que o fato de não haver grande exposição das informações é positivo, pois não
expõe massivamente esta forma de turismo. Uma exposição massiva pode acarretar
graves conflitos, como os que acontecem no México com a população Maia, que vive
próximo às áreas turísticas, em posições subordinadas (RIBEIRO, 1997).

5. DISCUSSÃO

Cabe aqui fazer um parêntese para uma reflexão sobre a forma que o turismo é
desenvolvido nas áreas indígenas no Brasil. Sabe-se que o choque cultural entre homem
branco e indígena é inevitável. Não é possível mais negar a existência dos índios. Embora
há muito esquecidos pela sociedade brasileira, atualmente os indígenas estão mais
organizados, lutam por seus direitos e fazem-se ser vistos.

Porto Alegre (1998) afirma que a mobilização e a organização política, a


demarcação das terras indígenas, a retomada do crescimento populacional e a valorização
das tradições culturais são alguns dos aspectos atuais da questão indígena que abrem

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espaço para a reflexão sobre os índios no Brasil. Diversas etnias mostram que têm uma
capacidade de sobrevivência e resistência e que suas culturas ainda resistem ao impacto
cultural.

Mesmo apresentando uma posição política cada vez mais presente na sociedade,
a questão indígena é ainda um problema que exige uma atenção, não só do governo, mas
da sociedade como um todo. E um dos setores que também deve dar atenção para tal
problema é o setor do turismo. A utilização responsável da cultura indígena como
atrativo para o turismo pode ser saudável do ponto de vista da interação das culturas.
Porém, o desenvolvimento incorreto da atividade, sem levar em consideração as
diferenças culturais, pode ser desastroso.

Durante a pesquisa notou-se o envolvimento do Ministério do Meio Ambiente,


juntamente com a Funai e organizações não-governamentais na criação de um programa
piloto em terras indígenas, estabelecendo princípios a serem respeitados quando da
realização do turismo em áreas indígenas. Dentre estes princípios estão a participação da
comunidade indígena no processo do ecoturismo, gerindo as atividades de maneira
participativa e comunitária; prevalência à tradição cultural indígena e seus valores sobre
os interesses comerciais do ecoturismo; a utilização dos recursos econômicos para
melhorar a qualidade de vida da comunidade indígena; priorizar o uso sustentável dos
recursos naturais; utilizar o ecoturismo como atividade complementar às atividades
tradicionais da comunidade indígena.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao mesmo tempo em que não se deve massificar o turismo próximo às áreas indígenas,
deve-se tomar o cuidado de apresentar informações fiéis sobre a etnia, preservando assim
sua cultura e tradições. Ao explorar o turismo indígena, deve-se apresentar as diferenças
entre as várias etnias e não caracterizar o indígena como um ser de uma única população.
Outro cuidado importante é restringir o número de visitantes estabelecendo níveis de
capacidade de carga de acordo com a característica de cada localidade.

Uma sugestão para a divulgação de cada etnia seria a identificação dos folhetos
promocionais, bem como dos artesanatos comercializados aos turistas, com o nome da
etnia e da tribo. Assim, o conhecimento do povo indígena seria preservado em sua
essência, evitando que o senso comum o identifique apenas como índio.

A atividade turística pode realmente ser uma boa alternativa para manter as
tradições de um povo, bem como para preservar o meio ambiente. Na aldeia, segundo o

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índio Nauí, ganha-se quatrocentos reais por semana cortando duas ou três árvores. Com a
exploração do turismo, a aldeia chega a receber duzentos visitantes por semana e recebe
uma taxa de visitação de cinco reais por visitante (valores de 2006), além da venda do
artesanato. Porém, não pode ser a única forma de subsistência das aldeias indígenas, pois
isto acarretaria a perda da tradição pela tradição, transformando na tradição pelo pão.

Percebeu-se que o turismo pode ser um aliado dos povos indígenas ao divulgar
sua cultura tradicional, ao mesmo tempo em que pode ser um facilitador no que diz
respeito ao sustento da aldeia.

Tais questões demonstram que o tema é ainda pouco explorado no setor de


turismo, aparecendo somente em alguns artigos em revistas científicas ou em sites de
organismos governamentais. Alguns autores abordam a discussão do turismo étnico de
um modo geral. Não encontramos referência específicas sobre o turismo indígena.

Espera-se desta forma, dar início a uma reflexão sobre como utilizar a imagem do
indígena, protegendo sua cultura, colaborando para preservas suas tradições e
favorecendo o sustento de seus habitantes através da exploração responsável da
atividade.

REFERÊNCIAS
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http://www.embratur.gov.br/
http://www.ibama.gov.br/siucweb/rppn/

Telma Medeiros Brito


Graduação em Turismo pela Faculdade Ibero-
Americana de Letras e Ciências Humanas (1983) e
mestrado em Educação Física pela Universidade
Estadual de Campinas (2006) na área de
concentração Sociedade e Lazer. Atualmente é
sócio-diretora da empresa Navigare, coordenadora
do curso de Turismo e professora responsável do
Centro Hispano Brasileiro de Cultura Ltda. e
professora da Universidade Cidade de São Paulo-
Unicid. Tem experiência na área de Turismo, com
ênfase em Lazer, atuando principalmente nos
seguintes temas: cruzeiros marítimos, agência de
viagens, capacitação de mão de obra, eventos e
eventos a bordo.

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. III, Nº. 4, Ano 2009 • p. 23-36

ANUDO n4_miolo.pdf 36 13/4/2010 18:20:36

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