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Processual do Trabalho
1a edição — Fevereiro, 2008
1a edição — 2a tiragem, setembro, 2008
2a edição — Fevereiro, 2009
3a edição — Fevereiro, 2010
4a edição — Janeiro, 2011
4a edição — 2a tiragem, agosto, 2011
5a edição — Fevereiro, 2012
5a edição — 2a tiragem, setembro, 2012
6a edição — Janeiro, 2013
6a edição — 2a tiragem, setembro, 2013
7a edição — Janeiro, 2014
7a edição — 2a tiragem, julho, 2014
7a edição — 3a tiragem, outubro, 2014
8a edição — Janeiro, 2015
9a edição — Agosto, 2015
9a edição — 2a tiragem, outubro, 2015
10a edição — janeiro, 2016
Mauro schiavi
Juiz Titular da 19a Vara do Trabalho de São Paulo.
Mestre e Doutor em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP.
Professor Universitário (Graduação e Pós-Graduação).
Professor Convidado dos Cursos de Pós-Graduação da PUC/SP (COGEAE),
Escola Paulista de Direito (EPD), Faculdade de Direito de Sul de
Minas (FDSM) EJUD 2/Mackenzie, Rede LFG (NTC) e ESA (Escola Superior
de Advocacia). Professor Convidado das Escolas Judiciais dos TRTs das 1a,
2a, 5a, 6a, 7a, 8a, 11a, 12a, 13a, 15a, 16a, 17a, 19a, 20a, 22a e 24a Regiões.
Manual de Direito
Processual do Trabalho
10a Edição
de acordo com novo CPC
R
EDITORA LTDA.
© Todos os direitos reservados
Rua Jaguaribe, 571
CEP 01224-003
São Paulo, SP – Brasil
Fone: (11) 2167-1101
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Janeiro, 2016
15-11201 CDU-347.9:331
Índice para catálogo sistemático:
1. Direito processual do trabalho 347.9:331
Esta edição é dedicada especialmente
aos que estão sempre ao meu lado.
Angélica Cabral Schiavi, minha esposa,
e Zeus, meu cachorro.
AGRADECIMENTOS:
Sumário
Nota à Décima Edição......................................................................................................... 31
Apresentação....................................................................................................................... 33
10 Mauro Schiavi
3.9. Função social do Processo do Trabalho.................................................................... 135
3.9.1. Princípio da normatização coletiva................................................................. 136
4. Das fontes do Direito Processual do Trabalho.................................................................. 138
5. Interpretação do Direito Processual do Trabalho............................................................. 144
5.1. Regras de interpretação constitucional..................................................................... 147
6. Da aplicação subsidiária do Direito Processual Civil ao Direito Processual do Trabalho
e as lacunas da CLT.......................................................................................................... 152
6.1. O Código de Processo Civil de 2015 e o Processo do Trabalho................................ 152
6.2. As lacunas do Processo do Trabalho e aplicação do CPC......................................... 156
7. Da vigência da norma processual trabalhista e as regras de direito intertemporal ......... 171
8. Processos em curso oriundos das Justiças Estadual e Federal quando da vigência da EC
n. 45/04 e as regras de direito intertemporal .................................................................. 172
9. Das espécies de procedimentos no Processo do Trabalho................................................ 174
10. Do procedimento para as ações que não envolvam parcelas trabalhistas stricto sensu... 174
12 Mauro Schiavi
11.1. Execução fiscal das multas decorrentes da fiscalização do trabalho..................... 295
11.2. Órgãos de fiscalização do exercício de profissões regulamentadas....................... 296
11.3. Ações sobre o FGTS movidas em face da CEF...................................................... 296
12. Execução, de ofício, das contribuições sociais das sentenças que proferir.................... 297
13. Da competência territorial da Justiça do Trabalho brasileira......................................... 302
13.1. Empregado brasileiro que trabalha no estrangeiro............................................... 309
13.2. Foro de eleição na Justiça do Trabalho................................................................. 311
14. Competência funcional da Justiça do Trabalho.............................................................. 312
14.1. Competência funcional das Varas do Trabalho..................................................... 314
14.2. Competência funcional dos Tribunais Regionais do Trabalho.............................. 315
14.3. Competência funcional do Tribunal Superior do Trabalho................................... 317
a) Da competência do Tribunal Pleno................................................................... 317
b) Da competência da Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC).......... 318
c) Da competência da Seção Especializada em Dissídios Individuais (SDI-I e SDI-II). 319
d) Da competência das Turmas do TST................................................................. 320
15. Da modificação da competência na Justiça do Trabalho................................................ 320
16. Conflitos de competência entre órgãos que detêm jurisdição trabalhista...................... 322
14 Mauro Schiavi
9. Das despesas processuais no Processo do Trabalho......................................................... 473
9.1. Custas processuais e emolumentos........................................................................... 474
10. Da suspensão do processo.............................................................................................. 476
16 Mauro Schiavi
6.2. Se o litígio versar sobre direitos indisponíveis (art. 392 do CPC) ........................... 614
6.3. Se a petição inicial não estiver acompanhada de documento essencial ................... 615
6.3.1. As alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem
em contradição com prova constante dos autos............................................. 615
7. A revelia e a pessoa jurídica de direito público................................................................ 615
8. A revelia quando há necessidade de prova pericial.......................................................... 617
9. O Juiz do Trabalho diante da revelia................................................................................ 618
18 Mauro Schiavi
2.4.2. Da capacidade para ser testemunha. Das incapacidades, impedimentos e sus-
peições das testemunhas no Processo do Trabalho............................................. 748
a) amizade íntima............................................................................................... 749
b) empregado que exerce cargo de confiança na empresa.................................. 751
c) testemunha que litiga contra o mesmo empregador em troca de favores....... 753
2.4.3. Depoimento da testemunha menor de 18 anos no Processo do Trabalho.......... 755
2.4.4. Número máximo de testemunhas no Processo do Trabalho............................... 757
2.4.5. Da qualificação da testemunha. A testemunha que não porta documento poderá
ser ouvida?.......................................................................................................... 759
2.4.6. Da contradita ..................................................................................................... 761
2.4.7. Da substituição das testemunhas........................................................................ 762
2.4.8. Da produção da prova testemunhal no Processo do Trabalho............................ 763
2.4.9. Da acareação das testemunhas e testemunhas e partes....................................... 766
2.4.9.a. Da valoração da prova testemunhal pelo Juiz do Trabalho.................... 767
2.4.9.b. Do falso testemunho no Processo do Trabalho e o Juiz do Trabalho
diante do falso testemunho ................................................................... 770
2.5. Da prova pericial........................................................................................................... 772
2.5.1. Sistemática da realização das perícias................................................................. 775
2.5.2. Da valoração da prova pericial ........................................................................... 778
2.5.3. Do pagamento dos honorários periciais ............................................................ 780
2.6. Da inspeção judicial no Direito Processual do Trabalho............................................... 786
20 Mauro Schiavi
1.6. Pressupostos recursais.................................................................................................. 872
1.6.1. Pressupostos recursais intrínsecos ou subjetivos............................................... 873
1.6.1.1. Cabimento............................................................................................. 873
1.6.1.2. Legitimidade.......................................................................................... 874
1.6.1.3. Interesse recursal................................................................................... 876
1.6.2. Pressupostos recursais extrínsecos ou objetivos................................................. 881
1.6.2.1. Preparo................................................................................................... 881
1.6.2.2. Depósito recursal................................................................................... 881
1.6.2.3. Regularidade formal............................................................................... 896
1.6.2.4. Assinatura.............................................................................................. 899
1.6.2.5. Tempestividade...................................................................................... 900
1.7. Efeitos dos recursos trabalhistas................................................................................... 901
1.7.1. Do efeito devolutivo ........................................................................................... 901
1.7.2. Efeito translativo ................................................................................................ 905
1.7.3. Regressivo........................................................................................................... 906
1.7.4. Substitutivo......................................................................................................... 906
1.7.5. Suspensivo.......................................................................................................... 907
1.8. Do processamento dos recursos trabalhistas................................................................ 908
1.9. Do art. 932 do CPC (majoração dos poderes do relator).............................................. 914
1.9.1. A força criativa da jurisprudência pelos tribunais.............................................. 918
1.9.1.1. A questão do precedente judicial........................................................... 918
1.9.1.2. Força vinculante da jurisprudência dos Tribunais................................ 922
22 Mauro Schiavi
Capítulo XX — Da Execução na Justiça do Trabalho
1. Introdução e aspectos críticos.......................................................................................... 1036
2. Do conceito de execução trabalhista................................................................................ 1038
3. Dos princípios da execução trabalhista............................................................................ 1039
3.1. Primazia do credor trabalhista.................................................................................. 1039
3.2. Princípio do meio menos oneroso para o executado................................................ 1039
3.3. Princípio do título..................................................................................................... 1041
3.4. Redução do contraditório.......................................................................................... 1042
3.5. Patrimonialidade....................................................................................................... 1043
3.6. Efetividade................................................................................................................ 1043
3.7. Utilidade.................................................................................................................... 1044
3.8. Disponibilidade......................................................................................................... 1044
3.9. Função social da execução trabalhista...................................................................... 1045
3.10. Subsidiariedade....................................................................................................... 1045
3.11. Princípio da ausência de autonomia da execução trabalhista (procedimento sin-
crético)................................................................................................................... 1046
3.12. Princípio do impulso oficial.................................................................................... 1048
4. Dos pressupostos processuais e condições da ação na execução..................................... 1049
5. Do mérito da execução..................................................................................................... 1051
6. Do título executivo........................................................................................................... 1051
7. Títulos executivos judiciais.............................................................................................. 1055
8. Títulos executivos extrajudiciais...................................................................................... 1057
9. Do procedimento da execução por títulos executivos extrajudiciais no Processo do
Trabalho........................................................................................................................... 1062
10. Da competência para a execução trabalhista.................................................................. 1064
11. Legitimidade para promover a execução....................................................................... 1065
11.1. Ativa...................................................................................................................... 1065
11.2. Da legitimidade ativa do espólio e sucessores....................................................... 1066
11.3. (Cessionário) Da cessão do crédito trabalhista .................................................... 1067
11.4. Do sub-rogado....................................................................................................... 1068
11.5. Da legitimidade passiva......................................................................................... 1069
12. Da responsabilidade patrimonial................................................................................... 1069
13. Da responsabilidade patrimonial secundária................................................................. 1070
Dos responsáveis secundários na execução no Processo do Trabalho (hipóteses típicas)... 1071
13.1. Sucessão de empresas (empregadores)................................................................. 1071
13.2. Da responsabilidade do sócio (desconsideração da personalidade jurídica)........ 1075
13.2.1. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica ................... 1082
13.3. Do sócio que se retirou da sociedade há mais de 2 anos da data do ingresso da
ação....................................................................................................................... 1087
13.3.1. Teoria inversa da desconsideração da personsalidade jurídica................. 1089
13.4. Bens do cônjuge ou companheiro......................................................................... 1092
13.5. Da responsabilidade do devedor subsidiário ....................................................... 1093
24 Mauro Schiavi
25.10. Penhora de bem gravado com leasing................................................................. 1223
25.11. Penhora de crédito.............................................................................................. 1224
25.12. Penhora no rosto dos autos................................................................................. 1225
25.13. Penhora de faturamento...................................................................................... 1225
25.14. Da penhora de empresa e do estabelecimento comercial.................................... 1227
25.15. Substituição de penhora...................................................................................... 1229
25.16. Mais de uma penhora sobre o mesmo bem (concurso de credores na Justiça do
Trabalho)............................................................................................................ 1230
25.16.1. Do arresto cautelar (art. 830 do CPC).................................................. 1232
25.17. Do auto de penhora............................................................................................. 1233
26. Da avaliação dos bens penhorados................................................................................. 1234
27. Do depósito dos bens penhorados e depositário............................................................ 1237
28. Depositário infiel — Prisão determinada pelo Juiz do Trabalho................................... 1241
29. Dos meios de defesa do executado e terceiro em face da execução............................... 1249
29.1. Embargos à execução (título executivo judicial).................................................. 1249
29.1.1. Do conteúdo dos embargos à execução.................................................... 1252
29.1.2. Do processamento dos embargos à execução........................................... 1260
30. Embargos à execução por título executivo extrajudicial............................................... 1262
30.1. Parcelamento da execução (art. 916 do CPC) e sua compatibilidade com o Processo
do Trabalho........................................................................................................... 1264
31. Da exceção de pré-executividade na Justiça do Trabalho.............................................. 1266
32. Dos embargos de terceiro............................................................................................... 1271
Da Fase de Expropriação de Bens.................................................................................. 1276
33. Da hasta pública............................................................................................................. 1276
34. Formalidades da hasta pública....................................................................................... 1278
35. Expropriação.................................................................................................................. 1280
35.1. Arrematação — Conceito e legitimidade para arrematar..................................... 1281
35.2. Da arrematação parcelada de bens e sua compatibilidade com o Processo do
Trabalho................................................................................................................ 1284
35.3. Adjudicação.......................................................................................................... 1286
35.4. Remição da execução............................................................................................ 1288
35.5. Remição de bens................................................................................................... 1289
Prioridade no Processo do Trabalho.............................................................................. 1290
36. Lance mínimo................................................................................................................ 1290
37. Lance vil......................................................................................................................... 1291
38. Lance vil no Processo do Trabalho................................................................................ 1292
39. Impugnação da expropriação no Processo do Trabalho................................................ 1295
40. Da adjudicação antes da hasta pública e o Processo do Trabalho.................................... 1298
41. Alienação por iniciativa particular e o Processo do Trabalho........................................ 1300
42. Alienação por leilão eletrônico...................................................................................... 1301
43. Suspensão e extinção da execução no Processo do Trabalho........................................ 1302
26 Mauro Schiavi
5.1. Conceito e natureza jurídica..................................................................................... 1377
5.2. Hipóteses de cabimento da ação rescisória............................................................... 1382
a) Se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juízo..... 1383
b) Proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente ............................ 1383
c) Resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida,
ou de colusão ou simulação entre as partes, a fim de fraudar a lei...................... 1384
d) Ofender a coisa julgada........................................................................................ 1385
e) Violar manifestamente a norma jurídica.............................................................. 1385
f) Se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou
seja provada na própria ação rescisória................................................................ 1387
g) Depois do trânsito em julgado, o autor obtiver prova nova, cuja existência
ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pro-
nunciamento favorável......................................................................................... 1387
h) Fundada em erro de fato verificável no exame dos autos.................................... 1388
5.3. Legitimidade para propor a ação rescisória.............................................................. 1388
5.4. Competência............................................................................................................. 1389
5.5. Da revelia na ação rescisória..................................................................................... 1389
5.6. Procedimento na Justiça do Trabalho....................................................................... 1390
5.7. Prazo para a propositura da ação rescisória.............................................................. 1394
6. Da Ação Civil Pública na esfera trabalhista...................................................................... 1395
6.1. Do conceito de Ação Civil Pública. Natureza jurídica e aplicabilidade no Processo
do Trabalho............................................................................................................... 1395
6.2. Competência para as ações coletivas na Justiça do Trabalho................................... 1401
a) Material................................................................................................................. 1401
b) Funcional............................................................................................................. 1401
6.3. Da legitimidade para a propositura da Ação Civil Pública....................................... 1404
6.4. Litispendência entre a Ação Civil Pública e a Ação Individual................................ 1408
6.5. Prescrição da pretensão nas ações coletivas trabalhistas.......................................... 1411
6.6. Sentença e coisa julgada na Ação Civil Pública........................................................ 1411
7. Da Ação Civil Coletiva..................................................................................................... 1416
8. Da ação de consignação em pagamento na Justiça do Trabalho...................................... 1417
9. Ação anulatória na Justiça do Trabalho........................................................................... 1421
9.1. Ação anulatória de normas convencionais na Justiça do Trabalho.......................... 1424
9.1.1. Legitimidade................................................................................................... 1428
9.1.2. Competência material..................................................................................... 1432
9.1.3. Competência hierárquica ou funcional........................................................... 1434
10. Correição parcial na Justiça do Trabalho........................................................................ 1437
11. Habeas Corpus na Justiça do Trabalho........................................................................... 1439
11.1. Conceito e natureza jurídica................................................................................ 1439
11.2. Competência da Justiça do Trabalho................................................................... 1441
11.3. Hipóteses de cabimento na Justiça do Trabalho.................................................. 1442
Bibliografia........................................................................................................................... 1485
28 Mauro Schiavi
Há homens que lutam um dia e são bons.
Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida; estes são imprescindíveis.
(Bertold Brecht)
Nota à Décima Edição
32 Mauro Schiavi
Apresentação
34 Mauro Schiavi
Capítulo I
Teoria Geral do Direito
Processual do Trabalho
1. Do conflito trabalhista
Não há consenso na doutrina sobre o que seja conflito(1), mas este é inerente
à condição humana, principalmente em razão da escassez de bens existentes na
sociedade e das inúmeras necessidades do ser humano.
Márcio Pugliese(2) apresenta os seguintes fatores para um modelo conflitivo
da sociedade:
“a) A vida social, num determinado modo produtivo, é resultado da
interação permanente de utilidades (interesses) diversas que constituem
o elemento motivador fundamental para a conduta social do homem; b) O
conflito de interesses é a busca de utilidade, domina a vida social e, em
consequência, propicia a produção de normas, regulamentos, sistemas de
repressão e lide de todo tipo; c) O consenso, também chamado equilíbrio
social, é um estado precário, sendo mais um construto teórico-prático
que efetivo consenso normativo generalizado; d) O consenso, no sentido
de c), existe como expressão ideológica das resultantes das forças de domi-
nação e coerção ou de exploração de uma sociedade e é, por consequência,
precário e mutável; e) O conflito social favorece a divisão da sociedade em
grupos de pressão, instituições (particularmente partidárias) que disputam o
poder que, de fato, permanece com as elites dominantes; f)A ordem social
(estado de equilíbrio do sistema) depende da natureza desse conflito,
ou melhor, de sua estrutura; g) O conflito entre os contendores produz
a mudança social, elemento permanente em qualquer sociedade a fim
de manter o estado geral de coisas orbitando em torno de um ponto de
equilíbrio (um ponto de acumulação, em sentido topológico); h) Quando
o desequilíbrio excede a capacidade de o sistema obter retorno a esse
ponto de acumulação, transformações serão necessárias; i) Inicialmente,
o sistema tenderá a diversificar seu funcionamento a fim de superar o
(1) Segundo Antonio Houaiss, o conflito é “profunda falta de entendimento entre duas ou mais partes, choque,
enfrentamento” (Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 797).
(2) PUGLIESE, Márcio. Por uma teoria geral do direito. Aspectos microssistêmicos. São Paulo: RCS, 2005. p. 203.
(3) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Teoria geral do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 314.
(4) Conforme Wilson de Souza Campos Batalha: “Os grupos são entidades sociais que, no direito atual,
assumem categorização jurídica expressiva e são dotadas de realidade processual. Alguns são inorga-
nizados, aflorações espontâneas da coletividade, como grupos de pressão e comissão de fábrica. Outros
são organizados como entidades civis ou como entidades sindicais. As associações civis são livremente
organizadas e se registram no Registro de Títulos e Documentos, nos termos da Lei de Registros Públicos
(Lei n. 6.015/73)” (Instrumentos coletivos de atuação sindical. Revista Legislação do Trabalho. São Paulo:
LTr, ano 60, v. 2, 1996. p. 184).
(5) A greve sem a justiça do trabalho. Revista Legislação do Trabalho. São Paulo: LTr, ano 61, v. 02, 1997. p. 197.
(6) FERNANDES, Antonio Monteiro. Direito do trabalho. 13. ed. Coimbra: Almedina, 2006. p. 835.
36 Mauro Schiavi
ou ostensivo é a essência das relações industriais’; a negociação colectiva
não é só uma técnica de produção de normas, mas também um método
de superação de conflitos actuais ou potenciais; envolve um processo
jurídico e uma dinâmica social.”
A doutrina costuma classificar os conflitos coletivos em conflitos jurídicos
ou de direito, que não têm por objeto a criação de novas condições de trabalho, e
os conflitos de interesse ou econômicos, que visam à criação de novas condições de
trabalho. Conforme leciona Octavio Bueno Magano: “Os conflitos econômicos têm
por escopo a modificação de condições de trabalho, e, por conseguinte, a criação de
novas normas, enquanto os jurídicos têm por finalidade a interpretação ou aplicação
de normas jurídicas preexistentes”(7).
Na esfera processual, o conflito surge quando ocorre uma pretensão resistida,
o que Carnelutti(8) denominou lide(9). Por seu turno, segundo este consagrado
processualista, pretensão é a exigência de subordinação do interesse alheio ao interesse
próprio(10).
Conflito de interesse, conforme ensina Moacyr Amaral Santos(11), “pressupõe, ao
menos, duas pessoas com interesse pelo mesmo bem. Existe quando a intensidade do
interesse de uma pessoa por um determinado bem se opõe à intensidade do interesse
de uma pessoa pelo mesmo bem, donde a atitude de uma tendente à exclusão da
outra quanto a este.”
Surge a lide trabalhista, quando há uma pretensão resistida do trabalhador ou
do tomador de serviços, tendo por escopo a violação da ordem jurídica trabalhista.
(7) MAGANO, Octavio Bueno. Manual de direito do trabalho. Direito coletivo. V. IV. 4. ed. São Paulo: LTr, 1994.
p. 162.
(8) CARNELUTTI, Francesco. Instituições do processo civil. V. I. Campinas: Servanda, 1999. p. 77.
(9) Como destaca Patrícia Miranda Pizzol: “[...] podemos concluir que lide é o conflito de interesses qualificado
por uma pretensão resistida, submetido à apreciação do Judiciário. É importante, assim, diferenciar lide de
conflito de interesses — o conflito se manifesta no plano sociológico, enquanto a lide no plano processual;
logo, pode não haver uma correspondência entre conflito e lide, se o autor deduzir em juízo apenas uma
parte do conflito de interesses” (Competência no processo civil. São Paulo: RT, 2003. p. 27).
(10) Como destaca Amauri Mascaro Nascimento: “Se uma reivindicação do trabalhador é resistida pelo empregador
contra o qual é dirigida, surge um conflito de trabalho” (Teoria geral do direito do trabalho. São Paulo: LTr,
1998. p. 314).
(11) SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 1985. p. 4.
(12) Teoria geral do processo. 21. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 22.
a) autotutela
A autotutela ou autodefesa é o meio mais primitivo de resolução dos conflitos
em que uma das partes, com utilização da força, impõe sua vontade sobre a parte
mais fraca. Nesta modalidade, há uma ausência do Estado na solução do conflito,
sendo uma espécie de vingança privada.
Ensina Amauri Mascaro Nascimento(13):
“A autodefesa pode ser autorizada pelo legislador, tolerada ou proibida
[...] A solução que provém de uma das partes interessadas é unilateral
e imposta. Portanto, evoca a violência, e a sua generalização importa na
quebra da ordem e na vitória do mais forte e não do titular do direito.
Assim, os ordenamentos jurídicos a proíbem, autorizando-a apenas excep-
cionalmente, porque nem sempre a autoridade pode acudir em tempo a
solução dos conflitos.”
Como destacam Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e
Cândido Rangel Dinamaro(14), “são fundamentalmente dois os traços característicos
da autotutela: a) ausência de juiz distinto das partes; b) imposição da decisão por
uma das partes à outra.”
Hoje, nas legislações, ainda há resquícios da autotutela em alguns Códigos,
como a legítima defesa da posse no Código Civil, ou o estado de necessidade e
legítima defesa na esfera penal.
Na esfera do conflito coletivo de trabalho, temos como exemplo de autotutela
a greve e o locaute, sendo este vedado no ordenamento jurídico brasileiro pelo
art. 17 da Lei n. 7.783/89. Na esfera individual, temos o direito de resistência do
empregado às alterações contratuais lesivas (arts. 468 e 483 da CLT) e o poder
disciplinar do empregador.
b) autocomposição
A autocomposição é modalidade de solução dos conflitos coletivos de trabalho
pelas próprias partes interessadas sem a intervenção de um terceiro que irá ajudá-las
(13) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva,
2007. p. 06.
(14) Teoria geral do processo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 23.
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ou até propor a solução do conflito. Como exemplos, temos: a negociação coletiva
para os conflitos coletivos e o acordo ou a transação para os conflitos individuais.
No aspecto, vale destacar a seguinte ementa:
“DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE. ACORDO CELEBRADO ENTRE AS PARTES. A finalida-
de principal da Justiça do Trabalho é conciliar as partes, alcançando a paz e harmonia social.
Assim, tendo a empresa suscitante e o sindicato suscitado celebrado acordo dando fim ao
movimento paredista, homologa-se parcialmente o acordo, com exceção da cláusula nona,
em relação à qual, no termo de acordo, consta a anotação sem efeito. Processo que se extingue
com resolução do mérito, nos termos do art. 269, III, do CPC – AC 00079.2010.000.17.00.6.”
(N.U. 0007900-89.2010.5.17.0000) – 17a REGIÃO – Desembargador José Carlos Rizk – relator.
DJ/ES de 10.6.2010 – DT Ago. 2010, v. 193, p. 135)
A doutrina aponta como espécies de autocomposição a desistência(15), a renúncia(16),
a submissão(17) e a transação(18).
Na esfera do Direito Coletivo do Trabalho, temos como instrumentos típicos
de autocomposição os acordos e convenções coletivas, que são produto de um
instituto maior, que é a negociação coletiva.
c) heterocomposição
A heterocomposição exterioriza-se pelo ingresso de um agente externo e desin-
teressado ao litígio que irá solucioná-lo e sua decisão será imposta às partes de forma
coercitiva. Como exemplo, temos a decisão judicial (dissídios individuais e coletivos)
e a arbitragem.
A heterocomposição, sob a modalidade da decisão judicial (Poder Judiciário),
tem sido o meio, por excelência, de solução do conflito trabalhista, pois o Brasil,
de cultura romano-germânica, não tem tradição de resolução dos conflitos pela via
da negociação nem da arbitragem.
Mais adiante, faremos estudo detalhado da jurisdição e da arbitragem.
d) mediação e conciliação
Mediação é forma de solução dos conflitos por meio da qual o mediador se
insere entre as partes, procurando aproximá-las para que elas próprias cheguem a
uma solução consensual do conflito.
Na visão de Pedro Romano Martinez(19), “a mediação constitui uma forma de
solucionar conflitos colectivos que se pode dizer está a meio caminho entre a conci-
liação e a arbitragem; é algo mais do que a conciliação e menos que a arbitragem.
(20) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Teoria geral do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 331-332.
(21) Op. cit., p. 1.354.
(22) DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 1.447.
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de certo modo, a mediação como modalidades de heterocomposição). É que a
diferenciação essencial entre os métodos de solução de conflitos encontra-se,
como visto, nos sujeitos envolvidos e na sistemática operacional do processo
utilizado. Na autocomposição, apenas os sujeitos originais em confronto
é que se relacionam na busca da extinção do conflito, conferindo origem
a uma sistemática de análise e solução da controvérsia autogerida pelas
próprias partes. Já na heterocomposição, ao contrário, dá-se a intervenção
de um agente exterior aos sujeitos originais na dinâmica de solução do
conflito, transferindo, como já exposto, em maior ou menor grau, para
este agente exterior a direção dessa própria dinâmica. Isso significa que
a sistemática de análise e solução da controvérsia deixa de ser exclusi-
vamente gerida pelas partes, transferindo-se em alguma extensão para a
entidade interveniente.”
No nosso sentir, tanto a mediação como a conciliação são modalidades de
autocomposição, pois tanto o mediador como o conciliador não têm poderes para
decidir o conflito e nem impor a decisão. Além disso, cumpre às partes a faculdade
de aceitar, ou não, as propostas do mediador ou conciliador.
O Código de Processo Civil, no art. 3o, privilegia tanto a mediação como a
conciliação, como formas legítimas, justas, eficazes e céleres de resolução de conflitos,
sem criar óbices ao acesso ao judiciário. Com efeito, dispõe o referido dispositivo:
“Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser
estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial.”
Na Justiça do Trabalho, tanto a mediação como a conciliação, tanto judiciais
como extrajudiciais, devem ser estimuladas. Alguns Tribunais Regionais do Trabalho
já criaram núcleos específicos de resolução consensual de conflitos, sob supervisão
de Juízes do Trabalho, com a atuação intensa de conciliadores e mediadores. Esses
núcleos têm obtido excelentes resultados com baixo custo.
De outro lado, é possível também que o próprio Juiz do Trabalho possa ser
auxiliado na respectiva audiência por conciliadores e mediadores que irão contribuir
para a solução consensual no conflito.
A experiência do direito comparado nos tem demonstrado que, em determi-
nados conflitos, as partes se sentem mais à vontade para expor suas expectativas e
angústias do conflito na presença de conciliadores e mediadores do que na presença
do magistrado e, diante disso, a probabilidade do acordo é mais elavada.
Nesse sentido, dispõe o art. 139, V, do CPC, de aplicação subsidiária ao pro-
cesso do trabalho (arts. 769, da CLT e 15 do CPC), in verbis:
3. Da conciliação
Dizia Carnelutti que a conciliação é uma sentença dada pelas partes e a sentença
é uma conciliação imposta pelo juiz.
Ensina Calmon de Passos(23):
“Conciliação é uma das modalidades de se pôr fim ao litígio mediante
solução que lhe dão as próprias partes, apenas cumprindo ao magistrado
acolhê-la. Caracteriza-se por implicar na participação do magistrado.
Com ela pode-se lograr tanto uma transação, quanto o reconhecimento
ou renúncia.”
Somente são passíveis de conciliação os direitos patrimoniais disponíveis.
No nosso sentir, o fato de existirem normas de ordem pública no Direito do Trabalho
(arts. 9o, 444, e 468, todos da CLT) não significa dizer que os Direitos Trabalhistas
são indisponíveis.
Nesse diapasão, oportunas as palavras de Américo Plá Rodriguez(24):
“No campo do Direito do Trabalho, surge, pois, uma distinção essencial e
de suma importância: nele existem normas imperativas que não excluem
a vontade privada, mas a cercam de garantias para assegurar sua livre
formação e manifestação, valorizando-a como a expressão da própria
personalidade humana. Ressalte-se que o Direito do Trabalho não é,
no fundo, um direito obrigacional. Antes de mais nada, é direito entre
pessoas, distinguindo-se não obstante do direito de família pelo grau de
intensidade das relações pessoais, bem como pelo caráter temporário e
precariedade dos laços pessoais. Um direito que em sua essência disciplina
a conduta humana em função criadora de valores, que é a expressão da
responsabilidade social e da colaboração para um fim comum, não pode
excluir de seu campo a manifestação da vontade privada, mas, pelo contrário,
deve traçar-lhes limites que permitam o cumprimento de sua missão.”
Pertencendo ao Direito Privado e contando com uma elevada gama de normas
de ordem pública e, ainda, considerando-se o estado de subordinação a que está
sujeito o empregado, os Direitos Trabalhistas, durante a vigência do contrato de tra-
balho, são irrenunciáveis, como regra geral. Entretanto, uma vez cessados o vínculo
(23) CALMON DE PASSOS, José Joaquim. Comentários ao Código de Processo Civil. 8. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2001. p. 451.
(24) PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 151.
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de emprego e o consequente estado de subordinação, o empregado pode renunciar
e transacionar direitos, máxime estando na presença de um órgão imparcial, como
o Sindicato ou a Justiça do Trabalho.
Alguns direitos na esfera trabalhista são indisponíveis, como os direitos da
personalidade do trabalhador, difusos, coletivos e também os relacionados com as
normas que se referem à medicina, à segurança e ao meio ambiente do trabalho.
A doutrina tem diferenciado a conciliação da transação, pela abrangência e
pela participação do conciliador ou magistrado na solução do conflito.
Transação é o negócio jurídico pelo qual as partes, mediante concessões recí-
procas, põem fim a uma relação jurídica duvidosa, ou previnem a ocorrência do
litígio. A transação pode ser judicial ou extrajudicial. É importante destacar que
a transação provém das próprias partes, ou seja: elas próprias, sem a interferência
do conciliador ou do magistrado, chegam a uma solução consensual do conflito.
A conciliação assemelha-se à transação, mas apresenta suas peculiaridades,
pois a conciliação é obtida em juízo, com a presença do juiz ou do conciliador que
participa ativamente das tratativas, inclusive fazendo propostas para solução do con-
flito. A conciliação pode implicar renúncia ao direito ou reconhecimento do pedido.
Sem dúvida, a conciliação é a melhor forma de resolução do conflito trabalhista,
pois é solução oriunda das próprias partes que sabem a real dimensão do conflito,
suas necessidades e possibilidades para melhor solução. Muitas vezes, a sentença
desagrada a uma das partes e até mesmo às duas partes.
Como bem adverte Joel Dias Figueira Júnior(25):
“A sentença, por intermédio do comando específico a ela agregado, gerador
da coisa julgada material, produz para os litigantes segurança e estabilidade
jurídica na questão. Porém, deixa a parte sucumbente, em regra, insatisfeita,
quando o mesmo não acaba ocorrendo, também o autor, nas hipóteses de
improcedência, ou de acolhimento parcial de pretensão. Trata-se de um
típico ato de império, portanto, de violência admitida pelo sistema, repre-
sentada pela imposição da ordem jurídica aos jurisdicionados litigantes, em
que exista, necessariamente, correlação com a solução da lide sociológica.
Em contrapartida, o acordo firmado pelas partes traz ínsita a pressuposição
de aceitação mútua de questões conflituosas existentes entre eles. Por isso,
a composição amigável fortalece a pacificação social, compondo a lide
jurídica e o conflito intersubjetivo de interesses.”
A Justiça do Trabalho prestigia a conciliação como forma primordial de solução
do conflito trabalhista (art. 764 da CLT(26)), a ponto de obrigar o juiz a propor a conciliação
em diversos estágios do processo, quais sejam: quando aberta a audiência, antes da
(25) FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 497.
(26) Art. 764 da CLT: “Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho
serão sempre sujeitos à conciliação.”
(27) Alguns processualistas asseveram que, quando o juiz homologa transação, a decisão é meramente homo-
logatória, chancelando a vontade das partes, não analisando o mérito da causa. Portanto, o remédio cabível
para atacar a homologação da transação é a Ação Anulatória e não a Ação Rescisória.
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