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ESQUETE

EU E MINHAS CABEÇAS AVESSAS


Dramaturgia autoral de Penha Ribeiro

(Música inicial para movimentação das cabeças – As cenas se passam dentro


do quarto em uma cadeira “na cabeça de Renato”)

Mercúrio: Não sou eu!


Todos juntos: Nem eu!
Renato: Eu não faria isso a ninguém, mas ...
Charlie: Pela minha carreira, por amor a mim, e aos meus sonhos sou capaz de
tudo até de.
Palhaço: Quanta vaidade boneca, está se afogando nela.
Charlie: Estou muito entediada, dentro dessa caixa. Preciso...
Todos juntos: Pow, Pow, Pow, por que fez aquilo?
Renato: O dono da padaria, quis me roubar um beijo. Estou assustado. (Repete
várias vezes baixinho)
Mercúrio: Fique calmo, eu. (Estado de tranquilidade)
Todos juntos: Trepei em um beco escuro com um desconhecido e gostei.
(Todos em fila lateral)
Renato: Eu nunca fiz isso (fala de forma bastante assustado)
Mercúrio: Você não fez, eles fizeram. (Falar de forma agressiva)
Todos Juntos: Trepou, Trepou, Trepou!
Charlie: Eu pensava que estava te fazendo feliz, quer ouvir uma canção?
(Canta)
Mais um cigarro
Mais uma bebida
Para esquecer dessa vida
Me sinto tão presa
Nessa caixa preta
Vivendo uma cena de teatro

Me olho no espelho
Não é meu cabelo
Estou vestida de Palhaço

A culpa é sua Renato


A culpa é sua
Sou um boneco remendado

Queimando as flores
Exalo as minhas dores
Estou mofando nos bastidores

A culpa é sua Renato


A culpa é sua
Sou um boneco remendado
Mercúrio: Foda-se a sua canção de merda. Vocês são egoístas, egoístas,
egoístas! (Falar de forma alterada)
Palhaço: Carne nova vendendo, carne costurada vivendo. (Partitura do
bumbum)
Todas juntas: Rasgo-me fácil e não sei me costurar. Precisava de uma razão.
Uma fuga! Tudo é vaidade. Mera vaidade humana.
Renato: Ele me beijou, a minha boca estava pintada de vermelho... eu não sei,
por que não consigo lembrar?
Palhaço: Hummmm... um buraco entupido pelo um rolo de carne grosso duro.
Um buraco pulsa, pulsa, pulsa. Um buraco se contrai expele um rolo de massa
grossa. Numa cama barulhenta de quatro, uma carne esticada treme. Um
buraquinho sugado por lábios muito molhados geme.
Palhaço + Renato: Caídas... Ah água doce da lona do circo para desengasgar
pão duro para molhar a carne doída, esticada, comida, babada, mastigada de
todo jeito. É o preço, padeço. Nas ruas, nos prédios, nos lugares nenhum, Eles...
Todos: Os cus vão comendo e as bocas cagando suas vãs filosofias, do berço
a cova, a existência não treme é morna. Ah, doce penar de apenas ser a gente
chorando na coxia a desafinada melodia, desencantada com a vida. Estrelas
caídas.
Todas juntas: Eu quero ficar sozinho, despareçam! Estão falando comigo? Eles
estão tristes.
Mercúrio: Por que tudo parece de plástico? Os homens e mulheres, o gosto da
pele de isopor, minha empresa faliu. Ah maldito coração partido que não dura
um segundo. Tudo está caindo.
Charlie: Sou um macaquinho de terno tocando flauta para leões famintos. No
palco me sinto como um filhote de ovelha que será sacrificado e mesmo que eu
grite de dor, a plateia apenas assiste serena, a violência. O frio da minha barriga
me rasga como uma faca. Não consigo falar e você, Renato sempre me leva
para esse lugar como alguém que abusa uma menininha e diz que é brincadeira.
Não vou atuar. Assassino! Por que você atirou nele?
Palhaço + Renato: (imitando Charlie) Por que você atirou nele?
(Partitura do choro infantil)
Todos: Por que estão olhando pra gente? Eles estão olhando pra gente! Pare
de olhar pra gente! Eu não quero que você olhe pra gente!
Mercúrio: Estão aqui para assistir um show de horror, um espetáculo de um
estranho humano. Sedentos de atenção, almas que buscam um sentido, uma
revelação, uma salvação.
Charlie: Eles que estão a olhar para nós, são vazios, seus rabos talvez não
estejam confortáveis nessa acomodação da rotina, ignorantes geradores da
crueldade covarde e silenciosa.
Palhaço: Ah nenhum de nós é Jesus ele era feito de amor e luz, mas ele também
tinha cu, quem não tem cu? Todo mundo tem um buraco!
(Partitura do riso e correr)
Charlie: Renato, você é um artista fodido...
Palhaço: Não, não, não, você é um artista fodido, procurando se salvar de...
Charlie: Procurando se salvar de quem escolheu ser!
Renato: Quem é você? O que quer? O que você faz tem sentido, pra quê?
Palhaço: Somos uma ficção?
Mercúrio: Quando não estamos juntos, sei que são certamente minha criação.
Charlie: Isso é um sonho?
Todos: Somos uma aberração, um desastre vivo, uma bagunça dançante.
Acordarei amanhã?
Todos: Vão a merda, estou apenas confusa. Fora de controle, uma foda é como
comer e cagar. Não nego a natureza que tenho. Amo-me, amo-me muito, você
que se perdeu. Não amou nada e nada te amou.
(Apaga as luzes)
PROPOSTA DE ENCENAÇÃO

Apresentação
A encenação é construída a partir de dois referenciais, quais sejam,
a pesquisa do universo literário e as múltiplas consciências autorais presentes
nas obras de Fernando Pessoa (1888-1935) e a investigação referente a uma
condição psicológica complexa, intitulada Transtorno Dissociativo de Identidade
(anteriormente conhecida como distúrbio de personalidade múltipla ou transtorno
de múltiplas personalidades). A esquete apresenta a(s) história(s) de
personalidades completamente diferentes que coabitam um mesmo ser, gerando
um conflito de incompreensões existenciais e uma turbulência de percepções,
emoções, sentimentos, memórias, ações e senso de identidade. No trânsito
dessas comutações, existe um sujeito comum, vivendo sob as normas pré-
estabelecidas da sociedade, mas, interna e externamente, completamente
afetado e deslocado por sua falta de conexão. Uma teia de tensões e diferentes
e estados que friccionam e questionam condições tênues da existência humana.

Objetivo

 Propor para ao público questões sobre o transtorno dissociativo de


identidade, de forma representativa com base em uma dramaturgia
ficcional e artística.

Justificativa

Eu e minhas cabeças avessas é uma esquete que tem como mote


propulsor de criação o poema Não sei quantas almas tenho, do poeta Fernando
Pessoa, que instigou problematizações e material referencial na lida da criação
artística. A partir da pesquisa literária e biográfica de Pessoa, descobrimos que
alguns psiquiatras/pesquisadores apontam que, possivelmente, ele era
acometido com o Transtorno Dissociativo de Múltiplas Personalidades (termo
utilizado na época), compondo seus heterônimos completamente divergentes.
No artigo, Fernando Pessoa e o Distúrbio de Personalidades Múltiplas, publicado
na revista digital Intersemiose no ano de 2012, a Professora e Doutora da
Universidade Federal de Pernambuco Ermelinda Maria Araújo Ferreira destaca
que o próprio Pessoa realizou leituras na área, buscando entender a dissociação
de personalidade que sofria. Ainda de acordo com ela, sua vida transcorrida em
fins do século XIX e início do século XX nos revela a ideia do “homem-camaleão”,
imaginado por Woody Allen, como símbolo dos conflitos identitários do sujeito
pós-moderno no mundo pós-colonial e globalizado do final do século XX.
Os elementos fundamentais para o processo foram: O transtorno
dissociativo de múltiplas personalidades e o poema Não sei quantas almas
tenho, proporcionando a potência da criação de uma dramaturgia textual autoral
escrito pela Artista/Professora/Pesquisadora Penha Ribeiro – estudante do curso
de Licenciatura em Teatro na Universidade Regional do Cariri/URCA – no
primeiro período do ano de 2017 como finalização da disciplina intitulada
Processo de Encenação II, ofertada pela instituição. As concepções das cenas
foram elaboradas também baseadas em releituras de cenas do filme Figth Clube
(Clube da luta), dirigido por David Fincher no ano de 1999, que apresenta o
transtorno dissociativo de múltiplas personalidades, retratando um sujeito
irresoluto pela sua existência monótona na sociedade moderna, que após noites
de insônia lida com o caos e a presença de um novo amigo completamente
avesso a sua personalidade. Em termos da dramaturgia autoral concebida, a
organização da narratividade relata que a personagem Renato é um artista que
vive um grande dilema de sua existência: a ilusão e a realidade que o
acompanha, indaga se sua existência é real; Os outros são ilusões, personagens
ou criações? Renato assiste a sua própria vida, em um corpo que não lhe
pertence, pois há outros Eus que o habitam. Os “avessas” são as outras
personalidades de Renato. Sarcasmos, diversão e crueldade, são características
ímpares de cada um. Suas inquietações sobre a realidade que Renato é
obrigado a viver revelam uma reflexão crua e sem escrúpulos sobre a
existência/comportamento humano. A peça é provocadora, não há pudores, pois
revela a condição de um artista fracassado, incompreendido, abandonado pela
sociedade por sua doença mental. A maldade humana é ressaltada
principalmente pela dramaturgia com humor bastante irônico. As palavras ditas
pelos “Avessas” são pontiagudas e soam lúdicas num tom quase infantil.
Acreditamos que há necessidade desses atravessamentos com os
nossos Eus, na busca de uma autorreflexão filosófica sobre como se dá nossa
existência, as nossas hipocrisias e nossos momentos de questionarmos sobre
nós mesmo e a tragédia do outro. O Teatro é fundamental para falarmos sobre
nós e também sobre os outros, de maneira artística, critica, e ao mesmo tempo
reflexiva. O caráter das cenas escancara as obscuridades e desejos reprimidos
daquele sujeito que é constantemente julgado pelas extensões de si mesmo. Em
seu texto Por um teatro que coloque o mal em cena, publicado pela a revista Cult
na plataforma digital em 15 de maio de 2017, o dramaturgo/escritor/diretor teatral
Alexandre Dal Farra, salienta que precisamos “(...) tocar em pontos obscuros,
invisíveis. Mas isso sempre tem que acontecer, antes de tudo, em mim mesmo
– em nós mesmos”.

Gênero: Tragicomédia

FICHA TÉCNICA
Integrantes Nome Funções
artístico
1 Cícera da Penha Pippa Ribeiro Diretora/Autora/Atriz/Figurinista
Mendes Ribeiro
2 José Helionio Soares Helionio Ator
Calou Filho
3 Paulo Andrezio Sousa Paulo Ator/Produtor
e Silva Andrezio
4 Thiago Silva Gomes Thiago Gomes Sonoplasta/Iluminador

CONTATO DE PRODUÇÃO

Produtor responsável: Paulo Andrezio Sousa e Silva


CPF: 066.367.773-46 RG: 2002005234678
Telefones de contato: (88) 9 9916-8045
E-mail: pauloandrezio@hotmail.com
ILUMINAÇÃO

IMAGENS

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