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Gestão econômica de sistemas de produção de


bovinos leiteiros

Chapter · January 2009

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1 author:

André Soares de Oliveira


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
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Gestão econômica de sistemas de produção de bovinos leiteiros1

André Soares de Oliveira2, Dalton Henrique Pereira2


1
Palestra apresentada no I Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. Escrito em 18-09-2009
2
Zootecnista, D.Sc., Professor do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais/ UFMT, Campus Sinop.
andresoli@ufmt.br.

Sustentabilidade pode ser entendida como a capacidade de sobrevivência no longo


prazo. Sob este prisma, o papel da gestão econômica consiste em auxiliar a organização na
busca e manutenção de índices de rentabilidade atrativos o suficiente para manter o negócio
no longo prazo.
Dentre as ferramentas gerenciais, a avaliação econômica se notabiliza por permitir
dentre outros: conhecer com detalhes e utilizar de maneira racional os fatores de produção
(terra, trabalho e capital); identificar pontos de estrangulamento e concentrar esforços
gerenciais e tecnológicos para contorná-los e atingir objetivos de maximização de lucros;
escolher sistemas e técnicas de produção mais apropriados à realidade local; identificar e
quantificar indicadores referência de modo a auxiliar no diagnóstico e tomada de decisão;
auxiliar no planejamento da atividade com foco no lucro; e estabelecer critérios de
acompanhamento de mercado.
Destarte, propõem-se com este trabalho abordar aspectos da gestão econômica de
sistemas de produção de leite, o qual está divido em quatro sessões: conceitos e classificação
de sistemas de produção de leite; principais conceitos e interpretações aplicados à avaliação
econômica; proposta de análise dos principais indicadores zootécnicos e financeiros que
afetam a rentabilidade em sistemas de produção de bovinos leiteiros; e aplicações da análise
de pontos de referência (benchmarking) na gestão de sistemas de produção de bovinos
leiteiros.

1/
OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
1. Conceito e classificação de sistemas de produção de bovinos leiteiros

Sistema de produção de leite pode ser definido como um conjunto de decisões ou


normas técnicas aplicados ao uso dos fatores produtivos, trabalho, terra e capital, para
obtenção de determinados produtos lácteos e animal (Madalena, 1993). Neste sentido, fatores
sócio-econômicos, políticos, infra-estrutura física, disponibilidade de serviços e fatores
geográficos e ecológicos são importantes na sua definição. A complexidade da produção de
leite é ilustrada na Figura 1.

Figura 1 – Complexidade da produção de leite


Fonte: Faria (2000)

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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
Diversos critérios de classificação dos sistemas de produção de leite podem ser
adotados, cuja escolha depende dos objetivos propostos (Gomes, 2000). Os mais utilizados
são os relacionados com a composição genética do rebanho, ao manejo da alimentação
volumosa ou com a intensificação da produção.
a) Grupo genético predominante do rebanho
. sistema que adota predominantemente gado zebu (abaixo de 1/2 europeu:zebu)
. sistema que adota predominantemente gado mestiço (entre 1/2 a 7/8 europeu:zebu)
. sistema que adota predominantemente gado europeu (superior a 7/8 europeu:zebu)

b) Manejo da alimentação volumosa


. sistema confinado: os animais recebem forragens exclusivamente no cocho ao longo do
ano.
. sistema semi-confinado: os animais recebem forragens no cocho ao longo do ano, mas com
acesso à pastagem em algum momento do dia.
. sistema em pastagem: os animais utilizam pastos como fonte exclusiva de forragem durante
estação de maior crescimento forrageiro.

c) Intensificação da produção
Neste critério, os sistemas são classificados de maneira subjetiva em intensivos, semi-
intensivos e extensivos. A intensificação pode ser avaliada pela produtividade do fator de
produção mais limitante (terra). Neste aspecto, como a produção de leite por unidade de área
representa o produto da produção por vaca e o número de vaca por unidade de superfície, a
mesma relaciona-se com adoções de insumos e tecnologias que poupam o fator terra,
mediante aumento da produção por vaca e/ou do número de vaca/área.

2 – Indicadores básicos adotados em avaliações econômicas

A seguir estão apresentados os conceitos e interpretações dos principais indicadores de


eficiência econômica.

2.1 Renda bruta


Representa o valor de todos os produtos obtidos pelo processo de produção durante o
ciclo de produtivo (Hoffmann et al., 1987). Na pecuária de leite recomendam-se avaliar o
ciclo produtivo durante 12 meses, de maneira a contemplar as oscilações sazonais nos
sistemas de alimentação e manejo, característicos dos sistemas de produção animal. Os
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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
componentes da renda bruta da atividade leiteira são venda de leite, venda de animais, venda
de esterco e outros produtos, e variação de inventário animal. Chama-se a atenção para o fato
que a variação de inventário animal se relaciona com riqueza e não com renda. Entretanto,
poderá ser considerada componente da renda bruta da atividade leiteira caso a composição da
mesma estiver distorcida. Maiores detalhes sobre análise e correções de distorções na
composição da renda bruta foram abordados por Gomes (1999).

2.2 Custos de produção


Custo de produção é definido como a compensação que os donos dos fatores de
produção devem receber para que os mesmos continuem fornecendo esses fatores (Hoffman
et al., 1987). Os fatores envolvidos no processo de produção de leite podem ser classificados
como terra, capital (estável e circulante) e trabalho, e sua composição pode afetar o
desempenho econômico da empresa.
A determinação dos custos de produção de leite apresenta diversas dificuldades. Além
das limitações comuns a qualquer atividade econômica (arbitrariedade no cálculo da
depreciação e no custo de oportunidade, atualização de valores, deficiência de registros
financeiros) a atividade leiteira é de produção conjunta (venda de leite e animais). Esta
característica impõe dificuldades ao cálculo, que negligenciadas, podem levar a conclusões
equivocadas. Para maiores detalhes sobre identificação e correções de distorções nos cálculos
do custo de produção de leite recomenda-se a leitura do texto de Gomes (1999).
Existem pelo menos dois critérios de classificação de custos que podem ser utilizados
na pecuária de leite. O critério clássico separa os custos em variáveis (que variam com a
produção) e fixos (não variam com a produção). Apesar da grande adoção, este critério
apresenta dificuldades, pois determinado fator pode ser considerado fixo ou variável
dependendo da situação e da unidade de tempo (Hoffmann et al., 1987; Gomes, 1999).
Outro critério utiliza o conceito de custo operacional desenvolvido pelo Instituto de
Economia Aplicada (IEA) da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Os custos
podem ser segmentados de três formas: custo operacional efetivo, custo operacional total e
custo total.
O custo operacional efetivo (COE) refere-se aos custos que implicam em desembolso
do produtor para a manutenção do sistema, tais como: mão-de-obra contratada; alimentação
concentrada; leite para bezerros(as) em sistemas de aleitamento artificial; minerais;
manutenção de forrageiras não-anuais (pastagens, canavial, capineira, campo de produção de
feno, etc..), forrageiras anuais (milho e sorgo p/ silagem, outras); sanidade; inseminação
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Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
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artificial; material de ordenha; energia elétrica e combustível; impostos e taxas; reparos de
benfeitorias e máquinas; e outros gastos desta natureza.
O custo operacional total (COT) inclui além do COE, a depreciação de benfeitorias,
máquinas, forrageiras não-anuais, reprodutores e animais de serviços, e a mão-de-obra
familiar.
Depreciação é o custo necessário para substituir os bens de capitais quando tornados
inúteis seja pelo desgaste físico ou econômico. Representa a reserva em dinheiro que a
empresa faz durante o período de vida útil provável do bem para sua posterior substituição.
Existem diversos métodos para calcular depreciação (linear ou de cotas fixas; aplicação
financeira de cotas, método da percentagem anual constante, método dos números naturais).
Maiores detalhes foram relatados por Hoffmann et al. (1987).
Quando se analisa rebanhos completos (vacas, bezerras e novilhas de reposição) não é
necessário depreciar as vacas, pois enquanto as mesmas sofrem depreciação, as fêmeas de
reposição apreciam, tendendo a anular a depreciação do rebanho. A depreciação de vacas é
necessária somente em rebanhos que não produzem as fêmeas de reposição.
O custo total (CT) inclui o COT mais o custo de oportunidade. Custo de oportunidade
representa a compensação pelo uso dos fatores produtivos (terra, benfeitorias, máquinas e
animais). Pode ser calculado pelo produto entre o capital médio investido na atividade (terra
nua, máquinas, benfeitorias, animais e formação de forrageiras não anuais) e a taxa de juros
real de oportunidade (taxa nominal descontado da inflação). A definição da taxa de juros real
de oportunidade representa evento de elevada arbitrariedade no cálculo do custo de produção.
Na produção agropecuária, normalmente utiliza-se a taxa de juros real da caderneta de
poupança (em média 6% ao ano) como referência. Todavia, a definição é local dependente.
O conhecimento das implicações do COE, no curto prazo; do COT, no médio prazo; e
do CT, no longo prazo, é fundamental na gestão do negócio. A associação temporal do COE
indica a viabilidade financeira no curto prazo, enquanto COT e CT a sustentabilidade do
negócio no médio e longo prazo. Médio prazo pode ser entendido como o tempo médio de
vida útil dos bens que depreciam.

2.3 Medidas de resultado econômico

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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
A partir da análise de renda bruta e dos custos descritos anteriormente, pode-se
resumidamente, obter os seguintes indicadores:

Margem bruta (MB) = RB – COE (1)

Margem líquida (ML) = RB – COT (2)

Lucro = RB – CT (3)

Rentabilidade (% ao ano) = [ML anual (R$/ano) ÷ capital investido (R$)] x 100 (4)

A rentabilidade (ou taxa de retorno sobre o capital investido) representa o principal


indicador de eficiência econômica em qualquer organização, pois possibilita comparações
com diversas alternativas de investimentos. Tem o mesmo significado da análise de lucro. A
diferença é que neste caso determina-se exatamente a taxa de juros que o capital investido na
atividade remunera (rentabilidade), enquanto que no cálculo de custo de oportunidade
necessário para determinar o lucro, a taxa de juros é arbitrada anteriormente. Assim, pode-se
assumir a rentabilidade como principal indicador de sustentabilidade econômica.
A interpretação clássica destas medidas está apresentada na Tabela 1, enquanto que na
Tabela 2 consta dados hipotéticos de empresas contemplando todas as situações descritas na
Tabela 1. Verifica-se que apenas com a obtenção de rentabilidades iguais ou superiores à taxa
de juros de oportunidade que os sistemas de produção podem ser considerados sustentáveis
economicamente.

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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
Tabela 1 – Interpretação dos resultados de renda bruta (RB), margem bruta (MB), margem
líquida (ML), lucro (L) e rentabilidade (R, % ao ano)

Situação MB ML L R Tendência
Colapso e paralisação
RB < COE <0 <0 <0 <0
da produção
Sucatear bens.
COE < RB < COT >0 <0 <0 <0 Sustentabilidade
apenas no curto prazo
Sustentabilidade
COT = RB >0 =0 <0 =0
apenas no médio prazo
Sustentabilidade no
COT < RB < CT >0 > 0 < Cop <0 > 0 < TJOp longo prazo
comprometida
Equilíbrio e
RB = CT >0 = Cop =0 = TJOp sustentabilidade no
longo prazo
Crescimento e
RB > CT >0 > Cop >0 > TJOp sustentabilidade no
longo prazo
Cop = custo de oportunidade
TJop = taxa de juros real de oportunidade (% ao ano)

Tabela 2 – Dados hipotéticos de empresas com diferentes desempenhos econômicos

Empresa
Item1
A B C D E F
RB, R$/ano 100.000 100.000 100.000 110.000 160.000 180.000
COE, R$/ano 110.000 90.000 80.000 70.000 80.000 85.000
COT, R$/ano 130.000 110.000 100.000 90.000 100.000 105.000
Cop, R$/ano 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000 60.000
CT, R$/ano 190.000 170.000 160.000 150.000 160.000 165.000
Capital investido, R$ 1.000.000 1.000.000 1.000.000 1.000.000 1.000.000 1.000.000
MB, R$/ano -10.000 10.000 20.000 40.000 80.000 95.000
ML, R$/ano -30.000 -10.000 0 20.000 60.000 75.000
Lucro, R$/ano -90.000 -70.000 -60.000 -40.000 0 15.000
Rentabilidade, % ao ano -3,0 -1,0 0,0 2,0 6,0 7,5
1
RB = renda bruta; COE= custo operacional efetivo; COT = custo operacional total; CT = custo total; Cop =
custo de oportunidade (capital investido x 6% ao ano); MB = margem bruta; ML = margem líquida.

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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
2.4 Ponto de nivelamento

O ponto de nivelamento (PN) representa o nível de produção que permite obter renda
bruta igual ao custo total, ou seja, lucro zero (Figura 2). Constitui-se em importante
ferramenta de auxílio no diagnóstico e planejamento da atividade. Pode ser calculado
conforme equação descrita abaixo:

Ponto de nivelamento (litros de leite/ano) = (CT – COE) ÷ (Preço do leite – COEMe) (5)

Em que:
CT = custo total do leite (R$/ano);
COE = Custo operacional efetivo do leite (R$/ano);
Preço do leite (R$/litro);
COEMe = Custo operacional efetivo médio do leite (R$/litro).

R$ Renda bruta (RB)

Custo total (CT)

Custo operacional efetivo (COE)

Custo fixo (CT – COE)

PN Produção

Figura 2 – Ilustração do ponto de nivelamento (PN).

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Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
3 – Análises dos fatores que afetam a rentabilidade em sistemas de produção de bovinos
leiteiros

O entendimento integrado dos fatores biológicos, zootécnicos e financeiros que afetam


a rentabilidade constitui um elemento chave na gestão econômica. A partir desta avaliação é
possível, dentre outros, identificar pontos de estrangulamento, escolher sistemas e técnicas de
produção mais apropriados à realidade local, identificar e quantificar indicadores referência,
os quais auxiliam no diagnóstico e tomada de decisão, racionalizar o uso dos fatores de
produção (terra, trabalho e capital) e dos insumos e, realizar planejamento da atividade com
foco no lucro.
Todavia, em razão da elevada complexidade dos sistemas de produção de leite, o seu
entendimento integrado constitui desafio para técnicos, empresários e pesquisadores. Com
objetivo de auxiliar neste entendimento, está ilustrada na Figura 3 uma proposta inicial de
organograma que permite analisar de forma integrada os principais fatores zootécnicos e
financeiros que afetam a rentabilidade em sistemas de produção de bovinos de leite.
Evidentemente, não se pretende com esta abordagem esgotar a análise, pois o sistema de
produção é afetado por múltiplos fatores biológicos, sociais, econômicos e mercadológicos.

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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
Rendimento forrageiro (massa de MS
UA médio do potencialmente digestível)
RB / capital em rebanho (UA/cab)
animais Consumo médio de MS potencialmente
digestível de forragem por UA

RB / capital em Eficiência de utilização da MS


máquinas potencialmente digestível produzida
Taxa de giro do Vacas em Taxa de lotação
capital investido lactação /área (UA/área) (MSPd ingerida/ MSPd produzida)
(% aa) RB / capital em
benfeitorias Idade ao 1o
parto
Vacas em (meses)
RB / capital em
Produção de lactação / total de Período de
terra nua +
leite / área animais do lactação
forrageiras não-
rebanho
anuais Vacas em
lactação / total
Rentabilidade Produção de leite /vaca de vacas
(% aa) em lactação Intervalo
de partos

Gasto MDO Depreciação das forrageiras não anuais / RB


familiar / RB
Depreciação dos animais de serviço e reprodutores / RB
Valor de
depreciação / RB
Depreciação de máquinas e benfeitorias / RB

Lucratividade COT/RB
(%) (%) Gasto com alimento concentrado / RB

Gasto com mão-de-obra / RB

Gasto com alimentação volumosa / RB


COE / RB
Gasto com sanidade / RB

Gasto com manutenção de máquinas e benfeitorias / RB

Demais gastos operacionais / RB

Figura 3 – Fatores que afetam a rentabilidade em sistemas de produção de bovinos leiteiros

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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara
Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
O primeiro passo da análise consiste em fracionar a rentabilidade em dois
componentes: taxa de giro do capital investido (TGC) (equação 6) e lucratividade (equação
7).

TGC (% ao ano) = [RBAL (R$/ano) ÷ CTIAL (R$)] x 100 (6)

Lucratividade (%) = [MLAL (R$/ano) ÷ RBAL] x 100 (7)

em que: RBAL = renda bruta da atividade leiteira, CTIAL = capital total investido na atividade
leiteira, MLAL = margem líquida da atividade leiteira.

Este fracionamento é possível, pois a rentabilidade também pode ser calculada pelo
produto da TGC e lucratividade.

Rentabilidade (% ao ano) = TGC (% ao ano) x lucratividade (%) ÷ 100 (8)

Substituindo (6) e (7) em (8), tem-se:

Rentabilidade (% ao ano) = {[RBAL (R$/ano) ÷ CTIAL (R$)] x 100 x [MLAL (R$/ano) ÷ RBAL] x
100} / 100 (9)

Rentabilidade (% ao ano) = [MLAL (R$/ano) ÷ CTIAL (R$)] x 100 idem (4)

A TGC está associada principalmente com eficiência de utilização dos fatores


produtivos que compõem o capital investido (terra, animal, benfeitorias e máquinas). Taxa de
30% ao ano indica que a renda bruta anual equivale a 30% do capital investido, ou seja, são
necessários 3,33 anos para acumular renda bruta equivalente ao capital investido. Neste
sentido, quanto maior a produtividade dos fatores produtivos (terra, animal, benfeitorias e
máquinas), maior será a TGC.
A lucratividade, por sua vez, é afetada primariamente pela eficiência de uso dos
insumos (nutrientes, medicamentos, defensivos, energia, etc.) e trabalho (produção de leite
por homem) e pela relação de troca entre o preço do produto (leite, por exemplo) e os insumos
ou trabalho. Além disso, apresenta-se como indicador de risco de mercado. Lucratividade de
20% indica que a empresa consegue manter sua margem líquida positiva com redução de até
20% no preço do produto (renda bruta). Assim, quanto maior a eficiência na utilização dos
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Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
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insumos e/ou do trabalho (produção de leite por unidade de insumo e/ou trabalho utilizado),
maior será a lucratividade e menor o risco de mercado.
O comportamento teórico destas duas variáveis à intensificação da produção é
curvilíneo e inverso, o que justifica o fracionamento da rentabilidade. Verifica-se por meio da
Figura 4, que a intensificação da produção (medida pela produção de leite por unidade de
superfície) amplia a TGC, evidentemente devido ao aumento da produtividade do fator terra.
Por outro lado, a lucratividade reduz com a intensificação, em razão da redução na eficiência
dos insumos (produção de leite/unidade de insumo utilizado) com a ampliação do uso dos
mesmos, necessária para intensificar a produção. A redução na eficiência na utilização dos
insumos segue a “lei dos retornos decrescentes”, o qual constitui em característica intrínseca
dos sistemas microbiológicos e macrobiológicos (Lana et al., 2007; Oliveira et al, 2009). O
nível ótimo de intensificação (máxima rentabilidade) é obtido no ponto de encontro das
curvas de TGC com a de lucratividade. Abaixo deste ponto, a rentabilidade é limitada pela
TGC, enquanto que acima do mesmo a limitação é devido à lucratividade. Assim, para a
sustentabilidade econômica no longo prazo do negócio, deve-se buscar a intensificação da
produção equilibrando-se a TGC com a lucratividade.

máxima
TGC e lucrativide ade
e

Lucratividade
Rentabilidade

TGC

ótimo

_ Intensificação da produção de leite (litros/ha)


+
Figura 4 – Ilustração do comportamento teórico relativo da taxa de giro do capital investido
(TGC), lucratividade e rentabilidade com a intensificação da produção de leite.
Em termos práticos, o desdobramento da rentabilidade em TGC e lucratividade
(equação 8) demonstra que para sistemas de produção com menor lucratividade natural (em
razão da maior uso de insumos) exige-se maior TGC (maior eficiência de uso dos recursos
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terra, animal, benfeitorias e máquinas) para obter a mesma rentabilidade de sistemas com
maior lucratividade (menor uso de insumos). Para ilustrar este comportamento, estimou-se a
TGC necessária para obter rentabilidade de 6% ao ano a partir de valores observados de
lucratividade em sistemas de produção de leite eficientes avaliados por Ferreira (2002)
(Tabela 3). Os sistemas foram classificados de acordo com grupo genético adotado: holandês
(vacas com grau de sangue acima de 7/8 holandês/zebu); mestiço (vacas com grau de sangue
entre 1/2 a 7/8 holandês/zebu); e zebu (vacas com grau de sangue abaixo de 1/2
holandês/zebu).

Tabela 3 - Estimativa da taxa de giro do capital investido (TGC) necessária para obtenção de
rentabilidade de 6% ao ano em sistemas de produção de leite eficientes que
utilizam rebanhos holandês, mestiço ou zebu
Item Rebanho1
Holandês Mestiço Zebu
Lucratividade1 (%) 9,9 18,0 29,6
TGC2 (% ao ano) 60,6 33,3 20,3

Rentabilidade (% ao ano) 6,0 6,0 6,0


Elaboração: Próprio autor
1
Extraído da análise envoltória de dados de 105 sistemas de produção de bovinos de leite realizado por Ferreira
(2002). Critério de classificação dos rebanhos. Holandês: vacas com grau de sangue acima de 7/8 holandês/zebu
(2.467 litros de leite/dia; 8.248 litros de leite/ha/ano; 18,5 litros de leite/vaca em lactação/dia); Mestiço: vacas
com grau de sangue entre 1/2 a 7/8 holandês:zebu (1.573 litros de leite/dia; 3.167 litros de leite/ha/ano; 13,4
litros de leite/vaca em lactação/dia); Zebu: vacas com grau de sangue abaixo de 1/2 holandês:zebu (1.002 litros
de leite/dia; 1.210 litros de leite/ha/ano; 6,8 litros de leite/vaca em lactação/dia). Utilizaram-se apenas dados de
sistemas avaliados como eficientes pelo autor.
2
TGC (% ao ano) = [ rentabilidade (% ao ano) / lucratividade (%)] x 100.

Em razão da menor lucratividade (9,9%) observada nos sistemas eficientes que


utilizam animais mais produtivos e com uso mais intensivo de insumos (holandês), estimou-se
TGC de 60,6% ao ano para alcançar rentabilidade de 6% ao ano (9,9% x 60,6% ao ano/ 100),
correspondendo ao maior valor entre os grupos avaliados. Por outro lado, para sistemas
eficientes que adotaram animais menos produtivos e uso menos intensivo de insumos (zebu),
para obter a mesma rentabilidade o valor estimado para TGC (20,3% ao ano) foi o menor
entre os três grupos, devido à maior lucratividade (29,6%). Desta forma, o nível ótimo de
produtividade dos fatores terra, animal, máquinas e equipamentos (TGC) depende da
lucratividade do sistema de produção.

3.1 Fatores que afetam a taxa de giro do capital investido (TGC)

1/
OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
Conforme já apresentado, a TGC está associada com a eficiência de utilização dos
fatores produtivos que compõem o capital investido (terra, animal, benfeitorias e máquinas).
Considerando que a venda com leite representa o componente majoritário da renda bruta na
atividade leiteira, a eficiência pode ser avaliada pelo somatório da produção de leite por
unidade de capital investido em terras, animais, máquinas e benfeitorias. O peso de
produtividade de cada fator na TGC depende da participação dos mesmos na composição do
capital total investido.
No Diagnóstico da Pecuária Leiteira do Estado de Minas Gerais (2005) realizado pela
FAEMG, com 1.000 produtores de leite avaliados, foi verificado que o fator terra representa o
principal componente do capital total investido na produção de leite, independente do
tamanho da produção (Figura 5). Em média, o capital investido em terras, animais,
benfeitorias e máquinas representaram 71, 13, 10 e 7% do capital total investido. Com a
ampliação do tamanho da produção (litros/produtor/dia), aumenta-se a participação dos
animais e das máquinas no capital investido em razão do maior potencial genético dos
animais e maior intensidade de uso de tecnologias poupadoras do fator mão-de-obra. Porém o
capital investido em terras ainda é majoritário. Diante deste quadro, verifica-se que a
produtividade da terra representa o principal fator que influencia a TGC em sistemas de
produção de bovinos leiteiros. O aumento da produtividade da terra eleva a TGC.

90%
80%
al

70%
60%
% do capital total

50% Terras
40% Animais
30% Benfeitorias
20% Máquinas
10%
0%
< 50 50 - 200 200 - 500 500 - 1000 > 1000
Estratos de produção de leite (litros/produtor/dia)

Figura 5 - Distribuição do capital total investido pelos produtores de bovinos leiteiros no


estado de Minas Gerais no ano de 2005 (n = 1.000 produtores entrevistados).
Fonte: Diagnóstico da Pecuária Leiteira do Estado de Minas Gerais (2005).

A produtividade da terra (litros de leite/ha) representa o produto do valor de


produtividade das vacas em lactação (VL, litros de leite/vaca) com o número de VL/ha.
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Portanto, há três maneiras de elevar a produção de leite/ha: aumentar a produção de leite por
vaca em lactação, o número de vacas em lactação/ha ou ambos. Assim, sistemas intensivos
representam não somente aqueles com vacas de alto potencial de produção de leite. Aqueles
que adotam rebanhos com níveis moderados de produção por vaca também podem ser
intensificados, mediante ampliação do número de vacas em lactação/ha. Os principais fatores
que afetam número de vacas em lactação/ha ou a produção por vaca em lactação devem ser
avaliados separadamente.
Sob o aspecto fisiológico, a produção de leite por vaca em lactação pode ser expressa
como o produto do número de células secretoras de leite na glândula mamária e a capacidade
de síntese de cada célula. Zootecnicamente, este comportamento é afetado por fatores
genético, de meio, bem como a interação de ambos. Os fatores de meio que mais influenciam
são relacionados às práticas de nutrição e alimentação. No tocante a esses aspectos o uso de
alimentos concentrados representa o insumo com maior potencial de modular a produção de
leite, em razão do maior disponibilidade de nutrientes potencialmente digestíveis. Todavia,
em razão do maior custo e da oferta limitada, o uso de concentrados deve ser baseado nos
pressupostos da análise marginal, sob risco de uso irracional dos mesmos (Oliveira et al.,
2009). Segundo esses autores, a resposta produtiva marginal (kg de leite/kg de suplemento
concentrado), o preço do leite e o preço do nível ótimo (máximo lucro) são as variáveis
chaves que definem o nível ótimo de suplementação concentrada para vacas leiteiras.
O número de VL/ha é afetado pela proporção de VL no rebanho, taxa de lotação (TL)
da área ocupada pela pecuária e pela massa corporal média do rebanho (MCMR), conforme
equação abaixo descrita:

Vacas em lactação/ha = TL (UA/ha) x VL (% do rebanho total) ÷ MCMR (UA/cabeça) (10)

Na Tabela 4 estão apresentados o efeitos da TL da área ocupada pelo rebanho leiteiro e


da proporção de VL no rebanho sobre o numero de VL/ha, considerando valor de fixo de
MCMR de 0,80. Elevadas taxas de lotação não implicará em alta relação VL/ha caso a
proporção de vacas no rebanho estiver baixa. Neste sentido é necessário compatibilizar taxas
de lotação elevadas com estrutura equilibrada do rebanho (VL/rebanho) para alcançar metas
elevadas de produtividade da terra.

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Tabela 4 – Efeito da proporção de vacas em lactação no rebanho (VLTR) e da taxa de lotação
da área utilizada pelo rebanho (TL) sobre o número de vacas em lactação por
unidade de superfície (VL/ha)1

Vacas em lactação/total de animal no rebanho (%)


Taxa de lotação (UA/ha)
20 25 30 35 40
1 0,25 0,31 0,38 0,44 0,50
3 0,75 0,94 1,13 1,31 1,50
5 1,25 1,56 1,88 2,19 2,50
7 1,75 2,19 2,63 3,06 3,50
9 2,25 2,81 3,38 3,94 4,50
1
Vacas em lactação/ha = TL x (VLTR ÷ 100) ÷ UAMR, em que: UAMR, taxa de lotação (UA/ha).
UA = unidade animal (450 kg de peso corporal).

A proporção de VL no rebanho pode ser assim calculada:

VL (% do rebanho) = VL (% do total de vacas) x TV (% do rebanho total) ÷ 100 (11)

Em que: TV = total de vacas.

A proporção de VL em relação ao TV é afetada pela duração do intervalo de partos


(IP) e do período de lactação (DL):

VL (% do TV) = IP (meses) ÷ DL (meses) x 100 (12)

A proporção do TV no rebanho é afetada pela duração do IP e pela idade ao primeiro


parto (IPP):

TV (% do rebanho) = 12 ÷ IP x 100 {1 ÷ [1 + (IPP ÷ 12) x PF ÷ 100]} (13)

Em que: PF = proporção de nascimento de fêmeas (% do total de nascimento) vacas em lactação; IP


e IPP em meses.

Diante do exposto, verifica-se que a estrutura equilibrada do rebanho leiteiro (medida


pela proporção de VL no rebanho) é alcançada por meio de adequados índices de intervalo de
partos, período de lactação e idade ao primeiro parto (Tabela 5). A redução da duração do
intervalo de partos e/ou aumento do período de lactação acarreta em ampliação da relação
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VL/TV e consequentemente da proporção de VL no rebanho. A redução da idade ao primeiro
parto, por sua vez, implica em redução do número de fêmeas de reposição para um mesmo
número de vacas, sem afetar a taxa de reposição, aumentando-se a proporção do TV no
rebanho.

Tabela 5 – Efeito da idade ao primeiro parto, da duração do intervalo de partos e da duração


do período de lactação sobre a proporção de vacas em lactação no rebanho

Intervalo de partos (meses)


Idade ao primeiro parto (meses)
12 14 16 18
Período de lactação de 8 meses
24 33 24 19 15
30 30 22 17 13
36 27 20 15 12
42 24 18 14 11
48 22 16 13 10
Período de lactação de 10 meses
24 42 31 23 19
30 37 27 21 16
36 33 24 19 15
42 30 22 17 13
48 28 20 16 12
Rebanho estabilizado apenas de fêmeas (50% dos nascimentos), considerando taxa nula de mortalidade.

A taxa de lotação (TL) é afetada pelo rendimento forrageiro (massa de matéria seca
potencialmente digestível-MSpd/ha), pela eficiência de utilização da MSpd produzida
(ingestão/produção) e pelo nível de ingestão de MSpd (Tabela 6). O rendimento forrageiro é
afetado diretamente por fatores abióticos como suprimento de nutrientes, condições edáficas,
radiação fotossinteticamente ativa, temperatura, umidade, entre outros; por fatores bióticos
como a espécie forrageira e, também, por fatores de manejo.

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Tabela 6 – Efeito do rendimento forrageiro e da eficiência de utilização da forragem
produzida sobre a taxa de lotação1, expressa em número de unidades animais
(UA) por hectare
Eficiência de utilização da forragem produzida
Rendimento forrageiro
(Ingestão/Produção)
(ton MSpd/ha/ano)2
0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80
10 0,27 0,55 0,82 1,10 1,37 1,64 1,92 2,19
20 0,55 1,10 1,64 2,19 2,74 3,29 3,84 4,38
30 0,82 1,64 2,47 3,29 4,11 4,93 5,75 6,58
40 1,10 2,19 3,29 4,38 5,48 6,58 7,67 8,77
50 1,37 2,74 4,11 5,48 6,85 8,22 9,59 10,96
1
TL (UA/ha) = (rendimento forrageiro x 1.000 x eficiência) ÷ (consumo diário de MSpd x 365 dias).
Considerou-se ingestão de 10 kg de MSpd/unidade animal/dia (2,2% do peso corporal).
2
MSpd = matéria seca potencialmente digestível (Paulino et al., 2008).

3.2 Fatores que afetam a lucratividade

Conforme demonstração abaixo, a lucratividade representa à recíproca da relação


custo operacional total/renda bruta. Assim, baixos valores de lucratividade estão associados à
elevada relação COT/renda bruta.

Lucratividade (%) = (ML ÷ RB) x 100 (14)


Lucratividade (%) = [(RB – COT) ÷ RB] x 100 (15)
Lucratividade (%) = [1 ÷ (COT/ RB)] x 100 (16)

A relação COT/RB representa o somatório das relações COE/RB, depreciação/RB e


mão-de-obra familiar/RB. A relação COT/RB por sua vez, pode ser descrita da seguinte
maneira:

COE/RB = [(Qi x Pi) / (PTL x PL + VA x PA)] (17)


COE/RB =[Qi ÷ ( PTL + VA)] x (Pi ÷ (PL + PA)] (18)

Em que: Qi = quantidade do insumo ou trabalho i; Pi = preço do insumo ou trabalho i; PTL =


produção total de leite; PL = preço médio do leite; VA = número de animais vendidos; PA = preço
médio dos animais.
Excluíndo-se VA e PA, tem-se que:
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COE/RB = (Qi ÷ PTL) x (Pi ÷ PL) (19)
COE/RB = (Qi ÷ PTL) x (Pi ÷ PL) (20)

A primeira fração da equação (20) está associada ao inverso da produtividade do


insumo ou do trabalho i (produção de leite/unidade de insumo ou trabalho). A segunda fração
está associada com a relação de troca entre o preço do insumo ou trabalho i, e o preço do leite.
Neste sentido, as causas de baixas lucratividades são decorrentes da baixa produtividade dos
insumos (produção de leite/kg de concentrado consumido, produção de leite/kg de volumoso
consumido, etc.), do trabalho (produção de leite por unidade de trabalho) e, ou, elevado preço
dos mesmos em relação ao preço do leite.
Dos componentes do COE, os gastos com alimentos concentrados e mão-de-obra
geralmente são os de maior importância. Elevado gasto com alimentos concentrados em
relação à renda bruta pode estar associado à ineficiência do seu uso e, ou, ao elevado custo do
mesmo em relação ao preço recebido pelo leite. A ineficiência (elevado consumo de
concentrado/litros de leite produzido), por sua vez, decorre de consumo excessivo do mesmo
(Oliveira et al. 2009), de falhas no balanceamento da dieta, no manejo de alimentação (critério
de agrupamento, número de grupos, método de fornecimento, conforto aos animais), no
manejo de ordenha, no conforto e na sanidade animal.

4 – Aplicações da análise de pontos de referência (benchmarking) na gestão de sistemas


de produção de bovinos leiteiros

Entre as práticas de administração, a análise de pontos de referência (benchmarking)


destaca-se pela segurança e exatidão, visto que os valores são obtidos diretamente de unidades
de produção presentes no mesmo ambiente econômico. Conceitualmente, benchmarking é um
processo de pesquisa sistemático e contínuo de medidas e comparações das práticas de uma
organização com as práticas das melhores organizações, no sentido de obter informações que
possam ajudar a melhorar o seu nível de desempenho. As medições utilizadas para calibrar o
desempenho de uma função, operação ou organização, em relação às outras, são conhecidas
como benchmarks (pontos de referência) (Zairi, 1994; Bogan & English, 1996).
As informações obtidas pelo benchmarking auxiliam na administração do negócio,
tanto em nível estratégico quanto em nível operacional. No nível estratégico, permite definir

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as metas de desempenho e a escolha da própria estratégia. No nível operacional, auxilia na
definição das melhores práticas e processos para alcançar os objetivos estratégicos.
O princípio do benchmarking foi inicialmente adotado na administração de
organizações pelas empresas japonesas, na década de 1970. No entanto, o termo, como é
conhecido hoje, surgiu em 1984, cunhado por David Kearms, então diretor executivo da
Xerox Corporation. Desde então, grandes avanços metodológicos foram obtidos,
principalmente a partir da publicação da revista técnico-científica “Benchmarking: an
International Journal”, o que contribuiu para sua massificação. Em estudo realizado nos
últimos 14 anos (1993 a 2007), com 8.504 respostas de organizações em mais de 70 países,
abrangendo todos os continentes, foi observado que o benchmarking constitui-se na terceira
ferramenta de gestão mais adotada (entre 25), com 77% de adoção (Bain & Company, 2007).
Na pecuária de leite, apesar de recente, tem sido despertado o interesse de
pesquisadores, técnicos e produtores pela adoção deste princípio, em razão da possibilidade
de identificar e quantificar indicadores técnicos e financeiros que se relacionam com
rentabilidade (Gomes, 2005; Leiterman & Hadley, 2005; Oliveira et al., 2007; Camilo Neto,
2008; Nascif, 2008), bem como subsidiar debates sobre viabilidade de sistemas de produção
de leite (Ferreira, 2002).
O Projeto Educampo (modelo de assistência gerencial e tecnológica intensiva para
grupos de produtores rurais, desenvolvido pelo Sebrae-MG), tem divulgado sistematicamente
resultados de sistemas reais de produção de leite, que permitem determinar índices referência
globais, podendo auxiliar técnicos e produtores na administração do negócio. Alguns destes
indicadores estão apresentados na Tabela 7. Entretanto, segundo Oliveira et al. (2007), o
caráter dinâmico inerente ao ambiente de produção, a elevada diversidade socioeconômica,
cultural e edafoclimática que modulam os sistemas de produção, associado ao fato da pecuária
leiteira estar presente em mais de 80% dos municípios do Brasil, impõe restrições ao uso de
indicadores globais.
Neste sentido, Oliveira et al. (2007) e Camilo Neto (2008) desenvolveram trabalhos
com objetivo de identificar e quantificar indices referência de sistemas de produção de leite
no Extremo Sul da Bahia e no município de Ituiutaba-MG, respectivamente. Os dados
originaram-se de registros mensais, realizados durante 12 meses.

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Tabela 7 – Indicadores-referência globais para sistemas de produção de leite que apresentam
rentabilidade superior a 6% ao ano.

Especificação Valores
Gasto com mão-de-obra / valor da produção de leite Até 20%
Gasto com concentrado do rebanho / valor da produção de leite Até 30%
Lucratividade > 25%
No de vacas em lactação por área em uso pela atividade leiteira > 1 vaca/ha
Produtividade da terra ocupada pela atividade leiteira > 10 L/ha/dia
Produtividade da mão-de-obra permanente > 300 L/dia/homem
Capital investido (R$) / Produção diária de leite (L/dia) < R$ 700/L-dia
Fonte: Adaptado de Gomes (2003), Gomes (2005a), Gomes (2005b) e Gomes (2005c)

Os sistemas de produção analisados por Oliveira et al. (2007) caracterizaram-se: pela


utilização de rebanhos com composição genética variando entre 1/4 e 3/4 Holandês x Zebu
(HZ), com predominância dos grupos genéticos 1/2 e 5/8 (HZ); aproveitamento dos machos,
comercializados com dez meses de idade; pastagem como principal fonte de alimentação
volumosa no período de maior crescimento forrageiro, com 61% de adoção da adubação de
pastagens e 41% de adoção de método de lotação rotacionada; 47% de adoção da alimentação
concentrada para as vacas em lactação ao longo do ano; cana-de-açúcar como forragem
suplementar para o período da seca; aleitamento natural; uso integral de inseminação
artificial; 84% de adoção de ordenha manual; e mão-de-obra predominantemente contratada.
Os sistemas de produção analisados por Camilo Neto (2008) caracterizaram-se: pela
utilização de rebanhos com maior participação de holandês no cruzamento com zebu;
pastagem como principal fonte de alimentação volumosa no período de maior crescimento
forrageiro, com 38% de adoção da adubação de pastagens e 69% de adoção de método de
lotação rotacionada; cana-de-açúcar (62%) e silagem de milho (38%) como forragem
suplementar para o período da seca; predomínio da adoção de aleitamento natural (75%); 81%
de adoção da alimentação concentrada para as vacas em lactação ao longo do ano; 81% de
adoção de inseminação artificial; 81% de adoção de ordenha mecanizada; e mão-de-obra
predominantemente contratada.
Após a identificação dos indicadores que apresentaram correlação (P<0,10) com a
rentabilidade, foram geradas equações de regressão para estimar indicadores-referência em
função da rentabilidade. Na Tabela 8 estão compilados os coeficientes de correlação linear de
pearson (r) de diversos indicadores técnicos e financeiros com rentabilidade, e os valores
estimados para obtenção de rentabilidade de 6% ao ano.
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Tabela 8 – Coeficiente de correlação linear de pearson (r) de diversos indicadores técnicos e
financeiros com rentabilidade (indicadores-referência), e valores estimados para
obtenção de rentabilidade de 6% ao ano em sistemas de produção de bovinos de
leite segundo diversos autores
Autores
Indicadores Unidade Oliveira et al. (2007) Camilo Neto (2008)
r valor r valor

Produção total de leite do sistema L/dia 0,6160* 538 0,0867ns -

Preço médio do leite R$/L -0,3220ns - -0,2018ns -

Taxa de giro do capital investido % ao ano 0,8344** 17,6 0,7437** 35,4

Capital investido na atividade em


R$/L-dia -0,9400** 1.508 -0,4423* 922
relação a produção diária de leite

Produtividade da terra L/ha/ano 0,9477** 1.008 0,7509** 4.351

Número de vacas em lactação por área VL/ha 0,6407* 0,45 0,6728** 0,89
Produtividade das vacas em lactação L/vaca/dia 0,4658*** 6,21 0,6362** 12,04

Relação de vacas em lactação no


% 0,5590*** 27 0,2048ns -
rebanho

Relação de vacas em lactação por total


% 0,3462ns - 0,7286** 74
de vacas
Lucratividade % 0,9488** 34,0 0,6580** 17,0
Relação COE / RB % -0,5395*** 57 -0,4719* 69
Gasto com alimento concentrado/RB
% 0,4359ns - 0,2751ns -
do leite
L de
Produtividade do concentrado -0,2729ns - na na
leite/kg
Gasto com mão-de-obra/RB do leite % -0,8134** 27 -0,4269* 16
Produtividade da mão-de-obra L/d.h. 0,4848*** 124 0,4740* 322
Oliveira et al. (2007): Produtores de leite localizados no Extremo Sul da Bahia (n = 9)
Camilo Neto (2008): Produtores de leite localizados no município de Ituiutaba-MG (n = 16)
* (P<0,05), ** (P<0,01), ***(P<0,10), ns: não significativamente (P>0,10) correlacionado com rentabilidade.
na: não avaliado

Verificou-se que o preço médio do leite recebido pelos produtores não influenciou
(P>0,10) a rentabilidade. A taxa de giro do capital investido (TGC), bem como a
lucratividade, foram altamente correlacionadas (r > 0,65) com a rentabilidade. Dentre os
fatores diretamente relacionado com a TGC, destaca-se que o número de VL/ha foi mais

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correlacionado com a rentabilidade do que a produtividade das VL. Este comportamento
indica que a ampliação do número de VL/ha exerce maior influência sobre a intensificação
sustentável (maximização do lucro) da produção de leite do que o aumento da produtividade
das VL (Figura 3).
A rentabilidade foi correlacionada com a proporção de VL em relação ao TV, mas não
em relação ao total de animais do rebanho, denotando que o intervalo de partos e a duração da
lactação exerceram maior influência na rentabilidade do que a idade ao primeiro parto (Figura
3).
Dentre os fatores relacionados com a lucratividade, verificou-se que a produtividade
da mão-de-obra e, consequentemente, o gasto com mão-de-obra em relação à renda bruta,
tiveram as maiores correlações com rentabilidade. Salienta-se, contudo, que a produtividade
com o uso de alimentos concentrados (litros de leite produzido/ kg de alimento concentrado
consumido), bem como o gasto com alimento concentrado em relação à renda bruta não
influenciaram a rentabilidade.
Verificou-se ainda que os valores dos indicadores-referência nas regiões avaliadas são
diferentes em relação às aqueles globais apresentados na Tabela 7. Segundo Oliveira et al.
(2007), diferenças socioeconômicas, culturais e edafoclimáticas inerentes aos ambientes em
que os sistemas estão inseridos explicam as discrepâncias, o que remete a necessidade de
avaliações regionalizadas.
No Brasil, sempre existiram discussões e dúvidas entre produtores, técnicos e
pesquisadores com relação à escolha do melhor sistema de produção de bovinos leiteiros.
Conforme abordado anteriormente, a utilização do benchmarking também pode auxiliar neste
entendimento. Ferreira (2002) realizou um interessante trabalho ao comparar, por meio do
procedimento análise envoltório de dados, produtores eficientes e ineficientes. O autor
analisou 105 produtores de leite, divididos em três grupos de acordo com a composição
genética do rebanho: holandês (vacas com grau de sangue acima de 7/8 holandês/zebu);
mestiço (vacas com grau de sangue entre 1/2 a 7/8 holandês/zebu) e, zebu (vacas com grau de
sangue abaixo de 1/2 holandês/zebu). A compilação dos indicadores de tamanho, de
produtividade e econômicos dos produtores eficientes e ineficientes nos três grupos está
descrito na Tabela 9.

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Tabela 9 - Comparação entre produtores eficientes e ineficientes segundo o sistema de
produção de leite classificados de acordo com o grupo genético adotado (n = 105)
Grupo genético utilizado2
Itens1 Holandês Mestiço Zebu
Efic. Inef. Efic. Inef. Efic. Inef.
1. Produção e Produtividade
Produção diária de leite (litros/dia) 2.467 1.425 1.573 1.155 1.002 447
Produtividade das VL (litros/dia) 18,5 19,2 13,4 12,0 6,8 5,6
Área utilizada pela pecuária (ha) 109 92 181 161 302 250
Produtividade da terra (litros/ha/ano) 8.248 5.666 3.167 2.616 1.210 651
2. Indicadores Econômicos
Preço do leite (R$/L)3 0,740 0,720 0,678 0,682 0,611 0,613
COT do leite (R$/L)3 0,671 0,701 0,556 0,644 0,433 0,542
Gasto com MDO/ RB do leite (%) 13,2 20,6 16,4 21,6 20,4 30,6
Gasto com CONC/ RB do leite (%) 35,8 33,7 28,4 30,6 16,5 19,7
COE da atividade / RB da atividade (%) 80,6 85,5 71,9 84,7 58,5 70,9
Margem líquida (R$/ano)3 78.802 6.005 74.359 19.914 76.618 11.671
Margem líquida por área (R$/ha/ano)3 723 65 411 124 254 47
Rentabilidade (% ao ano) 3,6 0,07 5,8 1,2 5,7 0,9
Taxa de giro do capital investido (% ao
36,4 3,5 32,2 21,1 19,3 7,3
ano)
Lucratividade (% ) 9,9 2,0 18,0 5,7 29,6 12,3
Fonte: Adaptado de Ferreira (2002).
1
VL: vacas em lactação; COT: custo operacional total; MDO: mão-de-obra; CONC: alimento concentrado; COE:
custo operacional efetivo.
2
Holandês: vacas com grau de sangue acima de 7/8 holandês:zebu; Mestiço: vacas com grau de sangue entre 1/2
até 7/8 holandês:zebu; Zebu: vacas com grau de sangue abaixo de 1/2 H:Z (manejados de forma extensiva).
3
Valores monetários corrigidos para agosto de 2009 (IGP-DI).

A análise dos dados apresentados na Tabela 9 permite as seguintes considerações:

 A pecuária leiteira mostrou-se economicamente sustentável independentemente do


sistema de produção, pois em ambos os sistemas analisados foram observados
produtores eficientes e ineficientes;
 Dentro de cada sistema de produção, os preços recebidos pelo leite pouco
influenciaram na determinação da eficiência econômica;
 A produtividade das vacas pouco influenciou na determinação da eficiência
econômica nos sistemas de produção. A produtividade da terra definiu melhor a

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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
Simpósio Brasileiro de Agropecuária Sustentável. 1ed.Viçosa: , 2009, v. 1, p. 106-133. ISBN: 21760470.
eficiência nos três grupos avaliados, indicando a elevada importância do número de
vacas/ha;
 Quanto maior a especialização do rebanho, maior a necessidade de volume de
produção para viabilizar a atividade, sendo esta a principal restrição aos sistemas que
adotaram rebanhos classificado como holandês;
 A maior restrição aos sistemas avaliados que utilizaram animais zebu é a necessidade
de grandes extensões de terra. Segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE-1996,
praticamente 80% do leite produzido vêm de estabelecimentos com menos de 200
hectares de pastagem. Segundo Diagnóstico da Pecuária de Leite do Estado de Minas
Gerais, no ano de 2005, a área média ocupada pela atividade leiteira foi de 77,95 ha.
Assim, a tendência é que este sistema esteja presente em regiões de fronteiras
agrícolas, com menores preços e com maior disponibilidade de terras;
 As restrições do sistema que utilizaram animais mestiços são menores do que os
demais, pois necessita de menor volume de produção que o sistema que utilizaram
gado holandês para viabilizar a atividade, e de menores extensões de terras que o
sistema composto por animais zebu;
 A atratividade do negócio depende da combinação de produtividade com volume de
produção. Aumento de produtividade do rebanho sem ocorrer aumento expressivo no
volume de produção poderá não trazer os benefícios econômicos esperados.

5. Considerações finais

A sustentabilidade de sistemas de produção animal depende, dentre outros fatores, da

atratividade no longo prazo. A rentabilidade, por sua vez, representa o principal indicador de

sustentabilidade econômica. Assim, o conhecimento e quantificação dos principais fatores que

modulam a rentabilidade em sistemas de produção de bovinos leiteiros constituem em aspecto

essencial para subsidiar ações estratégicas, táticas e operacionais. Recomenda-se o

aprofundamento de pesquisas sistemáticas e regionalizadas sobre benchmarking na pecuária

de leite, os quais poderão trazer maior embasamento científico e aplicado para o debate sobre

a viabilidade econômica de sistemas de produção de bovinos leiteiros.

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OLIVEIRA, André Soares de ; PEREIRA, Dalton Henrique . Gestão Econômica de Sistemas de Produção de Bovinos
Leiteiros. In: Rogério de Paula Lana, Antônio Bento Mancio, Geicimara Guimarães, Maria Regina de M. Souza. (Org.). I
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