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Dados Intemacionais de Catalogagio na Publicagiio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ee Patriménio Ambiental Brasileiro / organizagio Wagner Costa Ri- beiro. - Sio Paulo: Editora da Universidade de Séo Paulo: Imprensa Oficial do Estado de Sto Paulo, 2003. - (Uspiana: Brasil 500 Anos). ‘Varios autores ibliografia. ISBN 85-314-0762-1 (Editora da Universidade de S80 Paulo) ISBN 85-7060-143-3 (Imprensa Oficial do Estado de Sio Paulo) 1. Ecologia ~ Brasil 2, Polftica Ambiental - Brasil 3. Protegao Ambiental - Brasil 1. Ribeiro, Wagner Costa. IL. Série. 03.0676 CDD-304.20981 Indices para catélogo sistematico: 1. Brasil: Patrimonio Ambiental 304,20981 Paginas 168 - 239 168 | Joré Bueno Conti A pressio advinda do aumento populacional foi reforcada pelo maior poder deintervengéo no meio, ecorrente do uso de equipamentos mais agressivos como, por exemplo, motosserras, desfolhantes quimicos, escavadeiras mecanicas et. que ampliaram enormemente a forca de destruigdo. Continuamente vém ocor- tendo mudangas no modelado, nos sistemas hidrografics, nas camadas do solo eno comportamento do clima, que se refletem na cobertura vegetal, na fauna, na desagregacio das rochas e nos processos morfogenéticos como um todo. A profunda transformagio ambiental que se process atualmente no mundo, alargando as reas de desmatamento e de superexploracio do solo agricola, in- tervindo no mecanismo de reciclagem do vapor d'gua, bem como desequili- brando o balango da energia na superficie, produzem alteragdes climéticas, notadamente em meso e microescalas. A desertficagio é uma dessas modalida- dese, freqientemente, se manifesta pela degradagio generalizada do ambiente Cove de Madera Getalhe)Rondbia oe: gun Ade 31. Tal, BI Hombre yu Ambiente Aamesfrica, p. 13-1. A.A. Aube, Clima, forts et deve \ifation de Afigue repeal A Peserlificagia come Forma de degrudasio Aabiental ne Brovil 1 169 como resultado de priticas exploratérias incorretas. A sociedade industrial as- sumiu, inegavelmente, uma atitude dlapidadora em relagio a0 meio, dissipan- do recursos e desorganizando, muitas vezes de forma irreversvel, os sistemas naturas, especialmente os das baixas latitudes, em virtude do modelo econd- rico global que transformou, num primeiro momento, os pases af situados em produtores de matérias-primas, Estimativas da World Wildlife Foundation (WWE) admitem que mais de 40% das florestas tropicais do mundo jé tenham sido destruidas e apontam os se- ‘ints ptses como os de maior incidéncia de desmatamentos: Filipinas, Tailindia, Malésia, India, Bangladesh, ri Lanka, na Asia; Costa do Marfim, Republica do Congo, Nigéria ¢ Ghana, na Aftica; Haiti, nas Antithas;e Brasil, na América do Sul. Avaliagdes baseadas em modelos numéricos calculam que o desmatamento da faixa compreendida entre as latitudes de 5° N e 5° $ poderia provocar, em virtude da elevagdo do indice de albedo (ou refletancia da energia solar inci- dente), uma queda de 0,2 °C a 0,3 °C na temperatura média global. Por conse- guint, ocorreriam redugdes de até 10% na intensidade da evaporagio e da pre- cipitagio naquelafaixa de latitude’, Nos ecossistemas de equilibrio precério, a desestabilizacao do clima, manifestada pela ocorréncia de secas, chuvas em ex- cesso ou com variag6es anuais, poderia comprometer sua recuperagdo. ‘As regides subimidas ou semi-éridas, de populacdo relativamente densa, sio as de maior risco de degradacio e os estudos tém demonstrado que as ati dades explorat6rias descontroladasconstituem a principal causa da desertificag As pesquisas sobre esse tema, desde as investigagdes pioneiras do engenheiro Albert de Aubreville na Africa equatorial’, sempre assinalaram a importancia da acio antrépica no desencadeamento do processo. Da mesma forma, a Confe- réncia Mundial sobre Desertificacio, a primeira convocada pela ONU e reunida em Nairobi (Quénia), em 1977, reiterou a mesma postura. Pode-se estabelecer categorias de intensidade de desertificago, utilizando-se de crtérios ambientais, As que apresentamos, a seguir, sio de Harold E, Dregne (Quadro 1). E também usual o termo desertizago para designar a extensdo de paisagens € formas tipicamente desérticas, em dreas semi-dridas ou subimidas, como con- seqincia da acio humana. O termo, contudo, nfo alcancou consenso entre os estudiosos e seu emprego € cada vez. menos freqiente, em virtude do significa- do impreciso. Outros termos foram propostastais como sahelizardo, estepizagto ¢ sudanizasdo, que corresponderiam a diferentes graus de desaparecimento do estrato arbéreo ¢ aridifcagto ou aridizagao, indicadores de uma evolucio na~ tural em direcio a um clima mais seco. 170 | José Bueno Conli see Quadro 1. INTENSIDADE DA DESERTIFICAGAO Grau Caracterizagio % de Incidéncia Fraca Pequena deteriorago da 180 cobertura vegetal e dos solos. Moderada | Grande deterioragao da cobertura vegetal e surgimento de nédulos de arcia.Indicios de salinizagao dos solos. Vogorocamentos. 536 Severa Severa ampliagao das éreas sujeites a vogorocamentos e surgimentos de dunas, Avanco da erosio eélica. 28,3, Muito Severa | Desaparecimento quase completo da biomassa, Impermeabilizagdo € salinizagio intensa dos solos. o1 ‘Atendéncia inversa, ou seja, a do recuo dos desertos, chamada de antideserti- ficagao, também se registra em varias partes do mundo indicando que o fen6- meno esté longe de ser simples. Esquematicamente, pode-se classificar a dsertificacao em duas modalidades: natural (ou climatica) e antrépica (ou ecolégica) (Quadro 2). ‘AS REGIOES SEMI-ARIDAS E SUBUMIDAS TROPICAIS E SUA FRAGILIDADE ‘A posigdo geografica privilegiada da faa intertropical em relagéo ao recebi- mento da radiacdo solar faz concentrar o calor nessas latitudes, dotando-as de tum excedente energético muito significativo sobre o restante do planeta. Esti- mativas fetas por H. G. Houghton para o hemisfério Norte propdem que esse superivit é no minimo, cinco vezes maior que o montante recebido pelas ati- tudes alta, consideradas como tais aquelas situadas além de 60, A diferenga de calor especifico entre terras e Aguas concorre para que o calor latent se con- centre nos oceanose, como azona intertropical édominantemente iquida (apenas 249% das terras emersas al estéo situadas), o fluxo do calor latente chege a ser trés vezes superior a0 dos mares de latitudes elevadas. Essa importante concen- tragio energética é um dado preliminar para o entendimento da natureza tropi- 5.H.G.Hovghton,“On the Annual Heat lance ofthe Northern Hemisphere A Deserlificasao como Forma de Degradasde Ambiental we Brasil | 17\ cal, uma vez que tornam os processos naturais muito mais agressivos e incontroléveis. ‘Quadro 2. MODALIDADES DE DESERTIFICAGAO Climatica Ecolégica Conceito | Diminuigdo de agua no Criagdo de condigoes sistema natural semelhantes as dos desertos Avaliagio Indices de aridex Empobrecimento da biomassa Indicadores] 1. Elevacio da temperatura | 1. Desaparecimento de arvores média, ¢ arbustos lenhosos 2. Agravamento do déficit (desmatamento). hidrico dos solos. 2. Aumento das espécies 3. Aumento do escoamento | espinhosas (xerofiticas) superficial (lorencialidade). | 3. Elevagao do albedo, ou seja, 4. Intensficaglo da erosio maior refletividade na eblica. faixa do infravermelho. 5. Redugdo das precipitagées | 4. Mineralizagio do solo em (perda de himus). encostas com mais de 20° de 6.Aumento da amplitude | inclinagdo (perda de himus). térmica dia, 5. Forte erosio do manto 7.Diminuicio da umidade | superficial (vororocamento).. relativa (UR) doar. 6. Invasio maciga das areias. Causas Mudangas nos padrées | Crescimento demogréfico ¢ climaticos. pressio sobre os recursos Exemplos | Osclagbes dos cinturdes | 1. Desertificagdo das repides fridos tropicals durante s_| perféricas tropicais durante glactagoes quaterndrias, as glaciagbes. 2. Pontos de desertficagdo no Sul do Brasil (PR, RS). Se, quanto & temperatura, a variagdo a0 longo do ano € pouco expressiva, 0 ‘posto ocorre coma pluviosidade, registrando-se, entre os tr6pico, valores muito 112 | José Bueno Conti contastantes,seja quanto as totais (que variam de 500 mm anuals, na Ama shnia ocidental, até médias que néo atingem 200 mm, como nas regides hiperéridas mo Norte do Chile), seja quanto ao regime pluviométrco. Este ¢ fundamental, por exempla, para a evo da vida vegetal e animal. Nas egies dridas, semi- reidas e subiimidas, a varablidade, ano @ ano, da precipitago, é muito grande ‘ca torrencialidade constitui uma caracteristica importante. ‘Ainerago oceano-atmosferaconcorre deforma expresivapara defini o mo- saico pluviometrico das baixa latitudes. O gio anticilonico da massa ocednica onduz as Aguas ras, oriundas das latitudes elevadas, para as costasocidentas dds continentes,produzindodissimetrias muito signficativas quanto &distibui- ao das chuas. A presenga de 4guas com temperaturas bata, junto & cst, et Fiiea a atmosfrae inibe a formagio da chuva. Os deserts costeiros da Africa meridional (Namibia) e do Norte do Chile (Atacama) sio os exemplos mais co- hecidos de ambientes Sidos associados a correntes fis, No Pacifico tropical, os arquipélagos situados a Leste do meridiano de 180° apresentam totais pluviomético anus bastante reduzids, pos regio ¢ocupada por un consi- derivl volume de 6guas ras (para aquela latitude), alimentadas pela corrente de Humboldt, além de apresentar varios pontos de ressurgéncia. As ilhas Malden, si- tuadas na latitude de 4S, repistram uma média pluviométrica anual de apenas 730 mmeailha de Canton, a 2° 46'S, de 746 mm. Em alguns pontos do arquipé- lago de Galdpagos (latitude zero), o total anual de chuvas, eqdentemente, pouco ultrapassa 300 mm, ‘A PRESENGA HUMANA Nos TROPICOS ‘Aprosimadament 40% da populagdo do mundo habita a fara intertropica distribuindo-se de forma desigual, fto jé suficientemente conhecido. A civli- zagio urbano-industrial,originada e desenvolvda nas médias latitudes, chegou tardiamente aos trépicos af se instalou, na maioria dos casos, de forma pouco adequada, provocando traumas ambientais. © desmatamento, por exemplo, foi e continua sendo praticado, geralmente, sem nenhum controle e,além de destruir a flora, desencadeia efeitos indesejé- ves para a fauna, o solo o microctima; 0 mesmo podendo ser afrmado para as queimadas. Com a eliminagdo da lorest,o volume de microparticulas de origem vegetal em suspensio na atmosfera(chamadas nicer biogbicos) ¢dras- ticamente reduzido e 0 processo de formagao de nuvens torna-se mais dificil, que as goticulas necessitam desses micleos para iniciar @ coalescéncia. Por ou- tro lado, a capacidade refletora da superficie (ou albedo) aumenta trés vezes, A deverificas. me Jorma de Degradaséo Ambiental ao Brasil | 173 ocasionando a perda de energia incidente e reducio da temperatura de superfi- cie. Como resultado, enfraquecem-se as correntes convectivas ascendentes de- sestimulando a formagdo de nuvens e de chuvas. O ciclo hidrolégico, principal- mente a reciclagem do vapor d’égua, também é perturbado, em virtude da intervencio no processo da evapotranspiracio. ‘As queimadas, 20 fornecerem compostos de CO, para a atmosfera, agravam 0 efeito estufa, que produz varias conseqdénciasclimaticas, no s6 clevando a tem- peratura, mas acentuando as instabilidades. Por outro lado, contudo, concorrem para aumentaro volume de microparticulas em suspensio(cinzas) as quai desem- penham o papel de nicleos higroscépicos, causando precipitagdes na escala local. Accliminagao da vegetacio de grande porte, por sua vez, avoluma o escoamento superficial em proporgdes que variam de 10 a 30% (conforme a intensidade da chuva), tornando mais agressiva a erosto pluvial. Como resultado, ativam-se os processos de erosio acelerada e os vogorocamentos, sobretudo onde o manto superficial €frdgil, como por exemplo, nos arenitos. A mineralizacdo dos solos 4 formacio de carapacas laterticas tende a se expandir. Vastos territorios re- cém-ocupados, submetidos a desmatamentos e queimadas para a pritica da agri- cultura eda pecudria, somadas is atividades mineradoras em grande escalaacabam por se degradar de forma irreversivel conduzindo ao empobrecimento biol6gi- co ¢, portanto, a desertificacio. ‘As regides periféricas dos desertos podem ficar expostas & invasio de areias, transformando-se em desertosecolégicos, que nada mais sio do que éreas inten- samente desgastadas pela atividade explorat6ria, apresentando aspectos paisag{sticos semelhantes aos dos desertos, ainda que as médias pluviométricas s¢ mantenham acima dos limites de aridez admitidos. 0 Programa das Nacées Unidas para o Meio Ambiente (Puma) estabeleceu {indices de aride, internacionalmente aceitos, baseados na razio entre a preci- pitacio média anual e a evapotranspiracio potencial (f6rmula de Thorntwaite adaptada), fixando os seguintes limites: < 0,05 = hiper-érido;0,06-0,20 = éri- 4; 0,21-0,50 = semi-drido; 0,51-0,65 = subsimido seco; > 0,65 = subimido imido ido (auséncia de aridea). A REGIAO SEMI-ARIDA BRASILEIRA A regido semi-srida do Nordeste brasileiro (0 sertdo) estende-se por cerca de 900 mil km? e caracteriza-se por médias pluviométricas anuais oxcilando entre 300 e 800 mm, Em sua porcao nuclear (em torno de 500 mil km*),a pluviometria anual é inferior a 600 mm. 174 1 José Bueno Conti Manifesta-se de forma mais caracteristica, numa Srea que se estende do lito- ral setentrional, da foz do rio Jaguaribe (latitude de 04° 30° S) & Ponta dos Trés Inméos (municipio de Sio Bento do Norte, RN, latitude de 05° 10” S), avan- ando pelo continente em ditegio ao vale do rio Sao Francisco atéa latitude de 12°), apresentando-se de forma descontinua, A regio semi-drida € envolvida a Oeste, a Sul ea Leste, por dreas mais timi- das, definindo uma faixa transicional muito variével. Em diregio a Noroeste, vai se descaracterizando, a partir da Chapada do Ibiapaba, onde a estagio seca se reduz a seis meses, passando para um quadro fisico subémido e cobertura vegetal de cerrado, embora ainda ocorram bolsbes de vegetagdo xeroftica na bacia do rio Parnatba, principalmente nos vales dos rios Piaut e Gurguéia. A partir da depressio sanfranciscana, em diregio a Oeste, o dominio semi-érido € limitado pelos chapadses cretécicos da Serra Geral, de clima subtimido e vege- tacio arbustiva do tipo cerrado. Para Leste, no rumo do Allantico, a transigfo é mais répida, sendo constituida por uma faixa subsimida, de largura variando ente cingilenta e cem quilémetros, correspondente & regio colinosa conhecida como agrest, originalmente coberta por formagées florestais caducifolias, hoje praticamente extintas. O dominio semi-drido esté longe de ser homogéneo, manifestando caracte- risticas distintas conforme os fatores geoecoldgicos locais. Constitui um mo- saico variado de paisagens, é bem caracterizado por muitos estudiosos*, desem- penhando o relevo regional importante papel na determinagio das diferencas. ‘Apesar de modesto, com altitudes méximas pouco superiores a 1000 m, o re- levo introduz modificacées ambientais expressivas, decorrentes de situacoes de barlavento ¢ sotavento. Em dreas mais elevadas, como a serra de Baturité e nos divisores entre a bacia do Sio Francisco ea dos rios que vertem para o Norte (chapada do Araripe, serra dos Cariris ‘Velhos, da Boa Vista, Verde etc.), a semi- aridez & atenuada pelo efeito orogréfico, ocorrendo enclaves timidos ou “bre- jos": Juazeiro do Norte (precipitagao média anual - pma 903,3 mm), Barbalha (pma 1001,3 mm), ‘Triunfo (pma 1141 mm). Na periferia do dominio semi-éri- do, em pleno agreste, o relevo também é responsivel pela ocorréncia de uma “diagonal” imida formada por planaltos de altitudes entre 800 € 1000 m, cujos valores de pma oscilam entre 750 ¢ 1000 mm (ex. Garanhuns, 908,6 mm). Por outro lado, a escassez de chuvas acentua-se nas depressdes em geral, espe- cialmente naquelas situadas em oposigio de sotavento, como a vertente ociden- tal da serra dos Dois Irmios, no Piaut, onde as localidades de Queimada Nova e Paulistana recebem, respectivamente, 398,0 mm ¢ 560,9 mm; € os vales do Pajed ¢ do Moxoté, em Pernambuco, Também ha os exemplos de Inajé (394,0 mm), 6.0. L Melo Pasagent do Nordesteem 12,"Condighes Geo-ambientas do Semi- ‘ido Basic”. A Dererlificasao como Jorma de Degradagie Ambiental no Frasil | 75 Moxoté (429,9 mm) e Floresta (501,3 mm). Poderiamos acrescentar, ainda, as Aepressbes de Patos e Cabaceiras, na Paratba, situando-se ai uma das localida- des mais secas de todo o semi-drido: Cabaceiras, com 336,0 mm anuais. Desta- ca-se ainda, a regido entre Juazeiro e Paulo Afonso, onde, além da precipitagdo reduzida, a estiagem habitualmente estende-se por onze meses. Numa visio de conjunto, veifica-se que o core da mancha semi-arida ¢ defi nido por alinhamentos de relevo. As chapadas sedimentares cretacicas de Ibia- paba e seu prolongamento meridional, a serra dos Dois Irmaos, estabelecem 0 limites ocidentais, ao mesmo tempo em que o planalto da Borborema mar- a 0s limites orientais. Por outro lado, a chapada do Araripe, as serras da Baixa Verde ¢ dos Cariris Velhos, alongadas no sentido leste-oeste, separam subdo- ‘minios no interior do semi-drido. Ao Norte, estende-se uma vasta érea aplai- nada, esculpida em superficie de erosio e interrompida por manifestagdes de relevo residual (Baturité, serra dos Martins, serra da Pedra Branca) e por de- press6es ocupadas por bacias hidrogréficas, onde correm ris intermitents. (Os melhores exemplos sio as do Jaguaribe (artificialmente perenizado), do Aca- rai, do Apodi-Mossor6 e do Piranhas-Acu, Ocupam pediplanos coalescentes, formando grandes extensbes horizontalizadas, com alguns campos de inseber- gues, como o de Quixadé (bacia do Jaguaribe), constituido, dominantemente, por pegmatitos. A precipitagdo anual esté em torno de 500 mm e a vegetagio é de caatinga aspera. ‘Ao Sul das terras levadas,representadas pelo eixo chapada do Araripe-ser- ras dos Caritis Velhos-serra do Teixeira ¢ seus prolongamentos, 0 quadro de semi-aridez no apresenta mudancas significativas, com grandes superficies hotizontalizadas, de solos rasos, drenagem intermitente, médias pluviométricas pr6ximas de 500 mm e estiagens de nove a dex meses. As depressbes locais sio ‘menos beneficiadas pela pluviosidade, acentuando pontualmente a aridez. Ao Sul do Séo Francisco, o trecho médio e superior do rio Vaza-Barris, conheci- do como Raso da Catarina, constitui um dos mais secos do interior nordesti- no, como médias pluviométricas anuais entre 300 ¢ 400 mm. Ai esté a locali- dade de Quinjique que apresenta o “record” negative de 311 mm anuais de precipitacao. Mais ao Sul a regido de chuvas escassas se divide em dois segmentos separa- dos pelas terras elevadas da chapada Diamantina, cuja altitude média é pouco superior 2 1 mil m, Na vertente interior, correspondente a depressio do So Francisco, a semi-aridez se manifesta de forma indiscutivel (exemplos: Mor- pard, 760,0 mm; Barra, 759,8 ¢ Xique-Xique, 815,3 mm), estendendo-se até 0 Norte de Minas Gerais, onde a localidade de Manga registra 892,6 mm anuais, 176 1 José Bueno Conti ao passo que, na vrtente atlantic, suas caractersticas sf mals acentuadas na Bahia, nos trechos superior € médio do vale do rio de Contas (Jequié, 585.8 mm) e,em Minas, na bacia do Jequinhonha (Almenara, 908,3 mm) No conjunto do quadro regional as médias térmicas sio elevadas, acima de 26° C ea evaporacao ¢intensa, produzindo acentuado deficit hidrico, expresso por uma drenagem intermitente, com caracerstics de torencialidade, O hist6rico da intervengio oficial nessa regido remonta ao segundo Império. Pode-selembrar apenas que, em 1936 foi criado por lei federal o Poligono das Secas, a fim de delimitar a drea priortéria no recebimento de ajuda governa- rental no combate aos efeitos das estiagens. Seus limites foram varias vezes ampliados, ocupando, atualmente, 936993 km Sobre ese quadro natural spero, desenvolveu-seo longo processo de ocupacao, aque agora se aproxima dos quinhentos anos, durante os quai spréticas incorre- tas de exploragio e uso deixaram conseqiéncias profundase, em muitos casos, sem retorno, abrindo caminho para a degradagio generalizada ea desetificacio. O “ESTADO DA ARTE” REFERENTE A REGIAO SEMI-ARIDA BRASILEIRA 0 Prof. Joao Vasconcelos Sobrinho, estudioso pernambucano do tema da desetificagio desde meados do século XX, relizou trabalhos de campo que cons- tituiram o ponto de partida para pesquisas sobre a desertficagao no Brasil. Foi ‘um dos dnicos cientistas brasileiros presentes & 1 Conferéncia Mundial sobre Desertficagdo, eunida em Nairobi (Quénia), em 1977. Em 1974, a Universidade Federal Rural de Pernambuco publicou seu livro O Deserto Brasileiro, que trata do tema do ponto de vista biol6gico, com caréter preservacionsta, Nos anos seguintes, produciria mais dois trabalho, editados pela Sudene’ O Prof. Vasconcelos Sobrinho atuou, também, como consultor de um trabalho realizado em 1979 peto Centro de Pesquisas € Desenvolvimento do Estado da Bahia publicado sob o titulo Diagnéstico Preliminar do Proceso de Desertficagto do Estado da Bahia, cuja proposta principal foo estabelecimen- to de uma classificagao e respectivo zoneamento de aridez naquele Estado. Entre os gedgrafos,consttuem contribuigo expressva os trabalhos de Dérdano de Andrade Lima, da Universidade Federal de Pernambuco, concentrado no es- tudo da biogeografia do semi-drido e versando principalmente sobre a capaci- dade de regeneracio dos vegetas’. Por sua ver, Caio Lsio Botetho concentrou seus estudos no Ceard, tendo resgatado ¢ atualizado, até os anos de 1980, um quadro que fora organizado nos anos de 1920, denominado Estado do Ceard ~ Panoraina das Secas de 1605 a 1983. 7.4 Nasconeeos Sbrinh,Ientifspto de Process: de Desertifcgta no Polson as Secs de Nodes Bras ide Me- tadaloia par dentifcap de Process de Desierto. 4.D.deA.Lims,"NotsparaFiogeogafa

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