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CORPO DE MULHER E PODER:


RELAÇÕES DE GÊNERO 1

Marcyette Caldas Tojal1

RESUMO:
Este trabalho mostra a interpretação de autores que evidenciam a questão do gênero,
situando-a no contexto sócio, histórico, cultural e ideológico que segundo suas posições atribuem
padrões de comportamento para ambos os sexos, limitando, especialmente, a vida da mulher de
ontem e de hoje, caracterizando ainda a sociedade como machista, excludente, dominante e, na
maioria das vezes, alienadora.

INTRODUÇÃO
Entre os tantos desejos
do mundo atual, como afirma
FOUCAULT(1989), está o dese-
jo de saber, de interrogar e co-
nhecer. Mas, a força deste dese-
jo de saber, muitas vezes, tem que
se voltar sobre a negação, a au-
sência, o interdito e o mal dito.
Desejos que não foram bem di-
tos, falados ou permitidos... De-
sejos ocultos, negados, queima-
dos, castrados, violados, sufoca-
dos; e outros extorquidos, trans-
feridos, sublimados.
É sobre essa ótica que
diversos autores e pesquisadores gias e discriminações sociais so- A discriminação da mulher
têm se inquietado, perguntado e bre o “sexo frágil”, assim visto e começa cedo, no momento do
saído em busca de compreensões. considerado ao longo da história, nascimento ou mesmo antes.
É, neste campo dos desejos, das mas que ao mesmo tempo ex- Pois, quando meninas e meninos
necessidades, das inquietações pressa força, vitalidade e energia chegam à escola já têm
que se ocupam da situação das adaptadas à necessidade de ra- interiorizado, a maioria dos pa-
mulheres e das relações de gê- dicais mudanças na passagem de drões de conduta discriminatória.
nero, principalmente no Brasil, um século a outro que permitem Mesmo que tenhamos escolas
espaço de contradições, ideolo- uma nova roupagem à mulher. mistas e que meninas e meninos

1
Artigo construído sob as orientações do Prof. Dr. Dirk Juergen Oesselmann e da Prof. Ms. Lucélia Bassalo, Coordenador e
Assessora dos Projetos Conselhos Escolares e Encontros Transculturais.
2
Ex-aluna da UNAMA graduada em Pedagogia: Gestão Escolar, pós-graduada em Gestão Escolar pela UEPA e Gestão Empresarial
pela FACINTER/IBPEX. Técnica Administrativa do Projeto Transculturais.

Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003. 1


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sentem-se ao redor das mesmas ça para vencer obstáculos oriun- lhes era propiciado agir, pensar e
mesas, na hora do recreio os dos das amarras do preconceito, acertar. Entretanto, discutir gêne-
meninos jogam com os meninos estereótipos, ideologias, tabus, ro continua sendo, sem dúvida,
a as meninas com as meninas. etc. A situação que lhes era im- um grande desafio, uma vez que
Nas brincadeiras livres é que se posta pela sociedade propiciou a a sociedade ainda se encontra
exercitam espontaneamente os alavanca que foi a força motriz presa aos preconceitos, à discri-
modelos aprendidos de conduta na mobilização e busca minação e à opressão que
e é aí que aparece a fantasia com indeclinável do espaço que lhes inviabilizam o esclarecimento e a
a qual cada indivíduo se identifi- fora reservado, ocupando nos dias liberdade de ação por parte das
ca. Mas, curiosamente, é nesses atuais e com muita força um lu- camadas mais populares.
momentos de “liberdade” que gar mais justo na sociedade, an-
Assim, para subsidiar esta
cada indivíduo se encontra mais teriormente permitido apenas ao
discussão o presente artigo não
intensamente limitado pelas nor- sexo masculino desvendar, des-
se limita à questão gênero. Apre-
mas estabelecidas, para identifi- cobrir e usufruir.
senta uma análise sócio-cultural,
car-se com os arquétipos que es-
Nos dias atuais, vemos que mas também histórica, sobre gê-
tão destinados a ele em função
as mulheres têm o seu lugar con- nero, sexo, corpo, amor e família,
de seu sexo, mas não para trans-
quistado por total merecimento, na busca de interpretações para
gredi-los.
seja na educação, no direito de o quadro de exclusão da mulher
A trajetória das mulheres brincar, de ir e vir, no trabalho, ainda presente na sociedade bra-
apresenta a permanente quebra haja vista a insatisfação com que sileira.
de tabus que as podavam do exer-
cício do poder de expressão, fu-
gindo das amarras que as confi-
navam no cerco fechado das
perspectivas de cuidados mera-
mente familiares: cuidar de casa,
dos filhos, procriar, etc. Esse era
o tipo de educação que recebiam
as garotas desde a mais tenra ida-
de, passada de geração a gera-
ção. À medida que o tempo pas-
sava a menina se desenvolvia,
crescia e no seu mais profundo
ser sentia a revolta e nada podia
contestar.
Através da educação,
mudanças foram surgindo. Os
espaços para novas conquistas se
alargaram e as mulheres sabia-
mente apoderaram-se da oportu-
nidade que a evolução lhes pro-
porcionara revelando-se de um
potencial fantástico de capacida-
de, competência, disposição, for-

2 Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.


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O OLHAR DA SOCIEDA- sua libertação de modelos pre- cebidos como verticalmente or-
DE A PARTIR DAS RELA- concebidos e existentes que man- denados, pressupondo-se uma
ÇÕES DE GÊNERO têm uma grande maioria no cati- hierarquia entre eles, mas não a
veiro da ignorância e da aliena- sua inconversibilidade. O corpo
ção, rotulados por um processo masculino era a representação
Segundo BRUHNS discriminatório e excludente que mais bem acabada da humanida-
(1995), esta discussão perpassa favorece e oportuniza uma mino- de e o feminino a versão diminu-
pela construção sócio-cultural do ria que para muitos ainda é deno- ída ou mais interna.
feminino, conhecida por gênero, minada elite, cabendo a esta a
Aí, já se observa a dis-
que de acordo com alguns auto- manutenção de ideologias que
criminação dos gêneros, proble-
res, é como uma maneira de se nutrem a problemática existente
ma este que se acentua cada vez
referir à organização social da quanto ao gênero.
mais, passando de uma geração
relação entre os sexos (SCOTT, A autora explicita que a outra. Este cenário passa a ser
1990:5). A palavra sexo limita-se essa questão do gênero é mais bem observado na passagem
a sua definição biológica, sendo marcada pela trajetória histórica do século XVIII para o XIX, que
que, a diferença existente entre das sociedades apresentando um visualiza a presença de dois mo-
os sexos, vai além dessa defini- diversificado quadro situado no delos de sexo em decorrência das
ção, refere-se às representações tempo e no espaço ao qual o indi- diversas transformações ocorri-
sociais e culturais. Percebe-se víduo se insere. Apropriando-se das nos panoramas social, histó-
que por trás do termo está toda dos fundamentos e teorização de rico e cultural, ou seja, os sexos
uma maneira de representar a LAQUEUR Apud HEILBORN passaram a ser vistos e
sociedade. (1998), o qual afirma que, até o tematizados horizontalmente
Segundo HEILBORN século XVIII, se tinha uma vi- como opostos: homem e mulher.
(1998), apesar das evoluções e são unilateral quanto ao sexo,
Entretanto, para
transformações ocorridas duran- ou seja, um único modelo que
LAQUEUR Apud HEILBORN
te a trajetória humana, numa so- para a sociedade daquela épo-
(1998:45), uma série de transfor-
ciedade completamente antagô- ca parecia normal. Isso não
mações políticas e ideológicas nas
nica e contraditória, a questão do quer dizer que as diferenças exis-
sociedades ocidentais represen-
gênero tem sido alvo de muitas tentes entre os corpos (masculi-
tam a origem dessa mudança de
discussões e não somente ba- no e feminino) não eram perce-
percepção quanto aos sexos,
seada numa perspectiva históri- bidas, mas havia antes a “possi-
construindo a problemática da di-
ca que conseqüentemente funda- bilidade de conversão de um sexo
ferença sexual e esta passou a
menta essa relação, mas também a outro” através da alteração dos
ser concebida como inscrita nos
sobre o olhar de uma sociedade elementos que o constituem,
corpos e percebida como funcio-
onde os papéis sociais são defini- como explicitado em: um corpo
nal da distinção entre os gêneros.
dos a partir dessa relação de gê- submetido a determinadas cir-
Se os seres humanos passaram a
nero. cunstâncias, como o excesso
ser declarados como iguais, era
do calor, poderia ser o palco
Percebe-se que, no início necessário buscar na natureza a
da transformação de seus ór-
do século XXI, o mundo é mar- base para a introdução de uma
gãos sexuais.
cado por inúmeras evoluções em desigualdade.
(Heilborn,1998.p.44).
todos os setores da sociedade e Percebe-se que a cons-
nas mais diversas áreas do co- Para LAQUEUR Apud
tituição dos gêneros é colocada
nhecimento que impulsionam HEILBORN(1998), os corpos
como propriedade distinta, ou
cada vez mais o indivíduo para a masculino e feminino eram con-
seja, antes do capitalismo essa

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questão do gênero não era vista como sujeito construtor e partici- imposta nas relações de gênero
na sociedade. Somente após a pante do contexto sócio-histórico envolve a construção de discus-
Revolução Industrial, quando ho- em que vive, numa atmosfera sões políticas e pedagógicas no
mens e mulheres passaram a de- muitas vezes recortada por situ- sentido de afirmar a construção
senvolver atividades semelhantes ações de opressão e submissão, igual e participativa dos sujeitos
essa hierarquia se acentuou. Após impostas pelo sistema capitalista na sociedade, desprendidos da
esse advento, o homem passou a onde a desigualdade é legitimada relação imposta pela natureza
ser questionado e através da De- levando-se em consideração as como fator legitimador da desi-
claração Universal dos Direitos relações de gênero. Nesse olhar, gualdade entre os gêneros.
do Homem foi declarado que to- a mulher passa a ser concebida
O olhar histórico de ex-
dos eram iguais perante a lei. de maneira diferenciada e
clusão imposto à mulher é mar-
Então, o capital vai buscar uma inferiorizada.
cado por uma série de
diferenciação para promover a
Uma outra mudança sur- condicionantes que atuam direta-
desigualdade e esta diferença ele
ge com o conceito de gênero que mente e são considerados rele-
vai encontrar na natureza do ho-
ultrapassa a denúncia da opres- vantes onde os espaços, a rela-
mem e da mulher, ou seja, no sexo.
são e a descrição das experiên- ção de poder, as distinções de
Segundo LOU-
cias e vivências femininas, onde raça, classe e, até mesmo, o cor-
RO(1995), os estudos sobre as
os textos acadêmicos começam po da mulher são determinísticos
relações de gênero se fazem
a ensaiar com explicações, a pro- na educação que homens e mu-
muito recentes no meio acadêmi-
mover articulações com lheres recebem, contribuindo nes-
co. Assim, vários grupos de es-
paradigmas ou quadros teóricos se caso para a construção das
tudiosos dispersos nas universi-
clássicos ou emergentes, propon- identidades masculina e feminina
dades e instituições de pesquisa,
do novos paradigmas. Refere-se e, conseqüentemente, o poder.
buscam através de estratégias e
à construção social e histórica dos No olhar de Foucault, não existe
abordagens, legitimar esse cam-
sexos, ou seja, o caráter social sociedade sem relação de poder.
po de estudos e pesquisas quanto
das distinções baseadas no sexo. No entanto, esta pode ser modi-
à questão do gênero. Porém, nos
O conceito tem como alvo os par- ficada através das relações polí-
estudos a respeito das relações
tidários das interpretações biolo- ticas construídas socialmente por
de gênero, o enfoque central é
gistas, ou seja, aqueles que atri- sujeitos diferentes que buscam a
destinado à mulher, visto que na
buem às diferenças biológicas as igualdade impedindo, desse modo,
década de 60 a 70, no Brasil e no
distinções sociais, ou melhor, que a fragmentação social presente
mundo, a presença feminina já era
ancoram na biologia os arranjos em nossos dias.
maciça nos manifestos estudan-
sociais desiguais e hierarquizados
tis, movimentos operários, nas lu-
de homens e mulheres.
tas políticas e sociais, ou seja, as
mulheres passaram a expressar Assim SCOTT Apud
CORPO DE MULHER: INS-
e manifestar em público uma luta LOURO(1995), apresenta as re-
lações de gênero ligadas às rela- TRUMENTO DE CON-
especifica, feminista, que adqui-
ria força e organização a nível ções de poder verificadas no meio TROLE SOCIAL
internacional que lhe garantia a da sociedade, onde as influênci-
continuidade. as incidem na forma de ver e per- Aspecto interessante a
ceber o mundo, pois a visão era ser analisado é o corpo. Este tem
Para a autora, essas mu-
diferenciada a partir do contexto sido estudado por um longo pe-
danças ocorridas a partir dos
histórico, onde as relações eram ríodo na história humana, a partir
movimentos sociais, possibilita-
de dominação e poder. Por outro de uma concepção político-soci-
vam a visualização da mulher
lado, a derrubada da cristalização

4 Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.


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po dócil e relegado a
serviços das normas da
vida cultural e habitua-
do as mesmas. (BOR-
DO,1997:19-37).
Percebe-se que no mun-
do contemporâneo as ideologias
constituídas ao longo da história
permanecem cada vez mais vi-
vas e fortes nas sociedades, vis-
to que os padrões impostos no
mundo capitalista com relação ao
“corpo” têm definido o “padrão
ideal” ao qual a mulher, em espe-
cial, tem que se adequar, sobre-
tudo, se moldar.
O corpo da pós-
modernidade assume a dimensão
de controle social onde o padrão
estético é definido de acordo com
al, e reflete uma relação de desi- para sua inclusão ou exclusão as regras do sistema que, se va-
gualdade, nas diversas socieda- social de acordo com o padrão lendo da presença marcante da
des, especialmente para a mulher. corporal e cultural requerido. mídia, reproduz o ideário desejá-
Neste sentido, BOURDIEU vel de corpo que deve prevale-
Segundo JAGGAR &
Apud BORDO(1997:19) elucida cer na sociedade. Neste contex-
BORDO(1997), o corpo - o que
que: A cultura “se faz corpo”. to apresentado, a ausência de um
comemos, como nos vestimos, os
Assim, ela é colocada “além do discurso político sobre o corpo é
rituais diários através dos quais
alcance da consciência...” sufocada pelo poder ideológico
cuidamos dele - é um agente de
[inatingível] por transforma- que se manifesta, a todo instante,
cultura. Isso quer dizer que o cor-
ção voluntária, deliberada. na vida e no cotidiano das pesso-
po não só funciona como uma
as.
superfície física com seus senti- Muitas vezes o corpo
dos sendo ativados, mas também vem traduzir alguns Assim, as normas que
como um recipiente de todas as posicionamentos que temos bem regem a construção da feminili-
nossas idéias, convicções, ideais diferentes do que se está falan- dade contemporânea são
e realizações no campo social, do. A autora declara que: marcadas pelo mundo da moda e
intelectual, político, moral, ético, Nossos princípios polí- outras dimensões econômicas,
etc. ticos conscientes, nossos psicossociais e históricas, étnicas
engajamentos sociais, e de classe. Contudo, não ape-
É por isso que, na visão
nossos esforços de mu- nas esses condicionamentos que
de Bourdieu, o corpo não assu-
dança podem ser sola- constroem os atributos do corpo
me apenas a relação com a cul-
pados e traídos pela feminino, mas está incluída nes-
tura, mas também de controle vida de nossos corpos - se bojo a educação alimentar e
social e neste contexto observa- não o corpo instintivo e nesse olhar a relação de desigual-
se que a mulher passa a ser vista desejante concebido dade está presente no qual o ho-
na sociedade em função do cor- por Platão, Santo Agos-
mem pode comer de tudo que lhe
po que apresenta, contribuindo tinho e Freud, mas o cor-

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é apresentado, inclusive alimen- belecido desde o século XIX, RODRIGUES Apud


tos com alto potencial calórico, ao quando a mulher passa a expres- SCOTT(1979:125) afirma que no
passo que a mulher é refreado o sar sua feminilidade através da corpo, está simbolicamente im-
desejo de comer, sendo este con- forma saudável. Contudo, no sé- pressa a estrutura social; e a
cebido como algo vergonhoso e culo XX, apesar do cuidado que atividade corporal andar, la-
ilícito. a mulher deve ter em relação ao var, morrer, não faz mais do que
corpo, este não deve ser o fator fazê-la expressa. O ser huma-
A essa dimensão
que legitima sua participação ou no possui uma estrutura bioló-
JAGGAR & BORDO(1997:26)
exclusão da sociedade. gica, a qual lhe permite ver,
afirmam que “os corpos femini-
ouvir, cheirar, sentir e pensar,
nos falam agora dessa necessi-
porém, a cultura fornece o ros-
dade da configuração corpórea
E COMO FICA A MU- to de suas visões, sentimentos
reduzida, enxuta e no uso de rou-
LHER? e pensamentos, criando novos
pa mais próxima da masculina,
cheiros, sons e visões, consti-
em moda atualmente. Nossos Na visão de SCOTT tuindo novos universos e no-
corpos, quando nos arrastamos Apud BRUHNS(1995), para se vos corpos.
todos os dias para a ginástica e compreender o significado dos
resistimos ferozmente às nossas acontecimentos e como a reali- Percebe-se que, até o
fomes e após nossos desejos de dade se modifica, num processo nosso corpo está condicionado a
gratificar e mimar a nós mesmas, dialético de transformação do determinadas ideologias criadas
também estão cada vez habitua- homem, faz-se necessário levan- e inculcadas socialmente, ou seja,
dos com as virtudes “masculinas” tar a discussão em torno da cul- as atividades desenvolvidas por
de controle e autodomínio. tura, através da qual serão acres- nossos corpos através de uma
centadas aos movimentos ou força biológica são moldadas, as
Assim, a fome feminina
manifestações sociais novas idéi- quais, direta ou indiretamente,
deve ser concebida, controlada,
as destinadas à reorientação de determinam de certa forma a in-
como garantia de manutenção no
projetos ou orientação de novos clusão ou exclusão da mulher no
espaço que lhe é concebido na
projetos. meio social.
sociedade e no contexto apresen-
tado em relação ao corpo. Este Em se tratando de cultu- O corpo feminino tem
passa a assumir valores masculi- ra, num sentido mais amplo, sido alvo de constantes explora-
nos assumido, inclusive pela rou- MACEDO Apud ções, das mais variadas formas,
pa por ele modelado, e as noções BRUHNS(1985:35) elucida que: e a diferenciação biológica cau-
de controle e disciplina corporal este consiste (...) num conjun- sada entre os sexos permitiu im-
masculinos passam a ser assumi- to global de modos de fazer, ser, putar à mulher a rotulação mais
dos pela mulher atendendo aos interagir e representar que, frágil produzindo valores inferio-
valores ideológicos que a femini- produzidos socialmente, envol- res que através de diversos pe-
lidade pós-moderna assumiu. vem simbolizações e, por sua ríodos históricos prevaleceu so-
vez, definem o modo pelo qual cialmente até os dias atuais.
Compreende-se que a
representação de participação da a vida social se desenvolve. Em contrapartida,
mulher em função do uso do cor- Esta análise implica tanto o pro- BRUHNS(1995) não vê o corpo
po como instrumento de partici- duto da atividade humana como feminino tão submisso dessa for-
pação e poder na sociedade deve o processo. Portanto, este univer- ma. Assim como manifestações
ser repensado, pois o discurso so é indissociável de qualquer prá- de aceitação são verificadas
político apresentado tem sido tica social, compondo-se em ins- quanto à determinadas normas e
centrado no modelo padrão esta- trumento para sua decifração. valores, manifestações de oposi-

6 Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.


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ção igualmente são verificadas ao seja, visando difundir a fé católi- alguém era recriminada pela
longo da história, em diversos e ca e a instalação de seu aparelho Igreja. Numa escala progressiva
diferentes contextos. burocrático, pois através de me- de bem querer, o amor devia ves-
canismos de controle, como as tir-se com as vestes da bondade
Para BRUHNS(1995),
visitas pastorais e o confessioná- e da caridade e desfazer-se de
as relações de poder são repre-
rio, irradiava-se todo um discur- toda a lascívia. Essas paixões lou-
sentadas na sociedade brasileira
so de normas, afirmação e cas, essa sexualidade não deve-
colocando a mulher na condição
moralização que reforçavam a ria existir no comportamento das
de destaque relativamente inferi-
submissão da mulher e o mulheres do século XVIII, pois o
or, como é o caso de D. Beja -
modelamento de forma marcante amor conjugal seria um fogo ace-
retrato de uma prostituta de
e inquestionável. so pela providência divina para
Araxá, interior mineiro, em que
apagar os incêndios de todo o
seu corpo, beleza e sedução, eram Por esta razão,
amor ilícito e profano. Na visão
caracteres favoráveis à sua ma- D’INCAO (1989:32) afirma que:
da Igreja não era por amor que
nutenção de “destaque social”. As prédicas da Igreja os casais deveriam unir-se, mas
Na visão da autora, até sobre o Amor, desde mui- por simples dever: para pagar o
hoje, o corpo da mulher é conce- to antes, eram ambíguas. débito conjugal, procriar e lutar
bido como submisso a valores A oposição entre o Amor contra as tentações do adultério.
sagrado e o Amor profa-
econômicos. O ponto de partida
no... sempre esteve na É nesse quadro de práticas
da opressão estaria situado na base das discussões sobre amorosas domadas, prescritas
história, com o surgimento da pro- a doutrina cristã do ca- como remédios, racionadas para
priedade privada, das classes so- samento. Não é tanto a não incentivar excessos, que va-
ciais, do Estado. Essa é a posi- natureza destes amores mos ouvir falar da mulher. A ten-
ção de Reed na reprodução da que é teologicamente
tativa de registrar e descrever a
argumentação de Engels, citada questionada, mas sim, o
seu objeto. Todos os va-
multiplicidade de amores, portan-
em FRANCHETTO(1981:23),
lores que deveriam ser to, a taxionomia dos sentimentos
na qual a condição da mulher se-
características do Amor em ordem hierárquica, permitia,
ria determinada não tanto pelo seu
sagrado encontram-se num raciocínio maniqueísta, que
corpo como pelo modo de produ-
nas “paixões loucas dos a norma eclesiástica penalizasse
ção e reprodução.
lascivos. os amores não classificados. Os
mecanismos de controle exerci-
Percebe-se que a Igreja
dos pela Igreja eram muito gran-
ATÉ AMAR É PROIBIDO! considera dois tipos de amor, o
des, favorecendo a permanência
sagrado e o profano, ou seja, tudo
A Igreja também teve ou da mulher na condição de sub-
aquilo que fosse manifestado
tem um papel relevante na exclu- missão, castração e violência
quanto à questão do Eros dentro
são da mulher do controle de seu quanto ao seu direito de pensar e
de uma relação amorosa era por
corpo. D’INCAO(1989), traça agir na sociedade da qual faz par-
ela reprimida, visto que o amor
um perfil da mulher e das influ- te.
era tido como algo sagrado,
ências recebidas pela Igreja so-
inviolável, portanto imposto por Portanto, o amor român-
bre a sorte de seus próprios cor-
condutas comportamentais. tico e a família burguesa, presen-
pos, sexualidade e amor. Segun-
tes entre os séculos XIX e XX,
do D’INCAO(1989), vale lem- Neste caso, a mulher era
são caracterizados pela pressão
brar que no século XVIII, a Igre- impedida de mostrar claramente
e vigilância sobre a mulher, apre-
ja estava se organizando na colô- esse amor, ou seja, a demonstra-
sentando sem sombra de dúvida
nia, como poder institucional, ou ção de afetividade que tivesse por
uma educação tradicional,

Lato & Sensu, Belém, v. 4, n. 1, p. 3-5, out, 2003. 7


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repressora e castradora que co- REFERÊNCIAS BIBLIO-


locava a mulher ou menina sem- GRÁFICAS
pre na condição de inferioridade
dessa sociedade antagônica e GUACIRA, Louro. Gênero,
machista. História, Educação e Realida-
de. v. 20. n. 2. Porto Alegre, v.
CONSIDERAÇÕES FI- 20. n. 2.
NAIS
HEILBORN, Maria Luzia In:
Compreende-se PEDRO, Joana Maria. Mascu-
que a inserção da mulher lino, Feminino, Plural. Santa
na sociedade está funda- Catarina: Mulheres, 1998.
mentalmente arraigada a um pro-
cesso histórico que vem atribuin- JAGGAR, Alison M.; BORDO.
do, desde os primórdios, papéis a Suzan R. O Corpo e a Repro-
serem desempenhados pelas mu- cluíam de qualquer exercício de
dução: Gênero, Corpo e Conhe-
lheres independentemente de cor, função nas câmaras municipais,
cimento. Rio de Janeiro: Rosa dos
raça ou religião. Desse modo, fi- na administração eclesiástica, ou
Tempos, 1997.
xamos nosso olhar sobre essa so- seja, eram proibidas de ocupar
ciedade antagônica que segrega, cargos que lhes garantissem re-
BRUHNS, Heloísa Turini In.
excluí e descrimina de modo ge- conhecimento social.
ROMERO, Helaine.(Org.). Cor-
ral, impondo padrões de compor- Hoje, apesar de todos os po, Mulher e Sociedade: Cor-
tamento onde o sexo feminino é avanços e conquistas da mulher, pos femininos na relação com
colocado em condição inferior ao mesmo com as mudanças ocor- a Cultura. São Paulo: Papirus,
masculino. ridas nos diversos setores da vida 1995.
A influência da mulher em sociedade, na educação, na
está presente desde o início do economia, na política, e outros, D’INCAO, Maria Angela. Amor
processo de colonização, parti- bem como na evolução dos tem- e Família no Brasil. São Paulo:
cipando da luta contra as árduas pos que marcam de maneira sig- Contexto, 1989.
condições de vida entre os sécu- nificativa a atualidade, ainda se
los XVI e XVIII, em diferentes encontram muito arraigados va- TOJAL, Marcyette C. Educação
grupos sociais, raciais e religio- lores, tabus, preconceitos e cos- de Meninas na Escola Normal
sos, mas elas não eram muito vi- tumes dos períodos anteriores, os entre as Décadas de 30 a 60
síveis. Sua quase invisibilidade as quais influenciam fortemente esta no Século XX. 2001. 193 f. TCC
identificava “aos de baixo”, isso nova geração que anseia por li- (Trabalho de Conclusão de Cur-
porque a maioria das mulheres era berdade, democracia, emancipa- so em Pedagogia) -Universidade
analfabeta, subordinada juridica- ção e autonomia objetivando da Amazônia-UNAMA, Belém,
mente aos homens e politicamente construir uma sociedade mais crí- 2001.
inexistente. Sua condição as ex- tica e humanizada.

8 Lato& Sensu, Belém, v.4, n.2, p. 6, out, 2003.

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