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CURSO PARA MINISTÉRIO DE LEITORES

Caríssimos irmãos e irmãs, vocês estão se preparando para exercer um ministério


em favor de sua comunidade. Essa palavra, como nos indica sua origem, significa serviço,
assim, longe de ser uma honra, cada Leitor deve estar consciente de que está prestando um
serviço à Comunidade. Desta forma, o ministério constitui um chamado, diante do qual nos
sentimos muitas vezes incapazes e dizemos: “Senhor, eu não sei falar”, mas que o Senhor nos
responde: “Não temas, porque estou contigo. Eis que ponho as minhas palavras em tua
boca.”(cf. Jr 1,7-10)
Assim, sendo um serviço deve ser prestado com muito zelo, de forma que os leitores
nunca devem ser designados de improviso, mas aptos e diligentemente preparados. No
Lecionário (OLM 55), especifica-se essa preparação, ela deve ser: Espiritual, Litúrgica e
técnica.
Nesse sentido, buscamos aqui trazer elementos que nos favoreçam compreender a
importância que o Ministério da Palavra tem, pois faz com que a Palavra de Deus, que
outrora falou pelos Profetas, mas que agora, nestes últimos dias falou por meio de Seu Filho
(Hb 1,1-2), continue viva na vida da Comunidade e viva no Mundo.
Desta maneira, por meio desse Ministério, o Leitor é como o Precursor: “a voz que
grita no deserto: preparai o caminho do Senhor”(Mt 3,3). No deserto da história humana é a
voz que proclama a presença do Reino de Deus, anuncia a Palavra de Deus que se comunica
ao homem, estabelecendo com Ele um diálogo, como quem fala a um amigo.
Assim também, no exercício do Ministério de Leitor, possam ter o espírito de
humildade de São João Batista, sabendo-se simples operário do Reino, e possam dizer em
forma de oração: “que eu diminua, para que Ele cresça” (Jo 3,30)

Marília, 24 de junho de 2016.


Solenidade da Natividade de São João Batista
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1. MINISTÉRIOS E PARTICIPAÇÃO LITÚRGICA1


Para o exercício das funções do sacerdócio comum dos fiéis, existem
Para entendermos a dinâmica dos ministérios na Igreja devemos recorrer a figura de ainda outros ministérios particulares, não consagrados pelo
Jesus, a partir da figura do Servo de YHWH, conforme é nos é descrita nos quatro cânticos de sacramento da Ordem, e cuja função é determinada pelos bispos
Isaias. Essa imagem ilumina toda a ministerialidade da Igreja, serve antes de tudo para o segundo as tradições litúrgicas e as necessidades pastorais. «Também
ministério ordenado, pois este deve ser modelo para o rebanho, porém todo o Corpo eclesial, os acólitos, os leitores, os comentadores e os membros do coro
todo batizado deve praticar sua ministerialidade a partir de Cristo Servo. desempenham um verdadeiro ministério litúrgico» (18). (CIC 1143.)

Este texto ilumina o real sentido de poder, um poder que é serviço e que dá Os ministérios instituídos de modo estável, embora não necessariamente perpétuo,
espaço para que cada membro da Igreja se possa realizar na liberdade dos
filhos de Deus. Jesus opõe o poder ao serviço. Este serviço deve caracterizar realizam-se mediante um rito, para funções particulares na comunidade eclesial. Atualmente,
seus discípulos. O próprio Filho que “não veio ser servido, mas para servir e em nível universal, são ministros instituídos “os leitores”, que estão na liturgia a serviço da
dar a sua em resgate por muitos” (Mc 10,45). O Servo de YHWH, com a sua
prática, equaciona de maneira nova e inesperada para a questão do poder Palavra, e “os acólitos”, que atendem ao serviço litúrgico do altar. Esses ministérios são
(TABORDA).
instituídos, normalmente a homens que estão se preparando para receber as Sagradas Ordens.

A assembleia litúrgica é um grupo dotado de ministérios e funções, cujo exercício Contudo, ambos os ministérios podem ser concedidos de modo “extraordinário a homens ou a

está a serviço da participação ativa e plena dos fiéis. A liturgia é reflexo da natureza da Igreja, mulheres”.

e esta é, toda ela ministerial, ou seja, diferenciada e orgânica na qual todos têm o mesmo grau Leitor

de responsabilidade e de exercício da missão eclesial. Toda função ministerial e serviço na Sua função é proclamar a Palavra de Deus na assembleia, exceto o Evangelho; na

assembleia vêm a ser de fato um sinal do Senhor, que atua por meio de sua Igreja na obra da ausência de um salmista, ele deve recitar o salmo responsorial; proclamará as intenções da

santificação dos homens e do culto a Deus. Essa diversidade de ministérios é atestada pelo oração dos fiéis. A Instrução Geral do Missal Romano e a Introdução ao Lecionário pedem

Concílio: que os leitores não sejam designados de improviso, mas aptos e diligentemente preparados.
No Lecionário (OLM 55), especifica-se essa preparação; deve ser:

Nas celebrações litúrgicas, cada um, ministro ou simples fiel, ao a) Espiritual:

desempenhar seu ofício, fará tudo aquilo e só aquilo que lhe cabe pela Tal preparação deve ser em primeiro lugar espiritual, mas é necessária também a

natureza e pelas normas litúrgicas. (SC 28) preparação técnica. A preparação espiritual supõe pelo menos dupla instrução: bíblica e
litúrgica. A instrução bíblica deve encaminhar-se no sentido de que os leitores possam

Numa assembleia, é preciso respeitar as diversas funções no seu interior, assim a compreender as leituras em seu contexto próprio e entender à luz da fé o núcleo central da

celebração litúrgica é uma espécie de sinfonia na qual cada instrumento intervém no momento mensagem revelada.

oportuno. Não tem sentido que uma mesma pessoa assuma todas as funções. b) Litúrgica

Entre os ministérios litúrgicos destaca-se o da presidência, confiada ao ministro A instrução litúrgica deve facilitar aos leitores certa percepção do sentido e da

ordenado, ou seja, bispo, presbítero e diácono. A presidência não significa que esteja acima da estrutura da liturgia da palavra e a relação entre a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística.

assembleia, mas dentro dela, não sobre a comunidade, mas a serviço desta. c) Técnica

Existem ainda os ministérios não ordenados, que podem ser exercidos por leigos. A preparação técnica deve capacitar os leitores para que se tornem sempre mais aptos
na arte de ler diante do povo, seja de viva voz, seja com a ajuda de instrumentos modernos
1RESUMO DO TEXTO: A ASSEMBLEIA CELEBRANTE. Juan Carlos Spera e Roberto Russo. para a amplificação vocal.
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A Palavra de Deus é uma história sagrada, não no sentido de história que nós temos,
2. A PALAVRA DE DEUS NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO2 como fatos comprovados, mas como testemunho das ações de Deus na vida do povo. É a
Palavra de Deus que atua intervindo na vida das pessoas e orientando os caminhos do povo.
Nossa fé crê em um Deus que usa aquilo que é o mais próprio do ser humano: a Essa atuação libertadora de Deus em benefício de seu povo é denominada na Bíblia
comunicação verbal (palavras) e não verbal (gestos e sinais). A palavra de Deus foi “maravilhas de Deus”, por meio das quais Deus revela sua grandeza. Dessa maneira, a Palavra
comunicada por meio da linguagem humana e de homens, mas nos últimos dias falou por de Deus como história é uma sequência das comunicações de Deus e das respostas fiéis ou
meio de seu Filho (Hb,1,1-2). A fé cristã nasce do diálogo que parte de Deus e espera a infiéis do povo. Deus fala por meio de fatos e atua mediante sua palavra.
resposta humana, assim como Deus passeava no Jardim para falar com Adão (Gn 3,8) e fala Diante dessa grandeza da Palavra, ela torna-se um acontecimento diante do qual o
com Moisés face a face (Dt 34,10). A Palavra de Deus comunicada ao homem atinge seu povo não pode permanecer passivo. O movimento feito pelo ouvinte desta Palavra é duplo:
ápice em Jesus Cristo, quando a Palavra se faz Carne e arma sua tenda entre nós (Jo1,14). por um lado é convocado a constituir uma assembleia e, por outro, vê-se impelido a tomar
Jesus, como comunicação do Pai, revela-nos o seu próprio ser, revela quem Deus é, mas ao uma posição, isto é, a comprometer-se no projeto da Aliança. O ouvinte, dessa maneira, vê se
mesmo tempo comunica a essência do homem. (GS 22). diante da Palavra forçado a tomar uma decisão: “É-lhes dado escolher entre a vida e a morte,
Aquilo que acontece na experiência humana da comunicação, isto é, aquele que e entre a bênção e a maldição. Escolham, pois a vida, para que vocês e seus descendentes
comunica busca o outro, espera uma resposta, e revela-se, acontece também na comunicação vivam” (Dt 30,19)
divina. Deus que na comunicação busca o homem, a ele se revela e espera uma resposta. A Palavra de Deus exige um compromisso de vida de fé, esperança e caridade. Fé,
Contudo, se existe essa semelhança, há também uma distinção. A Palavra de Deus nunca é porque a Palavra é revelação; esperança, pois é promessa; caridade, porque é norma de vida.
uma palavra vazia, pois é uma realidade dinâmica, uma força que torna presente os desígnios Deus, ao comunicar sua Palavra, espera uma resposta, esta consiste em escutar e adorar em
divinos. Assim, a Palavra sempre realiza aquilo que anuncia, pois “Acaso não faz Deus o que Espírito e Verdade” (Jo 4,23). Para que esta resposta se torne efetiva é preciso assistência do
diz? Acaso não cumpre o que anuncia? ” (Nm 23,19) A Palavra de Deus é aquela Palavra que Espírito Santo, assim aquilo que se escuta na ação litúrgica deve tornar-se manifesto na vida
tem a força de realizar o que pronuncia, é a Palavra criadora: “Deus disse, faça-se a luz e a luz do crente: “Não basta ouvir a mensagem; é necessário pô-la em prática” (Tg 1,22).
foi feita” (Gn 1,6) Portanto, na perspectiva da Sagrada Escritura a Palavra é entendida como Como já vimos anteriormente, Jesus Verbo do Pai que se fez homem (Jo), é o ápice
um princípio ativo que realiza aquilo que significa, de forma que no momento em que é da comunicação de Deus. Jesus é, dessa forma, a Palavra de Deus pronunciada em plenitude
proferida, transforma-se em acontecimento, de modo que para Deus dizer equivale a fazer. e, ao mesmo tempo, a grande intervenção divina na história do homem. Ele é a Palavra
Entre as ações da Palavra uma que se destaca é ser palavra convocadora. É a palavra ativa que definitiva e o acontecimento decisivo; é a expressão final do que Deus quis dizer a respeito de
reúne a assembleia do povo da aliança: “Reúne o povo a meu redor e os farei ouvir minhas Si e a respeito do homem, e a plena realização daquilo que desejava fazer. O centro e a
palavras, para que as ensinem a seus filhos e aprendam a respeitar-me todos os dias em que plenitude de toda a Escritura é Cristo, conforme Ele mesmo afirmou aos discípulos a caminho
viverem na terra” (Dt 4,10) de Emaús (Lc 24,27). Por isso, nos ensina Santo Justino: “ignorar a Escritura é ignorar o
Essa Palavra tem outra característica para ser destacada: é “uma palavra que Cristo”.
transforma os corações e leva o povo à conversão” (cf. Ez 33,10-20). O novo imperativo da Jesus alcança também essa plenitude na Liturgia, pois o desígnio salvador da Palavra
conversão nasce do encontro entre pessoas, do povo com a palavra, num misterioso diálogo. de Deus nela recorda e prolonga seu significado, de forma que a celebração litúrgica se
A história do povo, marcada por tantas imperfeições, transforma-se em história da salvação. transforma numa contínua, plena e eficaz apresentação dessa Palavra de Deus. Palavra sempre
eficaz que revela o amor operante do Pai entre os homens, pelo poder do Espírito Santo. A
Celebração Litúrgica realiza o “façam isto em minha memória”, pois aquele evento histórico,
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RESUMO DO TEXTO: A PALAVRA DE DEUS NA CELEBRAÇÃO. Faustino Paludo, OFM Cap.
portanto irrepetível, torna-se presente em nosso momento histórico, de forma que nós
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tomamos parte de tal evento, dessa maneira, por meio da Liturgia nós não apenas recordamos 3. A SAGRADA ESCRITURA, REFERÊNCIA DAS
um fato, mas participamos dele, nós não apenas recordamos o Calvário, mas participamos COMUNIDADES3
dele. Desse modo, na ação litúrgica, Jesus está presente, leva-nos a participar de seu caminho,
realiza o plano do Pai e compromete seus seguidores em seu projeto de vida. Portanto, a
A Sagrada Escritura é uma poderosa referência, uma espécie de estrela que guia as
Liturgia é a ação de Cristo, Palavra do Pai, no hoje da história, o oferecimento da salvação ao
comunidades, assim nos diz a própria Escritura: “Tua Palavra é lâmpada para os meus pés e
povo reunido em Assembleia. Assim, confirma o Concílio:
luz para o meu caminho. (Sl 109,105). Dessa maneira, uma das principais propostas do
Vaticano II foi propor uma maior abundância de leituras nas celebrações litúrgicas. Assim, o
[...] para realizar uma obra tão grande, Cristo está sempre presente em
povo de Deus pode recuperar o tesouro da Palavra que alimentou e continua a sustentar seu
sua Igreja sobretudo na ação litúrgica [...] Está presente em sua
caminho. Para a comunidade cristã, a Liturgia tornou-se um lugar privilegiado para escutar e
Palavra, dado que, quando se lê na Igreja, é Ele que fala. Está presente
orar a Sagrada Escritura. De fato, foi por meio da Liturgia que a Palavra de Deus se difundiu e
quando a Igreja suplica e canta salmos. [...] (SC 7)
chegou a nós devido ao papel que desempenou nas celebrações e liturgias do povo.
O povo de Israel cultivou os textos sagrados com um esmero especial. Entoou-os
Essa presença de Cristo na Palavra não é uma presença abstrata, mas a presença de
com maestria e os interpretou com arte. No culto, o texto sagrado devia receber uma atenção
alguém. O mesmo Verbo que se fez carne (Jo), que assumiu nossa condição humana, desde a
particular. Para o povo judeu, a palavra proclamada na assembleia cúltica era sinal da
Encarnação até a morte de Cruz, e que agora vive junto do Pai, está presente em nossas
presença do Senhor e expressão de diálogo com Ele. Conforme atesta os Atos do Apóstolos
Liturgias, com toda a sua realidade divina e histórica. Essa profunda experiência de perceber
(At 2,42), os cristãos se reuniam com assiduidade para ouvir a Palavra.
o som da voz do próprio Cristo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na Liturgia,
Esse costume foi herdado das sinagogas judaicas. Na sinagoga, não se celebravam
deve provocar em nós a experiência dos discípulos de Emaús: “Não é verdade que o coração
sacrifícios, mas se ouvia a Palavra de Deus e se orava. Nela a comunidade de Israel era
nos ardia no peito quando nos vinha falando pelo caminho e nos explicava as Escrituras? ”
congregada para a oração e a instrução nos caminhos do Senhor, mediante a escuta da Palavra
(Lc 24,32). Com isso,
de Deus, que ensina e guia com segurança. Os primeiros cristãos eram judeus que tinham
descoberto Jesus, o Messias, e a Ele tinham aderido, mas que continuavam a viver de acordo
[...] Ao ler tudo o que Dele se diz na Escritura (cf. Lc 24,27), “a Igreja
com os costumes de seus pais. Por isso, as primeiras comunidades cristãs herdaram muito da
venera a Escritura tal como o faz com o Corpo do Senhor” (DV 21). O
liturgia sinagogal e da proclamação da Palavra de Deus como caminho de vida para todo o
privilégio da presença de Cristo faz que os textos sagrados não se
povo.
transformem, na Igreja, em meros documentos históricos, mas na
Contudo, as comunidades cristãs tinham um diferencial quando proclamavam e
presença do Pai e de Cristo, que falam à comunidade reunida.
escutavam a Palavra, uma nova referência: Jesus Cristo. Jesus Cristo é a chave de
interpretação da sua comunidade, é por meio Dele que interpretam o significado dos textos do
Desta maneira, na Liturgia, a Palavra que é a comunicação entre Deus e os homens;
Antigo Testamento. Assim, diz Bento XVI na Exortação pós-Sinodal Verbum Domini:
que realiza aquilo que anuncia; que transforma os corações e leva o povo a conversão; que
convoca o povo a constituir uma assembleia e convida esta a tomar uma decisão de
Continuam a ser para nós uma guia segura as expressões de Hugo de
compromisso com o projeto da aliança; que é Jesus, plenitude da Palavra que Deus
São Víctor: «Toda a Escritura divina constitui um único livro e este
pronunciou e, ao mesmo tempo, sua grande intervenção histórica; “presentifica” em nosso
meio. Assim, “Oxalá escutemos hoje sua voz” (Sl 95,8) 3
RESUMO DO TEXTO: A SAGRADA ESCRITURA, REFERÊNCIA DAS COMUNIDADES. Faustino Paludo, OFM
Cap.
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único livro é Cristo, fala de Cristo e encontra em Cristo a sua Essa relação entre Cristo, Palavra do Pai, e a Igreja não pode ser compreendida em
realização”. Se isto já se verifica no interior da Bíblia de Israel, que termos de um acontecimento simplesmente preso ao passado. Essa relação é uma relação vital
nós, cristãos, chamamos Antigo Testamento, muito mais quando nós, na qual cada fiel, pessoalmente, é chamado a entrar. Realmente, falamos da Palavra de Deus
como cristãos, ligamos o Novo Testamento e os seus escritos – como que está hoje presente conosco: “Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28,
se fosse a chave hermenêutica – com a Bíblia de Israel interpretando-a 20). Essa relação é expressa na Constituição Dogmática Dei Verbum com os termos bíblicos
como caminho para Cristo Por isso se vê claramente como é a pessoa de um diálogo nupcial:
de Cristo que dá unidade a todas as «Escrituras» postas em relação
com a única «Palavra». (VD, n. 39) Deus, que outrora falou, dialoga sem interrupção com a esposa do seu
amado Filho; e o Espírito Santo – por quem ressoa a voz do
Os eventos anunciados referiam-se ao Filho de Deus, morto e ressuscitado. O próprio Evangelho na Igreja e, pela Igreja, no mundo – introduz os crentes na
Jesus citou as Escrituras no que diziam respeito à sua Pessoa (Jo 5,39), leu-as na Sinagoga, verdade plena e faz com que a palavra de Cristo neles habite em toda a
confirmando que Nele se cumpre aquilo que eles escutaram (Lc 4,16-21) e as interpretou no sua riqueza (cf. Cl 3, 16) » (VD, n.51)
caminho de Emaús, em tudo o que se referia a Ele, antes de dar-se a conhecer pela fração do
pão (Lc 24,27. 31). Vemos aqui, que Jesus não somente proclama a Palavra, mas também a Essa definição trata-se de uma definição dinâmica da vida da Igreja, pois indica um
explica à comunidade partindo da realidade vivida por ela mesma. Por isso, sua palavra que aspecto qualificante da Igreja: esta é uma comunidade que escuta e anuncia a Palavra de
tem força ressoa no coração dos ouvintes. Existe ainda outra diferença fundamental entre o Deus. A Igreja não vive de si mesma, mas do Evangelho; e deste tira a orientação para sua
culto judaico e a liturgia das comunidades cristãs. Enquanto a Liturgia judaica realizava um peregrinação no mundo. Dentro da Liturgia hoje, a Sagrada Escritura desempenha um papel
ritual de um acontecimento salvífico cujo sentido não passava do valor simbólico, a Liturgia específico, a saber: de paradigma na comunicação entre Deus e seu povo. Assim, a Liturgia
cristã, pelo contrário, será a realização do acontecimento real da salvação. Assim, tanto a baseia-se na palavra concreta das Sagradas Escritura, reconhecidas pela Igreja como a
Sagrada Escritura quanto a Liturgia se ligam a história da salvação da humanidade. A expressão da Palavra de Deus. Portanto, Escritura e Liturgia são inseparáveis, constituindo a
primeira enquanto anúncio, a segunda, em todos os momentos, é sempre confirmação da Liturgia da Palavra e a Liturgia dos Sacramentos um único ato de culto (SC 56). A relação
salvação no plano ritual. A Sagrada Escritura, como revelação da Salvação, se perpetua na entre Sagrada Escritura e Liturgia é tão estreita que a primeira não somente fornece os textos
Liturgia. para as leituras e os salmos, mas também inspira as orações, os cânticos e os sinais.
Na Igreja primitiva, a Sagrada Escritura circulava em todos ambientes da vida da Enfim, os tesouros da Palavra devem ser acessíveis com maior facilidade e plenitude
comunidade. Ela era a fonte para a linguagem comum, assegurava um eixo para a estrutura para as comunidades, para que este inestimável tesouro não fique apenas guardado, não seja
das assembleias litúrgicas e determinava o estilo de vida das primeiras comunidades cristãs. uma riqueza da qual me aproprio e que não uso e não partilho, mas uma riqueza que
Dessa maneira, a Sagrada Escritura, na Liturgia, encontra seu lugar privilegiado, pois nela é transforme minha vida interior e me leve a transformar a vida da minha comunidade e do
proclamada, explicada, orada e vivida pela assembleia litúrgica. O dinamismo da Palavra mundo.
contido na Sagrada Escritura manifesta-se na comunidade reunida em assembleia e
transforma-se em voz forte e Palavra de Deus para o seu povo, capaz de consolar, corrigir,
4. A PALAVRA DE DEUS NA LITURGIA4
animar e oferecer o amor de Cristo aos seus seguidores. Essa Palavra lida nas assembleias
litúrgicas é o motor que atua, cria e intervém na vida das pessoas para moldá-la e, na história,
para orientar o seu caminho.
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RESUMO DO TEXTO: A PALAVRA DE DEUS NA LITURGIA. Faustino Paludo, OFM Cap.
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A liturgia como ação da comunidade eclesial é o espaço primordial em que a Palavra  Quanto mais Cristo estiver presente no ato de sua proclamação;
de Deus ressoa com particular eficácia, pois nela: “Deus fala ao seu povo; Cristo continua a  Quanto mais o conteúdo da mensagem implicar em sua ação salvífica;
anunciar o Evangelho; e o povo responde a Deus com canto e a oração. ” (SC 33; IGMR 9).  Quanto mais o leitor estiver compenetrado em sua função.
Nas diversas celebrações litúrgicas manifesta-se, portanto, os múltiplos tesouros da única
Cada um desses elementos atinge seu ápice na celebração litúrgica, principalmente
Palavra de Deus. Dessa forma, a Liturgia transforma-se, por meio da Palavra, seu alimento e
na Eucaristia, centro de toda realidade sacramental. É nesse contexto que a Palavra alcança o
apoio, num acontecimento novo, mas ao mesmo tempo enriquece a própria palavra com uma
máximo de sua força criadora e salvífica.
nova interpretação e eficácia, de maneira que a Palavra se torna o eixo fundamental de toda
O “hoje” da Palavra de Deus
Liturgia.
Cristo proclamou na Sinagoga de Jerusalém: “Cumpriu-se diante de vocês essa
Na Liturgia, principalmente, a Igreja aborda a Palavra de Deus como uma “Palavra
profecia” (Lc 4,21), mas como entender a atualidade de um acontecimento proclamado pela
viva e sempre atual, na qual ela lê sua história, vê refletida sua vida e ouve a mensagem que o
Palavra? É fato que, na ação Litúrgica a Palavra anunciada transforma-se em realidade atual,
Deus vivo lhe dirige hoje”.(MAGRASSI, M. op. cit., p. 70) Sendo uma Palavra dirigida à uma
pois quando na Liturgia se proclama os acontecimentos, não se narra o que ocorreu uma vez
assembleia litúrgica, seus destinatários não são indivíduos isolados, mas o povo de Deus
no passado, mas o que acontece hoje na própria ação celebrativa. Aquilo que, por meio do
reunido e congregado pelo Espírito Santo, que pela escuta da Palavra constitui a Igreja, Corpo
desejo salvador do Pai, e pelo impulso do Espírito Santo, Cristo realizou, transforma-se numa
Místico de Cristo em oração e sinal de salvação para a humanidade (cf. LG 1,9,26; SC 41) A
realidade atual e é comunicado no hoje da comunidade. Desta maneira, em toda a Celebração
Igreja, congregada pelo Espírito Santo na celebração litúrgica, anuncia e proclama a Palavra
Litúrgica, a Igreja não “lê” nem “relê”, não repete materialmente as palavras do livro, mas
de Deus, reconhece a si mesma como povo novo, no qual a Aliança outrora selada chega
celebra uma palavra da qual vive, porque, unida ao Rito, essa se encarna e continua a cumprir-
agora a sua plenitude e perfeição.
se em seu interior. Assim sendo, por meio da escuta e da abertura à palavra proclamada no
Esse povo reunido é chamado a escutar permanentemente a Palavra de Deus e a
contexto da celebração, a realidade comum de nossa vida insere-se no acontecimento
colocá-la em prática, pois a Palavra que se escuta não é verdadeiramente acolhida quando o
redentor. Logo, a Palavra não é uma simples recordação dos fatos passados. Ela é um
ouvinte, mesmo movido pela graça de Deus e o poder do Espírito Santo, não transforma sua
“acontecimento atual”. O leitor é um pregador que anuncia a Boa Nova e a atualiza com toda
vida numa mensagem do Evangelho e não se torna pregador dessa mesma mensagem. Isso
a sua eficácia, no aqui e agora da comunidade. Isto é, a Palavra precisa ser anunciada e
nos mostra que a Igreja, que acolhe a Palavra por meio da Liturgia, deve anunciar a
proclamada por alguém, afim de que a comunidade a acolha. Enfim, essa Palavra não atua
mensagem do Evangelho, sendo assim continuadora da obra redentora de Cristo. Assim, na
apenas no presente, ela envolve passado, presente e futuro. O passado torna-se presente na
Igreja que se reúne para celebrar e escutar a Palavra, e depois anunciá-la com a vida, está
ação litúrgica, mas é uma realidade que se tornará plena no final dos tempos. Dessa maneira,
presente a Palavra viva: Jesus Cristo. Assim, torna-se evidente que por meio da Celebração a
por meio da relação Palavra e Liturgia vivemos a tríplice dimensão do mistério de Cristo: Ele
Igreja continua a missão de Cristo, por meio da Palavra perpetua o anúncio do Reino, e por
veio e armou sua tenda entre nós (passado); vem constantemente mediante a ação celebrativa
meio da Eucaristia perpetua a Redenção. A ação Sacramental é Palavra, pois também é
(presente); e voltará um dia cercado de glória (futuro).
memorial do Mistério Pascal do Senhor.
A Palavra celebrada
Essa conexão entre Palavra e Liturgia é essencial à vivência cristã e à ação memorial
A proclamação da Palavra dentro de uma assembleia Litúrgica reveste-se
do mistério pascal. Ambas se favorecem mutuamente, pois a Sagrada Escritura desempenha
necessariamente de um caráter festivo e contribui para ele, deste modo, a Assembleia é
uma função específica na Liturgia e a Liturgia, por sua vez, atualiza a Palavra de Deus na vida
convidada a acolher com alegria a Palavra de Deus. Assim, a Palavra pressupõe ser acolhida e
da comunidade. Ela constitui uma intervenção atualizada de Deus em favor da salvação das
proclamada num clima de festa, entre cantos e orações. Esse clima não é senão o da escuta
pessoas reunidas em assembleia. Para tanto, a Palavra necessita de três elementos:
com fé e oração. Na Liturgia da Palavra, por meio da Fé com que se escuta, também hoje a
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assembleia dos fiéis recebe de Deus a Palavra da Aliança. A Palavra de Deus, para ser 5. A UNIDADE DAS DUAS MESAS5
acolhida e traduzida na vida, exige uma Fé viva, que cresce ao mesmo tempo em que acolhe a
Palavra. A Liturgia da Palavra faz parte da celebração Eucarística, de forma que é
considerada uma Mesa juntamente com a Mesa da Eucaristia, pois de ambas o Povo de Deus
Palavra proclamada se alimenta. A Igreja, conforme nos indica a Dei Verbum n.21, sempre venerou as divinas
Escrituras como venera o próprio Corpo de Cristo, não deixando jamais, sobretudo na Divina
O leitor deve estar ciente da importância de sua função, uma vez que, quando atua, Liturgia, de tomar e distribuir o Pão da Vida, quer da Mesa da Palavra de Deus, quer da do
torna presente na assembleia a Palavra viva de Deus, como um acontecimento novo, único e Corpo de Cristo. Esta unidade de mesas está radicada no Testemunho da Escritura, é atestada
irrepetível. Assim, entendemos que a Palavra de Deus proclamada é uma presença pelos Padres da Igreja e reafirmada pelo Concílio Vaticano II.
privilegiada de Deus na vida do cristão, mas, sobretudo, na vida das comunidades eclesiais e, Essa unidade das mesas não pode, de forma alguma como igualdade. A presença de
mais ainda, quando essas se reúnem para escutá-la numa ação Litúrgica. Hoje, a comunicação Jesus na Eucaristia é a única presença substancial. Assim o Papa Bento XVI explica como
de Deus “escrita”, para ser Palavra Salvadora e acontecimento de libertação, precisa ser entender esta unidade intrínseca:
proclamada, anunciada oralmente por aluem, para uma comunidade que a escuta com fé e
alegria. Assim, a Palavra que temos escrita, passa a tornar-se viva a partir desse processo de [...] De facto, existe uma ligação intrínseca entre a palavra de Deus e a parte
eucarística: ao ouvirmos a palavra de Deus, nasce ou reforça-se a fé (Rm 10,
comunicação, passando da escrita ao ouvido. Essa comunicação, que implica o anúncio, 17), enquanto, na parte eucarística, o Verbo feito carne dá-Se a nós como
precisa ser completada pela escuta e acolhida da comunidade a quem se dirige a Palavra, tal alimento espiritual; (133) assim, « a partir das duas mesas, a da palavra de
Deus e a do corpo de Cristo, a Igreja recebe e oferece aos fiéis o pão de vida
escuta está presente na ação de Jesus que afirmava: “Quem escutar minha palavra e crer ».(134) Por isso, deve ter-se constantemente presente que a palavra de Deus,
lida e anunciada na liturgia pela Igreja, conduz à Eucaristia como a seu fim
naquele que me enviou terá a vida eterna” (Jo 5,24; Lc 11,28); “minhas ovelhas escutam a conatural (SCar. 44).
minha voz” (Jo 10,27). Consequentemente, a proclamação da Palavra deve suscitar a
participação ativa e consciente dos fiéis, ou seja, uma resposta de vida. Por meio da própria Quando falamos sobre essa unidade, não podemos deixar de recordar o Caminho de
Palavra de Deus escutada e meditada, os fiéis podem dar uma resposta plena de fé, esperança Emaús. A presença de Jesus, primeiro com as palavras que explicava as Escrituras, e depois
e amor, de oração e entrega de si mesmos, não somente no momento celebrativo, mas também com o gesto de Partir o Pão, tornou possível aos discípulos reconhecê-Lo e apreciar de modo
em toda a vida cristã. Essa Palavra também necessita ser acolhida e interiorizada, novo tudo o que tinham vivido anteriormente com Ele, vendo a Escritura com um novo olhar.
aprofundada, interpretada e atualizada em seu mistério, à luz da realidade vivida pela Aquilo que acontecera naqueles dias já não aparece como um fracasso, mas cumprimento e
assembleia. Portanto, a ação litúrgica é o lugar primordial em que a Palavra de Deus torna-se novo início: “Não estava o nosso coração a arder cá dentro, quando Ele nos explicava as
Palavra viva, por intermédio da proclamação e da escuta, da atualização e a adesão da Escrituras? ” (24, 32). Palavra e Eucaristia correspondem-se tão intimamente que não podem
comunidade reunida em assembleia celebrante, ela se encarna em nossas vidas e arma sua ser compreendidas isoladamente.
tenda para habitar no meio de nós, de nossas vidas, de nossas histórias, mas, sobretudo, de
nossas comunidades. A Eucaristia abre-nos à inteligência da Sagrada Escritura, como esta,
por sua vez, ilumina e explica o Mistério eucarístico. Com efeito, sem
o reconhecimento da presença real do Senhor na Eucaristia,

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Cf. TABORDA, F. A UNIDADE DAS DUAS MESAS in: TABORDA, F. O Memorial da Páscoa do Senhor.
2ed. São Paulo: Loyola,2009
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permanece incompleta a compreensão da Escritura. (Verbum Domini, distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água
n.55) "eucaristizados" e também os levam aos ausentes» (176). (CEC 1345)

Assim, nos diz São Jerônimo:


Esse texto já mostra a conexão e a sequência entre as duas mesas. Apresenta uma
E quando Ele fala em “comer a minha carne e beber o meu sangue” alusão ao que, posteriormente, chamaremos de Antigo e Novo Testamento, à homilia e às
(Jo 6, 53), embora estas palavras se possam entender do Mistério preces dos fiéis. Dessa maneira, conforme lemos também no texto dos Atos, a tradição judaica
[eucarístico], todavia também a palavra da Escritura, o ensinamento do culto sinagogal se faz, portanto, presente e é adaptada à nova situação. Essa sequência não
de Deus, é verdadeiramente o corpo de Cristo e o seu sangue. (Verbum é casual, pois ambas as mesas têm uma relação. Aquilo que Deus prometeu por sua Palavra
Domini, n.56) proclamada realiza-se na ação Eucarística do Cristo. A vinculação entre elas é atestada na
Escritura.
Essa unidade das duas mesas é também atestada desde a primeira descrição de uma Em Ex 24,1-11 se encontra a narração de como Deus fez aliança com seu povo.
celebração Eucarística, feita por São Justino, mártir, aproximadamente ao ano 150: Primeiramente é proclamado o conteúdo da Aliança com a respectiva aceitação por parte do
povo (vv.3-4), segue-se o sinal do sangue como selo da Aliança (vv. 5-6). O Sangue é
aspergido no altar (sinal de Deus) e no povo. Esse ritual expressa um duplo significado. O
«No dia que chamam Dia do Sol, realiza-se a reunião num mesmo
primeiro é a comunhão de vida entre Deus e o povo, pois o sangue é vida; por outro lado o
lugar de todos os que habitam a cidade ou o campo.
compromisso de fidelidade de ambos os lados, cada parceiro atrai sobre si o sangue, no caso
Leem-se as memórias dos Apóstolos e os escritos dos Profetas, tanto
de ser infiel! A partir dessa estrutura da aliança manifesta-se que sua aceitação requer um
quanto o tempo o permite. Quando o leitor acabou, aquele que preside
gesto “sacramental”; no caso, o sacrifício de animais. Dessa maneira, conclui Taborda (2009)
toma a palavra para incitar e exortar à imitação dessas belas coisas.
Em seguida, levantamo-nos todos juntamente e fazemos orações»
Assim se relacionam a liturgia da Palavra e a liturgia Eucarística: à
(175) «por nós mesmos [...] e por todos os outros, [...] onde quer que
Palavra ouvida a Igreja responde com o memorial do sacrifício do
estejam, para que sejamos encontrados justos por nossa vida e acções,
Filho. Mas nesse caso a estrutura de gratuidade e dom, própria à
e fiéis aos mandamentos, e assim obtenhamos a salvação eterna.
aliança, fica ainda mais gritante e clara, pois a própria resposta é o
Terminadas as orações, damo-nos um ósculo uns aos outros.
próprio dom por excelência que Deus nos deu: seu Filho unigênito
Depois, apresenta-se àquele que preside aos irmãos pão e uma taça de
entregue para ser o primogênito de muitos irmãos (cf. Rm 8,29)
água e vinho misturados. Ele toma-os e faz subir louvor e glória ao Pai
do universo, pelo nome do Filho e do Espírito Santo, e dá graças (em
Assim, nos torna evidente que anúncio e realização da obra salvífica são as duas
grego: eucharistian) longamente, por termos sido julgados dignos
modalidades em que juntas constituem um único ato de culto. Essa unidade entre a Palavra e o
destes dons. Quando ele termina as orações e acções de graças, todo o
gesto Sacramental, demonstra o agir próprio de Deus, conforme vemos na história da
povo presente aclama:Ámen.
Salvação. Nela não há separação entre o que Deus diz e faz: a sua própria Palavra apresenta-
[...] Depois de aquele que preside ter feito a acção de graças e de o
se como viva e eficaz (cf. Hb 4, 12), como, aliás, indica o significado do termo
povo ter respondido, aqueles a que entre nós chamamos diáconos
hebraico dabar. Do mesmo modo, na ação litúrgica vemos essa unidade entre o falar e o fazer,
a Palavra da Salvação anunciada tem sua perfeita realização por meio do gesto Sacramental,
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Mistério de nossa Fé. Desta maneira, percebemos que as duas mesas constituem um só ato de Finalmente, a lectio divina conclui-se com a contemplação (contemplatio), durante a
culto, de forma que Palavra e Sacramento não são distintos, mas são unidos intrinsecamente. qual assumimos como dom de Deus o seu próprio olhar, ao julgar a realidade, e interrogamo-
nos: qual é a conversão da mente, do coração e da vida que o Senhor nos pede?
6. PASSOS DA LECTIO DIVINA A PARTIR DA VERBUM [...] Há que recordar ainda que a lectio divina não está concluída, na sua dinâmica,
DOMINI enquanto não chegar à acção (actio), que impele a existência do fiel a doar-se aos outros na
caridade.
Leitura orante da Sagrada Escritura e «lectio divina»
86. [...] Com efeito, a Palavra de Deus está na base de toda a espiritualidade cristã
autêntica. [...] a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração”. Como diz
Santo Agostinho: «A tua oração é a tua palavra dirigida a Deus. Quando lês, é Deus que te
fala; quando rezas, és tu que falas a Deus».[292] .
Por isso, na leitura orante da Sagrada Escritura, o lugar privilegiado é a Liturgia, REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
particularmente a Eucaristia, na qual, ao celebrar o Corpo e o Sangue de Cristo no
Sacramento, se atualiza no meio de nós a própria Palavra. Em certo sentido, a leitura orante BENTO XVI, Papa. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini: sobre a palavra de
pessoal e comunitária deve ser vivida sempre em relação com a celebração eucarística. Assim Deus na vida e na missão da Igreja.
como a adoração eucarística prepara, acompanha e prolonga a liturgia BENTO XVI, Papa. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis: sobre a
eucarística,[295] assim também a leitura orante pessoal e comunitária prepara, Eucaristia fonte e ápice da vida e da missão da Igreja
acompanha e aprofunda o que a Igreja celebra com a proclamação da Palavra no CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2004.
âmbito litúrgico. Colocando em relação tão estreita lectio e liturgia, pode-se identificar CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO; CELAM. Manual de Liturgia II: a
melhor os critérios que devem guiar esta leitura no contexto da pastoral e da vida espiritual do celebração do mistério pascal: Fundamentos teológicos e elementos constitutivos. Tradução
Povo de Deus. de Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Paulus, 2005. 2 v.
87.[...] Quero aqui lembrar, brevemente, os seus passos fundamentais: começa com a TABORDA, Francisco. O memorial da Páscoa do Senhor: ensaios litúrgico-teológico sobra
leitura (lectio) do texto, que suscita a interrogação sobre um autêntico conhecimento do a Eucaristia. São Paulo: Loyola, 2009 (Theologica)
seu conteúdo: o que diz o texto bíblico em si? Sem este momento, corre-se o risco que o PAULO VI, Papa. Constituição Dogmática Dei Verbum: sobre a Revelação Divina.
texto se torne somente um pretexto para nunca ultrapassar os nossos pensamentos. PAULO VI, Papa. Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium : sobre a Sagrada
Segue-se depois a meditação (meditatio), durante a qual nos perguntamos: que nos Liturgia
diz o texto bíblico? Aqui cada um, pessoalmente, mas também como realidade comunitária,
deve deixar-se sensibilizar e pôr em questão, porque não se trata de considerar palavras
pronunciadas no passado, mas no presente.
Sucessivamente chega-se ao momento da oração (oratio), que supõe a pergunta: que
dizemos ao Senhor, em resposta à sua Palavra? A oração enquanto pedido, intercessão,
acção de graças e louvor é o primeiro modo como a Palavra nos transforma.

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