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EUTANÁSIA
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 1
Algumas questões jurídicas, éticas e religiosas ................................................................ 6
O doente e a sua manifestação de vontade ..................................................................... 15
Algumas questões levantadas pelos profissionais de saúde ........................................... 22
Dois casos para reflexão ................................................................................................. 25
Conclusão ....................................................................................................................... 29
Fontes de Pesquisa .......................................................................................................... 33
Introdução
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Eutanásia – Não é opinião, é reflexão
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Eutanásia – Não é opinião, é reflexão
genocídios de toda a história. Esta espécie de eutanásia, praticada pelos nazis, retirou a
vida a cerca de 6 milhões de pessoas inocentes.
Atualmente, na Alemanha, a eutanásia ativa, isto é, o ato deliberado de
provocar a morte do paciente, atendendo à sua vontade real ou presumida, é punível por
lei
Contudo e na verdade, esta prática nada tem a ver com a eutanásia
contemporânea.
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Eutanásia – Não é opinião, é reflexão
tomar esta decisão e ainda a nível da ética médica que defende que os médicos devem
cumprir o juramento de Hipócrates, juramento este que vincula os profissionais de
saúde ao respeito pela vida do paciente e não para a interrupção desta.
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Art. 37. Del homicidio piadoso. Los Jueces tienen la facultad de exonerar de castigo al sujeto de
antecedentes honorables, autor de un homicidio, efectuado por móviles de piedad, mediante súplicas
reiteradas de la víctima.
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Eutanásia – Não é opinião, é reflexão
Numa conferência que teve lugar em Lisboa em abril deste ano, a convite da
Universidade Católica, Theo Boer, professor universitário de ética na Holanda, antigo
membro de um dos comités de análise dos pedidos de eutanásia, reconheceu que a
realidade sobre a eutanásia no seu país se alterou a partir de 2010, o caráter de exceção
para o sofrimento físico em fim de vida está a desaparecer, tendo por isso, abandonado
o comité tornando-se uma voz crítica do movimento pró-eutanásia. Atualmente, a
eutanásia foi banalizada e é praticada em situações de demência, de doença mental e
não obrigatoriamente em doentes terminais.
A Bélgica seguiu a Holanda, tendo no mesmo ano que esta descriminalizado a
eutanásia mesmo para menores de idade.
O Luxemburgo tornou-se, a 18 de dezembro de 2008, no terceiro país da União
Europeia a legalizar a eutanásia, no entanto a lei só entrou em vigor a 17 de março de
2009 e é apenas dirigida a doentes terminais e maiores de idade.
O Código Penal Espanhol defende o direito à vida, logo qualquer pessoa que
satisfaça um pedido de eutanásia sujeita-se a cumprir uma pena de 6 meses a 6 anos de
prisão. O Parlamento Autónomo da Andaluzia, a 17 de março de 2010, regulou os
direitos dos pacientes terminais e as obrigações dos profissionais de saúde que deles
cuidam. No diploma, conhecido pela Lei da Morte Dignam, constam os direitos e
garantias da pessoa em irreversível processo de morte, permitindo que o paciente possa
recusar a submissão a um tratamento que apenas prolongue a sua vida de forma artificial
dando-lhe o direito a receber um tratamento contra a dor, incluindo a sedação paliativa e
cuidados paliativos integrais em domicílio, desde que estes sedativos não sejam
contraindicados.
No Brasil a eutanásia também é punível por lei e a pena pode ir de 6 a 20 anos
de prisão, no entanto, desde 1995, o Senado Federal Brasileiro está a estudar um projeto
lei, tendo em vista, a deliberação de normas para a sua legalização.
Como podemos observar, a eutanásia é tão antiga como a própria sociedade e foi
e é encarada de diferentes formas em cada comunidade. O que torna a eutanásia um
assunto tão polémico é o simples facto de fazer colidir o direito de morrer com o direito
à vida, o que levanta questões sobre o que será o mais correto de fazer.
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Eutanásia – Não é opinião, é reflexão
Deixar que a doença tome conta do paciente visto não haver nada a fazer;
medicar o doente para que ele não sinta dor e deixá-lo morrer em paz, dar uma injeção
letal ao paciente para lhe provocar a morte são formas de praticar a eutanásia, porém,
aos olhos da lei, apenas a última é vista como crime.
De acordo com o Código Penal Português
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CPP Artigo 134.º Homicídio a pedido da vítima
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CPP Artigo 135.º Incitamento ou ajuda ao suicídio
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Eutanásia – Não é opinião, é reflexão
saber distinguir três formas de eutanásia em contexto médico para se perceber que
apenas uma delas é punível por lei.
Administrar uma injeção letal a um paciente para lhe tirar a vida é eutanásia
ativa e é a única punida por lei, no entanto administrar uma dose terapêutica para alívio
da dor de um doente terminal e replicar essa dose, “mesmo que ela possa provocar a
morte”, também é eutanásia ativa, porém não é ilegal.
Inês Godinho refere ainda um terceiro tipo de eutanásia, que é aquela em que o
doente deixa a doença “tomar o seu rumo”, ou seja, pede que não lhe sejam
administrados mais medicamentos ou que se desliguem as máquinas, sendo o médico
obrigado a respeitar o seu pedido. Neste caso também não é cometido nenhum crime.
A jurista, que assume ter assinado a petição para legalizar a eutanásia, refere
que a haver mudança na lei, esta deverá ser feita à semelhança da que foi feita com a
interrupção voluntária da gravidez: através de legislação avulsa, mantendo os artigos
134.º e 135.º do código penal (o último para o suicídio assistido) na lei. Defende
também que é necessária a execução de um debate profundo sobre a matéria com
médicos e penalistas.
Passando para um outro ponto de vista, o constitucionalista Paulo Otero
defende que a eutanásia “não se compatibiliza, está à margem da Constituição, e não se
pode referendar” socorrendo-se do artigo 24.º da Lei Fundamental:
“A vida humana é inviolável.”,
corroborando esta interpretação o Professor Doutor Jorge Miranda, um dos autores do
texto constitucional.
Por outro lado, outros especialistas em direito constitucional como Manuel da
Costa Andrade, Pedro Bacelar de Vasconcelos e Isabel Moreira invertem a lógica da
interpretação e defendem no manifesto “Direito a morrer com dignidade” a perspetiva
legal de que a vida é um direito inviolável e não um dever irrenunciável.
Os especialistas partidários dos “sim” e do “não” utilizam o mesmo artigo 24.º
da Lei Fundamental. Assim Jorge Miranda considera que a morte assistida colide com a
Constituição. “Atentar contra a vida humana, seja no início (referindo-se ao aborto),
seja no fim, colide com esse princípio ético”, refere.
Já Isabel Moreira salienta o contrário: “A eutanásia ou a morte assistida
prende-se precisamente com a defesa do direito à vida, no sentido de uma vida digna.”
E vai mais longe ao notar que o direito à vida não deve ser visto “isoladamente”, mas,
ao invés, “em diálogo” com os restantes.
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Questões éticas
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No caso da criança que morre afogada, o desejo de que ela morra é o motivo
que levou a pessoa a atirá-la ao rio, mas o motivo que impediu a outra pessoa de saltar
para o rio é apenas a crença de que seria incapaz de a salvar. Matar é assim moralmente
pior devido ao motivo do agente. Por sua vez, o risco para o agente que poderia tentar
salvar a criança é maior, dado que também ele podia morrer, logo, deixar morrer é,
neste caso, menos repreensível do que matar. E a probabilidade de que a morte ocorra é
maior no caso de matar do que no caso de deixar morrer: a inação de quem assiste à
cena deixa ainda a possibilidade de outra pessoa salvar a criança, ou de a corrente do rio
a empurrar para a margem.
Avaliar as ações implica não atender a fatores extrínsecos deste tipo. O caso
dos herdeiros tem a virtude de anular esses fatores. É então possível captar a verdade de
que matar e deixar morrer são intrinsecamente iguais. A intuição moral de partida – a de
que matar e deixar morrer não são moralmente equivalentes – é um erro que resulta de
se considerar relevantes fatores meramente extrínsecos. Um erro que leva a presumir
uma diferença moral relevante entre eutanásia ativa e passiva. Se o princípio da simetria
moral estiver certo, não há razão para se concluir que a eutanásia passiva está
moralmente justificada, mas não a ativa. Não faria sentido condenar os médicos que
praticam a eutanásia ativa e confiar naqueles que deixam os pacientes entregues a uma
morte miserável, em vez de os matarem por compaixão.
Se o princípio da simetria moral afirma a equivalência entre matar e deixar
morrer, então os deveres de não matar e de não deixar morrer têm a mesma força. No
entanto, se for possível mostrar que estes deveres não têm a mesma força, o princípio da
simetria moral corre um sério risco de cair por terra. É isso o que ensaiará uma das
críticas a esse principio. Começa-se por se distinguir deveres negativos de deveres
positivos. Um dever negativo é um dever de não causar dano, um dever positivo é um
dever de gerar benefícios. O dever de não matar é assim um dever negativo e o de não
deixar morrer um dever positivo de assegurar a vida de alguém.
Imagine-se um condutor, a quem falham subitamente os travões do carro, tem
duas opções: matar cinco peões que atravessam a passadeira ou desviar-se deles e matar
um peão que vai no passeio. Um cirurgião tem cinco pacientes e cada um deles precisa
urgentemente de um órgão para sobreviver. Depois de fazer um check-up a um paciente
saudável, resolve raptá-lo para fazer a colheita dos órgãos de que precisa, salvando os
cinco doentes terminais. Em ambos os casos morre uma pessoa para que cinco se
salvem, sendo o resultado o mesmo e não havendo diferença nos motivos: em ambos os
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se sentiria seguro numa sociedade em que se mata uma pessoa para o seu bem, visto que
a autonomia é um elemento decisivo do bem-estar.
A autonomia tem mais importância moral do que o prazer ou a ausência de dor.
Isto favorece a eutanásia voluntária pois há mais autonomia se as pessoas têm maneira
de controlar quando acabam as suas vidas. Supondo que a autonomia está assegurada,
minimizar o sofrimento passa então a ser o fator moralmente decisivo. A eutanásia
ativa, neste caso, está mais justificada. É provável que uma morte mais rápida seja uma
maneira menos dolorosa de pôr fim ao sofrimento do paciente. Teria, portanto, as
melhores consequências.
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Eutanásia: o que está em causa? Contributos para um diálogo sereno e humanizador
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Artigo 24.º Direito à vida
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Disponível https://morteassistida.com/
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Disponível https://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalhePeticao.
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Disponível em www.federacao-vida.com.pt/
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Os cuidados paliativos pretendem aumentar a qualidade de vida dos doentes e das suas famílias,
através da prevenção e alívio do sofrimento (Organização Mundial de Saúde).
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da pessoa, e não da pessoa doente, acautelando-se que não haverá clandestinidade nem
abusos, nem precipitações relativamente à execução das decisões.
O testamento Vital previsto na Lei n.º 25/201211, de 16 de julho, define-se na
primeira pessoa como:
Documento que traduz a minha manifestação antecipada da
vontade consciente, livre e esclarecida, no que concerne aos
cuidados de saúde que desejo receber, ou que não desejo
receber, no caso de, por qualquer razão, me encontrar incapaz
de expressar a minha vontade pessoal e autonomamente.
Este documento, que subscrevo sendo maior de idade e capaz e
não me encontrando interdito ou inabilitado por anomalia
psíquica, é por mim unilateral e livremente revogável a
qualquer momento.
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Definição jurídica
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Registo Nacional do Testamento Vital
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Que cuidados de saúde é que o utente pode optar por “não receber”?
● A reanimação cardiorrespiratória;
● Receber assistência religiosa e designar alguém para ter junto de si durante este
momento.
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Eutanásia – Não é opinião, é reflexão
Poucos anos mais tarde desta situação, Andreia tratou de um paciente que tinha
feito um pedido de eutanásia por sofrimento insuportável. Passados alguns dias, a
médica pergunta ao doente se o processo de eutanásia devia continuar, ao que ele lhe
confessou não querer morrer, mas que as muitas dores que sentia lhe eram
completamente insuportáveis e por isso pedia a morte. “Tenho que admitir que não
esperava esta resposta, sobretudo porque partia do princípio que tudo tinha sido feito
anteriormente para atenuar as dores.”, acrescenta. Percebeu depois que o seu tratamento
não se encontrava ajustado à intensidade dos sintomas. O paciente acabou por retirar o
seu pedido de eutanásia e voltar para casa com cuidados paliativos a domicílio.
Com os episódios relatados esta profissional pretende demonstrar o quanto é
perigosa a despenalização destas práticas que provocam a morte dos cidadãos.
Andreia teve ainda oportunidade de trabalhar com equipas de cuidados
paliativos: “Pude aprender com elas como enfrentar o fim de vida de uma pessoa, como
cuidar médica- e humanamente destes doentes e das suas famílias.”.
A médica, residente em Bruxelas, critica o facto de nos quererem fazer crer que
a resposta mais humana que podemos dar a um outro ser humano que sofre, é a morte,
sobretudo se ele a pedir. Parece-lhe por isso muito fácil e claramente menos caro para o
governo inscrever uma lei no Diário da República a permitir a morte provocada dos seus
cidadãos, do que investir no avanço da medicina e no desenvolvimento uma rede eficaz
de cuidados paliativos à disposição dos cidadãos e dos profissionais de saúde
Justificar a eutanásia com o “morrer mal é simplesmente insultuoso para os
portugueses e principalmente para os profissionais de saúde. “Eu não quero ser
homicida; eu quero ser médica.”, declara Andreia Silva, contra a legalização da
eutanásia em Portugal.
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Alfie Evans
Alfie Evans foi um bebé que nasceu dia 09 de maio de 2016 e que viveu desde
o seu sétimo mês de nascimento numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no hospital
infantil Alder Hey em Liverpool.
Alfie era vítima de uma doença neurodegenerativa que estava a danificar aos poucos o
seu cérebro, desta maneira a sua respiração e alimentação estava a ser feita por
aparelhos. A doença que o levou à morte não é certa mas suspeita-se que este sofria de
miopatia mitocondrial (sintomas: Fraqueza muscular; Intolerância ao exercício; Perda
auditiva; Problemas com a coordenação dos movimentos; Convulsões; Deficits de
aprendizagem; Diminuição da visão; Autismos; Defeitos cardíacos e respiratórios;
Diabetes e atrofia do crescimento.) tal como podemos perceber por estes sintomas Alfie
muito provavelmente iria ter uma vida complicada e com muitas adversidades pela
frente.
Alfie viu os aparelhos que o mantinham vivo serem desligados na altura em
que estava prestes a completar dois anos de vida, e já se encontrava nesta situação há
mais de um ano. Esta decisão foi tomada pela Justiça contra a vontade dos pais, o que
levou a grandes discussões sobre o limite do poder de interferência por parte da mesma
na vida e nas decisões privadas dos cidadãos.
De seguida irei dar resposta a algumas questões que foram colocadas no decorrer deste
caso:
Alfie poderia sobreviver à doença?
Uma avaliação feita pela Alta Corte de Justiça do Reino Unido constatou que
os danos eram irreversíveis e que iria haver uma perda de mais de metade da substância
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Ramón Sampedro
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“ Considero que viver é um direito não uma obrigação, como foi no meu caso.” Esta é
uma das citações mais famosas de Ramón em que este diz que foi obrigado a manter-se
na situação em que se encontrava o que lhe trazia bastante sofrimento e não levava uma
vida digna.
“ Só o tempo e a evolução das consciências decidirão algum dia, se o meu pedido era
razoável ou não.”
Com isto, Ramón pretende dizer que há coisas com o tempo que se vão tornando
aceitáveis, o que antigamente era impensável hoje em dia está a tornar-se legal em
alguns países. A evolução das mentalidades leva-nos a concluir que o seu pedido era
uma coisa bastante aceitável pois estava em sofrimento há mais de 20 anos.
Houve uma situação que quando estávamos a fazer a pesquisa achamos interessante
partilhar o facto de este ironicamente gozar com a situação em que se encontrava
quando Júlia, a sua empregada pergunta se ele fuma e este responde “Às vezes para ver
se me mata… mas não adianta.”
“ Eu quero morrer porque a vida para mim neste estado não é digna. Preciso de ajuda
de alguém para morrer, e que não tenha medo disto, a morte sempre esteve connosco, e
sempre estará… faz parte da vida, porque ficam todos escandalizados com o meu
desejo?” refere Ramón quando lhe perguntam a razão pela qual quer por fim à sua vida
e diz ainda que precisa de ajuda para o fazer porque sozinho não consegue.
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Conclusão
Entendemos que o objetivo do nosso trabalho passaria por perceber que, sobre
as questões da vida humana, não basta dar opinião é preciso refletir sobre os argumentos
explanados pelos vários intervenientes na discussão.
Assim, arrumando argumentos:
A favor:
Direito à morte
Os defensores da despenalização da eutanásia argumentam que não deve ser
vedado o direito à autodeterminação e à escolha individual quer pela vida, quer pelo
momento da morte. Trata-se de colocar o interesse do individuo acima do interesse da
sociedade.
Cada indivíduo tem o direito de decidir se quer ou não viver. O direito de
morrer com dignidade, sem dor e sem sofrimento, deve ser dado a qualquer ser humano.
Afinal, somente ele sabe exatamente o que está a sentir.
Evitar a dor
Etimologicamente, a palavra “eutanásia” significava, na antiguidade, uma
morte suave sem sofrimentos atrozes. Hoje, já não se pensa tanto no significado
originário do termo, mas sobretudo, na intervenção da medicina para atenuar as dores da
doença ou da agonia, por vezes, mesmo com risco de suprimir a vida prematuramente.
Evitar a dor, o sofrimento e incómodos de quem está em fase terminal de uma
doença é um dos principais motivos para a defesa da eutanásia.
Morte digna
A definição da “boa morte” foi radicalmente modificada no século XX como
uma consequência do extremo avanço da medicina e do facto que as pessoas passaram a
terminar, muitas vezes, as vidas em hospitais. Essa morte foi compreendida como algo
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Contra:
Para a Igreja Católica a eutanásia é vista como uma usurpação da vida humana,
que é “sagrada e inviolável”.
Os indivíduos cuja vida está diminuída ou enfraquecida necessitam de um
respeito especial. Sejam doentes ou deficientes devem ser ajudados para levarem uma
vida tão normal quanto possível. A eutanásia consiste em pôr fim à vida de pessoas
deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível.
Assim, uma ação ou uma omissão que gera a morte a fim de suprimir a dor,
constitui um assassinato gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao
respeito pelo Deus vivo, seu Criador. O erro de juízo, no qual se pode ter caído de boa-
fé, não muda a natureza deste ato assassino que sempre deve ser excluído e proscrito.
A decisão da eutanásia torna-se mais grave quando se pratica sobre uma pessoa
que não a pediu de modo nenhum nem deu qualquer consentimento para que fosse
realizada.
Atinge-se, enfim, o cúmulo do arbítrio e da injustiça, quando alguns, médicos
ou legisladores, se arrogam o poder de decidir quem deve viver e quem deve morrer.
Aparece, assim, reproposta a tentação do Éden: tornar-se como Deus “conhecendo o
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bem e o mal” (cf. Gn 3,5). Mas Deus é o único que tem o poder de fazer morrer e de
fazer viver: “Só Eu é que dou a vida e dou a morte” (Dt 32,39; cf. 2Re 5,7; 1Sm 2,6).
Ele exerce o seu poder sempre e apenas segundo um desígnio de sabedoria e
amor. Quando o homem usurpa tal poder, subjugado por uma lógica insensata e egoísta,
usa-o inevitavelmente para a injustiça e a morte.
Perigo à espreita
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o que se está a passar. Neste momento, o tempo é cada vez mais curto, o que significa
que as pessoas não estão a ter o acompanhamento que deviam ter para saberem que
alternativas existem antes de optarem pela eutanásia", sublinhou Miguel Guimarães,
bastonário da Ordem dos Médicos.
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Fontes de Pesquisa
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Anexos
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