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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL

PROCESSO N2: 23071.003896/2001-30

INTERESSADOS: Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora e


Consultoria-Geral da União.

Aprovo.
Brasília, °* de de 2010.

Procurador-Geral Federal

EMENTA: Conselho Profissional. Penalidade.


Servidor Público. Repercussão. Penalidade
administrativa. Processo Administrativo Disciplinar.
Necessidade. Princípio da independência das esferas.
Atos da vida privada podem repercutir na esfera
funcional, desde que guarde relação com o cargo.

PARECER N°0^/ /PGF/BAC/2010.

Senhor Adjunto de Consultoria,

1- Versa o presente procedimento acerca de consulta formulada pelo Hospital


Universitário da Universidade Federal de Juiz Fora, por meio do Of. N° 11/2001 (tis. 01/02, de
28 de março de 2001, acerca dos reflexos na esfera funcional de servidores que foram
penalizados em seus respectivos conselhos profissionais.

» A gênese dos fatos se deu quando do recebimento pela HU/UFJF de


notificação do COREN (Conselho Regional de Enfermagem) suspendendo do exercício de suas
funções de enfermagem seis servidores.

í. Da análise do Ofício retro a Procuradoria-Geral da UFJF manifestou-se


conclusivamente, através do Ofício s/s/01/PF, de 28 de março de 2001, pela abstenção de
aplicação de qualquer penalidade sem que seja observado o devido processo legal.
4- Após tal fato, a Direção Administrativa do HU/UFJF recTt5e"u nova
notificação daquele Conselho, determinando a suspensão de uma servidora, por não preencher os
requisitos exigidos para atuar como técnica em radiologia.

Em razão disto, a Procuradoria-Geral da UFJF exarou novo Parecer, e


concluiu, in verbis.

Sendo estas as conclusões a que, no caso posto o tema, chego neste


despretensioso estudo, na esteira de tudo quanto amplamente demonstrado
e debatido, força reconhecer que o Conselho Regional de Enfermagem de
Minas Gerais está excedendo os limites da competência que lhe foi
delegada pelo Estado, incorrendo em intromissão espúria e indevida sobre
a Administração Pública, que não pode ser aceita e muito menos tolerada,
data vênia, pelo que, escudado nos argumentos e razões jurídicas expostos,
às dúvidas suscitadas pela autoridade consulente, respondendo:
a) Não. Os conselhos Profissionais não podem exercitar o Poder de
Polícia a elos delegado pelo Estado contra Administração Pública, uma
vez que a delegação em tela tem por objetivo a fiscalização do exercício
das profissões liberais, e não do exercício dos cargos públicos.
b) Prejudicada, (grifos no original)

6- Ante a natureza da questão, aquela Procuradoria, por meio do Ofício n°


046/01/PG, de 25 de junho de 2001, manifestou-se no sentido de que "dada a relevância da
matéria, que reclama, s.m.j., tratamento de âmbito nacional, bem como porque poderá estar
inserida tanto na competência institucional da Colenda Consultoria Jurídica do Ministério da
Educação (CONJUR-MEC), quanto na do Ministério do Orçamento, Planejamento e Gestão
(CONJUR-MOG), requeiro, com o assentimento da Magnífica Reitora desta Instituição de
Ensino Superior, manifestação conclusiva pelo Órgão competente da Advocacia-Geral da União,
inclusive, se for o caso, com a emissão de parecer jurídico normativo vincuíativo".

~l- Neste desiderato, a Consultoria Jurídica do Ministério do Orçamento,


Planejamento e Gestão exarou o Parecer/MP/CONJUR/IC/N° 1559-2.9/2001, datado de 26 de
outubro de 2001, que concluiu que "os conselhos e Ordens de Fiscalização Profissionais (federal
e regionais) têm competência para exercerem a fiscalização sobre a atuação dos servidores
públicos (federais, estaduais e municipais), observadas as disposições contidas nas normas
que os regem, porém, na exata medida necessária para o controle da execução das
atividades profissionais regulamentadas, vez que as atividades da Administração, entre elas se
inclui as do poder de polícia desses Conselhos, são limitadas pela subordinação à ordem jurídica,
ou seja, à legalidade".

8- Por sua vez a Consultoria Jurídica do Ministério da Educação, por meio da


Nota S/N encartada no processo em apenso, embora não tenha enfrentado a questão, aduziu que
para a investidura do cargo em questão não era necessário sequer a inscrição no Conselho,
o que tornaria o tema da consulta prejudicado.

9- Somente em 27 de maio de 2009 a Consuítoria-Geral da União pronunciou-


se sobre o tema através do Despacho à fl. 91 do Departamento de Assuntos Extrajudiciais a
sugestão de arquivamento, corroborando a proposta da Consultora da União Dra. Alda Freire de
Carvalho (processo em anexo) devido a perda do objeto pelo decurso do tempo. r.
T
—r—

10- Entretanto, por não concordar com os Despachos retrò>^-^rópria


Consultoria-Geral da União remeteu o feito a esta Procuradoria-Geral Federal para "que seja
verificada a pertinência de se dar prosseguimento na solução da questão no âmbito desta
Consultoria-Geral da União, ou se, em face das competências da Procuradoria-Geral
Federal, a solução pode ser levada a cabo por este órgão".

11. Anoto, que recebi os autos no dia 11 de fevereiro de 2010 para análise e
manifestação.

É o relatório. Passo a opinar.

FUNDAMENTAÇÃO

13. Preliminarmente, cumpre esclarecer que a Lei n° 10.480, de 2 de julho de


2002, criou a Procuradoria-Geral Federal, atribuiu-lhe competência nos termos do art. 10, in
verbis:

Art. 10. A Procuradoria-Geral Federal compete a representação judicial e


extrajudicial das autarquias e fundações públicas federais, as respectivas

liquidez e certeza dos créditos, de qualquer natureza, inerentes às suas


atividades, inscrevendo-os em dívida ativa, para fins de cobrança amigável
ou judicial, (grifei)

14- Por seu turno, o § Io do citado artigo discrimina a competência das


atividades de consultoria e assessoramento, mandando aplicar, no que couber, o disposto no art.
11 da Lei Complementar n° 73, de 10 de fevereiro de 1993:

Art. 11. As Consultorias Jurídicas, órgãos administrativamente


subordinados aos Ministros de Estado, ao Secretário-Geral e aos demais
titulares de Secretarias da Presidência da República e ao Chefe do Estado-
Maior das Forças Armadas, compete, especialmente'
(...)
111 - fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos tratados e dos
demais atos normativos a ser uniformemente seguida em suas áreas de
atuação e coordenação quando não houver orientação normativa do
Advogado-Gerat da União; (grifei)

15- Destarte, assiste competência à Procuradoria-Geral Federal para responder


aos termos da Consulta, nos limites de suas atribuições, fixando interpretação com reflexos
somente para a Administração Indireta, quais sejam, Autarquias e Fundações Públicas.

16- Dentro deste prisma, importante salientar que a retro mencionada consulta
teve origem em 28 de março de 2001, oriunda do Hospital Universitário de Juiz de Fora (fls.
01/02), em que se questionava se as penalizações oriundas de Conselho Profissional de
Enfermagem de Minas Gerais, in casu, de suspensão do exercício profissional, teria repercussão
da esfera funcional e de que forma se daria tal suspensão.

17- Depreende-se que tal tema tem por matéria de fundo mediata os reflexos úd
poder de polícia dos Conselhos e Ordens Profissionais sobre servidores públicos, e como ma*éfuf
de fundo imediata a solução do caso em concreto dos servidores do hospital universitário da-
UFJF pelo respectivo conselho profissional.
Compulsando os autos, observa-se do Despacho à fl. 91 do Departamento de
Assuntos Extrajudiciais a sugestão de arquivamento, corroborando a proposta da Consultora da
União Dra. Alda Freire de Carvalho (processo em anexo) devido a perda do objeto pelo
decurso do tempo, o que não foi acatado nos termos do Despacho n° 319/2009 encartado à
fl.92.

19- Diante do que fora até agora exposto, devemos dividir a análise do presente
feito sob dois aspectos, quais sejam, o de análise e manifestação do caso em abstrato a fim de
que sirva de orientação para a Administração Federal, isto é, Administração Direta e Indireta, e o
da solução do caso em concreto.

20. Quanto ao primeiro ponto, observo que carece de competência esta


Procuradoria-Geral Federal, tendo em vista que seu pronunciamento se restringiria as Autarquias
e Fundações, e em razão da relevância da matéria, requer-se que tal entendimento seja uníssono e
de aplicação geral, ressaltando ainda, o fato de que além da Procuradoria-Geral da UFJF ter se
pronunciado sobre a questão, as Consultorias Jurídicas do Ministério da Educação e do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão se manifestaram conclusivãmente sobre a
matéria.

21. De acordo com a Lei Complementar n° 73/93, compete ao Advogado-Geral


da União, e a Consultoria-Geral da União:

Art. 4o - São atribuições do Advogado-Geral da União:


(...)

X - fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos tratados e


demais atos normativos, a ser uniformemente seguida pelos órgãos e
entidades da Administração Federal;
XI - unificar a jurisprudência administrativa, garantir a correta
aplicação das leis, prevenir e dirimir as controvérsias entre os órgãos
jurídicos da Administração Federal;

Art. 10 - A Consultoria-Geral da União, direta e imediatamente


subordinada ao Advogado-Geral da União, incumbe, principalmente,
colaborar com este em seu assessoramento jurídico ao Presidente da
República produzindo pareceres, informações e demais trabalhos
jurídicos que lhes sejam atribuídos peto chefe da instituição, (grifei)

22- Não obstante tal fato, esta Adjuntoria de Consultoria da PGF não se furtará
de se manifestar conclusi vãmente sobre o assunto a fim de subsidiar a análise do feito por parte
da Consultoria-Geral da União.

23- Preliminarmente, aponto para um aspecto fundamental sobre a questão, qual


seja, o de aplicar uma penalidade imposta por Conselho Profissional a um servidor público.

24- Inicialmente, esclareço que a competência disciplinar do Poder Público


consiste no dever-poder de apurar ilícitos administrativos e aplicar penalidades às pessoas que se
vinculam, de alguma forma, à Administração Pública. O exercício dessa atribuição ocorre
mediante a instauração do procedimento disciplinar adequado para examinar se infrações
funcionais foram cometidas por agentes no âmbito do Poder Público. Observe-se que o poderá©.
Estado de punir seus agentes deve ser exercido quando necessário, mas deverá scmnr&^r
apurado por meio de um processo adequado.
-—*

usado pela administração publica na apuração e punição de faltas supostamente cometidas por
servidores públicos. Não é um processo de cunho inquisitório tendo definidos por Lei os
princípios e fases a serem seguidos para que tenha validade e consequentemente eficácia.

26- Desta forma, não é possível se apenar um servidor, sem o competente


processo administrativo disciplinar, devendo ser observados ainda, os princípios do contraditório
e ampla defesa.

27- Assim, além dos princípios constitucionais do art. 37, caput, da


Constituição, presentes em toda atividade administrativa, é necessário respeitar os princípios da
ampla defesa e do contraditório, expressamente previstos na Constituição da República, no art.
5o, LV: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes".

28- t O entendimento de que não é possível se aplicar ao servidor público


penalidade sem o devido processo administrativo disciplinar, e que este ainda deve obedecer aos
princípios do contraditório e ampla defesa encontra-se pacificado no Superior Tribunal de
Justiça, e no Supremo Tribunal Federal, dentre outros, in verbis:

SERVIDOR PÚBLICO. APLICAÇÃO DA PENA DE ADVERTÊNCIA


SEM A INSTAURAÇÃO DE SINDICÂNCIA NA QUAL SE DARIA O
EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA DOS QUE VIERAM A SER
PUNIDOS. NULIDADE. Do sistema da Lei 8.112/90 resulta que, sendo a
apuração de irregularidade no serviço público feita mediante sindicância
ou processo administrativo, assegurada ao acusado ampla defesa
(art!43), um desses dois processos terá de ser adotado para essa
apuração, o que implica dizer que o processo administrativo não pressupõe
necessariamente a existência de uma sindicância, mas, se o instaurado for a
sindicância, é preciso distinguir: se dela resultar a instauração do processo
administrativo disciplinar, é ela mero processo preparatório deste, e neste é
que será imprescindível se dê a ampla defesa do servidor; se, porém, da
sindicância decorrer a possibilidade de aplicação de penalidade de
advertência ou de suspensão de até 30 dias, essa aplicação só poderá ser
feita se for assegurado ao servidor, nesse processo, sua ampla defesa. No
caso, não se instaurou nem sindicância, nem processo administrativo, e sem
se dar, por isso mesmo, qualquer oportunidade de defesa aos impetrantes,
foi-lhes aplicada a pena de advertência, por decisão que foi tomada, como
se vê da cópia a fls. 10, em processo administrativo contra terceiro e no
qual os impetrantes constituíam a comissão de inquérito. Recurso ordinário
a que se dá provimento. (RMS-22789 / RJ RECURSO DE MANDADO DE
SEGURANÇA - Publicação DJ DATA-25-06-99 PP-00045 EMENT VOL-
01956-02 PP-00245 - Relator Ministro MOREIRA ALVES - Julgamento
04/05/1999 - Primeira Turma -Unânime.) (grifei)

RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA SERVIDOR


PUBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. AUSÊNCIA
DE NOMEAÇÃO DE DEFENSOR DATIVO. INEXISTÊNCIA DE
QUALQUER TIPO DE DEFESA MATERIAL NULIDADE. DIMINUIÇÃO
DO NÚMERO DE TESTEMUNHAS. IRREGULARIDADE NÃO
CONFIGURADA. <Q^
1. A garantia do contraditório e da ampla defesa, insculpida no afÍ5*A
LV, da Constituição Federal, não pode ser ignorada pela comissão
processante de procedimento administrativo disciplinar, sobretnã&^quando
é aplicada penalidade ao recorrente, sem que haja qualquer tipo de defesa
escrita, nem mesmo de próprio punho.
2. A ausência de qualquer defesa, ainda que intimado o acusado,
configura violação ao princípio do contraditório e da ampla defesa no
processo administrativo disciplinar. Doutrina e jurisprudência.
3. Se foram devidamente explicitados os motivos pelos quais o pedido de
oitiva de quatro testemunhas restava indeferido (mantendo-se a
possibilidade de o recorrente nomear duas testemunhas), não prospera a
alegação de cerceamento de defesa.
4. Recurso ordinário provido.
(RMS 21084 / RS RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA, Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe
26/10/2009) (grifei)

29. Ante o exposto, veda-se qualquer punição a servidor publico, mesmo que
apenado pelo Conselho Profissional, sem o devido processo administrativo disciplinar sob a
observância dos princípios a ele inerentes.

30. Além disso, há que se notar que a aplicação de penalidade por Conselho
ou Ordem Profissional tem caráter eminentemente civil, que não refletirá a princípio, na
esfera funcional, dessa feita, impõe-se lembrar a independência entre as Instâncias Civil (onde se
inclui a Administrativa) e a Instância Criminal, conforme dispõe o Art. 935 do Novo Código
Civil Brasileiro.

A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo


questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.

31. Se tal não bastasse, a Lei n° 8.112/90, no seu artigo 126, reza:

A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de


absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria

- E farta a Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto.


Destacamos as decisões a seguir transcritas:

MANDADO DE SEGURANÇA. SER VIDOR PÚBLICO.


DEMISSÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. INFRAÇÃO
DISCIPLINAR CAPITULADA COMO CRIME. CONDENAÇÃO
NA ESFERA CRIMINAL. REPERCUSSÃO NA ESFERA
ADMINISTRATIVA. ART. 142 DA LEI 8.112/90. PRESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO. OCORRÊNCIA.
SEGURANÇA CONCEDIDA.
1. Sesundo o saudoso Helv Lanes Mpirpllpx a "nunicão

Paulo, Malheiros. 2004. 4 73). No entanto, ressalta-set


conforme o art. 126 da Lei 8.112/90.
2.Havendo o cometimento, por servidor público federal, de
infração disciplinar capitulada também como crime, aplicam-se os
prazos de prescrição da lei penal e as interrupções desse prazo da
Lei 8.112/90, quer dizer, os prazos são os da lei penal, mas as
interrupções, do Regime Jurídico, porque nele expressamente
previstas. Precedentes.
3. A Administração teve ciência, em 22/5/1995. da infração
disciplinar praticada pelo impetrante, quando se iniciou a
contagem do prazo prescricional que, todavia, foi interrompido
com a abertura da sindicância, em 16/9/1995. Ocorrendo o
encerramento dessa investigação em 15/12/1995, a partir desta
data o prazo de prescrição começou a correr por inteiro.
4. Na esfera penal, o impetrante foi condenado à pena de 1 (um)
ano e 4 (quatro) meses de reclusão, havendo o trânsito em julgado
para a acusação em fevereiro de 2001. Por conseguinte, a
prescrição passou a ser de 4 (quatro) anos, porquanto calculada
com base na pena in concreto, de acordo com os arts. 109 e 110
do Código Penal c/c o
art. 142, § 2o, da Lei 8.112/90.
5. Desse modo, o prazo de prescrição tem como termo a quo a
data de encerramento dos trabalhos de sindicância, que ocorreu
em 15/12/1995, pelo que se tem como termo final 15/12/1999,
Assim, quando da publicação do ato de demissão do impetrante,
em 23/9/2004, já havia transcorrido integralmente o prazo
prescricional da pretensão punitiva do Estado.
6. Segurança concedida (MS 10078/DF - MANDADO DE
SEGURANÇA 2004/0157321-3, Ministro ARNALDO ESTEVES
LIMA (11281 S3 - TERCEIRA SEÇÃO DJ 26/09/2005. p. 171)
(grifamos)

MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR.


POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL. PROCESSO
ADMINISTRATIVO. DEMISSÃO. INDEPENDÊNCIA DAS
ESFERAS PENAL E ADMINISTRATIVA. PEDIDO DE
RECONSIDERAÇÃO. PARECER DA CONSULTORIA JURÍDICA
DO MINISTÉRIO. PENALIDADE DIVERSA DA SUGERIDA
PELA COMISSÃO PROCESSANTE. POSSIBILIDADE.
CONCLUSÃO CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS.

crimina! para ser aplicada.


A análise de mandado de segurança, onde se pretenda a anulação
de procedimento administrativo que tenha imposto penalidade ao
servidor, restringe-se à observância dos princípios do
contraditório e ampla defesa, proporcionalidade da pena aplicada
ou outros aspectos procedimentais, sendo incabível a rediscussão
dos próprios fatos e atos originários no apuratório administrati^y.
O impetrante valeu-se de seu pedido de reconside^íçaay
devidamente analisado pela Administração.
O art. 169 da Lei n° 8.112/90 permite que o julgamèTmTcIiscorde
do relatório da Comissão, quando contrário aprova dos autos.
Tal relatório constata toda a omissão e irregularidades praticadas
pelo impetrante, mas conclui, tão-somente, pela aplicação da pena
de advertência, motivo pelo qual o parecer ministerial, ao propor
a pena de demissão, por improbidade administrativa, em
observância ao preceito supra, não violou direito líquido e certo
do impetrante.
Segurança denegada (MS 7019/DF - MANDADO DE
SEGURANÇA 2000/0049969-2. Ministro JOSÉ ARNALDO DA
FONSECA (1106), S3 - TERCEIRA SEÇÃO, DJ 05/03/2001, p.
122). (Grifamos)

33. Diante de tais fatos, ressalto que a despeito de ser servidor público é
plenamente possível a aplicação de penalidade por Conselho ou Ordem profissional, pois
tal penalidade se encontra na esfera civil da pessoal e não na esfera funcional, que como
dito anteriormente, nela não repercute diretamente, e para que se puna
administrativamente o servidor há que se obedecer os trâmites previstos no ordenamento
jurídico para tal finalidade.

34. Tal entendimento encontra-se ressonância no Superior Tribunal de Justiça,


verbis:

ADMINISTRATIVO ■ PROCESSO CIVIL ■ SANÇÃO APLICADA A


MÉDICO-MIL1TAR PELO CONSELHO DE CLASSE -ACÓRDÃO DO
TRIBUNAL DE ORIGEM RECONHECENDO A INCOMPETÊNCIA DO
CONSELHO DE MEDICINA PARA APLICAR PENALIDADE -
RECURSO DE APELAÇÃO NÃO PROVIDO POR UNANIMIDADE -
CONCLUSÃO UNÂNIME E FUNDAMENTO DIVERGENTE - ALEGADA
NECESSIDADE DE OPOSIÇÃO DE EMBARGOS INFRINGENTES -
PRETENDIDA NULIDADE DO JULGADO, EM VISTA DA FALTA DE
CITAÇÃO DE LITISCONSORCIO NECESSÁRIO E RECONHECIMENTO
DA COMPETÊNCIA DO CONSELHO REGIONAL PARA APLICAR
PENALIDADE A MÉDICO MILITAR - RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO, EM PARTE.
"Apura-se o desacordo pela conclusão do pronunciamento de cada votante,
não pelas razões que invoque para fundamentá-lo: a desigualdade de
fundamentações não é bastante para tornar emhargável o acórdão " (José
Carlos Barbosa Moreira, in Comentários ao Código de Processo Civil,
volume V Editora Forense, p, 405).
"Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em mandado de
segurança, decidiu por maioria de votos a apelação" (Súmula n. 597 do
Supremo Tribunal Federal). Entendimento sedimentado neste Sodalício
pela Súmula n. 169 ("São inadmissíveis embargos infringentes no processo
de mandado de segurança").
E sabido, ainda, que os Conselhos Regionais são subordinados ao Federal
(artigo 3o da Lei n. 3.268/57). Assim sendo, conforme manifestação do
Ministério Público Federal, "nenhum prejuízo traria, o resultado do
mandamos, ao pretenso litisconsorte, que justificasse a nulidade do
processo como resultado de sua ausência.
O comando jurisdicional dirigido ao Conselho Federal é o mesmo que afeta-
a esfera de direitos do Conselho Regional, ainda que seja alcançado ngfvui
transversa" (fls. 753/754).
ü> orgao responsável pela analise das questões éticas aolzxtrcicw da
medicina é o respectivo Conselho Profissional que, se for o caso, aplicará
sanção civil que dirá respeito somente à medicina e não à vida do agente
na corporação, como servidor público militar. O médico militar que tem
seu registro cassado deixa de ser médico, mas não perde sua patente ou
sofre qualquer sanção. O Conselho apenas comunicará a decisão à
autoridade militar a que estiver subordinado o infrator.
Conheço em parte do recurso especial e lhe dou parcial provimento, para,
arredada a incompetência do Conselho Regional de Medicina, baixem os
autos ao MM. Juízo de primeiro grau para examinar os demais aspectos
oferecidos pelo feito. Decisão unânime.
(REsp 259340 / DF, RECURSO ESPECIAL, 2000/0048766-0, Re. Min.
Ministro FRANCIULLINETTO)

35. Transcrevo ainda, trecho do voto do Ministro Relator, para elucidar de vez a
questão:

O órgão responsável pela análise das questões éticas do exercício da


medicina é o respectivo Conselho Profissional que, se for o caso, aplicará
sanção civil que dirá respeito somente à medicina e não à vida do agente
na corporação, como servidor público militar, (grifei)

36. Dentro deste prisma, tem-se que o impedimento temporário ou definitivo


do exercício profissional terá reflexos no exercício funcional, quando a função pública se
confundir com o exercício profissional. Assim, um Enfermeiro que teve seu registro suspenso
por determinado período de tempo pelo COREN, enquanto durar tal punição, não poderá exercer
atos privativos de enfermeiro, devendo ser realocado para área meio, sem, contudo, repita-se,
sofrer quaisquer penalidades daquelas previstas no art. 127 da Lei n° 8.112/901, sem o devido
processo administrativo disciplinar.

37- Importante salientar, por oportuno, que tal entendimento não se aplica aos
membros da Advocacia-Geral da União, bem como os integrantes da carreira de
Procurador Federal por expressa determinação legal, esculpida no art. 75 da Medida
Provisória n° 2.229, de 6 de setembro de 2001, determinando que quaisquer faltas funcionais
praticadas no exercício de suas atribuições específicas, institucionais e legais serão apuradas
exclusivamente perante a Advocacia-Geral da União, ou pela Procuradoria-Geral Federal,
in verbis:

Art. 75. Os membros da Advocacia-Geral da União, como os integrantes


da Carreira de Procurador Federal e de órgãos jurídicos vinculafas à

Art. 127. São penalidades disciplinares:

I - advertência;

II - suspensão;

III - demissão;

IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade;

V - destituição de cargo em comissão;

VI - destituição de função comissionada.


Instituição em geral respondem, na apuração de falta funcional praticada
no exercício de suas atribuições específicas, institucionais e legais,
exclusivamente perante a Advocacia-Geral da União, e sob as normas,
inclusive disciplinares, da Lei Orgânica da Instituição e dos atos
legislativos que, no particular, a complementem.

§ Ia A apuração das faltas funcionais objeto do caput, no que


concerne aos membros da Instituição, incumbe à Corregedoria-Geral da
Advocacia da União, observada, a cada caso, a atribuição privativamente
deferida ao Advogado-Geral da União pelo inciso XV do art. 4o da Lei
Complementar n° 73, de 1993.

§ 2~ A apuração de falta funcional imputada a Procurador Federal,


ou a integrante de órgão jurídico vinculado à Instituição em geral,
incumbe ao Procurador-Geral, ou Chefe do Departamento Jurídico
respectivo, o qual logo que ultimados os trabalhos, deve submetê-los ao
conhecimento do Advogado-Geral da União.

§3° O Advogado-Geral da União disporá, em ato próprio e nos


termos do $ 3" do art. 45 da Lei Complementar n° 73. de 1993, sobre a
aplicação deste artigo.

38. Todavia, é de fundamental importância ressaltar que mesmo uma sanção


civil, em razão de ilícito praticado por servidor fora do ambiente ou horário de trabalho,

que deverá ser analisado caso a caso.

39- Quando isto ocorrer, o servidor poderá ser apenado, após o regular trâmite
do processo administrativo disciplinar.

40- Tal entendimento é relativamente recente, e trata dos atos da vida privada
que repercutem na esfera funcional.

41. Observa-se que o art. 148 da Lei 8.112/90 estabelece:

Art. 148. O processo disciplinar é o instrumento destinado a apurar


responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício de suas
atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se
encontre investido.

42- Destarte, podemos inferir que mesmo que os atos praticados por servidores
públicos fora do horário ou ambiente de trabalho, mas que guarde relação com as atribuições/ie
seu cargo, são passíveis de repreensão através do competente processo administrativo discipliiS'

Sobre o tema em comento, o ilustre administrativista Mauro Roberto Gomes


de Mattos ensina:

O art. 143 preconiza que a autoridade que tiver ciência de irregularidades


no serviço público é obrigada a promover a imediata apuração através da
sindicância ou do inquérito administrativo.
O processo administrativo disciplinar deverá ser instaurado sempre que a
autoridade pública tiver ciência de qualquer irregularidade funcional

1 Lei n° 8. II2/90 - Interpretada e Comentada, Editora América Jurídica, T edição, ano 2006, pág. 847
perpetrada por agente publico. Mas essa ciência deverá vir composta por
elementos que comprovam falta aos deveres da função, e não uma acusação
genérica. "Necessária é, para a aplicação do poder disciplinar, a
ocorrência de 'irregularidade no serviço', quer dizer, explicitamente 'falta
aos deveres da função e não, portanto, mera insuficiência profissional
genérica ".
Nessas condições, somente o exercício irregular das atividades funcionais
do servidor público, que desencadeie em descumprimento a deveres ou
inobservância a proibições, devidamente comprovados ou que existam
fortes indícios dessas infrações é que deverão ser apurados: "O uso do
poder disciplinar não é arbitrário: não o faz a autoridade quando lhe
aprouver, nem como preferir".
Assim, deverá haver um mínimo de prova do cometimento de transgressão
disciplinar por parte do servidor público, para que haja a devida apuração.
Não basta apenas existir um fato ou uma suspeita, pois se torna necessário
o fumus boni iuris para o início do procedimento disciplinar contra quem
quer que seja.

Esse juízo de valor, mesmo que em sumaria cognifo, o Administrador


Público é obrigado afazer, sob pena de cometer excesso de poder.
Por isso é que, na dúvida, a prudência manda se apurar o fato tido como
suspeito através da sindicância, onde não existe a figura do acusado, e o
poder público pode, através de um procedimento sumário, onde é conferido
o direito de defesa para o sindicado, promover a devida verificação da
existência de indícios para a propositura do processo disciplinar.
Existem casos de excesso de apuração por parte do poder público
temperados pelo arbítrio, onde o tempo e futuras despesas gastas com
diárias para a Comissão de Inquérito rompem a barreira da eficiência e da
moralidade que devem estar presentes em todos os atos públicos, (grifei)

44. Portanto, exige-se, em primeiro lugar, a existência de um indício de uma


infração disciplinar, ligada ao exercício da função, para a posteriori se identificar uma motivação
suficientemente robusta para demonstrar uma justa causa na instauração do procedimento.

45. Assim, é importante que haja nexo causai entre a função exercida e a
Ínfringência a deveres funcionais, condição sine quo non para respaldar a abertura de processo
administrativo disciplinar.

46. E sobre o nexo de causalidade, encontramos o seguinte julgado do Superior


Tribunal de Justiça que, com objetividade, focaliza bem o tema:

MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO


DISCIPLINAR. PRISÃO EM FLAGRANTE DE ADVOGADO DA UNIÃO
QUE PRETENSAMENTE SE FEZ PASSAR POR OUTRA PESSOA EM
CONCURSO PÚBLICO. PLEITO DE TRANCAMENTO. TESE DE FALIEA^
DE JUSTA CAUSA PARA A INSTAURAÇÃO DO PROCESSO P<m\
ATIPICIDADE DA CONDUTA. NÃO-CARACTERIZAÇÃO^
PREVISIBILIDADE DA CONDUTA EM TESE NA LEGISLAÇÃO
DISCIPLINAR APLICÁVEL. NULIDADE DA PORTARIA. NÃO-
OCORRÊNCIA. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE DIREITO LÍQUIDO
? CERTO NÃO EVIDENCIADO.

I. Não se vislumbra a atipicidade da conduta que, em tese, pode


perfeitamente assumir adequação típica, amoldando-se ao disposto nos
arts. 116, inciso IXe 132, inciso IV, ambos da Lei n.°8.112/9(^ês7eúltimo
c.c. o art. 11, inciso V, da Lei n.° 8.429/92. 2. Embora o pretenso ato ilícito
não tenha sido praticado no efetivo exercício das atribuições do cargo,
mostra-se perfeitamente legal a instauração do procedimento
administrativo disciplinar, mormente porque a acusação impinge ao
Impetrante conduta que contraria frontaímente princípios basilares da
Administração Pública, tais como a moralidade e a impessoalidade,
valores que tem, no cargo de advogado da União, o dever institucional de
defender. Ordem denegada. (MS 11035/DF, relatora a Ministra Laurita
Vaz, 3a Seção, Julgamento em 14/06/2006, DJ de 26.06.2006, p. 116)
(grifei)

Diante o exposto podemos concluir:

a) Que as sanções oriundas de Conselhos e Ordens Profissionais não


repercutem diretamente na esfera funcional, pois o servidor só poderá
ser penalizado após o regular trâmite do processo administrativo
disciplinar, com os princípios a ele inerentes;

b) Que a sanção aplicada por Conselhos e Ordens Profissionais tem caráter


eminentemente civil, e ante o princípio da independência das esferas,
não repercute diretamente na esfera funcional;

c) Que a sanção aplicada por Conselhos e Ordens Profissionais poderá ter


reflexos na esfera funcional apenas se a infração tiver relação com o
cargo que o servidor público ocupa, e só poderá sofrer qualquer sanção
após o regular processo administrativo disciplinar.

d) Que o impedimento temporário ou definitivo do registro do servidor


impedirá que o mesmo exerça as funções diretamente ligadas com o
referido registro, devendo ser realocado para funções diversas, sem,
contudo, repita-se, sofrer quaisquer penalidades daquelas previstas no
art. 127 da Lei n° 8.112/903, sem o devido processo administrativo
disciplinar;

e) Que os membros da Advocacia-Geral da União, assim como os


integrantes da carreira de Procurador Federal, só respondem por suas
faltas funcionais praticadas no seu exercício de suas atribuições
específicas, institucionais ou legais exclusivamente perante a

Art. 127. São penalidades disciplinares:

I - advertência;

II - suspensão;

III - demissão;

IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade;

V - destituição de cargo em comissão;

VI - destituição de função comissionada.


penalizados por Ordens ou Conselhos profissionais.

48. Diante o exposto, sugiro a extração de cópia do presente procedimento para


posterior encaminhamento ao Hospital Universitário/UFJF para conhecimento e manifestação
acerca do interesse da consulta, e que se remetam os originais para a Consultoria-Geral da União
para o regular prosseguimento do feito.

49. São as observações e conclusões que submeto à consideração superior.

Brasília-DF, 22 de fevereiro de 2010.

-> Bruno Andrade Costa


PROCURADOR FEDERAL
Matrícula SIAPE n.° 1554055

De acordo.

À superior consideração.

ANTÔNIO CARLOS. SO,


Adjunto de Consultoria

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