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etc).

Direito Processual Penal


Um outro debate diz respeito a quem deva presidir as
Prof. Antônio Scarance Fernandes investigações de um inquérito. No mundo há, em geral, três
1. Investigação Criminal sistemas:
Direito Material: é o direito do Estado de punir. Mas para a) Autoridade policial - sistema adotado no Brasil.
punir deve haver uma acusação e um processo. b) Ministério Público - EUA.
Persecução Penal: é a ação de perseguir e de buscar um c) Juiz de Direito - Espanha.
resultado: a punição prevista no Direito Material. A Persecução
manifesta-se em vários momentos do Processo Penal, sendo A tendência mais atual é a que um juiz de Direito presida o
que há, basicamente, duas fases: inquérito; afinal, é a ele que se destina a investigação.
a) Investigação - visa evitar acusações apressadas e o A defesa pode atuar durante o inquérito policial. A Constituição
constrangimento do acusado. A mais clássica é a investigação de 1967 previa que o preso poderia ficar incomunicável durante
policial, aquela feita pelas autoridades policiais e que se traduz as investigações do inquérito policial. A atual Constituição
no inquérito policial. eliminou essa disposição.
b) Acusação - é processo propriamente dito. 1.2. Indiciamento
1.1. Investigação Policial O indiciamento de um suspeito é extremamente importante. Ele
muda o status jurídico do indivíduo. Indica que houve a
Esta é a atividade da chamada Polícia Judiciária, uma das colheita de uma série de elementos para corroborar a
atividades da polícia. É a investigação de fatos criminosos. desconfiança que o investigado é suspeito de ter cometido a
Pode ser feita pela Polícia Federal, pela polícia dos estados e infração penal.
pela Polícia Militar (PM). A polícia vai realizando diligência e
reduzindo a escrito. Hoje, a Constituição proíbe, no indiciamento, a colheita de
impressões datiloscópicas de indivíduos possuidores de
Assim, o conjunto de atos de investigação é o Inquérito. O identificação civil (documento de identidade). A partir do
Inquérito não é um procedimento porque apesar de ser um indiciamento, são feitos registros que mostram a situação do
conjunto de atos não há uma seqüência pré-determinada para indivíduo.
estes; não há um rito. A autoridade policial realiza os atos de
acordo com sua conveniência. O conjunto de atos é um 1.3. Relatório
conjunto de atos administrativos, mas não há um procedimento
O relatório é um documento da autoridade policial que mostra
administrativo.
situação de encerramento de um inquérito policial. Esse
A finalidade do inquérito policial é: documento acompanha o próprio inquérito policial ao seguir
para o Poder Judiciário.
a) provar a existência do crime, sua materialidade, e;
2. Inquérito Policial
b) descobrir a autoria
Podem ser dadas duas definições para Inquérito Policial:
Este conjunto de atos visa, ao final, permitir a acusação
posterior. a) É um procedimento administrativo-persecutório de instrução
provisória, destinado a preparar a ação penal (definição de José
As características do Inquérito Policial estão previstas entre os Frederico Marques).
artigos 4 e 23 do Código do Processo Penal. O Artigo 4 prevê
que a polícia judiciária é exercida pela autoridade policial b) É o conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária
(delegado) para apuração das infrações penais e sua autoria. para a apuração de uma infração penal e sua autoria a fim de
Segundo o Artigo 9, o inquérito policial tem forma escrita; os que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (definição
atos da investigação vão sendo reduzidos a escrito. Pelo Artigo de Fernando da Costa Tourinho Filho).
20, temos que o inquérito é sigiloso (em regra).
A primeira definição entende claramente que o Inquérito é um
O inquérito policial será sempre instaurado quando houver justa procedimento. A segunda definição fala de encadeamento
causa e necessidade para uma investigação. A justa causa lógico; portanto, não é um procedimento.
sempre haverá quando existir a notícia de um crime. Não
O inquérito policial deve apresentar provas da existência
haverá inquérito policial:
material do fato e os indícios da autoria.
a) Crime de Ação Privada sem Representação.
Normalmente associa-se a abertura de um inquérito à
b) Crime de ação Penal Pública Condicionada. elaboração de um Boletim de Ocorrência (BO). Esse
documento não tem previsão legal, sendo fruto apenas da
c) Crimes Prescritos prática policial.
d) Não houver Fato Típico. Somente o Estado tem o “ius puniendi”. Esse exercício é
e) Crimes de Menor Potencial Ofensivo (Lei dos Juizados limitado pelo “persecutio criminis”, que em nosso sistema é
Especiais, Lei 9.099 de 26/09/1995). desenvolvido e executado em dois momentos distintos:
Existe um debate sobre a necessidade, ou não, do inquérito a) Inquérito Policial
policial. Para o professor Scarance, o inquérito deve ser restrito b) Processo Judicial
apenas aos crimes de maior potencial ofensivo. O mesmo
debate existe sobre a necessidade de reduzir todo o inquérito a O primeiro elemento desse conjunto de atos é a Notícia Crime
termo. Para Scarannce, bastaria um relatório que servisse de (“notitia criminis”), que precede o próprio inquérito policial.
elemento para a denúncia pelo Ministério Público. Como regra, Esse ato de conhecimento de um fato delituoso, que pode ser
as provas produzidas durante o inquérito policial não têm valor provocado ou espontâneo, é o conhecimento da existência do
em juízo, devendo ser refeitas. A exceção é quanto as provas crime. Não deve ser confundido com a Denúncia, que é um ato
passíveis de perecimento, especialmente aquelas que do processo judicial.
demandam perícia (exame de corpo de delito, laudo cadavérico
O inquérito policial é iniciado por atos provocativos. Estão preventiva; somente o juiz de Direito tem poder para isso. A
previstos no Artigo 5 do Código do Processo Penal (CPP): autoridade policial pode representar acerca da prisão
“Artigo 5 - Nos crimes de ação pública o inquérito policial preventiva (Artigo 13, inciso IV). O mesmo vale para a
será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da prisão temporária. Quanto à prisão em flagrante, qualquer
autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a cidadão poderá prender quem seja encontrado em flagrante
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para delito; já a autoridade policial deverá efetuar a prisão
representá-lo”.A autoridade policial não goza de livre (Artigo 301).
arbítrio para proceder ou não o início de um inquérito.
O relatório da autoridade policial, apresentado ao final do
Os atos provocativos são: inquérito, não tem valor algum para o processo judicial.
a) Requisição - não é passível de ser descumprida. Ao receber o inquérito, o juiz o encaminha ao Ministério
Público caso seja um crime de Ação Pública. O Ministério
b) Requerimento - é uma forma estabelecida (Artigo 5, § 1
Público, ao recebê-lo poderá:
do CPP). Pode ser deferido, ou não, pela autoridade policial.
É passível de recurso (§ 2) dirigido à Secretaria de a) Apresentar Denúncia - no momento da apresentação da
Segurança Pública. denúncia prevalece o princípio “in dubio pro societate”; isto
e, caso persista alguma dúvida a denúncia deve sempre ser
c) Representação - ato provocativo previsto em lei,
oferecida. Somente ao final da instrução é deve prevalecer o
segundo o qual o indivíduo oferece representação à
princípio “in dubio pro reu”. O prazo para oferecimento da
autoridade policial.
denúncia, com o réu preso, será de cinco dias, contados da
d) Queixa-Crime - ato de apresentação de um crime de data em que o Ministério Público recebeu o inquérito
ação privada (Exemplo: calúnia, injúria, difamação). policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado
(Artigo 46).
2.1. Procedimento
b) Pedir Novas Diligências - previstas nos Artigos 16 e 47
É um conjunto de atos de investigação administrativo e
do CPP.
cautelar. O não cumprimento de algum desses atos, na
ordem prevista em lei, não implica em nulidade do c) Pedir o Arquivamento - isso pode acontecer quando:
inquérito. A jurisprudência entende que esses atos deverão
I - o fato narrado não constituir crime;
ser repetidos durante o processo judicial.
II - estiver extinta a punibilidade;
O inquérito Policial é sigiloso (Artigo 20 do CPP). Contudo,
esse sigilo é limitado pela Lei 8906/94 (Estatuto do III - manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição
Advogado e da OAB), Artigo 7, incisos II e XIV: “São elegida pela lei para o exercício da ação penal; isto é,
direitos do advogado: (...) III - comunicar-se com seus quando não for um crime de Ação Penal Pública.
clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração,
quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em Se o Ministério Público pedir arquivamento do inquérito, o
estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados juiz, caso considere improcedentes as razões invocadas,
incomunicáveis; (...) XIV - examinar em qualquer repartição remeterá o inquérito ao procurador-geral, e este oferecerá a
policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para
inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual
autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos”. só então estará o juiz obrigado a atender (Artigo 28).

O inquérito é Inquisitório, uma vez que não há, nessa fase, 3. Ação Penal
uma acusação formalizada. Esta somente irá ocorrer durante Apesar de não se limitar a isso, o curso de Direito
a fase judicial, após a denúncia. No inquérito, da mesma Processual Penal estuda a Ação Penal Condenaria.
forma, e devido a esse caráter inquisitório, não existe a
figura do contraditório (“auditar et altera pars”). 3.1. Condições da Ação Penal
2.2. Encerramento No Processo Civil, as condições da ação são:
O encerramento de um inquérito policial está previsto no a) Possibilidade Jurídica do Pedido - é um contra-
Artigo 10 do CPP. Determina que este deva terminar no conceito. Está presente todas as vezes que não houver no
prazo de dez dias, se o indiciado tiver sido preso em ordenamento uma vedação expressa ao direito material.
flagrante, ou estiver preso preventivamente. Quando estiver b) Legitimidade da Causa
solto, mediante fiança ou não, o prazo é de 30 dias.
c) Interesse de Processual - dois tipos de interesse:
O delegado de polícia não pode decretar a prisão
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necessidade e adequação extraordinária.
Essas condições devem ser avaliadas, de forma abstrata, II - Parte Passiva - a parte passiva legítima do processo
nas Preliminares, antes de entrar no mérito da questão; penal será todo e qualquer indivíduo maior de 18 anos.
antes de entrar no Direito Material propriamente dito, de
Ainda quanto à legitimidade, criou-se no Processo Penal
plano. Os elementos para essa avaliação devem ser buscados
uma categoria especial: condições de procedibilidade:
no mérito da questão, mas verificados em abstrato. A
condições para que possa haver o processo. São elas
avaliação das condições da ação tem importância porque,
condições próprias para a um determinado crime; presença
uma vez declara a improcedência de uma ação por falta de
de representação, nos crimes que a exigem, e a falta de
condições, esta não faz coisa julgada, podendo ser
requisição por parte do Ministro da Justiça. Contudo, alguns
apresentada novamente.
autores consideram que ambas são condições de
As condições da ação no Processo Penal são legitimidade. Para outros, professor Scarannce e professora
estruturalmente semelhantes às do Processo Civil. Contudo, Ada, colocam essas condições na Possibilidade Jurídica.
na prática, guardam diferenças.
3.2. Ação Penal Privada
a) Possibilidade Jurídica do Pedido - é a verificação da
A diferença entre a Ação Penal Privada e a Ação Penal
tipicidade, ou não, de um comportamento (CPP, Artigo 43,
Pública reside na legitimidade para agir (“legitima ad
inciso I: “a denúncia ou queixa será rejeitada quando o fato
causan”). Na Ação Penal Pública, o titular é o Estado,
narrado evidentemente não constituir crime”). Contudo,
através do Ministério Público. Na Ação Penal Privada quem
alguns autores, entre eles Ada Pellegrini, defendem que o
tem a legitimidade, concedida pelo Estado, é o ofendido, ou
estudo da tipicidade não é condição da ação e sim, estudo do
seu representante (titular exclusivamente particular).
mérito. Já para o professor Scarannce, segundo a teoria da
“Prospettazzione”, uma matéria pode ser condição da ação, O Ministério Público não pode propor uma Ação Penal
ou de mérito, segundo o momento e a profundidade em que Privada; pode participar do processo apenas como um fiscal
é examinada. da lei (“custos legis”). O Código de Processo Penal, Artigo
45 e 46, §2, permite que o Ministério Público adite a queixa-
Outro exemplo dado pela doutrina está no Artigo 43, inciso
crime oferecida pelo ofendido. As leis penais materiais
II (“a denúncia ou queixa será rejeitada quando já estiver
(Código Penal e leis extravagantes) são as que determinam
extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra causa”).
quando um crime é de Ação Penal Privada ou Ação Penal
Contudo, para o professor Scarannce, o estudo da
Pública. São, por exemplo, crimes que se procedem
punibilidade é sempre mérito. Para a professora Ada é
“mediante queixa”: calúnia (Artigo 138), difamação (139),
preciso verificar a questão do ponto de vista positivo. Um
injúria (140), dano (163), estupro (213).
exemplo disso é quanto aos Crimes de Ação Penal Pública
com Representação; a verificação possibilidade jurídica é a O que leva o legislador optar que um crime seja de Ação
verificação da presença da representação. Penal Privada é:
b) Interesse de Processual - dois tipos de interesse: a) Tenuidade da lesão à sociedade.
necessidade e adequação. Os autores são unânimes em dizer
1. Prisão e Liberdade
que não interesse quando não houver justa causa para a
ação penal; isto é, não haverá interesse quando não A prisão pode ser vista por dois enfoques:
existirem elementos para uma suspeita razoável. Assim,
necessidade é igual a uma suspeita razoável. a) Prisão Pena – já houve a condenação transitada em
julgado, com pena privativa de liberdade.
c) Legitimidade da Causa - é a verificação se a parte tem o
u não legitimidade para estar naquele processo. b) Prisão Processual – acontece durante o processo;
também é chamada de prisão provisória ou cautelar.
I - Parte Ativa - No Direito Processual Penal a parte
legítima para ser parte ativa no processo é o Estado, através, I – Provisória – porque poderia ser alterada de alguma
exclusivamente, do Ministério Público (Constituição forma por estar durante o processo.
Federal, Artigo 129, inciso I: “São funções institucionais do II – Cautelar – acredita-se que toda prisão processual seja
Ministério Público promover, privativamente, a ação penal cautelar, quando se verifica o “fumus bonus iuris” ou o
pública, na forma da lei”), também chamada de legitimação “periculum liberatori”.
ordinária. Em alguns casos, o Estado concede à vítima o
direito de acusar, quando houver uma queixa subsidiária A Constituição Federal, Artigo 5, inciso LVII, diz que:
(quando Ministério Público estiver inerte) ou quando for um “ninguém será considerado culpado até o trânsito em
crime de Ação Penal Privada, também chamada legitimação julgado de sentença penal condenatória”. Há duas posições
sobre este inciso:
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a) Posição restritiva – somente aplicada à matéria de prova. Para alguns autores, toda a prisão processual deveria ser
cautelar; contudo, a Constituição não fala nisso. A prisão
b) Posição ampliativa – além das provas há a prisão
cautelar de alguém que não é primário ou que não tem bons
processual.
antecedentes é inconstitucional, ferindo o princípio da
O inciso corresponde ao princípio da presunção de presunção de inocência. Toda e qualquer determinação de
inocência; a palavra presunção está mal colocada, pois se prisão, sem avaliar as condições concretas e subjetivas do
corre um processo não há tal presunção. indivíduo, fere esse princípio, criando uma ilegal presunção
de culpabilidade. No Direito brasileiro a presunção relativa
As prisões podem ser:
de inocência somente cede com a sentença condenatória
a) Preventiva – CPP, Artigo 311. transitada em julgado.
b) Temporária – Lei 7.960/89 A prisão cautelar pode ser de cinco tipos:
c) Flagrante – CPP, Artigo 301. 2.1. Prisão Temporária
d) Decorrente de sentença condenatória recorrível – CPP, Regulamentada pela Lei da Prisão Temporária (Lei 7960 de
Artigo 594. 21/12/1989).
e) Administrativa Segundo Artigo 1 caberá prisão temporária:
No CPP a prisão está presente em três artigos: 282 408 e a) quando imprescindível para as investigações do inquérito
594. policial.
1.1 Prisão Processual – Disposições Gerais b) quando o indiciado não tiver residência fixa.
As disposições gerais da prisão processual estão expressas c) quando houver “fundadas razões”, nos seguintes crimes:
na Constituição Federal, Artigo 5, Inciso LXI, e no CPP, homicídio doloso, seqüestro, roubo, extorsão, estupro,
Artigo 282. Deve haver uma ordem escrita fundamentada, atentado violento ao pudor, rapto violento, epidemia,
com base legal, por autoridade judiciária competente. São envenenamento de água, formação de quadrilha, genocídio
exceções a essa regra: (Lei 2.889/56), tráfico de drogas (Lei 6.368/76) e crimes
contra o sistema financeiro (Lei 7.492/86).
a) Infrações disciplinares cometidas por militares
Esta prisão ocorre durante a fase de investigação. Era a
b) Crimes propriamente militares antiga Prisão para Averiguações que era ilegal. A lei
Como pode ser feita a prisão: o juiz expede um mandado passou a prever a prisão durante as investigações apenas
que pode ser cumprido por um oficial de justiça ou, com autorização judicial. Suas hipóteses devem ser
preferencialmente, por uma autoridade policial. Surge um analisadas segundo os princípios constitucionais, aceitando-
problema quando a prisão deve ser efetuada no domicílio do se que é uma prisão cautelar. Havendo “fumus bonus iuris”
acusado, devido ao princípio constitucional da ou o “periculum liberatori” esta prisão não é
inviolabilidade do domicílio. Duas hipóteses inconstitucional.
a) a autoridade policial apresenta-se com o mandado e é a) “fumus bonus iuris” - refere-se a um fato; deve haver
convidada a entrar. Não há problema se é dia ou noite. elementos que indicam que há crime e que a pessoa presa é
a provável autora deste (Artigo 1, inciso III).
b) há a recusa da permissão de entrada. Se for durante o dia
pode haver o arrombamento da entrada do domicílio; se for b) “periculum liberatori” – a prisão resulta ser
noite isso não é possível (Lei 4.898/65, sobre abuso de imprescindível para produção de provas (Artigo 1, inciso I)
autoridade), tendo que aguardar em vigilância até o novo e para que seja eficaz (II).
dia. Uma interpretação restritiva da lei determinaria que
O Artigo 295 determina que serão recolhidos a quartéis ou a seriam necessários que os três elementos do Artigo 1
prisão especial, à disposição da autoridade competente, estivessem presentes para que fosse possível a decretação da
quando sujeitos a prisão antes de condenação definitiva, prisão temporária. Já uma interpretação ampliativa aceita a
entre outros: os ministros de Estado, os governadores, os possibilidade de estarem presentes apenas dois elementos.
prefeitos municipais, os parlamentares, os oficiais das Não pode haver casos de prisão temporária nos casos de
Forcas Armadas e do Corpo de Bombeiros, os magistrados e contravenções penais e furtos qualificados, uma vez que o
os diplomados por um curso superior. inciso III do Artigo 1 elenca estritamente os crimes em que é
2. Prisão Cautelar possível.

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O prazo para a prisão temporária é de cinco dias, O Artigo 303 determina que nas infrações permanentes,
prorrogáveis por mais cinco, ao final dos quais deverá haver entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar
a soltura do preso (por um alvará de soltura), sob pena do a permanência. A infração permanente é aquela que se
crime de abuso de autoridade. Ao final dos dez dias poderá prolonga no tempo, como, por exemplo, um seqüestro.
haver a decretação da Prisão Preventiva. A lei dos Crimes
O flagrante pode ser de dois tipos:
Hediondos (Lei 8.072/90) aumentou esse prazo para 30 dias
prorrogáveis por mais trinta (a doutrina critica esse prazo a) Flagrante preparado - cria-se uma situação artificial
excessivo). para induzir o elemento a cometer o crime e assim ser preso
em flagrante delito. Segundo uma súmula do STF, trata-se
Segundo o Artigo 5 da lei, em todas as comarcas e seções
de um crime impossível, dada a artificialidade da tentativa
judiciárias haverá um plantão permanente de 24 horas do
do delito.
Poder Judiciário e do Ministério Público para apreciação dos
pedidos de prisão temporária. O juiz que atua nesse sentido b) Flagrante esperado - o elemento não é induzido,
não se torna prevento; se for o juiz titular, sim. resolvendo por si cometer o crime. As autoridades, avisadas,
esperam a ocorrência do delito para efetuar a prisão.
2.2. Prisão em Flagrante
Nos crimes que correspondem a uma infração prevista na
Também pode ser chamada de prisão pré-cautelar. Sob
Lei dos Juizados Especiais (Lei 9.099 de 26/09/1995) não há
uma ótica etimológica, “flagra” significa estar em chamas,
prisão em flagrante, apenas um auto circunstanciado.
ardendo em chamas. Significa surpreender alguém enquanto
está cometendo um delito penal. 2.2.1. Auto de Prisão em Flagrante
A prisão em flagrante é um conjunto de atos que se refletem Os procedimentos para a elaboração do auto de prisão em
principalmente em dois momentos: flagrante estão expressos no Artigo 304 do CPP:
“Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta
a) a pessoa é surpreendida e presa em flagrante
o condutor e as testemunhas que o acompanharam e
b) elaboração de um ato de prisão em flagrante e interrogará o acusado sobre a imputação que lhe é feita,
determinação do recolhimento (geralmente em uma lavrando-se auto, que será por todos assinado”.
delegacia).
Apesar do uso do plural, para a jurisprudência, basta a
No primeiro momento (a), qualquer pessoa pode (faculdade) apresentação de uma testemunha. No caso da ausência desta
ou uma autoridade policial (dever). o condutor e pelo menos duas pessoas que hajam
testemunhado a apresentação do preso à autoridade deverão
O flagrante pressupõe dois elementos: estar cometendo o
assinar o auto (Artigo 304, §2).
delito e alguém estar vendo. O Artigo 302 do CPP,
estabelece as condições para o flagrante: Quando não for possível ouvir o acusado, o auto precisará
apresentar a razão dessa impossibilidade e ser assinado por
a) está cometendo a infração penal (flagrante próprio)
duas testemunhas (Artigo 304, §3).
b) acaba de cometê-la (flagrante próprio)
Se o acusado for maior de 18 anos menor de 21 um curador
c) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido será nomeado para que acompanhe a lavratura do auto e o
ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser assine.
autor da infração (flagrante impróprio).
O prazo: feito o auto de prisão em flagrante, a autoridade
d) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, tem dez dias para encerrar o inquérito.
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da
A Constituição Federal, em seu Artigo 5, incisos LXI a
infração (flagrante presumido).
LXIII:
Em “c”, a palavra chave é perseguido; é preciso que seja
a) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou
logo após o ato, não importando quanto tempo dure a
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
perseguição; é preciso que esta seja ininterrupta, não
competente.
importando se foi a mesma pessoa que a realizou e que
efetuou a prisão. b) LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz
Em “d”, pressupõe-se doutrinariamente que a infração já é
competente e à família do preso ou à pessoa por ele
conhecida e que já está sendo investigada. Contudo, isso não
indicada.
ocorre na prática; a simples suspeita da infração já é motivo
para a prisão em flagrante. c) LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
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assistência da família e de advogado. ter várias condenações por estes crimes, sem nunca ser
reincidente. Para fins processuais, este passado criminoso irá
No caso do flagrante, o auto deverá ser enviado ao juiz em
caracterizar para o juiz maus antecedentes.
até 24 horas; é ele quem faz a avaliação da necessidade da
prisão. No documento deve constar quem o acusado quer Na verdade há duas concepções de Primário: aquele que
que seja comunicado. A palavra “assistência” não significa nunca foi condenado e aquele que não é reincidente (posição
necessariamente presença. majoritária na jurisprudência).
O §1 do Artigo 304 determina: “Resultando das respostas 2.3.1. Apelação em Liberdade
fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade
Segundo o Artigo 594 do CPP: “O réu não poderá apelar
mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se
sem recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se for
solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do
primário e de bons antecedentes, assim reconhecidos na
inquérito ou processo (...)”. O preso pode ser solto nos casos
sentença condenatória, ou condenado por crime de que se
de crimes cuja pena seja menor que três meses ou multa. A
livre solto”. Este artigo cerceia e restringe o princípio
fiança, seguida de liberdade provisória, é arbitrada pela
constitucional da ampla defesa e o direito do preso ao
autoridade policial nos casos de crimes, cuja pena seja de
recurso; este é obrigado a ser preso para que possa recorrer.
detenção, e contravenções penais.
2.4. Prisão Preventiva
Não se deve confundir:
É, por excelência, uma prisão cautelar. É prevista no CPP,
a) Relaxamento da Precisão de Flagrante - quando há um
entre os Artigos 311 e 316. O princípio da presunção da
vício ou quando não ocorre o flagrante.
inocência impõe a esse tipo de prisão algumas exigências;
b) Liberdade Provisória - quando já houve o flagrante e ser:
este é válido, mas há o direito do preso em ficar solto,
a) Necessária.
segundo o que determina a lei.
b) Adequada.
2.3. Prisão Decorrente de Pronúncia
c) Proporcional a uma posterior condenação
É uma decisão judicial exclusiva dos processos de júri. É
uma decisão de admissibilidade do processo e d) Motivada em fatos específicos e não e uma previsão legal
encaminhamento do réu ao júri; é o antigo Sumário de geral e abstrata.
Culpa.
e) Não pode ser antecipação da pena.
É prevista no Artigo 408 do CPP. Após a pronúncia do réu, o
Por ser, de todas, a prisão judicial que tem características
juiz deve recomendá-lo à prisão, ou expedir ordem para sua
mais típicas da cautelaridade, deve ser decretada somente
captura. Se o réu for primário e de bons antecedentes,
quando, no caso específico, a liberdade do acusado colocar
poderá o juiz deixar de decretar-lhe a prisão ou revogá-la,
em risco:
caso já se encontre preso. Os requisitos são: a prova da
existência do crime e os indícios de autoria. a) ordem pública.
De certa forma a prisão decorrente de pronúncia não é uma b) ordem econômica.
prisão cautelar, na medida em que não se refere a um caso c) instrução processual.
específico que exija uma cautela prévia. É, na verdade, uma
regra geral, válida para todo os crimes de júri. d) garantia da aplicação da lei penal, se condenando.

Quanto à primariedade cabe uma reflexão: Segundo o Artigo 312: “A prisão preventiva poderá ser
decretada (...) quando houver prova da existência do
a) Reincidente - aquele que comete um crime e é crime e indício suficiente de autoria”. Não bastam os
condenado depois de uma condenação transitada em julgado indícios, suspeitas ou presunções do crime; é necessária a
anterior. Para fins processuais, durante o trânsito deste prova material do crime. A prisão preventiva não é possível
segundo processo ele será tratado como reincidente, mesmo nos casos de contravenção, uma vez que a lei fala somente
ainda não sendo. em “crime”.
b) Primaríssimo - aquele que teve apenas uma condenação Pode ser decretada em durante a fase de inquérito policial ou
transitada em julgado. Para fins processuais, durante o em qualquer momento da instrução do processo (Artigo
trânsito deste processo ele será tratado como primário. 311).
c) Primário - Quando o indivíduo comete vários crimes Em nome da proporcionalidade, o Artigo 313 determina
antes da primeira condenação transitada em julgado. Poderá que será admitida a decretação da prisão preventiva nos
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crimes dolosos: sendo que posteriormente será solto, mesmo se condenado.
a) punidos com reclusão; b) quando o máximo da pena privativa de liberdade não
exceda a três meses; são as infrações de pequena reprovação
b) punidos com detenção, quando houver dúvida sobre a
social.
identidade do indiciado;
Posteriormente foram criadas outras formas:
c) se o réu tiver sido condenado por outro crime doloso, em
sentença transitada em julgado, ressalvado o previsto no c) liberdade provisória prevista na Lei dos Juizados
parágrafo único do Artigo 46 do Código Penal (prazo Especiais (Lei 9099/95), para infrações de menor potencial
depurador de cinco anos). ofensivo. Nestes casos, o indivíduo não pode ser preso em
flagrante delito; caso seja, ganhará a liberdade provisória
A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz
com uma obrigação: comparecer à audiência em que se
verificar, pelas provas, constantes dos autos ter o agente
tentará um acordo.
praticado o fato: em estado de necessidade, legítima defesa,
ou em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício d) nos casos em que couber fiança e o réu não puder pagar
regular de direito; condições do Artigo 23 do Código Penal (Artigo 350), poderá ser concedida uma liberdade provisória
(Artigo 314). com vínculos. Esses vínculos, previstos nos Artigos 327 e
328, são: comparecer perante a autoridade quando intimado,
3. Liberdade Provisória
não mudar de residência, sem prévia permissão, ou ausentar-
A liberdade provisória pode ser pedida em duas situações: se por mais de oito dias sem comunicar onde será
encontrado.
a) alguém está preso e será solto durante o processo; é o
caso da hipótese da prisão em flagrante e posterior soltura. e) quando da prisão em flagrante o juiz verificar que agente
praticou o fato, nas condições do Artigo 23 do Código Penal
b) alguém deveria estar preso, mas fica solto se concedida a
(estado de necessidade, legítima defesa ou em estrito
liberdade provisória; é o caso de prisões decorrentes de
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de
decisão de pronúncia, ou de sentença penal irrecorrível, ou
direito) poderá conceder a liberdade provisória com ônus
ainda de acórdão condenatório.
(comparecer a todos os atos do processo) (Artigo 310). O
Antigamente a liberdade provisória era entendida como uma mesmo será adotado quando verificam nos autos de
contra-cautela, como é a fiança. Hoje, entende-se que prisão flagrante que não cabe prisão preventiva (artigos
também é uma cautela. A regra na sociedade é a liberdade, 311 e 312).
mesmo de um acusado, onde prevalece a presunção de
3.1.2. Liberdade Provisória com Fiança
inocência. Já com a liberdade provisória, o indivíduo fica
sujeito a um ônus, que caracteriza uma cautela, uma Fiança é o valor pago, em dinheiro ou objeto, para que a
liberdade vinculada. pessoa possa ficar em liberdade provisória.
A Constituição, em seu Artigo 5, inciso LXVI determina que Em nosso sistema, como regra, tinha a liberdade provisória
ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei com fiança. O parágrafo único do Artigo 310 (“... conceder
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. ao réu liberdade provisória (...) quando o juiz verificar, pelo
auto de prisão em flagrante, a inocorrência de qualquer das
Do ponto de vista subjetivo (do acusado) a liberdade
hipóteses que autorizam a prisão preventiva (artigos 311 e
provisória é um direito subjetivo público; do ponto de vista
312)”). Dessa forma, com essa redação, o juiz não vai
objetivo (do Estado) é uma cautela.
conceder a liberdade provisória apenas se encontrar alguma
3.1. Classificações vedação legal.
São vários os tipos de liberdade provisória: As vedações são:
3.1.1. Liberdade Provisória sem Fiança a) Artigo 323, inciso I (“crimes punidos com reclusão em
que a pena mínima cominada for superior a dois anos”) -
A liberdade provisória pode ser sem fiança e sem vínculos. pena cominada é a pena prevista no Código Penal e não a
É o caso do previsto no Artigo 321: “ressalvada o disposto aplicada no caso concreto. No caso de vários crimes cujas
no Artigo 323, III e IV (crimes dolosos punidos com pena penas somadas são maiores que dois anos, tem-se entendido
privativa da liberdade, com o réu já com condenação que não cabe liberdade provisória.
transitada em julgado em doloso, e réu vadio) o réu livrar-se
a solto independentemente de fiança”: b) Artigo 323, inciso II (“nas contravenções tipificadas nos
artigos 59 e 60 da Lei das Contravenções Penais”).
a) no caso de infração não punida com pena privativa de
liberdade; não há sentido de o acusado permanecer preso, c) Artigo 323, inciso III (“nos crimes dolosos punidos com
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pena privativa da liberdade, se o réu já tiver sido condenado b) a situação econômica do afiançado (§1).
por outro crime doloso, em sentença transitada em
A fiança ainda pode sofrer três tipos de alteração:
julgado”).
a) Quebra da Fiança - (Artigos 327, 328 e 341) ocorre
d) Artigo 323, inciso IV (“em qualquer caso, se houver no
quando o sujeito deixa de cumprir as obrigações assumidas
processo prova de ser o réu vadio”).
(não se ausentar, comparecer aos atos do processo, não
e) Artigo 323, inciso V (“nos crimes punidos com reclusão, cometer outras infrações penais) O quebramento da fiança
que provoquem clamor público ou que tenham sido importará a perda de metade do seu valor e a obrigação, por
cometidos com violência contra a pessoa ou grave ameaça”) parte do réu, de recolher-se à prisão (Artigo 343).
- o clamor público tem origem nas ordenações portuguesas.
b) Cassação da Fiança - (Artigos 338 e 339) ocorre quando
Há dúvidas quanto à violência (como da lesão corporal, por
há a concessão irregular da fiança, ou quando há a mudança
exemplo).
da classificação do crime.
f) Artigo 324, inciso I (“aos que, no mesmo processo,
c) Perda da Fiança - (Artigo 344) ocorre quando o réu não
tiverem quebrado fiança anteriormente concedida”) -
se apresenta à prisão.
cometer outro crime durante o período de fiança.
4. Prova
g) Artigo 324, inciso II (“prisão por mandado do juiz do
cível, de prisão disciplinar, administrativa ou militar”). Toda pretensão jurídica está fundamentada em um fato. Este
não necessariamente é verdadeiro. A verificação da
h) Artigo 324, inciso III (“ao que estiver no gozo de
veracidade torna-se necessária. Assim, a prova é o
suspensão condicional da pena ou de livramento
instrumento pelo qual se forma a convicção do juiz sobre a
condicional, salvo se processado por crime culposo ou
ocorrência ou não de um fato.
contravenção que admita fiança”).
No Direito Civil, os fatos que devem ser comprovados são
i) Artigo 324, inciso IV (“quando presentes os motivos que
aqueles pertinentes, relevantes e controversos. No Direito
autorizam a decretação da prisão preventiva”) - segue a
Penal não existe a incontrovérsia; todo e qualquer fato
orientação do Artigo 310, pois segundo ele, nestes casos não
dever ser provado, mesmo aqueles confessados. O
cabe nem liberdade provisória, quanto mais fiança.
fundamento jurídico para isso é que no Direito Penal a
De uma forma geral, a fiança não mais importa no curso do pretensão punitiva é sempre resistida.
processo penal. Essa importância permanece apenas em
Além dos fatos incontroversos, há os fatos notórios, os de
alguns casos. Um deles é quanto à prisão em flagrante com
conhecimento público. Estes também devem ser provados,
entorpecente. A autoridade policial somente poderá arbitrar
especialmente se forem os fatos que determinaram a autoria
fiança nos casos de infração punida com detenção ou prisão
ou tipificação. Os fatos que determinam uma presunção
simples (Artigo 322). Por exemplo: no caso de prisão
também exigem prova Um exemplo é a presunção de
portando entorpecente (Lei 6.368 de 21/10/1976), caso o
violência em um estupro, sendo a vítima menor de 14 anos:
indivíduo esteja enquadrado no Artigo 16 (uso) é possível
deve-se provar que o infrator tinha conhecimento da idade
arbitrar fiança, caso seja enquadrado no Artigo 12 (tráfico)
da vítima.
não.
Já os elementos do Direito devem ser provados quando este
A liberdade provisória sem fiança cabe em todos os casos
for:
em que não cabe prisão preventiva (Artigo 310, parágrafo
único). As exceções são: os crimes contra a economia a) Municipal
popular e os crimes de sonegação (Artigo 325, §2). O
b) Estadual
mesmo vale para os casos de prisão em flagrante em crimes
hediondos ou seus assemelhados (Lei 8.072/90, Artigo 2, c) Estrangeiro
inciso II). Já a Lei contra os crimes de Tortura permite a
liberdade provisória; apenas veda a fiança. A jurisprudência d) Consuetudinário - princípios não objetivos como
tem resolvido esse problema da Lei dos Crimes Hediondos, “injusto”, “indevidamente” etc, nos quais se verificam os
buscando desqualificar a denúncia para outro crime que não elementos dos costumes de cada região.
seja classificado como hediondo. Distinções de seus elementos:
O cálculo da fiança está expresso Artigo 325. Para isso a) Fonte de Prova - fato perceptível pelo juiz.
devem ser usados dois critérios:
b) Meio de Prova - instrumentos pelos quais se fixam os
a) a duração do pena privativa de liberdade (alíneas). fatos ao processo (testemunhos, perícias, exames de corpo
de delito etc). Há meios que não têm previsão legal, mas que
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podem ser usados; o exame de DNA, por exemplo. autos; está livre para formar sua convicção, mas precisa
fundamentar suas decisões (sistema adotado no Brasil).
c) Objeto de Prova - campo no qual o juiz forma sua
convicção pelas provas apresentadas. O juiz é livre para admitir provas visando atingir a verdade
real até os limites da acusação; isto é, até os limites da
As provas formuladas em um processo não podem ser pretensão jurídica invocada. Caso a verdade real fosse
transportadas para outro se ambas as partes não tenham buscada a qualquer custo, a atividade jurisdicional poderia
participado da elaboração destas no primeiro processo. ser levada até os limites de uma atividade inquisitória.
Algumas limitações à prova: 4.3. Provas Ilícitas
a) Depoimento de Parentes - Artigo 206. Constituição Federal, Artigo 5, inciso LVI: “são
b) Segredo Profissional - Artigo 207 inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos”.
c) Provas de Estado - Artigo 155 (“No juízo penal, somente
quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições A ilegalidade de um ato pode ser tanto processual (falta de
à prova estabelecidas na lei civil”). citação, por exemplo, que encerra o processo crivado de
ilegalidade) quanto material, quando esta se dá sobre um
4.1. Ônus da Prova direito inviolável do cidadão (invasão domicílio, conversas
O autor deve provar os fatos constitutivos do Direito telefônicas, correspondência etc) que, inevitavelmente, terá
(materialidade e autoria). Ao réu cumpre provar os fatos efeitos no processo.
impeditivos, modificativos ou extintivos desse direito. Quando a ilegalidade fere o direito material temos uma
Mesmo que a defesa não consiga provar categoricamente Ilicitude que gera a inadmissibilidade da prova. Quando
esses fatos ainda assim não haverá a certeza de uma fere o Direito Processual temos uma Ilegitimidade,
condenação. O ônus da defesa é um ônus imperfeito, gerando uma nulidade.
resguardando o princípio do “in dubio pro reu”.
Os princípios que determinam a ilegalidade de uma prova
Antes de ser um ônus, a prova é um direito da parte. As
constam da Convenção de São José da Costa Rica.
partes têm o direito à elaboração, formação, análise da prova
em contraditório. Além de um direito à produção das provas, As provas ilícitas podem gerar provas derivadas. Para a
as partes têm um direito à valoração da prova. A ausência doutrina, as provas derivadas são tão inaceitáveis quanto as
desta valoração pode ser extrínseca, quando o juiz deixa de ilícitas (Teoria da árvore Envenenada).
valorar uma prova que está nos autos, ou intrínseca, quando
No entanto, a doutrina entende duas exceções:
este comete um erro lógico-jurídico na valoração, tomando-
a de forma errada. a) quando não há uma relação de causalidade entre a prova
originária e a derivada; o vínculo entre as duas é tênue ou
4.2. Momento da Prova
distante.
São os momentos do processo:
b) quando a prova derivada seria, inviavelmente, descoberta,
a) Proposição - é o momento processual fixo quando as mesmo sem a existência da prova ilícita.
partes devem determinar quais as provas deverão solicitar.
A sanção à prova ilícita é a sua inadmissibilidade no
b) Admissão - decisão judicial onde são deferidas as provas processo. A proposta de revisão do CPP, atualmente em
propostas pelas partes. Nesse momento o juiz impede a tramitação, prevê a não aceitação tanto das provas ilícitas
apresentação de provas manifestamente ilegais ou ilícitas. quanto das derivadas.
c) Produção - momentos onde as provas propostas e A descoberta da utilização de provas ilícitas, depois de
admitidas são fixadas ao processo. proferida a sentença, pode gerar a nulidade do processo,
quando for um julgado pelo Tribunal do Júri, ou uma revisão
d) Valoração - no mundo existem três sistemas de valoração
criminal, com a absolvição do réu. No caso da descoberta da
da prova:
prova ilícita durante o processo, a moderna doutrina
I - Íntima Convicção e Livre Apreciação - o juiz tem determina que não só a prova seja removida dos autos, com
ampla liberdade para julgar segundo sua convicção. também haja a substituição do juiz que já tomou
conhecimento desta.
II - Prova Legal ou Prova Tarifada - a legislação fixa com
rigor o valor de cada prova 4.4. Perícia
III - Persuasão Racional - o juiz está restrito às provas dos A prova serve tnato para ajudar o juiz a formar sua

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convicção quanto para informá-lo de alguma coisa. Os auto-incriminação). Os Artigos 186 (o silêncio pode ser
Meios de Prova são as formas pelas quais a fontes (mundo interpretado como prejuízo da defesa) e 198 (o silêncio
sensível) são fixadas ao processo. Os principais meios de como elemento de convicção do juiz) foram revogados pela
prova penal são os exames de corpo de delito e os laudos atual Constituição.
periciais.
Há na doutrina três teorias sobre o sentido do interrogatório:
a) Perícia - é sempre pública, não podendo ser apresentada
a) meio de prova
pela parte, podendo esta formular quesitos até o ato da
diligência (CPP, Artigo 176). O perito é um assessor do juiz; b) elementos de defesa com possibilidade de formação do
é o elemento de maior poder de convicção deste. Esta força convencimento.
é dada pelo caráter científico e técnico deste meio. O perito
c) ato de defesa sem qualquer possibilidade de auto-
pode ter seu laudo rejeitado apenas por erro ou dolo.
incriminação.
b) Instrumentos de Delito - materiais e equipamentos
O interrogatório é um ato imprescindível e inafastável do
utilizados para a realização do crime (Artigo 175). De uma
Direito Penal. Segundo o Artigo 564, inciso III, alínea e, sua
forma geral, o instrumento utilizado pode indicar o
ausência gera a nulidade absoluta do processo.
“animus” do acusado quando da ocorrência. Também pode
indicar outros aspectos psicológicos: crueldade, violência, 4.6. Reconhecimento de Pessoas
descuido etc.
É um processo de estrita observância do Código Penal, com
c) Corpo de Delito - dados materiais sobre o delito. No caso alto grau de erros. É um juízo de identidade entre a imagem
de delitos que deixam vestígios (“delicta facta permanenti”) da memória e a pessoa reconhecida. Segundo Manzini, “não
somente podem ser provados pelo exame corpo de delito. é um meio de prova, mas apenas um juízo de avaliação”;
Estes exames podem ser: contudo, todos os outros autores reconhecem como sendo
um meio de prova, de “real valor probatório”.
I - Direto - exame sobre o próprio vestígio, não podendo
supri-lo a confissão do acusado (Artigo 158). É um meio de prova que se faz em face do julgador, que vê
as reações de reconhecedor e de reconhecido. Tem extrema
II - Indireto - exame produzido sobre outros elementos,
relevância, influenciando diretamente na convicção desse
depois de desaparecidos os vestígios (fichas médicas,
julgador.
testemunhas etc) (Artigos 167 e 168).
Os procedimentos de reconhecimento estão expressos no
Segundo parte da doutrina, essa é uma prova tarifada na
Artigo 226 do CPP. No ato de reconhecimento, a pessoa
medida que é estabelecida como a única forma de prova
reconhecida deve estar em meio a outras da mesma idade,
(Artigo 158). Outra parte dita garantista, afirma que a
cor e altura. Além disso, deve haver a prévia descrição da
exigência legal determina uma certeza de que ninguém será
pessoa por aquela que deverá fazer o reconhecimento. Esse
processado criminalmente sobre um fato que não tenha, ao
processo pode ser feito por fotografias, desde que estas
menos, existido.
estejam também junto a outras. Também pode ser feito por
O Laudo (instrumento hábil) de um perito é composto de voz, mas exige cautela redobrada.
partes: Preâmbulo, Descrição, Conclusão, Complementação.
4.7. Acareação
Em seu lado, o perito deve responder às questões propostas
pelas partes, assim como os quesitos legais (CPP, Artigos É a defrontação da vítima com o agressor. É um meio de
171 a 174). Contudo, segundo o Artigo 182, o juiz deve ficar prova que exige maior complexidade. A pessoa deve lembrar
adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou daquilo que viu (reconstituição do crime) e daquilo que
em parte. O laudo de uma perícia de morte violenta deve ouviu. O juiz fixa os pontos relevantes, mostra que são
responder às questões expostas nos Artigos 162 a 164. No divergentes e passa a formular perguntas (estabelece um
caso de lesões corporais, ao exposto no Artigo 168. debate). A acareação é reduzida a termo, registrando a
firmeza e credibilidade da testemunha.
A função do perito é legal, prevista no CPP, entre os artigos
275 e 281. Como regra, os peritos são oficiais, podendo Os acusados e as vítimas não têm a obrigação de dizer a
também não ser (Artigo 159, §1). verdade. Dessa forma, a acareação serve apenas para as
testemunhas.
4.5. Interrogatório do Acusado
O CPP, no Artigo 239, define indício como sendo
O interrogatório é um meio de prova exclusivo do juiz,
circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o
previsto nos Artigos 185 a 198. Durante o interrogatório
fato, autorize, por dedução (o código fale em “indução”),
deve ser respeitado o princípio constitucional do silêncio do
concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
réu e que este não pode ser usado contra ele (direito à não
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4.8. Presunção que nem tudo foi recepcionado pela Constituição Federal.
Deve cumprir requisitos legais para não violar os direitos e
A presunção é um meio de prova que exige uma verificação
garantias individuais. É um ato jurídico que acontece no
em concreto. A presunção pode estar na lei ou nos princípios
corpo, na casa ou na vestimenta das pessoas.
gerais do Direito.
Essa busca não pode ter o caráter de uma devassa, devendo
4.9. Documento
sempre ser fundamentada, apresentadas as suspeitas
Documento é o objeto ou coisa através da qual, por fundadas tanto do crime quanto da autoria. Deve haver
linguagem simbólica, pode-se extrair provas de um fato. elementos firmes, objetivos e concretos de que, feita a
Segundo o CPP, Artigo 232, consideram-se documentos busca, encontrar-se-ão as provas do corpo de delito. Exige
quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou mandado; este poderá ser dispensado em três situações:
particulares. Isto é, elementos corpóreos que posam registrar
a) Quando há a suspeita que o preso porta uma arma.
um fato.
b) Quando há a suspeita que o preso porta o corpo de delito.
Deve-se distinguir o Instrumento: prova pré-concebida
para a demonstração de um fato, que deve ser interpretada c) Durante uma busca domiciliar autorizada por mandato.
de forma extensiva (exemplo: escritura pública).
O conceito de “casa” está expresso no Artigo 246 do CPP:
São Documentos Públicos aqueles que têm forma legal e/ou “(...) compartimento habitado ou em aposento ocupado de
são emitidos por um funcionário público competente. São habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao
documentos públicos por equiparação os cheques, valendo público, onde alguém exercer profissão ou atividade”. O
tanto o original quanto sua cópia. Artigo 5, inciso XI da Constituição Federal apresenta a casa
como o asilo inviolável e expressa as exceções. Para o
O documento pode ser juntado aos autos em qualquer fase
professor, a ausência de um mandato judicial, de uma forma
do processo. As exceções são no que diz respeito ao Artigo
geral, gera a ilegalidade da prova.
406 do CPP e no prazo de três dias antes do julgamento da
causa, para não prejudicar o contraditório. Quanto à essa Há divergência na doutrina quanto ao que venha a ser uma
apresentação, o CPP apresenta duas redações diferentes para “fundada razão”. Para alguns autores, a busca e apreensão
o mesmo problema: Artigos 231 e 400. podem acorrer quando houver uma fundada suspeita da
situação de flagrância. Isso ocorre especialmente quanto à
Segundo a jurisprudência na Segunda instância não pode
apreensão de tóxicos. Os juizes mais conservadores
haver a juntada de documentos, apenas no caso de pena
respeitam o “asilo inviolável” é válido para a moradia, mas
agravada. Isso porque subtrai um grau de jurisdição, uma
não para um depósito de substâncias entorpecentes. Os
vez que o juiz de primeira instância não tomou
doutrinadores dividem-se quanto o bem maior a ser
conhecimento.
preservado: a saúde pública (no caso específico da lei de
A produção do documento pode ser: entorpecentes) ou as garantias individuais.
a) Espontânea – a parte interessada apresenta. 4.11. Escuta Telefônica
b) Coacta – é feita a requisição e a juntada compulsória. A intercepção telefônica consiste na captura de um sinal
telefônico entre dois pontos e duas pessoas, feito por um
A carta é um documento importante, desde que seja obtida
terceiro (elemento necessário). Quando não há este terceiros
de forma lícita. O destinatário de uma carta pode exibi-la
elemento, tem-se apenas uma gravação clandestina. Caso
sem autorização do autor desde que seja para provar seu
haja a gravação de uma conversa ao vivo entre duas pessoas,
direito. Segundo o Artigo 153 do Código Penal, a
feita pro um terceiro tem-se uma interceptação.
divulgação de segredo, sem justa causa, é crime.
A Constituição Federal em seu Artigo 5, inciso XII, diz que
Um documento em poder do advogado de um acusado não
as comunicações telefônicas são invioláveis, salvo por
pode ser apreendido; já o corpo de delito em poder do
determinação judicial. Há polêmica de como deve ser feita
mesmo pode ser.
essa autorização. Discute-se se o Código Brasileiro de
4.10. Busca e Apreensão Telecomunicações (Lei 4.117 de 27/08/1962), que permite
que o receptor da comunicação revele o teor desta, teria sido
É um meio de prova acautelatório e coercitivo. Consiste na recepcionado pela Constituição Federal de 1988.
busca de pessoa ou coisa, para servir aos interesses penais
ou processuais. Tem um sentido cautelar: “fumus boni iuris” A interceptação tem natureza cautelar; visa captar
e “periculum in mora”. comunicação telefônica para sua introdução em um processo
penal. A prova é a escuta e o meio de prova a forma de
Está prevista entre os Artigos 240 e 250 do CPP, apesar de fixação ao processo.
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Valor probante: caso a parte contra quem foi feita a gravação a) o prazo fica suspenso até o comparecimento do réu.
alegue que não é sua voz que está na fita, será feita uma
b) o prazo seria proporcional à gravidade do crime.
perícia.
c) o prazo é um tempo certo (20 ou 30 anos).
5. Atos de Comunicação Processual
Neste caso, o juiz pode determinar a produção antecipada de
5.1. Citação
provas. A provas dev3m preservar a memória dos fatos, que
A citação é prevista entre os Artigos 351 e 369 do CPP. É o tendem a desaparecer. Essa produção pode ser feita mesmo
ato que dá ciência ao acusado para que compareça em juízo que o processo esteja suspenso, tendo um caráter cautelar.
e defenda-se. Segundo o CPP, este ato pode ser feito de Da mesma forma, o juiz pode decretar a prisão preventiva
maneira pessoal ou por edital. do acusado, se isso for possível.
No caso de acusado ausente, a citação pode ser: 5.2. Notificação e Intimação
a) Por Precatória – acusado em comarca distinta. A intimação é o ato de dar ciência de um ato já praticado. A
notificação é o ato de dar ciência de um ato que ainda deva
b) Por Rogatória – acusado em outro país.
ser realizado. O CPP não usa de forma muito clara as duas
O código prevê três possibilidade de citações especiais: palavras; a tendência hoje é acabar com a palavra
militar (por intermédio do chefe do respectivo serviço), notificação e usar somente intimação.
funcionário público (será notificado ao chefe de sua
5.2.1. Intimação – Sentido Lato
repartição) e réu preso (será requisitada a sua apresentação
em juízo). A intimação pode ser pessoal ou feita por edital (segundo as
regras da citação). A intimação feita para o advogado do
A citação pode ser feita por mandato ou por edital. Segundo
acusado ou para o assistente do Ministério Público deve ser
o Artigo 357, são requisitos da citação por mandado:
feita pela Imprensa Oficial, o que causa problemas quando o
a) leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da prazo é exíguo. Um exemplo disso é o Artigo 499, que prevê
contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação; um prazo de 24 horas para o requerimento de diligências.
b) declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, O representante do Ministério Público recebe a intimação
e sua aceitação ou recusa. em seu gabinete, de forma pessoal e não pela imprensa. O
prazo para ele começa a correr no momento em que toma
A citação será feita por edital
ciência. O defensor público (assistência judiciária) é
a) réu não encontrado – prazo de 15 dias (Artigo 361). intimado também pessoalmente. As partes e testemunhas
também são intimadas de forma pessoal.
b) réu se oculta para não ser encontrado – prazo de 15 dias
(Artigo 362). 6. Sentença
5.1.1. Suspensão do Processo No Processo Civil os atos do juiz são: decisão interlocutória,
despachos e sentença. No CPP há vários problemas. Há
Até 1996, caso o reu citado por edital não comparecesse, era confusão ente os termos, sendo que as vezes aparece a
decretada a revelia e o processo seguia seu curso, podendo palavra despacho com o sentido de decisão.
até mesmo advir a condenação. Isso foi alterado pela lei
9.271, de 17/04/1996. Para o professor Scarance a classificação seria:
Agora, segundo o Artigo 366, se o acusado, citado por a) Despacho – ato de movimentação processual (exemplo: o
edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão despacho de recebimento da denúncia não é um despacho,
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional. São pois há uma decisão sobre a presença das condições da
requisitos para essa suspensão do processo: ação).
a) réu citado por edital. b) Decisões Definitivas – que definem, que resolvem a
causa, o litígio. Podem ser de dois tipos:
b) réu ausente.
I – Decisões Definitivas em Lato Senso – que encerram o
c) réu sem defesa. processo sem condenar ou absolver. Quando O CPP refere-
Esses requisitos visam proteger aquele que, acusado, não se a elas usa o termo decisão definitiva (exemplo no Artigo
sabe que está sendo processado. Da mesma forma que o 59). Podem ser:
processo, o prazo prescricional (prazo para que haja o fim da 1. Que Julgam o Mérito – exemplo a decisão por
punibilidade) também é suspenso. A lei não fala por quanto prescrição.
tempo será essa suspensão, havendo várias interpretações:
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2. Que Não Julgam o Mérito – exemplos: decisão de se esta pode ser substituída por uma pena restritiva de
recusa da denúncia por inépcia, acolhimento da exceção de direitos. Também é na sentença que o juiz determina se o réu
coisa julgada, extinção da punibilidade pela morte do réu. pode apelar ou não em liberdade.
II – Decisões Definitivas em Estrito Senso – que b) Pena Restritiva de Direitos - na verdade é um
condenam ou absolvem. desmembramento do item anterior, uma vez que o juiz a
determina, de for o caso, depois de fixar a pena privativa de
c) Decisões Interlocutórias Simples – proferidas no
liberdade. O juiz deve decidir dentro de um amplo leque de
decorrer do processo (exemplo: indeferimento ou
opções a substituição.
deferimento do pedido de provas).
c) Pena de Multa - tanto pode substituir uma pena privativa
d) Decisões Interlocutórias Mistas – não são decisões
de liberdade quanto surgir como um pena autônoma. A
definitivas, mas também não são simples. Encerram o
atribuição da multa é feita em duas fases:
processo sem julgar o mérito (exemplo: execução de coisa
julgada), ou que encerram fases do processo (“sentença” de I - Fixação do Número de Dias-Multa - o número de dias-
pronúncia) ou com força de decisão definitiva (restituição de multa não será inferior a dez nem superior a 360. Essa
coisa apreendida). atribuição deve levar em conta a culpabilidade prevista no
Artigo 59.
6.1. Sentença Condenatória
II - Fixação do Valor de um Dia-Multa - deve-se levar em
Sentença Condenatória é aquela que julga precedente a
conta a situação econômica do réu. O valor não pode ser
acusação e aplica uma pena contra o réu. Segundo o Artigo
inferior a um trigésimo do maior salário mínimo, nem
381 do CPC, deve conter:
superior a cinco vezes o salário.
a) Relatório - resumo dos atos e fatos relevantes do
6.2. Sentença Absolutória
processo, devendo conter as teses tanto da acusação quanto
da defesa (Artigo 381, incisos I e II). A sentença deverá ser absolutória, segundo o Artigo 386 do
CPP, se:
b) Fundamentação - parte da sentença onde o juiz indica as
razões pelas quais ele vai chegar a uma decisão. Deve conter a) provada a inexistência do fato.
as razões de fato e as razões de Direito.
b) não haver prova da existência do fato.
c) Decisão - é onde ele apresenta efetivamente qual é sua
c) o fato não constituir infração penal.
decisão.
d) não existir prova de ter o réu concorrido para a infração
É na sentença condenatória que o juiz exerce a
penal.
individualização da pena. No sistema penal brasileiro as
penas podem ser privativas de liberdade (detenção ou e) existir circunstância que exclua o crime ou isente o réu de
reclusão) ou multa; podendo também ser única, alternativa pena (Legítima defesa, por exemplo).
(ou privativa ou multa) ou cumulativa.
f) não existir prova suficiente para a condenação (inciso
a) Pena Privativa de Liberdade - prisão simples, reclusão genérico que garante o “in dubio pro reu”)
ou detenção. Sua determinação exige um caminho trifásico:
Para o professor, para o réu há o ônus atenuado; ele deve
I - Fixação da Pena Base - Artigo 59 do Código Penal. É trazer ao processo provas que coloquem dúvidas, bastando
aqui que devem entrar os privilégios (crime privilegiado) e que esta dúvida seja razoável.
as qualificadoras.
6.2.1. Efeitos da Sentença Absolutória
II - Circunstâncias Genéricas Atenuantes e Agravantes -
No sistema brasileiro, uma sentença condenatória pode gerar
artigos 61 a 66 do Código Penal.
uma ação civil para reparação de danos. Esta ação está
III - Causas Especiais de aumento e Diminuição - prevista entre os Artigos 63 a 68 do CPP. Não há
tentativa, arrependimento, concurso formal (sempre acumulação de ações civis e penais, mas há efeitos que se
apresentam uma fração de aumento ou diminuição). comunicam. “Transitada em julgado a sentença
condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo
A doutrina mais conservadora diz que o juiz, não pode ir
cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu
além ou aquém dos limites legais na segunda fase, no que
representante legal ou seus herdeiros” (Artigo 63).
concorda o professor Scarance. Já na terceira fase o juiz não
tem esses limites. Uma concepção positivista de Direito determina que a
sentença tem que produzir: a condenação criminal e a
Uma vez atribuída a pena privativa de liberdade o juiz avalia
reparação civil.
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As decisões que resolvem sobre o fato e a autoria, somente inicial) que pode ser a denúncia ou a queixa crime. A ação
geram efeitos civis se determina de forma categórica que: penal é sempre do Estado, mas a queixa crime justifica-se
pela figura da substituição processual (o substituto age em
a) o fato inexistiu.
nome próprio para postular direito alheio); ou seja, o Estado
b) o réu não foi o autor do fato. sempre é o titular da ação penal.
Uma decisão no sentido do caso “b” faz coisa julgada em O Ministério Público é o titular exclusivo da Ação Penal
favor do acusado, mas não impede uma ação civil contra Pública. Nas ações privadas, o titular é o particular
terceiro. Já a decisão “a” faz coisa julgada civil e criminal. (substituto processual) que necessariamente postula através
de um advogado.
O previsto no Artigo 65 (sentença penal que reconhecer
estado de necessidade, legítima defesa, ou estrito O processo implica em uma relação processual através da
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de qual aflora o poder do Estado. O procedimento é a parte
direito) permite a ação civil segundo a reparação prevista no externa, palpável, deste processo (a distinção é meramente
Código Civil hoje. didática). A fase de investigação policial não é considerada
um procedimento, pois não há uma seqüência de atos
6.3. Nulidade da Sentença Penal
previamente estabelecidos e justapostos, encadeados e em
A sentença penal deve, segundo o Artigo 381 do CPP, ter seqüência.
obrigatoriamente:
É fundamental que o primeiro ato do processo atenda
a) os nomes das partes ou, indicações para identifica-las rigorosamente os requisitos específicos previstos em lei, sob
– pode haver problemas quando houver erro na identificação pena de viciar o processo.
do réu. Se o erro for apenas quanto ao nome, e não quanto à
Os requisitos obrigatórios da denúncia ou queixa estão
identificação, é possível haver correção sem nulidade. O
expresso no Artigo 41 do CPP:
problema há quando há apenas um nome e não uma
identidade. Nesse caso, o processo deve ser anulado. a) Clara e específica
Segundo o professor há aqui uma ilegitimidade passiva.
b) Nome e qualificação do acusado.
b) a exposição da acusação e da defesa – são as teses da
c) Classificação do crime.
acusação e da defesa. Gera a nulidade se isso for suprido em
outro ponto, seja no relatório, seja na motivação. d) Rol de testemunhas, quando for o caso.
c) a indicação dos motivos de fato e de direito que A denúncia ou a queixa crime podem ser incompletas,
fundamentam a decisão: devendo ser remetidas de volta para que sejam completadas.
Esta forma não deve ser confundida com a denúncia sem
I – Fato – quais elementos que formaram o convencimento
justa causa, que deve se rejeitada. Quando o acusado for
do juiz; a escolha de provas relevantes.
incerto não há possibilidade de acusação.
II – Direito – quanto ao item, são várias as posições, muitas
Formalidades secundárias da denúncia: data, hora,
divergentes.
classificação, rol de testemunhas. Estas somente podem ser
d) a indicação dos artigos de lei aplicados – seria o consideradas secundárias se não comprometerem a ampla
elemento de individualização da pena que, segundo o defesa.
professor, gera a nulidade total se houver qualquer dúvida
1.1. Processo x Procedimento
quanto à qualificação do crime.
Historicamente não havia distinção entre os termos processo
e) a data da sentença – é válida a data da chegada da
e procedimento. No século XIX começou-se a fazer essa
sentença ao cartório. Também haverá nulidade se, por um
distinção. O processo passou a ser entendido, de um lado,
problema de data, o juiz não for mais competente para
como uma parcela do poder do Estado, de outro, como a
proferir a sentença.
relação jurisdicional entre dois sujeitos de uma relação
f) a assinatura do juiz – segundo as regras gerias do processual. Já o procedimento é a exteriorização do
Direito, um documento sem assinatura é nulo ou inexistente. processo através do encadeamento seqüencial de atos. Um
Contudo, parte da doutrina tem uma visão salvacionista, contra-exemplo é o Inquérito Policial, que não é um
permitindo que a sentença seja aproveitada se não houver procedimento, uma vez que não há o encadeamento dos
dúvida quanto a quem a proferiu. atos, sendo apenas um rito.
1. Processo de Conhecimento Dada a inércia processual, os procedimentos penais somente
são iniciados quando provocados através da denúncia ou da
O processo penal tem início com a peça inicial (petição
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queixa. sistema inquisitório quem acusa é quem, geralmente, julga.
Também se vincula à autodefesa: não sendo o acusado um
O processo pode ser:
técnico, a autodefesa é praticada: por uma justificativa ou
a) Conhecimento - visa recompor a ordem jurídica negatória de autoria, ou pelo silêncio (o Artigo 186 do CPP
quebrada pelo crime. Inicia-se com a petição inicial visando sobre o silêncio não foi recepcionado pela Constituição
uma sentença final com a resposta estatal à prática do crime. Federal; ninguém é obrigado a produzir prova contra si). O
processo penal prevê um órgão acusador técnico (Ministério
b) Execução - forma de satisfazer o processo de
Público), assim também é garantida a obrigatória defesa
conhecimento.
técnica do acusado.
c) Cautelar - mecanismo que garante situações importantes
d) Princípio da Demanda - a atividade jurisdicional tem
para o processo de conhecimento (Exemplos: prisão
que ser provocada.
preventiva, prisão temporária etc).
e) Disponibilidade e Indisponibilidade - relaciona-se com
1.2. Processo de Conhecimento
a obrigatoriedade da ação penal. Prevalece em nosso sistema
O processo de conhecimento é organizado através de uma a regra da indisponibilidade da ação penal para os crimes de
longa série de procedimentos. Ação Penal Pública. No entanto, essa regra está mitigada.
Antes da Lei 9.099/95, prevalecia a indisponibilidade
São Princípios Ideais do Processo Penal fornecidos pelo absoluta; o Ministério Público não tinha discricionariedade
legislador: para não propor a ação. Hoje, para os delitos de pequeno
a) Meios seguros, rápidos e simples na busca da verdade em potencial ofensivo (cuja pena máxima não é maior que um
um processo penal; essa verdade é a determinação se houve ano) a ação penal não é obrigatória. Nesse caso ocorre uma
o crime e quem foi o autor. espécie de transação. O mesmo ocorre no Estatuto da
Criança e do Adolescente, no qual o perdão do crime, ou
b) Proporcionar a autor e réu igualdade de meios na remissão, impede a ação penal.
demanda.
f) Princípio da Verdade Real - deve-se buscar a verdade
c) Garantir o máximo de resposta social com o mínimo de além dos autos, apurando-se os fatos.
sacrifício individual da liberdade.
g) Princípio do Impulso Oficial - o Judiciário é inerte até o
d) Economicamente acessível a todos. momento em que é provocado; depois, é o juiz que o
São Princípios Concretos do Processo Penal: movimenta.
a) Imparcialidade do juiz - exigindo-se sua capacidade h) Princípio da Publicidade - é uma espécie de controle do
subjetiva (Constituição Federal, Artigos 95; 95, parágrafo Poder Judiciário. A publicidade é total entre as partes.
único, e Artigo 5, inciso XXII). Este princípio está associado i) Princípio da Economia Processual.
ao do juiz natural, às garantias e vedações da Magistratura
etc. h) Princípio do Duplo Grau de Jurisdição.
b) Igualdade de Oportunidades - para convencer o juiz, as 2. Procedimentos Processuais Penais
partes devem ter igualdades de oportunidades. Essa prática é O CPP é absolutamente assistemático quanto aos
ligeiramente mitigada: procedimentos processuais. Uma tentativa de sistematização
I - Em benefício do réu - “in dubio pro reu”. seria:
II - Revisão criminal - que permite a alteração “pro reu” de a) Processo Comum - apenas no CPP.
uma sentença condenatória já transitada em julgado. I - Ordinário - artigos 394 a 405 e 498 a 502 (crimes
III - Protesto por novo júri - (recurso privativo da defesa) apenados com a reclusão).
Artigo 607 do CPP, quando a sentença condenatória for de II - Sumário - artigos 539 (crimes apenados com a
reclusão por tempo igual ou superior a vinte anos. detenção) e 531 a 538 (contravenções penais).
IV - Embargos infringentes e de nulidade - (recurso b) Processo Especial - CPP mais legislação extravagante.
privativo da defesa) previstos nos Artigo 609 do CPP.
I - Júri - artigos 394 a 497.
c) Contraditório e Ampla Defesa - está associada à noção
de bilateralidade: a cada fato alegado, a parte contrária tem a II - Crimes Falimentares - artigos 503 a 512, além do
oportunidade de contraditar. O contraditório está ligado ao Decreto 7.661/45.
sistema acusatório (onde x acusa, z defende e y julga). No
III - Outros.
15
2.1. Crimes Apenados com Reclusão Agora começa uma nova fase: diligências, debates e
julgamento.
Os procedimentos do processo comum ordinário começam
no Artigo 394. 2.1.3. Diligências
O juiz, ao receber a queixa ou denúncia, designa dia e hora Segundo o Artigo 499, terminada a inquirição das
para o interrogatório, ordenando a citação do réu e a testemunhas, as partes - primeiramente o Ministério Público
notificação do Ministério Público. O réu ou seu defensor ou o querelante - dentro de 24 horas, poderão requerer as
pode, logo após o interrogatório, ou em três dias, oferecer diligências. Estas podem ser deferidas ou não pelo juiz,
alegações escritas e arrolar testemunhas. decisão da qual não cabe recurso.
Citação: Caso o réu não seja citado o processo, assim como 2.1.4. Debates
o prazo de prescrição fica suspenso, segundo o previsto no
A fase de debates serve exclusivamente para o
Artigo 366. Caso haja a citação válida, o réu deverá
convencimento do juiz. Manifesta-se primeiro o Ministério
comparecer para ser interrogado. Não comparecendo o
Público e depois a defesa, ordem que favorece a esta. A
processo irá continuar porque houve a ciência.
quebra dessa ordem gera nulidade.
2.1.1. Interrogatório
Ao final da dos debates são feitas as alegações finais do
O interrogatório é reproduzido em juízo porque no Ministério Público e da defesa, que não podem faltar.
interrogatório do inquérito policial não houve o
2.2. Crimes Apenados com Detenção
contraditório. Segundo o mesmo princípio, as provas
periciais produzidas durante o inquérito, ao ingressarem, no A previsão legal está nos Artigos 539 e 540, que estão
processo podem ser impugnadas quando submetidas ao insertos no rito das contravenções penais. A única forma de
contraditório. No inquérito essas provas são produzidas sob descobrir se se trata de um crime apenado com detenção é a
o regime de urgência sob pena de desaparecem os indícios. não presença da expressão: “... a que for cominada a pena
No interrogatório, o réu já pode começar sua defesa: calar- de reclusão...”; por exclusão, se não for reclusão será
se, negar os fatos, confessar os fatos, confessar justificando- detenção.
se.
O procedimento também se inicia com o inquérito policial,
Se o defensor já estiver presente ele será intimado para, em peças de informações ou auto de prisão em flagrante (fase
três dias, apresentar a defesa prévia. Se não estiver presente pré-processual). Após, há a denúncia ou a queixa (se forem
ao ato, será intimado no lugar indicado pelo réu para indeferidos caberá um recurso em sentido estrito), na qual
apresentar defesa prévia, também em três dias. são arroladas cinco testemunhas no máximo para a
acusação, e haverá a citação. Segue-se a citação para o
A defesa prévia é o único ato no qual se pode arrolar as
interrogatório.
testemunhas da defesa, até o número de oito; as da acusação
são arroladas na denúncia ou queixa. A defesa é previa é um Após o interrogatório há a defesa prévia (onde são arroladas
ato escrito que não representa defesa propriamente dita, mas cinco testemunhas, no máximo, para a defesa) Após a defesa
uma tentativa de extinção prévia do processo. É o ato que prévia há audiência para ouvir as testemunhas da denúncia.
também se presta à argüição de incompetência relativa do Após isso, há um despacho judicial de natureza saneadora
juízo, litispendência, coisa julgada, suspeição etc. A juntada (Artigo 499).
de documentos também se faz nesse momento.
Segue-se uma audiência de instrução (das testemunhas da
2.1.2. Audiência de Instrução defesa prévia), debates e julgamento. O despacho judicial é
feito logo após a audiência das testemunhas da defesa,
A primeira audiência de instrução é usada para ouvir as
aproveita o momento, saneia e já intima os presentes para a
testemunhas de acusação arroladas na denúncia ou queixa.
próxima audiência. Não existem aqui memoriais escritos. A
Todas devem ser ouvidas; caso alguma não o seja, será feito
lei quer que os debates ocorram oralmente. Na prática, pela
o desdobramento da audiência para que todas sejam ouvidas.
demora nas alegações finais orais, acabam sendo permitidas
As testemunhas são inquiridas pelo juiz segundo as questões alegações finais escritas, apesar de o juiz não ser obrigado a
formuladas pela acusação e depois pela defesa. deferir uma alegação por escrito.
Concluída essa fase, é marcada uma segunda audiência: para No final da audiência das testemunhas da denúncia pode-se
a outiva das testemunhas da defesa arroladas na defesa requerer diligências que serão avaliadas no despacho
prévia. O procedimento é similar ao da audiência anterior. judicial. No final da outra audiência, se houver requerimento
Encerrada esta audiência, termina a fase de instrução de diligências, pode o juiz, após os debates, converter o
processual ou procedimental. julgamento em diligência, ou se esta for tão imprescindível

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que não permita debates, o juiz estende no tempo a c) Desclassificação - (Artigo 410) é o reconhecimento da
audiência, para que se realize a diligência antes dos debates, não existência de um crime doloso contra a vida. Caso o juiz
inclusive dilatando para outro dia. seja incompetente para a nova classificação deverá remeter
os autos para o juiz competente.
2.3. Lei de Entorpecentes (Lei 6.368/76)
d) Pronúncia - (Artigo 408).
O rito está previsto nos Artigos 20 e seguintes da lei. Há a
fase pré-processual da mesma forma: denúncia, citação, 2.4.1. Pronúncia
interrogatório, defesa prévia (cinco testemunhas, da mesma
Para que haja a pronúncia são necessários: a certeza do
forma que o rito anterior), saneador e, após este, marca-se
crime doloso contra a vida e indícios (sinais muito fortes) de
uma audiência única de instrução, debates e julgamento.
autoria (não pode ser suspeita e não se exige certeza). A
Para entorpecentes pouco importa se o crime é apenado com materialidade do crime doloso contra a vida pode ser
reclusão (Artigo 12, tráfico) ou detenção (Artigo 16, provada por meio de testemunhas, não havendo a
consumo): o procedimento será único. Valem aqui as necessidade do corpo. A pronúncia encerra a fase que
observações feitas no procedimento anterior para os começou com a denúncia.
memoriais escritos (aqui são menos freqüentes); não é raro o
A segunda fase do julgamento no júri começa com a peça
advogado levar as razões escritas anteriormente e adaptá-las
“Libelo Crime Acusatório”, elaborado pelo Ministério
na hora.
Público, que é um tipo de denúncia. Este libelo deve
Para proferir a sentença, é imprescindível o laudo apresentar: nome do acusado, exposição dos fatos por
toxicológico. Para a denúncia basta o laudo de constatação artigos, já com estrutura próxima à dos quesitos.
da substância entorpecente.
Segundo o Artigo 421, é possível haver um contra-libelo da
2.4. Tribunal do Júri defesa.
O procedimento está previsto entre os Artigos 394 e 497 do 3. Recursos
CPP. Esquematicamente, a seqüência é:
O princípio do duplo grau de jurisdição justifica os recursos.
Denúncia - citação - interrogatório - defesa prévia - primeira Há posições contrárias sobre eles. Os que defendem o duplo
audiência (testemunhas da denúncia) - segunda audiência grau:
(testemunhas da defesa prévia) - vistas aos autos pelo
a) O ser humano é sujeito a falhas e uma só pessoa é mais
Ministério Público - júri.
passível de falhas; assim é necessário um segundo
O Júri julga crimes dolosos contra a vida (Constituição julgamento.
Federal Artigo 5).
b) Quem julga pela segunda vez é um Tribunal, com pessoas
O procedimento tem duas fases: mais experientes e em maior número.
a) Admissibilidade de julgamento pelo júri. Os que são contrários ao duplo grau:
b) Julgamento efetivo a) A possibilidade de erro não justifica, uma vez que o
Tribunal também pode errar.
Na fase prevista no Artigo 406, vista dos autos, para
alegações, ao Ministério Público, por cinco dias, não é b) O juiz de primeiro grau tem mais contato com os fatos e
permitida a juntada de qualquer documento aos autos. Após provas.
essa fase, o juiz poderá determinar alguma diligência e
c) A grande maioria dos julgamentos é confirmada.
sanear algum eventual problema (Artigo 407). Após isso,
haverá a decisão, que pode ser: d) Vai contra o princípio da economia processual.
a) Impronúncia - (Artigo 409) quando o juiz não se Segundo o professor, toda função pública deve estar sujeita
convencer da existência do crime ou de indício suficiente de a controle, o que faz com que atue melhor.
que seja o réu o seu autor (improcedência da ação penal).
Alguns sistemas jurídicos admitem recursos para questões
Cabe recurso em sentido estrito.
de Direito, restringindo-os para questões de fato, mas
b) Absolvição Sumária - (Artigo 411) quando o juiz se admitindo provas de fatos novos no Tribunal. Para Scarance,
convencer da existência de circunstância que exclua o crime é necessária a possibilidade de recurso mesmo para questões
ou isente de pena o réu (excludente de ilicitude, legítima de fato.
defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito).
O recurso interposto pode reformar uma decisão, decretar
Deve haver prova cabal para haver a absolvição, exigindo
nulidade, ou esclarecer uma decisão (embargo
um recurso de ofício do juiz, com efeito suspensivo.
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declaratório). a) Taxatividade - pode ser analisado por dois ângulos:
Recurso: meio de impugnação de uma decisão para que esta I - só podem ser utilizados recursos expressamente
seja reformada, assimilada ou corrigida. Depende da previstos.
manifestação de vontade de alguém que tem interesse na
II - hipótese legal que comporta determinado recurso.
decisão. Há os chamados “recurso de ofício”, que nada mais
são que decisões com condição de eficácia (um juiz não b) Irrecorribilidade das Decisões - cada decisão comporta
pode recorrer de sua própria decisão). apenas um recurso. Alguns autores entendem que há
exceções: recurso especial extraordinário (podem ser
Os recursos não criam uma nova relação jurídica processual,
interpostos dois em relação a uma mesma decisão) e
apenas criam uma nova fase em uma relação já existente.
protesto por novo júri quando a condenação for superior a
Rigorosamente, o “habeas corpus” não é um recurso, mas
20 anos (espera-se a decisão do segundo julgamento antes
um remédio processual, uma ação autônoma de impugnação.
do recurso)
O “habeas corpus” é uma nova ação, com um novo objeto
(proteger a liberdade de locomoção) distinto daquele c) Variabilidade - trata da possibilidade de alterar o recurso
existente na relação processual. depois de impetrado. Como regra, após a interposição do
recurso há a preclusão consumativa, não havendo a
Ônus de Recorrer: ônus é faculdade que se não for
possibilidade de alteração. Segundo o professor, nosso
exercida pode trazer desvantagens. É um encargo que reflete
sistema permite a suplementação, complementação, do
sobre a própria pessoa isoladamente. Pode ter ponderações
recurso com outro fundamento desde que isso seja feito
diferentes:
dentro do prazo. Isso é possível desde que o recurso não seja
a) Para o Ministério Público - é aplicado de forma total; de fundamentação vinculada.
caso não recorra ocorre a preclusão.
d) Fungibilidade - Um recurso interposto de forma errada
b) Para o Réu - é atenuado. Exemplos: o recurso de ofício possibilita que o juiz o reconheça como correto (Artigo 579
em favor do réu; decisão não subjetiva em favor de um réu do CPP). A jurisprudência entende que isso é possível desde
beneficia os co-réus (Artigo 580); o réu pode usar ações que seja no prazo. A medida da boa-fé é o prazo; feito fora
autônomas de impugnação. deste presume-se a má-fé.
Quando se fala em recursos pressupõe-se uma jurisdição e) Dialeticidade - dá-se sempre à parte contrária a
inferior e uma superior, dentro da mesma estrutura possibilidade de conhecer o recurso antes desta apresentar
judiciária. Os recursos passam pelos dois graus de suas razões. Isto visa garantir a manutenção do contraditório
jurisdição: são dirigidos ao juiz de primeira instância que os também durante a fase recursal.
examina em um juízo de admissibilidade.
e) Disponibilidade - o recurso é sempre voluntário quanto à
3.1. Classificação dos Recursos possibilidade de interposição ou não. Quanto ao réu, este
pode renunciar ao direito de recorrer, assim como desistir
São diversas as classificações possíveis:
depois do recurso interposto. Já o advogado do réu pode
a) Parcial (abarca apenas uma parte da decisão) ou Total contrapor-se à própria vontade do réu, não renunciando ou
(aborda todos os aspectos da decisão). não desistindo. Já quanto ao representante do Ministério
Público, não poderá desistir de recurso que haja interposto
b) Ordinário (dirigido ao segundo grau de jurisdição) ou
(Artigo 576).
Extraordinário (dirigido a um órgão após o exercício do
duplo grau de jurisdição). f) Irrecorribilidade das Decisões Interlocutórias -
somente pode ocorrer quando houver previsão expressa de
c) Fundamentação Vinculada ou Não Vinculada - em
recurso. O grande efeito disso é que a decisão interlocutória
regra, os recursos podem ser voluntariamente ser dirigidos à
não preclui, podendo ser apelada em segundo grau.
parte da decisão ou ao total desta (não vinculados). Outros
recursos são de fundamentação vinculada, onde o próprio g) Personalidade - o recurso somente pode beneficiar a
sistema aponta quais os elementos que podem ser recorridos pessoa que o interpôs, nunca havendo o prejuízo da situação
(exemplo: recurso extraordinário, apenas matéria deste. Da mesma forma, nunca pode se estendido à outra
constitucional etc). parte (Artigo 617). Já quanto ao recurso do Ministério
Público, há uma tendência que entende que este pode, ao
d) Voluntários (depende da vontade da parte) ou de Ofício
contrário de seu sentido, melhorar a situação do réu. Um
(é o reexame necessário, erroneamente chamado de recurso).
argumento para isso é a falta de uma vedação expressa a
3.2. Princípios isso, como o que ocorre no Artigo 617.
São princípios dos recursos: 3.3. “Reformatio in Perjus” Indireto
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Como regra, a recurso do réu não pode piorar sua situação. Já a doutrina mais moderna fala em:
Segundo o Artigo 626, caso seja julgado procedente o
a) Condições Recursais
recurso, o Tribunal poderá alterar a classificação da
infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o I - Possibilidade Jurídica - para haver o cabimento do
processo. De qualquer maneira, não poderá agravar a pena recurso é preciso haver previsão legal e a decisão comportar
imposta pela decisão anterior. o recurso.
Isso é sempre válido, mesmo quando há a anulação do II - Interesse - entendido como:
processo anterior, apesar desta não ser uma reforma. Assim,
1. Necessidade - em geral, a jurisprudência tem entendido
uma sentença proferida em um segundo processo, depois da
que a prescrição de um processo dá margem a um recurso
anulação do primeiro, não pode agravar a pena
pleiteando a absolvição. Para a maioria dos juristas, as duas
anteriormente imposta. Já quando o processo é anulado em
soluções geram efeitos equivalentes.
uma Justiça Especial (Justiça Militar, por exemplo), sendo
remetido para outra (Justiça Comum), a doutrina entende 2. Utilidade - é a necessidade que o recurso traga alguma
que é possível haver uma pena mais grave. vantagem para quem o propõe.
Outra exceção diz respeito ao Tribunal do Júri. Nos casos III - Legitimidade - segundo o Artigo 577: “o recurso
de júri, há a Soberania dos Veredictos (Constituição poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo
Federal, Artigo 5, inciso XXXVIII), podendo haver o querelante (aquele que faz a acusação), ou pelo réu, seu
agravamento da pena pelos jurados; neste caso, o juiz procurador ou seu defensor. Parágrafo único. Não se
respeitando a soberania pode agravar a pena anterior. admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse
na reforma ou modificação da decisão”. Além disso, têm
3.4. Juízo de Admissibilidade
legitimidade a vítima e terceiros (sindico da massa falida,
O recurso será aceito quando forem cumpridos os requisitos lesado, jurado). O defensor tem autonomia para recorrer,
para sua admissibilidade. São feitos dois juízos de independente da vontade do réu.
admissibilidade:
b) Pressupostos Recursais - são eles:
a) Pelo órgão judiciário que proferiu a decisão impugnada,
I - Investidura do Juiz - tem pouca importância na fase
no mesmo grau de jurisdição. Pode ser:
recursal uma vez que a investidura já foi testada em primeira
I - Positivo - recurso segue seu trâmite normal. instância.
II - Negativo - do qual cabe um outro recurso, a Carta II - Capacidade processual - é a capacidade de ser parte.
Testemunhada. Legislação extravagante abriu a possibilidade que as pessoas
jurídicas (Lei Ambiental) ou entidade de interesses coletivos
b) Após a admissão junto ao órgão que proferiu a decisão,
(Código de Defesa do Consumidor) passem a ter capacidade
um segundo juízo, feito pelo órgão a quem se dirige o
jurídica. A capacidade também pode ser a capacidade para
recurso.
estar em juízo (basicamente refere-se à questão da idade;
3.5. Juízo de Mérito como regra os menores de 18 anos não têm e os maiores de
18 anos têm), e a capacidade postulatória (que em termos
Após aceitação do recurso, este pode ter duas soluções:
de recurso tanto o advogado como o réu têm, em face do
a) Ter Provimento princípio da ampla defesa). Em termos de Ministério
Público, as regras para postular um recurso são dadas por
b) Não Ter Provimento
regulamento interno.
Nunca deve ser confundido o mérito do processo (questão
III - Regularidade formal - como regra, o recurso não
de Direito Material), com o mérito recursal (a questão do
exige maiores formalidades, basta a manifestação da
processo que está sendo discutida pelo recurso).
vontade, que pode ser por petição ou termo. Isso é possível
3.6. Requisitos de Admissibilidade dos Recursos porque primeiramente o recurso é interposto e só depois são
formuladas as razões. A única formalidade é o prazo, cujas
A doutrina tradicional fala em: regras gerais para sua contagem estão expressas no Artigo
a) Pressupostos Objetivos - cabimento, adequação, 798.
tempestividade, regularidade procedimental, inexistência de IV - Inexistência de fatos impeditivos - são fatos que
fato impeditivo ou extintivo. ocorrem antes do recurso e impedem que este seja
b) Pressupostos Subjetivos - interesse em recorrer impetrado. Um exemplo é, nos crimes de ação privada, a
(sucumbência), legitimação. renúncia, que impede que um recurso posterior seja

19
conhecido. Nos casos de apelação, o não recolhimento do Quanto ao acusado, este tem legitimidade para propor a
condenado à prisão também é impeditivo. apelação todas as vezes que houver uma sentença
condenatória. Quando houver uma sentença absolutória, há a
V - Inexistência de fatos extintivos - são fatos que ocorrem
possibilidade de apelação todas as vezes que o acusado for
depois do recurso, que extinguem o direito. Exemplos:
absolvido por falta de provas. O interesse se dá por conta
desistência pelo acusado (o Ministério Público é impedido
dos efeitos civis da ação condenatória (não é pacífico).
de desistir), deserção em face da fuga do réu.
Quando houver divergência entre a vontade do acusado e a
4. Recursos em Espécie do defensor, deve prevalecer a opinião técnica do segundo.
4.1. Apelação Quanto à legitimidade do ofendido, prevalece o texto do
Artigo 598, que diz que se não houver apelação pelo
É o recurso clássico por excelência. Permite, em regra, o
Ministério Público, no prazo legal, o ofendido, ainda que
reexame de tudo quanto tenha sido discutido no processo.
não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor
A apelação cabe, no prazo de cinco dias, nas decisões de: apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo. Seu prazo
é de 15 dias após terminar o prazo do Ministério Público.
a) Juiz Singular
4.1.2. Interposição
I - Sentenças Definitivas de Condenação ou Absolvição -
sentenças proferidas por juiz singular. A apelação pode ser interposta por petição ou por termo,
forma verbal que posteriormente é reduzida a termo.
II - Decisões Definitivas ou com Força de Definitivas -
proferidas por juiz singular nos casos nos quais não cabe A apelação deve sempre expressar o fundamento legal,
recurso em sentido estrito (Artigo 581). Decisões especialmente nos casos das decisões do Tribunal do Júri
Definitivas são as que, por exclusão, não condenam nem (possibilidades expressas no Artigo 593, inciso III).
absolvem. Com Força de Definitiva, decisões não
O prazo de apelação é de cinco dias a contar da data de
definitivas, mas que impedem a continuidade da ação.
intimação; as razões devem ser apresentadas posteriormente.
Exemplo: arquivamento por falta de tipicidade do fato.
Nos Juizados Especiais o prazo para a interposição é de dez
b) Tribunal do Júri dias, mas deve vir acompanhada das razões.
I - Nulidade posterior à pronúncia - em geral, nulidade 4.1.3. Efeitos
com relação à elaboração e votação dos quesitos. O Tribunal
Os efeitos da apelação podem ser:
deve determinar novo julgamento.
a) Devolutivo - existe sempre em qualquer recurso.
II - Sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa
Devolve-se para o Tribunal para que este reavalie no todo ou
ou à decisão dos jurados - o Tribunal deve corrigir a
em parte. Quanto à Extensão, somente é devolvido aquilo
decisão.
que foi impugnado no recurso. Quanto à Profundidade, o
III - Erro ou injustiça quanto à aplicação da pena - o recurso devolve todos os fundamentos apresentados pelo
Tribunal deve corrigir a decisão. autor e pelo réu em primeira instância. Além disso, o
Tribunal pode conhecer de ofício questões de Ordem
IV - Decisão dos jurados manifestamente contrária à Pública (condições da ação, nulidades absolutas etc).
prova dos autos - o Tribunal determina a realização de um
novo julgamento. Não se admite uma segunda apelação b) Suspensivo - a apelação suspende temporariamente os
baseada na mesma causa. efeitos da sentença.
4.1.1. Legitimidade e Interesse I - Sentença Absolutória - o réu é liberado se estiver preso
e continua solto se assim estiver.
O Ministério Público tem legitimidade para recorrer de
qualquer sentença. No caso de processo iniciado por queixa, II - Sentença Condenatória - o Artigo 594 determina que o
há duas situações: réu não pode apelar sem recolher-se à prisão, ou prestar
fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim
a) Ação Penal Privada Subsidiária da Pública - neste caso reconhecidos na sentença condenatória, ou condenado por
são crimes de ação penal pública, onde o Ministério Público crime de que se livre solto. Mas isso não é pacífico: alguns
continua com legitimidade na fase recursal. doutrinadores entendem que a Constituição somente admite
b) Ação Penal Privada - há mais de um entendimento, mas a prisão cautelar ou após o trânsito em julgado; assim, o
o Ministério Público não tem legitimidade para propor a Artigo 594 estaria derrogado, podendo o condenado apelar
ação e, por conseguinte, também não tem para apresentar a em liberdade. Outros entendem que o Artigo 594 permanece
apelação. Há a disponibilidade da ação. em vigor.

20
4.1.4. Apelação em Liberdade separado para formar um instrumento) - ocorre quando o
processo já está em andamento, subindo apenas o
Segundo o Artigo 594, o réu não poderá apelar sem
instrumento.
recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se for primário
e de bons antecedentes, assim reconhecidos na sentença b) Subir nos Próprios Autos - relaciona as possibilidades
condenatória, ou condenado por crime de que se livre solto. (as demais sobem por instrumento): Artigo 581, I, III, IV,
A apelação, nos casos citados, passa a ter um efeito VI, VIII e X.
suspensivo. Fora disso, sua primeira parte impede o
Normalmente, o recuso em sentido estrito não tem efeito
exercício do segundo grau de jurisdição, impondo um ônus
suspensivo, exceto no que se refere o Artigo 584 (nos casos
gravíssimo ao réu.
de perda da fiança, de concessão de livramento condicional
Segundo Scarance, a primeira parte do artigo fere inúmeros e dos números XV, XVII e XXIV do Artigo 581).
princípios e garantias constitucionais. É um elemento
Começa por uma petição ou termo. Feita a petição, abre-se
limitador do recurso e, como se dá antes da apelação, passa
um prazo de cinco dias, nos quais devem ser indicadas as
a ser entendido como um pressuposto recursal, uma
peças a serem transladadas (se for por instrumento). O
condição de admissibilidade do recurso.
recorrente deve apresentar as razões em dois dias e o
Outra questão: parte-se da premissa que todo aquele que não recorrido, as contra-razões, em outros dois dias, com contra-
tem bons antecedentes, ou não é primário, tem que estar peças, se for por instrumento.
preso. É uma premissa falsa, porque parte do pressuposto
Juízo de Retratação: seria uma confirmação da decisão do
objetivo de que sempre, quem está na situação descrita,
juiz. Caso confirme, vai para o Tribunal. Caso o haja a
poderá cometer crimes e, portanto, deve estar preso.
retratação, a nova decisão pode admitir recurso em sentido
O STF firmou posição pacífica da constitucionalidade do estrito. A parte contrária (prejudicada) pode, por petição, em
Artigo 594. cinco dias, entrar com recurso.
Leis extravagantes: 4.3. Protesto por Novo Júri
a) Lei dos Crimes Hediondos - o juiz decide É um recurso privativo da defesa. Previsto no Artigo 607,
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade, quando a sentença condenatória for de reclusão por tempo
mas falta na lei a indicação de qual seria essa justificação. igual ou superior a 20 anos.
b) Lei de Tóxicos - o réu não pode apelar em liberdade no Quando há conexão:
caso de tráfico (Artigo 35 da Lei 6.368/76). Contudo, a Lei
a) Concurso Material - quando a soma das duas ou mais
dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), que alterou a Lei de
pena passa de 20 anos não cabe o protesto por novo júri.
Entorpecentes, permite que o réu apele em liberdade.
Devido a isso, há posições que defendem que, por ser b) Concurso Formal - considera-se a unidade criminosa,
posterior, a 8.072/90 teria derrogado a Lei 6.368/76. cabe o protesto por novo júri.
c) Lei do Crime Organizado - não pode apelar em c) Crime Continuado - cabe o protesto por novo júri
liberdade. quando em virtude do acréscimo chega-se a mais de 20
anos. A pena e o aumento compõem uma unidade.
d) Lei da Lavagem de Dinheiro - não pode.
O CPP não admite, segundo o Artigo 607, § 1, protesto por
novo júri, quando a pena for imposta em grau de apelação.
4.2. Recurso em Sentido Estrito Contudo, segundo interpretação vigente, quando o Tribunal
aumenta uma pena, fazendo com que o réu, ao final, tenha
O Artigo 581 do CPP relaciona uma série de situações onde
pena superior a 20 anos pode haver o protesto.
é cabível o recurso em sentido estrito. É pacífica a
orientação que o rol é taxativo. Apesar disso, professor É um recurso peculiar que não exige decisão do Tribunal,
Scarance entende que é possível haver alguma analogia. bastando a petição alegando a condenação, a pena e que o
recurso nunca foi utilizado. Não há a apresentação de razões
Algumas das possibilidades previstas na lista de incisos são
ou contra-razões.
decisões tomadas pelo juiz da condenação, outras pelo juiz
da execução (incisos XI, XVII, XIX a XXIII). Quando houver duas sentenças em crimes conexos e uma
pena passar de 20 anos e a outra não, aplica-se o disposto no
4.2.1. Procedimento
Artigo 608: pede-se um novo júri no primeiro caso e a
Há duas formas básicas de procedimento: apelação no segundo. A apelação, entretanto, ficará
suspensa, até a nova decisão provocada pelo protesto. Caso
a) Subir por Instrumento (conjunto de peças reunidas em
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haja apelação do resultado do segundo júri, as duas serão momento em que a parte é intimada da decisão.
tratadas juntas pelo Tribunal.
4.6. Habeas-Corpus
Apesar de não constituir “reformatio in perjus”, por não
É classificado como um recurso, contudo é uma ação
haver decisão de recurso, entende-se que o novo júri não
autônoma, com base constitucional, podendo, em alguns
pode piorar a situação do réu.
casos, ter caráter recursal. Visa exclusivamente proteger a
4.3. Embargos Infringentes e de Nulidade liberdade de locomoção (ir, vir, andar, ficar). O “habeas
corpus” é uma nova ação, com um novo objeto (proteger a
Segundo o Artigo 609, parágrafo único, quando não for
liberdade de locomoção) distinto daquele existente na
unânime a decisão de segunda instância, desfavorável ao
relação processual.
réu, admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que
poderão ser opostos dentro de dez dias, a contar da Na Constituição Federal o “habeas-corpus” está previsto no
publicação de acórdão. Se o desacordo for parcial, os Artigo 5, inciso LXVIII: “conceder-se-á ‘habeas-corpus’
embargos serão restritos à matéria-objeto de divergência. sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
Também é um recurso privativo da defesa. Quanto à parte
ilegalidade ou abuso de poder”.
não divergente do acórdão cabem outros recursos. Esses
embargos cabem tanto nas questões de mérito quanto nas No CPP, o instituto está previsto no Artigo 647: “Dar-se-á
questões processuais. ‘habeas corpus’ sempre que alguém sofrer ou se achar na
iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua
Há divergência na doutrina: alguns entendem que esse
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar”.
embargo somente cabe os casos de recurso em sentido
estrito. Isso seria patente até mesmo pela colocação da O texto constitucional é mais amplo, não limitando o
matéria no capítulo dos Recursos Estritos do CPP “habeas-corpus”. Prevê sua utilização em qualquer ameaça,
(colocação topográfica). Outros entendem que cabem em mesmo que remota.
todas e quaisquer decisões dos Tribunais.
O “habeas-corpus” pode ser de dois tipos:
4.4. Embargos de Declaração
a) Liberatório - o indivíduo já sofreu o constrangimento.
Previstos nos Artigo 619 e 620 do CPP. Aos acórdãos
b) Preventivo - ainda não existe a limitação objetiva e sim a
proferidos pelos Tribunais poderão ser opostos embargos de
possibilidade do constrangimento.
declaração, no prazo de dois dias, qualquer que seja a
instância do Tribunal, quando houver na sentença A constituição também fala em “ilegalidade” e “abuso de
ambigüidade, obscuridade, contradição ou omissão. poder”. Para alguns autores essa formulação permite a
impetração do instituto contra particulares. Visão que o
O texto do CPP nada fala sobre a suspensão, ou não, do
professor Scarance aceita. Segundo ele, a Constituição
prazo para o recurso que cabe daquela decisão que está
Federal não impõe qualquer limitação.
sendo embargada. Por analogia com outros recursos, o CPP
interrompe o prazo. Já a lei 9.099/95, dada a celeridade de A legitimidade para propor a ação pode ser:
seu processo, apenas suspende o prazo.
a) Ativa - ordinariamente pertence àquele que está sofrendo
Os embargos de declaração não podem ter caráter o constrangimento. Além dele, o CPP dá legitimidade
infringente. Podem suprir omissões, esclarecer dúvidas, extraordinária ao Ministério Público ou a qualquer outra
mas não alterar a decisão. A doutrina aceita essa pessoa que represente o paciente (Artigo 654, caput).
possibilidade, mas a jurisprudência não.
b) Passiva - contra quem se propõe a ação, seu sujeito
4.5. Carta Testemunhada passivo: o coator. Este deve ser uma pessoa física, uma vez
que a pessoa jurídica não tem vontade autônoma.
Recurso específico para a hipótese de o juiz não receber ou
não dar prosseguimento a um recurso. Está prevista no O interesse: não é necessário determinar o interesse,
Artigo 639 do CPP. Ao reconhecer a carta, o Tribunal manda bastando a existência do constrangimento à liberdade de
que o recurso prossiga. É um recurso subsidiário, somente locomoção. Pode acontecer que o paciente não queira o
podendo existir quando a lei não prever um recurso “habeas-corpus”; isto é possível quando ficar claro que o
específico para a situação. Um exemplo: para a apelação, instituto não lhe traz benefício.
nestas circunstancias, é previsto um recurso em sentido
4.6.1. Procedimento
estrito, ao invés da carta. O Artigo 640 prevê um prazo de
48 horas contadas a partir do despacho do juiz, mas isso é São seus procedimentos:
absurdo. A tendência é considerar 48 horas a partir do
a) Formalidade - a impetração do "habeas-corpus" não
22
exige maiores formalidades. Na petição precisam constar
expressamente: a existência ou ameaça à liberdade de
5. Nulidades
locomoção, o coato, o coator, além da ilegalidade ou abuso
de poder. O Direito Processual elabora uma série de “modelos”, tipos
de procedimentos, como sendo a regularidade. O
b) Competência - são várias:
afastamento desses modelos pode gerar:
I - Contra particular ou qualquer outra autoridade que não
a) Irregularidade - falha de pequena relevância, apesar da
juiz de Direito - juiz de Direito local.
qual o ato gera seus efeitos.
II - Contra juiz de Direito em geral - a um Tribunal
b) Nulidade - que pode ser:
imediatamente superior.
I - Absoluta - quando viola interesse público.
III - Tribunais de Segundo Grau - STJ.
II - Relativa - quando viola apenas interesse das partes.
IV - Tribunais Superiores - STF.
c) Inexistência - que pode ser:
V - No caso de juiz estadual - pela competência recursal do
Tribunal (Alçada Criminal, Alçada Civil, TJ). I - De Fato - quando o ato não for feito.
VI - Membro do Ministério Público - doutrina dividida: juiz II - De Direito - quando houver um ato desprovido de
de Direito ou Tribunal de segundo grau. elementos estruturais, como se o ato não existisse (Ex:
denúncia sem o nome do denunciado, sentença sem o
c) Procedimento - juiz/Tribunal solicita informações
dispositivo).
daquele que está sendo apontado como coator; este deve
mostrar a legalidade de seu ato. Podem ser determinadas 5.1. Nulidades Relativas e Absolutas
diligências, sem a formação de prova. Quando se tratar de
A doutrina tem certa dificuldade para tratar o assunto das
particular, este deve ser citado. O coato pode ser chamado e
nulidades relativas e absolutas. Basicamente são três as
ouvido. Quando for impetrado em primeiro grau não há
posições:
previsão da outiva do Ministério Público; esta exigência
existe no caso dos Tribunais. a) Posição Estrita do CPP - toma literalmente o CPP, onde
relaciona as causas de nulidade:
d) Ação Esperada - cessação da coação ou da ameaça.
Quando há o receio que a coação venha a ocorrer ("habeas- I - por atos ligados ao juiz (Artigo 564, inciso I);
corpus" preventivo) expede-se um salvo-conduto.
II - por atos ligados à legitimidade de parte (Artigo 564,
e) Recursos - da decisão do juiz de primeiro grau cabe inciso II);
recurso em sentido estrito (Artigo 581, X) ou recurso de
ofício (Artigo 574, I). Quando houver a negativa do III - por falta ou vício de uma longa lista de atos
"habeas-corpus", é possível impetrar outro "habeas-corpus" considerados essenciais ao processo (Artigo 564, inciso II),
em instância superior. Contra a decisão dos Tribunais de e;
segundo grau, cabe recurso ordinário de "habeas-corpus" IV - por falta de uma das formalidades essenciais do ato.
para o STJ. Contra decisão de Tribunal Superior, cabe
recurso ordinário para o STF. As hipóteses de nulidades relativas (que podem ser sanadas)
seriam aquelas que estão expressamente previstas no caput
4.7. Prazos no Artigo 572 (que seriam os atos não essenciais).
Recurso Prazos Por essa posição tem-se um conjunto de hipóteses:

Apelação (CPP) 5 dias Ato Essencial / Formalidade Essencial - Nulidade


Absoluta
Apelação (Lei 9.099/95) 10 dias
Ato Essencial / Formalidade Não Essencial - Nulidade
relativa (depende de demonstração do prejuízo)
Carta Testemunhada 48 horas
Ato Não Essencial / Formalidade Essencial - Nulidade
Embargo de Declaração 2 dias Relativa
Embargo Infrigente e de 10 dias Ato Não Essencial / Formalidade Não Essencial -
Nulidade Irregularidade Simples
Recurso em Sentido Estrito 5 dias b) Posição Constitucional - busca apoio no texto da
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Constituição Federal. A nulidade será absoluta (não sanável) compareça, antes de o ato consumar-se (Artigo 570).
sempre que for ofendida uma garantia constitucional.
6. Juizados Especiais Criminais
Quando for ofendida uma garantia processual, será a
nulidade será apenas relativa (pode ser sanada, demanda Os Juizados Especiais Criminais foram criados pela Lei
prova de prejuízo e deve ser alegada em tempo oportuno). 9.099 de 26/09/1995. Essa lei veio resolver um sério
problema de morosidade do Direito Penal frente às pequenas
c) Terceira Posição - repete, de certa forma, a posição
infrações. A lei conseguiu dar agilidade à Justiça no que
anterior acrescentado uma terceira categoria: a
tange a esses delitos.
anulabilidade, que sempre deve ser alegada. A nulidade
relativa pede que haja a demonstração do prejuízo; depois A Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 98, inciso I,
de feita a demonstração, a alegação de nulidade pode ser definiu que seriam criados juizados especiais, providos por
feita de ofício. juizes togados, ou togados e leigos, competentes para a
conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de
Segundo o Artigo 565 do CPP, nenhuma das partes poderá
menor complexidade e infrações penais de menor potencial
argüir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha
ofensivo. O que seria esse “menor potencial ofensivo”
concorrido, ou referente à formalidade cuja observância só à
somente foi definido no Artigo 61 da Lei 9.099/95:
parte contrária interesse.
“consideram-se infrações penais de menor potencial
Não será declarada a nulidade de ato processual que não ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais
houver influído na apuração da verdade ou na decisão da e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior
causa (Artigo 566). a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja
procedimento especial”.
O Artigo 573, §1, expressa a Teoria da Causalidade,
segundo a qual, a nulidade de um ato, uma vez declarada, Todas as contravenções, independente do tempo de
causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam condenação foram consideradas como enquadradas nos
conseqüência. Tribunais. Para os crimes, o único critério é o tempo da pena
máxima. “Procedimentos especiais” são aqueles que exigem
5.2. Efeitos no Processo
um rito diferenciado daquele determinado pela lei penal; é o
A nulidade processual depende de um ato judicial que a caso, por exemplo, dos crimes previstos na Lei de Imprensa
declare. Assim, pode haver situações onde não mais pode ser (Lei 5.250 de 09/02/1967).
declarada a nulidade, havendo a convalidação:
Segundo o Artigo 62, são princípios orientadores perante os
a) Sanação - válida para as nulidades relativas, segundo o juizados:
previsto no Artigo 572.
a) Oralidade.
b) Sentença - é jurisprudência pacífica: alguns atos não
b) Informalidade.
alegados até a sentença tornam-se convalidados.
c) Economia Processual.
c) Coisa Julgada - convalida nulidades para o Ministério
Público, uma vez que a defesa ainda tem o momento da d) Celeridade.
revisão criminal para alegar a nulidade.
Os objetivos dos juizados são: a reparação dos danos
A declaração de nulidade pode provocar que o ato seja sofridos pela vítima e, sempre que possível, a aplicação de
renovado/retificado. São casos especiais de nulidades pena não privativa de liberdade.
relativas, expressas no CPC:
A lei apresentou outras possibilidades de medidas
A incompetência do juízo anula os atos decisórios (Artigo despenalizadoras, que visam dispensar a aplicação da pena.
567). Essas alternativas não descaracterizam o tipo penal, apenas
afastam a pena. São elas.
A nulidade por ilegitimidade do representante da parte pode
ser sanada mediante ratificação dos atos processuais (Artigo a) Composição Civil - permite que o autor do fato e a
568). vítima possam fazer um acordo visando reparar o dano
(Ação Penal Privada ou Ação Penal Pública Condicionada).
As omissões da denúncia ou da queixa, da representação,
ou, nos processos das contravenções penais, da portaria ou b) Transação Penal - é a proposta de pagamento de multa
do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas antes da ou pena restritiva de direito que o Ministério Público oferece
sentença final (Artigo 569). ao autor do fato, como alternativa ao processo (Ação Penal
Pública ou Ação Penal Pública Condicionada).
A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou
notificação estará sanada, desde que o interessado c) Denúncia Oral - o Ministério Público encaminha
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denúncia contra o acusado (Ação Penal Pública e Ação crimes de Ação Penal Privada ou Ação Penal Pública
Penal Pública Condicionada). Condicionada, que impede a queixa crime ou a
representação. Nos crimes de Ação Penal Pública
d) Arquivamento do Termo Circunstanciado - o
Incondicionada, o acordo não impede a denúncia pelo
Ministério Público pede o arquivamento do TC (Ação Penal
Ministério Público, mas poderá influir na redução da pena.
Pública).
6.3. Responsabilidade Civil
e) Representação para Lesões Corporais - Artigo 88:
“dependerá de representação a ação penal relativa aos Quando for o caso, o responsável civil deve ser convocado
crimes de lesões corporais leves e lesões culposas”. (Ação para participar da audiência preliminar anterior ao processo.
Penal Pública Condicionada a Representação) Sua presença é importante, uma vez que pode interessar-se
em fazer um acordo, saldando o dano.
f) Suspensão Condicional do Processo - nos crimes com
pena mínima igual ou inferior a um ano, o Ministério O autor da infração deve estar assistido por um advogado
Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão mesmo na audiência para acordo civil. Há a necessidade de
do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado convocar-se a vítima na audiência preliminar em crimes de
não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado Ação Penal Pública Condicionada. Não havendo acordo,
por outro crime, presentes os demais requisitos que, por nestes crimes, a vítima poderá ou não fazer a representação,
analogia, autorizariam a suspensão condicional da pena para a qual tem seis meses de prazo a contar da data do fato.
(Artigo 77 do Código Penal).
Lesões Corporais: segundo o Artigo 88, os crimes de lesões
Os ilícitos penais, onde é cabível a Lei 9.099/95, dispensam corporais, leves e culposas, dependem de representação. Se
a instauração de inquérito policial. Em seu lugar a houver, por exemplo, a desclassificação de um crime de
autoridade policial elabora um Termo Circunstanciado, no tentativa de homicídio no Tribunal do Júri, para lesão
qual o acusado deve ser claramente identificado. corporal dolosa leve, os autos serão enviados para o juiz
competente (Juizado Especial), que deve intimar a vítima
6.1. Termo Circunstanciado
para uma audiência tentando o acordo civil e,
Nas infrações de menor potencial ofensivo as partes são eventualmente, a representação.
encaminhadas à delegacia de polícia. Há a dispensa do
6.4. Transação Penal
inquérito policial. É lavrado um Termo Circunstanciado
(TC), um auto com o nome das partes, data, circunstâncias O Ministério Público pode abandonar o princípio da
do fato, depoimento das testemunhas. A investigação é obrigatoriedade pelo da discricionariedade. A transação pode
abreviada. ser proposta pelo Ministério Público em ações penais
pública condicionadas ou incondicionadas. A transação
O TC é mais completo que um Boletim de Ocorrência. Este
consiste em uma proposta ao infrator, estando presente sua
é apenas um histórico dos fatos, enquanto o primeiro inclui
defesa técnica, de pagamento de multa ou de uma pena
também o relato das partes. O arquivamento do TC somente
restritiva de direitos, tendo como contraposição a não
irá ocorrer se o fato for atípico (Artigo 76).
propositura da ação penal. A vontade do infrator prevalece
6.2. Fase Preliminar sobre a do defensor técnico. O Ministério Público tem o
poder-dever de apresentar a proposta; se não fizer deverá
Segundo o Artigo 69 da Lei 9.099/95, o Termo
justificar-se.
Circunstanciado deve ser encaminhado ao Juizado, com o
autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições Razões Objetivas que impedem a transação:
dos exames periciais necessários. Quando o autor assumir o
a) Sentença transitada em julgado por crime com pena
compromisso de comparecer ao Juizado, dispensa-se a
privativa de liberdade (não vale para contravenção).
prisão em flagrante, e a fiança.
Entende-se que os cinco anos que excluem a reincidência
Um promotor deve analisar superficialmente o termo e pedir também são aplicáveis aqui.
ao juiz o arquivamento, solicitar a designação de uma
b) Não se aceita a transação se nos cinco anos anteriores o
audiência, ou pedir por mais diligências.
autor das infrações aceitou outra transação.
A audiência é feita em juízo, mas as partes podem tentar
c) Nos crimes ambientais a transação somente cabe se
uma composição antes da atuação do juiz. A composição é
houver ressarcimento de danos.
regulada pelo Artigo 74 da Lei, tendo caráter de decisão,
sendo homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, Razões Subjetivas que impedem a transação: análise dos
tornando-se título judicial. antecedentes, conduta social e personalidade do agente.
Análise das circunstâncias dos crimes etc (situação
A composição é um acordo civil, mediado pelo juiz, nos
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equiparada à do Artigo 77 do Código Penal); o Ministério
Público pode não oferecer denúncia, mas tem que se
justificar.
Efeitos da proposta de Transação Penal:
a) Impede nova transação no prazo de cinco anos.
b) Não deve contar da folha de antecedentes, nem registros
etc. A proposta é sigilosa.
c) Não tem efeitos civis; posteriormente pode-se ajuizar uma
demanda no juízo civil.
6.5. Suspensão Condicional do Processo
O benefício da suspensão condicional do processo foi criado
com a Lei 9.099/95. Seu artigo 89 determina que: “Nos
crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior
a um ano, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro
anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou
não tenha sido condenado por outro crime”.
Este benefício visa evitar a “rotulagem” do acusado e o
conseqüente estigma do processo. A denúncia do crime é
recebida e, cumpridas algumas condições, o Ministério
Público suspende o processo por um período, no qual o
indivíduo é provado.
Diferentemente do “sursis”, a suspensão condicional do
processo precisa contar com a aceitação pelo acusado e seu
defensor; se o acusado não aceitar a proposta, o processo
prosseguirá em seu andamento normal.
A concessão da suspensão condicional do processo é mais
rigorosa que a suspensão condicional da pena. Da mesma
forma, a observância das condições também é mais rigorosa.
São condições para suspensão:
a) reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
b) proibição de freqüentar determinados lugares;
c) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem
autorização do Juiz;
d) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo,
mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
e) outras condições especificadas pelo juiz, desde que
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o
beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não
efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. Da
mesma forma, a suspensão poderá ser revogada se o acusado
vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção,
ou descumprir qualquer outra condição imposta. Expirado o
prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a
punibilidade.

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