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Manual de

campanhas
eleitorais

Estratégia,
eleitorado e
financiamento

2016
RAPS Organização Dados Internacionais de
Diretoria executiva e coordenação Catalogação na Publicação
Marcos Vinícius de Campos Renato Nunes Dias (CIP) (Câmara Brasileira do
Diretor executivo Livro, SP, Brasil)
Alexandre Schneider Contribuições
Diretor adjunto para o texto
Roberta Moreno Manual de campanhas
Conselho diretor Steve Jarding eleitorais : estratégia,
Guilherme Leal eleitorado e financiamento
Presidente Projeto gráfico / [RAPS]. -- São Paulo :
Maria Alice Setúbal e diagramação RAPS, 2016. -- (Manuais
Vice-presidente 2+2 design RAPS)
Álvaro de Souza Clara Laurentiis
Claudio Gastal Dárkon V Roque ISBN 978-85-68974-01-8
Gilberto Mifano Valéria Marchesoni
Fernando Rei 1. Campanhas eleitorais
José Eduardo Martins 2. Eleições
Julio Moura 3. Marketing
Leandro Machado 4. Marketing social
Oded Grajew 5. Planejamento
estratégico
6. Política I. Série.

16-07121 CDD-324.7

Índices para catálogo


sistemático:
1. Campanhas eleitorais :
Ciência política 324.7
Manual de
campanhas
eleitorais

Estratégia,
eleitorado e
financiamento
Índice

7 Apresentação 90 6 A equipe de campanha


90 6.1 Recrutamento
9 Introdução 91 6.2 Enquadramento funcional
91 6.2.1 Comitê executivo
10 1 Contexto 94 6.2.2 Comitê operativo
103 6.2.3 Assessoria técnica
12 2 Estratégia 108 6.3 Formatos de pequisas
14 2.1 Os princípios da estratégia eleitoral
16 2.2 Pré-campanha 109 7 Estratégia de relacionamento
109 7.1 Plano de comunicação
17 3 O que é ser candidato? 110 7.2 Régua de relacionamento
23 3.1 O perfil da liderança
31 3.2 Habilidades que o candidato deve 114 8 A campanha
desenvolver
34 3.3 Media training 115 9 Financiamento de campanha
35 3.3.1 Linguagem corporal 118 9.1 Estrutura do escritório de arrecadação
39 3.3.2 A voz
41 3.4 Entrevistas e discursos 119 10 A gestão do tempo
42 3.5 Swot pessoal
44 3.6 Janela de Johari: descubra seu ponto cego 127 11 Conclusão
46 3.7 A importância do candidato

47 4 A mensagem
47 4.1 Mensagem
52 4.2 A construção da mensagem
59 4.3 A mensagem e os concorrentes
62 4.4 Público (s) de interesse
64 4.5 Divulgação da mensagem
66 4.6 A importância da mensagem

67 5 O eleitorado
76 5.1 Análise de conjuntura
77 5.2 Tipos de votos
78 5.2.1 Voto duro ou voto de base
78 5.2.2 Voto impossível ou voto de base dos
concorrentes
79 5.2.3 Voto maleável ou persuasível oscilante
para o candidato
79 5.2.4 Voto difícil ou persuasível oscilante
contra o candidato
80 5.2.5 Votos possíveis ou indecisos
82 5.3 Segmentação do eleitorado
83 5.3.1 Nível intermediário ou percentagem de
esforço de segmentação
84 5.3.2 Segmentação por zona eleitoral
87 5.4 Estratégias de atração
88 5.5 A prospecção de eleitores
89 5.6 A importância do eleitorado
Apresentação

Seguindo sua missão de contribuir para


o aperfeiçoamento do processo político
e da qualidade da democracia brasileira
por meio da formação de lideranças
políticas, a Rede de Ação Política pela
Sustentabilidade, RAPS, lança sua coleção
Manuais.

Esta série orienta-se a oferecer análises


e diretrizes essenciais de ação para as
lideranças políticas do Brasil interessadas
em compor o esforço de construção de
uma Sociedade Sustentável.

O atual volume, Manual de Campanhas


Eleitorais, por sua vez, oferece a
candidatos uma perspectiva ampla e ao
mesmo tempo aprofundada sobre como
operar uma campanha eleitoral bem-
sucedida.

Boa leitura!

7
Introdução

O contexto político-partidário no Brasil


apresenta os desafios relevantes para
aqueles que buscam se candidatar e
participar de campanhas eleitorais.
Custos crescentes, alta competitividade
e uma legislação eleitoral em constante
atualização compõe as dificuldades a que
qualquer candidato ou partido devem estar
atentos.

A esses elementos contextuais, somam-


se outros, inerentes a toda campanha:
a definição de uma mensagem que
corresponda aos interesses do eleitorado;
o esforço necessário de conhecer a
população e os desafios do país, estados
e municípios; além da construção de uma
imagem que dialogue com a realidade dos
eleitores.

Este Manual, primeiro de sua série, tem


como objetivo aproximar candidatos
atuais e futuros desse imbricado cenário
das campanhas eleitorais. Ele enfatiza a
necessidade de uma preparação intensa
e extensa de toda liderança política
interessada em angariar votos e eleger-se.
Assim, o ponto inicial da carreira de um
político é apenas o ponto de culminância
de um longo e intenso processo vivido
pelo candidato.

O documento conta com 10 seções, que


guiam o leitor/candidato pelo passo a
passo necessário para construção de uma
campanha eleitoral vitoriosa, cobrindo toda
a preparação necessária do candidato,
a contratação da equipe de campanha,
a gestão financeira dos recursos e
as estratégias de relacionamento e
comunicação.

9
1. Contexto

As eleições no Brasil são fortemente dispu-


tadas e caras. Em 2012, mais de 482.870
candidatos disputaram as eleições. Já em
2014, cerca de 26.172 candidatos lança-
ram seus nomes nas urnas. Na tabela
abaixo, é possível analisar detalhadamente
a distribuição das candidaturas por vaga e
a variação do número de postulantes:

Eleição: eleições gerais 2014 - 1o turno

Cargo Candidatos Vagas

Presidente 12 1

Vice-presidente 12 1

Governador 176 27

Vice-governador 186 27

Senador 185 81

Deputado Federal 7.140 513

Deputado Estadual 17.010 1.035

Deputado Distrital 1.028 24

Senador 1º Suplente 209 81

Senador 2º Suplente 214 81

Eleição: eleições gerais 2012 - 1o turno

Cargo Candidatos Vagas

Prefeitos 15.847 5.568

Vice-prefeitos 16.326 5.568

Vereadores 450.697 57.426

Total de Cargos Eletivos 509.042 70.433

Fonte: Raps 15/24

10
As eleições de 2014 foram as mais caras No Brasil não é permitido fazer campanha
e acirradas da história da democracia antes do prazo estipulado pela justiça elei-
brasileira. Os custos do pleito somaram toral que, normalmente transcorre entre
R$ 5,1 bilhões, se considerarmos gastos os meses de agosto a outubro do ano do
de campanha de todos os candidatos pleito. Mediante tal limitação, o candidato
(deputados, senadores, governadores e pode construir uma pré-campanha, respei-
presidente). tando a legislação, buscando sedimentar
uma candidatura através da construção
Diante de um cenário tão desafiador e e do fortalecimento de sua estratégia de
competitivo, é imprescindível ter consci- campanha, a definição de sua identidade
ência das reais condições para estruturar pública, a proposição de uma mensagem
uma candidatura competitiva e obter êxito e o contato com seu eleitorado.
ao final do processo eleitoral. Um dos prin-
cipais compromissos da ação política de Este é um processo pelo qual indivíduos
um líder político é estruturar uma campa- se diferenciam dos demais pela identifi-
nha eleitoral que seja ao mesmo tempo cação e articulação de valores pessoais,
transparente, participativa e de baixo alavancandos por uma plataforma robusta
custo. de comunicação, com uma mensagem
consistente a fim de atingir um objetivo
Idealmente, uma campanha eleitoral específico: o voto.
competitiva deve ser estruturada com 1 a 2
anos de antecedência. Esse tempo permite
ao candidato levar a sua mensagem aos
potenciais eleitores e estabelecer um rela-
cionamento. As atividades relacionadas à
estruturação da campanha eleitoral – cons-
trução e desenvolvimento da identidade
pública, definição da mensagem, da estra-
tégia de relacionamento, montagem da
equipe, orçamento, entre outras – exigem
tempo, dedicação e organização.

11
2. Estratégia

A estratégia de campanha Poucos candidatos saberiam definir o que


é uma estratégia e, muito menos, o que
é um plano que integra é uma estratégia adequada aos objetivos
todos os elementos e eleitorais. No entanto, estabelecê-la é a
ação mais importante de uma campanha.
projetos para se obter
êxito no pleito. A estratégia de campanha é um plano que
integra todos os elementos e projetos para
se obter êxito no pleito. Esse planejamento
é elaborado para os dois momentos (pré-
-campanha e campanha) baseando-se em
pesquisas sistemáticas e desenvolvendo
os temas considerados essenciais para a
eleição. A estratégia nada mais é que um
roteiro que, se adequadamente seguido,
orienta a equipe, o candidato e os consul-
tores para a criação de uma mensagem
que conecte os eleitores ao candidato,
resultando em uma campanha vitoriosa.

12
A elaboração da estratégia envolve a defi- A estratégia integra todas essas variáveis
nição e o conhecimento sobre: dentro de um arranjo coerente, de modo
que uma etapa reforça a outra. Ao propor
- A localidade em que a eleição um cronograma de ação para curto, médio
ocorrerá; e longo prazo, a estratégia orienta tudo o
- As metas de campanha a serem que se faz e se comunica em uma campa-
atingidas; nha.
- A imagem que os eleitores têm
do candidato e dos adversários; Assim, o ponto de partida de qualquer
- Os grupos de eleitores sobre os plano estratégico de campanha (que, se
quais a publicidade do candidato ignorado fatalmente levará a erros) é tê-lo
atuará para ganhar voto; como documento, ou seja, por escrito,
- A mensagem que mobilizará os contendo todos os elementos básicos. Ele
eleitores; deve ser passível de consulta e revisão, de
- A definição dos meios para forma que possa concretamente orientar
transmissão da mensagem; as ações da equipe de campanha. Muitos
- O calendário da campanha candidatos e consultores ignoram a impor-
para que sejam planejadas e tância dessa questão, mas, se a estratégia
executadas todas essas ações; não está escrita, ela não existe como tal.
- A organização de pesquisas
de verificação que monitorem o
andamento da campanha e a
eficiência das ações empregadas.

2. Estratégia 13
2.1 Os princípios da
estratégia eleitoral

Um candidato com Observa-se que uma campanha vencedora


resulta da soma de três elementos: um
disciplina estratégica, candidato com disciplina estratégica, uma
uma estratégia adequada estratégia adequada e um plano objetivo
de pesquisa.
e um plano objetivo de
pesquisa. Para, de fato, se obter sucesso em uma
eleição, o candidato deve ser disciplinado,
conhecer profundamente sua estratégia
de campanha e efetivamente segui-la. Para
tanto, uma equipe de campanha compe-
tente e de confiança deve ser reunida.
Somente nessas circunstâncias, o candida-
to se dedicará ao que exclusivamente deve
fazer: captar recursos e ganhar votos.

A mentalidade estratégica que conduz ao


êxito implica em três fatores. O primeiro
é a possibilidade de ver o processo eleito-
ral no seu conjunto, ou seja, levando em
consideração todas as repercussões que
cada uma das ações do candidato provoca
no cenário político e suas consequências
em longo prazo. Caso não se desenvol-
va essa visão global, o candidato e sua
campanha atuam de maneira simplista e
imediatista, sem medir as possíveis reper-
cussões do que é dito e, também, do que
é feito.

14
O segundo elemento da equação de uma A única forma de conhecer o perfil do
campanha vitoriosa é a estratégia em si. eleitor e entender as implicações do
Como anteriormente explicado, a estraté- momento político é a pesquisa. Assim,
gia deve ser o roteiro da campanha e deve a estratégia deve se adaptar às circuns-
estar em formato escrito. Cada campanha, tâncias de cada momento, pois cada
cada eleição necessita de uma estratégia, campanha é única. Assim, o terceiro fator
ainda que o candidato e o lugar onde se determinante de uma campanha vence-
apresenta sejam os mesmos. Embora dora é a pesquisa. Sem pesquisa não há
todos os elementos de uma campanha se estratégia, da mesma forma que não há
mantenham intactos, sempre haverá duas pesquisa válida sem uma estratégia sobre
variáveis que mudam: o eleitor e a conjun- a qual aplicar os resultados. Normal-
tura política. mente, ao falar de pesquisa em política,
fala-se de consultas de intenção de voto e,
embora essa não seja a única ferramenta
de pesquisa, é, sim, a mais utilizada em
campanha.

Os dados de uma pesquisa bem feita, obje-


tiva e trabalhada marcam o caminho que
seguirá a estratégia e informam à equipe
se o que foi realizado até o momento
funciona ou não. Sobretudo, as pesqui-
sas são o canal de comunicação que os
candidatos e a equipe de campanha têm
para identificar quais são os interesses e
preocupações dos cidadãos e demonstrar,
através dos meios de comunicação, o que
deve ser levado em consideração na elabo-
ração de uma estratégia.

2. Estratégia 15
2.2 Pré-campanha

A pré-campanha é o momento de funda- Todos esses aspectos devem ser estrutura-


mentação da campanha eleitoral. Ela dos anteriormente, pois após a convenção
envolve um profundo planejamento estra- partidária (que acontece de junho a agosto)
tégico do candidato e de sua equipe, de e a chancela do partido sobre o candidato,
forma a compreender a conjuntura política inicia-se o período de captação efetiva de
que antecede e envolve a eleição. Essa recursos para seu gasto em publicidade
conjuntura abrange não só a situação e eventos, ou seja, na transmissão da
econômica e política do país, do estado e mensagem e na conquista de votos.
do município, mas, também, um profundo
conhecimento sobre o eleitorado e suas Toda a arquitetura da campanha deve estar
demandas, identificação de apoiadores consolidada em um documento estraté-
que resultem em uma eficiente captação gico que integra os elementos e projetos
de recursos, além da estruturação da para se obter o êxito eleitoral. É um plano
melhor equipe de campanha. que se baseia em pesquisas sistemáticas e
desenvolve os temas considerados essen-
A importância de se seguir cada etapa da ciais para uma campanha. A equipe de
pré-campanha está no preparo do candi- campanha, o candidato e o consultor terão
dato para o pleito em si. A campanha elei- na estratégia as diretrizes essenciais para
toral no Brasil compreende o período de conseguir criar a mensagem que motive os
julho a outubro no ano eleitoral, portanto eleitores na direção do objetivo fundamen-
requer a execução de um planejamento tal: o voto.
previamente elaborado. Assim, na primei-
ra parte desse plano, encontram-se, em
resumo, as quatro primeiras etapas a
serem elaboradas no momento de pré-
-campanha: o candidato, a mensagem, o
eleitorado e a estruturação da equipe de
campanha.

16
3. O que é ser candidato?

A elaboração do documento estratégico O candidato é o cidadão que decide


envolve idealmente um plano de pesqui- concorrer a um cargo eletivo de modo a
sas que orienta a estratégia do candidato. representar os interesses da sociedade
O especialista em campanhas eleitorais nos poderes Legislativo e Executivo. Dessa
Rodrigo Lugones, destaca que: forma, qualquer cidadão brasileiro (desde
que tenha a maioridade, seja alfabetizado e
Ao falar de pesquisa em política, fala-se esteja em pleno uso de seus direitos polí-
de consultas de intenção de voto e, embora ticos) pode se filiar a um partido e concor-
essa não seja a única ferramenta de rer às eleições de sua cidade ou estado.
pesquisa, ela é, sim, a mais utilizada em Contudo, ser um candidato de sucesso
campanha. que exerça eficientemente suas funções
implica em muitas outras condicionantes,
Os dados de uma pesquisa bem-feita, obje- além da vontade de se tornar um represen-
tiva e trabalhada marcarão o caminho que tante do poder público.
seguirá a estratégia e informarão à equipe
se o que foi realizado até o momento
funciona ou não. Sobretudo, as pesquisas
serão o canal de comunicação que os
candidatos e a equipe de campanha terão
para identificar quais são os interesses e
preocupações dos cidadãos para depois
demonstrar, por meio dos meios de comu-
nicação, o que deve ser levado em conside-
ração na hora de elaboração da estratégia1.

1
Estratégia em campanhas
eleitorais. RAPS 2015

3. O que é ser candidato? 17


Os objetivos do candidato Primeiramente, os objetivos do candidato
não são os mesmos de um político eleito.
não são os mesmos de A descrição do trabalho de um candida-
um político eleito. to é ter todos os objetivos centrados na
tarefa de ser eleito, pois é a eleição que
condiciona a concretização das aspirações
de um mandato. Para isso, o candidato
deve ser a imagem da campanha, sendo o
responsável pela arrecadação de recursos
que a financie e também por conquistar
mais votos. O candidato deve conhecer
os tópicos discutidos na eleição, conhecer
seu eleitorado, estar sempre presente na
mídia, debater com os concorrentes e se
comprometer.

Já o trabalho de um político eleito é,


fundamentalmente, representar os eleito-
res e exercer o mandato de forma digna,
eficiente e potencialmente transforma-
dora. Ele deve ser o autor de debates
sobre legislação, deve procurar conhecer
as demandas de seu eleitorado e prestar
contas de suas ações (accountability). O
líder político faz discursos, encontra seus
apoiadores de campanha e trabalha com
sua bancada para viabilizar as suas ações.
Portanto, há diversas semelhanças e dife-
renças entre os dois papéis - o que torna
essencial entender as peculiaridades de
cada um, pois as habilidades necessá-
rias para uma campanha são diferentes
daquelas exigidas para uma boa liderança
política.

18
Um candidato deve Não se pode descrever um candidato ideal.
Os elementos considerados ideais para
ser inteligente, o sucesso de uma campanha dependem
honesto, íntegro, do lugar em que as eleições ocorrem.
A maneira de se apresentar para o elei-
deve ter habilidade torado da zona rural de uma pequena
para absorver ideias, cidade é completamente diferente daquela
exigida em uma eleição para o governo
capacidade de escutar, de um estado com altas taxas de urbani-
flexibilidade, senso de zação. Além disso, as circunstâncias ou
o momento histórico dessa localidade
humor, compreender os também afetam completamente o desdo-
resultados, entender- bramento de uma eleição e, consequente-
mente, o que se espera de um candidato.
se bem com os meios Eleições em momentos de grandes festas
de comunicação e populares são muito diferentes das que
ocorrem durante uma forte crise econômi-
com as ferramentas ca, com altas taxas de inflação e desem-
de pesquisa política. prego.

Alguns atributos gerais e necessários


podem ser identificados na expectativa de
um eleitorado com relação aos candidatos
de uma eleição. Ou seja, a ausência desses
atributos prejudicaria muito a relação
cidadão-representante, o que dificultaria
qualquer processo eleitoral. Um candida-
to deve ser inteligente, honesto, íntegro,
deve ter habilidade para absorver ideias,
capacidade de escutar, flexibilidade, senso
de humor, compreender os resultados,
entender-se bem com os meios de comu-
nicação e com as ferramentas de pesquisa
política. Dificilmente o eleitor elegeria um
candidato que lhe parecesse incompetente
ou corrupto para o cargo, ou que não se
comunicasse com ele para entender as
suas principais demandas.

3. O que é ser candidato? 19


A idade, a aparência A idade, a aparência física, a experiência
em cargos importantes, a situação econô-
física, a experiência mica, a religião, a orientação sexual, a
em cargos importantes, inserção em redes sociais são elementos
que compõe a construção da identificação
a situação econômica, entre candidato e eleitorado e facilitam
a religião, a orientação ou dificultam o processo de campanha.
Contudo, estes não são requisitos indis-
sexual, a inserção pensáveis para que um candidato possa
em redes sociais participar de uma eleição. Tudo dependerá
da forma com que esses atributos são
são elementos que trabalhados na imagem e na mensagem
compõe a construção transmitidas ao longo da campanha.

da identificação entre O candidato é quem é. Não se pode cons-


candidato e eleitorado truí-lo ou não se deveria tentar construí-
-lo por meio de técnicas de marketing. É
e facilitam ou dificultam preciso analisar o que ele tem (suas virtu-
o processo de campanha. des e defeitos) e como é possível trabalhar
sua imagem, seja ela positiva ou negativa.
Alguns dos seus talentos podem ser aper-
feiçoados ao longo da campanha, mas,
na maioria dos casos, há que se trabalhar
com aqueles que ele já possui e adaptar-se
à realidade dessa pessoa que se apresenta
para a eleição.

20
O maior erro de O maior erro de uma campanha está na
mentira sobre o candidato. Em primei-
uma campanha está ro lugar, a quantidade de informações
na mentira sobre o disponíveis e a facilidade de acesso a elas
tornam qualquer dado facilmente verifi-
candidato. cável. Os eleitores descobrirão em algum
momento uma mentira sobre o candidato
(com o auxílio ou não dos concorrentes),
pois estão constantemente expostos aos
meios de comunicação. Assim, o candi-
dato não deve assumir uma personalidade
que não corresponda a sua realidade. Uma
vez que a mentira seja descoberta, os
eleitores tenderão a não votar no candida-
to: a confiança nele depositada terá sido
comprometida já que ele não se apresenta
como um cidadão honesto e íntegro.

Contudo, é necessário ressaltar que a


percepção dos cidadãos em relação ao
candidato é o elemento mais importan-
te. Se a crença é de que o candidato
seja honesto, acusações contrárias não
recebem o mesmo crédito. O mesmo
ocorre quando a crença é na desonestida-
de do candidato. Por mais que ele tente
mostrar-se íntegro, o eleitorado o terá
com desconfiança. A percepção, no caso
da política, tem a ver com o cotidiano. Os
cidadãos não são especialistas em muitos
temas, mas têm senso comum e julgam
o mundo a partir de seu cotidiano. Assim,
gerar uma boa reputação e confiança entre
os eleitores é um projeto que pode levar
anos e que deve estar sempre fundamen-
tado em fatos concretos da realidade do
candidato.

3. O que é ser candidato? 21


Por igual razão, deve-se conhecer os A fim de fortalecer o papel de formador
adversários com a mesma profundidade de opinião e referência social, mensagens
com que se conhece o próprio candidato. chaves serão difundidas entre públicos e
Assim, é importante elaborar pesquisas segmentos específicos, através de uma
biográficas profundas tanto sobre o candi- plataforma múltipla de comunicação.
dato quanto sobre seus principais concor-
rentes. O candidato deve entender que o Neste sentido, uma régua de relaciona-
passado pode ser problemático se usado mento deverá ser elaborada para segmen-
para comprometê-lo junto a seu eleitorado, tar e personalizar a relação com o público
devendo estar, portanto, preparado para de interesse e fortalecer o vínculo. Ações
responder a quaisquer questionamentos e atividades previstas na régua de relacio-
sobre sua vida. Do mesmo modo, obter o namento, devem ser implementadas pela
máximo de informação sobre os principais equipe de trabalho e corresponder a uma
concorrentes pode garantir mais votos ao agenda do candidato.
candidato, caso se descubra e divulgue
inconsistências que abalem a confiança do A imagem ao lado retrata as etapas do
eleitorado em relação aos mesmos. processo de fortalecimento da identidade
pública:
Assim, a construção da identidade pública
tem como principal propósito ampliar a
percepção da sociedade em diferentes
meios e segmentos da posição do líder
político sobres os temas defendidos ao
longo de sua trajetória de vida.

1 Construção de identidade pública


2 Desenvolvimento da identidade
3 Estratégia de relacionamento

Plano de campanha

22
3.1 O perfil da liderança

O candidato se consolida dentro de uma A reflexão é de extrema importância, uma


trajetória de vida, criando lastro na socie- vez que o eleitor se conecta com o candi-
dade através da defesa de seus ideais. dato a partir de uma empatia inicial com
Entretanto, de forma planejada, é possível alinhamento a estes princípios e valores, e
difundir seus princípios e valores a um somente depois é que se conectará a suas
maior número de pessoas que se identifi- propostas de políticas públicas. As infor-
quem com tais ideais. mações coletadas nesta etapa servirão de
subsídio na construção da mensagem que
Para tanto, é fundamental elencar de forma será difundida ao público de interesse. A
consciente e realista o que torna o líder pesquisa irá abordar as seguintes dimen-
político uma referência para a sociedade. sões da vida do líder:
Este processo inicia-se com um estudo
minucioso da trajetória de vida, com levan-
tamento de crenças e valores e a percep-
ção de familiares e amigos sobre sua

Família e amigos
Co
identidade. Assim, será possível elaborar

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uma profunda reflexão sobre suas raízes
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históricas do líder político, explorando a o içã

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3. O que é ser candidato? 23


O primeiro passo é realizar um
brainstorming de todos os aspectos
da vida do candidato e permitir que
ela seja examinada.

Quadro 1 - Elementos biográficos para pesquisa

Pessoal infância Declarações públicas testemunhos

saúde processos jurídicos

personalidade notas de jornal

crença religiosa discursos registrados


em áudio e vídeo
desempenho

Educação Questões Sexuais antes do casamento

prêmios casamento

atividades extracurriculares pós-casamento

esportes orientações sexuais

plágio prostituição

brigas gravações de foto, vídeo


e aúdio
expulsões

doenças

abortos

24
Histórico profissional Questões jurídicas

empregos clientes e firmas


representados
pagamentos

demissões comissões

sindicalizações benefícios

promoções vitórias e derrotas

currículo

processos

contratos

falências

lideranças

Histórico médico Religião

doenças eventuais e seguidor


congênitas
trocas e conversões

uso de drogas regularidade da prática

alcoolismo apoio financeiro

operações e cirurgias religião do cônjuge

pregações

crenças e dogmas
defendidos

3. O que é ser candidato? 25


Histórico criminal Histórico de votação

apreensões por porte de consistência partidária


drogas (troca)

acidentes de carro

aconselhamento juvenil

assaltos

evasão de impostos

processos por assédio

divórcios litigiosos

prostituição

Histórico militar Família

dispensas avaliação dos membros


segundos os mesmos
combates

medalhas

ferimentos

Histórico de serviço público Histórico financeiro

comissões caridade

posicionamentos eleitorais investimentos

histórico de votações casa própria

declarações comunidades que


frequenta
discursos

notas editoriais filiação a clubes

publicações propriedades

correspondências créditos

fotos direção de empresas

26
Esse levantamento pode ser feito com
base nos templates de histórico pessoal
apresentados em seguida.

Histórico de vida

Família e amigos Desenvolvimento intelectual

Qual o local, dia, mês e ano de seu nascimento? Qual escola frequentou? Sempre estudou no mesmo local?

Você foi criado pelos seus pais? Qual a filosofia da escola?

Se não, por quem foi criado? Qual era a sua matéria predileta?

Em qual cidade? Que nota você se daria como aluno? Por quê?

Qual a razão para os seus pais terem escolhido Como era sua relação com seus colegas de classe?
o seu nome?
Como eles o enxergavam?
Você tem irmãos? Quantos? Quais os nomes?
Sofreu bullying? Por quê? Como lidou com isso?
Você teve/tem animais de estimação?
O que recordas, com agrado e desagrado, da tua vida
Como foi a relação com a sua família neste período? escolar?

Seus pais se divorciaram? Você se recorda de algum professor em especial que te


marcou de forma positiva ou negativa? Quem foi esse
Perdeu algum parente ou amigo próximo neste professor? Por que te marcou?
período? O que essa pessoa significava para você?
Fez intercâmbio? Para onde?
Teve filhos?
Você fez faculdade? Qual curso? Qual instituição?
Você tem sobrinhos? Como é a sua relação Por que escolheu essa graduação?
com eles?
Qual seu livro favorito? Por quê?
Tem netos? Qual é a sua relação com eles?
Fez pós-graduação? Em qual instituição? Por que escolheu
esse curso?

Fez MBA? Em qual instituição? Qual o tema do seu TCC?


Por que escolheu esse tema?

Fez Mestrado? Em qual instituição? Qual o tema da sua


tese? Por que escolheu esse tema?

Fez Doutorado? Em qual instituição? Qual o tema da sua


tese? Por que escolheu esse tema?

Fez outro curso que julgue importante para seu desenvolvi-


mento intelectual?

3. O que é ser candidato? 27


Hobbies Valores e crenças

Quais atividades extracurriculares costumava realizar? Em sua opinião, quais foram os valores transmitidos a você
em sua criação? Por quê?
Qual esporte(s) praticou/pratica?
Em sua opinião, quais os principais valores deveriam ser
Quais foram/são seus principais hobbies? transmitidos a uma criança?

Drives pessoais Em sua opinião, os valores em sua formação escolar


seguem com você até hoje? Quais são eles?
Quais foram/são seus apelidos?
Hoje, quais são seus principais valores?
Qual era seu super-herói predileto? Por quê?
Sonhos e realizações
Alguma pessoa (fora do círculo familiar) te marcou? Por
quê? Você acredita que conseguiu alcançar os sonhos e metas
que se propôs na vida? Por quê?
Quais são suas principais paixões?
Quais são seus principais objetivos?
Quais habilidades você desenvolveu?
Quais são seus principais sonhos?
Ocupou alguma posição de liderança enquanto cursava a
faculdade? Quais foram suas realizações e conquistadas?

Quais são as principais lições de vida que carrega consigo? Quais foram suas principais frustrações?

Quais conselhos daria a um jovem de 18 anos? Como lidou com essa experiência?

Saúde Conseguiu superá-las? Se sim, como?

Teve ou tem alguma doença grave? Vida social


Como lidou com essa experiência?
Quais países conheceu? Qual motivo da viagem?
Você se considera uma pessoa saudável?
Quais países mais lhe chamou a atenção? Por quê?
Toma remédios?
Torce por algum time de futebol?
Você fuma?
Acompanha outras modalidades de esporte?
Você bebe?
Você gosta de frequentar festas?

Você participa de reuniões familiares?

Frequenta a casa de amigos?

28
Contribuição social e cívica
Todas essas informações devem ser resu-
midas de maneira consistente e coerente,
Filiou-se a algum partido político? e compiladas no formato de um livro. Elas
Mudou de partido? Para quais partidos? Por quê?
servirão de base para o preparo de respos-
tas a prováveis questionamentos feitos
Participou de alguma campanha política? Quais? Por quê? sobre esses temas. O importante é identi-
Ocupou algum cargo de confiança? Quais? Por quê?
ficar e mapear as fraquezas com o intuito
de torná-las um ponto forte do candidato.
Já foi candidato? A qual cargo? Por quê? Quantos votos E os concorrentes agirão da mesma forma:
obteve?
eles pesquisarão profundamente sobre a
Ocupou algum cargo eletivo? Quais? Por quê? vida do candidato na tentativa de transfor-
mar os pontos fortes em fraquezas. Assim,
Você tem o costume de votar?
antecipar os pontos negativos para o elei-
Visão de mundo torado é uma boa estratégia de demonstra-
ção de honestidade, fortalecendo a relação
Em sua opinião, é preferível pagar mais e
receber serviços gratuitos de educação e saúde
de confiança estabelecida.
ou é preferível pagar menos e contratar educação
e saúde particulares?

Em sua opinião, o uso da droga não deve ser


proibido, pois é o usuário que sofre com as
consequências; ou deve ser proibido, pois toda
a sociedade sofre com as consequências?

Você é a favor ou contra da pena de morte?

Você é a favor ou contra a descriminalização do aborto?

Em sua opinião, pesa mais a igualdade ou a liberdade?

Qual a sua posição ideológica?

3. O que é ser candidato? 29


Com relação aos concorrentes, primei- Para a elaboração do livro biográfico do
ramente, deve-se selecionar sobre quem candidato e dos principais concorrentes,
pesquisar. É importante valer-se de é necessário que integrantes da equipe
pesquisas para identificar a percentagem de campanha dediquem-se integralmen-
de votos do candidato e quais seriam te à pesquisa. Nesse caso, as fontes de
seus concorrentes imediatos, de forma a pesquisas podem ser o Google, jornais
despender recursos de tempo e de pessoal locais, registros de fóruns, impostos, divór-
somente com aqueles que, de fato, repre- cios, livros escolares, redes sociais etc. A
sentem uma ameaça para sua eleição. profundidade dessa pesquisa dependerá
Uma vez identificados os concorrentes da ética e do estilo de cada pesquisador.
prioritários, é preciso levantar todas as Alguns optam por uma pesquisa apenas
informações possíveis com rigor e discri- sobre a vida pública, ou seja, o que foi
ção2. Caso se perceba que o candidato publicado nos meios de comunicação.
esteja investigando a vida de seus concor- Já outros indagam mais sobre o âmbito
rentes, estes poderão tornar o fato em privado para obter informações úteis, logo,
notícia para comprometer a imagem do mais sensíveis e delicadas. Essas infor-
candidato junto ao eleitorado. mações podem ser apresentadas tanto
de forma comparativa, estabelecendo um
mesmo critério de observação para candi-
dato e concorrentes; quanto negativa,
divulgando alguma informação comprome-
tedora sobre os adversários.

2 Candidatos à reeleição das promessas eleitorais;


oferecem muito mais solicitações de emendas
possibilidades de pesquisa e quais delas se tornaram
(declarações públicas; leis; grupos privilegiados
incoerências em posicio- ao longo do mandato;
namentos políticos; gastos forma de utilização das
financeiros da última verbas indenizatórias etc).
campanha; cumprimento

30
3.2 Habilidades que o
candidato deve desenvolver

Assim, tudo dependerá do que se desco- Um bom candidato deve estar completa-
bre e de como será usada a informação mente envolvido em sua causa: ser vito-
obtida. O risco iminente é gerar uma rioso nas eleições. Assim, sua dedicação
notícia negativa sobre o próprio candida- deverá ser total. O descanso deve ocorrer
to por ele explorar informações íntimas somente quando necessário, não compro-
do concorrente de forma indiscriminada. metendo a execução da campanha. Esse é
Logo, a equipe de campanha deve avaliar um ponto importante, pois um candidato
o que usar, como usar, quem deve usar e que se mostra cansado se torna pouco
quais os meios de divulgação apropriados. seguro, mais propenso ao erro e mais incli-
A equipe também preparará respostas a nado a falar sem refletir sobre o que fala
serem sugeridas para a pesquisa negativa (o que certamente é um problema para a
do candidato, a partir de questionários, candidatura). A saúde física e mental do
grupos locais e métodos avaliativos que candidato é indispensável para o êxito3.
determinem o seu impacto junto aos É importante também que o candidato
eleitores. É preciso considerar que, geral- perceba todo o processo de forma prazero-
mente, candidatos mais conhecidos têm sa e demonstre sincero apreço e compro-
vantagem sobre desconhecidos, e aqueles misso com sua eleição. Em suma, ele deve
que têm uma imagem negativa represen- gostar de ser candidato e estar à vontade
tam um perigo inferior em relação àqueles nesse papel. Caso não esteja disposto
que têm imagem positiva. Portanto, é mais a fazer todas as tarefas inerentes a sua
acertado responder a um concorrente posição, é melhor abandonar a candidatura
conhecido que impacte sobre eleitores que antes que seja tarde.
interessam ao candidato do que responder
a um candidato de pouca expressão junto
ao eleitorado.

3 No próprio calendário
da campanha, devem-
-se estabelecer certos
períodos de descanso para
o candidato e sua família,
especialmente no mês que
antecede a eleição - perío-
do em que são exigidos o
máximo rendimento e as
melhores condições.

3. O que é ser candidato? 31


Por isso, o candidato deve saber, desde A candidata à presidência da república
o primeiro momento da candidatura, os em 2010, Marina Silva (PV), elaborou
motivos que o levaram a fazê-lo. O que o todo o seu programa de campanha
motivou? O que ele almeja na condição tomando por base a questão ambiental.
de político eleito? A razão nem sempre é Para ela, o Brasil teria a responsabilida-
clara ou pode ser explicada em termos que de moral de se tornar uma referência
as pessoas comuns entendam. Por isso, na economia de carbono, servindo de
um dos objetivos da campanha é poder exemplo para os demais países desen-
responder à pergunta para que todos os volvidos. Marina possuía um motivo
cidadãos, ao escutar a resposta, se sintam claro que norteou a sua candidatura.
motivados a votar no candidato4. Assim, uniu sua história de vida à sua
atuação política à frente das causas
ambientais e a suas propostas para o
País.

4 Em muitas situações, se enfraquece perante o


candidatos já foram ques- eleitorado, pois como se
tionados sobre os motivos pode confiar em alguém
que os levaram a se tornar para representá-lo em
políticos eleitos. Quando suas demandas, se esse
não se tem essa resposta representante não sabe por
clara, imediatamente a que está ali?
imagem do candidato

32
Ser candidato, portanto, implica em uma O candidato deve ser também empático
rotina exaustiva de compromissos e com os cidadãos. Em essência, os políticos
viagens. O candidato deve comparecer a são representantes de um povo que eles
numerosos eventos, reunir-se com pessoas devem conhecer bem e por quem devem
de diversos setores sociais, de diferentes decidir, considerando o que seja melhor
regiões e com distintas necessidades. Ele para eles. É preciso, portanto, estar a par
deve buscar estar presente em todos os dos temas que preocupam os cidadãos.
meios de comunicação, escutar as reco- Estes gostam de ver e ouvir os candidatos,
mendações dos consultores, conhecer os formulando uma ideia própria de quem
temas importantes, memorizar discursos e eles são e de como são. Muitas vezes, as
se expressar para inúmeras plateias. Nesse pessoas do entorno do candidato pensam
processo, haverá, naturalmente, atividades que todos os cidadãos o conhecem e têm
que o desagradarão, mas ele deverá apren- dele informações precisas, mas não é
der a tirar proveito delas, do mesmo modo. sempre assim. É preciso trabalhar para que
Pelo mesmo motivo, o candidato não deve o eleitor perceba o candidato com familia-
desempenhar tarefas que possam ser ridade e confiança.
delegadas a outros. Ele deve aprender a
transferir responsabilidades e a confiar nos
especialistas de cada ramo. Sua missão
principal é conseguir votos e dinheiro
para a campanha, por meio da divulgação
de sua mensagem e de sua presença na
mídia. A essas tarefas ele deve dedicar
integralmente o seu tempo, pois, nesses
casos, é insubstituível. Para isso, será vital
contar com uma equipe competente e de
confiança.

3. O que é ser candidato? 33


3.3 Media training

Por isso, é essencial que o candidato fale Treinamento de mídia é o processo de


com o povo de forma clara e próxima. tornar alguém mais bem preparado e no
Há, de fato, candidatos pouco empáticos, controle sobre as audiências e as aparições
contudo treinamentos e a elaboração de públicas das quais participa. A conexão
um discurso crível e convincente auxiliam do candidato com sua audiência é parte
nessas limitações, apresentando o candi- fundamental de uma campanha. O treina-
dato aos eleitores como uma pessoa que mento de mídia engloba todos os aspectos
aspira a mais do que apenas um cargo da comunicação humana, tanto verbal
político. Os eleitores o enxergam como (discurso) quanto não verbal (linguagem
um político que os entende e que traba- corporal). Os políticos mais poderosos e
lhará por eles. Assim, emoção e caráter críveis são aqueles que combinam melhor
juntamente com palavras simples são os esses elementos, selecionando as pala-
elementos mais fortes para conectar com vras e combinando-as com a atitude mais
as emoções do eleitor. adequada à mensagem transmitida.

O candidato não deve inspirar confiança Em situações normais de conversação,


e proximidade somente junto aos eleito- estudos demonstram que 55% da atenção
res. Sua equipe de campanha deve ter a do receptor estão voltadas à linguagem
mesma percepção. Não é possível alcan- corporal do emissor. Gestos e olhares são
çar sucesso eleitoral com uma equipe de prontamente observados e, coincidente-
campanha que não confie em seu candi- mente, são os mais difíceis para o candi-
dato, que lamente pela não valorização de dato manter sob controle. Já o tom de voz
seu trabalho ou que sinta que o candidato e a maneira de falar são responsáveis por
não confia em suas capacidades. Ainda 38% da atenção do receptor. Variações no
que o elemento visível e indispensável para tom de voz demonstram validade e credibi-
a campanha seja o candidato, quem traba- lidade, principalmente se combinadas com
lha para que sua exposição e seu trabalho mãos, rosto e outros gestos corporais que
sejam percebidos pelos cidadãos são todas reforcem as palavras ditas. Ao passo que
as pessoas que fazem parte da equipe. Se apenas 7% da atenção destinam-se ao que
elas não acreditam no motivo pelo qual de fato se fala. Isso faz com que a mensa-
estão ali, provavelmente não farão bem o gem importe menos do que a impressão
seu papel. deixada.

34
3.3.1. Linguagem corporal

55% da atenção do Linguagem corporal é a comunicação não


verbal. Ela pode ser consciente aos emis-
receptor estão voltadas sores, principalmente quando eles buscam
à linguagem corporal do se expressar facial e corporalmente de
forma a controlar a demonstração de seus
emissor. sentimentos.

Contudo, na maior parte das vezes, ela é


Tom de voz e a maneira inconsciente, de modo que o emissor não
de falar são responsáveis percebe que está demonstrando descon-
forto ou artificialidade, pois ele reage aos
por 38% da atenção do seus sentimentos sem perceber, indepen-
receptor. dentemente das palavras ditas.

Em geral, pode-se dizer que a linguagem


corporal se divide em aberta e fechada.
Ambas podem ter diversas formas, no
entanto, a fechada é quase sempre ruim
e a aberta é sempre positiva, pois garante
a comunicação demonstrando conforto e
interesse. Ela é baseada em um diálogo,
ou seja, implica em ajustes constantes à
resposta do outro para a sua continuidade.

3. O que é ser candidato? 35


Quadro 2 - Linguagem corporal fechada

Linguagem Fechada Traços Mensagem transmitida

Intimidante Encarar a pessoa enquanto Invasão de espaço do


fala receptor

Tom de voz agressivo e A fala do receptor não


elevado importa

Aperto de mão muito forte O emissor tenta dominar o


receptor

Gestos agressivos (apontar Desvio da atenção para a


o dedo) agressividade

Estufar o peito (abrir os Demonstração de domínio


braços, apoiá-los no e desrespeito pelo receptor
quadril, esticar as pernas e que percebe o emissor
inclinar sobre o receptor) automaticamente como ar-
rogante, esnobe e inseguro

Defensiva Braços e pernas cruzados Desconforto na conver-


sação

Rosto sem expressão e Tédio e desinteresse


pouco contato visual (expressões faciais são as
mais difíceis de disfarçar)

Fraca inflexão de voz Desinteresse para conclu-


são da conversa

Distanciamento Arrogância (emissor como


superior)

5 Mehrabian, Albert.
Silent Messages – A We-
alth of Information about
Nonverbal Communica-
tion (Body Language).
Personality & Emotion Tests
& Software: Psychological
Books & Articles of Popular
Interest. Los Angeles, CA:
self-published. 2009

36
Apática Sorriso forçado Não há prazer naquela
comunicação

Ausência de contato visual Busca-se sair da conversa


de todo modo

Bater ou balançar os pés Desconforto e desvio de


ansiosamente atenção do receptor

Bocejar Tédio e desatenção

Esfregar os braços, coçar o Nervosismo, distanciamen-


rosto, tamborilar os dedos to e desinteresse sobre o
que se fala

Desconfortável Evitar o contato visual Tudo desperta mais aten-


ção do que a conversa

Aperto de mão fraco Distância e desinteresse

Olhar distante, falta de São lapsos de atenção do


posição com corpo desinteresse

Corpo fechado (sem qual- O emissor não está engaja-


quer expressão) do na conversa

Rubor Desconforto com uma


situação obrigatória

3. O que é ser candidato? 37


Quadro 3 – Linguagem corporal aberta
A linguagem corporal deve estar de acordo
com o que se fala para reforçar a percep-
Traços Mensagem transmitida ção do receptor. E ela pode ser aprendi-
Cumprimentar com os Aberto, convidativo,
da: pode-se aprender a sorrir, a focar no
olhos (com sorriso) genuíno e interessado receptor, a usar o contato visual, a relaxar
e aproveitar a conversa que se está tendo.
Aperto de mão firme Respeito e agradecimento
com quem se fala
Geralmente, as pessoas acompanham o
ritmo de uma comunicação, responden-
Sorriso e contato visual Reforça o interesse do negativa ou positivamente em função
demonstrado no início
como genuíno (prazer da
do estímulo que recebem. Se o emissor
companhia) está desconfortável, o receptor ficará
desconfortável; mas se o emissor expressa
Um estilo convidativo e não Conciliar a própria presença
dominador carismática com o interes-
prazer pelo momento, o receptor tenderá a
se e respeito pelas ideias responder de maneira semelhante.
do outro

Autoconfiança, gestos Gestos suaves que de-


Assim, para deter o controle de uma
abertos e postura monstram conforto e prazer conversa, deve-se estar atento aos gestos
na presença do outro (eles ajudam a controlar o ritmo da fala,
Inclinação suave sobre o Concilia o interesse do
a reforçar as palavras na mensagem e a
outro emissor pelo receptor, sem aumentar a atenção dos outros ao que se
a invasão de seu espaço expõe). Não usar gestos leva as pessoas a
se concentrarem no rosto e na linguagem
corporal inconsciente do emissor (mais
difícil de controlar). É importante, assim,
desviar a atenção do rosto para os gestos
do emissor permite que este fique mais
confortável e relaxado na situação. Dessa
forma, ele consegue estar mais atento ao
seu tom e inflexão de voz, se acalmando
também, caso esteja nervoso.

38
3.3.2 A voz

A respiração é outro modo de se ter A voz é pilar das ferramentas de comu-


controle sobre diálogos e aparições públi- nicação (junto a ela estão as palavras e a
cas. Respirar apropriadamente garante linguagem corporal). As palavras podem
relaxamento e concentração do emissor ser acentuadas por meio de variações de
sobre o que se está fazendo, uma vez que volume, tom e uso de pausas, de forma
o ritmo respiratório ajuda no controle de a complementar a linguagem corporal
emoções. A respiração pelo diafragma é expressa. O uso da voz é dado pelos
uma técnica do treinamento de mídia que seguintes elementos: a ressonância (inten-
ensina a expandir o abdômen quando se sidade da voz); timbre (a qualidade do som
inspira e a contraí-lo quando se expira. da voz); volume (aumentando ou reduzindo
para enfatizar palavras); entonação e ritmo
Em momentos de tensão, em geral, a (velocidade das palavras e suas pausas).
tendência é ter o padrão contrário de respi- A variação desses elementos permite uma
ração (contrair o abdômen na inspiração gama de formas de expressão do candi-
e expandi-lo na expiração), o que dificulta dato.
a oxigenação e torna a pessoa ainda mais
tensa. Respirar bem garante uma boa As variações na voz podem ser combi-
vocalização das palavras, uma forte ento- nadas com a acentuação de palavras ou
nação da voz e uma apresentação menos conjuntos de palavras de uma sentença,
ansiosa, pois o emissor passa a falar mais de forma a tornar alguns pontos mais
pausadamente6. memoráveis ao receptor. A repetição de
palavras ou frases também é outro recurso
para a ênfase de uma fala. Já a expressão
facial representa a combinação entre o uso
da voz e a linguagem corporal. Ela é um
indicador poderoso sobre o que o emissor
sente no momento em que profere sua
fala (rir quando o assunto for bom, franzir
a sobrancelha ou apertar os olhos quando
for um assunto tenso e abaixar a cabeça
ou olhar para cima quando se quer
demonstrar firmeza).

6 Essa técnica permite Portanto, quando se está


que o emissor respire por nervoso e a fala natural-
cinco segundos, pausando mente está acelerada,
as sentenças, o que facilita tanto a linguagem corporal
a compreensão de quem as quanto a entonação não
recebe. Estudos mostram conseguem acompanhar as
que as pessoas, ao ouvirem palavras e a compreensão
alguém, apreendem cinco do emissor fica automatica-
de oito palavras ditas. mente prejudicada.

3. O que é ser candidato? 39


O uso das pausas também fornece uma O grande desafio do contato visual refere-
gama de funções. Elas permitem que o -se à audiência para quem o emissor fala.
emissor acentue pontos de sua mensagem Mesmo para uma plateia numerosa, é
pelo silêncio que se faz, dando à audiência importante que o emissor se direcione
tempo de absorver o que é dito ou criando para as pessoas, pois ainda que cada
uma ansiedade sobre o que será falado em receptor não veja os olhos do emissor
seguida. Uma maneira de inserir pausas diretamente, ele tem a impressão de que
na apresentação é procurar por pausas é visto com importância e consideração
naturais na fala, como o fim de sentenças. pelo direcionamento do contato visual do
Além das ênfases, as pausas também emissor, tornando-se mais interessado ao
servem como transição para novas ideias, que é falado. Já para públicos pequenos
sem a necessidade de inserir muitas pala- ou em conversas diretas, o contato visual
vras de conclusão (o que sobrecarrega é fundamental, pois ele demonstra imedia-
a absorção da audiência com relação à tamente atenção e interesse na situação
mensagem). do emissor e do receptor na situação. Em
entrevistas gravadas, o olhar em direção à
O contato visual compõe a linguagem câmera nas mesmas proporções de uma
corporal aberta que, combinada ao uso conversa (de 40 a 60% do tempo) formará
da voz, garantem a melhor comunicação a mesma proximidade na comunicação
possível com a audiência. Geralmen- com o espectador.
te, as pessoas passam de 40 a 60% de
seu tempo em contato visual com outra
pessoa. Esse é o limite entre a desatenção
e a dominação em um diálogo (que repre-
sentam uma linguagem corporal negativa
e comprometem a comunicação).

40
3.4 Entrevistas e discursos

As entrevistas e os discursos em eventos Quando possível, é importante buscar


são considerados o momento crucial em conhecer previamente também o assunto
que o candidato se expõe ao público para da entrevista, principalmente conhecer
apresentar sua mensagem de forma a as questões de antemão. Jornalistas se
angariar votos e captar recursos para sua sentem mais confortáveis com histórias
campanha. Assim, conhecer a logística das antigas. Assim, retornar a assuntos já
entrevistas e dos eventos é fundamental tratados é uma estratégia, bem como se
para o sucesso dessa exposição. atualizar sobre os acontecimentos mais
recentes antes de cada entrevista. Dessa
A logística da entrevista consiste em forma, o candidato pode preparar melhor
conhecer o jornalista e o veículo de comu- suas respostas e não se encontrará despre-
nicação previamente. O jornalista é um venido com relação a determinadas ques-
profissional que busca obter a informa- tões que podem vir a ser colocadas pelo
ção que para ele é a mais interessante. jornalista. Novamente, a segurança e a
Contudo, não necessariamente aquilo que tranquilidade são elementos fundamentais
julga ser mais interessante para sua audi- para que o candidato faça o melhor uso
ência é o ideal para a campanha e para a da comunicação (isso inclui o domínio de
mensagem do candidato. Nesse jogo de sua voz, da sua linguagem corporal e o
forças, é fundamental que o candidato uso das palavras que mais se adequem ao
consiga manter o controle sobre o que diz momento e ao que é falado).
e sobre o desenrolar da própria entrevista.
Portanto, pesquisar a biografia do jorna- Conhecer todos os aspectos técnicos
lista permite conhecer suas preferências da entrevista também é fundamental. É
ideológicas, seu perfil como entrevistador preciso saber de antemão a locação (para
(mais agressivo ou mais sutil nos questio- se familiarizar com o ambiente), a duração
namentos) e quais recursos ele utiliza para da entrevista, se ela será registrada ou não,
obter as informações desejadas. O conhe- conhecer as especificidades do veículo
cimento prévio sobre o jornalista provê de comunicação (se será visual, áudio ou
maior previsibilidade, segurança e preparo impresso) e conhecer todas as pessoas
ao candidato, o que lhe deixa mais seguro envolvidas no processo, pois controlar a
e menos ansioso no momento da entre- comunicação é garantir que a mensagem
vista (ou seja, menos suscetível a cometer transmitida tenha o maior efeito possível.
erros).

3. O que é ser candidato? 41


3.5 SWOT pessoal

Análise SWOT (Strenghts, Weaknesses, - O que você não se sente confiante


Opportunities, Threats – Forças, Fraquezas, em fazer enquanto candidato?
Oportunidades, Ameaças) é uma ferra- - Há algo na sua vida privada que você
menta de análise de cenário abrange os acredite poder prejudicar a campa-
aspectos pessoais, focando nas forças e nha?
fraquezas internas do líder político, aspec- - Você se sente confortável com sua
tos externos, oportunidades e ameaças formação? Se não, qual detalhe dela
que impactam negativamente no alcance que mais lhe causa desconforto?
de seus objetivos. Para realizar a análise - Existe alguma característica pessoal
SWOT, são propostas as perguntas abaixo, que você acha que te atrapalha?
o que permitirá realizar uma profunda - As pessoas geralmente esperam algo
análise e identificar as forças e fraquezas de você e, por mais que tente, não
do líder político. consegue atender as expectativas?
Se não, por quê?
Perguntas norteadoras: - Quais são seus vícios na vida pública
que geralmente podem gerar descon-
- Quais são suas principais competên- forto aos seus colaboradores?
cias? O que você faz melhor que as - A sua área de atuação está em
pessoas à sua volta? expansão? Se sim, o que você pode
- Qual característica sua o diferenciaria fazer para aproveitar esta situação?
do seu adversário? - Você costuma frequentar eventos
- Quais valores você tem que os outros ligados à sua área?
candidatos não possuem? - Você está conectado às novas tecno-
- Você tem lastro em algum movimen- logias? Como você potencializa o uso
to social, religioso, econômico, etc.? dessas ferramentas?
Se sim, como ele pode potencializar - A tecnologia é um problema para
sua campanha? você, ela pode ameaçar sua campa-
- Qual experiência pessoal/profissional nha? Como?
pode lhe dar vantagens frente aos - Onde existem oportunidades dentro
seus adversários? do seu nicho de atuação que
ninguém está aproveitando? O que
você poderia fazer para aproveitá-las?

42
- Você conhece seus adversários polí- Quadro 4 – SWOT pessoal
ticos? Conhece seus pontos fortes e
fracos? Pontos fortes Pontos fracos
Potencializar Melhorar
- Quais os obstáculos que você enfren- Quais são os principais Quais são os pontos a
ta hoje para colocar uma campanha pontos fortes, principais serem melhorados, princi-
eleitoral em pé? forças, qualidades, virtudes pais fraquezas, defeitos ou
ou talentos? dificuldade?
- Já montou uma equipe de campanha
antes? Oportunidades Ameaças externas
- Você dispõe de tempo para ser Acompanhar Eliminar
Que oportunidades existem Que ameaças existem pelas
candilado? para aproveitar suas forças suas fraquezas que podem
- Você conhece as forças políticas e alcançar a vitória? te impedir
que podem trabalhar contra você no
período eleitoral?
- Você tem o apoio de sua família e
amigos para ser candidato? Se não,
como você pretende reverter esse
cenário?
- Você conhece bem o seu território
político? Seus eleitores? Quem são
eles?
- Você está atento ao cenário político
da sua região? Do país? Como as
movimentações políticas podem
se tornar um empecilho para sua
campanha?
- Você enfrenta dificuldades políticas
dentro do partido? Quais?

3. O que é ser candidato? 43


3.6 Janela de Johari:
descubra seu ponto cego

A Janela de Johari é uma ferramenta O conceito tem um modelo de representa-


conceitual, criada por Joseph Luft e ção que permite revelar o grau de lucidez
Harrington Ingham em 1955, que tem nas relações interpessoais, relativamente
como objetivo auxiliar no entendimento da a uma dada dimensão, classificando os
comunicação interpessoal e nos relaciona- elementos que as dominam, num gráfico
mentos com públicos de interesse. de duas entradas: busca de feedback
versus auto exposição, subdividido em
quatro áreas:

Feedback

Eu público Ponto cego


Conhecido por todos Conhecido pelos outros

Conhecido Desconhecido
por mim por mim

Eu privado Desconhecido
Conhecido apenas Por todos
por mim

44
Através de perguntas e reflexões, os Na sequência, realize uma entrevista com
líderes estarão aptos a obter insights sobre 8 amigos e familiares e compare os resul-
sua vida pessoal e aquilo que é público. tados das respostas.
Através de pedidos de feedback a amigos
e familiares, o líder poderá explorar um 1. Quais são as principais competências
pouco mais sobre seus pontos cegos. do ___? (conhecimentos, habilidades
Para auxiliar os Líderes RAPS nesta refle- e atitudes pessoais)
xão, propõe-se um exercício através das 2. Quais são seus principais valores?
seguintes questões: 3. Ele é conhecido por?
4. Quais são suas principais paixões?
1. Quais são suas principais competên-
cias? (conhecimentos, habilidades e
atitudes pessoais)
2. Quais são seus principais valores?
3. Você é conhecido por quais caracte-
rísticas?
4. Quais são suas principais paixões?

3. O que é ser candidato? 45


3.7 A importância
do candidato

O candidato é a pessoa que se dedica Não há um candidato ideal. Ele é um ser


inteiramente à campanha. Ele aspira à humano com fortalezas e debilidades, mas
vitória nas eleições e precisará de uma que pode ter tanto suas fortalezas aprimo-
equipe que trabalhará arduamente em prol radas quanto suas debilidades amenizadas
dessa causa. Assim, essa equipe deve ser com o intuito de obter uma vitória eleitoral.
de total confiança e à qual o candidato Para isso, ele precisa ter claro por que se
delegará todas as tarefas e responsabili- candidata às eleições, o que o motiva a
dades que não se relacionem diretamente fazê-lo e como deve trabalhar para conse-
com: ganhar votos e captar fundos para guir êxito. Ele precisa constituir uma
a campanha. No entanto, fundos não boa equipe para qual irá delegar tarefas
significam apenas dinheiro, mas, também, e estar disposto a se dedicar totalmente
apoios - tanto de políticos quanto de em prol de sua eleição, disciplinado no
especialistas e formadores de opinião. cumprimento de seu plano de campanha.
Essas tarefas são exclusivas do candidato, É preciso que ele construa uma conexão
devendo exercê-las com maestria para seu direta e empática com os cidadãos, pois,
sucesso. por mais nobres que sejam suas motiva-
ções, elas jamais serão percebidas pelo
eleitorado, caso o candidato não aprimore
sua capacidade de comunicação. É preciso
estar consciente dos sacrifícios e percalços
que a condição de candidato implica, mas
que recompensarão quando se alcançar o
momento final da vitória em uma eleição.

46
4. A mensagem
4.1 Mensagem

Mensagens que A mensagem em uma campanha eleito-


ral deve ser uma precisa declaração das
costumam centrar- razões pelas quais o candidato deve ser
se em uma palavra eleito. A mensagem deve permitir identifi-
car o candidato como o mais apto a repre-
ou um conceito são sentar as necessidades dos eleitores.
frequentemente mais
A maioria das mensagens de campanhas
poderosas e pronta- vencedoras tem pouco a ver com questões
mente entendidas de políticas públicas. Mensagens pode-
rosas são aquelas que estão relacionadas
pelos eleitores do aos atributos pessoais do candidato. Estão
que mensagens com ligadas à percepção de que se trata de
uma pessoa honesta, confiável íntegra,
muitos componentes. entre outras. Ao se realçar os atributos
pessoais do candidato, há maior possibi-
lidade de os eleitores reagirem favoravel-
mente e se conectarem com o candidato.

Mensagens que costumam girar em torno


de uma palavra ou de um conceito são
frequentemente mais poderosas e pronta-
mente entendidas pelos eleitores do que
mensagens com muitos componentes.
Assim, uma boa mensagem deve ser
simples e facilmente entendida. Ela deve
reunir o que os eleitores querem, o que o
candidato tem a oferecer e a presunção
de que seus oponentes não estão aptos a
entregar.

4. A mensagem 47
A mensagem de Mensagens têm um arranjo padrão: iden-
tificação do problema, indicação de uma
uma campanha é uma solução e realização da ação. Jamais
declaração clara sobre devem ter mais de três núcleos (informa-
ções centrais). Caso se queira transmitir
o que é a campanha muitas informações importantes em uma
e por que o candidato mesma fala, a mensagem torna-se trun-
cada, pois o espectador e o jornalista não
deve ser eleito. conseguirão reter tudo que o candidato
transmite, prejudicando a comunicação. A
melhor estratégia, nesse caso, é focar em
qual deve ser a manchete para a comuni-
cação dada e, a partir desse ponto, iniciar
a construção da mensagem. Ela deve se
conectar aos eleitores, sendo demonstrá-
vel por exemplos e transmitida de todas
as formas possíveis, pois a audiência é
múltipla e não necessariamente familiari-
zada com os jargões usados. Portanto, a
mensagem deve ser de fácil entendimento
e projeção.

A mensagem de uma campanha é uma


declaração clara sobre o que é a campa-
nha e por que o candidato deve ser eleito.
Ela deve conter as qualidades e as fraque-
zas do candidato, seu histórico pessoal e
profissional, sua experiência e inexperiên-
cia política, seus trabalhos, sua família, sua
ideologia, sua crença no papel do governo
para a sociedade, as necessidades do elei-
torado com seus medos e inseguranças e
o posicionamento do candidato sobre os
principais assuntos na ordem do dia.

48
Quando a eleição está muito concorrida, Portanto, um candidato jamais deve subes-
a mensagem também passará a incluir as timar um oponente na campanha e deve
razões pelas quais o candidato deve ser buscar, se possível, definir os concorren-
eleito a despeito dos outros concorrentes. tes potenciais antes que eles mesmos o
Portanto, outras variáveis vão surgindo ao façam. Isso significa apresentar ao eleitora-
longo da campanha e da comunicação de do as distinções comparativas entre candi-
sua mensagem: quanto mais informações dato e esses concorrentes, de modo que
se tornam disponíveis, mais mudanças e os atributos do candidato o tornem o mais
ajustes devem ser feitos na mensagem adequado para o cargo pleiteado. Assim,
elaborada. a construção da mensagem é a elabora-
ção dessa apresentação do candidato,
O fundamental é que o candidato e sua reunindo, em uma ideia sucinta, suas moti-
equipe estabeleçam para si mesmos a vações, seus qualificativos para o cargo,
identidade da candidatura e a sua apre- seus posicionamentos perante as grandes
sentação para o eleitorado. Portanto, é questões da sociedade e seus principais
importante evitar que a primeira apresen- objetivos para quando for eleito.
tação veiculada seja definida pela mídia ou
pelos concorrentes, pois eles enfatizarão, A mensagem política é formulada, antes
no candidato, os pontos que acreditam de tudo, com base em atitudes e cená-
que sejam os mais significativos (no rios. Cada elemento da comunicação
caso dos concorrentes, identificando os deve transmiti-la: o vestuário, os gestos, a
pontos fortes que eles querem que sejam linguagem corporal e facial, os cartazes de
vistos como fraquezas ou as inabilidades fundo, o lugar onde a mensagem é emitida
do candidato para se tornar um político etc. Todos os elementos comunicam e,
eleito). por isso, cada detalhe deve ser trabalhado
para que comunique o candidato ao eleito-
rado. A desatenção a qualquer um desses
elementos pode fazer com que a mensa-
gem não transmita o que se deseja ou não
chegue às pessoas adequadas.

4. A mensagem 49
Os eleitores, de um Os eleitores, de um modo em geral, se
informam politicamente de modo superfi-
modo em geral, se cial. A comunicação política atual funda-
informam politicamente menta-se muito mais em relatos e histórias
do que em explicações técnicas e de
de modo superficial. difícil entendimento pelo grande público.
A comunicação política Assim, o candidato pode ter diversas
ideias ou propostas para sua campanha,
atual fundamenta-se mas usá-las todas em um mesmo discurso
muito mais em relatos ou ao mesmo tempo dilui sua mensagem
e causa confusão entre seus eleitores7. A
e histórias do que em hora de comunicar tem que ser disciplina-
explicações técnicas e da, com controle sobre o que melhor dizer
a cada momento. É melhor limitar e simpli-
de difícil entendimento ficar as propostas sobre as quais a campa-
pelo grande público. nha será embasada e concentrar-se nelas,
do que lançar muitas mensagens que
não alcancem ninguém. Uma mensagem
corretamente comunicada é aquela da qual
o eleitor se recorda depois de ouvi-la.

7 Se, em uma entrevista, passo que, se ele falar duas


o candidato falar dez men- ou três mensagens e repeti-
sagens, mesmo que uma -las várias vezes, explican-
de cada vez, provavelmen- do em que consistem, os
te os espectadores não espectadores, ao menos, se
recordarão de nenhuma ao recordarão de uma delas.
término do programa. Ao

50
Uma mensagem corre- O boca a boca continua sendo a melhor
forma de tornar um candidato conhecido e
tamente comunicada é conseguir profundidade em sua imagem.
aquela da qual o eleitor Já foi demonstrado, sobretudo em marke-
ting, que os cidadãos tomam decisões
se recorda depois de fundamentando-se, primeiramente, nas
ouvi-la. opiniões de seus conhecidos ou familia-
res. Falar positivamente do candidato ou
de sua mensagem com alguém garante
muito mais chances de esse candidato
ser escutado e compreendido, do que se
a mensagem é recebida pela televisão ou
pelo jornal, sem qualquer referência mais
próxima que adicione confiança para quem
recebe a informação.

Ater-se à mensagem é um dos grandes


desafios de uma campanha. O candidato
deve buscar comunicar a sua mensagem
em todas as ocasiões e oportunidades
que convir, pois é a apreensão da mensa-
gem pelo eleitorado que o fortalecerá
como uma opção de voto. A reiteração da
mensagem tornará o candidato familiar ao
eleitor e constituirá sua conexão com seu
público. Portanto, em entrevistas, conver-
sas e debates, jornalistas e oponentes
tendem a levar o candidato a sair de sua
mensagem, despendendo seu tempo e
exposição com assuntos que não contri-
buem para essa identificação junto ao
eleitor.

4. A mensagem 51
4.2 A construção da
mensagem

Para manter ou conquistar Para a construção das mensagens, as


consultas são a melhor ferramenta para
seu voto, a conexão estabelecer as prioridades e decidir quais
estabelecida entre ideias comunicar em cada momento. Na
maior parte das vezes, o que é importante
candidato e eleitor deve para o candidato não é importante para o
fundamentar-se tanto no eleitor. Eles ocupam posições distintas (um
busca ser representante e o outro busca
caráter do candidato e escolher a melhor forma de ser representa-
nos atributos pessoais do), de forma que é preciso buscar auxílio
para compreender o ponto de vista do
nele identificados; quanto eleitorado, mapear seus medos e anseios e
na cultura e interesses do construir uma mensagem que se coloque
como a melhor resposta a essas expectati-
eleitor. vas. Na construção da mensagem entrarão
em jogo muitas variáveis, mas as pergun-
tas sobre os interesses e problemas que o
cidadão tem, em diferentes níveis, são as
mais úteis para essa construção:

- Identificar percepções gerais sobre


os problemas existentes no país ou
no estado onde o cidadão vive.
- Esclarecer a visão do eleitorado
sobre seu entorno imediato com
base nos problemas que sofrem na
cidade ou no bairro onde vive.
- Identificar as percepções deste
cidadão sobre seu entorno familiar,
a partir dos principais problemas que
sofrem sua família e seu ambiente
mais próximo. Esses são os proble-
mas e preocupações que realmente
afetam os cidadãos e é a esses temas
que esperam que políticos direcio-
nem sua ação.

52
Uma campanha que queira se comunicar Em 1998, uma pesquisa realizada pelo
com um grupo de eleitores deve respeitar CNI/Ibope revelou que 70% dos brasi-
suas visões de mundo e considerá-los leiros temiam perder seus empregos.
sujeitos da política e não objetos que Nos noticiários, o desemprego era
aceitarão qualquer ideia que lhes seja apresentado como principal problema
apresentada. Para manter ou conquistar social do país e tanto políticos quanto
seu voto, a conexão estabelecida entre economistas e sociólogos concordavam
candidato e eleitor deve fundamentar-se que era o principal desafio a ser enfren-
tanto no caráter do candidato e nos atribu- tado pelos candidatos eleitos no pleito
tos pessoais nele identificados; quanto na daquele ano. Como consequência, os
cultura e interesses do eleitor. dois principais candidatos ao cargo
de presidente naquele ano, Lula (PT)
Assim, para angariar todas essas infor- e Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
mações, pesquisas empíricas realizadas tornaram o desemprego principal tema
por especialistas e o apoio de lideranças de suas campanhas.
políticas locais já estabelecidas permi-
tem o mapeamento geral da visão do
eleitorado e da cultura que o permeia,
identificando suas necessidades, medos
e inseguranças. Uma vez identificado o
eleitorado em termos gerais, aconselha-
-se segmentá-lo por grupos, de acordo
com as variáveis que mais os afetam
(saúde, violência, deslocamento urbano,
educação, mercado de trabalho, discrimi-
nação etc.). A mensagem elaborada deve
ser ajustada aos anseios mais imedia-
tos do grupo para qual é proferida.

4. A mensagem 53
Em pesquisas sobre o perfil do eleitorado, O grande desafio na elaboração da mensa-
recomenda-se segmentá-lo em categorias gem é conciliar amplitude para conectar
sociológicas para facilitar a identificação o máximo de eleitores, e que, simultanea-
de suas principais preocupações. Os mente, gere uma identificação consistente
segmentos do eleitorado devem ser clas- com cada eleitor.
sificados segundo gênero, idade, escolari-
dade, nível educacional, renda, profissão, Além dos valores e crenças compartilha-
religião e localidade (zona rural ou urbana). dos, outra estratégia de construção da
Essas categorias configuram diferencia- mensagem é ter temas de campanha. Um
ções fundamentais entre os eleitores, bom tema é simples, compreensível e
revelando preocupações imediatas muito une o que eleitores querem com o que o
distintas entre si (quando não contrárias)8. candidato tem a oferecer (e para o qual os
concorrentes não seriam os mais adequa-
O próximo passo é aproximar as expecta- dos). O tema pode variar sob três formas:
tivas do eleitorado aos atributos do candi- temas de posição (tendo lados bem defi-
dato (qualidades e fraquezas). Inicialmente, nidos, o candidato pode aparentar radica-
a mensagem trará as crenças e os valores lismo); temas de consenso (assuntos com
essenciais compartilhados, em seguida os quais maior parte do eleitorado tende
conduz a assuntos mais específicos em a estar de acordo e o candidato aparenta
que o candidato está diretamente envolvi- segurança); e temas pessoais (tudo que
do (se faz uso do Sistema Único de Saúde, se fala sobre o caráter do candidato e dos
se já foi vítima da violência, seu histórico concorrentes). Enquanto os dois primeiros
no deslocamento urbano, seu nível educa- temas são de caráter objetivo, o último é
cional e quais escolas frequentou, se já completamente subjetivo e pessoal, repre-
ficou desempregado, se já foi vítima de sentando, muitas vezes, aspectos negati-
discriminação etc.). vos sobre quem se fala e, inevitavelmente,
gerando respostas.

8 Um bom exemplo e salários. Uma eleitora, que a legislação seja mais


de expectativas políticas especificamente, espera flexível de forma que ele
antagônicas se dá na estabilidade e benefícios possa contratar e demitir
relação entre empregado e que considerem as particu- em função de suas metas
empregador. Para o eleitor laridades da maternidade de produtividade, sem
empregado, os objetivos (tanto na gestação quanto restrições concernentes à
são que a legislação lhe em seu papel social de proteção social.
reserve mais benefícios, mãe). Ao passo que, para
com maior estabilidade o empregador, o objetivo é

54
Bons temas são simples e compreen- Uma vez determinados os grupos a quem
síveis. Nas eleições presidenciais de se dirige e os temas que mais favorecem a
2006, por exemplo, o candidato Cristo- campanha, a mensagem poderá ser elabo-
vam Buarque (PDT) tinha por principal rada de modo que esses eleitores que se
bandeira de campanha a “revolução conectaram com o candidato votem nele.
pela educação” e a grande maioria de Por isso, é essencial identificar e classi-
suas propostas estava relacionada a ficar a quem a mensagem será dirigida,
esta temática. Tratava-se, desta forma, antes de sua efetiva elaboração. Muitos
de um “tema de valência”, uma vez candidatos acreditam que, enquanto não
que o assunto é bem aceito pela maior houver uma mensagem e um slogan, uma
parte da população e Cristovam possuía campanha não pode começar. Entretanto,
muita segurança para falar dele: o é de vital importância determinar tudo
candidato já havia sido ministro da que seja anterior para que a mensagem
Educação e o principal responsável pela elaborada seja a mais adequada e útil para
criação e implementação do programa a campanha.
“Bolsa Escola”.
Outro importante cuidado que o candidato
deve ter ao se comunicar é saber se as
mensagens serão divulgadas de forma
oficial, não oficial ou como mensagens de
bastidores. Mesmo que não seja registra-
do, tudo que foi dito pode ser atribuído,
de alguma forma, a quem disse. Assim,
a melhor estratégia ainda é o controle
sobre o que se diz, discutindo assuntos
que surjam no debate público, não se
estagnando na discussão do oponente e
não permitindo que o repórter conduza a
entrevista. O sucesso da entrevista baseia-
-se na transmissão da mensagem e não
simplesmente na resposta automática de
perguntas, tendo em mente que tudo que
se diz poderá ser, um dia, divulgado.

4. A mensagem 55
Toda mensagem de um Em discursos para eventos, é fundamental
compreender como um discurso é constru-
discurso trata de duas ído. Toda mensagem de um discurso trata
coisas: o que se diz (a de duas coisas: o que se diz (a proprie-
dade do candidato) e porquê de se dizer
propriedade do candidato) (responsabilidade). Mais do que transmitir
e porquê de se dizer uma mensagem, o candidato deve apre-
sentar a fundamentação das informações
(responsabilidade). que divulga, de forma a torná-las críveis
Mais do que transmitir e válidas para quem as recebe. Mas, para
que se alcance o ponto de validação da
uma mensagem, o mensagem e das razões pelas quais ela é
candidato deve apresentar proferida, é preciso garantir uma primeira
impressão de confiabilidade. É necessária
a fundamentação das uma conexão imediata com a audiência a
informações que divulga, fim de que ela aceite continuar ouvindo o
restante da mensagem que é dita.
de forma a torná-las
críveis e válidas para Assim, o candidato deve demonstrar
paixão pelo assunto, estar extremamente
quem as recebe. preparado e fazer com que cada um acre-
dite que ele está falando com cada um de
seus espectadores. A percepção de um
contato direto possibilita a construção da
identificação do público com o candidato
e sua mensagem.

Para uma boa primeira impressão, na


qual o candidato esteja completamente
confortável e no domínio sobre o que
diz, é preciso que se elabore um discurso
único e intransferível. Escrever em grupo
prejudica o ritmo, a fluência e a retórica do
discurso, impossibilitando a identidade do
candidato sobre o que fala. Sugestões de
conteúdo são bem-vindas, mas somente
se o autor puder fazer as alterações e inse-
ri-las a seu modo. Projeta-se na mensa-
gem o que se quer que a audiência sinta.

56
Usar histórias pessoais Assim, o público é capaz de perceber o
candidato e seus sentimentos na mensa-
junto com dados permite gem proferida e até compartilhar medos
que o discurso equilibre e aspirações comuns. O público imediata-
mente se conectará com a mensagem se
validade e identificação conseguir perceber nela aspectos pessoais
com o público. do candidato com os quais possa se identi-
ficar, nos primeiros momentos da fala.

Usar histórias pessoais junto com dados


permite que o discurso equilibre validade
e identificação com o público. Outro ponto
importante para se conciliar é o equilíbrio
entre a mensagem que se transmite e os
interesses do grupo para o qual se está
falando. Falar sobre um assunto que não
seja de interesse da plateia (por melhor
que o discurso seja) diminui o seu efeito
de conexão, além de se colocar como um
emprego ineficiente de tempo e energia do
candidato. É fundamental falar de forma
emocional e não racional, pois o público
não se lembra da mensagem, mas sim do
que sentiu na hora em que a escutou.

4. A mensagem 57
Um bom discurso é aquele que mobiliza Para a construção do discurso em si,
o público logo depois que esse o ouviu, começa-se pela escolha de sua mensa-
levando-o a votar no candidato, a contri- gem-chave ou de sua ideia principal.
buir financeiramente ou, simplesmente, a Nesse caso, o candidato pode se concen-
falar sobre ele com outras pessoas. Portan- trar sobre qual título ele gostaria que fosse
to, é aquele que faz com que o público se vinculado à sua fala. Em geral, o título
lembre e divulgue a mensagem que ouviu. refere-se à mensagem principal. O candi-
E para ser memorável, obrigatoriamente o dato também pode fornecer um guia que
discurso deve ser agradável. Técnicas de oriente o público sobre o discurso e suas
retórica como aliteração (palavras com o principais partes, as quais ele abordará ao
mesmo som), paralelismo (usar o mesmo longo de sua fala. Normalmente, o discur-
conjunto de palavras em uma sentença) e so pode ser iniciado por sua mensagem
múltiplas frases (ao invés de uma sentença final. Isso garante que o público acom-
única e longa) são boas ferramentas que panhe o desenvolvimento do discurso à
tornam a transmissão da mensagem um medida que se torna atento às mensagens-
momento mais agradável para o ouvinte. -chaves que vão sendo expostas.
Para a fluência, transições lógicas podem
ser construídas de um tópico a outro, Apertar a mão do público e construir uma
garantindo que o público não se perca nas intimidade com ele por meio de anedotas
várias ideias expostas. antes do discurso permite que as pessoas
se sintam mais confortáveis e estejam
mais abertas ao que irão ouvir e, assim,
absorvam melhor o discurso. Contudo, se
a piada inicial não for bem contada (ou se
for inadequada à plateia), pode destruir
toda a conexão que a mensagem estabele-
ceria, pois deixará o público desconfortável
e não receptivo ao candidato. Outro impor-
tante recurso (se usado com parcimônia)
é a abertura à participação do público
no momento do discurso, o que auxilia a
familiarização com o candidato e com a
mensagem transmitida.

58
4.3 A mensagem
e os concorrentes

Se o que há de mais importante na trans- Além de toda a reflexão realizada sobre o


missão da mensagem não é ela em si, histórico de vida e perfil do líder, a conso-
mas, sim, a sua forma (e os efeitos que lidação da mensagem e sua comunicação
provoca), é fundamental estar igualmen- dependem da consideração adequada
te atento à apresentação do candidato. das características de concorrentes. Veja
Caso a vestimenta ou os hábitos gestuais aspectos que devem ser avaliados sobre os
estejam inadequados, tanto a linguagem oponentes:
corporal quanto a impostação de voz e a
própria mensagem se perdem no processo 1. Pontos fortes e pontos fracos,
da comunicação, pois qualquer apresenta- incluindo revisão pormenoriza-
ção inadequada desses elementos reterá da dessas características no nível
a total atenção do público, que ignorará pessoal: como os oponentes são
completamente a mensagem proferida. percebidos, que aparência têm, se
são bons oradores, se são vistos
como líderes etc.
2. Os antecedentes de cada um dos
oponentes, inclusive percepções
sobre atributos pessoais, histórico
e desempenho profissional, pontos
fortes e fracos na política e conside-
rações culturais.
3. A experiência política ou falta de
experiência, levando em conta se
têm carreira política, se já foram
acusados de corrupção ou associa-
dos a corrupção, se são percebidos
como líderes, se se identificam com
o eleitor médio etc.

4. A mensagem 59
4. Que empregos tiveram e como Uma vez todos os dados coletados e anali-
esses empregos têm impacto sobre sados, é necessário reduzi-los em uma
a forma com que são vistos pelos matriz que delimita o que a mensagem do
eleitores e sobre as questões impor- líder deve ser versus o que se espera que a
tantes para os eleitores. A soma de mensagem do oponente seja.
sua experiência profissional faz com
que sejam mais ou menos capazes Para uma reflexão comparativa, deve-se
de ter identificação com os eleitores? distribuir essas variáveis em uma grade
A trajetória profissional sugere que de Mensagem. Ela se divide em quatro
estejam prontos para liderar ou que categorizações e simplesmente fixa o que
não estão preparados para isso? a campanha acredita que cada candidato
5. A ideologia de cada um dos oponen- dirá sobre si mesmo e sobre seus oponen-
tes para determinar se a filosofia tes:
pessoal se entrelaça com as necessi-
dades e interesses dos eleitores.
6. Convicção sobre o papel do governo.
7. Caráter de cada um dos candidatos.
Se são percebidos como honestos e
íntegros. As questões de caráter são
quase sempre as mais importantes
para os eleitores porque são temas
que os eleitores consideram conhe-
cer melhor.
8. Que posições cada candidato
tem sobre os principais temas do
momento.

60
Tabela 1 - Mensagens
Quanto mais minuciosamente a campa-
nha conseguir precisar cada um desses
Mensagem da campanha Mensagem de seu quadrantes, mais forte será a mensagem e
oponente
menos terá que ajustar e mudar a mensa-
O que você diz sobre O que eles dizem sobre gem à medida em que a campanha se
a sua campanha? a campanha deles? desenvolva.
O que você diz a O que eles dizem sobre
respeito da campanha a sua campanha? Elemento fundamental para a construção
do seu adversário? da mensagem é o estudo do perfil dos elei-
tores e de seus anseios. Normalmente são
as pesquisas instrumentos de avaliação do
perfil e dos anseios dos eleitores. Entretan-
to, cada candidato possui elementos em
sua trajetória e contexto de vida que lhe
permite identificar e avaliar seus potenciais
eleitores.

4. A mensagem 61
4.4 Público(s) de Interesse

Somente definindo os Campanhas eleitorais podem ter todo o


dinheiro do mundo, o melhor candidato, a
públicos de interesse será melhor organização, mas se a sua mensa-
possível elaborar uma gem não dialogar com os eleitores, todas
essas outras variáveis se tornam irrelevan-
mensagem adequada. tes.

É indispensável definir os grupos que se


pretende atingir com as mensagens divul-
gadas. Somente definindo os públicos
de interesse será possível elaborar uma
mensagem adequada: sabendo a quem
nos dirigimos, poderemos saber o que
realmente temos o que dizer.

Deve-se partir da ideia inicial de que uma


campanha feita para o eleitor em geral,
sem levar em conta as peculiaridades de
cada grupo, não é uma boa campanha e
dificilmente poderá ser vencedora.
Portanto, é fundamental conhecer seus
eleitores, não eleitores, potenciais eleitores,
bem como quais são suas necessidades,
medos e inseguranças9.

Uma vez delimitado os públicos de inte-


resse, será possível elencar os elementos
a serem difundidos no plano de comuni-
cação.

9 Estratégia em campa-
nhas eleitorais, página 25.
RAPS 2014

62
Tabela 2 - Tipos de eleitores e elementos de comunicação

Tipo de eleitor Elementos a serem difundidos na mensagem


(use esta coluna para preencher)

Eleitores que estão com você apesar das circunstâncias


- conhecidos como eleitores base; eleitores radicais de
partidos, eleitores de grupos específicos (ex: sindicatos,
grupos religiosos, moradores de um território, etc.)

Eleitores que são contra você não importam as


circunstâncias - eleitores base para seu oponente.
Eleitores de grupos chave

Eleitores que conhecem o candidato mas que poderão ser


persuadidos a votar no oponente

Eleitores indecisos

4. A mensagem 63
4.5 Divulgação da
mensagem

Tão importante quanto a Tão importante quanto a definição da


mensagem de uma campanha é a escolha
definição da mensagem do canal pela qual ela será divulgada. Os
de uma campanha é a meios de comunicação são o canal através
do qual os cidadãos recebem as mensa-
escolha do canal pela gens emitidas pela campanha. Esses
qual ela será divulgada. meios incluem tanto os canais tradicionais
(imprensa escrita, rádio, televisão) como as
novas tecnologias - redes sociais, correio
eletrônico, blogs, mensagens de texto ou
qualquer outra ferramenta de comunicação
direta (eventos, folhetos etc.).

64
A importância de se fazer a melhor escolha Assim, quanto mais específicos forem os
do meio de comunicação para a divul- meios disponíveis, melhores resultados
gação da mensagem está no alcance serão obtidos. Uma maior diversidade do
dos eleitores, tanto em número quanto uso dos meios de comunicação garante
em especificidade. Por exemplo, se uma um alcance mais amplo e efetivo do eleito-
mensagem foi criada para eleitores acima rado em questão. Ser criativo é fundamen-
de 65 anos que, majoritariamente, conso- tal, pois a elaboração de peças originais
mem os meios tradicionais de comunica- que chamem a atenção na Internet, por
ção (jornais impressos, televisão, rádio), exemplo, pode se converter em notícia em
de nada serviria emitir essa mensagem outros meios de comunicação tradicionais.
pela Internet, em redes sociais ou correios Nesse caso, a mensagem será multiplicada
eletrônicos, já que nunca chegariam a partir de uma única veiculação, poupan-
ao destinatário. Da mesma forma, uma do recursos.
mensagem concebida para os jovens, cujo
meio de trabalho e consumo é a Internet,
não será eficiente se o veículo utilizado
para sua transmissão for o rádio. O mesmo
pode ser pensado a respeito de eleitores
da zona rural e da zona urbana, pouco e
muito escolarizados, entre outros.

4. A mensagem 65
No Brasil, não falta originalidade nas Contudo, se houver a necessidade de
campanhas eleitorais. Um exemplo de escolha em relação a qual meio veicular
campanha memorável é a do candidato uma mensagem, o ideal ainda permanece
Enéas Carneiro (Prona), que concorreu sendo a televisão. Embora a internet este-
à presidência da república entre 1989 ja, pouco a pouco, assumindo uma maior
e 1998, e foi eleito deputado federal importância nas campanhas eleitorais, a
em 2002. Com sua enorme barba preta, televisão, de fato, chega a todas as partes
sua careca lustrosa e seus óculos de do país, a todas as classes sociais, tornan-
miopia, Enéas ficou famoso por protes- do-se o meio mais forte de se transmitir a
tar contra os poucos segundos que mensagem de campanha.
possuía no horário eleitoral gratuito.
Para tal, sempre terminava seu discur- Outro ponto muito sensível e que deve
so utilizando o bordão “meu nome é ser a base da estratégia de comunicação
Enéas”. O candidato acabou ficando é a legislação referente à publicidade em
popular entre o eleitorado, chegando campanhas eleitorais. É preciso conhecer
a alcançar a terceira colocação nas as regras referentes ao período de campa-
eleições de 1994. nha (e as punições relativas à sua antecipa-
ção). A legislação eleitoral sofre alterações
anualmente e suas punições são severas,
portanto a publicidade de uma campanha
deve estar apoiada por uma equipe jurídica
que esteja atualizada com a lei, evitando
desgastes financeiros e de imagem.

66
4.6 A importância 5. O eleitorado
da mensagem

A mensagem é a essência de toda cam- A democracia representativa é o mode-


panha. Ela informa ao eleitor as razões lo de sistema político que a maioria dos
pelas quais o candidato busca se eleger de países do mundo almeja alcançar. Ela é a
forma direta e sucinta, construindo uma forma pela qual os governos se legitimam
conexão entre candidato e eleitor. E cada interna e externamente, de modo a validar
elemento da comunicação deve transmitir a estrutura política na qual se apoiam.
essa mensagem: o vestuário, os gestos, a Uma característica fundamental da demo-
linguagem corporal e facial, os pôsteres, cracia representativa moderna é que seus
os cenários. As consultas configuram a cidadãos deixaram de ser espectadores
melhor ferramenta para estabelecer as da vida política na qual estão inseridos,
prioridades e decidir quais ajustes devem tornando-se participantes no desenrolar da
ser feitos na mensagem principal para política à sua volta.
cada momento. Uma vez definida a men-
sagem e os grupos a quem ela se destina, Essa mudança de perfil do eleitorado pode
deve-se decidir pelos meios de comuni- ser explicada por todas as transformações
cação que transmitirão essa mensagem. que a modernidade trouxe para a vida co-
Tanto meios tradicionais quanto alterna- tidiana: o crescimento populacional, a me-
tivos devem ser utilizados, pois a mensa- lhoria na qualidade de vida, a urbanização,
gem deve chegar às pessoas adequadas, a facilidade e a rapidez no compartilha-
no momento mais apropriado. Ou seja: o mento da informação, entre outras. Todas
emprego dos meios de comunicação deve essas mudanças tiveram uma implicação
propiciar a construção da conexão mais direta na forma de se fazer política e,
forte entre candidato e eleitor. consequentemente, de se fazer campanha,
uma vez que o candidato já não consegue
conhecer pessoalmente todas as pessoas
que votam em sua região.

5. O eleitorado 67
A política em áreas de grandes concentra- Em pequenas cidades, a comunicação
ções populacionais se diferencia totalmen- do candidato com o eleitor é mais sim-
te daquela praticada em lugares menores. plificada do que nos grandes centros
Por exemplo, quando os eleitores são em urbanos. Enquanto nos pequenos muni-
número reduzido, a relação com o can- cípios a campanha ainda é feita na inte-
didato é mais pessoal e se mostra mais ração corpo a corpo e no cafezinho de
importante que a propaganda através dos casa em casa, nas metrópoles, a cam-
meios de comunicação coletivos. Se os panha é feita por equipes especializa-
cidadãos são em número maior, as cam- das, que usam desde redes sociais até a
panhas são muito mais midiáticas, com o convocação da militância para grandes
intuito de alcançar o maior número de pes- comícios, a fim de dar mais visibilidade
soas possível com a mesma mensagem. ao candidato. Desta forma, o custo de
Os novos eleitores compõem um conjunto uma campanha em uma grande cidade
variado, e cada local tem suas peculiarida- é muito maior se comparado ao custo
des, tornando impossível uma única forma em uma pequena cidade. Nas eleições
de abordagem eleitoral. de 2008, em Minas Gerais, por exem-
plo, enquanto o candidato a prefeito
Marcio Lacerda (PSB) registrou no TRE
que pretendia gastar R$ 30 milhões em
sua campanha, o candidato à prefeitu-
ra de Presidente Kubitschek, Laurinho
(PMDB), declarou à Justiça Eleitoral um
gasto de apenas R$ 20.961,34.

68
As campanhas modernas As campanhas modernas já não podem se
basear em uma relação unidirecional, na
já não podem se qual o candidato emite uma mensagem e
basear em uma relação o cidadão a recebe. O momento de crise
da política e de representatividade deman-
unidirecional, na qual da, da campanha ao pleito, reciprocidade:
o candidato emite uma é preciso estabelecer um diálogo entre
candidatos e eleitores. Os meios de comu-
mensagem e o cidadão a nicação servem aos primeiros para emitir
recebe. suas mensagens e para que estas che-
guem ao grupo de pessoas que conside-
rem mais oportuno. Dessa forma, o eleitor
obtém uma gama ampla de informações,
tidas como neutras, a serem interpreta-
das pelo emissor imediato e pelo próprio
eleitorado a partir dos pontos de vista
pessoais, em um processo de construção
de uma verdade própria que fortaleça sua
independência como votante.

5. O eleitorado 69
O perfil do eleitorado Se os eleitores não estão informados sobre
o candidato houve uma falha da campa-
atual é de eleitores nha, que impede que o votante construa
individuais, urbanos uma imagem sobre o candidato e, pior,
que acabe por tecer uma imagem do
e que votam de forma candidato que seja alimentada ou apenas
autônoma, uma vez pela mídia ou por adversários. Por isso, as
consultas, as ferramentas de pesquisa e
que têm suas próprias as novas tecnologias devem ser utilizadas.
preocupações e Elas permitem um contato mais direto com
o eleitorado, possibilitando conhecê-lo e
problemas e buscam compreender suas demandas e idiossin-
o candidato que propõe crasias, de forma a tornar a ação política
exatamente aquilo que ela deve ser - a
solucioná-los. administração eficiente do bem público
de acordo com os próprios anseios da
população.

O perfil do eleitorado atual é de eleitores


individuais, urbanos e que votam de forma
autônoma, uma vez que têm suas próprias
preocupações e problemas e buscam o
candidato que propõe solucioná-los. A
informação mais facilmente disponível
dota os eleitores de maior independência
decisória, sem necessidade de que alguém
em especial oriente ou valide suas esco-
lhas políticas.

70
Outra característica dos eleitores atuais é Uma reflexão importante sobre as
o predomínio das preocupações privadas relações entre eleitorado, imagem de
sobre as públicas. Portanto, por mais que representantes e políticos pode ser feita
o nível educacional tenha melhorado, ou a partir da análise sobre os índices de
seja, a capacidade de compreensão e críti- governismo do Congresso Nacional.
ca seja mais forte hoje do que no passado, Segundo José Roberto de Toledo,
há um desinteresse geral no envolvimento há uma correlação positiva entre a
direto com a política. Os eleitores têm popularidade do presidente da república
mais acesso à informação, mas isso não e a taxa de governismo dos partidos
se traduz em uma politização de suas de sua base parlamentar. Ou seja,
preocupações cotidianas. Entretanto, essa quanto maior apoio o presidente tem
situação se altera no período eleitoral, pois da população, mais alinhados a suas
este é o único momento em que os elei- propostas os parlamentares costumam
tores estão concretamente envolvidos na votar.
vida política, por conta de sua preocupa-
ção mais aguda sobre os possíveis efeitos O contrário é verdadeiro e podemos
da política sobre sua vida. Esse fenômeno dizer que foi o que se verificou no
fica mais claro em tempo de crise política segundo mandato de Dilma Rousseff:
e econômica, em que ganham destaque no a partir das manifestações de 2013, a
noticiário nacional as informações sobre presidente teve quedas sucessivas na
congressistas, decisões políticas e seus popularidade e agudizou-se a tendência
efeitos na economia e, especialmente, na de afastamento e pulverização do
vida cotidiana dos cidadãos. comportamento governista dos
parlamentares. Evidentemente,
influíram nesse processo a cobertura
midiática sobre os fatos, como meio
de medição e indicação da temperatura
e direções da opinião pública.

5. O eleitorado 71
Para ganhar votos não Contudo, para ganhar votos não basta
conhecer as novas qualidades ou formas
basta conhecer as novas de ser dos cidadãos. É necessário conhe-
qualidades ou formas cer os motivos que os levam a votar em
determinado candidato. Para isso, não há
de ser dos cidadãos. É uma resposta única, uma vez que as vari-
necessário conhecer os áveis do momento político em que votam
os eleitores influenciam fortemente em
motivos que os levam a suas escolhas. Mas, existe um elemento
votar em determinado universal: os sentimentos permitem enten-
der a forma de movimentação dos eleito-
candidato. res durante a eleição. Se forem compreen-
didos e analisados, é possível elaborar uma
forma para a estratégia da campanha que
possibilite uma identificação entre eleitor e
candidato, a qual resultará em votos.

Por um lado, há as afetividades. A políti-


ca é passional e por isso é vital conhecer
como os cidadãos enxergam o candidato
e quais sentimentos os candidatos des-
pertam nos eleitores. Caso haja simpatia,
há possibilidades reais de que os eleitores
votem em determinado candidato. Se há
rejeição, haverá muito mais dificuldade de
convencimento.

72
Há, também, os temores. A maior parte O voto negativo ocorre quando um
dos eleitores não se interessa pelos pro- o eleitor vota em um candidato para
gramas eleitorais nem pelas propostas que impedir que outro candidato seja eleito.
um candidato difunde, salvo se algum des- Como exemplo, destaca-se um caso de
ses elementos representar uma ameaça rejeição a um candidato que tentava
a seu próprio bem-estar, de sua família e ser reeleito. Em 2006, as eleições para
amigos. Para a maioria, interessa o candi- governador no Maranhão foram ven-
dato enquanto indivíduo - sua honestidade, cidas, pela primeira vez em 40 anos,
sua empatia - e não um discurso repleto por um adversário da família Sarney,
de números e de promessas por cumprir. que controlava os principais meios de
Embora a técnica e as boas práticas ge- comunicação (emissoras de rádio e TV,
renciais sejam necessárias à condução da jornais impressos e revistas) do Esta-
coisa pública, os eleitores são emocionais do, além dos Tribunais de Contas do
e votam em líderes com sentimentos, não Estado e de Justiça, e de vários cargos
em gerentes eficientes. federais. Mesmo com todo este aparato
político e midiático, o eleitorado ma-
Com muita frequência, os eleitores tam- ranhense, principalmente o da capital,
bém votam estimulados por ressentimen- São Luís, preferiu eleger Jackson Lago
tos contra alguém ou alguma coisa; ou (PDT). Tal fato se deu não devido a uma
simplesmente votam naquele candidato identificação com o candidato ou com
que expressa esses ressentimentos ou que suas propostas técnicas de campanha,
proponha medidas que prometam satisfa- mas, principalmente, porque os eleito-
zer esses anseios. Mas, os cidadãos não se res não mais toleravam a manutenção
movem somente em busca de seu próprio da família Sarney no poder.
bem-estar, eles também votam contra
quem representa aquilo que odeiam ou
rejeitam. Esta é base do voto negativo: o
cidadão prefere continuar como está para
não deixar que outras pessoas fiquem em
melhor posição. Trava-se uma batalha psi-
cológica entre a inveja e o bem-estar que
não é facilmente elucidada e que precisará
de especialistas em pesquisa qualitativa e
quantitativa que saibam identificar quem
são esses eleitores, onde estão e o motivo
que os leva a agir dessa maneira.

5. O eleitorado 73
Ações não calculadas que Assim, temor e medo podem ser elemen-
tos constitutivos da estratégia de campa-
mobilizam percepções de nha. É preciso identificar quais elementos
medo no eleitor podem produzem temores na população e a levam
a votar em quem aparentemente pode
provocar um resultado defendê-la. Se a campanha for centrada
contrário ao esperado, unicamente sobre os temores dos cida-
dãos, ela se converterá automaticamente
transformando a eleição em campanha negativa. Ao mesmo tempo
em uma competição pelo em que muitos consultores políticos são
contrários esse tipo de uso, outros o acei-
“mal menor”. tam situações excepcionais. Em qualquer
caso, há que se levar em conta que uma
campanha negativa necessita de aten-
ção e cuidado: ações não calculadas que
mobilizam percepções de medo no eleitor
podem provocar um resultado contrário
ao esperado, transformando a eleição
em uma competição pelo “mal menor”,
que compromete seriamente a relação de
qualquer candidato com o eleitor e com o
processo eleitoral como um todo.

74
Outro sentimento que faz Outro sentimento que faz parte da polí-
tica e que é fortemente considerado no
parte da política e que é momento do voto é a necessidade. Se os
fortemente considerado eleitores necessitam de algo e o candi-
dato propõe satisfazer essa necessidade,
no momento do voto é a angariam-se votos. Nesse caso, o grande
necessidade. desafio reside em saber o que é necessário
para as pessoas ou quais são suas priorida-
des. As pessoas têm suas próprias ambi-
ções e seu próprio conceito de felicidade,
que nem sempre são os mais lógicos. É
preciso conhecer os eleitores, saber quais
são suas necessidades, respeitá-los e não
os julgar. Além disso, é necessário dialogar
com eles para canalizar suas necessidades,
seus sonhos e seus temores.

Para entender o eleitor, a estratégia de


campanha deve determinar quais são os
grupos de eleitores a serem visados pelo
candidato, estudar suas aflições, analisá-
-las e, a partir daí, conceber um plano
estratégico. O plano estratégico deve dar
uma resposta aos sentimentos negativos
e positivos do eleitorado, partindo do
entendimento de que eles votam guiados
por um conjunto de sentimentos que nem
sempre podem verbalizar.

5. O eleitorado 75
5.1 Análise de conjuntura

A análise de conjuntura eleitoral representa Saber se os eleitores querem que a eleição


uma maneira de melhor conhecer o eleitor constitua em mudança ou continuidade
e o ambiente no qual a eleição ocorre. do rumo político tomado até o momento
Ela é fundamental para garantir a maior é crucial, principalmente para candidatos
eficiência na estratégia de campanha, pois que buscam reeleição. Se os cidadãos
informa ao candidato o cenário e o público desejam continuidade, o candidato à ree-
com o qual estará em intensa relação leição encontra um cenário mais vantajoso
durante seus meses de campanha. A con- para sua campanha. Mas, se o cenário
juntura eleitoral abrange questões básicas é de descontentamento e desejo por
como o tipo de eleição de que se participa, mudança, o restante dos candidatos tem
o calendário eleitoral (início e fim do perío- uma grande oportunidade de se posicionar
do eleitoral, a data das eleições), até dados como uma nova opção política.
mais concretos sobre a zona eleitoral na
qual o candidato concorre, além do ânimo Conhecer o grau de interesse e participa-
dos eleitores quanto às eleições. ção dos cidadãos na política também é
muito importante para o desenho da estra-
O cenário muda para cada eleição e, para tégia. Uma campanha eleitoral destinada
cada campanha, será preciso conhecer a uma população pouco interessada em
suas características particulares que política exige muito mais esforço em pu-
influem diretamente no planejamento es- blicidade. A forma do candidato se dirigir
tratégico do candidato. É preciso conhecer e, principalmente, os meios pelos quais ele
a opinião dos cidadãos diante da situação o fará, serão determinados em função dos
geral da zona eleitoral e quais expectativas interesses do eleitorado.
possuem em curto, médio e longo prazo
com relação a esse contexto (se espe-
ram que o cenário vá melhorar, piorar ou
manter-se igual). Com essas variáveis, é
possível determinar se a população está
otimista ou pessimista frente às eleições.
Um eleitorado otimista é mais fácil de
mobilizar e entusiasmar, ao passo que um
eleitorado pessimista necessita de mais
motivos e razões para votar em um candi-
dato (e não anular o seu voto).

76
5.2 Tipos de votos

Outra informação crucial é a medida em Uma campanha elaborada para o eleitor


que os eleitores já decidiram seus votos em geral, sem levar em conta as pecu-
ou em qual momento estão habituados liaridades de cada grupo, não é uma boa
a fazê-lo. Por exemplo, a estratégia de campanha e dificilmente será vencedora.
comunicação será diferente em um lugar Na estratégia, com base nas pesquisas
onde a maioria dos cidadãos declara realizadas, devem ser definidos os grupos
decidir seu voto durante a última semana que se quer atingir com as mensagens
da campanha antes da eleição, em relação divulgadas - os denominados targets,
a uma zona onde 75% já decidiram o voto nichos ou grupos objetivos. Somente após
com meses de antecedência. A estratégia a definição dos targets é possível elabo-
de uma campanha deve considerar o ritmo rar uma mensagem adequada, pois ao se
do comportamento do eleitorado, de forma conhecer a quem se dirige, determina-se o
a organizar quais informações devem ser que realmente é preciso dizer.
publicadas e em qual momento da campa-
nha, de modo a surtir o máximo de efeito A partir de uma pesquisa inicial, elaboram-
no convencimento do eleitor. -se os modelos lógicos que permitem
precisar a quais grupos objetivos deve-se
Assim, a profundidade do conhecimento dirigir para ganhar votos e de quais grupos
sobre a conjuntura eleitoral depende sem- é possível retirar votos dos concorrentes
pre de um fator-chave: o tempo. Quanto para conseguir um melhor resultado nas
mais tempo se tem para trabalhar cenários eleições. De um modo geral, busca-se de-
e aspectos conjunturais, mais se pode terminar quem são os eleitores que podem
influir em uma eleição. Alguns consultores aderir mais facilmente ao candidato.
têm por norma não trabalhar em campa-
nhas em que o tempo que resta até o dia Normalmente, a equipe de campanha tra-
da eleição seja inferior a um ano. Logo, o balha com cinco modelos lógicos, a partir
ideal é começar com dois anos de ante- dos quais podem ser criados diferentes
cedência, pois é a pesquisa sistemática, o cenários que definirão a estratégia de co-
treinamento intensivo e a dedicação plena municação da mensagem. Esses modelos
de um candidato que o levará ao sucesso, lógicos são construídos por meio de uma
e não um conjunto de ideias aleatórias análise profunda de pesquisas e consultas
elaboradas poucos meses antes da jornada a eleitores, por meio de perguntas de si-
eleitoral. mulação eleitoral, identificação ideológica
do eleitor ou de seu interesse pela política,
entre outros. Essas informações possibili-
tam a categorização de eleitores que são
classificados segundo a sua orientação
com relação ao candidato.

5. O eleitorado 77
5.2.1 Voto duro ou voto 5.2.2 Voto impossível
de base ou voto de base dos
concorrentes

O Voto Duro ou Voto de Base é o grupo É o grupo mais distante do candidato, pois
de pessoas que vota no candidato e é esses eleitores não votam nele e estarão
coerente nas suas respostas acerca do sempre contra todas as suas mensagens e
mesmo. Esses eleitores têm boa imagem ações, detestando tudo o que ele represen-
do candidato, confiam em suas decisões, ta e o envolve. Eles são contra o candidato
aprovam sua gestão e gostam de sua per- de qualquer maneira e são, geralmente,
sonalidade, ou seja: votam nele. Eles não formados por eleitores do núcleo dos parti-
mudarão de posição facilmente, portanto dos de oposição, assim como por eleitores
não exigem um esforço de campanha para do círculo eleitoral da oposição. Diante de
que se consiga sua adesão. Esses eleito- qualquer ataque, esse eleitor acredita facil-
res não acreditarão nos ataques feitos por mente nas informações negativas veicu-
outros políticos ao candidato ou ao partido ladas e reforça a sua posição previamente
que defendem e o mais provável é que antagônica. Portanto, a equipe de campa-
reforcem sua opinião e fidelidade diante nha não deve se esforçar para atraí-lo.
de acusações ou difamações contra seu
candidato. Muitas vezes podem fazer parte Entretanto, é possível trabalhar estrategi-
do núcleo do partido. camente com esse grupo. Caso o candida-
to se posicione antagonicamente a esses
eleitores, é possível que ele se reafirme
junto ao grupo de eleitores persuasíveis,
garantindo mais votos. Ao reforçar o
antagonismo do candidato com relação a
esse grupo (principalmente com relação ao
oponente a quem eles apoiam), os ódios
se exacerbam, provocando a solidariedade
e o posicionamento favorável involuntário
dos votantes maleáveis.

78
5.2.3 Voto maleável ou 5.2.4 Voto difícil ou
persuasível oscilante persuasível oscilante
para o candidato contra o candidato

É o grupo de cidadãos que se declara a É o grupo de eleitores que não vota no


favor de um candidato, mas algumas de candidato e ainda costuma ser contra suas
suas respostas são contraditórias, configu- ideias e mensagens emitidas, não simpati-
rando amplas possibilidades de mudança. zando com seu entorno. Logo, esses elei-
Eles votarão no candidato, mas não apre- tores são difíceis de atrair, pois se inclinam
ciam sua personalidade, estão em desacor- para o oponente. Diante de um ataque ao
do com relação a várias de suas ideias ou, candidato, é provável que esse grupo de
simplesmente, não têm má impressão dos pessoas acredite, se alegre e mantenha a
outros adversários. Eles se inclinam para o distância (ou até a aumente) com relação
candidato, mas podem ser persuadidos a ao candidato do qual já tenha uma má
votar em qualquer um de seus oponentes. impressão. Contudo, eles ainda podem ser
persuadidos a votar no candidato por meio
Portanto, é necessário trabalhar para atraí- de um grande esforço de campanha.
-los e para identificar quais dos outros
adversários podem também convencê-los Assim, a recomendação lógica seria não
para, assim, tentar impedi-los. Por mais gastar tempo, capital humano e recursos
que haja uma inclinação pelo candidato, na tentativa de convencer este eleitor, mas
esses votos podem mover-se para qual- isto dependerá dos cálculos da análise
quer direção. Normalmente, em pesqui- de conjuntura: se apenas os votos duros,
sas eleitorais, são esses os votos que maleáveis e possíveis forem suficientes
promovem a margem da vitória a quem para ganhar a eleição, é indicado dedicar-
conseguiram, com sucesso, se comunicar, -se somente a estes, pois são estes grupos
convencendo-os a dar apoio. que apresentam uma possibilidade real de
convencimento. Caso não sejam suficien-
tes, é necessário investir tempo, equipe
e recursos nos votos difíceis. Eles serão
decisivos para uma vitória nas urnas, pois,
mesmo que esses eleitores se inclinem
na direção de um dos oponentes, eles
nada mais são do que outro segmento de
oscilantes atrás dos quais a campanha terá
que ir.

5. O eleitorado 79
5.2.5 Votos possíveis
ou indecisos

Esse grupo é representado por aqueles Eleitores indecisos são passíveis de


eleitores que realmente não têm prefe- convencimento e, por isso, os candi-
rência por qualquer dos candidatos que datos farão de tudo por seus votos.
concorrem. Contudo, por mais indefinidos Em um país onde o apadrinhamento
que sejam, eles ainda configuram um im- político é comum, menções a políticos
portante bloco para o candidato, pois são famosos ou a artistas são costumeiras
plenamente passíveis de convencimento. às vésperas de um pleito. Nas eleições
Por mais que não tenham decidido pelo para prefeito de Fortaleza, em 2012,
candidato, esses eleitores compartilham por exemplo, Elmano de Freitas (PT) e
muitos temas de sua campanha, têm uma Roberto Claudio (PSB) usaram exaus-
boa imagem do mesmo ou, simplesmen- tivamente em seus discursos nomes
te, desconhecem-no e, portanto, não o de relevo no cenário político nacional
desabonam. que apoiavam suas candidaturas (tais
como Lula, Marina Silva, Ciro Gomes
e até mesmo o jogador Romário). Com
as pesquisas de opinião apontando
um empate técnico, cada voto faria a
diferença, e a conquista do eleitorado
indeciso seria fundamental na vitória de
Roberto Cláudio.

80
Esse grupo de eleitores pode ser composto Em tese, cada campanha pode contar com
de votos maleáveis de alguns dos adversá- a maior parte dos votos de base e, além
rios ou ainda daqueles que não decidiram desses, precisa convencer um segmento
em quem votar. Assim, eles configuram mais amplo de eleitores das categorias
o alvo principal da campanha, e trabalhar maleáveis, possíveis e difíceis para ganhar
para conseguir sua adesão é primordial. a eleição.
Esses eleitores de fato não afirmam votar
no candidato no momento em que são
consultados, contudo, se esse candidato
souber se comunicar, ele poderá conseguir
esse voto. Logo, os votos possíveis são o
fiel da balança.

votos duros 5%
votos maleáveis 25%
votos possíveis 40%
votos difíceis 25%
votos impossíveis 5%

5. O eleitorado 81
5.3 Segmentação do
eleitorado

A segmentação do eleitorado consiste na Após a reunião dos dados, a análise do


verificação dos padrões passados de vota- comportamento eleitoral passa por identifi-
ção dos grupos eleitorais para determinar car e selecionar as eleições mais similares,
seu provável comportamento eleitoral. de modo a obter um efeito comparativo
Essa ação possibilita que as campanhas com a campanha corrente. Isso significa
identifiquem as áreas consolidadas para categorizar os dados segundo região, nível
o candidato, as áreas consolidadas dos federativo (federal, estadual ou municipal)
concorrentes e as áreas com alta con- e poder (executivo ou legislativo). As cam-
centração de eleitores persuasíveis. O panhas normalmente comparam números
objetivo principal é o emprego eficiente de mais de uma eleição, para assim, fazer
dos recursos e do tempo de campanha a média dos resultados.
do candidato nas áreas em que ele, de
fato, possa ganhar votos. Para a realização Dessa forma, a mensuração para o melhor
desse mapeamento, são observadas três desempenho da campanha se dará por
variáveis: votos ao candidato, votos válidos meio de cálculos matemáticos básicos,
totais e o tamanho da zona eleitoral. determinando áreas prioritárias nas quais
a equipe de campanha decida segmentar
Para a obtenção das estatísticas eleito- eleitores. Existem várias fórmulas básicas
rais (incluindo votos do candidato, votos a ser empregadas para distinguir os eleito-
válidos totais e tamanho da zona eleitoral) res de base e os oscilantes.
são compilados os dados completos das
últimas eleições ocorridas na zona eleitoral
de interesse. Esses dados demonstram
os totais de votos para todos os candida-
tos, em cada seção eleitoral e podem ser
adquiridos junto aos tribunais regionais
eleitorais ou junto ao próprio Tribunal Su-
perior Eleitoral (TSE).

82
5.3.1 Nível intermediário ou
percentagem de esforço de
segmentação

Essa segmentação provê uma visão geral Assim, se uma área corresponde a 20%
das principais subdivisões eleitorais do dos votos que o candidato recebeu,
país (nível federal, estadual ou municipal). provavelmente ela deverá demandar 20%
Sob este cálculo, pode-se determinar que do tempo do candidato e dos recursos de
percentual dos votos é esperado para campanha.
o candidato, compilado para cada zona
eleitoral. Essas informações permitirão de- É importante ressaltar que esses cálculos
terminar a alocação adequada de recursos são, fundamentalmente, um guia de ação
(publicidade, visitas, eventos, encontros para a campanha. Assim, para toda deci-
etc.) para as várias regiões onde o candi- são estratégica é fundamental que se leve
dato pode receber mais votos. em conta a experiência política do candi-
dato e da equipe de campanha, os dados
O cálculo para o nível intermediário ou per- do mercado de comunicação, a história
centagem de esforço de segmentação é: da região, entre outros fatores igualmente
influentes.

n° de votos válidos
recebidos pelo
candidato na região
% de votos do
candidato por região n° total de votos
válidos recebidos pelo
candidato

5. O eleitorado 83
5.3.2 Segmentação
por zona eleitoral

É uma segmentação muito mais específica Desempenho


do que a de nível intermediário. Usada, São os padrões de votos em uma circuns-
preferencialmente, para determinar a alo- crição eleitoral. Por meio dessa mensura-
cação de recursos, de tempo e de funcio- ção, determina-se a percentagem da força
nários de uma equipe de campanha para de uma legenda ou candidato em uma
o trabalho de contato com os eleitores (se zona eleitoral.
por meio de telemarketing, visitas porta a
porta ou mala direta). Para o cálculo, deve-
-se observar as quatro características de n° de votos em
candidato ou legenda X
cada zona eleitoral: em dada circunscrição
Desempenho
Tamanho n° total de votos válidos
em dada circunscrição
É o total de eleitores registrados nessa
zona.

Efetividade
É o resultado da divisão dos votos válidos
(em candidatos ou legendas) pelo total de
eleitores inscritos em uma dada circuns-
crição.

votos em um candidato
ou legenda
% de votos válidos
total de eleitores
inscritos em dada
circunscrição)

84
Persuasão Assim, subtrai-se a baixa percentagem
Mensura-se o grau de independência (dada ao candidato menos popular) da alta
nos padrões de voto em uma dada percentagem (dada ao candidato mais po-
circunscrição eleitoral. São os eleitores pular) para determinar o grau de persuasão
que não votam sempre na mesma legenda sobre a respectiva circunscrição eleitoral
ou candidato, mas que tendem a distribuir sob análise.
seus votos entre diferentes legendas em
uma mesma eleição ou que alternam A equipe de campanha precisará fazer o
entre legendas, em eleições sucessivas. mesmo para cada zona eleitoral em que
A importância dessa variável está na iden- o candidato concorre. Após esse levan-
tificação dos votos oscilantes. tamento, as zonas eleitorais devem ser
ranqueadas em ordem de prioridade para
1. Encontre o candidato de sua legenda as atividades de publicidade elaboradas
que obteve o mais alto percentual de pela equipe de comunicação.
votos e o candidato de sua legenda
que obteve o mais baixo percentual Obviamente, os critérios de prioridade para
de votos em dada circunscrição; a elaboração da estratégia da campanha
2. Depois, divida o total de votos para devem abranger o tamanho e a efetividade
cada candidato pelo número total de das zonas eleitorais, para além do próprio
votos dados para TODOS os candida- grau de persuasão. Desse modo, entre
tos na dada circunscrição: duas zonas eleitorais com o mesmo grau
de persuasão, a maior e mais efetiva será
priorizada com relação às correlatas.
n° de votos do n° de votos do
candidato menos candidato mais
votado votado

total de votos válidos total de votos válidos

5. O eleitorado 85
Para determinar o número de eleitores per- Então, para determinar o número de
suasíveis, deve-se multiplicar a percenta- eleitores persuasíveis que devem votar
gem de eleitores persuasíveis que votaram de acordo com o desempenho passado,
pelo número de eleitores da zona eleitoral. multiplique a percentagem de eleitores
persuasíveis na zona eleitoral que votaram
pelo número de votos válidos (efetividade).
Persuasão X Tamanho número total de eleitores
persuasíveis na zona
eleitoral
Persuasão X Efetividade n° total de eleitores
persuadíveis com votos
Assim, em uma zona eleitoral com 1.000 válidos
eleitores inscritos (tamanho), efetivida-
de de 900 votos e 11% de persuasão (a
Assim, em uma zona eleitoral com taxa de
percentagem do candidato mais votado foi
11% de persuasão e com 900 votos válidos
de 66% e a do candidato menos votado de
(efetividade):
55%), o número de votos persuasíveis na
zona eleitoral como um todo é:
0.11 X 900 99 eleitores
persuadíveis que
0.11 X 1000 110 eleitores mantêm padrão de
persuadíveis votação

86
5.4 Estratégias de atração

Com isso, a equipe de campanha deve A melhor forma de se estabelecer uma


categorizar, decrescentemente, as zonas conexão com os eleitores que permita que
eleitorais, iniciando por aquelas que apre- esses se identifiquem com o candidato é
sentam os mais altos níveis de persuasão. conhecendo e compartilhando com eles:
Após esse levantamento, deve-se codificar - o caráter do candidato (valores como
por cores as zonas eleitorais em faixas de honestidade são fundamentalmente
persuasão e identificá-las em um mapa. esperados daquele que busca a opor-
Essa análise mostrará exatamente onde tunidade de representar os anseios
estão os eleitores base e os eleitores osci- do povo);
lantes, indicando uma importante orienta- - a cultura (símbolos, festas, heróis,
ção para a estratégia de comunicação do enfim, os elementos do imaginário
candidato (onde despender mais tempo e coletivo que tornam o candidato uma
recursos para obter mais votos). pessoa como qualquer outro eleitor);
- atributos pessoais (histórico socio-
econômico, formação educacional,
geração, gênero, religião, origem);
- temáticas locais (ao invés de temas
amplos e nacionais, pode-se esta-
belecer uma conexão tratando de
assuntos que atingem localmente os
eleitores, tornando o candidato mais
próximo dessa realidade).

Também é crítico que se transmita a


mensagem para os eleitores de base do
candidato, para não os alienar, enquanto
a campanha busca alcançar os eleitores
persuasíveis que não se apresentam tão
identificados com o candidato e sua legen-
da. Este é um ponto delicado no trabalho
de mensagem da campanha.

5. O eleitorado 87
5.5 A prospecção
de eleitores

Quando a equipe de campanha concluir A prospecção de eleitores é uma atividade


a tarefa de identificação e categorização, que envolve um grande quadro de funcio-
deve-se iniciar a prospecção de eleitores, nários e consome um volume expressivo
iniciando os trabalhos pelas áreas do país de recursos. Para que se determine a base
onde se identificou mais eleitores persua- do candidato e dos oponentes e para
síveis. O objetivo é a realização do contato que se possam distingui-las dos eleitores
direto com os eleitores a quem se quer persuasíveis, a equipe de campanha terá
convencer. que despender recursos para a atividade
de prospecção, para que se possa garantir
A prospecção de eleitores é normalmente um gasto eficiente dos recursos posterior-
conduzida por meio de telefone ou visitas mente.
porta a porta, com funcionários promoven-
do o que é conhecido como pesquisa às Uma vez que os eleitores de base são
cegas de eleitores. Uma pesquisa à cega conhecidos, a campanha pode então
é aquela em que o entrevistador não iden- focar seus recursos numa variedade de
tifica para quem a prospecção está sendo programas de persuasão para os eleitores
realizada. Cientificamente, a identificação oscilantes. Essa ação é valiosa para ex-
inicial do candidato resulta em um viés pandir os votos no candidato e, ao mesmo
da pesquisa, pois ela não busca mapear o tempo, para poupar milhões em recursos,
eleitorado, mas sim promover o candidato. já que não será necessário gastar em pro-
gramas de persuasão muito dispendiosos
De todo modo, é preciso determinar se a (como anúncios de televisão, mala direta,
campanha quer usar esse tipo de sonda- rádio) no intuito de cativar eleitores que
gem para lançar o nome do candidato para já apoiam o candidato ou que jamais o
o público, ao mesmo tempo em que esteja apoiarão.
prospectando eleitores. Essa técnica não
é inédita e ela é mais apropriada para elei-
ções em que o candidato precise construir
a identificação do seu nome.

88
5.6 A importância
do eleitorado

A mensagem é vital para determinar a levando em consideração: o tamanho


melhor comunicação com os eleitores, (quantidade de eleitores); efetividade
enquanto a segmentação é crucial para (votos válidos); performance (número de
identificar os eleitores de base e os persu- votos no candidato pelo número de votos
asíveis, ou seja, para delimitar em quem totais); e persuasão (independência no
concentrar as atividades de convencimen- padrão de votos) das zonas eleitorais. Com
to. O público formado por eleitores, mídia, esse resultado, gera-se um ranque das
formadores de opinião e líderes de partidos zonas eleitorais prioritárias.
deve ser sistematicamente analisado para
prover as condições ideais de elaboração A utilidade dos modelos de dureza de voto
e transmissão da mensagem, tornando a (simpatizantes duros, maleáveis, possíveis,
campanha mais eficiente. difíceis e impossíveis) é enorme, mas o
ideal, do ponto de vista profissional, é
Para conquistar o voto dos persuasíveis, a conseguir que eles sejam bem construídos
conexão entre candidato e eleitor deve ser para que de fato forneçam informações
estabelecida por meio da identificação do estratégicas para a campanha. Para isso
caráter, da cultura, dos atributos pessoais são decisivas a preparação e a experiência
e dos assuntos locais. E a mensagem deve dos consultores que os elaborem.
buscar atrair os persuasíveis (os menos
ideologizados), sem alienar a base. Esses modelos permitem conhecer de
maneira objetiva a evolução da situação
É possível fazer cálculos quanto ao tempo do candidato sobre o eleitorado e quais
e recursos a serem gastos para cada zona são os adversários que podem retirar votos
eleitoral (número de votos ganhos em cada dele, e dos quais também se pode tomar
cidade pelo total de votos adquiridos). E votos. Contudo, não basta a elaboração
também se calcular o quanto despender dos modelos de segmentação, é essen-
cial analisá-los e cruzá-los, trabalhando
todos os cenários possíveis. Dessa forma,
garante-se a informação crucial para a atu-
ação eficiente da campanha e o sucesso
no pleito.

5. O eleitorado 89
6. A equipe de campanha 6.1 Recrutamento

Uma boa equipe de campanha é essencial A equipe de campanha pode ser defini-
para o êxito eleitoral. Para isso, é neces- da a partir da natureza do contato e seu
sário definir o perfil adequado a cada histórico de envolvimento político, ou seja,
função e ter profissionais que, além da por relações interpessoais já estabelecidas
competência técnica, também acreditem com o candidato, como o caso de familia-
no candidato e no seu objetivo de se tornar res, amigos e colegas de trabalho; e, por
político. Profissionais ruins ou desmotiva- contatos políticos, ou seja, aqueles que
dos podem arruinar uma campanha. já trabalharam em outras campanhas de
políticos já eleitos da legenda, partidários e
O perfil, em geral, se divide entre profissio- aposentados.
nais muito técnicos, contratados pontu-
almente para a execução de determinada Essa composição deve ser feita com
tarefa; e aqueles motivados ideologica- antecedência e planejamento, evitando
mente, que auxiliarão em quaisquer tarefas vícios e improvisos em sua formação que
necessárias ao longo de toda campanha. poderiam trazer complicações imediatas
Usualmente, podem ser jovens inexperien- ao desenvolvimento da campanha.
tes ou aposentados, pois as jornadas são
longas, a remuneração pouco expressiva e
o ambiente de contínuo estresse.

90
6.2 Enquadramento funcional
6.2.1 Comitê Executivo

Coordenação executiva Candidato Conselho político Coordenação política

O Comitê Executivo (ou também chamado Candidato


de war room) é o espaço onde se pensa, Seus principais objetivos são: conseguir
discute, elabora e executa a estratégia de votos e recursos para a campanha. E
campanha. É este comitê que tem total recursos não correspondem somente a
ciência dos rumos da campanha e de dinheiro, mas também a outros apoios que
qualquer alteração em seu plano estraté- são necessários para o desenrolar da cam-
gico. Ele é composto pelo candidato, pela panha. Para se mensurar a dedicação do
Coordenação Executiva e pelo Conselho candidato na aquisição e no fortalecimento
Político. O candidato, ao longo da cam- de apoios, é necessário calcular que uma
panha, se reúne apenas com esses dois percentagem importante do seu tempo
órgãos e segue suas orientações com base deve ser dedicada à relação e ao uso dos
nas pesquisas da equipe técnica (que infor- meios de comunicação para a divulgação
ma diretamente à Coordenação Executiva) de sua mensagem e, consequentemente, a
e com base na experiência política daque- conquista de votos, a captação de recursos
les que compõem o Conselho Político. e a consolidação de apoios.

Em geral, o Comitê Executivo reúne per- Como o candidato estará completamente


sonagens importantes para a campanha, envolvido na campanha, é importante que
não devendo ser muito numeroso nem ele saiba ouvir seus conselheiros políticos.
se dedicar a longas discussões teóricas. O Conselho Político possui ampla expe-
Ele deve ser um corpo que se reúne com riência em eleições, fundamenta o apoio
frequência, toma decisões rápidas e co- político ao candidato e tem total domínio
ordena a campanha. Portanto, deve haver sobre os rumos da campanha, conseguin-
relações fluídas entre seus membros, do ter uma visão mais objetiva e estratégi-
fundamentadas na confiança e na lealdade ca do processo.
à estratégia.

6. A equipe de campanha 91
Conselho político Coordenação executiva
O Conselho Político é o órgão mais impor- É o primeiro profissional que deve ser defi-
tante de uma campanha. Ele é composto nido e contratado. Sua função é coordenar
por aqueles que detêm importantes vín- toda a campanha, se responsabilizando
culos com setores sociais, com meios de pela elaboração do Plano Estratégico,
comunicação, com grupos que oferecem pela contratação e supervisão dos outros
algum apoio importante ou com atores profissionais, pela intermediação entre
considerados chave para o esforço eleito- candidato e outros setores da equipe e
ral. Não é necessário que todas as figuras pelo controle geral do orçamento. Logo, a
sejam públicas, mas é fundamental que gestão do dia a dia da campanha é execu-
eles tenham capital político suficiente para tada pela Coordenação Executiva.
sustentar a candidatura e traçar a melhor
estratégia da campanha. Quem ocupa esta função deve ser, pre-
ferencialmente, um político experiente
O Conselho Político deve garantir que, que já tenha participado de campanhas
próximo à campanha, também haja perso- na mesma circunscrição territorial onde a
nagens importantes da política nacional, campanha atual ocorre. Esse profissional
estadual e local; forças políticas aliadas e deve ter a preparação necessária para usar
intelectuais de renome, cujos conselhos a informação que provém da assessoria
são muito valiosos para a organização. A técnica e a autoridade moral, liderança e
existência desse conselho ajuda a cam- confiança do candidato para tomar deci-
panha a contar com a experiência e as sões importantes ao longo da campanha.
relações destes personagens. Juntamente
a este, a Coordenação Executiva, o candi-
dato e a Coordenação Política compõem o
Comitê Executivo da campanha.

O fundamental desse comitê é a articula-


ção promovida com outros grupos políti-
cos. A partir das reuniões (o suficiente para
que os membros ajudem na campanha de
forma a não fazer com que o candidato
perca muito tempo em encontros des-
necessários), pauta-se a campanha com
temas criativos e interessantes, propostos
para serem abordados pelo candidato.

92
O diretor de campanha, que dirige a A Coordenação Política define as políticas
Coordenação Executiva, toma as deci- objetivas e as ações conforme as decisões
sões centrais sempre em diálogo com o da estratégia geral de campanha, exe-
candidato e por isso deve ser uma pessoa cutando, no âmbito político, as decisões
de sua inteira confiança, pois o candidato elaboradas pelo Conselho Político e pela
precisará delegar muitas decisões geren- Coordenação Executiva. Por isso, seu perfil
ciais a ele para que se dedique às suas é unicamente operacional.
funções fundamentais: conquista de votos
e captação de recursos. A boa imagem dos membros do comitê é
também um ativo da campanha. Assim,
Coordenação política essa comissão deve conter personagens
A Coordenação Política é responsável por cuja presença mande a mensagem de
estabelecer laços e relações com diferen- que o grupo tem apoios importantes. A
tes atores políticos e sociais do território. campanha é midiática e é bom que os
Deve garantir, também, a gerência eficien- membros possam aparecer na imprensa e
te da equipe de campanha e das candida- ser convidados aos meios de comunicação
turas, em outros níveis federativos que se para explicar por que apoiam o candidato.
utilizam da mesma estrutura da campanha. É conveniente medir a imagem dos mem-
Ela é responsável pela coordenação de bros desse comitê para saber qual o grau
núcleos estaduais, ou seja, pelas subunida- de conhecimento e de percepção que os
des do comitê de campanha. eleitores têm deles (identidade e imagem)
e impulsionar sua presença nos meios de
Diferentemente do Conselho Político, a comunicação através dessas medições.
Coordenação Política é exclusivamen-
te responsável pela relação com outras
forças e atores políticos, organizações não
governamentais e setores sociais mobiliza-
dos, de forma a construir relações que não
necessariamente impactam na mídia, mas
sim viabilizam a eficiência da campanha.

6. A equipe de campanha 93
6.2.2 Comitê operativo

Eventos e mobilização Conteúdo programático Coordenação de agenda Captação e finanças

Rua Fiscal

Tesouraria Contabilidade

94
Coordenação executiva

Radio, TV e material de
campanha

Registro de candidaturas
e prestação de contas

Apoio operacional Comunicação, mídias Coordenação jurídica Judicialização de


e novas mídias campanha

Rádio e TV Peças publicitárias Pesquisa

Escritório central Frota Almoxarifado Assistente

6. A equipe de campanha 95
É o motor da campanha. Se algo deve ser A Coordenação de Projetos é encarregada
realizado, o responsável pela execução do controle financeiro da campanha e da
deve ser facilmente encontrável. O Comitê captação de recursos para si também,
Operativo é responsável pela gerência das garantindo que as decisões tomadas pelo
diferentes coordenações da campanha, Comitê Executivo sejam implementadas
repassando a estratégia determinada pelo em tempo hábil. A Coordenação de Proje-
Comitê Executivo e se informando segun- tos controla o Comitê Operativo. O papel
do as pesquisas e orientações da Assesso- central desta coordenação exige profis-
ria Técnica. sionalismo e objetividade na execução de
suas funções, por isso é aconselhável que
Coordenação de projetos a pessoa responsável seja alguém de total
De acordo com o tamanho e a comple- confiança do candidato, mas jamais seu
xidade da eleição, é recomendável que a familiar ou sócio legal, porque conflitos
campanha do candidato tenha um víncu- podem ocorrer e, caso as relações sejam
lo entre o Comitê Executivo e o Comitê demasiadamente pessoais, desentendi-
Operativo, com um perfil especial para a mentos são refletidos por toda a campa-
execução dessas atividades. A campanha é nha.
uma empresa e deve ser organizada como
tal, por isso é indispensável a figura de Coordenação de conteúdo
um gerente que ordene os gastos, con- programático
tabilizando os recursos adequados para A Coordenação de Conteúdo Programático
enfrentar todas as etapas da campanha. É é uma função quase obrigatória para toda
importante contemplar os aspectos impre- campanha de grandes dimensões. Sua
visíveis que podem vir a ocorrer durante o função é levantar informações sobre os
processo. grandes temas políticos em debate e pre-
parar um dossiê para cada, de forma que
o candidato se informe e tenha claro o seu
posicionamento mais atualizado diante de
questões tais como transporte, educação,
saúde, orçamento, política fiscal, empre-
gos, política externa etc.

96
A coordenação estabelecerá contato com Coordenação de agenda
especialistas de cada área, formando os O tempo do candidato é um dos bens
comitês políticos ou grupos de discussão mais escassos da campanha, sendo que
multissetoriais, ou seja, profissionais das o tempo desperdiçado não é recuperado.
mais diversas áreas (professores, pesqui- Por isso, o candidato é a campanha e, se
sadores, jornalistas, empresários, sindi- ele emprega seu tempo em coisas inúteis,
calistas) que fundamentarão as posições sua campanha está comprometida. Assim,
e as propostas políticas do candidato. Os o tempo do candidato deve ser administra-
dossiês serão o guia político do candidato do com o maior cuidado e deve haver, ao
para cada área. menos, uma pessoa que se encarregue de
organizá-lo, de racionalizá-lo e de pensar
Para que o candidato tenha condições em sua administração eficiente.
mínimas de dominar esse conteúdo, é
preciso que a coordenação estabeleça uma O coordenador de agenda é este profissio-
rígida programação a ser seguida e tarefas nal que gerencia o tempo do candidato.
específicas a serem cumpridas, nas quais Seu trabalho é organizar a agenda de
o candidato deverá ter um tempo reserva- modo que cada tarefa tenha seu tempo
do para cada comitê. O coordenador deve resguardado para ser devidamente exe-
estar totalmente disponível para qualquer cutada (visitas a eleitores, eventos para
outro tema que possa surgir durante a captação de recursos, comunicação com
campanha em que o posicionamento fun- a imprensa, elaboração de discursos etc.).
damentado do candidato seja crucial para Deve ser ele quem carrega as antipatias
o eleitor. A coordenação lançará opções de geradas pela não presença do candidato
políticas públicas para o candidato, bem em eventos políticos, de imprensa ou
como o instruirá em determinados temas setoriais. Por isso, esse profissional precisa
do dia, auxiliando-o na elaboração de seu ter habilidade para negar pedidos de
plano de governo. encontros oriundos de familiares, amigos,
políticos, eleitores etc.

Portanto, o coordenador deve estar sempre


disponível e ter um bom relacionamento
com a Coordenação Executiva, pois muitas
vezes ocorrerão alterações no cronograma
em função do que for mais oportuno para
a execução da estratégia de campanha. Ele
deve ser um profissional firme, diplomá-
tico, organizado, detalhista e, acima de
tudo, sensato.

6. A equipe de campanha 97
Coordenação de captação e finanças No mundo hiperinformado em que vive-
Os fundos são o combustível de uma mos, uma campanha sem fundos não só
campanha. Sem os fundos necessários no perde oportunidades, como também vira
momento indicado, a campanha atrasa e notícia. Junto com as pesquisas, os fundos
perde oportunidades. Tempo que se perde arrecadados por uma campanha são
não se recupera. Várias campanhas não indicadores modernos da popularidade da
puderam cumprir seus objetivos por não mesma e de seu potencial eleitoral. Peran-
contar com o dinheiro no momento neces- te os observadores externos, uma campa-
sário e isso se dá pela falta de administra- nha que fica sem fundos é uma campanha
ção eficiente dos recursos. impopular; ao contrário, uma campanha
que excede suas metas e constrói um war
Assim, essa coordenação é a respon- chest importante é um “jogador” a ser
sável por obter e administrar os fundos levado em consideração. E este “cofre” é
da campanha. O captador de recursos é obtido levantando recursos, mas também
aquele que operacionaliza o orçamento, administrando eficientemente os gastos.
elaborando as estratégias mais eficientes
de arrecadação de recursos e determinan- Coordenação de apoio operacional
do a forma mais adequada e disciplinada O apoio operacional é composto por
de seu emprego. O captador de recursos quatro frentes: a administração do escri-
também deve realizar eventos de arrecada- tório central; a administração da frota;
ção, estabelecer os objetivos das doações o almoxarifado e o assistente direto do
e recolhê-las. Logo, sua contratação deve candidato. No primeiro caso, é necessário
ser no início, e sua remuneração deve que se garanta que os telefonemas serão
ser por salário e não por consultoria com atendidos, as mensagens entregues, a
participação nas arrecadações (tornando-o, correspondência distribuída, os visitantes
assim, comprometido por toda a campa- sempre bem recebidos e a equipe protegi-
nha). da no exercer de suas tarefas.
Enquanto o tesoureiro é responsável pela
folha de pagamento, o contador é res- A administração da frota refere-se a todos
ponsável pelos balancetes da campanha, os veículos utilizados na campanha, tanto
fornecendo as informações necessárias em relação à condução quanto à manuten-
para a prestação de contas. ção. Portanto, envolve a garantia de que o
veículo do candidato esteja sempre limpo,
abastecido e em dia com suas revisões; e
que os carros de som e caminhões utiliza-
dos em comícios também estejam na mais
perfeita ordem. O transporte de militan-
tes, bem como a distribuição do material
gráfico, também é organizado por essa
administração.

98
O almoxarifado é responsável pela admi- Coordenação de comunicação, mídia
nistração dos suprimentos do escritório e novas mídias
e do material de campanha (estoque de A Coordenação de Comunicação é a
santinhos, cartazes, panfletos ou quais- equipe que gerencia toda a comunica-
quer outros materiais de campanha). Ele ção do candidato com a mídia, estando
trabalhará muitas vezes sob orientação do encarregada da redação dos conteúdos do
coordenador político, principalmente quan- discurso e das respostas do candidato a
do o material de campanha fizer referência eventos exógenos que ocorram ao longo
a dois candidatos simultaneamente. da campanha. Ela estabelece o diálogo,
escrevendo e divulgando notas impressas,
Por fim, o assistente direto trabalhará jun- recolhendo e catalogando registros de
tamente ao candidato e ao coordenador de áudio e vídeo das declarações do candida-
agenda, pois direciona o candidato para o to e dos adversários, monitorando todas
cumprimento da programação e assegura as notícias sobre a campanha veiculadas
sua pontualidade. Ele observa e anota no- pela imprensa escrita, por rádio, televisão
mes nos encontros, registra eventos, foto- e blogs. De um modo geral, a atividade
grafa, atualiza o candidato sobre qualquer se baseia no contato com os meios de
alteração no planejamento, o protege de comunicação.
aproximações indevidas, assegura sua boa
apresentação, alimentação, está sempre O coordenador também organiza as coleti-
atento ao que acontece e é falado no seu vas de imprensa (identificando as mídias e
entorno. No caso particular deste último profissionais envolvidos e preparando seus
profissional, este deve ser contratado no bastidores), inserindo notícias que possam
início da campanha, devendo ser discreto, influenciar positivamente a cobertura. Do
atento e, acima de tudo, confiável, man- mesmo modo, divulga declarações e reali-
tendo um excelente relacionamento com o za as atualizações necessárias ao candida-
candidato. to. Frequentemente, o coordenador viaja
com o candidato e o acompanha de forma
A dimensão da campanha (local ou na- a garantir a proteção de sua imagem, prin-
cional) determinará se a Coordenação de cipalmente se a imprensa estiver presente.
Apoio Operacional terá profissionais que
acumularão várias das funções acima.

6. A equipe de campanha 99
A Coordenação de Mídia é responsável Deve-se garantir que os meios de comu-
pela elaboração dos materiais de campa- nicação entrevistem e publiquem opiniões
nha, tanto seu conteúdo quanto sua apre- do candidato, dos porta-vozes, das pesso-
sentação, por meio de boletins de impren- as que dizem coisas que são convenientes
sa, gravações de áudio, vídeo e imagens. de serem divulgadas sobre a disputa elei-
A elaboração desses elementos é realizada toral e sobre as próprias questões da cam-
pela equipe de peças publicitárias (que panha e do candidato. Por meio da equipe
elaborará o conceito do material por meio de pesquisa, é importante proporcionar à
das informações fornecidas pela equipe de Coordenação Executiva informações acer-
pesquisa). Já a edição e veiculação ficam a ca do que é dito em todos os meios sobre
cargo da equipe de rádio e TV. a campanha e sobre os adversários. Se as
linhas estratégicas estão claras, sabe-se
Esta coordenação deve ser comandada o momento certo de responder ou não às
por uma pessoa muito qualificada, que notícias veiculadas.
entenda a imprensa e que mantenha boas
relações com ela. A responsabilidade do A Coordenação de Mídia deve também
coordenador é manter os meios de comu- monitorar todas as atividades da campa-
nicação conscientes do que está sendo nha de seus aliados e de seus adversários,
feito, suprindo-os com a mensagem da por meio de um calendário definido com
campanha em todas as suas formas. Como indicações de onde ocorrerão todos os
existem dois tipos de notícia - a que suce- eventos. E é uma decisão do candidato
de involuntariamente (mídia espontânea) e colocar a investigação acerca do adversá-
a que é produzida (mídia paga e contrata- rio nessa coordenação ou em outra seção
da) -, o importante é que se tenham veicu- de sua estrutura de campanha.
lações positivas de campanha em ambas.
O envio de correspondência eletrônica a
uma lista efetiva de pessoas e a garantia
da presença do candidato nos meios de
maior repercussão são outras das atuações
da Coordenação de Mídia.

100
No dia a dia, os diferentes canais de mídia E, por fim, a Coordenação de Novas Mídias
devem receber o que comumente se de- é responsável por criar um canal de comu-
nomina talking points, ou seja, um ponto nicação novo com o eleitorado, no qual
curto e preciso de como a campanha apre- os cidadãos sejam parte da mensagem, e
senta os temas do dia, de forma a relacio- não meros receptores. O candidato é uma
ná-los á mensagem da campanha. Além força inovadora, e não deve se comunicar
disso, a Coordenação de Mídia também é de modo igual ao resto dos candidatos.
responsável pela comunicação interna da Como perfil para esta área, é necessário
equipe de campanha, informando a todos contar com profissionais especializados
sobre as últimas atualizações da disputa no manejo da tecnologia, da comunicação
eleitoral e sobre o respectivo posiciona- multidirecional e dos novos avanços. Dife-
mento do candidato na mesma. rentemente da secretaria de imprensa, na
qual são necessários jornalistas maduros,
A Coordenação de Mídia deve adaptar a na Coordenação de Mídia, a maturidade
comunicação às diferentes regiões elei- dos profissionais pode gerar distanciamen-
torais, com base nos interesses e demo- to da intenção de ouvir concretamente o
grafias locais, pois o conteúdo fornecido eleitor.
deve estar de acordo com o público e com
o contexto que o candidato lida a cada Esse profissional pode ser terceirizado ou
momento. Idealmente, esta coordenação alocado da própria equipe de campanha. E
deve contar com um mapa dos meios de suas tarefas compreendem: criação e atu-
comunicação locais, sejam eles estadu- alização da página de campanha; monito-
ais, regionais ou municipais. Cada vez ramento do correio eletrônico (garantindo
mais, as pessoas consomem informação que as mensagens sejam sempre respon-
local, em detrimento à nacional. E gerar didas no tempo adequado); elaboração da
informação especial para os meios locais lista de endereços eletrônicos de poten-
é cultivar uma camada da imprensa que ciais doadores e apoiadores, e correspon-
normalmente é relegada e desentendida dência com os mesmos; gerenciamento
em campanhas nacionais, garantindo uma das pesquisas on-line; elaboração das
maior cobertura e penetração do candidato estratégias de ampliação do número de
em diversos eleitorados. visitantes e execução do sistema compu-
tacional, realizando cópias de segurança.
Esse profissional também deve ser contra-
tado na fase inicial da campanha, pois será
responsável por toda a dinâmica virtual da
mesma.

6. A equipe de campanha 101


Coordenação de mobilização A equipe de rádio, TV e material de
A Coordenação de Eventos é a responsável campanha é responsável por averiguar se
pela criação de eventos, de acordo com o material publicitário veiculado está em
a estratégia de campanha. E a Coordena- conformidade com a legislação eleitoral.
ção de Mobilização é a responsável pela Desde o formato de santinhos e panfletos
convocação e mobilização de militantes ao tempo de exposição no rádio e televi-
para os diferentes eventos e reuniões que são, qualquer erro na publicidade fornece
se realizam durante a campanha. oportunidade ao adversário de processar o
candidato e onerar a sua campanha com
Juntas, essas coordenações dirigem o multas eleitorais.
setor com a maior demanda de recursos
humanos de uma campanha. Sua função A equipe do registro da candidatura e da
é organizar públicos para grandes eventos, prestação de contas trabalha no início e
aproximar comitês de campanha, conduzir no fim da campanha eleitoral. No início,
campanhas porta a porta e panfletar. Essas o candidato precisa regularizar a sua
coordenações trabalham fortemente com candidatura, segundo a legislação vigente,
grandes públicos, convocando militantes realizando o registro. Ao fim, é crucial que
voluntários para apoiar as atividades de ele execute a prestação de contas para que
rua, bem como estruturando os espaços seu registro não seja suspenso e ele perca
para os grandes eventos da campanha. seus direitos políticos por qualquer irregu-
Juntamente com a Coordenação de Mobi- laridade. A equipe de contabilidade auxilia
lização, encontra-se a equipe de rua e os diretamente o prestador de contas.
fiscais, que averiguam se de fato o mate-
rial é distribuído nas áreas corretas e se as E, por fim, a equipe de judicialização de
abordagens junto aos eleitores procedem campanhas trabalha na fiscalização da
de maneira apropriada. campanha dos adversários. Qualquer
irregularidade cometida por eles acarreta
Coordenação jurídica multas (ou seja, redução dos fundos de
É uma das áreas mais importantes de toda campanha) e, em casos mais graves, a
campanha, pois garante que erros não impugnação da candidatura, facilitando
levem à impugnação da candidatura e à a vitória do candidato para qual a equipe
derrota eleitoral, antes mesmo do momen- trabalha. É importante ressaltar que, se
to das urnas. A Coordenação Jurídica se o adversário é objeto de judicialização, o
divide em três equipes: rádio, TV e material candidato também o é. Logo, uma equipe
de campanha; registro de candidatura e jurídica competente é fundamental para a
prestação de contas; e judicialização das viabilidade de qualquer campanha.
campanhas adversárias.

102
6.2.3. Assessoria técnica

Pesquisa política Consultores de mídia Consultores para Consultores para


estratégia mobilização

A equipe técnica se compõe idealmente A Assessoria Técnica está constituída por


por profissionais de três vertentes: profissionais das campanhas eleitorais.
Eles são profissionais que vivem de fato
- Pesquisa: não há campanha moderna de uma profissão técnica, logo não são
sem investigação sistemática. Esse militantes do partido, parentes ou amigos
consultor é o chefe de inteligência da do candidato. Dedicam-se a organizar
campanha. Deve ser um expert no campanhas, sem uma agenda política pró-
desenho e interpretação de pesqui- pria que se ponha em seu horizonte vital
sas, capaz de integrar em sua análise como candidatos, dirigentes do partido
investigações qualitativas e quantita- ou funcionários nacionais, estaduais ou
tivas; municipais.
- Estratégia: elabora a estratégia da
campanha, com base no trabalho Esses consultores são profissionais de
das pesquisas sistemáticas. Sugere alta competência técnica em suas áreas
permanentemente linhas de ação de especialidade, que fornecem informa-
da campanha para que o candidato ções técnicas de mídia, media training,
e outras instâncias tomem decisões pesquisas políticas, captação de recursos
sobre uma informação profissional; (via mala direta e Internet), Webdesign
- Comunicações: é um expert ou um e tecnologia, mobilização, entre outros.
grupo de experts que pode traduzir São pessoas que têm conhecimento
a estratégia de campanha em uma técnico e, sobretudo, experiência, pois já
estratégia de comunicação, sugerin- foram contratadas para diversas campa-
do eventos, ações e ferramentas que nhas eleitorais. Mas elas não têm poder
ponham a estratégia em movimento, decisório, nem estão encarregadas das
respeitando segmentos e a mensa- ações das campanhas, pois isso fica a
gem. Neste nível não há responsabili- cargo do candidato e de seu coordenador
dades operacionais. de campanha. Em geral, toda campanha
demanda esses especialistas, contudo sua
remuneração é alta, o que eleva os custos
do orçamento.

6. A equipe de campanha 103


Para grandes campanhas, os consultores É preciso definir se o consultor será exclu-
são imprescindíveis. Basicamente, os sivo para aquela eleição ou se terá outros
consultores de mídia, de gestão de tempo, clientes simultaneamente, ou seja, qual a
de Webdesign, de pesquisa política e de disponibilidade que ele oferecerá. É impor-
captação de recursos pela Internet são tante também determinar como ele deverá
fundamentais. No caso dos dois últimos, é lidar com a mídia, estabelecer a linha de
importante assegurar que eles trabalhem comando (a quem o consultor deve se
junto a profissionais correlatos integrantes reportar em caso de dúvida ou de de-
à própria equipe de campanha. manda pontual), estabelecer os canais de
comunicação apropriados, condicionar a
A orientação é sempre analisar se o custo aprovação dos gastos antes que o consul-
de um consultor é compensado pelo tor os execute, garantir que os consultores
seu conhecimento técnico. Se existirem jurídicos revejam os contratos firmados,
profissionais na equipe de campanha bem como a política de cancelamento.
que possam prestar o serviço de forma Faz-se necessário, também, certificar que
equivalente, é preferível contratar o último todos os produtos do consultor sejam de
grupo, que estará integralmente envolvido propriedade da campanha.
na campanha a custos menores. Caso o
consultor seja contratado, é importante O material fornecido deve ser original (e
garantir a elaboração de contratos formais, não aproveitado de outros serviços anterio-
com todos os termos negociados e com a res), pois cada campanha é única e exige
remuneração prevista para o momento de um estudo particular para seu planejamen-
entrega do serviço contratado (não fazer to. É fundamental assegurar que serão
uso de adicionais, apenas bônus). profissionais experientes a executarem
o trabalho, e não amadores que, por sua
pouca experiência, podem cometer erros
graves em uma campanha. E, por fim, é
crucial exigir cláusulas de confidencialida-
de. Como o consultor não acompanhará
todo o desenrolar da campanha, ele pode
facilmente fornecer informações privilegia-
das aos adversários.

104
Consultores de pesquisa política Consultores de mídia e webdesign
Conhecer o eleitorado e suas demandas, A escolha de um meio de divulgação
compreender a conjuntura política da elei- deve levar em conta as recomendações
ção e monitorar a eficiência das ações exe- das informações oriundas da pesquisa
cutadas pela campanha exige profissionais política, registros e familiaridade com a
especialistas na realização de pesquisas de região. Caso essas informações sejam mui-
informação. Portanto, existem no mercado to difíceis de serem obtidas apenas pela
diversos tipos de pesquisas que precisam equipe de comunicação da campanha, é
ser elaboradas, aplicadas e analisadas para necessária a contratação de um consultor
a apreensão mais apurada do eleitor, de de mídia.
modo a mensurar o impacto da publicida-
de da campanha sobre eles. É recomendável solicitar ao consultor
de mídia um demonstrativo de trabalhos
Os questionários provêem informações so- anteriores em campanhas, solicitar infor-
bre quando, como e onde empregar os re- mações sobre quantos outros clientes ele
cursos; como o candidato deve se posicio- estaria trabalhando no momento, determi-
nar com relação aos temas políticos mais nar quem da empresa será designado (para
relevantes; o grau de vulnerabilidade do garantir o melhor profissional envolvido),
candidato e dos adversários com relação à ter pagamentos planejados e pré-acordar
percepção de sua trajetória pelos eleitores; todos os custos, inclusive as percentagens
qual o momento certo para a realização destinadas ao pagamento de estações de
dos eventos; qual o momento e localização televisão e rádio que veiculem as peças
mais adequados para a publicidade; locais publicitárias.
em que o candidato deve despender mais
tempo em campanha; a popularidade de Essa consultoria auxiliará o desenvolvi-
outros candidatos e líderes partidários; e o mento da mensagem, o media training do
impacto da mensagem da campanha sobre candidato, a elaboração dos discursos, a
os diferentes segmentos eleitorais. preparação para os debates, a revisão das
divulgações para a imprensa e de outros
Os tipos mais comuns de questionário são: materiais de campanha, além de escrever
survey, apurações extensas e reduzidas, os roteiros para as chamadas de rádio e lo-
apurações de acompanhamento, apura- calizar as estações que farão a divulgação.
ções instantâneas, apurações de pressão,
grupos focais, interceptação em shoppings
e pesquisas de telemarketing.

6. A equipe de campanha 105


No caso da televisão, é importante que a A campanha deve assegurar um host URL,
equipe de campanha, juntamente com o pois sites de sucesso são constantemen-
consultor, determine quem e como lidará te atualizados, mantendo o interesse de
com o candidato e a campanha; de quem quem os procura. A construção e o design
serão os direitos autorais do material; dessas páginas são feitos pelos consul-
quantos anúncios a produzir e divulgar; tores, mas a atualização pode ser feita
quando começar a publicidade paga; como internamente pela própria equipe.
utilizar publicidade positiva e negativa de
forma estratégica; qual deve ser a mensa- A campanha sempre veiculará o URL do
gem veiculada e por meio de qual veículo; site em todo material e propaganda. O ob-
a duração de criação e de veiculação; e a jetivo é levar as pessoas para o site e fazer
verificação jurídica de seu conteúdo, para com que contribuam com a campanha. As
o cumprimento da legislação eleitoral. comunicações virtuais se dão pelas listas
de e-mails (contendo potenciais eleitores e
O custo de qualquer peça publicitária deve apoiadores). O grande crescimento desse
ser calculado por meio do CPP: a porcenta- meio é devido ao seu custo quase zero,
gem de expectadores em um determinado permitindo uma comunicação direta que
mercado para uma divulgação. Atualmen- pode ser usada para focar em eleitores de
te, estima-se que receptor deve ver entre 8 uma maneira pessoal e específica.
a 10 vezes para reter a mensagem.
Consultores para estratégia
A Webpage é a mais nova forma difundida Campanhas grandes normalmente empre-
de comunicação e se dá por meio do de- gam vários consultores que fornecem uma
senvolvimento da página de campanha. A perspectiva geral da eleição. Eles tendem
disponibilidade facilitada de informações e a ser indivíduos ou firmas com extensa ex-
seu amplo acesso conferem uma oportu- periência em campanhas. Geralmente, são
nidade única de aprendizado dos eleitores mais velhos, periodicamente operacionais
sobre o candidato e sua campanha. As pá- e tendem a auxiliar todos os outros níveis
ginas na Internet contêm a biografia, seção da campanha (elaboração de mensagem,
de tópicos, notícias, vídeos, solicitação de segmentação de eleitorado, mobilização de
arrecadação de recursos, fotos (candidato, eleitorado, relações com a imprensa etc.).
família e campanha), blog (onde se faz atu-
alizações), loja e agenda (com os próximos
eventos da campanha).

106
Consultores para mobilização Demais funções da campanha de rua são:
Normalmente, o departamento de campa-
nha de rua é o maior em termos de equipe - Recrutamento e acompanhamento
e orçamento de uma campanha. E a de membros para trabalhar em co-
orientação de consultores pode se colocar mitês eleitorais. Os comitês servem
como fundamental para a melhor execu- para fortalecer a mídia gratuita em
ção de suas atividades. anúncios e são bons balizadores do
candidato, consolidando o apoio
Os trabalhos de campanha de rua normal- naquela determinada região. Os co-
mente lidam com as atividades de contato mitês incluem partidários, veteranos,
direto com o eleitor. O recrutamento de professores, empresários, atletas,
voluntários, normalmente, objetiva criar terceira idade, grupos de defesa da
outros grupos secundários de voluntários mulher etc.
que operacionalizem e ramifiquem essas - Assistência em encontrar líderes
atividades de contato. Outra importan- locais para os comitês de política.
te função desse profissional é mobilizar Buscam-se eleitores que sejam ex-
público para os eventos, reunindo plateias perts na área política, fortalecendo os
para as aparições do candidato (sendo que comitês e capacitando os candidatos
a mobilização pode ser feita por telefone, nos temas de campanha.
e-mail ou correspondência). A visibilidade - Recrutamento e capacitação de mo-
de campanha é feita pela equipe de cam- nitores da campanha de adversários.
panha de rua. Campanhas grandes precisam acom-
panhar a rotina de aparições públicas
Apesar do custo elevado, o orçamento é dos oponentes e tomar votos. Essa é
separado da mídia paga da campanha. A a atividade mais agressiva e o conta-
campanha de rua inclui eventos e ativida- to mais importante e sensível que se
des que divulguem o nome e a mensagem tem com o eleitor.
do candidato, como: a produção e distri-
buição de cavaletes, a compra e localiza-
ção de outdoors, a distribuição de adesivos
de carro e lapela, a localização de cartazes
em áreas de grande visibilidade etc.

6. A equipe de campanha 107


6.3 Formatos de pequisas

Survey Os cinco elementos mais importantes para


O survey é um questionário elaborado de o questionário estruturado são: testar o
forma sistemática, científica e imparcial. momento político da eleição (direciona-
Coletam-se informações de um segmento mento, assuntos mais importantes); testar
populacional ou amostra de pessoas que pontos de vista em assuntos polêmicos
possa ser generalizável para analisar toda (como tratar esses assuntos e como
a população. Devido ao seu alto custo, relacioná-los com a mensagem); testar a
não se recomenda aplicar questionários percepção da personalidade do candidato;
desnecessariamente. Caso o survey seja testar fraquezas (impacto de declarações
realizado no início da campanha, seu obje- públicas e informações pessoais mais po-
tivo é apreender informações que auxiliem lêmicas); e testar a intenção de voto (para
na elaboração da mensagem da campa- avaliar o posicionamento e como este se
nha. Nos momentos finais da campanha, altera com relação às mensagens e às
o questionário auxiliará na visualização do estratégias de publicidade da campanha).
posicionamento do eleitorado e indicará
quais mensagens e anúncios causam mais Monitoramento (miniquestionários)
impacto. Essa pesquisa é realizada no intervalo das
apurações principais, buscando a identifi-
Apurações extensas (questionários cação de novas áreas para ganho de votos
estruturados) ou áreas em que o candidato esteja per-
Os questionários são as pesquisas mais dendo apoio. Normalmente, essa pesquisa
elaboradas, longas e caras, com o obje- tem a escala de 1/3 (um terço) do número
tivo de testar variados assuntos. Quanto de questões com relação a um questioná-
maior a amostra, menor a margem de erro, rio estruturado padrão.
portanto é o ponto de mais observação da
realidade. Ele é usualmente feito no início Apurações de acompanhamento
para testar as mensagens e as variáveis São pequenas pesquisas aplicadas nas
do candidato e do oponente, e pode ser últimas semanas da campanha para testar
repetido de duas a três vezes, quando mais o apoio do eleitorado, a efetividade dos
informações são necessárias. Os questio- anúncios e os últimos assuntos mais dis-
nários devem ser elaborados conjuntamen- cutidos. São pesquisas aplicadas ao longo
te com a equipe para manter uma lingua- de três dias, com a duração entre 4 a 7 mi-
gem familiar e menos técnica. nutos e contendo entre 15 a 20 perguntas.

108
7. Estratégia de
relacionamento
7.1 Plano de comunicação

Apurações instantâneas O plano de comunicação é uma das


Não são muito utilizadas. Sua aplicação ferramentas elementares do trabalho de
objetiva identificar o efeito imediato no fortalecimento da identidade pública e da
eleitorado após algum acontecimento mensagem. Ele estabelecerá o caminho
de grande repercussão. Essas apurações que a comunicação irá percorrer, por meio
podem ser realizadas após um debate, um das análises e estudos sobre a identidade
discurso ou um evento que visa à arreca- do líder, o contexto político e as tendên-
dação de apoio e/ou recursos. cias de debate da sociedade.

Grupos focais O plano deverá ter como principal objetivo


Os grupos focais são uma técnica de amplificar a identidade pública do líder
pesquisa científica própria da metodologia como formador de opinião nos temas
qualitativa. Eles consistem na formação delimitados, junto aos públicos de inte-
de pequenos grupos de discussão mo- resse, emitindo informações e mensagens
derados, que podem ser realizados em chaves.
algumas seções. Os participantes são sele-
cionados segundo critérios de segmentos Deverá priorizar as ferramentas de comuni-
populacionais que, de fato, se deseje obter cação mais eficazes para fortalecer a iden-
informações. tidade do líder. Vale destacar a importância
dos meios tradicionais, como rádio, jornal
Perguntas gerais são elaboradas a partir de e televisão, para a difusão da mensagem.
um guia sobre diversos temas de cam- Entretanto, é fundamental priorizar a
panha. O moderador registra as seções, internet como meio de comunicação, pois
transcreve e elabora um relatório que é financeiramente e socialmente acessível.
estabelece o perfil de comportamento e Hoje no Brasil, cerca de 81 milhões de
pensamento desse segmento populacio- brasileiros acessam a internet.
nal. Geralmente, os grupos focais são reali-
zados no início da campanha para explorar
a percepção do eleitor. As informações
obtidas ajudam a determinar qual será
a mensagem, a selecionar os anúncios
publicitários a serem veiculados e a reação
desse grupo à publicidade do oponente.
Ao final da campanha, os grupos focais
são usados exclusivamente para testar a
publicidade.

7. Estratégia de relacionamento 109


7.2 Régua de
relacionamento

Deverão ser contempladas diversas A fim de fortalecer o vínculo com os públi-


formas de transmissão da mensagem, cos de interesse é fundamental criar ações
como a elaboração de artigos, comentá- que possam gerar interações de diferentes
rios, conteúdos para palestras, posts para formas, em diferentes canais. Para isso,
mídias sociais (facebook, youtube, etc.), sugere-se a elaboração de uma régua de
fotos, vídeos (explicativos, opinião, frases), relacionamento que detalhe como será
entrevistas, textos de e-mails, cartas, notas construído o relacionamento com os
a imprensa, newsletter, press-releases, diferentes grupos sociais de contato do
publicações em geral, além da gestão candidato. O primeiro passo deve ser a or-
do site, das redes sociais, clipping e da ganização e classificação de todos os con-
coordenação do monitoramento de seu tatos do candidato em poucos grupos. No
posicionamento digital. exemplo abaixo, são 4 grupos. No segundo
passo, devem ser identificadas as ações
Serão definidos temas centrais a serem e atividades da estratégia de relaciona-
abordados em artigos mensais e temas mento. No terceiro passo, deve-se definir
secundários e correlatos que poderão ser os canais para que as ações e atividades
explorados semanalmente com o objetivo sejam efetivadas, seus responsáveis e o
de ‘manter aquecido’ o assunto de interes- cronograma de execução.
se. Além disso, postagens diárias de frases
de pensadores, informações curtas, links Neste trabalho, será consolidado um ban-
compartilhados ou comentários rápidos co de dados segmentado pelos diferentes
também serão utilizadas na estratégia de perfis que facilitará a gestão e execução
ampliar a comunicação do líder político. das ações de relacionamento. Nas tabelas
abaixo, sugerem-se as ações de relaciona-
mento, os responsáveis por sua execução,
o canal e o cronograma de execução.

110
Estratégia de relacionamento - Ações

Perfil / atividade 50 / 100 200 / 500 2 mil / 5 mil 1 milhão

Envio de mensagem de feliz Sim Sim Sim Sim


aniversário

Convite para almoço Sim A depender Não Não

Convite para jantar Sim A depender A depender Não

Envio de mensagem de final de ano e Sim Sim Sim Sim


outras datas

Direito a receber artigo de tema Sim Sim Sim Sim


específico

E-mail com comentários sobre tema Sim Sim Sim Sim


específico

Convite para Facebook pessoal Sim Sim Sim Não

Convite para Fanpage Sim Sim Sim Sim

Convite para fazer parte da rede no Sim Sim Sim Não


Linkedin

Reuniões esporádicas Sim Sim Não Não

Convite para participar de palestra Sim Sim Não Não


específica

Envio de presente pessoal Sim Não Não Não

7. Estratégia de relacionamento 111


Estratégia de relacionamento - Responsável pela ação

Perfil / atividade 50 / 100 200 / 500 2 mil / 5 mil 1 milhão

Envio de mensagem de feliz Secretária Secretária Secretária Secretária


aniversário

Convite para almoço Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário

Convite para jantar Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário

Envio de mensagem de final de ano e Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário


outras datas

Direito a receber artigo de tema Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário


específico

E-mail com comentários sobre tema Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário


específico

Convite para Facebook pessoal Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário

Convite para Fanpage Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário

Convite para fazer parte da rede no Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário


Linkedin

Reuniões esporádicas Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário

Convite para participar de palestra Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário


específica

Envio de presente pessoal Estagiário Estagiário Estagiário Estagiário

112
Estratégia de relacionamento - Cronograma

Perfil / atividade 50 / 100 200 / 500 200 / 500 1 milhão

Envio de mensagem de feliz Diariamente Diariamente Diariamente Diariamente


aniversário

Convite para almoço 1 vez a cada 1 vez a cada


duas semanas duas semanas

Convite para jantar 1 vez por mês 1 vez por mês 1 vez por mês

Envio de mensagem de final de ano e De acordo com De acordo com De acordo com De acordo com
outras datas calendário anual calendário anual calendário anual calendário anual
de datas de datas de datas de datas

Direito a receber artigo de tema Mensal Mensal Mensal Mensal


específico

E-mail com comentários sobre tema Quando houver Quando houver Quando houver
específico necessidade necessidade necessidade

Convite para Facebook pessoal Diariamente Diariamente Diariamente

Convite para Fanpage Diariamente Diariamente Diariamente Diariamente

Convite para fazer parte da rede no Semanal Semanal Semanal


Linkedin

Reuniões esporádicas Quando houver Quando houver


necessidade necessidade

Convite para participar de palestra De acordo com De acordo com


específica agenda de agenda de
palestra da MV palestra da MV
Campos Campos

Envio de presente pessoal De acordo com a


data do relacio-
namento

7. Estratégia de relacionamento 113


8. A campanha

A Campanha é o momento de execução de Cumprir a sua agenda de compromissos e


todo o planejamento estratégico eleitoral, seguir à risca todo o cronograma elabo-
no qual o candidato coloca em prática rado pela equipe é fundamental para o
todo o aprendizado acumulado durante correto desenrolar da campanha. Assim,
a sua pré-campanha. Por ser um perío- a captação de recursos ocorre em fluxo
do muito curto (de agosto a outubro), é contínuo, pois ao mesmo tempo em que a
fundamental que o candidato se dedique a equipe recebe doações, ela deve cumprir
duas ações primordiais: captar recursos e um planejamento de gastos, principalmen-
angariar votos. te para garantir que o candidato consolide
a sua imagem e transmita a sua mensa-
A elaboração da mensagem, a organização gem. Uma execução eficiente e profissio-
da agenda, a publicidade, a administração nal do Plano Estratégico de Campanha é
financeira, a supervisão jurídica, a realiza- peça fundamental para o sucesso de uma
ção de eventos, entre outros - tudo deve eleição.
estar a cargo de sua equipe, já estrutu-
rada na fase de pré-campanha. Nesse
momento, a equipe de campanha deverá
concentrar seus esforços para empregar
eficientemente os recursos mais valiosos
do candidato: tempo e dinheiro.

114
9. Financiamento de
campanha

Seguir um bom O mais importante para uma campanha é,


além da quantidade de dinheiro que se ar-
planejamento financeiro recada, a forma com que se emprega esse
evitará que se pague por recurso. Contar com fundos é importante,
mas o tema central é como utilizá-lo de
qualquer ideia que saia de maneira eficiente para não haver desper-
uma reunião sem a devida dícios e ao mesmo tempo não economizar
em ações necessárias. Para evitar gastos
reflexão e crítica. descontrolados, elabora-se uma estratégia
determinando: áreas prioritárias, crono-
grama de gastos e prospecção de novos
doadores. Seguir um bom planejamento
financeiro evitará que se pague por qual-
quer ideia que saia de uma reunião sem a
devida reflexão e crítica, ou que se pague
caro por eventos onde não esteja o público
pretendido nem a cobertura da imprensa
desejada para uma mídia gratuita.

A afirmação de que “dinheiro é tudo em


uma eleição” é equivocada. É perfeita-
mente lógico que recursos condicionam
a publicidade e a transmissão da men-
sagem. Na maioria dos países, como no
Brasil, foram aprovadas leis eleitorais que
normatizam o processo de doação, limitam
o gasto eleitoral e exigem uma rígida pres-
tação de contas. Essas limitações acabam
se tornando muito úteis, pois estimulam
candidatos e suas equipes a controlarem
gastos e elaborarem com racionalidade o
emprego do recurso para a publicidade do
candidato, a transmissão da mensagem de
campanha e a conquista de votos.

9. Financiamento de campanha 115


O primeiro passo não Assim, o primeiro passo não é pensar em
quanto é possível arrecadar, mas o quanto
é pensar em quanto é se gastará para que se vença o pleito. Isso
possível arrecadar, mas implica em tempo e recursos financeiros.
Normalmente, quem gasta mais, ganha.
o quanto se gastará para Se a maior parte do dia do candidato não
que se vença o pleito. for dedicada a levantar fundos (¾ de seu
tempo), a campanha está seriamente com-
prometida.

A referência para quanto se deve arrecadar


pode ser obtida a partir das campanhas
passadas, considerando-se o quanto foi
gasto em determinada campanha em
cada. Esses dados podem ser acessados
no site do Tribunal Superior Eleitoral. Esse
levantamento deve integrar o planejamen-
to financeiro, de autoria do coordenador
de campanha, para orientar o processo de
coleta de fundos, em estrita observância
da legislação eleitoral nacional mais atual.
Esse é um trabalho delicado e é funda-
mental ter em mente as mais diversas
perspectivas para o emprego mais adequa-
do do recurso. É fundamental também que
a equipe de campanha identifique todas as
potenciais fontes de recursos para doa-
ções, podendo elas ser:

116
As viagens programadas - Recursos próprios, de família e ami-
gos;
às zonas eleitorais - Listagem dos doadores nas últimas
devem sempre seguir campanhas de políticos correligioná-
rios eleitos;
a regra DMM: dinheiro, - Listagem da militância partidária
mídia e mensagem. envolvida ideologicamente na busca
da vitória;
O candidato deve captar - Partidos políticos;
recursos, reforçar a sua - Grupos de apoio (negócios, trabalho,
advogados);
imagem e transmitir a sua - Grupos especializados (ambienta-
mensagem, de forma a listas, feministas, grupos religiosos
etc.).
conquistar votos.
As viagens programadas às zonas elei-
torais, em que o candidato busca se
apresentar e ganhar votos de eleitores
oscilantes, devem sempre seguir a regra
DMM: dinheiro, mídia e mensagem. O
candidato deve captar recursos, reforçar a
sua imagem e transmitir a sua mensagem,
de forma a conquistar votos.

Nas viagens destinadas às zonas prioritá-


rias de campanha, deve-se ter em mente o
quanto já foi arrecadado nas últimas cam-
panhas para cada uma delas, o quanto de
recurso está destinado a elas e o quanto
cada comunidade de fato contribuiu para
a campanha (em termos da relação entre
doação e votos). O cálculo do emprego
do tempo nessas localidades deve ser de
acordo com a percentagem de votos oriun-
dos das mesmas e o quanto se espera
arrecadar de recursos em cada uma.

8. A campanha 117
9.1 Estrutura do escritório
de arrecadação

O importante é garantir É preciso contar com um diretor financeiro


estadual; um diretor financeiro nacional;
o total mapeamento diretores financeiros especializados (para
das várias interfaces de captar recursos de grupos específicos de
apoiadores); e um comitê financeiro. O
possíveis doadores, por importante é garantir o total mapeamento
isso deve-se abranger das várias interfaces de possíveis doado-
res, por isso deve-se abranger não só a
não só a perspectiva perspectiva geográfica como também a de
geográfica como também grupos específicos, que buscarão em seu
próprio grupo potenciais doadores.
a de grupos específicos.

118
10. A gestão do tempo

É necessário preparar as Como o tempo é o recurso mais valioso de


uma campanha, há uma necessária peça-
agendas diárias, mensais, -chave do processo de campanha: o coor-
de curto e longo prazo. denador da agenda. Coordenar significa li-
dar com demandas conflitivas, dizer “não”,
lidar com o candidato, famílias, amigos
etc. Em uma campanha, alguém precisa
se responsabilizar por todas as vezes que a
programação falhar e que ocorrerem opor-
tunidades de encontros com potenciais
doadores ou apoiadores, as quais podem
levar a mudanças na programação.

As principais responsabilidades do coorde-


nador da agenda são: trabalhar juntamente
com o coordenador de campanha para o
estabelecimento das prioridades e, assim,
realizar a distribuição do tempo entre
todos os setores da equipe de campanha.
O coordenador também deve coletar,
catalogar e classificar todas as demandas
de tempo do candidato, que podem vir de
empresários, políticos eleitos, partidários,
eleitores e até mesmo de familiares. O
objetivo principal é alocar adequadamente
o tempo entre as prioridades determinadas
pelo Plano Estratégico e operacionalizar
esse planejamento eficientemente, visto
que imprevistos acontecem.

10. A gestão do tempo 119


Os componentes É necessário preparar as agendas diárias,
mensais, de curto e longo prazo. Geral-
regulares da agenda do mente, o processo de organização dos
planejamento são: tempo eventos e compromissos na agenda deve
se iniciar pelo último dia de campanha: a
pessoal (para família e eleição. Todo o período eleitoral deve ser
amigos) e tempo para a abrangido para que o candidato possa efe-
tivamente captar recursos e ganhar mais
campanha (para preparo votos. Determina-se, a partir de então,
de discursos, debates, todas as demandas pessoais e políticas
de tempo, tendo como prioridade sempre
entrevistas, media a captação de recursos, de mídia positiva
training, estudo das gratuita e a transmissão da mensagem.

pesquisas, comitês etc.). O coordenador da agenda deve tam-


bém criar e reunir anotações de todas as
viagens do candidato para seu livro de
viagens, monitorando todo o percurso nas
localidades e como cada uma reagiu à
campanha do candidato. Para cada loca-
lidade, é fundamental que se realize uma
pesquisa anterior sobre todos os eventos
da região ou do Estado que reunirão um
grande público. Esses eventos são sempre
oportunidades de se transmitir a mensa-
gem, reforçando a campanha e obtendo
mais votos. O contato com líderes polí-
ticos locais também pode se desdobrar
na construção de novos apoios, portanto
o coordenador da agenda deve sempre
buscar oportunidades políticas locais para
que o candidato as receba, estando atento
a cada detalhe dos eventos planejados e
disponíveis para a campanha.

120
Os componentes regulares da agenda do É fundamental que o candidato tenha
planejamento são: tempo pessoal (para tempo também para a preparação de
família e amigos) e tempo para a campa- discursos, leitura de memorandos, grava-
nha (para preparo de discursos, debates, ção de campanha em TV, encontros com
entrevistas, media training, estudo das financiadores, políticos e eleitores, eventos
pesquisas, comitês etc.). com a imprensa (entrevistas, conferência
com jornalistas, Internet, blog, encontros
As demandas de campanha são: a arreca- editoriais), viagens para campanhas de rua
dação de fundos e o briefing de campanha e eventos (discursos, paradas, almoços,
(ou seja, a realização de seções estraté- jantares, festas, passeios e porta a porta).
gicas para o desenvolvimento de tópicos
e o planejamento de encontros), além de O coordenador da agenda deve elaborar
reuniões com o coordenador de campanha e equilibrar as demandas da campanha
e com o coordenador de imprensa. Nas sobre o candidato. Quanto maior a po-
seções de briefing e preparação, o candi- pulação da região visitada, mais tempo é
dato se informa sobre os próximos des- necessário para se dedicar à arrecadação
dobramentos da campanha, ao passo que de fundos, em comparação com o contato
transmite suas impressões dos eventos direto com os eleitores. O coordenador,
dos quais participa. informado pelas pesquisas políticas, deve
avaliar a região e determinar se o candida-
to fará uma comunicação direta ou indireta
com seus eleitores. Deve avaliar, a partir
do planejamento da campanha, ainda,
onde está o público-alvo e onde o candida-
to deve despender seu tempo de campa-
nha de forma a ganhar mídia e votos.

Em suas apresentações, a equipe de cam-

10. A gestão do tempo 121


panha deve avaliar se o melhor para o can- O coordenador da agenda também deverá
didato é que ele se apresente para grupos listar todos os veículos de imprensa da
pequenos ou grandes, em função de suas região (ou os que têm cobertura), deter-
próprias habilidades (se ele lida bem com minando quantos eleitores podem ser
multidões ou é carismático para contatos alcançados por cada veículo e fazer a
diretos). Não só é preciso administrar o correspondência com o tempo do candi-
tempo, mas também torná-lo mais adequa- dato a ser gasto para a região. Além disso,
do às potencialidades do candidato. demandará que todos os solicitantes que
requisitem tempo do candidato elaborem
convites escritos que contenham informa-
ções básicas: dia, hora, nome do evento,
anfitriões, estimativa de público, abertura
para imprensa, o que se espera do candi-
dato etc. Os eventos devem ser cronologi-
camente catalogados em duas categorias:
possíveis e confirmados.

Os departamentos devem encontrar-se


para se informar sobre a agenda do candi-
dato, de forma a estar preparados quando
os eventos forem de suas responsabili-
dades, planejando-se adequadamente.
Todos esses eventos também devem ser
anotados em um livro de viagem, além dos
encontros que o próprio candidato aprovou
autonomamente (para que o coordenador
da agenda, o coordenador de campanha e
o coordenador de imprensa possam traba-
lhar sobre eles).

122
A precisão nos detalhes É crucial não presumir qualquer detalhe
sobre os eventos: o coordenador deve
é fundamental. Antes verificar várias vezes cada um desses
de aceitar qualquer detalhes. É importante ter em mente
que os anfitriões de eventos beneficiam-
convite, deve-se transferir -se da presença de candidatos e acabam
a responsabilidade superestimando público e a cobertura da
mídia para que ele compareça. Por isso,
de verificação ao a precisão nos detalhes é fundamental.
coordenador da agenda, Antes de aceitar qualquer convite, deve-se
transferir a responsabilidade de verificação
pois o tempo escasso ao coordenador da agenda, pois o tempo
exige um conhecimento escasso exige um conhecimento balizado
sobre cada atividade de que o candidato
balizado sobre cada for participar.
atividade de que o
A agenda diária pode ser impressa em
candidato for participar. pequenos cartões, para que o candidato
a acesse com facilidade e organize mais
adequadamente para seu cumprimento.
No entanto, o coordenador deve estar
atento para que o candidato não a esqueça
em qualquer lugar, principalmente se con-
tiver anotações. Adversários e a imprensa
sempre podem ter acessos e usar essa
informação de forma estrategicamente
negativa para a campanha.

10. A gestão do tempo 123


Não se deve compro- O coordenador deve criar um formulário de
convites para eventos que sirva para qual-
meter o candidato com quer demanda que chegue ao comitê de
eventos de forma muito campanha. Uma vez que o convite escrito
oficial estiver em mãos, o coordenador da
antecipada, pois a rotina agenda deve realizar telefonemas iniciais
de uma campanha é de verificação e monitoramento para os
respectivos eventos, acompanhando, junto
imprevisível e o custo aos organizadores, seu andamento.
político é alto para um
Somente o coordenador responderá
não comparecimento a aos convites e o fará de forma escrita
um evento previamente (guardando uma cópia no arquivo com a
justificativa do aceite ou recusa). O registro
confirmado. Manter os escrito provê muito mais controle sobre a
dias próximos à eleição dinâmica da agenda, evitando que a equi-
pe de campanha entre em contradições de
em aberto é, portanto, aceites e recusas, o que pode ser preju-
fundamental. dicial para a imagem da campanha. Não
se deve comprometer o candidato com
eventos de forma muito antecipada, pois a
rotina de uma campanha é imprevisível e o
custo político é alto para um não compare-
cimento a um evento previamente confir-
mado. Manter os dias próximos à eleição
em aberto é, portanto, fundamental.

124
Ao solicitar convites, devem-se identificar Os organizadores do evento devem estar
em quais eventos o candidato gostaria de atentos à iluminação mais adequada, ao
estar presente e conversar com os orga- sistema de som, aos materiais de divulga-
nizadores para saber se de fato há espaço ção, aos melhores ângulos e tomadas, às
para candidato. Caso não haja convite locações para registro de imagens, ao pal-
e o candidato queira ir, cabe ao coorde- co, microfone, camarins, credenciais para
nador da agenda obter calendários das mídia, estacionamento, segurança, saídas
comunidades com suas diversas reuniões, de emergência etc. Falhas na organização
procurar os espaços onde os eleitores cos- de um evento acabam tendo divulgação
tumam se reunir e procurar eventos que maior do que a própria mensagem do
complementem os temas de campanha, candidato, comprometendo sua conexão
tornando a presença do candidato bem- com eleitores.
-vinda.
As conferências de imprensa também
A equipe de planejamento costuma averi- demandam data, locação, mobilização do
guar as viagens a comunidades com dias público, apoio para a imprensa, forneci-
ou semanas de antecedência, de forma mento de credenciais, elaboração do plano
a conseguir as melhores locações, os de segurança, além do bom funcionamen-
melhores horários e as melhores logísticas, to dos sistemas de som, microfone, alto-
buscando reunir público para os eventos -falantes, materiais de divulgação etc.
em questão. Os eventos para captação de recursos
têm demandas similares, como plano de
segurança, locação, alimentação para
candidato, equipe e convidados, decora-
ção, transporte, microfones e alto-falantes
para discursos e telões para exibição em
grandes eventos com plateia numerosa.
Os mobilizadores, em campanhas maiores,
têm sua própria equipe para a organização
dos eventos, mas, em campanhas peque-
nas, são os antecipadores os encarregados
de agregar pessoas, organizar o espaço e
gerenciar o evento.

10. A gestão do tempo 125


O coordenador da agenda é o responsável É o coordenador que redige todas as notas
pelo cumprimento da agenda do candida- de agradecimento, anotando os nomes e
to. Ele o leva a compromissos, o mantém as informações de contato das pessoas
pontual, está atento ao coordenador de que interagem com o candidato. Ele é
campanha, é o confidente do candidato, responsável por informar criticamente o
enfim, literalmente providencia todas as desempenho do candidato para o coor-
suas necessidades. Ele registra em áudio e denador e relatar os problemas de plane-
vídeo todos os discursos e apresentações, jamento e alterações do cronograma nas
fotografa eventos para atualizações no seções de briefing com ambos. O coorde-
website e para as notas de agradecimento nador da agenda está sempre totalmente
aos eleitores e doadores. disponível e mantém o candidato con-
fortável e afastado de fãs ou de qualquer
pessoa não agendada. Por conduzir o
candidato aos compromissos, ele verifica o
tempo de deslocamento das rotas anteci-
padamente. Ele assegura sua boa apre-
sentação e mantém a correspondência em
dia, atualizando o candidato dos últimos
desdobramentos eleitorais.

126
11. Conclusão

Este Manual de Campanha Eleitoral Essa estrutura é apenas uma orientação


compreende, de forma geral, os aspectos para que o candidato e seu coordenador
essenciais de uma campanha. Contudo, a de campanha possam iniciar o Plano Estra-
forma como todos esses elementos serão tégico e caminhem de forma profissional
arranjados, desdobrando-se em um plano durante a campanha eleitoral.
estratégico de campanha, será o ponto
vital para o sucesso no pleito. A escolha
dos melhores profissionais; a realização
de uma pesquisa de qualidade sobre o
eleitorado, suas demandas e conjuntura
política do momento eleitoral; a listagem
dos potenciais doadores e apoiadores; a
elaboração de uma mensagem clara, que
crie uma conexão real entre eleitorado e
candidato; a boa utilização da mídia para a
comunicação da campanha; a administra-
ção do tempo de campanha e o treinamen-
to intensivo do candidato serão ações que
devem ser executadas corretamente para a
obtenção da vitória.

11. Conclusão 127


Este livro foi composto
em LT Univers 430 Regular
e 630 Bold. Impresso em
papel alta alvura 115g/m2
pela gráfica Intergraf.
Setembro de 2016
Muitos candidatos envolvem-se na
corrida eleitoral sem que haja, de
sua parte ou de seu partido, um
planejamento estratégico adequado.
Este Manual de Campanhas Eleitorais,
que inaugura a série de manuais da
RAPS, busca, justamente, oferecer
às lideranças políticas nacionais o
conhecimento necessário a uma
campanha eleitoral bem sucedida.

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