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Acadêmica Docente
Vol. III, Nº. 4, Ano 2009
RESUMO
Telma Medeiros Brito
Centro Universitário Ibero-Americano O estudo do etnoturismo é ainda recente no Brasil. Este artigo pretende abrir
UNIBERO Brigadeiro uma discussão sobre o tema e tem como objetivo apresentar uma análise
telma.brito@unianhanguera.edu.br
sobre o uso da imagem dos povos indígenas como atrativo turístico. A partir
da observação realizada em visitas a eventos turísticos e da pesquisa
bibliográfica, abordou-se a divulgação da imagem indígena de diversas
formas. O turismo utiliza-se, dentre outros fatores, dos recursos naturais, das
tradições culturais e das identidades regionais para seu desenvolvimento.
Desta forma, discutiu-se a importância da utilização destes fatores de forma
sustentável, respeitando as comunidades frágeis e com o devido cuidado
para que não haja interferências e alterações nestas culturas.
ABSTRACT
The study of etnotourism is still recent in Brasil. This article aims to open a
discussion on the subject and aims to present an analysis on the use of the
image of indigenous people as a tourist attraction. From the observation
realized during trade shows visits and the literature searches, we addressed
the dissemination of Indian image in various forms. Tourism uses for its
development, among other factors, natural resources, cultural traditions and
regional identities. Thus, we discuss the importance of using these factors in
a sustainable manner, respecting the fragile communities and with due care
to avoid interference and changes in these cultures.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise do uso da imagem dos
povos indígenas como atrativo turístico.
Os Jogos Indígenas, visto como fenômeno cultural, são uma oportunidade para
que as diversas etnias indígenas se reúnam e discutam suas necessidades e também
mostrem sua cultura e jogos tradicionais. Olhando o evento como um fenômeno turístico,
algumas questões afloraram para a realização desta pesquisa.
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Algumas aldeias, como o caso dos Pataxó, já estão organizadas para receber o
visitante-turista e desta forma, obter renda com o desenvolvimento da atividade,
divulgando sua cultura e comercializando seus objetos de artesanato.
Almeja-se com este trabalho, iniciar uma discussão numa área que se insere no
contexto da discussão da área de humanas, incluindo os povos, a tradição e a cultura, já
que deles depende para o seu desenvolvimento.
Antes de abordar o conceito que melhor se enquadra para definirmos turismo indígena,
faz-se necessário uma breve apresentação da área para a compreensão da mesma.
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Tal deslocamento para locais diferentes dos habituais cria uma expectativa nos
visitantes, já que estes buscam o novo, o inusitado em suas incursões pelo mundo.
Seja qual for o segmento de turismo realizado nas mais diversas regiões do
mundo, não se pode deixar de considerar a sustentabilidade para o seu desenvolvimento.
O desenvolvimento sustentado do turismo
permite que o gerenciamento de todos os recursos de modo a atendermos a necessidades
econômicas, sociais e estéticas, preservando ao mesmo tempo a integridade cultural, os
processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica e os sistemas de apoio à vida
(TOURISM CANADÁ, 2001, p.193)
Ao escolher o tema “Turismo e Povos Indígenas” para o presente trabalho, uma das
preocupações era utilizar o conceito mais próximo para falar sobre o turismo realizado em
áreas indígenas e próximo a elas. Encontramos várias denominações em folhetos do setor
e também em textos acadêmicos, tais como ecoturismo, etnoturismo, turismo cultural e
turismo indígena (BAHL, 2009). Não é pretensão deste trabalho encontrar a denominação
correta, mas sim, apresentar algumas classificações que poderiam ser utilizadas para
abordar o assunto.
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sustentável, ou seja, fazer uso sustentável dos recursos, manter a biodiversidade, envolver
a comunidade local, estimular o desenvolvimento da pesquisa relacionada aos problemas
vinculados ao tema, entre outras (SERRANO, 1997, p. 18).
Selvagens, exóticos, primitivos, gentis. Estas são algumas das classificações que o senso
comum utiliza para denominar os povos indígenas. Entender as diferenças culturais é
essencial para a realização de qualquer trabalho com as diversas etnias indígenas,
principalmente aquele relacionado com o turismo, que envolve o contato de diferentes
povos e culturas, com hábitos e costumes muito distintos dos indígenas.
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Com relação aos visitantes o procedimento deve ser idêntico, ou seja, respeitar a
cultura local, evitando influenciar ou mesmo modificar os usos e costumes daquele povo.
Atualmente percebe-se uma mudança no hábito dos visitantes, que estão cada
vez mais exigentes e seletivos. Muitas pessoas estão dispostas a pagar mais para visitar
áreas mais bem conservadas e praticar atividades turísticas não predatórias. Isto facilita a
adoção de estratégias para manter o turismo sustentável (OMT, 2001, p. 259).
A região de Porto Seguro, ao sul da Bahia, é bastante procurada por visitantes de todo o
país, e também por estrangeiros, pois reúne diversos atrativos turísticos, principalmente
os naturais, com a combinação de praia e sol.
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Perto dali, ao pé do Monte Pascoal, está localizada a aldeia Pataxó. Assim como
outras etnias, a aldeia Pataxó preserva seus rituais, realizados quase sempre em ocasiões
especiais. Um dos rituais é acender um cachimbo para proteger contra os maus espíritos.
Para Huizinga (1993),
o homem primitivo procura, através do mito, dar conta do mundo dos fenômenos
atribuindo a este um fundamento divino. Em todas as caprichosas invenções da
mitologia, há um espírito fantasista que joga no extremo limite entre a brincadeira e a
seriedade.
Embora o acesso de turistas a em áreas indígenas seja proibido, pois estas são
protegidas por lei, a atividade é realizada em diversos locais, sem repressão. Segundo a
revista, a idéia de apresentar os costumes aos turistas não está somente ligada à
rentabilidade que a atividade pode trazer para a aldeia, mas também ao resgate e
preservação das tradições culturais dos antepassados.
Tradições foram feitas para serem cultivadas e preservadas, não para serem
expostas como mercadorias. Deve-se ter todo o cuidado possível ao expor estas tradições
para que as mesmas sejam preservadas em sua totalidade.
O contato entre culturas deve existir sempre, pois isto possibilita a troca de
informação e estimula o respeito pelo outro, porém, não se deve deixar o contato
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1 Segundo o IBAMA, uma RPPN é uma unidade de conservação em área privada, gravada em caráter de perpetuidade, com
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Fonte: http://www.portaldopantanal.com.br/pt/pacotes_turisticos/xingu.php
FIGURA 1 – Xingu Refúgio Amazônico.
Fonte: http://www.feliznatal.mt.gov.br/galeriafoto/532.jpg
FIGURA 2 – Xingu Refúgio Amazônico.
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Fonte: a autora.
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Fonte: a autora
5. DISCUSSÃO
Cabe aqui fazer um parêntese para uma reflexão sobre a forma que o turismo é
desenvolvido nas áreas indígenas no Brasil. Sabe-se que o choque cultural entre homem
branco e indígena é inevitável. Não é possível mais negar a existência dos índios. Embora
há muito esquecidos pela sociedade brasileira, atualmente os indígenas estão mais
organizados, lutam por seus direitos e fazem-se ser vistos.
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espaço para a reflexão sobre os índios no Brasil. Diversas etnias mostram que têm uma
capacidade de sobrevivência e resistência e que suas culturas ainda resistem ao impacto
cultural.
Mesmo apresentando uma posição política cada vez mais presente na sociedade,
a questão indígena é ainda um problema que exige uma atenção, não só do governo, mas
da sociedade como um todo. E um dos setores que também deve dar atenção para tal
problema é o setor do turismo. A utilização responsável da cultura indígena como
atrativo para o turismo pode ser saudável do ponto de vista da interação das culturas.
Porém, o desenvolvimento incorreto da atividade, sem levar em consideração as
diferenças culturais, pode ser desastroso.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao mesmo tempo em que não se deve massificar o turismo próximo às áreas indígenas,
deve-se tomar o cuidado de apresentar informações fiéis sobre a etnia, preservando assim
sua cultura e tradições. Ao explorar o turismo indígena, deve-se apresentar as diferenças
entre as várias etnias e não caracterizar o indígena como um ser de uma única população.
Outro cuidado importante é restringir o número de visitantes estabelecendo níveis de
capacidade de carga de acordo com a característica de cada localidade.
Uma sugestão para a divulgação de cada etnia seria a identificação dos folhetos
promocionais, bem como dos artesanatos comercializados aos turistas, com o nome da
etnia e da tribo. Assim, o conhecimento do povo indígena seria preservado em sua
essência, evitando que o senso comum o identifique apenas como índio.
A atividade turística pode realmente ser uma boa alternativa para manter as
tradições de um povo, bem como para preservar o meio ambiente. Na aldeia, segundo o
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índio Nauí, ganha-se quatrocentos reais por semana cortando duas ou três árvores. Com a
exploração do turismo, a aldeia chega a receber duzentos visitantes por semana e recebe
uma taxa de visitação de cinco reais por visitante (valores de 2006), além da venda do
artesanato. Porém, não pode ser a única forma de subsistência das aldeias indígenas, pois
isto acarretaria a perda da tradição pela tradição, transformando na tradição pelo pão.
Percebeu-se que o turismo pode ser um aliado dos povos indígenas ao divulgar
sua cultura tradicional, ao mesmo tempo em que pode ser um facilitador no que diz
respeito ao sustento da aldeia.
Espera-se desta forma, dar início a uma reflexão sobre como utilizar a imagem do
indígena, protegendo sua cultura, colaborando para preservas suas tradições e
favorecendo o sustento de seus habitantes através da exploração responsável da
atividade.
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