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Maria era uma moça que desde pequena trabalhara para ajudar nas despesas da família, começou em uma
pequena empresa de sacos plásticos e embora a natureza simples do local, ela trabalhava com esmero e
diligência. Mesmo sendo exigente sob o serviço designado, todos naquele local a respeitavam e a tratavam
dignamente. Mas quando tudo ia bem, a empresa faliu e Maria teve de procurar um outro emprego. Visto
que era muito competente, responsável e confiável, qualidades essas procuradas por qualquer
empregador, Maria logo conseguiu um novo emprego. Nesse ela começou como auxiliar de gerente e após
esforço e estudo, conseguiu subir hierarquicamente no seu posto, ao ponto de se tornar gerente geral. E
mesmo com todas as noites mal dormidas, os filhos sem ver a mãe, o marido sem o aconchego da esposa,
Maria era quem fornecia todo o bem material que necessitavam.
Os filhos reclamavam porque não tinham a atenção da mãe, mas ela sempre prometia que deixaria de
trabalhar e compensaria passando o resto da vida ao lado deles. E assim conseguia distrair as crianças de
sua ausência. E quando à noite, eles conversavam com a mãe, não conseguiam estabelecer um diálogo
propriamente dito, mas sim um monólogo, já que Maria não tinha forças contra o sono por conta do
cansaço extremo e da estafa. Trabalhava implacavelmente toda uma semana comercial e mesmo em face
de humilhações e desapontamentos, sendo chamada pelos piores nomes possíveis, Maria continuava no
“sim senhor, pois não senhor” da sua rotina escravista, que caso a princesa Isabel soubesse desse breve
depoimento, talvez estivesse se retorcendo em seu túmulo, ao descobrir que em pleno século XXI existem
trabalhos escravos.
Mas o que fazer se apenas Maria poderia dar todo o conforto e sustento que sua família possuía, visto que
desde mais nova trabalhava para os outros e nunca para seu próprio proveito. Maria era feliz só em ver os
filhos felizes, mas se perguntassem a ela qual o seu maior desejo, ela diria súbita e calmamente: a morte.
Isso é fácil de entender, pois na vez que sofreu uma tragédia ao ser posta como refém por criminosos cruéis
em busca de dinheiro, os seus preocupados patrões, após vê-la sendo confortada pela polícia, disseram
apenas “cadê nosso dinheiro? ”. Essa pergunta, fez Maria repensar até mesmo na sua existência. O que ela
fazia ali, trabalhando para alienígenas, sim, alienígenas, que ao verem Maria passar pela cena deplorável de
um assalto e outros funcionários serem amarrados como animais, de forma humilhante, a única e vital
preocupação era mais para com o dinheiro que foi levado à guardiã que com tanta devoção o protegia.
Mas, no final das contas, após tantos anos destinados aquele infortúnio, Maria não aguentou ou melhor,
seu corpo e mente não suportaram mais o estresse e as ansiedades e por fim sucumbiram em cima de uma
cama do manicômio da cidade. E naquele local, todos seus 15 anos de tortura empresarial serviram apenas
para pagar os aparelhos que a mantinham viva, porém louca. Os filhos, ao verem a mãe naquele estágio,
sentiram uma comiseração inenarrável. O marido, não aguentando ver a sua amada esposa sendo tratada
como uma criança triste e doente, precisando de cuidados especiais, cometeu suicídio.
E Maria, nos raros momentos de lucidez que tinha, chorava em sua cama, arrependida de toda uma vida
que ela poderia ter tido, mas em vez disso, havia entregado a pessoas que por vezes nem se importavam
com ela, só queriam explorar sua mão de obra barata e competente. E enquanto ela passava seus dias
definhando naquela cama fria, sendo diagnosticada como louca, seus amistosos patrões, curtiam um fim de
semana em Burj Khalifa. Afinal, esse é o mundo capitalista, alguém tem que ganhar e outro tem que
perder, mas isso, cabe a cada um escolher. Como vai usar a sua vida e suas aptidões é algo que deve ser
levado em consideração, pois na verdade, quanto vale uma vida?
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