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Boletim Informativo

ISSN 1981-979X
volume 37
número 01
Janeiro - Abril de 2012
www.sbcs.org.br

PESQUISA
E EXTENSÃO
UM DIÁLOGO POSSÍVEL
EDITORIAL

Publicação editada pela Secretaria Executiva da SBCS. Tem por

ÍNDICE
objetivos esclarecer as principais atividades da Sociedade e difundir
notícias de interesse dos associados.
Os conceitos emitidos em artigos assinados são de exclusiva
responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a
opinião da SBCS.
Permite-se a reprodução, total ou parcial, dos trabalhos, desde que
seja, explicitamente, indicada a sua origem. NOTÍCIAS
O Boletim da SBCS é vendido, separadamente, a R$10,00 mais o valor
de postagem.

BOLETIM INFORMATIVO SBCS 02 SBCS DISCUTE REGIMENTO


EM REUNIÃO HISTÓRICA
Editor-chefe: Raphael Fernandes. Editores: Victor Hugo Alvarez V.,
MARIÂNGELA HUNGRIA
Reinaldo Bertola Cantarutti e Roberto Ferreira de Novais. Produção e
jornalismo: Léa Medeiros - MTb 5084. Revisão: João Batista Mota.
Secretárias: Cíntia Fontes, Denise Cardoso e Denise Machado. Projeto
gráfico e diagramação: Izabel Morais.
04 E CARLOS CERRI RECEBEM PRÊMIO
DE PESQUISA DA EMBRAPA

PARTICIPE DO BOLETIM INFORMATIVO


Os artigos para o Boletim Informativo podem ser enviados para
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Caixa Postal 231, Viçosa,
05 EMBRAPA LANÇA SEGUNDA
VERSÃO DO SIBCTI
Minas Gerais - 36570-000. Ou para o e-mail boletimsbcs@ufv.br.

05 CIÊNCIA BRASILEIRA PERDE


AZIZ AB'SABER

ARTIGO
O IMPORTANTE É PUBLICAR: Prezados Sócios
CONSELHO DIRETOR 2009/2011
Presidente: Gonçalo Signorelli de Farias (Iapar). Vice-Presidente: Ivan
Luiz Zilli Bacic (Epagri) - Presidente do XXXIV CBCS - 2013. II Vice-
06 A (RE) PRODUÇÃO CIENTÍFICA NOS
PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA Em 2012 comemoramos os 65 anos da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo.
presidente: José Araújo Dantas. Secretaria Executiva (UFV): Uma longa trajetória, permeada por algumas dificuldades, mas rica de conteúdo,
Secretário Geral - Reinaldo Bertola Cantarutti. Secretário Adjunto - que lhe confere a distinção de ser uma das mais tradicionais e respeitadas socieda-
Raphael B. A. Fernandes. Tesoureiro - Edson Marcio Mattiello.
Conselheiros: Ex-presidentes - Flávio A. Camargo (UFRGS) e Mateus
Rosas Ribeiro (UFRPE). Diretores das Divisões Especializadas:
OPINIÃO des científicas brasileiras. Assim, nada mais justo que iniciarmos as comemora-
ções do aniversário estampando, na capa deste Boletim o selo criado especialmen-
Divisão 1 - Solo no Espaço e no Tempo - Lucia Helena Cunha dos Anjos
(UFRRJ). Divisão 2 - Processos e Propriedades do Solo - Fátima Maria
De Souza Moreira (UFLA). Divisão 3 - Uso e Manejo do Solo - José
Eduardo Corá (UNESP). Divisão 4 - Solo, Ambiente e Sociedade -
Cristine Carole Muggler (UFV). Diretores dos Núcleos da SBCS:
12 A CIÊNCIA DO SOLO
E A EXTENSÃO NO BRASIL
te para tal fim e que será a segunda logomarca da SBCS ao longo de 2012.
Por outro lado, os artigos publicados neste número abordam uma questão
sensível e cada vez mais presente nas reflexões que uma organização como a
A FRÁGIL RELAÇÃO ENTRE
14
Núcleo Regional Amazônia Ocidental (AM, AC, RR, RO) - Milton César nossa deve fazer para lhe conferir sustentabilidade: a extensão do conhecimento
Costa Campos (UFAM). Núcleo Regional Amazônia Oriental (MA, TO, A PESQUISA EM CIÊNCIA DO SOLO em Ciência do Solo na direção do usuário final, isto é, para aquele que efetivamente
PA, AP) - Antônio Clementino dos Santos (UFT). Núcleo Regional
Nordeste (BA, SE, AL, PB, PE, CE, RN, PI) - Clístenes Williams A.
E A SUA EXTENSÃO utiliza o solo para o agronegócio. Um rico debate, ocorrido em dezembro do ano

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Nascimento (UFRPE). Núcleo Regional Oeste (MT, MS, GO, DF) - passado entre a Presidência, os colegas membros da Secretaria Executiva e o pro-
Marco Aurélio Carbone Carneiro (UFG). Núcleo Regional Leste (MG, CIÊNCIA DO SOLO E EXTENSÃO RURAL
ES, RJ) - Hugo Alberto Ruiz (UFES). Núcleo Estadual São Paulo (SP) - fessor Roberto Novais, editor-chefe da RBCS e proponente de tal debate, conferiu o
José Marques Júnior (UNESP). Núcleo Estadual do Paraná - Omar destaque necessário ao assunto para que o mesmo fosse objeto central desta edi-
A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
João Bertol (EMATER). Núcleo Regional Sul (RS e SC) - Paulo Roberto
Ernani (UDESC).

ENTRE EM CONTATO COM A SBCS


26 EM MANEJO E CONSERVAÇÃO
DO SOLO E DA ÁGUA
ção e tivesse a colaboração de alguns associados na condição de autores.
Destacomos ainda também a reportagem sobre a recente reunião ordinária do
Endereço: Caixa Postal 231 - Viçosa, Minas Gerais - 36570-000 Conselho Diretor da SBCS , ocorrida entre 28 de fevereiro e 1º de março em Viçosa,
PESQUISA E EXTENSÃO A e considerada um marco histórico na vida da Sociedade por contar com a presença
32
Telefone: (31) 3899-2471
E-mail da secretaria: sbcs@sbcs.org.br NECESSIDADE DE INCORPORAR A de todos os Conselheiros convocados para o evento.Também merece destaque
E-mails da RBCS: autores@sbcs.org.br e revista@sbcs.org.br PARTICIPAÇÃO DO AGRICULTOR nesta evento a densidade da pauta, que, entre outros temas, propunha a análise, as
E-mail Boletim: boletimsbcs@sbcs.org.br
modificações e a aprovação do Regimento Interno da SBCS, que regulamenta o
www.sbcs.org.br 38
A RELAÇÃO ENTRE AS INSTITUIÇÕES
DE PESQUISA E DE EXTENSÃO RURAL
nosso Estatuto. Paralelamente, os Conselheiros também participaram de um work-
shop , promovido pela Secretaria Executiva , onde expuseram e discutiram suas
EM MINAS GERAIS
FICHA CATALOGRÁFICA visões acerca dos desafios da Ciência do Solo no Brasil e o papel da Sociedade

Boletim informativo Sociedade Brasileira de Ciência do Solo /


Sociedade Brasileira de Ciência do Solo - vol.1, n. 1 (jan./abr.
1976). - Campinas: SBCS.1976.
42 A RELAÇÃO PESQUISA E EXTENSÃO
NA AMAZÔNIA
nesse contexto.
Informações sobre eventos, notícias diversas e anúncios de interesse dos asso-
ciados fazem igualmente parte deste Boletim.
v.: il. (algumas col.); 26 cm. ECOLOGIA DE SABERES: UMA
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Que em 2012 possamos comemorar estes 65 anos da nossa Sociedade contri-
PROPOSTA PARA A EXTENSÃO buindo mais para que ela se fortaleça.
Quadrimestral.
A partir do vol. 22, n.3 publicado em Viçosa. A PARTIR DA CIÊNCIA DO SOLO Boa leitura!
ISSN a partir do vol. 32, n.3.
ISSN 1981-979X

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Gonçalo S. de Farias
1. Solos - Periódicos. I. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. AGENDA 2012 Presidente SBCS

JANEIRO - ABRIL 2012 01


ARTIGO ARTIGO

O IMPORTANTE
ta que, por suposto, se mantém restrita que nos são impostas pelas corpora-
a modelos epistemológicos reducionis- ções internacionais?
tas e pouco criativos. Onde somos originais? Onde se
Vou tocar em alguns pontos nevrál- materializa nossa criatividade? Onde

É PUBLICAR: A (RE) PRODUÇÃO CIENTÍFICA gicos. Daí, o meu alerta inicial. Talvez
este ensaio não seja agradável aos
nos livramos da ditadura do método?
Quando deixamos de tagarelar sempre
cientistas da moda, mas tenho a con- as mesmas formas de dizer as mesmas
NOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA vicção de sua necessidade.
Permitam-me iniciar minha argu-
coisas? Enfim, quando ligamos nossos
cérebros?
Adroaldo Gaya mentação com uma longa, mas revela- Estejamos atentos! Ligar nosso
dora citação. Retirada do excelente cérebro não é o mesmo que “puxar”
romance de Peter Bieri, que o escreveu uma extensão do cérebro alheio.
A peruca é o símbolo mais apropriado para o erudito HIPÓTESES sob o pseudônimo de Pascal Mercier, o Lembremos que uma atividade
puro. Trata-se de homens que adornam a cabeça com 1) O modelo de formação de pesquisadores e Trem Noturno para Lisboa. Logo no criativa, como sugere Umberto Eco
uma rica massa de cabelo alheio porque carecem de de produção do conhecimento científico hege- início, à página 33, encontramos o (op.cit.), é aquela que produz algo de
mônico que, a meu ver, aceleradamente esta- seguinte texto atribuído a um dos per- inédito, que a comunidade está dispos-
cabelos próprios.
mos consolidando principalmente em nossos sonagens da história (um pretenso ta a reconhecer como tal, aceitá-la,
Artur Schopenhauer
programas de graduação e pós-graduação, escritor português de nome Amadeu fazer sua e a reelaborar. Além do que,
A epigrafe da o tom do presente ensaio. fundamenta-se num produtivismo exacerbado de Prado autor de um também pretenso como nos lembra Peirce (apud, Eco,
Devo-lhes prevenir que o texto que segue, embo- que privilegia fundamentalmente a prática de livro: O ourives das palavras). idibid.) se torna patrimônio coletivo, à
ra repleto de sinceridade e paixão, provavelmen- uma ciência alienada de valores epistemológi- disposição de todos, subtraído ao gozo
te terá gosto amargo. Principalmente ao sabor cos, filosóficos e éticos. Quando leio jornal escuto rádio, ou presto pessoal.
de alguns jovens cientistas e seus professores 2) Centrando-se predominantemente na pro- atenção no que as pessoas dizem no café,
que confessam e partilham o paradigma episte- dução de artigos para revistas internacionais, sinto cada vez mais um enfado, um asco A CIÊNCIA PRODUTIVISTA
mológico hegemônico em nossas faculdades. O ditas de alto impacto, estamos submetidos a um mesmo das palavras sempre iguais que são A ciência deve estar a serviço do
paradigma que se funda no modelo de ciência sistema arbitrário que nos impõe uma vassala- escritas ou ditas, sempre as mesmas progresso da humanidade. Por supos-
que vou denominar de “modelo produtivista da gem aos ditames das grandes corporações inter- expressões, sempre os mesmos floreios, to, a ciência não deveria ser utilizada
ciência”. nacionais (leia-se editores científicos) onde, as mesmas metáforas. (...) Essas palavras predominantemente como meio de
somos forçados a nos submeter a uma verdadei- estão terrivelmente gastas e usadas, esgo- afirmação pessoal ou como forma de
Há pessoas que simplesmente vivem da ciência: para ra ditadura de métodos e de conteúdos. Enfim, satisfazer vaidades. Devíamos dar
tadas pelos milhões de vezes em que foram
eles, a ciência não passa de “uma boa vaca que lhes só se pesquisa o que se pode publicar e, por menos valor ao gozo pessoal. Todavia,
usadas. Terão ainda algum significado? (...)
fornece leite.” (SCHOPENHAUER, ibid, p.25). outro lado, só se publica o que os editores inter- em nossas faculdades adotamos de
A questão é: será que elas ainda exprimem
nacionais das grandes corporações permitem. forma hegemônica uma política de
pensamentos? Ou apenas formações sono- pesquisas que se configura num palco
Desculpem a ousadia. Mas, como nos ensina 3) Nestas condições, seguindo a reboque das
ras que impelem as pessoas de um lado de disputas e concorrências que che-
Umberto Eco (2008, p.11), grandes corporações científicas internacionais e
limitando-nos as fronteiras de um dogmatismo
para o outro porque iluminam os traços de gam as raias do inadmissível. É o mode-
Se alguém se abate por uma escolha política, civil ou epistemológico produtivista, dificilmente alcan- uma eterna tagarelice. lo produtivista de ciência. Nele o que
moral (e no meu caso uma escolha epistemológica) çaremos algum reconhecimento e, por suposto, interessa é publicar. Publicar muito.
tem o direito-dever de estar disposto a mudar de permaneceremos na periferia da comunidade O que dizer de nossas tagarelices Mas, convenhamos! Em verdade o que
opinião. Mas no momento em que critica tem de estar científica internacional. científicas? fazemos predominantemente é publi-
convencido de que a razão está do seu lado, para Vou sustentar essas conjecturas através de O meu amigo professor José Maia car em língua inglesa replicações dos
poder denunciar energicamente o erro daqueles que aforismos. Aforismos são breves sentenças da Universidade do Porto costumava estudos realizados no estrangeiro com
tem o comportamento diferente do seu. morais. São em verdade provocações que, espe- afirmar em suas aulas: Antes de liga- amostras de portugueses, brasileiros e
ro, devam estimular reflexões. Entremeando rem os computadores liguem os vos- moçambicanos...
De minha parte, estou convencido das idéias convicções teóricas e exemplos concretos de sos cérebros. Concordo plenamente Basta uma breve revisão nas publi-
que passo a explorar. E, neste ensaio sobre os nossa realidade, vou escrever em linguagem com tal sábio conselho. Mas, será que cações de nossa ciência no Brasil, em
desafios da internacionalização de nossa comu- direta e sem subterfúgios. Pretendo desmitificar esse modelo hegemônico de ciência Portugal e em Moçambique para perce-
nidade científica de língua portuguesa apresento alguns credos que se repetem em nossa acade- que exercitamos expresso numa taga- bermos que tais estudos não decorrem
uma tese principal de onde decorem três hipóte- mia como se fossem verdades absolutas. Pre- relice tão monótona quanto sofisticada principalmente das necessidades ine-
ses orientadoras: tendo desvendar mistérios para que possamos permite que antes de tudo, liguemos os rentes às populações locais, e sim, da
enxergar além dos limites restritos de um fazer nossos cérebros? Ou será que anda- necessidade de aproximarmo-nos do
TESE científico que se orienta por princípios de um mos escravizados por modismos teóri- primeiro mundo da ciência. Eis um
A Ciência que não está a serviço da vida, em pragmatismo exacerbado, onde o que realmen- cos, metodológicos, epistemológicos aspecto ético do maior significado.
todas as suas formas, é eticamente discutível. te interessa é obedecer a uma política produtivis- que nos conduzem a reproduzir idéias Mais importante que propor problemas

Léa Medeiros
06 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 07
ARTIGO ARTIGO

de pesquisa realmente relevantes à Pascal Mercier. res de renome e fornecendo nossa mão O DESCRÉDITO NO TRABALHO ALHEIO
nossa realidade, à nossa cultura e ao Evidentemente não se trata de aban- de obra (ou de nossos alunos), e nossa Falamos em comunidade das ciên-
nosso povo, é obter autorização para donarmos a busca incessante pela gente como cobaias para replicação de cias do desporto dos países de língua
publicar nas revistas internacionais de qualidade do trabalho científico que estudos que obteremos reconhecimen- portuguesa. Mas será que podemos
alto impacto. nos leve ao cenário internacional. Não to da comunidade científica. realmente acreditar nesse discurso?
Talvez, imaginemos que nada se trata de abandonarmos o desejo de Será que nossa comunidade vai além
temos a acrescentar ao mundo desen- publicarmos em revistas científicas DISSERTAÇÕES E TESES dos encontros sociais em que celebra-
volvido da ciência. Mas, cabe a pergun- prestigiadas. O que tento afirmar é que O produtivismo científico atingiu mos nossa amizade em abraços frater-
ta: será que nada temos para investigar, o caminho para lá chegarmos me pare- em cheio a formação profissional. Nos- nos? Conseguimos ir além das edições
que sendo fruto de nossa criatividade e ce indevido. Nossa ambição, normal- sas dissertações e teses, já não são de nossos congressos e alguns livros
compromisso social com nossa gente, mente se revela na forma de replicar- mais monografias que permitem aos onde reunimos virtualmente (tudo é
possa constituir conhecimento original mos insistentemente em brasileiros, nossos mestrandos e doutorandos um feito pela internet) autores que sequer
e relevante? Quando vamos realmente portugueses, moçambicanos, angola- aprofundamento teórico e metodológi- lêem uns aos outros?
produzir conhecimentos ao invés de nos... os modelos de pesquisa que nos co. O que importa é publicar em co- Conseguimos entre Brasil, Portugal
seguirmos reproduzindo o que se faz lá ditam os cientistas de renome interna- autoria com orientador e os colegas de e Moçambique, de início uma boa expe-
fora e que nem sempre nos diz respei- cional. Portanto, repito! Nada se cria grupo três, quatro ou cinco artigos para riência de mobilidade discente e
to? tudo se repete. “engordar” o currículo (Lates) acadêmi- docente. Muitos estudantes de gradua-
co dos pares. ção, mestrado atravessaram oceanos.
Vaidosos que somos, atribuímos peso A PRODUÇÃO EM PERIÓDICOS COM ÍNDICES DE Quando participarmos de um júri de Realizamos um doutoramento em par-
demais às nossas conquistas. Iludidos pelo IMPACTO mestrado ou doutorado, já não sabe- ceria UP, USP e UFRGS. Muitos profes-
nosso sucesso, imaginamos que essas A vaidade também se manifesta na mos mais quem estamos avaliando. sores atravessaram o Atlântico para
verdades parciais são parte de um grande interpretação sobre o significado de Será o estudante que esta perante o júri ministrar aulas e conferências numa e
quebra-cabeça, componentes de uma impacto de uma pesquisa científica. a apresentar o trabalho ou será o orien- noutra margem. E daí para frente? O
Verdade Final, esperando ser desvendada Desgraçadamente, para essa comuni- tador, orientadores ou um trabalho que realizamos efetivamente que possa
(GLEISER, 2010, p. 25) dade de vaidosos o impacto de um coletivo? Os programas de pós- nos fortalecer frente à comunidade
estudo não está nos benefícios sociais graduação já não se preocupam com a internacional?
e culturas que ele produz a população formação de pesquisadores. Os pro- Mas, como imaginar uma coopera-
UM MUNDO DE VAIDADES cuja amostra constituiu-se em cobaia gramas se preocupam em produzir ção efetiva no espaço da língua portu-
Já é hora de enfrentarmos algumas para o grupo de investigadores. O artigos, independente se os mestran- guesa com tantas vaidades exacerba-
evidências. Em primeiro lugar, basta impacto que realmente interessa aos dos e doutorandos quando formarem- das e sentimentos de superioridade
um olhar à nossa volta para verificar- acadêmicos vaidosos é o da revista se terão capacidade para seguirem que se manifestam de lado a lado e que
mos que a comunidade científica, em onde o artigo será publicado. Mesmo suas vidas acadêmicas com autonomia se mostram em vários cenários? Vou
grande parte, se configura num mundo que nenhum interessado direto nos intelectual e criatividade. enumerar alguns exemplos. Sei que
de vaidades. Nossa comunidade de possíveis benefícios da pesquisa tenha Hoje em muitos júris de mestrado e vou revelar comportamentos e atitudes
língua portuguesa não é diferente. acesso ao que foi publicado. doutorado a primeira pergunta de um constrangedoras. Evidentemente, vou
Habitamos um mundo onde ocorrem Assim, o que na vida acadêmica arguente é a seguinte: em que revista anunciar os milagres, mas não vou
acirradas lutas entre sujeitos e grupos deveria ser cooperação, solidariedade você pretende publicar sua dissertação identificar os santos. Mas, colegas
de sujeitos pelo glamour de ter seus e respeito, passa a ser concorrência ou tese? E a partir daí se desenvolve a tenham certeza, o que lhes relato é
nomes registrados em revistas interna- exacerbada, corporativismo de grupo e argüição tendo como parâmetro de retirado da vida real, ocorreram em
cionais de alto impacto, de poder anun- desrespeito a ética da convivência qualidade as exigências dos editores trabalhos publicados, em simpósios,
ciar cientistas famosos como amigos coletiva. do referido periódico científico. nos gabinetes, em sala de aula, nos
“íntimos”, obter financiamentos para Precisamos admitir que nossa corredores e em mensagens de e-mail
sofisticados laboratórios que se tornam comunidade das ciências do desporto e UM MUNDO DE DISPUTAS que ao longo de quase 20 anos tenho
bunkers de pequenos grupos. Além da de educação física de língua portugue- Já na edição do XXII Congresso de acompanhado.
necessidade de participar de inúmeros sa não será reconhecida e nossa inser- Ciências do Desporte e Educação Física Consultem os trabalhos publicados
congressos internacionais nos países ção na comunidade internacional não dos Países de Língua Portuguesa que se de nossos principais autores. Autores
do primeiro mundo da ciência, mesmo ocorrerá se não criarmos uma identida- realizou em Porto Alegre eu anunciei de uma mesma área de pesquisa. Área
que seja apenas com algum pôster que de. Não seremos vistos na comunidade alguns fatos que insistem em ficar da atividade física e saúde, por exem-
fique pendurado por uma hora a uma científica se não produzirmos conheci- escondidos à sombra de um discurso plo, e tentem encontrar nos trabalhos
parede onde muitos passam e poucos mentos originais. Se não construirmos público que sugere sentimentos de de pesquisadores portugueses cita-
param para compartilhar com os auto- alguma ordem local. Tenho a convicção solidariedade, cooperação e respeito ções de autores brasileiros e vice-
res os trabalhos expostos. que não será apenas reproduzindo e mútuo, mas que na verdade dissimu- versa. É muito raro. Já disse em Porto
A vaidade é a inconsciência da estu- replicando pesquisas que vamos obter lam acirradas disputas entre pesquisa- Alegre e repeti em Maputo nós não nos
pidez. Diz-nos o pretenso escritor por- reconhecimento. Certamente, não será dores, grupos de pesquisadores no lemos. Não valorizamos nossos pares.
tuguês Amadeu Prado no romance de apenas colaborando com pesquisado- espaço lusófono. Não acreditamos em nossa própria

08 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 09


ARTIGO ARTIGO

capacidade de produzir conhecimen- res de educação física, principalmente física. implodem em fragmentos de fisiologia, ignora tantos outros valores relevantes. Importa, sobretudo, que nos interrogue-
tos. No entanto, principalmente portu- nas grandes universidades onde a No segundo caso, a situação é mais biomecânica, bioquímica, psicologia, mos se não estamos possuídos de uma mentalidade pragmática, (re)produtivista
gueses e brasileiros publicam com pesquisa é atividade inerente à forma- grave. O estudante, servindo como sociologia, antropologia e corre o risco onde os objetivos da produção do conhecimento científico se limitam a dar presti-
muita frequência em periódicos inter- ção e, diga-se de passagem, sendo mão de obra num laboratório ou gabi- de nunca encontrar sua matriz transdis- gio ao nosso currículo Lates, insuflar nossos egos, independentemente do signifi-
nacionais ditos de alto impacto. Basta tratada com muita competência. nete de um grupo de pesquisadores ciplinar. cado e do compromisso humano de nossas pesquisas1.
uma breve consulta nos principais Dessa contaminação resultaram, mais experientes realiza tarefas especí- Considerando minha longa expe-
indexadores científicos para verificar- entre outras, duas conseqüências que ficas para auxiliar os mestrandos e riência como professor de epistemolo- EM FORMA DE CONCLUSÃO
mos essa afirmação. estão diretamente relacionadas com a doutorandos do orientador e, como tal, gia e metodologia da pesquisa em cur-
O que dizer quando um orientador formação científica dos graduandos: não segue um percurso devidamente sos de graduação e pós-graduação em
de doutorado de um estudante brasilei- (1º) ou a iniciação científica induz o planejado para sua formação científica. educação física, me preocupo com os O valioso tempo dos maduros
ro sugere que seu aluno retire autores estudante de graduação a tornar-se um Produz um TCC em co-autoria com rumos que a produção científica tem
brasileiros de sua tese argumentando pesquisador precocemente especiali- vários estudantes de pós-graduação e seguido já a partir do TCC de gradua- Contei meus anos e descobri que terei menos são imaturos.
que tais autores não possuem repre- zado numa determinada disciplina o respectivo orientador, sem, no entan- ção. Afinal! Nossos cursos de gradua- tempo para viver daqui para a frente do que já Detesto fazer acareação de desafetos que
sentatividade científica? Percebam o científica; (2º) ou a iniciação científica to, aprender os caminhos para a sua ção formam professores de educação vivi até agora. brigaram pelo majestoso cargo de secretário
absurdo. Não é o conteúdo das pesqui- faz do estudante de graduação mão de autonomia científica. Torna-se um física ou pesquisadores profissionais? Tenho muito mais passado do que futuro. geral do coral.
sas que interessam, mas sim o status obra para aumentar a produção científi- escravo de técnicas e métodos de pes- A pesquisa nos cursos de gradua- Sinto-me como aquele menino que recebeu uma ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os
do pesquisador e, principalmente se ca de seus orientadores. quisa que seus colegas mais experien- ção é um instrumento para propiciar ao bacia de cerejas. rótulos’.
ele fala, escreve, é de origem ou reside No primeiro caso, o estudante de tes lhe apresentaram de forma acrítica professor produzir conhecimentos que As primeiras, ele chupou displicente, mas Meu tempo tornou-se escasso para debater
num espaço não lusófano. graduação se integra aos grupos de num programa de computador onde possam dar sustentação a sua prática percebendo que faltam poucas, rói o caroço. rótulos, quero a essência, minha alma tem
O que pensar quando congressos pesquisa e passa a ter uma formação digita comandos que lhe fornecem pedagógica? Ou será uma nova especi- Já não tenho tempo para lidar com mediocrida- pressa...
internacionais de grande relevância são científica disciplinar altamente especia- dados sobre os quais sequer compre- alização profissional com fim em si des. Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao
realizados no Brasil e em Portugal, sem lizada (muito competente, sem dúvi- ende seu significado. mesmo? Não quero estar em reuniões onde desfilam lado de gente humana, muito humana; que sabe
a presença de convidados portugueses da!). É comum observarmos que na É fácil concluir que tais caminhos O que se torna mais relevante num egos inflados. rir de seus tropeços, não se encanta com triun-
no Brasil e convidados brasileiros em medida em que este aluno obtenha nos distanciam da formação pedagógi- curso de graduação em educação físi- Inquieto-me com invejosos tentando destruir fos, não se considera eleita antes da hora, não
Portugal? E sem a presença de moçam- sucesso, logo ao final do curso de gra- ca em educação física e esportes. A ca? Formar um bom professor? Ou quem eles admiram, cobiçando seus lugares, foge de sua mortalidade.
bicanos num e noutro país? duação realizará seu mestrado, ato pesquisa deixa de ser um instrumento formar um excelente pesquisador talentos e sorte. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
Será que o sonho da comunidade contínuo, seu doutorado e, como tal, de autonomia para a produção do mesmo que não saiba dar aulas? Já não tenho tempo para conversas interminá- O essencial faz a vida valer a pena.
das ciências do desporto dos países de será um doutor em educação física sem conhecimento. A especialização disci- Tenho a convicção de que o papel veis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas E para mim, basta o essencial!
língua portuguesa limita-se apenas aos sequer ter dado aulas de educação plinar precoce limita os horizontes do da graduação em educação física é for- alheias que nem fazem parte da minha.
nossos congressos? física. Isto, se ainda não fizer um con- estudante. Ele passa a ver o mundo mar bons professores de educação físi- Já não tenho tempo para administrar melindres Mário de Andrade
curso para a carreira universitária, e em através de uma janela única. Uma jane- ca. Sendo assim, é neste contexto que de pessoas, que apesar da idade cronológica,
E O MODELO PRODUTIVISTA DE CIÊNCIA consequência do peso atribuído a sua la estreita. Reduz o mundo às fronteiras se deve pensar o papel da formação
CONTAMINOU OS CURSOS DE GRADUAÇÃO produção científica, seja aprovado e do espaço inerente a sua disciplina. científica do estudante de graduação.
O modelo produtivista atingiu em acabe dando aulas nos cursos de for- Assim, a educação física e os conheci- Há certamente unilateralidades e Talvez a deselegância de minhas palavras impertinentes decorra da impaciên-
cheio os cursos de formação professo- mação de professores de educação mentos sobre as práticas esportivas parcialidades, quiçá algum excesso, cia de quem tem apenas poucas cerejas na bacia. Já não tenho tempo suficiente
nas tintas desta análise; mas exagerar é para compartilhar de vaidades e de seguir por caminhos que nos trazem sempre de
uma maneira de alertar, de mostrar volta ao mesmo lugar. Sonho com o dia em que nossa comunidade científica seja
contradições, insuficiências, superficia- respeitada pelo que produz e não pelo que reproduz. Portanto, denunciar o que
lidades e derivas numa conjuntura que entendo como um descaminho é a força anímica que motiva minha militância e
acentua e enfatiza o culto da vaidade e inflama o meu discurso.

1
O texto original é de Jorge Bento em outro contexto de análise e foi adaptado ao presente ensaio. Bento, J.O. Do Corpo e do Activismo na conjuntura de mercado e consumo.
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 9 (2-3), 203 – 227, 2010.Porto

Este ensaio é uma adaptação da palestra conferida pelo autor durante os XIII Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa
realizado em Maputo (Moçambique) em abril de 2010. Adroaldo Gaya (acgaya@esef.ufrgs.br) é professor Titular do Departamento de Educação Física e do PPG em Ciências
do Movimento Humano da UFRGS e Coordenador do Projeto Esporte Brasil e pesquisador 1D do CNPq.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENTO, J. O. Do Corpo e do Activismo na conjuntura de mercado e consumo. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 9 (2-3), 203 – 227, 2010.Porto.
ECO, Umberto. A passo de caranguejo. (6ªed.) Tradução de Ana Eduardo Santos. Lisboa: DIFEL, 2008.
GLEISER, M. Criação Imperfeita. Cosmos, vida e o código oculto da natureza. Rio de Janeiro: Record, 2010.
MERCIER, P. O Trem Noturno para Lisboa. (4ªed.) Tradução de Kristina Michahelles. Rio de Janeiro: Record, 2009.
SCHOPENHAUER, A. A arte de escrever. Tradução de Pedro Süssekind. Porto Alegre: L&PM, 2009.

10 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 11


OPINIÃO OPINIÃO

PESQUISA E EXTENSÃO
A NECESSIDADE DE INCORPORAR
A PARTICIPAÇÃO DO AGRICULTOR
Ângelo Giuseppe Chaves Alves e Francisco Roberto Caporal

Historicamente, a relação entre pesquisa e extensão tem Nesse sentido, fica claro que, pesquisa, quando nos dirigimos aos
sido deficiente. Essa deficiência, por sua vez, é uma das causas mesmo que tenhamos uma extensão órgãos financiadores. No item “resulta-
para outro problema: a dificuldade em fazer com que os pro- rural cuja intervenção seja realmente dos esperados”, os nossos projetos
dutores rurais ponham em prática os resultados de pesquisas baseada na comunicação (como suge- são recheados de boas intenções,
agropecuárias. Como os dois problemas podem ser soluciona- re Freire), a pesquisa também deve ser sugestões e soluções. E no item em que
dos? Evidentemente, não ousaremos propor soluções imedia- conectada ou direcionada às deman- temos que descrever os riscos ou difi-
tas, no espaço de um artigo. No entanto, pretendemos refletir das expressas pelos produtores. Caso culdades, os obstáculos são ameniza-

Ângelo Giuseppe Chaves Alves


criticamente, de modo a contribuir para que avanços na rela- contrário, o trabalho de compartilhar os dos. Mas, na realidade cotidiana, per-
ção entre a pesquisa e a extensão possam ser alcançados. resultados da pesquisa será uma tarefa manecem abertas as questões: o que
Há muitos grupos sociais envolvidos na produção agrope- difícil, senão impossível, para o extensi- os agricultores podem ganhar com
cuária. Mas se considerarmos, para esta análise, o trinômio onista ou educador rural. Por outro essa ou aquela pesquisa que realiza-
produtor-extensionista-pesquisador, veremos que o frequente lado, mesmo que tenhamos uma pes- mos? Os nossos resultados serão
insucesso da relação entre pesquisa e extensão advém da quisa eficiente em si mesma e que seja incorporados, na prática, pelos agricul-
rígida divisão que, muitas vezes, separa os componentes aplicada ou aplicável, se a extensão for tores?
desse trinômio. realizada como uma transferência uni- Tentemos esclarecer o contexto em
A extensão rural deveria ter como pressuposto o diálogo lateral de informações do técnico ao que surgem aqueles dois tipos de rea-
entre técnicos e agricultores. Assim, ela deixaria de ser “exten- produtor, os benefícios para este serão ções citadas anteriormente.
são”, no sentido literal da palavra, e passaria a ser “comunica- mínimos ou inexistentes.
ção” ou “educação”, agregando interlocutores interessados E os pesquisadores? Como reagem 1) OS AGRICULTORES RESISTEM A
em compartilhar informações e educar-se em comunhão. A quando se coloca em discussão a difi- MUDANÇAS?
base desse raciocínio está na obra de Paulo Freire. O pedagogo culdade em fazer com que os resulta- Quando escutamos os agentes de
brasileiro, respeitado em todo o mundo, escreveu o livro dos das pesquisas agropecuárias e Assistência Técnica e Extensão Rural e
“Extensão ou comunicação?”, do qual extraímos o seguinte: ambientais sejam incorporados à práti- mesmo professores e pesquisadores
ca cotidiana dos agricultores? Destaca- afirmarem que os agricultores são
“Educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que mos aqui duas reações relativamente “resistentes à incorporação de tecnolo-
sabem que pouco sabem – por isto sabem que sabem algo e podem comuns e igualmente problemáticas, gias”, o que há por trás desta afirmação
assim chegar a saber mais – em diálogo com aqueles que, quase que muitas vezes se escuta em conver- é a falta de consciência de que, muitas
sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando sas nos corredores das instituições de vezes, a reação dos agricultores repre-
seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam pesquisa. A primeira é: senta uma resistência ao processo de
igualmente saber mais.” (grifo nosso) Ÿ“isto reflete uma falha no sistema “domesticação”, como alertava Paulo
de extensão rural; eu já estou fazendo a Freire. Isso demonstra também que as
Nem sempre o serviço de extensão é realizado seguindo minha parte, que é a pesquisa”. metodologias convencionais de pes-
esses princípios e este pode ser um dos motivos para que os E a segunda é: quisa e extensão rural, destinadas à
agricultores rejeitem ou ignorem determinadas indicações dos Ÿ“isto acontece porque os agricul- persuasão e à transferência de tecnolo-
técnicos. Deve-se observar, no entanto, que muitas pessoas tores são resistentes às mudanças”. gias, apresentam limites quanto à sua
que trabalham em serviços oficiais de extensão estão sintoni- Entretanto, não é isso que costuma- eficiência, na medida em que os agri-
zadas com essa abordagem dialógica proposta por Freire. mos escrever em nossos projetos de cultores são seres pensantes que
Ainda assim, muitos agricultores continuam sem aplicar no
campo os resultados práticos da pesquisa, o que indica que Agricultor e ceramista observando descrição de solo por pedólogo durante atividades de pesquisa e extensão
esse não é o único fator influenciando a apropriação de novas coordenadas pela UFRPE no município de Altinho, Agreste Pernambucano, Nordeste do Brasil.
técnicas ou tecnologias.

32 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 33


OPINIÃO OPINIÃO

Diálogo entre cientista de solo brasileiro (com chapéu) e ceramista tradicional português, na região do Alentejo, Portugal, durante pesquisa
participativa em projeto de Etnopedologia.

tomam decisões em função de experiências e raci- cientistas com os saberes e demandas dos agricul-
onalidades próprias. tores. Na verdade, trata-se de aperfeiçoar o proces-
A adoção de tecnologias também é influenciada so de aprendizagem a partir do diálogo, como foi
pela forma como cada agricultor maneja sua unida- afirmado antes, mas de um diálogo mediado pelo
de produtiva, pelo tipo de agricultura que realiza, real, pelos problemas concretos. Ademais, a pes-
pela sua confiança no extensionista ou no pesqui- quisa participativa permite a busca de resultados
sador, pela dimensão histórico-cultural por ele compatíveis com a realidade de cada agroecossis-
vivenciada e pela sua condição socioeconômica, tema e com os diferentes sistemas culturais e soci-
entre outros fatores. E tudo isso deve ser levado em oeconômicos das pessoas envolvidas no manejo
conta na hora de pensar em “ajudar” a resolver desses agroecossistemas. Isso vai além da lógica
problemas dos agricultores. transferencista e difusionista. Pesquisadores e
extensionistas, dentro dessa perspectiva, atuariam
2) O ERRO ESTÁ NO SISTEMA DE EXTENSÃO? em conjunto com os agricultores. Como afirmam
O sistema de extensão rural tem falhas, como Pretty & Chambers (1994),
qualquer outro sistema humano. Mas essas falhas
não são a única causa do problema em questão. É
“um novo e complementar paradigma para a pesquisa, a
provável que algumas das “falhas humanas” obser-
extensão e o desenvolvimento está surgindo a partir do
vadas na extensão se manifestem de modo bastan-
reconhecimento das falhas do modelo de transferência
te similar no meio dos pesquisadores.
de tecnologias e dos avanços alcançados em outros
Sendo assim, cabe a pergunta: será que preci-
samos mudar algo nas nossas pesquisas, para que
domínios do conhecimento. Um amplo leque de discipli-
os agricultores e a sociedade em geral possam nas e campos de pesquisa está, agora, fazendo contribu-
compreender e utilizar melhor os nossos resulta- ições para um emergente paradigma da aprendizagem.
dos? E se ficar claro que algo precisa ser mudado Os componentes deste novo paradigma implicam a
em nosso trabalho, seremos também nós, pesqui- necessidade de novos enfoques de aprendizagem, méto-
sadores, resistentes às mudanças? Indo mais dire- dos participativos, novos espaços institucionais e um
tamente ao ponto: o diálogo entre os técnicos e novo profissionalismo.”
produtores sugerido para os extensionistas rurais –
por Freire – deve ser também um requisito para O próprio Freire (ibid) já comentava: “não são
julgarmos a eficácia da pesquisa científica, na práti- raras as ocasiões em que os camponeses (...) reve-
ca? Tais perguntas podem ser colocadas de modo lam conhecimentos empíricos apreciáveis em
mais específico, em duas etapas, assim: torno das questões fundamentais das técnicas
1. Os produtores rurais deveriam ser previa- agrícolas”. E sugeriu “estudos de natureza semânti-
mente consultados, de modo dialógico, a respeito ca, indispensáveis ao trabalho do agrônomo”. Tais
das pesquisas que realizamos? estudos poderiam, segundo ele, contribuir para
2. Como o diálogo poderia ser efetuado? “diminuir a distância” entre técnicos e agricultores,
É óbvio que muitas pesquisas básicas devem possibilitando um “diálogo problematizador” em
continuar sua trajetória nos laboratórios e que mui- torno de significados compartilhados por ambos.
tas experimentações devem ser realizadas dentro Nesse sentido, pesquisadores em vários países
dos centros de pesquisas. Entretanto, pesquisado- têm buscado resgatar e valorizar esse conhecimen-
res e extensionistas não podem esquecer que o to “local”, também chamado eventualmente de
interessado principal não é o seu chefe ou a entida- “tradicional” ou “camponês”. No que se refere ao
de financiadora, mas sim os agricultores. Dessa tema “solos”, um extensivo levantamento biblio-
forma, toda a pesquisa agropecuária deveria iniciar gráfico foi efetuado por Barrera-Bassols & Zinck
por uma consulta sobre os problemas identificados (2000) revelando as principais tendências e pers-
pelos “usuários”, pois, na vida real, são eles que se pectivas nas pesquisas que visam documentar o
deparam com as dificuldades concretas. conhecimento prévio dos agricultores (local soil
Diversos autores têm recomendado métodos knowledge) e articulá-lo com outras formas de
de pesquisa participativa, justamente porque per- conhecimento. Destaca-se também um número
mitem articular os conhecimentos dos técnicos e especial do periódico Geoderma sobre o tema
Fernando Manuel Girão Monteiro

34 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 35


OPINIÃO OPINIÃO

“Etnopedologia” editado por Winkler- culdades que encontram os agriculto- requerem uma nova base epistemoló-
Agricultor e ceramista indicando sua percepção das variações no solo ao longo de um perfil, durante atividades de pesquisa e extensão coordenadas pela UFRPE, no
Prins & Sandor (2003). res. gica, um novo paradigma que permita município de Altinho, Agreste Pernambucano, Nordeste do Brasil
Diante disso, as nossas respostas às fugir do reducionismo dos modelos
“...as práticas (de manejo do solo) realiza- questões 1 e 2, colocadas anteriormen- convencionais e buscar uma aborda-
das no sistema não podem ocorrer de te, são: gem sistêmica e holística na hora de
forma isolada, e sim de forma integrada, (1) Sim, sempre que possível. E elaborar projetos de pesquisa e exten-
onde uma prática como, por exemplo, o devemos buscar viabilizar esta possibi- são. Costa Gomes (2011) sugere a
preparo do solo, tem reflexos sobre diferen- lidade. O trabalho conjunto de pesqui- necessidade de se adotar um enfoque
tes componentes, tais como na atividade sadores e extensionistas pode facilitar plurimetodológico e pluriepistemológi-
dos micro-organismos e da fauna do solo, o processo. Ademais, nós, profissiona- co, para fugir dos gargalos estabeleci-
na resistência ou suscetibilidade das plan- is das agrárias, devemos aprender a dos pela ciência normal (Kuhn, 2005).
ouvir mais, para que nosso trabalho Talvez esse possa ser um caminho para
tas cultivadas a pragas e doenças, na quan-
corresponda às exigências concretas superar a separação disciplinar e a
tidade de biomassa produzida,etc.”
do desenvolvimento agrícola, de forma divisão do trabalho que levam ao forta-
adequada às condições socioeconômi- lecimento da ideia de que uns devem
Também é importante ter em men- cas e culturais do lugar onde atuamos. construir o conhecimento para outros,
te, diante de uma perspectiva sistêmi- (2) Por meio do desenvolvimento e que, supostamente, necessitam dele, e
ca, que todas as práticas de manejo dos aplicação dos chamados “métodos de que no meio exista outro agente que
solos influem umas nas outras. Como participativos”, que têm como base a deva levar esse conhecimento da fonte
lembra Daleprane (2010): valorização dos conhecimentos e ao receptor.
Logo, as ações de pesquisa e exten- demandas trazidos pelos agricultores. Assim, um novo enfoque de pes-
são, para alcançarem maior efetivida- Entretanto, cabe salientar que não quisa e extensão rural deveria basear-
de, além de buscar incorporar o saber basta o uso de formas de participação; se na perspectiva teórico-pedagógica
dos agricultores, devem ter um caráter uma nova estratégia exige também do construtivismo, cuja premissa é a de
mais amplo, fugindo de questões pon- mudança de postura profissional, com que o homem-agricultor possui um

Angelo Giuseppe Chaves Alves


tuais em favor de objetivos mais abran- ênfase para um compromisso sério acúmulo de conhecimentos históricos,
gentes e de acordo com as condições com aqueles para e com os quais traba- culturais, individuais ou coletivos,
de cada agroecossistema. Isto tem sido lhamos. pelos quais ele se insere no mundo do
demonstrado em estudos, como o de Observe-se que as mudanças saber. Esses conhecimentos devem ser
Altieri & Nicholls (s/d), que mostraram o necessárias trariam uma série de impli- valorizados e incorporados como ele-
efeito de algumas práticas de manejo cações. Primeiro, porque métodos mentos fundamentais de uma estraté-
dos solos em favor do controle de pra- participativos costumam ser mais gia de desenvolvimento rural e agríco-
gas, por exemplo. Os autores afirmam demorados para a obtenção de respos- la, o que é quase impossível de conse-
que: “Os agricultores podem melhorar tas. Segundo, porque nossas institui- guir utilizando-se os métodos persuasi- Angelo Giuseppe Chaves Alves (agcalves@yahoo.com) e Francisco Roberto Caporal (caporalfr@gmail.com) são professores da Universidade Federal Rural de
a resistência e resiliência de seus culti- ções estabeleceram formas imediatis- vos convencionais. Pernambuco. Os autores agradecem ao professor Clístenes W. A. Nascimento, da UFRPE, pela leitura crítica e sugestões ao texto.
vos por meio do reforço de suas defe- tas de avaliação do trabalho de pesqui- Desse modo, pesquisadores e
sas intrínsecas contra pragas. Isso sadores e extensionistas, baseadas extensionistas, em vez de continuarem REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
pode ser alcançado por duas estratégi- majoritariamente no paradigma carte- insistindo apenas no uso dos métodos ALTIERI, M. A. & NICHOLLS, C. I. Projeção e Implantação de uma Estratégia de Manejo de Habitats Para Melhorar o Controle Biológico de Pragas em Agroecossistemas.
siano, de modo que raramente se valo- convencionais de pesquisa e extensão, Disponível em www.mda.gov.br Acesso dia 27 de janeiro de 2012. (s/data) 17p.
as: o aumento da biodiversidade acima
e abaixo do solo e a melhoria da saúde riza outro saber senão o técnico- devem capacitar-se também para o uso BARRERA-BASSOLS, N. & ZINCK J.A. Ethnopedology in a worldwide perspective. Enschede: International Institute for Aerospace and Earth Sciences (ITC), 2000.

do solo.” Obviamente, as pesquisas científico. Essas avaliações não coadu- de ferramentas e técnicas participativas COSTA GOMES, J. C. As bases epistemológicas da Agroecologia. In: CAPORAL, F. R. e AZEVEDO, E. O. (Orgs.) Princípios e Perspectivas da Agroecologia. Curitiba: IFPR, 2011.
pp. 13-42
neste campo deveriam ter uma preocu- nam com iniciativas de pesquisa e que permitam a reflexão, a compreen-
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
pação mais integral com o manejo dos extensão que busquem formas social- são da realidade e a busca de soluções
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005, 260 p.
agroecossistemas, e não somente com mente apropriadas de construção do compatíveis com o universo dos dife-
PRETTY, J. N. & CHAMBERS, R. Towards a learning paradigm: new professionalism and institutions for agriculture. In: SCOONES, I.; THOMPSON, J. (Ed.): Beyond farmer first:
a melhor prática agrícola de forma conhecimento. rentes grupos de agricultores familia-
rural people's knowledge, agricultural research and extension practice. London: Intermediate Technology Publications, 1994.
isolada, o que corresponderia mais Há também outra questão que não res e dos agroecossistemas por estes
WINKLER-PRINS, A.M.G.A. & SANDOR, J. A. (Eds.). Ethnopedology (special issue). Geoderma, v.111, n. 3-4, 2003.
apropriadamente ao conjunto de difi- pode ser negligenciada. Tais mudanças manejados.

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OPINIÃO OPINIÃO

A TRANSFERÊNCIA
DE TECNOLOGIA EM MANEJO
E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
Oromar João Bertol, Volnei Pauletti e Jeferson Dieckow

Desde o início da pesquisa em de do Sul, São Paulo, Mato Grosso do da erosão hídrica sejam suficientes, Se as tecnologias conservacionis- de máquinas e equipamentos superdi- retorno econômico.
manejo e conservação do solo no Bra- Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Espíri- bem como já estão identificadas aque- tas podem ser consideradas adequa- mensionados para o tamanho e condi- A transferência de tecnologias em
sil, vem sendo gerada uma quantidade to Santo e Ceará, além do Distrito Fede- las mais indicadas para controlar cada das e suficientes, com as ressalvas já ções de relevo das lavouras. Isso evi- nosso país, principalmente em manejo
expressiva de conhecimento científico ral, principalmente a partir de 1980 - fase desse fenômeno. Assim, o impac- mencionadas, a aplicação dessas tec- dencia que o combate às perdas de e conservação de solos e de água, tem
sobre o tema. Em muitos casos, isso muitos deles sob o enfoque de micro- to da gota de chuva sobre o solo, identi- nologias ainda é insatisfatória em mui- solo e água não vem sendo feito pela tido uma participação expressiva das
vem aliado à formação de recursos bacias hidrográficas. Embora haja ficado como a principal causa da ero- tas situações. O SPD ainda não utiliza a integração de práticas que controlem diferentes instâncias de governo, parti-
humanos de alta qualidade nos progra- conhecimentos já consolidados e dis- são, tem na cobertura por resíduos rotação de culturas da forma preconiza- todas as fases da erosão, isto é, de uma cularmente o estadual. No entanto, nas
mas de pós-graduação. Trata-se de poníveis, a erosão hídrica tem se torna- vegetais a forma mais eficiente de con- da, o que é uma prática considerada forma sistêmica. últimas duas décadas, a participação de
conhecimento e de massa crítica para do novamente visível na paisagem de trole. O sistema de plantio direto (SPD), importante no sistema. Por isso, há É necessário considerar que, no governos estaduais vem tendo uma
as condições tropicais e subtropicais muitas das áreas agrícolas do país. que hoje ocupa a maior parte dos 25 muitas lavouras com SPD com pouca Brasil, o emprego de práticas conserva- redução paulatina. O espaço deixado
do Brasil, que destacam a importância As evidências deste “retorno” da milhões de hectares das lavouras pro- qualidade. Em relação ao controle da cionistas de uma forma não-sistêmica é pelo poder público na transferência de
da cobertura do solo, do manejo da erosão são demonstradas pela qualida- dutoras de grãos do país, é, sem dúvi- enxurrada, constata-se que muitos recorrente. Pode-se afirmar que, salvo tecnologias conservacionistas, devido
estrutura do solo, do manejo de cultu- de dos recursos hídricos. Constata-se da, a melhor alternativa de manejo do agricultores, ao adotarem o SPD, têm exceções, o manejo e conservação do à redução da sua força de trabalho
ras e das práticas conservacionistas que, de um modo geral, rios, lagos e solo para esse fim. O controle das per- eliminado os terraços já implantados solo e da água sempre foram executa- nessa tarefa, vem sendo ocupado por
estruturais (cultivo em nível, terracea- represas apresentam um nível elevado das de água e sedimentos por meio de de suas lavouras. Em alguns casos, dos de forma parcial, ora com ênfase um conjunto de instituições de nature-
mento, adequação de estradas, etc.) de turbidez e, inclusive, muitos dos enxurradas e a deposição dos sedi- inclusive, verifica-se o abandono da no controle de uma fase da erosão, ora zas distintas, como empresas privadas,
para a promoção da qualidade do solo mananciais encontram-se eutrofiza- mentos transportados têm como alter- prática do plantio em nível, e até preconizando o controle de outra, cooperativas e ONGs.
e da água. Nesse sentido, o Brasil pos- dos. Os prejuízos decorrentes das per- nativas já consagradas o seguinte con- mesmo a mobilização do solo, o que porém, quase nunca no todo. Pode-se dizer que essa condição
sui uma boa base, em termos de conhe- das de solo e água e da consequente junto de práticas: seccionamento da representa um retorno ao sistema con- Outra pergunta que cabe ser feita é contribuiu para a difusão de tecnologi-
cimento e pessoas, para estabelecer contaminação das águas também são encosta através de terraços; semeadu- vencional de manejo do solo e um qual o entendimento do agricultor quan- as conservacionistas importantes,
estratégias técnicas seguras para o concretos, embora o nível de conheci- ra em nível, e integração das estradas retrocesso em relação aos bons resul- to à degradação do solo. Organizações como o SPD. Todavia, a ação desse
correto manejo da água e dos solos. mento sobre o tema seja suficiente rurais com as lavouras sob critérios tados obtidos em décadas anteriores. que trabalham em extensão rural consi- conjunto de organizações, com diferen-
Programas oficiais de manejo e para orientar o uso adequado do solo. conservacionistas. Diante da importân- Algumas razões para esse compor- deram, em razão de pesquisas e expe- tes objetivos, tem resultado em omis-
conservação do solo e da água foram Por isso, a importância da agricultura cia da água e da necessidade em prote- tamento merecem citação: a percep- riências acumuladas, que um percentu- sões e na difusão de informações con-
desenvolvidos em vários estados, para a segurança alimentar das popula- gê-la, o recobrimento com florestas das ção equivocada de que o SPD é capaz, al expressivo de agricultores é refratá- flitantes, quanto aos procedimentos
como Paraná, Santa Catarina, Rio Gran- ções e para o desenvolvimento do país faixas de terra ciliares aos mananciais por si só, de controlar a erosão hídrica rio à adoção de tecnologias de manejo mais apropriados para o correto mane-
justifica a necessidade de uma reflexão de superfície deve ser incluído nesse em qualquer tipo de solo e condição de de solos e água, mesmo com suas jo e conservação do solo e da água. Não
sobre transferência de tecnologia em sistema. relevo e que esse sistema controla as lavouras em situação grave de erosão têm sido dadas aos produtores rurais,
manejo e conservação do solo e da perdas de água com a mesma eficiên- hídrica. Essas experiências têm mostra- por exemplo, as orientações corretas a
água. cia com que controla as perdas de solo; do também que agricultores conside- respeito da necessidade do controle da
Acreditamos que as tecnologias a tentativa de aumentar a capacidade ram que práticas de manejo e conser- enxurrada que se forma nas lavouras e
disponíveis para o controle das causas operacional das máquinas; o emprego vação de solos e água são custos sem nas estradas. Isso os tem levado a não-

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OPINIÃO OPINIÃO

grãos e nas estradas rurais - salvo redu- assunto, apresentamos, a seguir, alter-
zidas exceções -, não tem havido por nativas que consideramos apropriadas
parte das diferentes instâncias de para o enfrentamento dos problemas
governo (ministérios e secretarias de mencionados.
estado diretamente relacionadas com a Resultados do passado mostraram
agricultura) iniciativas para organizar que programas executados principal-
programas para a recuperação desses mente por governos estaduais se cons-
passivos, nem mesmo posicionamen- tituíram em medida importante para a
tos quanto ao problema. O mesmo difusão de tecnologias conservacionis-
comportamento tem sido observado tas. No entanto, as experiências mostra-
nas organizações que representam as ram também que, por serem programas
áreas do conhecimento em manejo e de governo, sofreram falta de continui-
conservação do solo e da água, naque- dade devido à mudança do governante
las que representam categorias profis- ou dos objetivos, o que explica, ao
Área manejada sob sistema de plantio direto, sem terraceamento e com processo severo de erosão hídrica. menos em parte, o já mencionado retor-
sionais ligadas ao assunto ou os pró-
prios agricultores. A indiferença para o no do processo erosivo em muitas
adoção e até mesmo a suprimir de suas uma única situação observada a cam- sos, realização de dias de campo ou problema constitui-se em entrave para regiões do país. Uma estratégia para
lavouras práticas já instaladas, no caso po. palestras, por exemplo. Essa é uma a transferência das tecnologias conser- superar o problema é a formulação do
o terraceamento, o que tem favorecido Pode-se considerar que a produção discussão que deve ser levada às insti- vacionistas e potencializa os efeitos que pode ser chamado de programas
o processo de erosão hídrica. do conhecimento em manejo e conser- tuições de pesquisa e universidades. A negativos ocasionados pela difusão do de Estado, ao invés de programas de O ESPAÇO DEIXADO PELO
Outro aspecto a considerar na vação do solo e da água atende às sistematização do conhecimento e a que pode ser denominado de “antidis- governo. Para tanto, é necessário que
esses sejam desenvolvidos sob a con-
PODER PÚBLICO NA
transferência de tecnologias de manejo necessidades de conhecimento para transformação em linguagem adaptada curso”, ou seja, a impressão de que é
e conservação dos solos e da água é a estabelecer estratégias técnicas com no uso do produto final são tão impor- desnecessário adotar determinadas cepção de uma agenda única, que TRANSFERÊNCIA DE TECNOLO-
qualificação dos recursos humanos vistas ao controle da erosão hídrica, e tantes quanto gerar o conhecimento. práticas conservacionistas. garanta ampla participação da socieda- GIAS CONSERVACIONISTAS,
quanto ao domínio do conhecimento que as estratégias técnicas exitosas no Um instrumento importante de Do até aqui exposto fica evidente o de civil, em parceria com as instituições
e níveis de governo. Isso torna possível
DEVIDO À REDUÇÃO DA
das tecnologias a serem transferidas. combate da erosão são aquelas aplica- apoio à transferência de tecnologia de expressivo número de variáveis que
Sobre isso, observa-se uma deficiência das de forma sistêmica. No entanto, manejo e conservação da água e do exercem influência tanto no processo elevar nas pessoas a percepção da SUA FORÇA DE TRABALHO
notadamente na capacidade de anali- observa-se que grande parte das infor- solo é a legislação ambiental. O apoio é de transferência de tecnologias de essencialidade dos recursos naturais à NESSA TAREFA, VEM SENDO
sar as causas da degradação do solo e mações é disponibilizada de forma de grande valia para os casos em que é manejo e conservação do solo e da população rural e urbana e, assim, esta-
belecer condições para que a transfe-
OCUPADO POR UM CONJUNTO
da água de forma sistêmica, assim fracionada, em temas específicos, ou necessário garantir o controle do pro- água quanto na formação dos passivos
como para propor estratégias técnicas seja, de forma não-sistêmica. Por outro cesso de degradação dos solos que ambientais decorrentes da erosão rência das boas tecnologias conservaci- DE INSTITUIÇÕES DE
de correção dos passivos, também de lado, esses conhecimentos normal- esteja ocorrendo em propriedades hídrica. Sem a pretensão de esgotar o onistas tenha caráter de perenidade. NATUREZAS DISTINTAS,
forma sistêmica. Parte da deficiência mente são publicados em periódicos, cujos produtores não apresentem dis- COMO EMPRESAS PRIVADAS,
vem do pouco espaço reservado nos na forma de trabalhos científicos, a posição para corrigir o problema. Essa
currículos dos cursos ligados às Ciênci- maioria de circulação restrita, de pouca iniciativa tem sido adotada por poucos COOPERATIVAS E ONGs
as do Solo. Conteúdos não abrangen- presença principalmente no interior do estados brasileiros. No entanto, a análi-
tes na Ciência do Solo têm resultado país. se das legislações ambientais existen-
em um contingente expressivo de pro- Constata-se que é reduzido o núme- tes mostra que, de modo geral, elas
fissionais sem conhecimento para a ro de obras que contêm os conheci- destinam-se a punir, quando se sabe
importante tarefa de propor um plane- mentos de forma sistematizada. Isso que o ser humano responde melhor
jamento conservacionista que conside- dificulta o acesso a conhecimentos a aos estímulos do que à punição. No
re as limitações e o potencial dos recur- quem atua na transferência de tecnolo- Paraná, por exemplo, profissionais da
sos naturais de cada propriedade. gias, uma vez que muitos profissionais área agronômica têm sido notificados
Tal situação confronta um agricultor são de nível médio ou superior, com por recomendar a retirada de terraços
resistente ao uso de práticas conserva- poucos conhecimentos em iniciação em áreas sob SPD sem uma análise
cionistas - para ele, essas práticas difi- científica. Um dos motivos - e talvez o técnica da possibilidade de fazê-lo, e os
cultam as operações mecanizadas e principal - é que, no meio acadêmico e produtores rurais estão sendo fiscaliza-
não é perceptível um retorno econômi- de pesquisa, o professor e/ou pesqui- dos e notificados quanto à ausência de
co - com um profissional não qualifica- sador é valorizado pelo número publi- práticas de controle da erosão hídrica
do a enfrentar essa resistência, levan- cado de artigos científicos. Pouca em suas lavouras.
do-o a se omitir por lhe faltar subsídios importância se dá à publicação de Embora se verifique na última déca-
técnicos para o enfrentamento do pro- livros, manuais, artigos em meios de da a retomada da erosão hídrica, com
blema. Obviamente, isso é uma análise divulgação de massa (jornais, revistas, prejuízos expressivos especialmente Área com a cultura da soja após a cultura do trigo, manejada sob sistema de plantio direto, com semea-
geral, considerando a maioria e não rádio, TV) ou mesmo de oferta de cur- nas lavouras destinadas à produção de dura em nível e sistema de terraceamento. Fonte: os autores.

28 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 29


OPINIÃO OPINIÃO

A participação da sociedade local É necessário que o poder público se contribuir significativamente para a tização dos conhecimentos de manejo senvolvimento de projetos de extensão a necessidade de estabelecer estratégi-
em programa de recuperação ambien- faça presente com ações concretas difusão de tecnologias de manejo e e conservação do solo e da água dispo- em universidades, que levem informa- as de estocagem da água no solo. A
tal deve merecer destaque por razões para a recuperação de passivos ambi- conservação do solo e da água. níveis em trabalhos científicos contri- ções sobre a importância do solo na inclusão dessas temáticas entre os
relevantes, tais como: as tecnologias entais, uma medida de grande impor- Embora o estímulo seja uma medi- buiria significativamente para a difusão qualidade de vida da população rural e argumentos na difusão de medidas
conservacionistas necessitam chegar tância seria a reabilitação por parte dos da apropriada para adoção de tecnolo- das tecnologias relacionadas aos urbana aos jovens e futuros profissio- conservacionistas se deve à constata-
ao tomador de decisão, no caso o agri- estados do serviço de extensão rural gias, a aplicação da lei é fundamental temas. nais. Um bom exemplo é o Projeto Solo ção do crescente interesse da socieda-
cultor, e este se localiza no município; oficial, com atuação nos municípios. para os casos em que tenha ocorrido a O estímulo da população jovem à na Escola, da UFPR (http://www.escola. de e do agricultor na água, em particu-
águas pluviais, lixo, efluentes de indús- Além de ampliar a capacidade de traba- degradação dos solos e da água e o percepção da importância do solo e da agrarias.ufpr.br), que recebe alunos e lar, o que tem se constituído em um
trias e esgoto das cidades têm sido lho para a recuperação e conservação usuário se negue a tomar medidas água para a sociedade é, sem dúvida, professores do ensino fundamental, fator favorável à adoção de tecnologias
agentes de degradação importantes no dos recursos naturais, asseguraria um apropriadas para a correção do passi- uma oportunidade futura da preserva- passando informações sobre formação conservacionistas. Tem sido possível
meio rural, nas regiões de entorno dos serviço de difusão de tecnologias isen- vo. Para tanto, faz-se necessário que os ção dos recursos naturais. A inclusão do solo e importância de suas proprie- comprovar, nos processos de difusão
perímetros urbanos, e a participação do to - uma medida vital para equacionar o estados brasileiros promovam a elabo- de conteúdos sobre solos e água em dades para a sociedade. de tecnologias conservacionistas, que
poder público local é vital para o con- problema da difusão das práticas “ditas ração de leis (um exemplo é a Lei Esta- livros didáticos de ensino, nos níveis É oportuno considerar, dentro da o agricultor, particularmente o agricul-
trole do problema; a repercussão do conservacionistas”, fato esse que tem dual de Preservação do Solo Agrícola fundamental e médio, deve receber concepção de que a difusão das tecno- tor familiar, tem dado atenção aos argu-
empobrecimento do solo e da água, ocasionado prejuízos expressivos à nº 8.014, do Paraná) e disponibilizem melhor atenção, a despeito de aborda- logias conservacionistas sob a ótica mentos em torno da necessidade de
dentro ou fora da propriedade, é mais conservação do solo e da água, uma recursos humanos para a adequada gem superficial sobre o tema, não por sistêmica é estratégica para os bons preservar a água, devido ao seu signifi-
intensamente sentida pelas popula- vez que entram em conflito com conhe- aplicação dessas leis. incompetência dos autores, mas por resultados, que há necessidade de dar cado cada vez maior para a diversifica-
ções locais; muitos dos pequenos muni- cimentos consagrados na área. Embora o estoque de conhecimen- falta de acesso facilitado a esses conhe- maior atenção às perdas de água e de ção de atividades na propriedade rural
cípios têm como fonte de suprimento Sabe-se, conforme já argumentado, tos que tratam de práticas conservacio- cimentos. nutrientes que ocorrem pela erosão e para a qualidade de vida das pessoas
de água mananciais de superfície loca- que o ser humano reage melhor ao nistas possa ser considerado suficiente Outra estratégia é estimular o de- hídrica. Também é oportuno considerar que residem no ambiente rural.
is; já está consolidado que a microbacia estímulo do que à punição. Assim, o à grande parte das demandas, é neces-
é o espaço geográfico mais estratégico incentivo a agricultores, por meio de sário enfatizar que há carência de infor-
para implementar ações de manejo e compensações por ganhos ambientais mações a respeito de dimensionamen- Oromar João Bertol (oromar@emater.pr.gov.br) é pesquisador do Instituto Emater, em Curitiba (PR).
Volnei Pauletti (vpauletti@ufpr.br) e Jeferson Dieckow (jefersondieckow@ufpr.br) são professores do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola
conservação do solo e da água, e esta é comprovados, em razão da adoção de to de terraços para o SPD, conforme já
da Universidade Federal do Paraná.
parte do município. práticas conservacionistas, poderá mencionado. Por outro lado, a sistema-

30 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 31


OPINIÃO OPINIÃO

A RELAÇÃO
ENTRE AS INSTITUIÇÕES DE PESQUISA
E DE EXTENSÃO RURAL EM MINAS GERAIS
Márcio Stoduto de Mello

Minas Gerais abriga 551.617 estabeleci- aumento da renda rural. Espera-se ainda que
mentos rurais, segundo o Censo Agropecuário ampliem a qualidade de vida no campo e con-
do IBGE (2006), e tem população rural estimada tribuam para a preservação dos recursos,
de 2,8 milhões pessoas. Na diversidade das garantido a sustentabilidade dentro da porteira
regiões do estado, os empreendedores produ- da fazenda.
zem grãos, cereais, oleaginosas, fibras, agroe- As matérias-primas agropecuárias são
nergia, frutas, carnes, leite, ovos, hortaliças, indispensáveis às agroindústrias, à segurança
produtos de base florestal e artesanato. Eles alimentar, ao controle do processo inflacioná-
abastecem o mercado interno com 192 rio, às exportações nacionais, à geração de
milhões de consumidores, sendo 10% (cerca emprego e renda. Assim, fica clara a importân-
de 19 milhões de pessoas) em Minas Gerais, e cia não apenas da agricultura, como também
ainda exportam para outros países. O agrone- da Empresa de Assistência Técnica e Extensão
gócio mineiro alcançou a cifra de US$ 9,7 Rural de Minas Gerais-(Emater–MG) nos 800
bilhões em 2011. É um cenário dinâmico, municípios em que atua. Esta atuação se dá nas
recorrente e que depende da geração de inova- áreas do conhecimento científico e tecnológico
ções tecnológicas a longo prazo, sem perder e na aplicação de metodologias extensionistas.
de vista os movimentos pendulares do merca- Mas são os produtores que transformam esses
do agropecuário e florestal. conhecimentos em produtos de origem animal
Mas não basta gerar inovação tecnológica, e vegetal, independentemente do porte de
embora este seja um passo essencial e estraté- suas produções.
gico em qualquer processo de mudanças no As inovações precisam ser ajustadas às
campo e nas cidades. É preciso que as inova- realidades de campo, sem subestimar as expe-
ções sejam difundidas, adotadas pelos produ- riências vividas pelos empreendedores rurais
tores rurais e gerem resultados que contribu- ao longo do tempo. Pode-se admitir que a
am para o aumento da produção e da produtivi- modernidade avance muito mais pelas pergun-
dade das culturas e criações e resultem no tas não respondidas do que pelas respostas.

O cultivo da vinagreira é incentivado pela Emater. A planta cultivada é resultado de trabalho de melhoramento genético para
aumento do tamanho dos cálices. É uma planta de múltiplos usos: as folhas são ricas em vitaminas A e B1, sais minerais e ami-
noácidos, os frutos e cálices são a matéria prima para sucos, doces e geléias, além de um tipo especial de vinho. As flores secas
de vinagreira servem para a produção de chá.
Emater

38 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 39


OPINIÃO OPINIÃO

Técnicos da Emater em um dia de campo para produtores rurais do município de Lavras (MG)

Esse caminho de mão dupla, portanto, ma de plantadeira e sulcadeira; a bate-


envolve ensino, pesquisa, extensão e deira de arroz com pedal; a integração
produtor na partilha de conhecimentos. lavoura, pecuária e floresta.
Há outros exemplos ainda, como a
PARCERIA ENTRE INSTITUIÇÕES calda viçosa no controle da ferrugem
A Emater, que atua desde 1948, do cafeeiro; as cooperativas de apicul-
acaba de lançar as Políticas e diretrizes tores; zoneamento agroclimático de
técnicas da Emater–MG que definem Minas; fossas biodigestoras; clorador
os rumos de sua permanente ação por difusão; fossa de evapotranspira-
técnica e educativa num trabalho coo- ção; coleta de água de chuva no semiá-
perativo em nível de campo. A parceria rido, com cisternas de placas; aumento
com profissionais das instituições de na produção de cana-de-açúcar e fei-
ensino, pesquisa e extensão já é uma jão; oleaginosas para a produção de
tradição e a sua importância está em biocombustíveis; piscicultura em tan-
otimizar os resultados de pesquisa, que rede; tecnologias para manejo e
disponibilizando conhecimento com alimentação do gado bovino e produ-
segurança aos agricultores. ção e transporte do leite; resgate de
Mas cabe ressaltar que houve uma hortaliças não convencionais; circuitos
época em que esta parceria era mais do frutificaminas e café de qualidade;
ativa, com reuniões frequentes para equipamento para o plantio simultâneo
capacitação, discussão de propostas de milho e feijão por tração animal;
de pesquisa, montagem de unidades hortaliças minimamente processadas;
de observação e unidades demonstrati- desidratação de frutas; processamento
vas. Nesse período, o intercâmbio de de polpa de frutas para sucos; queijo
informação entre a Emater, Epamig, minas artesanal, e produção de semen-
Embrapa e as universidades também tes em nível de comunidade rural e
era mais intenso. Foram notáveis os distribuição entre os agricultores famili-
casos de sucesso dessa integração, ares. Emater
dentre os quais se destacam: os traba- O esforço conjunto passou por
lhos de implantação de unidades momentos de baixa, quando quase não
se as identidades desses atores, seria governos privilegiarem uma institui- o ensino, a pesquisa e a extensão, e
demonstrativas de fertilizantes e calcá- havia mais integração entre as institui-
altamente bem-vinda. ção, prejudicando o trabalho de outra. pior para o agricultor.
rios; a análise de solos, as aproxima- ções, tornando-se, assim, mais esporá-
A integração é indispensável e pre- Os estabelecimentos rurais de
ções para recomendações de correti- dica, em função de amizades entre
PARA RETOMAR A INTEGRAÇÃO cisa ser retomada e melhorada. É claro Minas Gerais ocupam uma área bruta
vos e fertilizantes para Minas Gerais; a técnicos da Emater e pesquisadores,
Para melhorar a relação, é necessá- que a pesquisa tem que se relacionar de aproximadamente 32 milhões de
conservação de solos; a produção ou em função de algum trabalho espeí-
rio que as instituições parceiras se com o produtor, mas é preciso haver hectares, ou 54% do território mineiro.
programada para o abastecimento de fico. Entretanto, de forma institucional,
reúnam e trabalhem sempre visando ao também a valorização do trabalho do Esses dados, por suas dimensões soci-
hortifrutigranjeiros; a produção de essas parcerias raramente acontecem.
interesse do agricultor. Na medida em extensionista, que é aquele que convi- oeconômicas e ambientais, reforçam a
sementes de hortaliças; o uso de capi- Há um gradativo afastamento entre as
que a conversa se afasta desse foco, ve no dia a dia com os produtores. Deve necessidade de maiores investimentos
neiras no cerrado; as forrageiras de partes.
começa a haver o individualismo: “eu haver uma aproximação entre as insti- em pesquisas de manejo e fertilidade
inverno; o incentivo à soja no Triângulo Na criação do Programa Integrado
acho que isso é bom, o outro acha que tuições, mas com cada uma dentro do dos solos, inclusive para subsidiar as
Mineiro; o manejo de pragas no siste- de Pesquisa Agropecuária do Estado de
aquilo é o bom”, e cada um trabalha em seu segmento, respeitando a sua hie- ações de campo da assistência técnica
ma de produção de milho; a introdução Minas Gerais (Pipaemg), que precedeu
uma direção. A falta de integração fragi- rarquia e suas normas: a pesquisa pas- e extensão rural exercidas pela Emater-
de mudas de abacaxi, alho, batata, a Epamig, a pesquisa teve todo o seu
liza as instituições, na medida em que sando os resultados para a extensão, MG. Além disso, a produção de alimen-
cebola-roxa; o silo trincheira; a silagem trabalho e concepção desenvolvidos a
há uma competição por recursos. cada um cumprindo o seu papel dentro tos é fundamental à segurança alimen-
de milho; a produção de morango no partir da integração com a extensão. Ao
Assim, o governo imagina que a exten- da sua cadeia de produção. Ensino, tar, à redução da pobreza e à qualidade
Sul do estado; o controle integrado de longo do tempo, por razões de compe-
são seria um complemento da pesquisa pesquisa, extensão rural, agricultor e de vida.
A FALTA DE INTEGRAÇÃO pragas e doenças na produção de tição - e até por limitações de recursos -
ou vice-versa, o que nem sempre é mercado são indissociáveis e não
morango; o tomate e o morango orgâ- , a extensão e a pesquisa afastaram-se
ENTRE PESQUISA E EXTENSÃO verdade. Ou pode acontecer de os podem ser divorciados. Isto é ruim para
nicos; a redução de perdas na colheita em Minas Gerais. É lamentável, uma
FRAGILIZA AS INSTITUIÇÕES e armazenagem de grãos; a regulagem vez que a sinergia que pudesse favore-
PORQUE AUMENTA A de máquinas e equipamentos; o consu- cer o produtor, o extensionista, o pes-
Márcio Stoduto de Mello (marciomello@emater.mg.gov.br) é Engenheiro-Agrônomo, extensionista da Emater - MG
COMPETIÇÃO POR RECURSOS mo mínimo de energia elétrica; o siste- quisador e o consumidor, preservando-

40 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 41


OPINIÃO OPINIÃO

A RELAÇÃO PESQUISA
E EXTENSÃO NA AMAZÔNIA
Paulo Guilherme Salvador Wadt, Elizio Ferreira Frade Júnior e Alaerto Luiz Marcolan

Uma das obras literárias que ainda Ainda hoje, a Amazônia é apontada uma oportunidade para o crescimento tude incompreensível, cuja justificativa Estado do Acre e a poucos quilômetros enquanto no interior de Rondônia há
repercutem no imaginário científico como uma das principais bandeiras na sócio econômico da região e do Brasil. fundamenta-se em teorias baseada em da divisa com o Peru.. uma proliferação de cidades, agroin-
sobre a questão amazônica é a intitula- batalha a favor da defesa e preservação Acrescente-se ainda a uma visão refúgios ecológicos durante a última No tocante a exploração da terra, dústrias e intensa rede rodoviária, com-
da "A Selva Amazônica: do Inferno do ambiente, como se fosse o "pulmão paradoxal sobre a Amazônia, tida como glaciação, na estabilidade ecológica não se pode ignorar que ainda persiste parado ao que era o interior de São
Verde ao Deserto Vermelho" de Robert do planeta terra" ameaçado pelo des- “um grandioso anfiteatro de terras prolongada, ou ainda na atividade dos na região, a exemplo do Estado do Acre Paulo há quatro ou cinco décadas,
Gooland e Howard Irwin, publicada em matamento resultante da exploração baixas, encerrado entre o arco interior meandros dos numerosos rios que ou sul do Amazonas, a agricultura tradi- outros estados apresentam uma eco-
1975. Ela trata a floresta amazônica madeireira, da expansão da fronteira das terras subandinas e o Planalto das sustentam o ecossistema em constante cional em sistema de coivara. Esta nomia estagnada, dependente ainda da
como uma "selva impenetrável", cuja agrícola e da pecuária. Ao mesmo tem- Guianas e o Planalto Brasileiro" (Aziz mutação por sucessão ecológica. prática decorre da ausência de recur- pecuária extensiva e do extrativismo
ocupação humana poderia resultar em po, sendo considerada a maior floresta Nacib Ab'Sáber) e ao mesmo tempo, Todas estas visões, exógenas, pro- sos econômicos para implementação florestal.
um "imenso deserto escaldante", à tropical do planeta e a principal fonte de uma região heterogênea cuja biodiver- curam imputar à região uma solução de alternativas de manejo mais conser- Mas mesmo em Rondônia, coexis-
semelhança do Saara. biodiversidade mundial, representa sidade apresenta variações de magni- única, a favor da preservação ou da vacionistas e de reposição dos nutrien- tem cenários extremos. Um viajante ao
intocabilidade do bioma, ou favorável a tes exportados pelas colheitas. percorrer um trecho entre Vilhena e
uma ação desenvolvimentista transfor- Há casos em que a adoção de técni- Marco Rondon, no extremo sul de Ron-
madora. cas eficazes e de baixo custo chega a dônia, possivelmente daria razão a
O primeiro paradigma que se deve ser rejeitada pelos produtores rurais, transformação do inferno verde em um
quebrar trata da dissociação homem como se observa em regiões do Acre, deserto vermelho. Lá, o desmatamento
floresta, como se a presença humana onde programas públicos de desenvol- realizado para a implantação de pasta-
na Amazônia fosse um fator de destrui- vimento rural introduziram pacotes gens sobre solos arenosos e quimica-
ção ambiental, enquanto os indícios agrícolas dissociados de um acompa- mente pobres quimicamente impossi-
arqueológicos apontam para a existên- nhamento técnico adequado, propici- bilitou a formação das pastagens e
cia de populações humanas muito ando descrédito de eficientes técnicas comprometeu o ecossistema, resultan-
antes de colonização portuguesa, de manejo e conservação de solos em do em áreas degradadas, com esparsas
como se verifica pelos sítios de terra áreas de agricultura familiar. Um exem- espécies pioneiras em um cenário de
preta de índio no Amazonas ou os geo- plo foi à introdução da adubação verde solo descoberto e de áreas abandona-
glifos no Acre, possivelmente, ajudan- pela distribuição de toneladas de das. Tudo isso associado a uma baixa
do a moldar a própria heterogeneidade sementes de Mucuna (Mucuna aterri- densidade urbana.
que hoje se verifica. ma) aos produtores rurais familiares Contudo, um pouco mais adiante se
Outra questão sobre a presença pelos órgãos de extensão rural, sem encontra uma grande densidade de
humana decorre da grande variabilida- capacitá-los para o manejo da legumi- cidades, com agroindústrias emergen-
de de modelos sociais e culturais nas nosa, que quando ignorado, resulta em tes e cadeias produtivas consolidadas,
populações residentes na região, coe- prejuízos as lavouras pela agressivida- como a leiteira, café e cereais, indican-
xistindo grandes cidades industriais de e elevada capacidade de propaga- do que os dois cenários aparentemente
(Manaus, Belém) e comunidades isola- ção. antagônicos para a Amazônia fazem
das em áreas remotas, como a comuni- Também no aspecto econômico, parte de uma mesma realidade.
dade de Formigueiro (Figura 1), na são evidentes as diferenças entre as No aspecto solo – paisagem, a varia-
Serra do Divisor, no extremo oeste do regiões amazônicas. Por exemplo, bilidade de ambientes é ainda mais
Paulo Wadt

Comunidade de moradores dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor, no Estado do Acre.

42 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 43


OPINIÃO OPINIÃO
Elizio Frade Jr.

número de pesquisadores e de progra-


mas de pós-graduação ou pela escas-
sez de recursos humanos qualificados.
Há, contudo, outro problema, onde
inúmeras técnicas, produtos e proces-
sos desenvolvidos na região, ainda não
alcançaram a aplicação prática espera-
da. Os fatores associados a esta baixa
aceitação e adoção de técnicas estão,
muitas vezes, relacionados a não aten-
derem adequadamente as necessida-
des ou possibilidades de aquisição do
setor produtivo, ou seja, satisfação de
expectativas e pretensões e incremen-
to de rentabilidade pelo uso das mes-
mas.
Outro problema está no processo
de transferência destas técnicas. Fre-
quentemente, a transferência tecnoló-
gica feita pelas empresas de pesquisa
agropecuária ou pelo serviço de exten-
são rural é determinada com base em
políticas públicas, com fins eleitoreiros,
ignorando completamente o próprio
estoque de técnicas desenvolvidas na
região, quando não, na própria empre-
sa. Há uma dissociação e comunicação
inadequada entre pesquisadores e
extensionistas, havendo assim uma
Figura 2: Estudante de graduação da UFAC caracterizando solo em área de produtor rural, na região do Vale do Rio Juruá, no Estado do Acre.
necessidade urgente de estabelecer
processos efetivos de comunicação
complexa. Na Amazônia, as caracterís- oquímica dos nutrientes, associadas sa, sem que este entre em equilíbrio entre estes atores.
ticas mineralógicas e químicas dos normalmente a Latossolos ou Argisso- com a solução do solo, tornando os Como fruto desta dissociação resul-
solos são, em grande parte, ditadas los, até os campos cerrados de Rorai- métodos de correção da acidez pouco ta que muitos pesquisadores e profes-
pela natureza do material de origem. ma, sobre solos com propriedades efetivos. sores universitários passam a desem-
Em fração significativa da região, ocor- nátricas ou os campos cerrados do sul Esta diversidade de cenários indica penhar o papel de extensionistas em
reu a formação de solos profundos e do Amazonas, em Gleissolos, Plintos- que a Amazônia não requer uma solu- ações como dias de campo, cursos,
muito intemperizados, como Latosso- solos e Argissolos. Há também a ocor- ção única, seja do ponto de vista ambi- palestras e consultorias, mas, muitas
los e Argissolos. Entretanto, coexistem rência da vegetação de campinaranas ental ou desenvolvimentista. Principal- vezes, não apresentam a mesma efi-
na região extensas áreas com solos no vale do Juruá, associadas a Neosso- mente, o debate sobre as questões ciência que alcançariam se trabalhas-
eutróficos formados pela influência los Quartzarênicos ou Espodossolos, amazônicas necessita abandonar o sem de forma integrada com os exten-
atual (planície aluvial) ou pretérita (ter- ou as extensas áreas de floresta ricas empirismo e a defesa de 'verdades sionistas ou com os assistentes técni-
raços e baixos planaltos das bacias do em bambus, na região central do Esta- absolutas', tratadas como questão de cos.
Acre e do Alto Amazonas) de sedimen- do do Acre, associadas a Vertissolos, fé, como se fosse uma religião, para A inversão de papéis de pesquisa-
tos andinos; ou, ainda, onde afloram Cambissolos vérticos ou Luvissolos, uma visão mais integrada e construída dores e professores prejudica o traba-
rochas de maior riqueza em bases (cal- todos com alta riqueza em bases trocá- a partir de pesquisa científica e tecnoló- lho da extensão em identificar as princi-
cários e margas em Monte Alegre - veis e com a marcante presença de gica. pais demandas tecnológicas e tira o
Ererê; basaltos e diabásios em Rorai- argilas de alta atividade. Nesses últi- foco da pesquisa em buscar inovações
ma, Pará e Amapá). mos solos, a mineralogia predominan- O DESAFIO DA EXTENSÃO RURAL tecnológicas para o setor produtivo,
A vegetação associada a estas pai- te de argilas do grupo das esmectitas Não se pode negar que, comparati- além de limitar o alcance das técnicas
sagens varia desde floresta densa, em associada a um ambiente com forte vamente as demais regiões brasileiras, que estão sendo transferidas.
solos profundos, normalmente de intensidade dos processos de intempe- a intensidade e a quantidade de técni- Acrescente-se, ainda, que grande
Hamilton Condack de Oliveira
baixa fertilidade e cuja manutenção da rismo químico libera grandes quantida- cas e de conhecimento sobre a Amazô- parte das ações de extensão rural são
Figura 3. Pomar de cupuaçu manejado com adubação verde
biomassa depende da ciclagem bioge- des de alumínio na dupla camada difu- nia ainda é escassa, seja pelo baixo pouco transformadoras, permanecen-

44 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 45


Paulo Wadt
OPINIÃO OPINIÃO

Figura 4) Estudantes de pós-graduação e graduação da UFAC coletando macrofauna em pastagem degradada

do dependentes dos recursos em limi- sador e produtor rural, sendo a comuni- nutricional dos pomares (Figura 3). Os
tados editais de órgãos públicos e orga- cação feita por técnicos da extensão técnicos desenvolveram uma planilha
nizações não governamentais, muitas rural da Emater do Estado de Rondônia eletrônica que facilita o cálculo das
destas as verdadeiras beneficiárias dos e por técnicos contratados pelo projeto adubações para incluir a avaliação do
recursos investidos, já que a situação RECA.Os técnicos definem as deman- estado nutricional fornecido pelo Siste-
do produtor rural permanece inalterada das urgentes, e a pesquisa fornece as ma Integrado de Diagnose e Recomen-
após a conclusão dos projetos. alternativas técnicas, muitas vezes, dação (DRIS). Paralelamente, os produ-
Esta situação é agravada pela exi- ainda não disponíveis. O exemplo mais tores dão suporte a pesquisas básicas,
gência de uma maior logística e carga concreto foram as pesquisas desenvol- mesmo que estas não tenham aplica-
horária adicional de trabalho para aten- vidas para melhorar a nutrição dos ção imediata, como pesquisa com
der produtores isolados e pela maior cupuaçueiros: No início de 2007, os macrofauna realizada como parte de
demanda em infraestrutura de trans- técnicos indicaram as perdas de produ- uma dissertação de mestrado (Figura
porte devido à distância e ao acesso em tividade observadas nos pomares de 4).
muitas comunidades rurais da Amazô- cupuaçu e foi oferecido pela pesquisa a Este modelo de cooperação pesqui-
nia. realização de estudos para avaliar a sa – extensão foi facilitado devido à
A própria formação de recursos fertilidade do solo e a nutrição das árvo- própria experiência dos produtores do
humanos na região ainda é precária. Os res de cupuaçu. projeto RECA, que possuem elevado
profissionais de cursos de ciências Entre de 2007 a 2009 foram conduzi- nível de interação com instituições
agrárias e humanas instalados em das pesquisas pela Embrapa, inclusive públicas e privadas. Deve-se destacar
regiões rurais sofrem bastante, tendo com a participação de estudantes da que tanto a pesquisa tem sido de quali-
em vista que a maioria das universida- pós-graduação, e em 2009 e 2010, dade, resultando em publicações em
des e órgãos de pesquisa não proporci- realizaram-se cursos para discutir téc- periódicos indexados, como os produ-
ona, durante a formação acadêmica, o nicas a serem adotadas para o manejo tores têm se beneficiado pelas técnicas
contato contínuo do discente com o das adubações com base nos resulta- desenvolvidas.
agricultor. Nessa carência, são forma- dos alcançados.
dos profissionais sem o conhecimento O contato pesquisador – técni- CONCLUSÃO
do cotidiano do produtor rural e, princi- co/extensionista permitiu valorizar a É emergente a necessidade de
palmente, sem a consciência da real função do técnico junto aos produtores ações integradas entre pesquisa e
estrutura fundiária do país e dos proble- rurais, que passaram a ser os responsá- extensão para propiciar avanços ao
mas sociais do campo. veis pela difusão e transferência do setor produtivo e, consequentemente,
Além disto, a maioria dos profissio- conhecimento que estava sendo acu- para o bem da agricultura e do meio
nais formados não atinge o conheci- mulado; ao mesmo tempo, o técni- ambiente na Amazônia, e a Sociedade
mento necessário para atuarem como co/extensionista passou a servir como Brasileira de Ciência do Solo pode e
agentes transformadores, ficando AÇÕES DESENVOLVIDAS PARA APROXIMAÇÃO peração entre o INCRA e a UFAC, onde res, servidores públicos e agricultores um importante mediador e, principal- deve ter um papel fundamental neste
reféns de soluções oferecidas por con- DA PESQUISA E A EXTENSÃO o primeiro fornece infraestrutura e familiares (Figura 2). Este convívio traz mente, possibilitou uma comunicação processo, tanto pela importância dos
sultorias contratadas para propor políti- Existem diversas ações desenvolvi- logística para trabalhos de campo. Em demandas para pesquisa, para as políti- eficaz. solos no ambiente e nas soluções técni-
cas públicas, mas que conhecem a das que buscam romper a barreira contrapartida, a UFAC executa as ativi- cas públicas e, principalmente, engran- Até 2007, os pomares eram forma- cas para o desenvolvimento da Amazô-
realidade local apenas superficialmen- entre a pesquisa e a extensão rural, e dades contidas no plano de trabalho dece os envolvidos por estimular a dos sem adubação e sem correção do nia, como pelo sua capacidade de agre-
te. iremos destacar aqui duas experiências que inclui oficinas e cursos nas comuni- curiosidade e a busca por conhecimen- solo, tendo sua produtividade compro- gar e articular soluções inovadoras.
Há necessidade de se repensar a ocorridas no Estado do Acre e de Ron- dades, reuniões de sensibilização e to e alternativas para o uso da terra. metida. Atualmente, a maioria dos Contudo, as soluções precisam ser
atuação da interação pesquisa – exten- dônia. Estas experiências não devem organização das tarefas, visitas às pro- Outra experiência tem sido a intera- plantios utiliza a adubação fosfatada na construídas localmente e para isto, é
são, e neste debate, a Sociedade Brasi- ser consideradas como modelos a priedades, articulação de dias de ção entre a Embrapa e produtores rura- cova e os pomares estão recebendo fundamental o aumento da disponibili-
leira de Ciência do Solo (SBCS) pode ter serem multiplicados, mas como esfor- campo em propriedades modelos, is do Projeto Reflorestamento Econô- adubação de manutenção. Foi desen- dade de recursos humanos qualifica-
um papel relevante, tanto por agregar ços que podem ser feitos para diminuir acompanhamento da saúde infantil, mico Consorciado Adensado (RECA), volvido um sistema alternativo de reco- dos na Amazônia, seja pelo aumento do
profissionais de diferentes áreas do a distância entre a pesquisa e a exten- elaboração de projetos produtivos e de no distrito de Nova Califórnia, em Ron- mendação de adubações que conside- número de profissionais a serem for-
conhecimento da ciência do solo e de são rural. diagnóstico rural participativo. dônia, na área de fertilidade do solo e ra o nível de manejo tecnológico, a mados, seja pela fixação de profissio-
atuação profissional, como pela possi- A primeira experiência foi um servi- Esta experiência tem sido de extre- nutrição de plantas. Neste intercâmbio, certificação orgânica de alguns poma- nais da região.
bilidade de atuar com agente cimentan- ço de extensão universitária realizado ma importância, pois esclarece a reali- não se priorizou contato entre pesqui- res, a fertilidade do solo e o estado
te de políticas públicas mais eficazes e entre a Universidade Federal do Acre dade da zona rural aos estudantes e aos
que possibilitem a transferência de (UFAC) e o Instituto Nacional de Coloni- professores participantes do projeto,
técnicas adequadas para cada uma das zação e Reforma Agrária (INCRA). Para além de possibilitar o convívio entre os Paulo Guilherme Salvador Wadt (paulo@cpafac.embrapa.br) é pesquisador da Embrapa; Elízio Ferreira Frade Júnior (eliziojr@yahoo.com.br) é professor
realidades amazônicas. isso foi formalizado um termo de coo- acadêmicos, professores, pesquisado- da Universidade Federal do Acre; Alaerto Luiz Marcolan (marcolan@cpafro.embrapa.br) é pesquisador da Embrapa.

46 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 47


ARTIGO OPINIÃO

TEMA DA CAPA O Brasil rural terá boas notícias para dar ao


mundo na Rio+20, o evento mundial sobre meio
ambiente e sustentabilidade que acontecerá em

A CIÊNCIA DO SOLO
julho deste ano, no Brasil. Se tivéssemos hoje a
mesma produtividade de grãos por hectare que
tínhamos há 20 anos, seriam necessários mais
53 milhões de hectares, além dos 52 milhões

E A EXTENSÃO NO BRASIL
atualmente cultivados com grãos para termos a
produção deste ano. Isso significa que estamos
preservando 53 milhões de hectares!
Mas, qual a contribuição da pesquisa para
esses dados tão interessantes? Estamos apenas
colhendo os frutos do avanço tecnológico que
nossas instituições de pesquisa e extensão plan-
taram há duas ou três décadas ou continuamos
acompanhando as demandas nacionais para
garantir nossos avanços no futuro?
Será que nossas pesquisas estão dialogando
com produtores e empresas para dar a eles as
respostas que procuram? Ou estamos fazendo
“mais do mesmo”, repetindo pesquisas que
apenas retroalimentam nossos currículos ávidos
por pontuações conquistadas em revistas de
prestígio internacional? A extensão rural no
Brasil tem conseguido fazer esta mediação entre
produtores e pesquisadores? Como estão nos-
sas instituições de extensão e suas relações com
universidades e institutos de pesquisa? A ciência
que estamos fazendo hoje dará outras boas
notícias nos próximos eventos internacionais?
Como está nosso diálogo com a agricultura fami-
liar, responsável por grande parte da alimenta-
ção diária do brasileiro? Sabemos ouvi-los e
respondê-los?
Estas e outras perguntas foram feitas pelo
Boletim Informativo da SBCS a alguns autores
em busca de artigos que mostrassem a realidade
atual da pesquisa e extensão em ciência do solo
nesta primeira década do século XXI. Nas próxi-
mas páginas você verá respostas interessantes
Que podem nos fazer refletir sobre o compro-
misso ético que a ciência deve ter com o desen-
volvimento do país. Esperamos fomentar este
debate e que ele se estenda também aos nossos
eventos e encontros.
Por falar em Rio+20, este deverá ser o tema
de uma próxima edição do Boletim abordando
os desafios da Ciência do Solo para a sustentabi-

Ceramista na Caatinga - Ângelo Alves


lidade ambiental. Estamos em busca de possíve-
is autores para este debate e aguardamos suges-
tões que devem ser enviadas para o e-mail bole-
timsbcs@sbcs.org.br. Críticas e sugestões a esta
edição também serão bem vindas para que pos-
samos repercutir estes temas de interesse para
todos nós.

01 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 13


OPINIÃO OPINIÃO

A FRÁGIL RELAÇÃO
ENTRE A PESQUISA EM CIÊNCIA DO SOLO
E A SUA EXTENSÃO
Roberto Ferreira de Novais

Percebem-se razões para uma gradual saudoso “Natureza e Propriedade dos menores que voar, quando partimos da
Roberto Ferreira de Novais Solos” de Buckman & Brady (1960). Se não disponibilidade material deste
adoção de procedimentos em toda a esca-
lada de produção científica no país, do fizermos hoje uma comparação entre o recurso (avião)? Ou porque no caso de
pesquisador às instituições de fomento à seu conteúdo e o de livros atuais na uma cardiopatia grave causada por
pesquisa e ao ensino, na direção de valori- mesma área, verificaremos uma seme- uma infecção bacteriana, não há paci-
lhança desconcertante. Mudamos ou ente que deixe de tomar a carga de
zar a divulgação de resultados da pesquisa
crescemos pouco? Comparações seme- antibióticos prescrita por um cardiolo-
científica, sem uma equivalente preocupa-
lhantes na engenharia (telecomunica- gista? Ou porque o transplante de rim é
ção com a sua extensão para os usuários
ções, por exemplo) e na medicina em tão impacientemente esperado por
finais, aquele que utiliza o solo. Dá-se signi-
particular (transplante de órgãos, célu- aquele que, independente de sua ideo-
ficativo valor às estatísticas dos ranquea- las tronco) vão mostrar uma evolução logia, tem nele sua sobrevida?
mentos em todos os níveis, em detrimento formidável nestas áreas do conheci- Por que o avião não é taxado de
da utilização prática de seus resultados. A mento. Acredito que, em nossa área de “desgraça da humanidade”?
análise desta conjuntura e sugestões para pesquisa, o conhecimento bem sedi- Por que a essencialidade do antibió-
correções são apresentadas mentado do “Buckman & Brady” é tico tomado pelo cardiopata não é ques-
ainda hoje, para nossos estudantes de tionada? E porque a adoção de um rim
“A NECESSIDADE É A MÃE DA INVENÇÃO” solos, uma excelente base de conheci- de um parente, mesmo com todos os
No meu quase meio século de mento. Por que isto acontece? riscos para este que o doa, é tão bem-
envolvimento com solos, de modo A alteração de nossos conhecimen- vinda?
particular com sua fertilidade, percebo tos nesta área foi tão insatisfatória que Ouvi em uma apresentação sobre
que nosso conhecimento nessa área foi há, ainda hoje, fazendeiros, técnicos, agrobiologia que produtividade de
pouco alterado ao longo desse período pesquisadores, professores universitá- cinco sacos por hectare de café era
de tempo, principalmente quando rios que acreditam que os fertilizantes obtida sem a aplicação alguma de insu-
comparado com o de outras áreas do industrializados são a “desgraça da mos agrícolas, comparativamente a 30
conhecimento humano, como a medi- humanidade”. Estes estariam envene- sacos com a utilização de fertilizantes
cina, por exemplo. nando os seres vivos (!). Mais recente- químicos apenas. Embora a defesa
Lembro-me de um telefonema que mente ouvi de um professor de exten- (“sustentabilidade”) do meio ambiente
recebi a alguns anos de uma ex- são universitário que a “Revolução fosse a razão defendida com vigor pelo
orientada que me perguntava o que Verde” foi um desastre para a socieda- prelecionista, para a opção para os
fazer para que nossos congressos de de. Até Malthus com sua tese do des- cinco sacos de café, Malthus aplaudiria
solos mostrassem inovações perceptí- compasso entre o maior crescimento pela condição dada para os 30 sacos, já
veis. Ela se mostrava desesperada, da humanidade em relação ao supri- antevendo que sua hipótese de carên-
depois de uma semana assistindo mento de alimentos deveria ficar sem cia crescente de alimentos estava equi-
palestras e apresentações de trabalhos entender, se ainda vivo, da pequena vocada e que, assim, a vida do fazende-
científicos, por não ter observado alte- evolução do bom-senso humano neste iro e de sua família seria “sustentada”.
rações maiores em relação ao conheci- mais de século de sua visão “catastro- Mesmo sabendo que o uso de tanto
mento vigente e, de modo particular, fista”. antibiótico pelo cardiopata lhe pudesse
em relação aos congressos anteriores, Não houve tanta “necessidade” trazer afeitos colaterais em algum
num processo ritualístico de manter o para que “inventássemos” em solos momento, sua vida atual não lhe permi-
“protocolo acadêmico”. como houve naquelas outras áreas? tiria trocar o hoje essencial pelo ama-
Meu primeiro livro de leitura na área Isto parece ser verdade! Ou mais ade- nhã imprevisível.
de solos (pedologia e edafologia) foi o quadamente, as “necessidades” foram Estamos, portanto, não tão distan-
Acervo Fibria

14 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 15


OPINIÃO OPINIÃO

tes da nossa “ausência” científica para tecnológicas” os resolverem – lembre-


os cinco sacos de toda a nossa “sapiên- se que a distância entre cinco e 30
cia” para os 30 sacos. Essa distância é sacos de café não é tão grande quanto
pequena (mínima) quando comparada viver ou morrer pela utilização ou não
a ter ou não uma transmissão televisiva do antibiótico.
em tempo “real” em todo o planeta, ter Há, portanto, maior proximidade
ou não o avião, o antibiótico, o trans- entre o homem-problema e aquele que
plante de órgãos. Nestes casos, não há irá compreender a razão para ele e
meios termos, não há como não lançar tratá-lo; a relação é íntima, contraria-
mão dos recursos disponíveis, e seria mente ao solo-problema e o Cientista
irracional demais criticá-los. do Solo. A extensão do conhecimento
no primeiro caso é mais próxima, emer-
O cultivo de plantas, nos seus primórdios, gencial e eficiente, sem tantas interme-
era apenas dependente de solos natural- diações, como no caso do solo.
mente mais férteis; as necessidades técni- Em visita recente a uma espetacular
cas não eram tão críticas como para fazer o área de agricultura intensiva de produ-
homem voar. A muito menor distância entre ção de algodão, ouvi que há recomen-
fazer a planta produzir nessas condições e o dação técnica para a mistura de sulfato
homem voar permite especular sobre a de amônio com calcário, de modo a
existência de forte resistência ao uso de obter um produto que tem como carac-
terística positiva ter a acidez do solo,
insumos agrícolas modernos, como os
com a utilização dos medicamentos cionalmente eficientes são implemen- observação de um fenômeno, sua com- assim a razão para tantos artigos com causada pelo sulfato de amônio, corri-
fertilizantes químicos, mas não ao avião. A
prescritos. O médico solicitou-me vol- tados; novos resultados, etc; num preensão com estabelecimento de estudos de casos (pacientes) em medi- gida pelo calcário, em uma “mistura
caminhada para uma agricultura de altíssi-
tar ao seu consultório uma semana processo iterativo em que a ciência e, modelos para sua previsão, testes (ex- cina e não na pesquisa sobre a ciência inteligente”. Não há como compreen-
mas produtividades, em condições diver- der tanta incompatibilidade junta; quí-
depois, no que se denomina “retorno”, neste caso, também à pesquisa tem no perimentos) destes modelos e suas do solo. Nesta, sinto estarmos cada vez
sas, deverá se tornar tão distante da “agri- para avaliação dos resultados obtidos problema a razão para sua existência (e validações com um dado grau de acu- mais distante do solo, como problema, mica, econômica, de bom senso, etc.
cultura natural” que a inovação tecnológica com a sua prescrição. Alterações nas para as publicações). rácia; tudo isto para tornar o fenôme- com seus fenômenos colocados em Como isto existe, deve haver quem a
necessária, como a dos transgênicos, não recomendações me seriam indicadas O Dr. Sigmund Freud, médico neu- nos previsível de modo a evitá-lo ou escala de menor importância que os adote e que possa até mesmo ter algum
mais será criticada. A extensão será facili- se algum “remanescente” da doença rologista, o pai da Psicanálise, atuou de implementá-lo futuramente. Assim, o casos anteriormente citados. O “ho- ganho em produtividade, que de outra
tada e intensificada. ainda persistisse. Felizmente este não maneira semelhante, estabelecendo conhecimento científico é extendido. mem-problema” procura a ciência para maneira tecnicamente correta seria,
foi o caso. toda uma bagagem de conhecimentos Em alguns casos como nestes da área compreendê-lo e curá-lo; o “solo- maior e mais econômica, em uma
“A PROXIMIDADE ENTRE A PESQUISA Lembro-me de ouvir que um dado sobre o inconsciente da mente huma- médica, a ciência está muito próxima problema” não, pelo menos de maneira região supostamente de adoção de
CIENTÍFICA E SEU USUÁRIO” médico, professor universitário, publi- na, a partir de pacientes com proble- do “fenômeno”, o paciente, de modo tão incisiva como aquele. E o homem, tecnologia de ponta. Em situações
Recentemente, recorri ao meu médi- ca uma média de trinta artigos científi- mas comportamentais de toda a que este retroalimenta (o “retorno”, por como o fazendeiro, não tem no solo um como esta estão estendendo o que do
co para que me livrasse de um grande cos por ano (!) sobre estudos de casos ordem. Do “Complexo de Édipo”, pro- exemplo) os cientistas da área médica, problema tão perceptível e sério como conhecimento vigente? Porque coisas
desconforto causado por uma conges- de tratamentos de pacientes seus. Há posto ao se auto-analisar, a “Interpreta- ou o médico de modo geral, a desenca- a sua saúde ou a de seus familiares, e, como esta ainda acontecem? Perde-
tão nasal, acompanhada de fortes casos interessantes; tratamentos são ção dos Sonhos”, foram desenvolvidas dear e acelerar o processo de compre- ou, quem sabe, um maior descrédito mos tanto tempo com todo o nosso
dores de cabeça. Exames iniciais indi- estabelecidos e os resultados avalia- inúmeras publicações a partir de casos ensão do modelo e sua solução, dada, quanto ao efetivo sucesso para suas conhecimento adquirido em solos,
caram um quadro agudo de sinusite, dos. Esses resultados, sucessos ou não clínicos diversos. até mesmo, a importância do homem soluções. Além disto, há soluções pali- nutrição de plantas e correlatos? Ou a
confirmado por exames complementa- dos tratamentos indicados, mudanças Não há nestes casos uma mudança nas escalas de prioridade estabelecidas ativas para os problemas do solo, dada extensão dos conhecimentos adquiri-
res. O alívio dos sintomas foi rápido de procedimentos em relação aos tradi- da sequência do processo cientifico: pelo próprio homem. Compreende-se a possibilidade de algumas “garrafadas dos tem sido falha?

16 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 17


OPINIÃO OPINIÃO

to mundial quanto à competência de local, condição para menores FIs. Tê- Quanto aos livros, estimular e dar o real
tornar solos originalmente improduti- los escritos em inglês é essencial a uma valor àqueles com o perfil de qualidade
vos naqueles que hoje mitigam a fome condição para que tenham visibilidade. indicado anteriormente, separando-os
mundial, graças a uma “Revolução Visibilidade para quem? Portanto, esta- das “coletâneas de capítulos” que, em
Verde Brasileira” implementada. Mas, o mos rumando para uma condição curi- muitos casos, constituem-se de cita-
curioso de tudo isto é que esta explo- osa, da vaidade pessoal ou institucio- ções infindáveis das informações frag-
são de competência ocorreu quando nal, numa procura crescente de melho- mentadas dos artigos científicos? O
nossos artigos tinham (muito) menor res “estatísticas” na ciência mundial. meu sentimento é que estamos dando
densidade científica, escritos em portu- Percebo, por outro lado, que a infor- um tiro no próprio pé, ao “divulgarmos”
guês sem maior visibilidade internacio- mação fragmentada dos artigos cientí- nossa ciência para nossos pares e para
nal, sem perspectiva alguma de aceita- ficos, de modo geral com pouca efetivi- nossos CVs, como temos feito.
ção nas melhores revistas do mundo dade para a extensão, torna-se interes-
naquela época, caracterizadas atual- sante, mais úteis ao seu usuário final, Há pouca extensão de resultados de pes-
mente pelos elevados valores de fator quando um pesquisador junta em sua quisa em Ciência do Solo, apresentados em
de impacto (FI), ansiosamente perse- preleção esses fragmentos, dando-lhes
artigos científicos. Palestras e livros, princi-
guidos em nossas publicações, cobra- uma idéia de conjunto, de consistência
palmente aquelas, podem ser melhor opção
dos indiretamente pelas nossas univer- inteligível a uma platéia interessada na
para isto: acesso do usuário final aos resul-
sidades para que sejam mais bem ran- utilização prática de toda a informação
queadas entre as melhores. Houve um apresentada. Conclui-se que a organi- tados. Uma política nesta direção deve ser
“upgrade” da máxima anterior para zação de idéias individuais num todo estimulada pelos órgãos competentes.
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“Publish with high impact factor or mais coeso, em que suas interdepen-
Perish”. E não deveria haver também dências são estabelecidas, a compre- “A PESQUISA EM CIÊNCIA DO SOLO
um FI para a extensão das informações ensão deste e sua “extensão” para RETROALIMENTADA PELA EXTENSÃO”
Na medicina, a proximidade entre o homem com “A DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA EM CIÊNCIA DO SOLO” veiculadas naqueles artigos? aplicação prática torna-se muito mais Como participante de bancas de
seus problemas de saúde e o médico que os pro- O título mais adequado para este item seria constituído pela substituição da Faço aqui uma pequena transcrição eficiente. Algo de semelhante acontece tese de pós-graduação tenho, com
cura entender e resolver torna a extensão de seus palavra “divulgação” por “extensão”, dado o significado usual desta palavra na do que escrevi há algum tempo sobre quando esses artigos são ordenados, e frequência, o desagradável sentimento
conhecimentos científicos mais eficiente que na clássica trilogia Ensino, Pesquisa e Extensão, comumente utilizada no ambiente assunto correlato(2). “temperados”, nos bons livros escritos de estar ocorrendo algo como no ques-
Ciência de Solo. Além da maior importância do universitário. A opção para “divulgação” é comentada a seguir. por aqueles que querem, por exemplo, tionamento sobre o sexo de anjo,
Minha experiência com publicações de artigos científicos em Ciência do “Na sua fase mais inicial da concessão do deixar sua vida científica registrada em mesmo quando este já está consagra-
homem-problema que a do solo-problema, os pes-
Solo por mais de 40 anos deixa-me um sentimento de muito trabalho sem o Prêmio Nobel, os escolhidos tinham nas uma leitura organizada e que, se deixa- do como não existente! Sem explicitar
quisadores de solo mantêm-se, com frequência,
equivalente resultado para os usuários finais dessas publicações. Com esses pesquisas impactantes da época a razão da individualizada nos artigos, seria de o pensamento durante o ritual da defe-
mais distantes destes no processo de sua compre-
artigos e suas citações por outros autores, cria-se um ciclo fechado, com o espí- pouca utilidade quanto à sua compre- sa imagino que as conclusões apresen-
ensão, tratamento e “cura”. Portanto, a extensão para a premiação. Mais recentemente, os
rito de atender ao aforismo “Publish or Perish”. O “perish” diz respeito ao ensão prática (sua extensão). tadas são, em muitos casos, absoluta-
do conhecimento teórico adquirido em nossa área escolhidos têm, em muitos casos, em suas
autor/pesquisador e não ao usuário final da informação acadêmica(1), em nossa Assim, pode-se conjecturar que mente previsíveis. Conclui-se, por
de pesquisa não é tão efetiva, dada uma inconveni- antigas descobertas científicas, que se
área de pesquisa aquele que cultiva a terra, na grande maioria das vezes. palestras, de modo particular aquelas exemplo, que solos “pobres” em potás-
ente distância entre o problema e a fonte de infor- mostraram transformadoras do conheci-
É necessário abrir um parêntesis para o fato de os conhecimentos veicula- que têm como origem uma densa vida sio têm respostas positivas das plantas
mações para a sua solução. dos em publicações em Ciência do Solo nos terem viabilizado o reconhecimen-
mento e de grande retorno à humanidade,
científica de seu autor, ou que seus quando recebem um fertilizante potás-
ao longo de anos ou de décadas, o tempo
livros, com características semelhantes sico mas não quando os solos são “ri-
necessário à comprovação da escolha às indicadas para as palestras, seriam cos”, semelhante à redundância de
correta. Há, então, um perfil inovador e uma maneira de aproximarmos (“ex- pleonasmos com: sair para fora, ou
próprio do “FI” para a concessão do Prêmio tensão”) a Ciência do Solo de seus entrar para... (“dentro” é tão previsível
Nobel: a comprovação, de fato, da impor- usuários. Todavia, de modo particular como a conclusão da resposta ao
tância da descoberta para a humanidade. em nosso país, palestras e livros não potássio).
Não há como errar ou errar-se menos desta são bem-vindos nos Curriculae Vita- Como andamos muito distantes dos
maneira”. (Novais, 2005, p.) rum (CVs), normalmente desconsidera- usuários da nossa ciência por razões já
dos como medidas de qualificação do comentadas, não seria hora (eu diria
Nossas pesquisas são crescente- pesquisador. que já passamos muito da hora) de
mente mais complexas, com aplicação No passado, em 1968, o CNPq esta- perguntarmos a esses usuários o que
mais universal, com o intuito de tê-las beleceu uma bolsa para “Pesquisador mais lhes é crítico para que sua vida no
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publicadas em revistas com maiores Conferencista”, não mais existente. campo torne-se mais estimulante (e
FIs e não com informações de interesse Não seria hora de repensar tudo isto? econômica)? Compreendo que ciência

As pesquisas sugeridas por empresas enriquecem o ensino nas universidades e têm dado retornos de produtividade muito interessantes para o (1)
Otermo acadêmico aqui tem, para mim, um sentido inconveniente de objetivo final como, se nada mais como fim fosse necessário
agronegócio brasileiro (2)
Boletim Informativo da SBCS v. 33, n. 3, Setembro/Dezembro de 2008.

18 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 19


OPINIÃO OPINIÃO

nem sempre é feita somente dessa de casos, a participação de um extensi- e com perspectivas para 60 ou mais
A PRODUÇÃO CIENTÍFICA
“maneira”; que em algum momento onista como membro de uma banca de m3/ha/ano, a médio prazo, é um indica-
criaram-se, inconvenientemente, os defesa de tese fosse obrigatória ou
CONECTADA ÁS DEMANDAS tivo do sucesso dessa cooperação
termos “ciência básica” e “ciência apli- estimulada? Certamente que não! DO MERCADO É UMA EVOLUÇÃO Empresa/Universidade. E porque o
cada”, como se em algum momento Quero, finalmente, citar um exem- mesmo não ocorreu com mandioca,
QUE SÓ RECENTEMENTE
em toda a sua evolução a ciência plo de sucesso obtido no Brasil dada a arroz, milho, algodão, café, etc? Porque
pudesse deixar de ser aplicável! Toda- grande aproximação entre a pesquisa e
ENTROU NO NOSSO RADAR(4) essa relação entre aqueles que têm os
via, não podemos continuar deixando a o usuário de seus resultados ou, na problemas e quem pode resolvê-los
mensagem para nossos orientados, verdade, tendo-se o usuário como empresas, das soluções propostas, não tem uma proximidade maior?
naturais substitutos dos orientadores indicador da pesquisa necessária para pesquisa/experimentos conduzidos, Semelhantemente ao hermetismo
atuais, que pesquisa/ciência não é (não solucionar seus problemas prioritários. dos resultados obtidos e de sua aplica- dos artigos científicos já comentado, o
pode ser) feita de uma maneira artesa- Há no país programas cooperativos ção prática em outras empresas com financiamento à pesquisa pelos órgãos
nal em que a criação de “peças únicas”, entre empresas de reflorestamento problemas similares ao tratado. competentes do país com frequência
que quanto “mais única” maior valor com eucalipto, envolvidos na produção Nosso país é hoje mundialmente atende a pequenos projetos/experi-
lhe será dado pelos colecionadores de de carvão ou celulose, e universidades. conhecido e respeitado pela qualidade mentos, com recursos limitados, que
relíquias, é um bom procedimento de Dentre estes programas participamos de suas florestas de eucalipto. Em poderão gerar (nem sempre) um ou
proposição de assunto para “produ- de um denominado NuTree (“nutrição menos de meio século partimos de dois artigos científicos com todas as
ção” de uma tese. Para os artigos origi- de árvores”) da Universidade Federal uma quase total desinformação sobre suas limitações quanto à extensão já
nados da tese a “unicidade” pode até de Viçosa, com uma existência de esta árvore para detalhes biotecnológi- discutidas(3).
ter boa aceitação pelas melhores revis- quase quatro décadas. Grandes empre- cos de elevado nível de sofisticação Há, portanto, uma “frágil relação
tas (de novo a procura pelo alto fator de sas florestais deste país e de outros da como clonagem (há décadas) e os pri- entre a pesquisa em Ciência do Solo e a
impacto) mas não, necessariamente, América do Sul cotizaram-se de modo meiros estudos sobre transgênia com sua extensão” no país. Há diversas
para o usuário da informação que quer a manter, com um custo mensal, nos- perspectiva de obtenção de clones razões políticas em todos os níveis para
a reprodutibilidade da peça não única sas pesquisas com relação ao cultivo resistentes a pragas e doenças, e tole- isto – cultura de professores/pesqui-
(não “original”, mas reprodutível) em otimizado do eucalipto. Professores, rantes a uma vasta gama de condições sadores/estudantes já estabelecida,
todas as áreas de sua atuação em sua estudantes de pós-graduação e de de estresse como déficit hídrico ou idem para fundações estaduais e fede-
empresa agrícola. graduação e técnicos fazem visitas tolerância ao déficit de oxigênio no solo rais (CNPq e correlatos) e a própria
Como a “extensão” de nossa Ciên- periódicas a essas empresas. Nessas (hipoxia). Para ambos os casos já foram extensão. Mudanças de rumos deverão
cia do Solo parece não ser adequada, visitas são identificados problemas, identificados clones portadores de ser implementadas para que essa frágil
satisfatória nos moldes atuais, como se discutidas soluções, propostas pesqui- genes para tolerância tornando viável a relação “seja substituída” pela “boa
vivêssemos em mundos distintos – o sas que são conduzidas sob nossa seleção precoce de materiais genéticos relação” entre a Ciência do Solo e sua
da produção de resultados e o da utili- supervisão e o envolvimento dos estu- com esses perfis e não apenas os mais extensão. Sou otimista quanto a essa
zação destes resultados – a retroali- dantes de pós-graduação em pesqui- produtivos. Dado o perfil das empresas possível evolução, desde que adequa-
mentação aos nossos “assuntos de sas conduzidas in loco e nos laboratóri- reflorestadoras, com grande capital damente trabalhada.
tese” poderia ser feita, em parte, pelos os da UFV, de modo a aplicar o melhor envolvido, e a credibilidade alcançada
extensionistas a partir dos “problemas do conhecimento vigente, com o acom- pelos professores/pesquisadoras A eficiência da pesquisa na solução de
– solo” com os quais convivem. panhamento de técnicos das empre- envolvidos como no caso do programa problemas em Ciência do Solo no país é
Ouvi de um pesquisador do CSIRO sas. Visitas de acompanhamento são NuTree, os resultados alcançados, mais rapidamente transformada em solu-
(Commonweath Scientific and Industri- feitas e anualmente há reuniões com o pode-se dizer, foram espetaculares. A ções práticas quando os objetivos dessa
al Research Organisation – com alguma envolvimento de técnicos de todas as não viabilidade do eucalipto no Cerra- pesquisa são também estabelecidos por
equivalência à Embrapa na Austrália) empresas e pessoal da Universidade. do na década de 1970, a produtividade aqueles que mais dependem de seus resul-
que os comitês das instituições de Nestas reuniões há uma discussão de 8 a 10 m3/ha/ano de madeira na déca- tados.
fomento à pesquisa naquele país têm geral dos problemas identificados nas da seguinte e hoje com 40 a 50 m3/ha/ano
em sua composição um usuário final do
resultado prático da pesquisa proposta. (3)
Seria injusto não valorizar a enorme evolução do financiamento à pesquisa no país pelos órgãos competentes como CNPq e fundações estaduais. Já vivi nos dois mundos:
Disse, por exemplo, que para a avalia-
da quase ausência de recursos, quando, também, as fundações estaduais ainda não existiam e hoje de recurso não limitados às boas propostas. Estamos em um país de
ção de projeto na ciência da panificação primeiro mundo quanto a esses recursos. Deve-se também valorizar projetos de cooperação Empresa – Universidade estimulados pelo CNPq, já há um bom tempo.
há no comitê um padeiro como mem- (4)
Frase do Prof. Jacob Palis Junior, presidente da Academia Brasileira de Ciência, publicada na Revista Veja, de 28 de março de 2012
bro obrigatório, além dos cientistas
com perfil adequado à proposta em
avaliação. Roberto Ferreira de Novais (rfnovais@ufv.br) é professor da Universidade Federal de Viçosa e editor-chefe da Revista Brasileira de Ciência do Solo.
Seria impróprio pensar que, em
Ciência do Solo, em um bom número

20 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 21


OPINIÃO OPINIÃO

Acervo Fibria
Quando fui convidado para escre- atribuições: são os pedágios nas estra-

CIÊNCIA DO SOLO
ver sobre este tema, meu primeiro das, as escolas particulares, a seguran-
impulso foi dizer que não tinha mais ça privada, etc. E não poderia ser dife-
condição de fazê-lo pelo tempo que rente em nosso meio. A extensão, de
deixei a pesquisa, o que me deixaria um modo geral, ficou a cargo dos estados

E EXTENSÃO RURAL tanto fora da atualidade. Todavia,


minhas ponderações foram analisadas
e, por isso, cada vez mais, enfraqueci-
da.
Ondino Cleante Bataglia e a SBCS me incentivou a deixar aqui a A pesquisa agropecuária ainda
manifestação do meu pensamento a acabou privilegiada, porque, nos últi-
respeito do tema. mos anos, o governo federal fortaleceu
Para que os leitores me conheçam a Embrapa. Se ficasse por conta dos
melhor, minha vida acadêmica foi total- governo estaduais, a coisa iria muito
mente desenvolvida no Instituto Agro- mal, pois poucos estados ainda apoiam
nômico de Campinas, onde trabalhei 36 a pesquisa agropecuária. Com raras
anos na pesquisa, no Centro de Solos. exceções, os institutos estaduais de
Além disso, tive oportunidade de estu- pesquisa agropecuária estão mal. Toda-
dar no exterior, de dirigir a instituição, via, a maioria dos pesquisadores,
de coordenar a pesquisa agropecuária mesmo na área agrícola, está nas uni-
no estado, de presidir o Consepa. versidades federais e estaduais. Trata-
Enfim, fiz tudo o que um pesquisador se de um número expressivo, conside-
pode fazer desenvolvendo ou gerenci- rando a enorme disponibilidade de
ando a pesquisa. colaboradores bolsistas de iniciação,
Na minha fase de dirigente, come- mestrado, doutorado, pós-doutorado,
cei a sentir de perto as dificuldades no etc.
estabelecimento dos programas e Esse contingente é enorme. Basta
projetos de pesquisa - acredito que participar de uma Fertibio ou de um
hoje esteja pior! O que prevalece é o Congresso Brasileiro de Ciência do
poder de decisão do pesquisa- Solo. No último, realizado em Uberlân-
dor/professor sobre o projeto. Ele se dia, havia mais de 3 mil participantes.
torna um especialista. E o que passa a Milhares de trabalhos, teses e teses
interessar é a sua imagem diante da divididas em artigos e artigos. Sem
comunidade científica, especialmente entrar no mérito de cada um, mas, pelo O AGRICULTOR JÁ
na sua área de pesquisa: “minha agen- que pude observar, parecia não se tra- DESCOBRIU QUE HÁ
da está lotada. Não tenho tempo para tar de uma comunidade com qualquer UMA NOVA MANEIRA
outras coisas”. vínculo com o agronegócio brasileiro,
Mas vamos voltar ao tema. A distân- mas sim de uma comunidade cientifica DE TRATAR O SOLO.
cia entre pesquisa e extensão. Não sei de ciência do solo vinculada em si mes- OS CIENTISTAS AINDA
se podemos hoje ainda achar que exis- ma. NÃO. A CIÊNCIA DO
tam essas duas entidades e que sejam Poucos dias depois, houve, no
distintas. O Estado, cada vez mais, mesmo local, o Encontro Nacional de SOLO PRECISA REVER
procura tirar tudo o que pode de suas Plantio Direto. Lá estavam muitos agri- SEUS CONCEITOS.

22 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 23


OPINIÃO OPINIÃO

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cultores, agrônomos, ávidos por novas Os empresários rurais não são mais apenas os velhos
tecnologias, mas pesquisador em Ciên- fazendeiros, mas um contingente de jovens empreen-
dedores, quase sempre com formação técnica bus-
cia do Solo era raridade. Por aí, já
cando novas tecnologias e processos produtivos. O
vemos onde começa o distanciamento. que a extensão tem feito por eles?
Será que alguém vai convencer aquela
comunidade de que é preciso ver e
ouvir a outra, ou seja, aquela que paga e estão longe de acontecer. Por isso,
precisa dos resultados da pesquisa? quando se fala em pesquisa, a melhor
A própria Ciência do Solo precisa forma de se produzir ciência transfor-
rever seus conceitos. Faz alguns anos mada em tecnologia usada pelo agro-
que estou desenvolvendo um trabalho negócio é o contato do pesquisador
para a Fundação Agrisus, cuja missão é com o campo. O conforto do escritório
apoiar pesquisa e desenvolvimento, e do computador está isolando demais
visando à conservação e melhoria da os técnicos. Faz-se necessária também
fertilidade do solo. Essa fundação apoia uma reflexão profunda do papel das
o Congresso de Solos e tem questiona- agências de fomento, hoje totalmente
do, cada vez mais, porque o cientista dominadas por grupos elitistas da ciên-
de solo ainda não percebeu que a agri- cia, muito mais interessadas nos arti-
cultura mudou. São milhões de hecta- gos em revistas de alta estirpe do que
res cultivados em plantio direto. Não se tratamentos, medem-se algumas variá- Tenho visto o sofrimento dos pes- proclamada veementemente nos cur- Precisamos entender que o empre- na solução de problemas do agricultor.
revolve mais e o solo fica recoberto por veis e relata-se o resultado. Não raro o quisadores mais jovens e daqueles que sos, simpósios e encontros, mas pouco sariado rural mudou muito. Não são A relevância do tema não merece
resíduos. Mas todos os eventos e teses, objetivo é publicar artigos numa revista tentam de alguma forma desenvolver existe na realidade. mais apenas os velhos fazendeiros, ser esgotada na opinião de poucos.
na grande maioria, ainda tratam de solo qualificada. E pouco adianta querer projetos vinculados à necessidade dos Apesar de tudo isso, o agronegócio mas um contingente de jovens empre- Quem sabe nossos congressos de
revolvido. Não houve ainda a percep- extrair alguma recomendação para o produtores rurais. O projeto é bom, não brasileiro é hoje celebrado mundial- endedores, quase sempre com forma- solos pudessem dedicar um espaço
ção de que se trata de um novo ambien- agricultor. Ao exigir um artigo técnico, tem nenhuma restrição técnica, mas o mente como altamente eficiente. E, se ção técnica em agronomia, zootecnia e para uma discussão dirigida, onde
te; um solo cuja biologia mudou, a o caos está gerado: poucos sabem o pesquisador só tem três orientados. nos aprofundarmos no seu conheci- outras profissões, que estão sempre todos os atores pudessem expressar
física mudou e a química também. O que é isso, para que serve, como se Por isso, não merece apoio desta mento, veremos que muita tecnologia buscando novas tecnologias e proces- seus sentimentos e sugestões? Esse
agricultor já descobriu - os cientistas escreve e onde se publica. importante agência de fomento manti- nacional já foi incorporada, principal- sos produtivos. Acho que vale também espaço deveria ser dado principalmen-
ainda não. Para quem está de fora, a ciência da com os impostos daqueles que pre- mente na área de solos. Nela, ao contrá- destacar uma tendência atual da atua- te aos atores do agronegócio, que, na
A par dessa visão macro, se voltar à brasileira, incluindo a Ciência de Solo, cisam desta pesquisa. rio da área fitossanitária, na qual a ção de consultores especializados nas verdade, são os usuários e os patroci-
bancada da pesquisa, vamos perceber lembra aquela cena do cachorro cor- Estamos, de certa forma, falando do indústria importada domina, temos diversas atividades rurais. Percebemos nadores de todos nós envolvidos com
que a nova pesquisa é sempre uma rendo para pegar o próprio rabo. É uma que acontece na comunidade cientifica. muito sucesso da pesquisa local. Acho isso pela participação ativa em cursos e pesquisa, ensino e extensão. Deixo
continuidade de alguma coisa que já enxurrada de projetos, de teses, disser- Será que alguém se lembra de que que isso merece uma reflexão, isto é, treinamentos dos mais variados tipos. para nossas entidades e, em especial,
vem sendo feita pelo orientador. Esse, tações e artigos, regidos por um siste- existem extensionistas? Ah, essa é entender porque, nesse caso, houve Acredito que ensino, pesquisa e para a SBCS esta sugestão.
sempre assoberbado, pouco tempo ma de apoio por Capes, CNPq, Fapesp e outra turma. Eles que se virem para sucesso. extensão, da forma que nos ensinaram,
tem de ir ao campo para ver o que acon- outros, apegados a rígidos esquemas levar a tecnologia que produzimos para
tece na prática. E os projetos, na maio- de fomento a projetos de líderes reple- quem usa. Aquela famosa integração
ria das vezes, são exatamente para tos de papers e desvinculados da ensino, pesquisa e extensão, atribuição Ondino Cleante Bataglia (ondino@conplant.com.br) é pesquisador aposentado do IAC. Atualmente, atua como consultor na Conplant – Consultoria, Treinamento, Pesquisa
verificar o que acontece: aplicam-se demanda. de toda universidade, normalmente é & Desenvolvimento Agrícola Ltda.

24 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 25


OPINIÃO OPINIÃO

Raphael Fernandes
tanto, também cientistas e técnicos têm
muito a aprender com eles(as). Assim,
pensamos que mais interessante do
que dizer aos agricultores o que eles
devem fazer, mais efetivo seria - após
ouvi-los e acompanharmos suas práti-
cas e compreendermos seus proces-
sos de trabalho - socializarmos com
eles(as) o conhecimento que temos
sobre o que ocorre no solo.
Ao compreender em detalhes os
processos bio-físico-químicos, o agri-
cultor entenderá melhor as consequên-
cias da tomada de decisão no manejo
do solo. Obviamente, o entendimento
sobre os processos não leva necessari-
amente à tomada de decisão de manejo
sustentável do solo, pois tanto os cien-
tistas quanto os agricultores não
tomam decisões com base apenas no
conhecimento dos processos, mas são
influenciados também pela conjuntura,
por suas posições filosóficas, políticas,

ECOLOGIA DE SABERES:
muitas formas de “ex”-tender esse sustentável. Ouçamos dizeres de agri- etc.
conhecimento, tais como cursos, cultores agroecológicos/orgânicos: i) Para exemplificar, muitos agriculto-
palestras e boletins em que podemos “alimente o seu solo, se você quer ter res não sabem (e alguns apenas des-
ensinar (não seria instruir?) aos agricul- uma planta sadia!”; ii) “quando você confiam) que o solo seja originado a

UMA PROPOSTA PARA A EXTENSÃO tores como manejar seus solos de


forma correta (é isto mesmo?). Ou se
adquire a terra, você adquire uma
segunda mãe, mas, assim como cuida-
partir do intemperismo das rochas e
que o intemperismo seguido da lixia-
pode pensar diferente? Talvez se tome mos de nossas mães, temos que cuidar ção retira os nutrientes dos solos. Mui-
A PARTIR DA CIÊNCIA DO SOLO na maioria das vezes o estender como
mera difusão do já pré-estabelecido.
da terra também”; iii) “agricultores
agroecológicos tratam o solo com
tos sabem que com o uso de legumino-
sas ocorre a fixação do nitrogênio (mes-
Willer Barbosa, Irene Maria Cardoso, Simone Ribeiro e Claudenir Fávero
Mas, quando se nomeia o ex da tensão, respeito, cuidado e carinho, como se mo não o denominando assim), mas
se fala de tensionamentos que ampliam fosse um membro querido da família! não sabem que isto é devido aos orga-
A sustentabilidade da agricultura, que no nosso entender pressupõe baixo uso de insumos externos, sem a capacidade crítica dos diferentes Alguns agricultores cheiram e provam nismos do solo. A maioria nem pouco
agrotóxicos e livre de transgênicos, depende de solos sadios, com qualidade e vida, e não apenas de substra- interlocutores, portanto, aqui a defini- seu solo e descrevem suas virtudes, desconfia da existência das micorrizas
tos inertes, no qual artificialmente cultivamos plantas. Um solo sadio depende essencialmente de um manejo ção precisa de diálogo. como se fosse uma pessoa querida!”; no solo. Tais conhecimentos não levam
adequado. Embora o manejo adequado esteja, em última instância, nas mãos dos agricultores (as), isto é, sob Sem aceitar generalizações muito iv) “solo não suja, purifica!”. necessariamente à priorização de mane-
sua responsabilidade prática, no paradigma dominante científico vigente, pressupõe-se que o conhecimento ligeiras, provavelmente mais do que Se por um lado, os(as) agricultores- jo que potencialize o trabalho dos orga-
para este manejo esteja no conhecimento técnico dos solos, ou seja, na cabeça dos cientistas, nos artigos, cientistas, os (as) agricultores(as) (as) têm muito a aprender com cientis- nismos do solo na sua fertilização.
nas teses, nos livros, etc. – será, mesmo, verdade?. sabem o valor e o significado do solo e tas e técnicos, por outro lado, os(as) Mesmo conhecendo tudo isso, a opção
Se entendemos a palavra extensão como estender, então, nada mais óbvio do que ex-tender este conhe- da sua qualidade para o cultivo sadio que vivem na/da terra possuem tam- pode ser ainda pela adição de adubos
cimento científico até os agricultores, para que eles façam o manejo correto dos solos (certo?). Temos, assim, das plantas e para uma agricultura bém muitos saberes e sabedoria. Por- energeticamente dispendiosos. Aliás,

49 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 49


OPINIÃO OPINIÃO

Raphael Fernandes
como é o que se indica, na maioria das rais e fortemente hierarquizantes que estruturas de pensamentos e de senti-
vezes, técnica e comercialmente. caracterizam os agricultores como mentos.
Entretanto, ao buscarmos aproxi- ignorantes, residuais, inferiores, loca- O desafio não é pequeno e nem
mar os saberes científicos e populares, listas, imediatistas e improdutivos. Na simples. Como prática de educação
a ciência e o bom senso comum, a teo- ecologia dos saberes, o ideal, ao con- popular para os(as) agricultores(as) e
ria da prática/realidade e o entendimen- trário, é assumir uma postura de incom- educação científica para os(as) pesqui-
to da experiência, estaremos criando pletude, isto é, que não há ignorância sadores(as), o maior desafio é que
oportunidades para a sustentabilidade em geral e nem saber em geral. esses dois grupos sociais se vejam e se
ambiental, social, cultural e econômica. Na ecologia de saberes, o envolvi- reconheçam como sujeitos de um
Para isso, devemos destacar o conteú- mento de agricultores(as), técnicos(as) conhecimento social. A partir daí, pode-
do inovador e emancipatório do saber e cientistas não pode ocorrer mera- rão ser iniciados processos de depura-
popular, transformando-o, e transfor- mente a partir da transferência de tec- ção e rearticulação de seus modos de
mando também a ciência em um con- nologias; há de se manter aberto o ser, de pensar e de agir que considerem
texto interativo e necessariamente necessariamente tenso diálogo (ou suas perspectivas relacionais de mun-
relacional. O paradigma das ciências - seja, há diálogos, mas pode haver tam- do.
desenvolvido em escala nacional ou, bém conflitos). Os processos de cons- Portanto, a busca do diálogo como os(as) agricultores(as) se reconheçam conhecimento local, de agricultores de utilizadas iniciativas como os intercâm-
mesmo, internacional e simplesmente trução de conhecimentos pressupõem condição indispensável para a constru- como produtor(a) de conhecimentos. base familiar, de comunidades tradicio- bios de conhecimento e saberes, seja
levado aos agricultores - deve ser subs- uma relação dialógica continuamente ção dos conhecimentos é fundamento Isto é um passo importante para que nais, como os povos indígenas, rema- no ambiente dos agricultores ou nos
tituído por um processo ativo e criativo negociada, pois se considera que uma básico de toda e qualquer aprendiza- eles(as) possam ter condições de optar nescentes de quilombos, entre outros, ambientes científicos. Nesses inter-
de troca de informações entre cientis- resposta meramente técnica e concebi- gem. É a partir da crítica à dominação por determinados comportamentos e remete à necessidade de adoção de câmbios, há lugar para cursos, pales-
tas e agricultores. da exclusivamente pelo conhecimento do saber, do poder e do ser que se per- influenciar outros a buscarem suas outros enfoques e abordagens nos tras, dias de campo, mas não-
Nesta perspectiva teórico-metodo- científico pode unilateralizar o saber cebem perspectivas para construir opções. Ao longo da experiência relaci- estudos dos agroecossistemas. A com- hieraquizados, e sim ressignificados e
lógica, as técnicas, instrumentos e fer- necessário, mantendo o(a) agricultor(a) outro futuro. Ou seja, o pensamento onal, podem surgir inovações de com- binação de ciências naturais e sociais e readequados a uma proposta de intera-
ramentas metodológicas utilizadas na em uma postura de inferiorização e dialógico pressupõe um “pensar com” portamento, mudanças nos hábitos das a consolidação de campos de cruza- ção de saberes, e não somente de
extensão (transmissão do conhecimen- submissão, à margem de todo o pro- em vez do “pensar por” ou “pensar pessoas e nas estruturas de poder. mento de saberes, como a agroecolo- transmissão de conhecimentos. Outras
to) devem dar lugar a metodologias, cesso. Se a monocultura agrícola é um sobre” as pessoas, e indica o caminho O respeito ao conhecimento dos gia, etnoecologia e a etnopedologia, metodologias, como as instalações
nas quais a ecologia dos saberes possa risco à biodiversidade, a monocultura para um deslocamento das noções agricultores e agricultoras é um dos passam a contemplar os processos de pedagógicas, também são interessan-
se desenvolver. dos saberes restringe a capacidade hegemônicas e dominantes do conhe- pilares da agroecologia. O resgate e a pensar os ambientes de forma integra- tes. As instalações pedagógicas são
A ecologia de saberes é entendida criativa do ser humano, uniformizando cimento disciplinar e acadêmico. Na valorização destes conhecimentos são da e com a participação dos agriculto- ambientes que simulam a realidade e
como a crítica às posturas monocultu- as perguntas, as respostas e até as busca do diálogo, é importante que considerados essenciais na construção res. em que diferentes sujeitos interagem e
de novos caminhos para a agricultura. A valorização do conhecimento problematizam a realidade. Detalhes
Acredita-se cada vez mais que o apren- local viabiliza estudos mais condizentes sobre essas iniciativas podem ser bus-
dizado é uma construção social, na qual e profundos de condições específicas. cadas em literatura complementar -
a palavra transferência cede lugar ao Realidade que suscita a necessidade de muito embora caiba a cada contexto e
coaprendizado, em que todos têm o novas abordagens e visões que inte- realidade buscar os métodos mais
que ensinar e aprender. Diante disso, os grem as diferentes formas de conheci- adequados à criação desses momentos
agricultores e agricultoras não podem mento, por meio de paradigmas gesta- de interação.
ser considerados meros recipientes dos a partir de campos de cruzamento Assim, é preciso admitir que o
dos conhecimentos ou das tecnologias de saberes. Esta abordagem possibilita conhecimento está não só com os cien-
geradas pela pesquisa e levadas pela abranger o conjunto de fatores interdis- tistas e técnicos, mas também com os
extensão. Há de se buscar a construção ciplinares dedicados ao entendimento agricultores e agricultoras. Saber arti-
e difusão conjunta de novos conheci- das interfaces existentes entre os solos, cular esses conhecimentos em um
mentos, criando um entrelaçamento o ser humano e os outros componentes processo de diálogo constante pode
entre os saberes popular e científico. bióticos e abióticos do ecossistema. ser a chave para a busca do manejo
A dificuldade da comunidade cientí- Na busca da construção e geração adequado dos solos, essencial para a
fica da Ciência do Solo de considerar o de ambientes de interação podem ser sustentabilidade da agricultura.
Raphael Fernandes

Willer Barbosa (wbarbosa@ufv.br) e Irene Maria Cardoso (irene@ufv.br) são professores da Universidade Federal de Viçosa. Simone Ribeiro
(simonerib@gmail.com) é professora da UFJF e Claudenir Fávero (brufvjm@yahoo.com.br) é professor da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri.

51 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 51


NOTÍCIAS NOTÍCIAS

SBCS DISCUTE REGIMENTO


Amazônia saiu fortalecido deste evento”.
Para o diretor do Núcleo Estadual São Paulo, ENTENDA A FORMAÇÃO DO CONSELHO DIRETOR
José Marques Júnior, a reunião refletiu o cresci- Segundo o Estatuto, a Sociedade é administrada por um Conselho
mento de visibilidade da SBCS. “O workshop Diretor formado pelo Presidente da SBCS, por dois Vice-presidentes,

EM REUNIÃO HISTÓRICA serviu como catalisador e sintetizador das ideias


principais dos núcleos, que acabam sendo a
pelos Membros da Secretaria Executiva, pelos dois últimos Presidentes da
SBCS e pelos Diretores das Divisões Especializadas e dos Núcleos Regio-
vontade do Brasil na área”, destacou. nais ou Estaduais. O Presidente é indicado, a cada dois anos, pelo Conse-
Logo após o workshop, os conselheiros se lho Diretor e referendado pela Assembléia Geral Ordinária da SBCS. O
A SBCS vivenciou um momento reuniram para debater a proposta de um novo primeiro Vice-presidente é o Presidente do próximo Congresso Brasileiro
histórico ao reunir todos os membros Regimento para a SBCS. Esta proposta foi elabo- de Ciência do Solo e, o segundo Vice-presidente, o Presidente do CBCS
do Conselho Diretor na sua sede, em rada pela Secretaria Executiva para adequar o subsequente. A cada dois anos o II Vice-presidente ascende para I Vice-
Viçosa, para a primeira reunião ordiná- Regimento ao atual Estatuto, promulgado em presidente.
ria de 2012. No ano passado, o Conse- 2009. As sugestões dos conselheiros levaram a
lho foi efetivado durante o XXXIII CBCS, aprovação dos princípios para o documento
em Uberlândia (MG), mas esta foi a final e irão gerar ainda pequenas alterações no
primeira sessão formal, com ampla Estatuto, que deverá ser novamente submtido à
pauta de discussões. Também foi a Assembleia Geral da SBCS, no Congresso Naci-
primeira realizada em Viçosa, dando a onal de 2013. O regimento estabele as bases
todos os conselheiros a oportunidade legais da administração da Sociedade “ Ao redi-
de conhecer e interagir com a sede da girmos o documento em conjunto, verificamos
Sociedade. O Conselho Diretor é for- que alguns itens do atual Estatuto deveriam
mado pelo presidente, vice-presidente, estar no Regimento e fizemos as alterações
membros da secretaria executiva, os necessárias, amadurecendo ainda mais o Esta-
dois últimos ex-presidentes, os direto- tuto que rege a nossa Sociedade”, disse o Secre-
res das divisões especializadas e dos tário adjunto, Raphael Fernandes. O documento
núcleos regionais/estaduais. define, entre outros temas, como será a organi-
O evento, que aconteceu nos dias zação de eventos e a relação dos núcleos e divi-
29 de fevereiro e 01 de maio, foi organi- sões com a Secretaria Executiva.
zado em forma de workshop, com o O Conselho Diretor também debateu assun-
tema Desafios da Ciência do Solo Brasi- Os membros do Conselho Diretor da SBCS reunidos na sede, em Viçosa. tos referentes à Revista Brasileira de Ciência
leiro. A partir daí, cada um dos diretores Solo e aprovou a continuidade do processo de
das quatro divisões e dos núcleos pre- chegamos à conclusão de que era pre- organização eficiente resultou em parti- implantação da certificação dos profissionais
parou e apresentou um trabalho mos- ciso reuni-los, para que pudéssemos cipação efetiva de todos os integrantes, que atuam na Ciência do Solo. Para o ex-
trando a realidade, as perspectivas e os Entre outros temas, o Conselho debateu a proposta de um regimento para a SBCS.
tratar o futuro da SBCS, com análises com um workshop muito produtivo e presidente da SBCS, Flávio Camargo, a partir de
desafios enfrentados pela Ciência do regionais, para desenharmos uma com fluidez na reunião, permitindo que agora, o Conselho Diretor está efetivamente
Solo no Brasil. “As visões regionais governança mais adequada”, afirmou o decisões operacionais fossem alcança- envolvido nesse debate. Em um primeiro
foram muito interessantes para formar presidente. A partir de agora, a secreta- das.” momento, a Sociedade fará um diagnóstico
um conjunto de informações sobre ria executiva pretende promover pelo A abertura do evento, na manhã do sobre o interesse dos profissionais na implanta-
deficiências, tendências e perspectivas menos duas reuniões anuais do Conse- dia 29, contou com a participação da ção da certificação profissional do cientista do
da Ciência do Solo. Penso que este lho - uma delas deverá ocorrer sempre reitora da UFV, Nilda de Fátima Soares; solo.
workshop foi um passo muito impor- durante um dos eventos promovidos do diretor do Centro de Ciências Agrári- Também ficou definido que o secretário
tante para a gestão política da nossa pela SBCS. as, Sérgio Bromoschenkel, além do geral, Reinaldo Cantarutti, e o ex-presidente
Sociedade no cenário nacional”, disse Para o o secretário geral da Socieda- presidente e do secretário geral da Flávio Camargo representarão a SBCS no Inter-
o presidente da SBCS, Gonçalo Signo- de, Reinaldo Bertolla Cantarutti, a reu- SBCS. congress Meeting, que será realizado em junho
relli de Farias. nião superou as expectativas. “A orga- O diretor do Núcleo Regional Ama- deste ano, na Coreia do Sul. O evento reúne as
As reuniões formais do Conselho nização foi muito funcional. Consegui- zônia, Milton César Campos, elogiou o diretorias das sociedades nacionais de Ciência
Diretor fazem parte da rotina adminis- mos reunir os 19 Conselheiros e homo- intercâmbio favorecido pelo workshop: do Solo a cada dois anos e é promovido pela
trativa da SBCS, mas esta de Viçosa logamos o nome do presidente do “o nosso núcleo é o mais novo, criado IUSS - União Internacional de Ciência do Solo. O
teve um caráter histórico, porque dela Congresso Brasileiro de Ciência do em 2010, e um dos grandes benefícios professor Flávio Camargo foi indicado pelo Con-
participou um conselho renovado, Solo de 2015, José Araújo Dantas, da para nós é conhecer as diferenças e selho Diretor para presidir a Comissão Organiza-
ampliado, dando outra consistência ao Empresa de Pesquisa Agropecuária do experiências dos outros núcleos. À dora do Congresso Mundial de Ciência do Solo,
evento. “Hoje, nós estamos organiza- Rio Grande do Norte (EMPARN), do RN medida que conhecemos as ideias que que será realizado no Brasil, em 2018, e deverá
dos em núcleos regionais ou estaduais como 2º vice-presidente. Assim, ficou deram certo, podemos seguir o mesmo apresentar, na Coreia, as bases iniciais para a
e a expectativa é de que essas unidades consolidada a composição final do caminho na elaboração de projetos e organização do evento.
A Reunião do Conselho Diretor foi aberta pela reitora da UFV, Nilda de Fátima Soares.
cresçam cada vez mais. Diante disso, Conselho formado por 20 membros. A planejamentos. O Núcleo Regional da

02 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS JANEIRO - ABRIL 2012 03


AGENDA

LANÇAMENTO
19 LIÇÕES DE PEDOLOGIA
IGO F. LEPSCH

Com intuito de estudar a Ciência do Solo, o livro aborda rochas e minerais que
dão origem aos solos, os processos de intemperismo, e fundamenta e apresenta o
Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos.
A obra é organizada em 19 lições e conta com exercícios resolvidos a cada
capítulo. Explica as funções que estão refletidas nos atributos mineralógicos,
biológicos, físicos e químicos – principalmente as relacionadas com o crescimen-
to das plantas.
O livro é indicado a geólogos, estudantes de Agronomia, Geografia, Ecologia,
Zootecnia, Biologia, entre outros.O autor ensina ainda como examinar a aparência
dos solos e a analisar e interpretar seus atributos. O livro tem 456 página e pode ser
comprado por R$150,00 na editora Oficina de Textos.
Igo F. Lepsch é autor de inúmeros artigos científicos e de divulgação publica- XIX REUNIÃO BRASILEIRA
dos em 45 anos de atividade profissional. Depois de exercer a função de pesquisa-
dor no Instituto Agronômico de Campinas, atua como professor visitante e consul- DE MANEJO E CONSERVAÇÃO
tor de empresas.
DO SOLO E DA ÁGUA

AGENDA 2012 Conservação do Solo e da água no Brasil:


preceitos e ações no ensino, na pesquisa e na extensão
PROGRAME-SE!
VI SIMPÓSIO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO EM SOLOS O evento conjuga as seguintes reuniões: XXX Reunião De 29 de julho a 03 de agosto
Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas; XIV
De 22 a 25 de maio
Reunião Brasileira sobre Micorrizas; XII Simpósio Brasileiro Pousada Rural SESC, em Lages - SC
Universidade Estadual Vale do Acaraú - Sobral - CE
www.uvanet.br/sbes de Microbiologia do Solo; IX Reunião Brasileira de Biologia
do Solo e o I Simpósio sobre Selênio no Brasil.
www.comuniceventos.com.br/index.php/evento/198/fertbio Promoção: SBCS
RBMCSA
Organização: Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃO X REUNIÃO BRASILEIRA DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS
DO SOLO E DA ÁGUA Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI)
-X RCC
De 29 de julho a 03 de agosto De 03 a 11 de novembro Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC-Lages)
Centro de Eventos da Pousada Rural do SESC - Lages - SC Mato Grosso do Sul
www.rbmcsa.com.br www.cnps.embrapa.br/rcc
As inscrições e mais informações no site: www.rbmcsa.com.br
FertBio 19th ISTRO CONFERENCE
De 17 a 21 de setembro De 24 a 28 de setembro
Centro de Convenções de Maceió - Alagoas Montivideo - Uruguai
‘’A Responsabilidade Socioambiental da Pesquisa Agrícola’’ www.congresos-rohr.com/istro2012
Inscrições de trabalhos até 31 de maio

52 BOLETIM INFORMATIVO DA SBCS


NOTÍCIAS NOTÍCIAS

MARIÂNGELA HUNGRIA
E CARLOS CERRI
RECEBEM PRÊMIO DE PESQUISA
A pesquisadora da Embrapa Soja do trabalho da pesquisadora, na ausên-
EMBRAPA LANÇA
(Londrina/PR), e ex-presidente da
SBCS, Mariângela Hungria da Cunha e
cia da FBN seria necessário aplicar
milhões de toneladas de fertilizantes
SEGUNDA VERSÃO DO SIBCTI
o professor do Centro de Energia nitrogenados, somente com a cultura A Embrapa Solos divulgou a segunda versão do Sistema tecnológicos e de manejo praticados, principalmente na
Nuclear da Agricultura da Universidade de soja. Isso inviabilizaria economica- Brasileiro de Classificação de Terras para Irrigação (SiBCTI). O região de solo semiárido. A linguagem simplificada, segundo
de São Paulo (CENA/USP), Carlos Cle- mente o processo e representaria um software orienta agricultores, gestores da área agrícola, a Embrapa, possui vários graus de ajuda, possibilitando sua
mente Cerri foram os contemplados poderoso poluidor de cursos de água e professores e estudantes na classificação dos solos e utilização mesmo que o usuário não seja um especialista. O
deste ano do Prêmio Frederico de de emissão de gases de efeito estufa melhores tipos de irrigação para uma área específica, com software avalia o ambiente para irrigação, cruza informações
Menezes Veiga 2012. Esta foi a 34ª edi- (GEE).Mariângela Hungria da Cunha informações totalmente adaptadas ao solo brasileiro. do solo, da água, da planta e do sistema de irrigação escolhi-
ção do prêmio que teve como tema “A cursou Engenharia Agronômica na O sistema é fruto de uma parceria com a Companhia de dos.
agricultura na economia de baixa emis- Escola Superior de Agricultura “Luiz de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba Mais informações: www.cnps.em brapa.br
são de carbono”. O Prêmio é concedido Queiroz”, da USP e tornou-se pesquisa- (Codevasf) e foi estruturado para atender aos diversos níveis
anualmente àqueles que, no campo da dora da Embrapa a convite da pesqui-
pesquisa agropecuária, tenham-se sadora Johanna Döbereiner, referência

CIÊNCIA BRASILEIRA
destacado pela realização de obra cien- em pesquisas com FBN.
tífica ou tecnológica de reconhecido Sequestro de carbono pelo solo e a
valor ou se dedicado a produzir traba- quantificação das emissões de gases
lho que signifique efetiva e marcante do efeito estufa pelas práticas agríco-
contribuição ao desenvolvimento agro- las, pecuária e reflorestamento no Bra-
pecuário nacional.
Mariângela Hungria se destacou
sil é o foco do trabalho do professor
Carlos Clemente Cerri. A linha de pes-
PERDE AZIZ AB'SABER
pelo trabalho em Fixação Biológica de quisa tem como meta final a redução da O pesquisador Aziz Nacib Ab'Saber, um dos maiores espe-
Nitrogênio (FBN) com a soja, uma das pegada de carbono dos bioprodutos do cialistas brasileiros em geografia física e referência em assun-
tecnologias consideradas de maior agronegócio. Seus experimentos têm tos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais
sucesso em agricultura de baixa emis- como principal objetivo obter dados decorrentes das atividades humanas, faleceu, aos 87 anos, de
são de carbono. Realizou mais de 150 reais sobre sequestro de carbono do enfarte, dia 16 de março. O falecimento do pesquisador e
estudos sobre o tema em todas as solo e emissões de gases do efeito humanista repercutiu imensamente na imprensa nacional.
regiões produtoras do Brasil, tendo estufa pela mudança do uso da terra, Nascido em São Luiz do Paraitinga (SP) em outubro de
lançado mais de 20 tecnologias relacio- insumos (fertilizantes, defensivos, 1924, Aziz Ab´Saber foi professor da Universidade de São
nadas à FBN com a soja, com implica- calcário), restos de cultura e dejetos Paulo e presidente da SBPC - Sociedade Brasileira para o Pro-
ções diretas na melhoria da qualidade animais, além de propor mudanças nas gresso da Ciência de 1993 a 1995. Trabalhou no Instituto de
dos inoculantes, no processo de inocu- práticas agrícolas com o objetivo de Estudos Avançados da USP até um dia antes de sua morte,
lação, na legislação brasileira e no mitigar as consequências do aqueci- quando entregou à SBPC um conjunto de DVDs com sua obra
desempenho simbiótico. Além disso, é mento global devido à agricultura, completa.
uma das maiores divulgadoras da tec- pecuária e reflorestamento e ao mesmo A SBCS externa seu pesar pela morte de um dos mais
nologia, em nível nacional e internacio- tempo valorizar os bioprodutos do importantes nomes da Geografia e da Geomorfologia brasilei-
nal, abrangendo desde dias de campo a agronegócio no Brasil. ra. Em um dos seus tanto notáveis trabalhos, o professor
congressos internacionais. A premiação foi entregue no dia 25 Ab'Saber dividiu o território brasileiro nos chamados “Domíni-
Para se ter uma ideia da importância de abril, em Brasília. (Fonte: Embrapa) os Morfoclimáticos”, o que facilitou, e ainda facilita, os traba-
lhos de Pedologia no país. Em 1995, Aziz Ab'Saber fez a pales-
A pesquisadora da Embrapa Soja (Londrina/PR), e ex-presidente da SBCS, Mariângela Hungria da Cunha e o professor do CENA/USP, Carlos Clemente Cerri foram os tra de abertura do XXV Congresso Brasileiro de Ciência do
contemplados deste ano do Prêmio Frederico de Menezes Veiga 2012
Solo com o tema “Domínios Morfoclimáticos do Brasil”.

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