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Cultural. SP: Ed. Loyola, 2001. p.53-67 – Parte I – Passagem da modernida à pós-
modernidade na cultura contemporânea Capítulo 3 Pós-Modernismo
Em “A Condição Pós-Moderna”, David Harvey constrói o conceito pós-moderno em
cima da idéia do “desconstrucionismo”. Aqui, tal conceito surge como um poderoso
estímulo para esse modo de pensamento. A partir desta perspectiva, a vida cultural é vista
como uma série de textos em intersecção com outros textos, produzindo mais textos,
englobando aí todas as experiências cognitivas, ou como explica o autor, ”artefatos
culturais”.
Tendo como pano de fundo esse panorama, o autor perde o poder sobre a obra, abrindo
espaço para o público interagir, dando sentido aos textos ou imagens entretecidos, uma
vez que a idéia de produção se esvai no pós-modernismo, dando lugar à reprodução. O
efeito disso é o questionamento de todas as ilusões de sistemas fixos de representação
(FOSTER apud HARVEY, 1983, p.142). A performance e o happening então, seriam a
expressão máxima desse processo, tendo em vista a preocupação com o significante, e
não com o significado, contrapondo-se ao modernismo, que trabalha com os conceitos e
aspectos de produção e aura, pois para os modernistas a obra não era algo comercializável,
mas sim para culto.
Como características de suas obras, o pós-modernismo tem uma energia alucinatória e
rompe a ordem temporal.
Essa ruptura da ordem temporal de coisas também origina um peculiar tratamento do
passado. Rejeitando a idéia de progresso, o pós-modernista abandona todo sentido de
continuidade de memória histórica, enquanto desenvolve uma incrível capacidade de
pilhar a história e absorver tudo o que nela classifica como aspecto do presente
(HARVEY, 2001, p.58).
Um aspecto que corrobora o discurso acima é a questão das colagens/montagens presentes
na arquitetura, artes plásticas e literatura da cultura pós-moderna. A obra pós-moderna
pioneira de Rauschenberg demonstra isso de forma clara, pois utiliza-se de recortes de
outras obras quebrando a barreira da aura cita o autor a ficção do sujeito criador cede
lugar ao franco confisco, citação, retirada, acumulação e repetição de imagens já
existentes. (HARVEY, 2001, p. 58).
Essa teia de influências se deu com a crise do capitalismo, que tem como sua expressão
máxima a pop art, a partir da qual se verifica uma perda de profundidade no sentido da
fixação nas aparências, nas superfícies e nos impactos imediatos. Aqui, o hedonismo é
visto como parte integrante no processo. Outra contribuição parte dos grandes interesses
corporativos que se tornaram os principais financiadores da arte, concedendo fundos,
empréstimos e dando um valor completamente novo e comercial para a produção artística.
Percebemos então, que o pós-modernismo transformou as relações de produção e
consumo das artes, revelando de forma crua as regras do mundo capitalista em que
vivemos. Embora tenha aproximado a “alta cultura” da popular, esse intercâmbio ainda é
realizado de forma fragmentada e superficial, oferecendo às massas cultura reproduzida
em escala industrial. As novas regras de produção-reprodução tiram qualquer caráter
aurático dessas obras, revelando a fragilidade do produtor frente aos grandes interesses
corporativos. Ao mesmo passo, artistas e movimentos de vanguarda tentam se contrapor
a essas novas regras de comercialização em massa, questionando os conceitos de aura e
“alta cultura”, como os dadaístas, mas não corroborando o comercial como algo
preponderante no processo de criação.
Esse pensamento encontra eco em alguns outros pensadores que discutem e trabalham em
suas teses essa fragmentação e reprodução pós-moderna. Podemos citar o ensaio A obra
de arte na era da sua reprodutibilidade técnica de Walter Benjamim, onde o jogo das
relações da nova produção-reprodução é tão bem exposto, e Após o fim da arte: A arte
contemporânea e os limites da história de Arthur C. Danto, que traz a Pop Art como
um marco relevante e de primordial importância para essa nova condição. Perspectivas,
que reforçam e esclarecem as contradições dessa mudança cultural.
Acreditamos que estar a par das questões que nos envolvem dentro da contemporaneidade
e de essencial importância para uma visão esclarecida. Compreender as engrenagens das
corporações e instituições que nos rodeiam nos torna seres mais críticos e capazes de
operar mudanças concretas. Portanto, indicamos essa obra, não só aos estudantes e
interessados nas ciências sociais, mas à todos que buscam uma visão crítica da sociedade
em que estamos inseridos.
Sobre o Autor:
David Harvey é Britânico, formado na Universidade de Cambridge. Professor da City
University of New York. Seu primeiro livro, Explanation in Geography, publicado em
1969, versa sobre a epistemologia da geografia, ainda no paradigma da chamada
geografia quantitativa. Posteriormente, Harvey muda o foco de sua atenção para a
problemática urbana, a partir de uma perspectiva materialista-dialética. Publica
então Social Justice and the City no início da década de 1970, onde confronta o
paradigma liberal e o paradigma marxista na análise dos problemas urbanos.
Obras:
Explanation in Geography. London: Edward Arnold, 1969.
A Justiça Social e a Cidade. Tradução: Armando Corrêa da Silva, São Paulo: Hucitec,
1980.
Condição Pós-moderna. Tradução: Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves, São
Paulo: edições Loyola, 1993.
“Espaços de Esperança”. Tradução: Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves, São
Paulo: edições Loyola, 2004.
“O Novo Imperialismo”. Tradução: Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves, São
Paulo: edições Loyola, 2004.
“A produção capitalista do espaço” (Titulo original:Spaces of capital: Towards a critical
geography). Tradução: Carlos Szlak, São Paulo: Annablume, 2005
Acadêmicos do curso de Comunicação Social – Jornalismo da UFRN: Amanda Pessoa
de Melo, Ana Paula de Lima Dantas, Juliana Verônica Corbari, Maria Gersomara de
Carvalho Sousa, Luiz Marinho Junior, Salésia Danielly de Araújo Silva, Kolberg Luna
Freire Lima.