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Vermelho
Ensino a Distância
MANTENEDORA
Comunidade Evangélica Luterana São Paulo - CELSP
Rua Fioravante Milanez, 206
CEP 92010-240 – Canoas/RS
SUMÁRIO
Telefone: 51 3472.5613 - Fax: 51 3477.1313 A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA .............................................................3
DIREÇÃO
Presidente HINDUÍSMO ..................................................................................7
Delmar Stahnke
BUDISMO ....................................................................................14
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
Av. Farroupilha, 8001 - Bairro São José
CEP 92425-900 - Canoas/RS ISLAMISMO ................................................................................. 21
Telefone: 51 3477.4000 - Fax: 51 3477.1313
REITORIA JUDAÍSMO...................................................................................28
Reitor
Marcos Fernando Ziemer CONFUCIONISMO ........................................................................35
Vice-Reitor
Valter Kuchenbecker
Pró-Reitor de Administração XINTOÍSMO .................................................................................40
Ricardo Müller
Pró-Reitor de Graduação TAOÍSMO ..................................................................................... 41
Ricardo Prates Macedo
Pró-Reitor Adjunto de Graduação CRISTIANISMO ............................................................................44
Pedro Antonio Gonzalez Hernandez
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
A MENSAGEM CRISTÃ NAS PARÁBOLAS DE JESUS .........................55
Erwin Francisco Tochtrop Júnior
Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários
Ricardo Willy Rieth LUTERO E A REFORMA ..................................................................60
Capelão geral
Gerhard Grasel IGREJA LUTERANA E EDUCAÇÃO ...................................................70
Diretor de Ensino do EAD
Joelci Clécio de Almeida AS RELIGIÕES DO BRASIL .............................................................79
Orientação e revisão da escrita
Dóris Cristina Gedrat
CULPA E PERDÃO: UMA QUESTÃO EXISTENCIAL ...................................... 90
Design/Infografia/Programação
José Renato dos Santos Pereira
Luiz Carlos Specht Filho A RELAÇÃO ENTRE .......................................................................97
Sabrina Marques Maciel
FÉ E SAÚDE ................................................................................. 97
DICAS PARA UTILIZAR O PDF
ÉTICA ........................................................................................103
COMO PESQUISAR NO TEXTO
Clique em editar => Localizar ou clique Ctrl + F. ÉTICA SOCIAL CRISTÃ APLICADA................................................. 110
Na barra de ferramentas, digite sua pesquisa na caixa de texto localizar.
REFERÊNCIAS............................................................................ 117
COMO IMPRIMIR
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Cultura Religiosa
Imagem 1: Wikipedia
A EXPERIÊNCIA
RELIGIOSA
Você já deve ter passado por alguma experiência Religiosa. Se não passou,
alguém ao seu lado já deve ter contado algo que o levou a refletir sobre o assun-
to. Neste capítulo vamos ver que a experiência religiosa é mais rica do que se
imagina e é universal.
A
religião tem estado presente no cotidia- cam ajuda divina como alternativa para a cura?
no através de diferentes manifestações.
No esporte estamos acostumados, marcada-
Pode-se, sem entrar em detalhes por
mente no futebol, com a cena de uma oração con-
ora, mencionar algumas áreas, alguns eventos e
junta antes da entrada no campo. Numa decisão
algumas práticas pessoais e sociais marcadas por
por pênalti, por exemplo, é comum a imagem de
idéias, ritos e símbolos consagrados ao campo
jogadores ajoelhados, rezando ou beijando sua
religioso.
santinha.
Vamos utilizar aqui alguns pontos trabalha-
No campo musical não são raras as menções
dos pelo colega Ronaldo Steffen, estudioso do
que se faz a personagens religiosos e até mesmo
assunto, professor de Cultura Religiosa, publica-
a sentimentos de ordem religiosa; no campo das
do no site da Universidade.
artes somos conduzidos a milhares de imagens
A Experiência Religiosa
De uma forma bem simples, podemos repor- notadamente carregadas de simbolismo religioso
tar o leitor a algumas práticas familiares ligadas dos mais diversos matizes. A literatura não tem
à tradição religiosa como o casamento, batismo, deixado por menos e tem sido o mercado que
morte e velamento. São cerimônias religiosas mais cresce em termos de editoria nos últimos
tão tradicionais, que muitas pessoas, sem que se anos. O cinema tem sido pródigo nas temáticas
dêem conta, se envolvem. O que dizer de pessoas de ordem religiosa. As novelas, fenômeno bra-
doentes ou com problemas mais sérios que bus- sileiro que ganha o mundo, jamais têm deixado
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Cultura Religiosa
por diante.
A palavra Religião
Afinal, o que é religião? No texto a
seguir temos uma definição que pode-
rá ajudá-lo a entender o sentido.
ora, cantando hinos belos deles. É importante ressaltar aqui a questão da to-
Tudo me quieta, me suspende. lerância. Religião sem o devido respeito perde o
Qualquer sombrinha me refres- sentido. Não é possível pregar algo e praticar ou-
ca. Mas é só muito provisório. Eu tra coisa. Por outro lado, a experiência religiosa
queria rezar – o tempo todo. Mui- é importante na vida de todo o ser humano. Se
ta gente não me aprova, acham você ainda não passou por isso, busque entender
que lei de Deus é privilégios, in- um pouco mais do assunto. Leia, reflita sempre.
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Cultura Religiosa
HINDUÍSMO
Cerca de 13% da população mundial segue o Hinduísmo, tornando-a uma
das religiões com mais seguidores no mundo.
Arquivo ULBRAEAD
OHM: é símbolo universal do Hinduísmo e seu
som impede sentimentos ruins e transmuta os
pensamentos negativos em positivos.
É
a noção de Brahman, a força espiritual essencial
difícil identificar uma data para regis-
sobre a qual se baseia todo o universo. É por essa
trar o início do hinduísmo. Costuma-se
razão que se diz que todos nascem do Brahman,
atribuir a alguma data entre 1500 a.C.
vivem no Brahman e retornam ao Brahman por
e 200 a.C. Nesse período, um grupo de nobres
ocasião da morte.
(denominados de arianos) dominou o vale do rio
Indo. Os nobres trouxeram suas crenças, forte-
mente influenciadas por concepções religiosas
Os “Upanishads” introduzem a
indo-européias (grega, romana e germânica). idéia de “Brahman”. Todos nas-
Esse período é denominado de período védico cem dele, vivem nele e na morte
do hinduísmo em razão dos hinos recitados pelos retornam a ele.
sacerdotes. Esses hinos eram chamados de vedas
e significam “conhecimento”.
O sacrifício era importante para o culto aria-
Hoje
no. Faziam-se oferendas aos deuses a fim de se O hinduísmo, embora originário da Índia,
conquistarem seus favores e se manterem sob possui adeptos espalhados por todos os países a
controle as forças do caos. sua volta, em especial Nepal, Bangladesh e Sri
Achados arqueológicos no vale do rio Indo Lanka.
indicam que houve uma civilização avançada na Apenas em 1947 é que a Índia deixa de ser
Índia, anterior à chegada dos indo-europeus, e um Estado religioso e passa a garantir direito de
é certo que essa civilização também contribuiu expressão religiosa a todas as denominações re-
Hinduísmo
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da Índia resultou na criação do Paquistão como ses é evidente pelas imagens que a mostram piso-
um Estado muçulmano separado, dividido em teando o corpo de Shiva.
duas partes distintas, o Paquistão do Leste e o
A importância das deusas na religião india-
Paquistão do Oeste. Depois da guerra de 1971
na é visível pela escolha da Mãe Índia (Bhárata
entre a Índia e o Paquistão, o Paquistão do Leste
Mata ou Bharthamata) como a divindade nacio-
se tornou um Estado independente com o nome
nal do moderno Estado da Índia. Na cidade de
de Bangladesh.
Varanasi há um templo especial que lhe é dedica-
do. Ali, em vez de uma representação da deusa,
Ensinamentos está exposto um mapa da Índia.
Imagem 5: Yogacasaverde
Imagem 6: Wikipedia
Hinduísmo
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deixados para trás por homens maus. Ao cultivar classificações tiveram ampliação à medida que a
esses espíritos como deuses, é possível controlar organização se fazia necessária, de modo que se
e neutralizar sua maldade. chegou a uma estratificação com quatro classes
sociais: videntes, administradores, produtores e
Ser humano seguidores.
Na prática popular, hoje, a casta é entendi-
A concepção que o hinduísmo desenvolve da como as possibilidades que alguém tem de
a respeito do ser humano está intimamente vin- se relacionar com coisas mais puras ou impuras.
culada a uma compreensão ampla que privilegia Essas possibilidades são determinadas pelas re-
os entendimentos sobre carma, reencarnação e o gras que conduzem cada casta: castas elevadas
sistema de castas. buscam cada vez mais distanciamento das coi-
sas materiais; castas mais baixas se permitem a
Carma e reencarnação aproximação com as coisas da matéria. Duma ou
doutra forma, se alguém quebrar alguma das re-
O ser humano tem uma alma imortal que gras de sua casta, restam-lhe os rituais de purifi-
não lhe pertence. Depois da morte, a alma volta a cação, sendo o mais conhecido o banho num dos
aparecer pelo renascimento, não necessariamen- muitos rios sagrados.
te em forma humana, podendo, também, vir a re- Os efeitos do sistema de castas e suas regras
nascer num animal. específicas influenciam di-
retamente a base da divisão
O conceito que expli- Reigiosa- de trabalho na comunidade.
ca esse eterno vai-e-vem
da alma é o carma (“ato”
mente, as cas
cas- Certas atividades e certos
ou “ação”) do ser humano, tas indicam o trabalhos são tão impuros
referindo-se tanto às ações grau de pureza que somente determinadas
como aos pensamentos, às ou impureza de castas podem realizá-los.
palavras e aos sentimentos. uma pessoa. Essas castas têm o dever de
ajudar os outros a manterem
Desse modo, entende-se que
o carma é determinante para sua pureza. Por outro lado,
o que irá ocorrer numa pró- apenas as castas que pre-
xima existência. Muito embora se possa concluir encham os requisitos de pureza podem se apro-
que o carma é uma punição ou uma recompensa ximar dos deuses mais elevados. Para que isso
das ações humanas, não é esse o modo de com- ocorra com mais facilidade, outras pessoas de-
preender sua extensão. É como se ele fosse ape- vem ser impuras. Entretanto, todos se beneficiam
nas uma lei natural da existência. Colhe-se aquilo da limpeza dos puros, pois todos os hinduístas
que se planta, e é justamente isso que explica as tiram proveito dos ritos que são praticados.
diferenças entre as pessoas. O ser humano é res- O sistema de castas deu um novo contexto à
ponsável por si mesmo e de posse do livre-arbí- vida do indiano moderno. Assim, ser expulso de
trio está apto a produzir as mudanças necessárias sua casta é o pior castigo imaginável e, por isso,
com vistas a uma melhor existência posterior, só utilizado para crimes muito sérios. O nível
quando renascer. mais baixo no sistema de castas é o dos intocá-
veis ou sem-casta (também chamados de párias):
O sistema de castas criminosos, lixeiros e curtidores de couro de ani-
mais, por exemplo.
O surgimento do conceito de casta é confu- As complexas regras que controlam o con-
so. O fato a ressaltar é a chegada dos arianos à trato social entre as castas eram muito rígidas. A
Índia, com língua, cultura e traços fisionômicos
Hinduísmo
Hinduísmo
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poema catequético. Essa terceira tendência do rância se entrelaçam em proporções quase iguais.
hinduísmo é a que predomina na Índia moderna, Não faz parte dos propósitos do universo ser um
e o livro Bhagavad Gita é o texto sagrado que paraíso, mas o espaço onde o espírito do ser hu-
ocupa o lugar supremo na consciência do indiano mano pode viabilizar seu aprendizado de integra-
médio. ção ao Transcendente. É como se o universo per-
ceptível servisse apenas para poder perceber-se
Mundo que há outra realidade além dele.
É plural É maya
O mundo não é uno, mas plural. Há diver- O mundo e suas galáxias são maya. A palavra
sos mundos interconectados pela mesma razão. maya possui a mesma raiz que mágica. Na mági-
É como se fossem infinitas galáxias, e cada uma ca, o que vemos nem sempre é o que pensamos
com o seu ponto de referência, como a Terra. ver. Assim é o universo. Enquanto em processo
Para dar uma dimensão superlativa ao conceito de constantes renascimentos, o ser humano pode
de infinitas galáxias, o hinduísmo entende que cair no ardil de que a materialidade e a multipli-
entre esse ponto de referência e o restante da ga- cidade são realidades independentes, quando, em
láxia há diversos outros mundos mais sutis, aci- realidade, são Brahman, o todo inclusivo de tudo
ma, e mais grosseiros, abaixo. Os mundos sutis e o que é e de tudo o que não é.
grosseiros são os espaços ocupados pelas almas
O mundo e suas galáxias podem ser a pri-
e que por eles transitam conforme os méritos ad-
são do ciclo de constantes e infindáveis renasci-
quiridos ou não.
mentos do ser humano. O universo aí está para
Cada mundo e galáxia têm ciclos diferentes poder perceber-se sua unidade, que é Brahman.
de tempo. Há tempo que se expande e tempo que Mesmo que o ser humano não o perceba ou o
se recolhe, eterna e incontavelmente no mesmo perceba apenas parcialmente, ele continua sendo
movimento, estabelecendo os ciclos cósmicos. Brahman.
É meio É lila
O mundo e suas galáxias têm uma razão. É O mundo e suas galáxias são o espaço lila
o espaço onde as almas individuais cumprem a (“dança”) do Transcendente. É onde ele dança,
inexorável lei do carma até sua libertação. Ine- numa espécie de jogo, de forma incansável, in-
rente ao conceito de carma está que toda decisão finda, irresistível, mas absolutamente benéfica. É
do ser humano terá determinadas conseqüências. o jogo que o Transcendente criou a fim de que o
Não há fatalismos no universo. finito seja superado e destruído pelo infinito.
Nos mundos mais grosseiros há uma percep-
ção maior dos elementos sensoriais. Em razão
dos prazeres proporcionados, geralmente assen-
Principais tendências
tados no eu individual, o ser humano deve buscar
a libertação para mundos cada vez mais sensí-
Escolas do pensamento hindu
veis, em direção ao EU absoluto, o Transcenden-
Entre os séculos II a.C. e IV d.C., surgiram
te, até sua integração completa.
seis escolas ortodoxas da filosofia clássica hindu,
descritas a seguir. Não eram grupos organizados,
É moderado mas sistemas de pensamento que apresentavam
Hinduísmo
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diferentes.
Perfil do Hinduísmo
Fundador: não há fundador.
Ano de fundação: as raízes do hinduísmo remontam a um período entre
1500 a.C. e 200 a.C.
Textos sagrados: Livro dos Vedas, que consiste numa coletânea de qua-
tro obras, das quais certas partes datam de 1500 a.C.
Estatística: hoje, cerca de 80% da população da Índia é hinduísta. O
Hinduísmo
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BUDISMO
Uma religião e filosofia baseada nos ensinamentos deixados por Siddhartha
Gautama, objetivando o fim do ciclo de sofrimento.
História
A Índia antes do budismo
O
mundo à época do nascimento de Siddartha era de mudanças. Por volta de 1500 a.C., a Índia
passou a ser influenciada pela religião védica, trazida pelos guerreiros arianos. Possivelmente
o processo sincrético ocorrido entre os arianos e os não-arianos tenha originado o hinduísmo
após séculos de evolução. Essas mudanças teriam ocorrido entre os anos 1000 a.C. e 200 a.C. Além
das revoltas filosóficas contra o vedismo e o bramanismo, duas religiões surgiram na Índia: o jainismo
e o budismo. Acresce que nesse tempo surgiram duas grandes escolas
filosóficas: a Ajivakas, ou nihilistas, e a Lokayatas, ou materialis-
tas. Posteriormente, essas duas escolas opuseram-se ao hindu-
ísmo. Popular também à época do nascimento de Siddartha
era um movimento denominado Sâmara, uma espécie de
contracultura dos mendicantes religiosos, que optaram
pela renúncia ao mundo. Todos esses movimentos surgi-
ram no exato momento em que o ambiente da Índia era
um campo fértil para novas idéias.
Num período posterior, provavelmente entre 1000
a.C. e 500 a.C., surgiram os Upanishads, escritos em for-
ma de diálogos entre o mestre e o discípulo. É nesse perío-
do que é introduzida a noção de Brahman, a força espiritual
essencial sobre a qual se baseia todo o universo. É por
essa razão que se diz que todos nascem do
Brahman, vivem no Brahman e retornam
ao Brahman por ocasião da morte.
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O nascimento e vida de
Deuses
Buda não negou a existência dos deuses. To-
Budismo
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sem mais tempo que os seres humanos, também físicos que alteram o ser humano de momento a
estavam atrelados ao ciclo de renascimentos e em momento. Tudo é transitório.
nada podiam ajudar os seres humanos a se redi-
mirem de tal ciclo.
Outro aspecto a ressaltar diz respeito à ado-
Vida e morte
ração de demônios, espíritos e outras divindades.
Todos são seres vivos e, se cultuados de modo A lei do carma
correto, podem trazer vantagens para a vida neste
mundo. Para Siddartha, o Buda, o ser humano é es-
cravizado por uma série de renascimentos. Como
todas as ações têm conseqüências, o princípio
Ser humano propulsor que está por detrás do ciclo nascimen-
to-morte-renascimento são os pensamentos dos
seres humanos, suas palavras e seus atos (carma).
“Aquilo que você planta é o A idéia básica consiste em que tudo o que fi-
que colhe.” O ser humano é zemos em determinada vida, ainda que passada,
dono de seu destino: o que repercute e alcança-nos no presente. As ações de
uma vida estendem-se a outra. O ser humano irá
pensa e faz é determinante
colher no presente aquilo que plantou no passa-
de seu futuro cósmico. do. Não há “destino cego” nem “divina providên-
cia”. Daí a impossibilidade de escapar do carma.
Enquanto houver um carma, o ser humano está
Para o hinduísmo, originalmente, todo ser fadado a renascer e manter-se preso à existência
humano, bem como todo o universo, possui uma humana, não transcendendo. Em razão disso, tor-
única alma (atmã), que sobrevive de uma existên- na-se imperiosa a busca por uma saída que seja
cia a outra e é idêntica, total ou parcialmente, ao capaz de produzir a libertação humana.
Transcendente universal (Brahman).
Buda rompe essa lógica. Nega que o ser As quatro nobres verdades
humano tenha alma e rejeita a existência de um
espírito universal. A alma é fugaz e fruto da ig- sobre o sofrimento
norância humana, que promove o desejo, funda-
O denominado Sermão de Benares, que
mental para a criação do carma individual.
apresentou as quatro verdades sobre o sofrimento
Nessa dimensão, o budismo entende a vida humano, ocorreu depois que Siddartha obteve o
humana como uma série de processos mentais e estado de iluminação.
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sofrimento?
Nirvana e céu são a mesma coisa?
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Ética
Mundo
cola da tradição budista. Defende que cada ser
humano é responsável sozinho pela sua própria
iluminação. Apenas poucos alcançam esse esta-
No mundo tudo é transitório. Nada é defi- do. A sabedoria e a disciplina são virtudes valio-
nitivo e, por isso, essa transitoriedade deve ser sas. Os rituais não são fundamentais, e sim a de-
abandonada para evitar-se todo e qualquer de- voção. Está presente no Sri Lanka, na Tailândia,
sejo. Notemos, no entanto, que, quando se fala em Mianmar, em Laos e no Camboja.
em abandonar a transitoriedade da materialida-
Budismo Mahayana – É o budismo das
de constante no mundo, o que se tem em mente
pessoas comuns. Enfatiza que qualquer pessoa
é o apegar-se a essa materialidade como se ela
pode alcançar o estado de iluminação que liberta.
fosse capaz de resolver os problemas da natureza
A compaixão e o amor pelos menos afortunados
humana. A única saída para a transitoriedade do
são mais importantes que a sabedoria.
mundo é o nirvana.
Budismo Zen – É um amálgama da escola
Uma vez que o nirvana é o oposto direto do
Mahayana com o taoísmo. Zen é o caminho da
ciclo de renascimentos, e uma vez que ele não
iluminação por meio da meditação e da vida sim-
pode ser comparado a nada neste mundo, só é
ples, evitando as teorias abstratas e favorecendo a
possível dizer que o nirvana não é. Alcançá-lo só
experiência direta de um espírito “vazio” e aber-
é possível por meio do estado de iluminação e de
to. Há duas grandes escolas: a Rinzai Zen, que
nada adiantam, por si sós, as boas obras.
dá ênfase à iluminação espontânea, e a Soto, que
Embora o mundo não tenha autonomia, seja enfatiza a concentração espiritual e corporal dis-
transitório e pleno de sofrimento, este é o espaço ciplinada na meditação. As escolas Zen também
dado e no qual o ser humano pode chegar à liber-
Budismo
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Theravada Séc IV a.C. Sul da Ásia (Sri A figura do “vaículo pequeno” resume o espírito da 5 Menos de Pushwelle
(Hinayana) Lanka, Tailân- tradição Theravada, também chamada de Hinayana. Cada 1 mil Vipasse
dia, Mianmar, um é responsável por guiar o próprio barco. Sozinho,
Laos, Camboja) o praticante busca a auto-iluminação por meio da
meditação e de uma conduta condizente com a doutrina
de Buda.
Mahayana Séc. I a.C. Norte da Ásia A tradição Mahayana pode ser simbolizada pela figura do 85 Cerca de Monja Sinceri-
(China, Coréia, “veículo grande”. O fiel não apenas busca a própria ilumi- 220 mil dade e Monja
Japão) nação como pode contribuir para que todos a sua volta Coen
evoluam espiritualmente. O bodhisattva (ser iluminado) é
o timoneiro em um barco com muitos passageiros
Vajarayana Séc. VII Tibete Os primeiros missionários a visitar o Tibete tiveram de 45 Cerca de Lama Michel e
d.C. incorporar algumas práticas xamânicas da população na- 3 mil Segyu Rinpoche
tiva. A tradição Vajrayana, ou “veículo diamante” combina
a ética Mahayana com doutrinas esotéricas do Tantrismo
Budismo
*Números aproximados
Consultoria: Prof. Frank Usarski, programa de pós-graduação em Ciências da Religião da PUC de São Paulo.
Fonte: Revista Isto É, 2003.
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Perfil do Budismo
Fundador: Siddartha Gautama, identificado por seus seguidores como Sakyamuni
(pertencente ao clã dos Sakya), Buddha (“o iluminado”) ou Bhagavat (“senhor”). É
tido como o quarto dos cinco budas encarnados. Não há certezas, as biografias men-
cionam datas desde 624 a.C. até 410 a.C.
Data de nascimento: Livro dos Vedas, que consiste numa coletânea de quatro obras,
das quais certas partes datam de 1500 a.C.
Ano de fundação: estima-se que Siddartha tenha atingido o estado de iluminação por
volta de seus 35 anos de idade.
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ISLAMISMO
Enquanto religião, o islã abrange todas as áreas da vida humana, pessoal e
social.
História Maomé
C
om origem na Arábia, o islã está pro- Nasceu em Meca, na Arábia, por volta de
fundamente relacionado com a cultura 570 d.C. Nascido numa das principais famílias
árabe. Ressaltemos, no entanto, que hoje da cidade, ficou órfão ainda criança. Criado por
apenas uma minoria de seus seguidores são ára- um tio, Abu Talib, foi trabalhar como condutor
bes. O islã está difundido por regiões da África de camelos para Khadidja, viúva de um rico mer-
e da Ásia, em especial, e é seguido por cerca de cador. Quinze anos mais velha que Maomé, veio
15% da população mundial. a ser sua esposa e exerceu grande influência no
desenvolvimento religioso de seu esposo.
A palavra árabe islam significa “submissão”.
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mitas cristãos, que viviam isolados nos desertos nas após a sua morte. Assim como no judaísmo e
da Arábia. Devotos e generosos eram pródigos na no cristianismo, o islamismo também passa a ter
ajuda aos viajantes. seu livro sagrado.
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Cultura Religiosa
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ramente por meio de assaltos a caravanas perten-
centes às famílias ricas de Meca. O conjunto das
atividades desenvolvidas por Maomé com vistas
ao retorno a Meca é conhecido como jihad, hoje % %
empregado para designar a guerra santa.
Na década seguinte, Maomé toma a cida-
de de Meca por meios militares e diplomáticos. Os dois grupos reúnem a maioria dos adeptos do islamismo.
Ocupou, a seguir, grande parte da Arábia. Em
632 d.C., pouco antes de morrer, havia realizado
o feito de unir o país e torná-lo um só domínio, Ensinamentos
no qual a religião tinha mais representatividade
que os antigos laços familiares e tribais. Deus
O Cisma no islã após Maomé Não há Deus, senão Alá, e Maomé é seu pro-
feta. Este é o resumo da fé islâmica: o monoteís-
mo e a revelação dada a Maomé.
Após a morte de Maomé, a liderança do
movimento foi assumida pelos califas, ou suces-
sores. Os três primeiros califas eram parentes de Monoteísmo
Maomé. O quarto califa, Ali, genro de Maomé,
Islamismo
casado com sua filha Fátima, era filho de seu tio, Alá não constitui um nome pessoal, mas,
Abu Talib, que o havia criado. sim, a palavra árabe que significa “Deus”. Eti-
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mologicamente, a palavra alah se relaciona com também, designou-se a sexta-feira como dia sa-
a palavra hebraica el, que é utilizada na Bíblia grado da semana.
para nomear o Deus dos hebreus.
judeus, a orientação mudou: o fiel, agora, deve minados de Os cinco pilares, descritos a seguir.
estar de frente para Meca ao orar. Por essa época
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Perfil do Islamismo
Fundador: o profeta Muhammad (Maomé).
Data de nascimento: 570 d.C.
Local de nascimento: Meca, atual Arábia Saudita.
Ano de fundação: 622 d.C., em Meca.
Textos sagrados e reverenciados: Qu´ran (Corão), coleção das escrituras divinas
como reveladas ao profeta Maomé pelo arcanjo Gabriel, e Hadith, coleção de ditos
de Maomé e seus seguidores e que se perpetuaram com o decorrer do tempo.
Estatística: estima-se hoje em cerca de 1 bilhão e 300 milhões de adeptos distribuí-
dos por várias localidades: Turquia, Oeste da África, Sul da Ásia, Filipinas, Indonésia,
Índia, Oriente Médio, Europa e as três Américas. No Brasil, fala-se em 1 milhão de
Islamismo
adeptos.
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Arquivo ULBRAEAD
Uma religião inteiramente ligada à história:
JUDAÍSMO
Por Prof. Ronaldo Steffen
O
de sua terra e foi em direção à terra indicada por
judaísmo é uma religião inteiramente
Elohim, a fim de formar um grande povo. Esse
ligada à história. As narrativas bíblicas
povo ganhou um nome após uma dramática luta
começam com Adão e Eva e os relatos
entre Jacó, neto de Abraão, e um anjo de Elohim.
que apontam as conseqüências do pecado, mani-
O anjo lhe dá o nome de Israel (o que venceu a
festadas no desejo humano de rebelar-se contra
Elohim). Os filhos de Jacó, mais tarde, vieram a
Elohim (Deus). Segue-se a expulsão do paraíso.
ser identificados como as doze tribos de Israel.
Mais tarde, o mundo inteiro é destruído pelo di-
lúvio, salvando-se apenas Noé e sua família, jun- Com José, um dos filhos de Jacó, as narra-
tamente com todos os animais da Terra. Sodoma tivas bíblicas mostram como os israelitas foram
e Gomorra, cidades sem Elohim, são aniquiladas, parar no Egito. Após serem escravizados, foram
e a torre de Babel é derrubada por representar a retirados do Egito com a ajuda de Moisés, numa
tentativa humana de chegar até o céu*. jornada de 40 anos pelo deserto antes de chega-
rem à Canaã, a terra prometida.
Arquivo ULBRAEAD
A jornada de Abraão
Judaísmo
quistaram parte de Canaã, convivendo com povos Amós, que viveu por volta de 750 AEC e ataca-
não israelitas. Foi a época dos juízes que cuida- va os males sociais, como a opressão dos pobres
vam para que o povo respeitasse as leis dadas por pelos ricos.
Elohim. A luta com os filisteus, nesse período,
foi o episódio determinante da necessidade da
criação de um poder político centralizado.
O exílio na Babilônia
Advertidos pelos profetas do juízo e da pu-
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Divisão das 12 Tribos de Israel nição divinos em razão do descumprimento das
leis divinas, os israelitas, sem retroceder, viram
o seu reino dividido em dois: o reino do Norte
(Israel) e o do Sul (Judá). Em 722 AEC os as-
sírios invadiram e devastaram o reino do Norte,
que deixa de ter importância política e religiosa.
O reino do Sul foi conquistado em 587 AEC
pelos babilônios, que deixaram como marca da
ocupação a destruição do Templo de Jerusalém.
Os habitantes do reino do Sul tiveram permissão
para voltarem a sua terra em 539 AEC e daí em
diante se tornaram conhecidos como judeus. O
Templo de Jerusalém foi reerguido em 516 AEC.
Imagem 19: Escola Dominical
Ocupação estrangeira
O reino de Israel Seguidas vezes, após o retorno da Babilônia,
os judeus caíram sob o domínio político estran-
O ano 1000 AEC marca a introdução da mo-
geiro. Foi assim que, em 70 EC (Era Comum),
narquia por meio de Saul. Davi e Salomão são os
uma revolta contra os romanos levou ao saque
expoentes desse período. Com Davi, nascido em
de Jerusalém. O Templo, que recentemente ha-
Belém, dá-se a unificação das tribos de Israel.
via sido ampliado pelo rei Herodes, foi outra vez
Com Salomão, dá-se a construção do Templo de
arrasado. Dessa época em diante se estabelece
Jerusalém no século X AEC.
um novo formato do judaísmo, desvinculado do
A prática de sacrifícios no templo, espécie Templo e centrado na sinagoga. Muitos judeus
Judaísmo
de oferenda, passou a ser uma forma mecânica estavam agora dispersos pelas terras do Mar Me-
de adoração. Surgem daí os profetas. Destaca-se diterrâneo.
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No entanto, o que mais tem marcado a dis- Esse novo Estado tem vivido em contínuo
persão dos judeus é a constante campanha que conflito com o mundo árabe, também por causa
diferentes países e culturas têm desencadeado dos milhares de palestinos que foram deslocados
com o fim de afastar os judeus de seus limites de suas propriedades na época da fundação de
geográficos, em especial a partir da Baixa Idade Israel.
Média. Por muito tempo o cristianismo encabe- Hoje as terras israelenses abrigam apenas
çou a perseguição aos judeus sob a alegação de cinco dos onze milhões de judeus
terem sido os judeus os culpados pela morte de
Jesus. Da França e da Inglaterra os judeus foram
deportados nos séculos XIII e XIV; na Espanha Ensinamentos
a perseguição dá-se no século XV, e os judeus
são expulsos desse país em 1492; em 1687, fo- Deus
ram proibidos de entrar no território da Noruega.
Culmina o cenário de perseguição, na história O judaísmo é uma religião monoteísta. Elo-
recente, com o avanço nazista na Europa, entre him, o Deus único, é o criador do mundo e o se-
1933 e 1945. nhor da história. Toda vida depende dele, e tudo
Mesmo em épocas em que as perseguições o que é bom flui dele. É pessoal e tem preocupa-
explícitas não ocorriam, os judeus continuaram ção com as coisas que criou.
a sofrer restrições: tratados como párias sociais; Quem é Elohim é algo que não pode ser
obrigados a adotar nomes de fácil identificação expresso em palavras. O nome de Deus é repre-
e a residir em lugares específicos; proibidos de sentado pelas letras IHVH, um acrônimo que em
possuir terras e assim por diante. hebraico significa “eu sou o que sou”. Esse acrô-
Apenas em 1948 veio o reconhecimento nimo costuma ser lido como Jeová ou Javé, po-
mundial com um ato da ONU, que criou o Estado rém o nome real é tão sagrado que sempre se usa
de Israel. Os primeiros passos foram dados no algum sinônimo, como “o Senhor” ou “o nome”.
Judaísmo
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Jeová é o criador e o sustentador do mundo. A lógicos. Por isso, faz parte da missão divina no
idéia de que Elohim possa não existir é alheia a cosmo, realizando a mediação entre o Criador e a
um judeu. criatura. A tarefa mais importante do ser humano
é cumprir todos os seus deveres para com Elohim
Particularmente específica na concepção
e para com seus semelhantes.
de Elohim é a expectativa nutrida pela vinda de
um messias (“o ungido”) que virá criar um rei-
no de paz na terra. Historicamente, a expectati- Vida e morte
va remonta à época do rei Davi, quando os reis
eram ungidos ao subir ao trono. Desde o exílio A vida e a morte de um judeu têm seus cami-
babilônico, os judeus alimentam a expectativa nhos e atalhos traçados nas Escrituras Sagradas.
da chegada de um messias, saído da linhagem de
Davi. Esse rei ideal restabeleceria Israel como Os Escritos Sagrados
uma grande potência, e seu povo desfrutaria de
eterna felicidade. O chamado cânone judaico foi fixado por
Até hoje essa expectativa continua viva. um concílio em Jabne por volta de 100 EC. São
Nem todos os judeus, entretanto, identificam o 24 livros divididos em três grupos:
Messias como uma pessoa; alguns falam numa • Torá (a Lei): os cinco livros de Moisés.
“era messiânica” – um estado de paz na Terra,
com destaque especial para Israel. Há alguns • Nevim (os Profetas): os livros históricos
judeus que identificam a criação do Estado de e proféticos.
Israel, em 1948, como o cumprimento dessa ex- • Ketuvim (os Escritos): os demais livros.
pectativa.
Além da Torá, os judeus obedeciam às regras
O Messias para os Judeus: transmitidas oralmente. Conforme a tradição, no
monte Sinai, Moisés teria recebido a Lei Escrita
• Alguns esperam a vinda de uma pessoa; e a Lei Falada. A Lei Falada era proibida de ser
• Outros esperam uma era messiânica; escrita, pois deveria adaptar-se às condições re-
ais da vida em diferentes lugares e épocas. Após
• Outros identificam que essa era chegou a dispersão dos judeus, sob pena de perder-se a
com a criação do Estado de Israel tradição oral, decidiu-se registrar as orientações.
legítima. Esse material se chama Talmude. Não é em si
um livro de ensinamentos, e sim um texto usado
pelos rabinos em seus ensinamentos, para orien-
Ser humano tação dos fiéis em situações concretas.
A sinagoga e o sábado
O ser humano, embora biológi-
co, faz parte da essência divina Desde o exílio, a sinagoga tem desempenha-
e deve cumprir a missão de do papel primordial na preservação das práticas
Elohim aqui na Terra. religiosas dos judeus. É nesse espaço que se en-
contra a Arca, uma espécie de armário colocado
sistematicamente na direção de Jerusalém e onde
O fato de que Elohim é um, e apenas um, são guardados os rolos da Torá. Nas manhãs dos
reflete-se na existência humana. Toda a vida do sábados (shabat), das segundas e das quintas-
ser humano deve ser consagrada. Não há linha feiras, os rolos são lidos de tal forma que todo
divisória que separe o sagrado do profano. o livro é lido no decurso de um ano. A sinagoga
Enquanto ser biológico, o ser humano faz pode abrir suas portas para os serviços religiosos
Judaísmo
parte do cosmo. No entanto, de tudo o que há no três vezes por dia, desde que dez homens estejam
cosmo, o ser humano foi escolhido como parte presentes. As mulheres não desempenham parte
da essência divina, ultrapassando os limites bio- ativa no serviço religioso, pelo menos nos grupos
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ortodoxos. No entanto, encontram seu espaço nos gue seja extraído. Além disso, é proibido comer
rituais do Shabat. derivados de carne juntamente com derivados de
leite. As frutas, as verduras, as bebidas alcoólicas
A ética
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Mundo
Cerimônia de casamento
Reza o texto sagrado, registrado em Gênesis,
• Enterro – O enterro deve ocorrer o mais capítulo 1, que Elohim criou o “céu e a terra” (o
rápido possível depois da morte. A cre- universo), o ser humano inclusive. Tendo conclu-
mação não é permitida. No cerimonial de ído sua obra criadora, emanada exclusivamente
de sua inexplicável vontade, constata que o uni-
sepultamento, não se usam flores nem mú-
verso é bom. A força da qual flui o ato criador é
Judaísmo
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Perfil do Judaísmo
Fundador: Abraão e seus descendentes Isaque e Jacó.
Data de nascimento: por volta de 1700 AEC (antes da Era Comum; é assim
que os judeus preferem identificar a cronologia antes de Cristo).
Local de nascimento: provavelmente em Ur, na Caldéia.
Ano de fundação: 1700 AEC.
Textos sagrados e reverenciados: a Torah, que descreve a criação do mun-
do e a fundação do reino de Israel, além de contar as leis divinas; o Tal-
mude, um conjunto de escritos jurídicos, éticos e litúrgicos, bem como de
histórias e lendas judaicas.
Estatística: fala-se em 15 milhões de adeptos, dos quais seis milhões es-
tão fora de Israel. No Brasil, estima-se em 130 mil adeptos.
Judaísmo
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CONFUCIONISMO
Estas religiões orientais ou sapienciais buscam o caminho através da sabe-
doria e do conhecimento.
N
carregada de magia e traços de outras religiões.
este e nos próximos dois capítulos, (GAARDER, 2000, P.77)
apresentaremos três Grandes Religiões
(Confucionismo, Xintoísmo e Taoís-
Confucionismo
Vocês devem estar observando hoje que a
China está despontando em todo o mundo pelo
seu crescimento econômico e aos poucos vem
sendo reconhecida como uma grande potência
mundial. Talvez o que você não saiba é que até
1911 a China foi uma potência imperial, onde o
imperador reinava acima de tudo. O Imperador
era considerado o representante do país diante do
supremo deus Céu.
O que havia por traz de tudo isso era uma
ideologia confucionista. O conjunto de pensa-
mentos, regras e rituais sociais, foram desenvol-
vidos pelo filósofo K’ung-Fu-Tzu. No Brasil o
conhecemos como Confúcio. Além disso, Con- Confúcio
fúcio formulou normas para a vida religiosa, para ensinando, re-
tratado por Wu
os sacrifícios e os rituais. ,
Daozi, Dinastia
O confucionismo era, na verdade, uma re- Tang
amplas da população. Da mesma forma que o Confúcio nasceu em 551. a.C., filho de pes-
imperador, em seu palácio em Pequim, ficava re- soas pobres, que desde cedo demonstrou um
motamente afastado das pessoas comuns, o Céu grande interesse que se referia à vida. Diz a his-
era remoto e impessoal para a grande massa dos tória que após iniciar sua carreira pública como
chineses pobres, trabalhadores e camponeses. A um oficial de segunda classe no estado de Lu, aos
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18 anos, tornou-se professor e começou a ensinar namento ideal na vida pública e privada”. “O
história, filosofia, ética, música, poesia e boas Chinês mais moderno entende por “li” uma or-
maneiras. A idéia era mostrar aos seus alunos o dem social ideal, com tudo em seu devido lugar
princípio que ele sentiu necessários naquele mo- e com todas as pessoas prestando respeito e re-
mento de decadência da ordem feudal chinesa. verência aos outros na hierarquia social” (STE-
FFEN, 2000, p. 48).
Embora suas lembranças da infância con-
tenham referências nostálgicas à caça, à pesca De uma certa forma, a idéia era estabelecer
e ao arco, sugerindo com isso que ele foi tudo a ordem e acabar com a queda do respeito desen-
menos uma traça de livro, Confúcio dedicou-se cadeada pela ordem feudal. Confúcio acreditava
cedo aos estudos e se saiu bem. “Chegando aos que, se cada um soubesse o seu lugar, poderia
quinze anos de idade, forcei a minha mente ao haver um comportamento de reciprocidade como
aprendizado.” Com vinte e poucos anos, depois um guia de vida. É aqui que vai surgir o dito “não
de ter ocupado vários cargos públicos insigni- faças aos outros o que não queres que te façam.
ficantes, depois de ter feito um casamento não
muito bem sucedido, ele se estabeleceu como Há quatro coisas no Caminho da pessoa pro-
professor particular. Essa era obviamente a sua funda, nenhuma das quais fui capaz de fazer.
vocação. A reputação de suas qualidades pesso- Servir ao meu pai, como esperaria que um filho
ais e sabedoria prática espalhou-se com rapidez, me servisse. Servir ao meu governante, como
esperaria que meus ministros me servissem.
atraindo um circulo de discípulos entusiasmados.
Servir ao meu irmão mais velho, como esperaria
(SMITH, 1991, p. 156) que meus irmãos mais novos os servissem. Ser o
A carreira de Confúcio não foi um sucesso. primeiro a tratar os amigos como esperaria que
Sua ambição era bem maior. Alguns biógrafos eles me tratassem. Essas coisas não fui capaz
de fazer.
chegaram a criar a lenda de que, por volta dos 50
anos, Confúcio realizou uma brilhante adminis-
tração durante cinco anos, avançando rapidamen- Político fracassado, Confúcio foi, sem dúvi-
te de ministro de Obras Públicas para ministro da, um dos maiores professores do mundo. Pre-
da Justiça e primeiro-ministro, e fazendo de Lu parado para ensinar história, poesia, governança,
uma província modelo. “A verdade é que os go- propriedade, matemática, música, adivinhação
vernantes da época tinham medo da franqueza e e esportes, ele foi, à moda de Sócrates, um ho-
integridade de Confúcio, tanto medo que nunca mem Universidade. Seu método de ensino tam-
o designariam para qualquer posição de poder.” bém era socrático. Sempre informal, ele não fazia
(SMITH, 1991, p. 156) preleções; preferia conversa sobre os problemas
apresentados por seus alunos, citando leitura e
fazendo perguntas. Ele se apresentava aos alunos
Suas obras como um companheiro de viagem, comprometi-
do com a tarefa de se tornar plenamente humano,
O que marca a obra de um líder é a seu lega- mas modesto. Quanto ao ponto a que chegou no
do escrito. Confúcio deixou várias obras escritas cumprimento dessa tarefa, ele mesmo cita:
sobre sua filosofia de vida: O Shih Ching ( Li-
vro de poesias), Li Chi (Livro dos ritos), I Ching
(Livro das transformações), Shu Ching (Livro de Homem simples e humilde
história) e Ch’um Ch’íu (os anais da primavera e
do outono). Não havia nada de sobrenatural nele. Con-
fúcio gostava de estar com as pessoas, de jantar
fora, de cantar em coro uma bela canção e de
A filosofia de Confúcio
Confucionismo
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verno de paz e ordem. Baronatos rivais ficaram Confúcio insistia que o amor ocupa um lu-
em liberdade para fazer o que bem entendiam, gar importante na vida; mas também que o amor
criando uma situação idêntica à da Palestina no deve ser apoiado por estruturas sociais e por um
período dos juízes: “Naqueles dias não havia rei etos coletivo. Bater exclusivamente na tecla do
em Israel; cada homem fazia o que parecia certo amor é o mesmo que pregar os fins sem os meios.
a seus próprios olhos”. Quando perguntaram à Confúcio certa vez, “de-
vemos amar nossos inimigos, aqueles que nos
É necessário compreender o causam mal?”. Ele respondeu: “De modo algum.
que havia de errado na socie- Respondei ao ódio com a justiça e ao amor com a
benevolência. Caso contrário, estaríeis desperdi-
dade em que ele vivia. çando vossa benevolência.”
nuamos nos destruindo? Talvez aí esteja a respos- “dois”, designa o relacionamento ideal que deve
ta para compreendermos o poder do Confucionis- existir entre as pessoas. Traduzido das mais va-
mo. Confúcio viveu numa época em que a coesão riadas formas (bondade, fraternidade, benevolên-
social havia deteriorado até o ponto crítico. cia e amor), talvez a melhor maneira de transmi-
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tir a idéia seja pela expressão “Sensibilidade do mava de “Retificação dos nomes”. A retificação
coração humano”. Jen envolve simultaneamente dos nomes, na Doutrina do meio, nas Relações
um sentimento de compaixão pelos outros e de Constantes, no Respeito pela Idade e pela Famí-
respeito por si mesmo, um sentimento indivisível lia, esboçamos importantes aspectos específicos
da dignidade da vida humana, onde quer que ela de li no seu primeiro significado: propriedade ou
apareça. o que é certo.
CHUN TZU: Se Jen é o relacionamento O outro significado da palavra é ritual, que
ideal entre seres humanos, chu tzu refere-se ao transforma o certo – no sentido daquilo que é cor-
termo ideal nesses relacionamentos. Esse concei- retor fazer – em rito. Quando o comportamento
to tem sido traduzido como Homem Superior e O correto é detalhado em minúcias confucionistas,
Melhor da Humanidade. Talvez Pessoa Amadu- a vida inteira do indivíduo se estiliza numa dança
recida seja uma tradução tão fiel quanto qualquer sagrada. A vida social foi coreografada.
outra. É o oposto de pessoa estreita, da pessoa
TE: O quarto conceito axial que Confúcio
mesquinha, da pessoa de espírito pequeno. So-
procurou elaborar para seus conterrâneos foi Te.
mente quando aqueles que formam a sociedade
Significa Poder. Especificamente, o poder por
se transformarem em chun tzus é que o mundo
meio do qual os homens são governados. Ele es-
poderá caminhar na direção da paz.
tava convencido de que nenhum governante con-
• Se houver honra no coração, haverá beleza no segue reprimir todos os seus cidadãos o tempo
caráter. todo, nem mesmo grande parte deles na maior
• Se houver beleza no caráter, haverá harmonia parte do tempo. O governo precisa contar com
no lar. uma aceitação da sua vontade, uma confiança
• Se houver harmonia no lar, haverá ordem no apreciável naquilo que está fazendo. Confúcio
país. acrescentou que a confiança popular era de longe
• Se houver ordem no país, haverá paz no mundo. a mais importante, pois “se o povo não tiver con-
fiança em seu governo, este não se sustentará”.
LI: O terceiro conceito, li, tem dois signifi- Para ele, somente são dignos de governar aqueles
cados. Seu primeiro significado é propriedade, a que prefeririam não Ter de governar.
maneira pela qual as coisas devem ser feitas. As
pessoas precisavam de modelos, e Confúcio que- “Governar é manter-se reto. Se tu, senhor, dirigi-
ria direcionar a atenção delas para os melhores res teu povo em linha reta, qual de teus súditos
modelos oferecidos pela sua história social Pro- se arriscará a sair dessa linha?
priedade é um conceito com amplo alcance, mas
podemos perceber o âmago do interesse quando Quando o Barão de Lu lhe perguntou como gover-
ele diz: nar, Confúcio respondeu:
WEN: O conceito final na estrutura confucionista
“Se as palavras não forem corretas”: é wen. Refere-se às “artes da paz”, enquanto diferencia-
... a linguagem não estará de acordo com a ver- das das “artes da guerra”, à música, à arte, à poesia, à
dade das coisas. Se a linguagem não estiver de soma da cultura no seu modo estético e espiritual. Con-
acordo com a verdade das coisas, os negócios
fúcio considerava apenas semi-humanas as pessoas que
não poderão ser concluídos com sucesso. (...)
Portanto, um homem superior considera neces- eram indiferentes à arte. Mas o que atraía seu interesse
sário que os nomes por ele utilizados sejam fala- não era a arte pela arte. Era o poder da arte de trans-
dos apropriadamente, e também que aquilo que formar a natureza humana na direção da virtude que o
ele fala possa ser transmitido apropriadamente. impressionava – seu poder de facilitar o interesse pelos
O que o homem superior requer é que em suas outros.
palavras nada haja de encontro.
Confucionismo
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XINTOÍSMO
Por Prof. Moacir Douglas Flor Torii (monumento xintoísta) de hiroshima, Japão
A
habitada por um grande número de clãs indepen-
penas para cultura geral vamos tecer
dentes, cada um com seus próprios deuses e prá-
algumas considerações sobre o Xintoís-
ticas religiosas.
mo, que tem grande influência sobre a
cultura japonesa. A partir desta religião podere- As cerimônias religiosas ajudam a evitar
mos entender a força de um povo, sua seriedade, acidentes, promovem a cooperação e o contato
seus compromissos e sua devoção. com os Kamis, e geram o contentamento e a paz
para o indivíduo e a sociedade. As cerimônias
Primitivamente, a religião Xintoísta era cha-
são feitas tanto no próprio lar, como nas grandes
mada de Kami-no-michi, que é traduzido por
festas anuais do templo – Morada dos Kamis.
“o caminho dos deuses”. Em chinês, a mesma
expressão é shen-tao, de onde procede a palavra Os preceitos do Shinto
shinto ( em português, xinto).O Xintoísmo é uma
religião peculiar por sua expressão de amor japo- O Shinto, “o caminho dos deuses”, pode ser des-
nês pelo seu país e suas instituições. Este aspecto crito como um modo ideal de comportamento. O
da história sagrada está descrito no Kojiki, data- seu sistema ético inclui os seguintes preceitos:
do do século VIII. (STEFFEN, 2000, p.50) • Lealdade ao imperador
• Gratidão
O Kojiki diz que as ilhas japonesas foram
• Coragem diante da morte
criadas por Izanami e Izanagi, que também ha-
• O serviço aos outros acima dos inte-
bitaram a terra como numerosas divindades, das
resses próprios
quais os japoneses são descendentes . A família
• Verdade
real é descendente de Jimmu Tenno ( cerca de
• Polidez até mesmo com os inimigos
660 a.C.), o primeiro imperador humano, neto de
• Controle das manifestações de sen-
Ni-ni-go, neto de Amaterasu, a divindade femi-
timentos e honra, que significa o ato
nina Sol. No Shinto, Amaterasu é reconhecida de preferir a morte do que a desgraça.
como a primeira no panteão das divindades, mas Os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial
não é a única. É apenas uma entre muitos. O Xin- nos mostram um pouco desses conceitos quando
toísmo primitivo via o Japão como a terra dos os pilotos japoneses corajosamente jogaram seus
deuses, o que explica o caráter nacionalista da próprios aviões para atingir o alvo e acabar com o
religião. Acreditam que todos os japoneses têm inimigo.
origem divina, mas em especial o imperador, que
é descendente da própria deusa do sol. Quatro elementos estão sempre
presentes nestas cerimônias:
Principais ideias • Purificação
Xintoísmo
• Sacrifício
O mito da origem japonesa parece ser uma • Oração
resposta animista primitiva à natureza. A multi- • Refeição Sagrada
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TAOÍSMO
Arquivo ULBRAEAD
Se as idéias de Confúcio são estimulantes para governan-
tes sérios, o Taoísmo apresenta uma visão transcendente das
preocupações com a vida.
O
Mas o dragão está além do meu conhecimento;
s problemas éticos, sociais e políti- ele sobe ao céu nas nuvens e no vento. Hoje vi
cos estão no centro das discussões da Lao-tsé, e ele é como o dragão”.
maioria das religiões orientais. É a op-
ção pelo ser e não pelo ter. Apresenta uma visão
diferente da vida. É uma cultura oposta ao que
estamos acostumados a viver no ocidente. Se-
O Livro Sagrado
rão recomendadas leituras complementares para Uma boa idéia do início do Taoísmo, como
quem tiver interesse maior em conhecer melhor conta a tradição, é o que lemos no texto de Hus-
as idéias de Lao-tsé – o grande e velho mestre. ton Smith, que assim coloca:
A origem do Taoísmo é apresentada com o A história tradicional conta que Lao-tsé,
nome de um homem chamado Lao-tsé. Suposta- entristecido com o seu povo pela relutância
mente nascido por volta de 604 a.C. As histórias em cultivar a bondade natural que ele prega-
sobre a vida deste homem são muito variadas. va e buscando maior solidão para os seus úl-
Alguns historiadores não têm nem certeza se ele timos anos de vida, montou nas costas de um
realmente existiu. Algumas lendas são fantásti- búfalo e galopou para o oeste, na direção do
cas, como aquela que diz “ter sido ele concebido atual Tibete. No passo de Hankao, uma senti-
por uma estrela cadente, permaneceu no ventre nela, percebendo o caráter incomum daquele
materno por 82 anos e já nasceu velho, sábio e viajante, tentou convencê-lo a retornar. Não
com os cabelos brancos”. (SMITH, 1991, P.193) obtendo êxito, pediu ao velho que, ao menos,
Lao-tsé se traduz como “o velho”, “o ve- deixasse um registro de suas crenças para a
lho amigo”, ou “o grande e velho mestre”. Era civilização que estava abandonada. Lao-tsé,
contemporâneo de Confúcio. Um historiado concordando com o pedido, recolheu-se du-
Chinês relata que Confúcio ficou intrigado com rante três dias e retornou com um magro vo-
o que ouvira a respeito de Lao-tsé e, certa vez, o lume de 5.000 caracteres intitulado Tao Te
visitou. Sua descrição sugere que aquele estra- King, ou O Caminho e o seu Poder. O livro
nho homem o desconcertou, enchendo-o porém pode ser lido em meia hora ou durante toda
de respeito. “Eu sei que um pássaro pode voar; a vida, e continua a ser, até os dias de hoje,
sei que um peixe pode nadar, sei que os animais o texto básico do pensamento Taoísta. Um li-
podem correr. Criaturas que correm podem ser vrinho de apenas 25 páginas e 81 capítulos.
(SMITH, 1991, P.194)
Imagem 25: MSN Encarta
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wu wei. Wu Wei Significa pura eficácia e quie- se tornar uma dança na qual não há febres nem
tude criativa. O conceito mais tradicional signi- desequilíbrios. Wu wei é a vida vivida acima da
fica não-ação ou inação. Mas devemos cuidar tensão:
para não entender como atitude vazia, ócio. O
Encha a tigela até a borda
Taoísmo, na concepção de muitos, implica passi- E ela vai derramar
vidade e não atividade. Para um sábio taoísta, a Fique sempre afiando a faca
ação mais importante é a “não ação”. Enquanto E ela vai cegar ( Cap.9)
Confúcio desejava educar o homem por meio do
conhecimento, Lao-Tse preferia que as pessoas Wu wei é a materialização da maleabilidade,
permanecessem ingênuas e simples, como crian- da simplicidade, da liberdade – uma espécie de
ças. Enquanto Confúcio ansiava por regras e sis- pura eficácia na qual não se desperdiçam movi-
temas fixos na política, Lao-Tsé acreditava que mentos em discussões ou exibições externas.
o homem deveria interferir o mínimo possível
A pessoa pode caminhar tão bem que
no desdobramento natural dos fatos. Confúcio
nunca deixa pegadas
queria uma administração bem-ordenada, mas
Falar tão bem que a língua nunca come-
Lao-Tsé acreditava que qualquer administração é te deslizes,
má. “Quanto mais leis e mandamentos existirem, Calcular tão bem que não precisa de
mais bandidos e ladrões haverá”, diz o Tao Te ábaco. ( cap.27)
King.
Uma eficácia dessa ordem obviamente exi-
Para Lao-Tse o estado ideal era a pequena
ge uma capacidade extraordinária, o que é trans-
comunidade ( a aldeia ou a cidade pequena) que,
mitido pela lenda Taoísta do pescador: com um
segundo ele, já existia nos tempos antigos. Ali as
simples fio, ele conseguia puxar para a terra pei-
pessoas viviam em paz e contentes, sem interesse
em guerrear contra seus vizinhos, como fizeram xes enormes, porque o fio havia sido fabricado
mais tarde as províncias chinesas. O líder devia com tanta perfeição que não tinha um “ponto
ser um filósofo, e sua única tarefa era que sua fraco”. A capacidade taoísta raramente é notada,
passividade e seu distanciamento servissem de porque vista de fora, wu wei – nunca forçando,
exemplo para os outros. nunca sob tensão – parece não exigir praticamen-
te nenhum esforço. O Segredo está na maneira
Os significados do Tao pela qual ele busca os espaços vazios na vida e
na natureza, e se move através deles.
No Taoísmo tudo gira em torno do Tao, que literal-
mente significa caminho. Este caminho pode ser A água era o paralelo mais próximo ao Tao
entendido de três maneiras: do mundo natural. Era também o protótipo do wu
wei. Os chineses observavam a maneira pela qual
1 O Tao é o caminho da realidade última. É de-
masiado vasto para que a realidade humana a água se adapta ao ambiente e procura os lugares
possa sondá-lo. De todas as coisas, o Tao cer- mais baixos. Por isso:
tamente é o maior.
O bem supremo é como a água,
2 O Tao é o caminho do universo, a norma, o rit- Que alimenta todas as coisas sem esforço.
mo, o poder propulsor de toda a natureza, o Ela se contenta com os lugares baixos,
princípio ordenador por trás de toda a vida. que as pessoas desdenham.
Por isso, ela é como o Tao. ( cap. 8)
3 O Tao se refere ao caminho da vida humana,
quando ela se harmoniza com o Tao do univer- Mas a água, apesar de se acomodar, tem um
so.
poder que não é conhecido pelas coisas duras e
quebradiças. A água abre caminho além das fron-
Lendo o Tao Te Kin teiras e por baixo dos muros divisórios. Seu flu-
Taoísmo
grande pela natureza. Tanto que quando falamos te. ( Chuang Tzu )
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CRISTIANISMO
Baseada na vida e nos ensinamentos
de Jesus de Nazaré, o cristianismo é hoje a
maior religião mundial.
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Jesus, o Ressuscitado
Cristianismo
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Arquivo ULBRAEAD
As viagens missionárias de Paulo faz do cristianismo uma religião mundial:
Cristianismo
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centro expansionista do cristianismo. Jerusalém comunidades que iam surgindo. À frente de cada
conservaria uma comunidade judaico-cristã até o comunidade (igreja) estava o bispo, uma espécie
ano de 66 d.C. de vigilante, que também era o pastor e o mestre.
Seus auxiliares eram os diáconos e os presbíte-
As primeiras comunidades cristãs se desen-
ros. De início todos os bispos eram denominados
volveriam em torno da bacia do Mediterrâneo,
de papa, e só a partir do século IV o termo é atri-
durante o período apostólico. Éfeso, Filipos, Tes-
buído exclusivamente ao bispo de Roma.
salônica, Corinto, Roma e Alexandria foram os
primeiros grandes centros do cristianismo, reco-
nhecidos como núcleos apostólicos. No início todos os bispos eram
Papel importante na expansão do cristianis-
chamados de “papa”.
mo deve-se a Paulo, convertido por volta de 32
d.C. Ele não apenas divulgou o cristianismo pelo
mundo greco-romano, como também é responsá- As perseguições
vel pelos fundamentos da teologia cristã.
Ainda que mal compreendido, o cristianis-
Pedro teria sido martirizado em Roma, em
mo era tolerado, como o eram todas as religiões
65 d.C., depois do incêndio da cidade sob Nero;
no império romano. As perseguições eram espo-
Paulo em 66 d.C., também em Roma; João em
rádicas, em especial na Ásia.
Éfeso, por volta do ano 100 d.C., e Marcos teria
se instalado em Alexandria depois da morte de O culto ao imperador impunha os limites e
Pedro. os determinantes das perseguições. Prestar culto
ao imperador, o que um cristão não fazia, era con-
siderado gesto de civismo. A recusa representava
A evolução até Constantino uma ameaça ao equilíbrio religioso, rompendo as
relações entre os deuses e o império.
A organização
Causa das perseguições: os
Do século II ao século IV, o cristianismo se cristãos não cultuavam o
estendeu a todas as cidades da costa do Medi- imperador. Isso punha em
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De forma sistemática, as perseguições ocor- parte mais cristianizada do império. O laço im-
reram por volta de 249 d.C., com Décio e depois perial com o Ocidente era a figura do bispo de
com Galiano e Valeriano. As ações se faziam Roma, ao redor do qual gravitava a vida.
principalmente contra os bispos e os cristãos de
sas particulares, erigiram-se grandes templos em mais tarde, Constantinopla), o imperador Cons-
Roma, Jerusalém e Belém. Além disso, transfe- tantino queria fazer dela uma nova Roma, com
riu a sede do império para Bizâncio (depois Nova uma administração que utilizasse o latim. Não
Roma e, por fim, Constantinopla), no Oriente, a deu certo: o Oriente não se latinizou. Sem língua
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concisa, e não tardou o surgimento de vozes dis- dois papas sem poderes.
cordantes aqui e acolá, especialmente no que to-
A crise chegaria ao fim em 1417. Os Estados
cava à detenção do poder: a Igreja ou o Estado?
conseguiram se entender, convocando o Concílio
Vislumbrava-se a necessidade de reformar a Igre-
de Constança, sob a presidência do imperador da
ja cristã ocidental. A Inquisição nesse cenário foi
Alemanha. Houve concordância em restabelecer
uma tentativa religiosa que, por fim, serviu como
a unidade da Igreja, depondo os papas em exercí-
instrumento de pressão e eliminação das vozes
cio e propondo um único papa para a cristandade
discordantes.
ocidental.
Não bastasse isso, durante todo o século Explodiam por toda a Europa movimentos
XIV, os monarcas europeus se enfrentaram e que exigiam um retorno às Escrituras. Assim foi
tomaram como refém a hierarquia da Igreja. De na Grã-Bretanha, com John Wyclif, e na Boêmia,
1309 a 1327, os papas se instalaram em Avignon, com João Hus. Nos Países Baixos, Erasmo dedi-
Cristianismo
sob influência francesa. A volta do papa a Roma, cou-se à revisão da Bíblia, partindo do texto gre-
em 1378, provocou uma eleição pontificial dissi- go. O momento era de reforma, e nesse cenário
dente em Avignon. Os Estados da Europa, e com surge a Reforma do século XVI, destacando-se a
eles a cristandade, dividiram-se em torno desses figura de Lutero.
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É livre
As festas
Deus correu o risco, por assim dizer, de criar
Há no cristianismo, como em outras tradi-
um ser passível de rebelar-se e recusar a existên-
ções, festivais que promovem a relembrança dos
cia que lhe foi dada. Ainda assim, dotou o ser
feitos divinos em favor dos seres humanos. Muito
humano de livre-arbítrio, tornando-o completa-
embora haja divergência sobre esse tema em al-
mente livre e responsável pela sua liberdade.
gumas tradições cristãs, o que percebemos é que
o cristianismo é festivo. De uma forma geral e
Incentivo: pesquise e discu- ressalvadas as interpretações divergentes, pode-
ta com os colegas o tema do mos considerar como as principais festas cristãs
livre-arbítrio. as apontadas a seguir.
Advento – Ocorre nas quatro semanas que
Pode transcender precedem o Natal e dá início ao chamado Ano
Litúrgico, preparando os cristãos para o nasci-
As promessas de Deus conduzem o ser mento de Jesus, o Cristo.
humano à certeza de que pode ir além de suas
Natal – Fixado sempre aos 25 de dezembro,
naturais limitações físicas. É com base nessas
relembra o nascimento de Jesus como o Messias
promessas que o cristianismo pode propor novos
prometido.
objetivos, sentidos e conquistas ao ser humano,
como a da ressurreição e o da posse de um assen- Epifania – Festa fixada em 6 de janeiro,
to no reino de Deus que está por vir. portanto 12 dias após o Natal, celebra a adoração
de Jesus Cristo pelos Reis Magos e, para os cris-
A morte não é mais o fim; é apenas ponte,
tãos ortodoxos, o seu batismo.
passagem, para a vida eterna.
Sexta-Feira Santa – Data variável, ocor-
A dimensão de pertencer a rendo na sexta-feira imediatamente anterior ao
domingo de Páscoa, relembra o sofrimento e a
uma realidade que ultrapassa
morte de Jesus.
a materialidade conhecida
Cristianismo
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ressurreição de Jesus e a Sua vitória sobre a mor- cristãos entre si em razão das perseguições. Pei-
te. xe, em grego Ichthys, traduz o acrônimo de Iesus
Christus Theou Yicus Soter – Jesus Cristo Filho
Ascensão de Jesus ao céu – Data variável e
de Deus Salvador.
determinada por ocorrer 40 dias após o domingo
de Páscoa, celebra a presença de Cristo junto ao
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para descer ao mun- paz e a justiça) na, Jesus foi para voltará, como
do material e agir e introduzir o a Índia, onde mor
mor-- prometeu, como
em um determinado batismo com reu vários anos um avatar, para
tempo e lugar. água. depois. mais uma vez es-
tabelecer a ordem
no mundo.
é um judeu comum os judeus não foi crucificado não atribui papel
Judaísmo
que, como outros na crêem que Jesus pelos romanos por futuro a Jesus.
História, se procla- seja um profeta. afrontar o poder
mava o Messias. do império ao
declarar-se rei dos
judeus.
é um entre muitos sua missão foi foi condenado à voltará no final
profetas, como Moi- trazer a men- cruz, mas outro dos tempos para
Islamismo
mas com tal grau morais necessá- em seu corpo. A mas em forma es-
de evolução moral rios à evolução ressurreição é uma piritual, restabele-
que é visto como espiritual. materialização de cendo a ordem.
modelo e guia para a seu espírito – o
humanidade. chamado corpo
espiritual.
Perfil do Cristianismo
Fundador: Jesus Cristo.
Data de nascimento: ano 1 da era cristã. Há estudos que apon-
tam o ano 6 a.C. como a data de nascimento (esse ano corres-
ponderia ao ano romano de 754).
Local de nascimento: Palestina.
Textos sagrados e reverenciados: Bíblia, formada, conforme o
entendimento da Sociedade Bíblica do Brasil, pelo Antigo Tes-
tamento (39 livros escritos por diversos autores) e pelo Novo
Testamento (27 livros, também escritos por diversos autores).
Cristianismo
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A
palavra Bíblia significa “conjunto de li- mento da promessa, a saber, que o Messias veio
vros”. É isso o que ela, na verdade, é, na pessoa de Jesus, que Ele salva os homens da
sendo que se divide em dois grandes morte eterna com o derramar do Seu sangue, o
blocos, o Antigo e o Novo Testamentos (AT e sangue da nova aliança, e envia Seus mensagei-
NT). A palavra testamento lembra aliança ou ros ao mundo para pregar Seu evangelho. Para
acordo, estabelecido entre Deus e os seres huma- facilitar a leitura, a Bíblia foi dividida em capítu-
nos. No caso do AT, refere-se a Abraão, que re- los e versículos.
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Lei Evangelho
• Ensina o que nós devemos fazer ou deixar de fazer. • O que Deus fez e ainda faz pela nossa salvação.
• Manifesta o nosso pecado e a ira de Deus. • Manifesta o nosso Salvador e a graça de Deus.
• Exige, ameaça e condena eternamente quem não • Promete, dá e sela o perdão, a vida e a salvação
cumpre os mandamentos. ao que crê em Jesus.
• Provoca a ira no homem e afasta-o de Deus. • Chama e atrai para Cristo, opera a fé.
• Deve ser pregada aos impenitentes. • Anuncia-se aos atemorizados.
• Serve como freio (impedindo que o mal tome conta • É a boa nova da graça, do amor de Deus em Cristo
do mundo), espelho (revelando os erros humanos) Jesus (João 3.16) e motiva o cristão à prática das
e norma (mostrando ao ser humano como agir). ações que agradam.
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sendo tua. Mas era preciso que nos alegrássemos, vezes e espantaram-se com a dimensão dada por
pois este teu irmão estava morto e reviveu, estava Jesus: 70 vezes 7, ou seja, sempre. É nesse con-
perdido e foi achado.” texto que Jesus conta a parábola para ensinar a
Sua vontade a respeito do perdão.
Deus aguarda sempre e de Um rei ajusta suas contas com seus servos.
braços abertos o retorno de Um lhe deve 10 mil talentos (cerca de 1 bilhão
Seus filhos dispersos. e 800 milhões). Como o devedor não tem como
lhe pagar, o rei ordena que todos os seus bens
sejam vendidos, bem como sua família e ele
O ensino desta parábola: mesmo. Desesperado, lança-se aos pés do rei e
suplica-lhe clemência. Não é que o rei o atende?!
Jesus narra de forma clara que Deus é o pai Tocado por tamanha generosidade, sai aliviado
que recebe o pecador que o busca em arrependi- da presença do rei. No caminho de sua casa, en-
mento. Os que retornam, por piores que tenham contra um conservo seu, uma espécie de presta-
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dor de serviço, que lhe devia 100 denários (cerca Sobre o amor ao próximo -
de 100 dólares) e, intransigentemente, insiste no
recebimento da dívida. Como não a recebe, vai Lucas 10.25-37
às últimas conseqüências e conduz seu conservo
à prisão. Esta parábola é mais conhecida como O
bom samaritano.
Amigos desse pobre infeliz se dirigem ao rei
e delatam a situação. Irado, o rei chama o servo Um intérprete da Lei perguntou certo dia a
devedor a sua presença, manda prendê-lo e entre- Jesus o que deveria fazer para herdar a vida eter-
ga sua vida às mãos dos carrascos. na. Jesus lhe disse: “O que está escrito na Lei?”
Ele respondeu: “Ama a Deus de todo o coração,
Assim, contudo, como somos perdoados, O amor ao próximo foi sempre uma das ca-
Deus espera que também perdoemos a todos que racterísticas dos primeiros cristãos. Havia entre
têm dívidas a nos pagar, sejam elas de quaisquer eles, especialmente em Jerusalém, muitos po-
naturezas. É fácil? Com certeza, não! Mas, assim bres. A comunidade cristã, por meio de ofertas
como somos perdoados, espera-se que perdoe- voluntárias, sustentava seus pobres, especial-
mos aos que nos ofendem. mente os órfãos e as viúvas.
A certa altura surge um problema. As viúvas
Assim como alguém é per- de origem grega sentem-se prejudicadas na medi-
doado em suas muitas faltas, da em que começam a receber auxílio menor que
também pode perdoar as o oferecido às de origem judaica. Reclamam. Pe-
faltas daqueles que lhe são dro, líder da comunidade cristã, convoca as lide-
próximos. ranças e ordena que sejam eleitos sete diáconos,
homens fiéis para que cuidem da distribuição do
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alimento entre os necessitados, enquanto ele e os saltos, estupros, homicídios), guerra, catástrofes
demais apóstolos iriam dedicar-se ao ofício da naturais, fome, vícios, insensibilidade, solidão e
oração e da pregação do evangelho. morte.
Hoje denominamos esse serviço de diaconia.
É o serviço amoroso que o cristão presta ao seu A idéia de próximo é ampla:
próximo em resposta ao amor de Deus. Ela lida
amar não só os amigos, mas
com as conseqüências e as causas do pecado: do-
enças, sofrimentos, pobreza, miséria, ganância, também os inimigos.
preguiça, exploração, luto, solidão, violência (as-
Um desafio incentivador: em razão do amor motivante, mobilize seu grupo de estudo, olhe ao
seu redor e descubra formas e meios de poder exercitar o amor ao próximo.
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Os estudos em teologia e
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ricamente, estas constituíam um perdão relativo diocese vaga, Alberto recorre aos Fugger, uma
às penas impostas pela própria Igreja. família de banqueiros. Resolvido o pagamento ao
papa, Alberto tinha uma enorme dívida com os
Com os abusos, muitos passaram a entender
Fugger. A solução? Utilizar as somas recolhidas
que o perdão podia ser estendido à diminuição
com as indulgências, incrementando sua venda
das penas do purgatório.
quase à banalização, além de inflacionar os va-
A indulgência contra a qual Lutero se rebe- lores (1 florim para artesão e 25 para o clero e a
lava havia sido promulgada em 1506 e renovada nobreza; observemos que 1 florim era o neces-
em 1517. As somas recolhidas estavam destinadas sário para uma semana de subsistência de uma
a financiar a construção da basílica de São Pedro, pessoa). Apenas a metade dos recursos era repas-
em Roma. Soma-se a esse episódio especial a fi- sada a Roma. A outra metade ia diretamente para
gura de Alberto de Brandemburgo, decisivo no a instituição bancária dos Fugger.
desenlace dos fatos que se sucederam.
O documento de Lutero dado a público em
Alberto era nobre e já bispo alemão, quando 31 de outubro de 1517 não tinha como alvo as
ficou vago o arcebispado de Mainz (Mogúncia), negociatas de Alberto, das quais, segundo alguns
desejado por Alberto. A importância dessa dioce- historiadores, Lutero nem tinha conhecimento,
se estava no fato de ser uma das que tinham direi- mas, sim, as questões doutrinais e religiosas.
to a voto na eleição para imperador (três bispos e Propunha uma reforma nos costumes na Igreja e
quatro príncipes do Sacro Império Romano-Ger- um retorno às Sagradas Escrituras, em especial
mânico, após a morte do imperador, reuniam-se no que respeitava à salvação. A reação foi tão
para eleger o novo). Ao solicitá-la ao papa, este imediata que em pouco tempo já circulava por
estipulou uma alta soma. O problema agrava-se boa parte da Europa e, ainda que não imaginas-
porque Alberto já era supervisor de duas outras se tanto, já que Lutero pretendia uma discussão
dioceses, o que era proibido pelo direito canô- acadêmica, historicamente estava marcada a de-
nico. Sem recursos suficientes para “comprar” a flagração do conflito que marcaria toda a história
do mundo ocidental.
Imagem 41: Reformation Portal
A reação da Igreja
As afirmações de Lutero encontraram ter-
reno fértil para se ampliarem. Uns não apenas o
defendiam, mas também se admiravam de que
alguém desconhecido tivesse ousadia para en-
frentar a Igreja. Outros o condenavam e, ainda,
irritavam-se com sua pretensão de sugerir mu-
danças na Igreja.
Um dos primeiros a responder a Lutero foi
Lutero e a Reforma
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É quando entra em cena mais uma vez Al- direitos civis e políticos. Para tratar o assunto, foi
berto de Brandemburgo, que se associa aos do- convocada a Dieta de Worms, na Alemanha, no
minicanos, ordem à qual Tetzel pertencia. Enca- mesmo ano. Sem acerto, Carlos V, recém-eleito
minham a Roma denúncias contra Lutero, e daí imperador, confirma a excomunhão em maio de
para frente os acontecimentos se precipitam. Inti- 1521. Lutero era agora um criminoso.
mado pelo papa Leão X a comparecer em Roma,
Lutero é protegido pelo príncipe-eleitor Frederi-
co, o Sábio, que consegue trazer a audiência para O exílio
a Alemanha, em Augsburgo.
Temerosos pela vida de Lutero, alguns de
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Lutero e a Reforma
Lutero (42 anos) e Catarina (26 anos): cena do casamento Dieta de Augsburgo (1530)
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Presbiteriana
Imagem 46: Ressurreicao POA
Paralelamente ao movimen-
to da Reforma na Alema-
nha, ocorria fato semelhante
Imagem 47: Igrj. Presb. da Gávea
discípulo de Calvino.
tos, impedida pela discordância com relação à Nessa data, o Parla-
Eucaristia (Santa Ceia). mento escocês aboliu a
Após a morte de Zwinglio, seu sucessor, jurisdição papal e proibiu a celebração da missa
João Calvino (1509-1564), liderou o movimento na Escócia. É preciso enfatizar, no entanto, que
e emprestou-lhe o nome até 1561, quando os seus os fatos não se sucederam de forma pacífica.
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Houve oposição.
Outras tradições
As situações se complicam com a implanta-
ção, na Grã-Bretanha, por Isabel I de uma igreja religiosas
única para os anglos. Outros dissidentes – os que
se opunham à intervenção do Estado nas questões A Paz de Augsburgo (1555) foi um avanço
religiosas – surgiram. Estes defendiam, confor- na época, porém ainda manteve nas mãos dos
me Calvino, que o governo da Igreja deveria ser príncipes o direito de escolha da religião a ser
exercido pelo presbitério (o conjunto dos mais seguida por seus súditos. Somente em 1648, com
velhos/experientes). Os ingleses mais próximos a Paz de Westphalia, documento que poria fim
do calvinismo recebem então a identificação de à Guerra dos Trinta Anos, é que se chegou à li-
presbiterianos. Porém, foi apenas em 1876 que berdade religiosa individual. Caberia a cada in-
se organizaram como instituição, a Igreja Pres- divíduo escolher livremente sua fé religiosa. A
biteriana da Inglaterra, livre e não estatal, muito data marca, ainda, o fim do período histórico da
embora seja atribuída a data de 1572 como ano Reforma na Europa.
de fundação do movimento.
A partir dessa liberdade surgem, em diversos
O primeiro missionário com assento presbi- lugares, e com diferentes interpretações bíblicas,
teriano chega ao Brasil em 1859. bem como costumes e práticas, líderes religiosos,
pastores e profetas, dando origem a novas tradi-
Batista ções religiosas cristãs.
tismo e santa ceia são apenas ordenanças; não- ocorre a ruptura com a Igreja Anglicana.
admissão do uso de imagens; forte atividade mis-
sionária e obra educacional. Adventista do Sétimo dia
No Brasil, o trabalho permanente dos batis-
tas teve seu início em Salvador, Bahia, em 1882. O pastor batista americano Guilherme Miller
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Imagem 50: Portal Adventistas (1782-1849) é quem cendo-se a purificação da terra); não-crença no
dá início a essa tra- inferno.
dição. Tudo teria
começado em 1818,
quando Guilherme,
Mórmons
ao estudar a Bíblia,
Em 1830, nos Estados Unidos, Joseph Smith
acreditou ter desco-
inicia o movimento conhecido como Igreja dos
berto o dia da volta
Mórmons, embora o nome oficial seja Igreja de
de Jesus Cristo (advento). A data estava próxima:
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
22 de outubro de 1844.
Segundo os relatos de Joseph Smith, ele foi
A notícia espalhou-se rapidamente. O movi-
atendido em sua busca pela verdadeira Igreja de
mento teve o seu número de adeptos aumentado,
Cristo em 1820, por meio de uma revelação que
os quais aguardavam ansiosos o dia em que en-
lhe recomendara não entrar em nenhuma das
trariam na glória celestial. A data chegou e nada
igrejas existentes. Em 1823, o anjo Moroni lhe
aconteceu.
apareceu e falou de certas placas douradas enter-
Em decorrência, ocorreu uma fragmentação radas no chão. Quatro anos após, Smith desenter-
do movimento em três grupos: um continuou a rou essas placas, encontrando ainda duas pedras
marcar novas datas; outro se tornou incrédulo e, especiais em recipientes de prata. Com a ajuda
ainda, um terceiro continuou a estudar a Bíblia, das pedras, após algum tempo, Smith conseguiu
concluindo que Miller estava certo quanto à data, decifrar as placas, que foram então levadas de
mas que havia errado na interpretação da profe- volta pelo anjo Moroni. A tradução das placas foi
cia, pois o santuário a ser purificado naquela data publicada em livro em 1830, com o título O Li-
seria o céu e não a terra. Cristo passaria do lugar vro de Mórmon.
santo para o local santíssimo no céu, onde estaria
Imagem 51: Wikipedia
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O livro fala dos povos indígenas da Améri- para o Exército da Salvação nas horas vagas.
ca e afirma que, depois de ressuscitar, Cristo se Ocasionalmente os mais experientes são empre-
revelou a uma raça, mais tarde exterminada, que gados em tempo integral, recebendo a patente de
vivia na América. sargento ou oficial local. As mulheres têm plena
emancipação em todos os níveis, e um soldado
Após sofrer muitos contratempos e até per-
do grupo não precisa renunciar a sua própria co-
seguições, o movimento estabeleceu-se no atu-
munidade religiosa.
al estado de Utah. Ali construíram uma cidade
e fundaram uma comunidade estatal teocrática Além disso, o trabalho social é parte de sua
que se expandiu rapidamente. Manter um Estado atividade evangélica. O movimento conta com
mórmon puro ficou impossível, sendo que, quan- um grande número de instituições diversas para
do Utah se uniu à federação na condição de es- órfãos, alcoólatras e mães solteiras. Acrescente-
tado membro dos Estados Unidos, a comunidade mos que as reuniões religiosas são marcadas por
precisou abrir mão de alguns de seus costumes, muita música e canto.
entre eles a poligamia.
Dentre os seus pensamentos, podemos desta- Testemunhas de Jeová
car: os seus escritos sagrados englobam O Livro
de Mórmon, bem como outros textos com o mes- O grupo teve sua
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Imagem antiga do Seminário Concór-
dia (IELB): igreja e escola juntos
E
sobre o sacramento da penitência. Acirraram-se
m 1517, acontecimento já visto em tópi-
as divergências.
co anterior, os fatos não se sucederam ao
acaso, e isso por duas razões. Uma, e fun- Para Lutero, a situação teológica definiu-se
damental, é a compreensão de que no universo, com a compreensão de que o justo é salvo pela fé
como na vida, as coisas não acontecem ao acaso. nas promessas e nas realizações divinas já garan-
Deus, o criador e o mantenedor, é quem conduz tidas. A justiça é ato divino e sem nenhum me-
a bom fim todas as coisas. Outra, decorrente des- recimento por parte do ser humano. Se assim é,
ta, é que os acontecimentos que cercaram aquela como ficam as boas obras?
Igreja Luterana e Educação
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uma parte falha, é preciso que a outra intervenha. das regras do mundo secular,
Naquele momento, Lutero entendia que as auto- mas a elas se submete devi-
ridades religiosas estavam falhando e as autori- do aos não-cristãos, a fim de
dades seculares deveriam intervir, empreenden- manter a boa ordem do mundo.
do as necessárias reformas, movidos por amor ao Analise essa afirmação tendo
corpo de Cristo. em vista a questão do aborto.
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papel relevante. Orientar as consciências para da, aos pais fazerem a sua enviando seus filhos
que as pessoas saibam como se conduzirem é à escola. Em 1530, numa pregação conhecida
tarefa que cabe não somente aos religiosos, mas como Sermão sobre o dever de mandar os filhos
também às autoridades e aos pais. à escola, Lutero faz um alerta aos pais que pre-
feriam colocar seus filhos no trabalho ao invés
À medida que se aprofundam as diferenças
de enviá-los às escolas criadas pelas autoridades
entre Lutero e seus seguidores e a Igreja Católica
civis. Ele entende que há proveito ou prejuízo em
Apostólica Romana, também seus escritos com
educar ou deixar de educar os filhos. Em ambos
referência à educação vão se tornando mais espe-
os casos, os pais estão beneficiando ou prejudi-
cíficos. É assim na carta aberta Aos prefeitos das
cando o próprio Deus, que rege o mundo, o qual
cidades alemãs, escrita em 1524.
precisa de pessoas que se apliquem ao estudo e
A Reforma provocara um desestímulo à ao ensino das Escrituras, bem como de pessoas
entrada nos mosteiros, justamente onde se en- que se apliquem ao estudo a fim de assegurarem
contravam as escolas. Sozinhos, os pais não a sobrevivência e a harmonia da sociedade tanto
conseguiriam educar seus filhos. Lutero apela com relação às leis como com relação à medicina
às autoridades civis cristãs para que tomem a e às artes liberais.
si a responsabilidade da educação, movidas por
Este é o entendimento teocêntrico da edu-
amor. Zelar pelo bem-estar da cidade inclui a
cação: é meio e instrumento de Deus. Mais uma
formação de cidadãos instruídos, hábeis e sábios,
vez é a ética do amor decorrente da fé que funda-
que tenham condições de adquirir e aumentar
menta a responsabilidade dos pais pela educação
terras e propriedades. Daí que investir em edu-
cristã das novas gerações, a fim de realizarem
cação e na formação de cidadãos é concretizar a
Deus em dois seguimentos: um buscando a sal-
ética do amor.
vação de todos os homens e outro construindo a
No que se refere ao reino do mundo, Lutero paz no mundo.
entende que o estudo das artes e das línguas é
que proporciona a formação de homens capazes A educação, dever dos pais e
de reger domínios e mulheres habilitadas para do Estado, e o progresso dela
governar filhos e empregados. No tocante ao rei-
decorrente devem assegurar a
no de Deus, entende que, igualmente, é preciso
estudar as artes e as línguas a fim de melhor en- sobrevivência e a harmonia da
tender as Escrituras e saber conduzir os negócios sociedade. A compreensão está
seculares. na direção do bem-estar coletivo.
Educação por amor, na vida O que impele Lutero a escrever sobre educa-
secular, habilita homens e mu- ção? Esta foi a indagação que motivou as refle-
lheres ao governo das cidades xões que seguem, desenvolvidas pelo Dr. Martin
e das famílias. Educação por N. Dreher no 1º Fórum de Lutero, na Ulbra – Ca-
amor, na vida religiosa, habilita noas, sob o título Lutero, Teólogo para a Univer-
a uma melhor compreensão das sidade.
Escrituras. O desencadeamento do movimento re-
Igreja Luterana e Educação
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ção por graça colocaria, além disso, a ênfase príncipes. No governador, para usar uma pa-
do estudo teológico na pregação e no estudo lavra de nossos dias. Lutero não pensa neles.
da Bíblia, e não mais no aspecto sacerdotal. Ele propõe que os conselheiros das cidades,
Outros, pois, deveriam ser os conteúdos pre- os vereadores, assumam essa tarefa. Educa-
paratórios para o ensino superior. ção é tarefa do Estado. Segundo Lutero, sem-
pre que for investido um florim em gastos mi-
Os príncipes haviam aproveitado o mo- litares, devem ser investidos cem florins em
vimento reformatório para se apossarem dos educação. Os conselhos municipais devem
bens eclesiásticos. Ora, das rendas dos bens obrigar os pais a enviarem os filhos à escola.
eclesiásticos havia sido mantida até então a Aqui a exigência da obrigatoriedade escolar,
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ofício espiritual. Quais os valores da propos- a preservação das coisas criadas por Deus. A finalidade da
ta de Lutero? Fundamental na proposta de educação se cumpre no cuidado com o mundo e com tudo o
Lutero é que com a educação se mantenha que nele há.
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Por ocasião dos 170 anos da imigração ale- Para termos uma idéia do valor atribuído à
mã no Rio Grande do Sul (1994), o Dr. Lúcio educação pelos alemães, basta recordar que nas
Kreutz publicou o artigo Escolas da imigração décadas de 1920/30 já havia, só no Rio Grande
alemã no Rio Grande do Sul: perspectiva histó- do Sul, uma rede de 1.041 escolas comunitárias
rica, em livro editado pela Ulbra (Os alemães no (evangélicas e católicas) com 1.200 professores.
Sul do Brasil) e do qual extraímos boa parte do
É essa cultura de educação que vai pautar o
texto deste tópico.
fazer religioso da Igreja Evangélica Luterana do
Até meados do século XVIII, predominou na Brasil, criada em 1900 com a vinda de um mis-
Alemanha o motivo religioso na educação. A es- sionário americano ao Sul do Brasil.
cola era concebida como uma instância de apoio
à formação religiosa. É nela que ocorriam os pri-
meiros passos para a formação do cristão. A es- A Igreja Evangélica Luterana
cola e o professor eram paroquiais. Ao professor do Brasil (IELB)
atribuía-se importante ação pastoral, pois, além
do magistério, deveria exercer ampla liderança A Ielb tem sua origem, no Brasil, em 1900
social e religiosa. O ensino religioso ocupava lu- e a partir do trabalho desenvolvido pela The Lu-
gar central em todo o processo educacional. theran Church – Missouri Synod. Esse grupo foi
fundado em 1847, em terras norte-americanas, a
O professor era responsável partir da iniciativa de um pastor que sai da Ale-
pela transmissão do conheci- manha por razões de consciência religiosa. Ocor-
mento e pela formação religiosa rera que em 1817 o rei da Prússia, Frederico Gui-
e moral. lherme III, decretara em seus domínios a união
Igreja Luterana e Educação
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sulta o Missouri Synod e a Igreja Evangélica Lu- blemas decorrentes de duas guerras mundiais em
terana do Brasil. que a Alemanha esteve envolvida, ocasionando
reflexos nos imigrantes aqui residentes e em suas
Oficialmente a fundação ocorreu apenas em
instituições, quer religiosas, quer educacionais.
1904, muito embora já desde 1900 houvesse con-
gregações organizadas no interior do Rio Grande É dentro desse quadro geral que se encon-
do Sul. tram as origens da Universidade Luterana do
Brasil (Ulbra).
A herança religiosa e escolar que se trans-
ferira da Alemanha para os Estados Unidos se
manteve. Escolas eram criadas e mantidas junto A Universidade Luterana do
com as congregações religiosas. No Brasil não
foi diferente. Acabou se consagrando o ditado Brasil (ULBRA)
“ao lado de cada congregação, uma escola”. Essa
era uma estratégia empregada entre os imigrantes A chegada da Igre-
alemães a fim de fixá-los nos locais que ocupa- ja Luterana – Sínodo de
ram e não apenas expandir a mensagem religiosa, Missouri em Canoas dá-
mas também dar-lhes o conhecimento e a educa- se em 1905, com o atendi-
ção necessários a fim de progredirem. mento religioso feito pelo
pastor de São Leopoldo
À medida que avançava o trabalho religioso, (RS), recebendo a deno-
ampliava-se, na mesma medida, a fundação de minação de Comunidade
escolas. Assim, em 1907 já havia 13 escolas e, Evangélica Luterana São
em 1924, 68 com mais de 2.000 alunos. Na dé- Paulo. Com a expansão do
cada de 1970, o número de escolas chegou a 130. trabalho religioso duas medidas se faziam neces-
Problemas é que não faltaram. Em 1922, sárias: uma capela para as atividades religiosas e
uma corrente política pretendia eliminar as es- uma escola para ensinar os filhos dos seus con-
colas particulares. Em 1938, o Brasil foi toma- gregados.
do por uma onda de nacionalismo, motivando a A primeira capela e, ao mesmo tempo, a pri-
proibição do uso de línguas estrangeiras nas es- meira escola foram inauguradas em 1911. Após
colas primárias. Isso sem levar em conta os pro-
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Catolicismo
D
esde sua deescoberta em 1500, passan-
do pela conquista, pela colonização e
estendendo-se até a Proclamação da Re-
pública, são quase quatro séculos em que o Brasil
é reconhecido como oficialmente católico.
A presença católica no Brasil deve-se a um
fato ocorrido décadas antes do descobrimento e
denominado de o direito de padroado sobre as
igrejas instaladas nas terras conquistadas por
Portugal, concedido pelo papa. A descoberta de
novas terras e sua colonização eram acompanha-
das de conversão compulsória de suas popula-
ções, nem sempre pacífica. Junto com a ocupa-
ção vinha a religião.
Direito de padroado
Você sabe o que é isso?
Pesquise outras fontes e aprenda um pouco mais so-
bre a formação religiosa e moral do povo brasileiro.
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Cultura Religiosa
grantes, que, junto de suas tradições e costumes, de origem inglesa e norte-americana. Aliada à
traziam as práticas religiosas oriundas de seus Sociedade Bíblica, os metodistas, que aqui che-
países. garam em 1835, distribuíram milhares de Bíblias
entre os brasileiros nos anos 1850-1860.
Isso ocorreu a partir de 1824 com a chegada
dos imigrantes alemães ao Rio Grande do Sul e A partir daí proliferaram os movimentos
a Santa Catarina, dando origem à presença lute- missionários, todos de procedência norte-ameri-
rana no Brasil. Os primeiros que aqui se fixaram, cana: em 1858, dá-se a criação da Igreja Congre-
entre 1824 e 1864, tinham atendimento religioso gacional; em 1859, chega a primeira missão pres-
desempenhado por leigos. Só a partir de 1886 é biteriana; em 1868, outra missão presbiteriana,
que as igrejas alemãs passaram a enviar pastores desta vez do Sul dos Estados Unidos. A missão
para atenderem às colonizações germânicas. Era metodista aporta em terras brasileiras em 1870,
a Igreja Evangélica Alemã no Brasil. Em 1904, os batistas em 1881, e os episcopais em 1889.
uma missão luterana vinda dos Estados Unidos
No final do século XIX, já apareciam im-
daria origem à Igreja Evangélica Luterana do
plantados no Brasil os movimentos protestantes
Brasil. Após a Segunda Guerra Mundial, os gru-
de tradição luterana, anglicana ou episcopal, me-
pos que constituíam a Igreja Evangélica Alemã
todista, presbiteriana, congregacional e batista.
no Brasil formam a Igreja Evangélica de Confis-
são Luterana no Brasil.
Por volta de 1850, havia nos EUA
Os anglicanos e uma parte dos metodistas
a idéia corrente de unicidade do
também começam seu enraizamento no Brasil a
partir dos imigrantes americanos confederados
continente americano. Embutiu-
que se estabelecem no interior de São Paulo. Os se nessa concepção a de também
primeiros anglicanos chegam ao País por volta haver uma só religião. Será que
de 1810, tendo como característica não apenas a isso favoreceu o avanço no Brasil
continuação de sua tradição religiosa, mas tam- das religiões ligadas ao protes-
bém a preservação da língua materna, as tradi- tantismo de conversão? Leia mais
ções e os vínculos de dependência política e fi-
sobre o assunto.
nanceira com as Igrejas de origem.
Protestantismo de Pentecostalismo
conversão O movimento pentecostal chega ao Brasil
nas primeiras décadas do século XX. A primei-
Outros grupos protestantes também foram se ra Igreja formalmente criada foi a Congregação
instalando no Brasil, mas com a característica de Cristã do Brasil, em 1910, no Paraná e em São
que para cá vinham não para atender a imigran- Paulo. No ano seguinte, no Pará, é criada a As-
tes, mas a fim de converter os brasileiros. sembléia de Deus.
Diferentemente do protestantismo de imi- O crescimento das Igrejas Pentecostais efe-
gração, esses grupos procuravam rapidamente tivamente ocorre a partir dos anos de 1950: em
adequar-se ao jeito brasileiro, pois disso depen- 1953, surge em cena a Igreja do Evangelho Qua-
dia o crescimento do número de convertidos. En- drangular; em 1955, a Igreja Pentecostal O Brasil
As Religiões do Brasil
quadram-se nessa perspectiva os presbiterianos, para Cristo; em 1962, a Deus é Amor, e, em 1964,
os metodistas, os batistas e os episcopais vindos a Casa da Bênção.
dos Estados Unidos.
A partir dessas Igrejas, o movimento pente-
O movimento missionário protestante tem costal dá origem a outros grupos, denominados
seu início na metade do século XIX, e boa parte de neopentecostais, entre as quais se destacam:
de sua rápida expansão deveu-se ao trabalho de Igreja da Nova Vida (1960), Comunidade Evan-
propaganda desenvolvido pela sociedade bíblica
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gélica Sara Nossa Terra (1976), Igreja Universal grandes mudanças provocadas pelos seus estudos
do Reino de Deus (1977), Igreja Internacional ao asseverar que o universo dos seres vivos está
da Graça de Deus (1980) e Renascer em Cristo absolutamente colocado dentro dos domínios ex-
(1986). clusivos da lei natural. Essa forma de enxergar a
vida que já vinha sendo construída em séculos
anteriores passa, agora, a influenciar muitos co-
Religiões não cristãs nhecimentos e pensamentos nos séculos seguin-
tes, inclusive no campo religioso.
Entre os grupos fora do cristianismo, os mais
O espiritismo parece encaixar-se nesse qua-
representativos e que merecem ser mencionados,
dro. Até então, de uma forma generalizada, acei-
são o judaísmo, o islã, o budismo, o Hare Krish-
tava-se, teológica e religiosamente, que o corpo
na, o xintoísmo, a Seicho-No-Ie, a Soka Gakkai e
humano, embora criado por Deus, era matéria
a Igreja Messiânica.
física passível de análise pelas ciências naturais.
Há ainda outro grupo, denominado por uns Já a alma, ou espírito, embora também criada por
de neocristão e por outros de paracristão (gru- Deus, não era matéria física e, portanto, ficava
pos que partem de fundamentos cristãos, porém distante do alcance das ciências naturais. Essa
afastam-se gradativamente dos mesmos), que perspectiva é alterada pelo espiritismo, com ori-
também tem representação no Brasil, como os gem na França.
mórmons, as testemunhas de Jeová, a ciência
Definido por Leon Hippolyte Denizard Ri-
cristã e o racionalismo cristão.
vail (1804-1869) – mais conhecido como Allan
Kardec – como um movimento científico, filo-
Espiritismo sófico e religioso, o espiritismo contesta a exis-
tência de apenas um mundo material, afirmando
não só a existência, mas a própria materialidade
Os meados do século XIX foram particular-
As Religiões do Brasil
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tivo de afastar as influências negativas, as más vir de modelo e guia a toda a humanidade. Ele
vibrações, os “encostos” e as “demandas”, além veio para oferecer à humanidade os padrões
de transmitir energia espiritual positiva. A ener- éticos e morais necessários à evolução espi-
gia positiva é sempre pensada como sendo “luz”. ritual. Conforme a Federação Espírita Brasi-
leira (FEB), Cristo não é uma figura mágica.
Deus É um educador. O que importa, portanto, são
seus ensinamentos – e não sua morte física ou
É exaltado como Ser e Fim Supremo, meta seus milagres. Jesus é o médium de Deus.
de perfeição de todo o processo evolutivo dos O Espiritismo, partindo das próprias pa-
espíritos. É inacessível ao ser humano. O mais lavras de Cristo, como este partiu de Moisés,
perto que o ser humano pode chegar é dos es- é conseqüência direta de sua doutrina – escre-
píritos desencarnados, para os quais o espiritis- veu Kardec.
mo disponibiliza o principal meio de expiar suas A importância de Jesus assume tal dimen-
obrigações cármicas – a caridade. Ajudar a hu- são que um dos textos básicos da doutrina é O
manidade é um meio eficaz de expiar as faltas Evangelho Segundo o Espiritismo – obra que
passadas e, assim, progredir rumo à perfeição. consiste de explicações e comentários sobre
as narrativas dos evangelhos. Os espíritas não
Evolução dos espíritos valorizam os milagres de Jesus. A FEB susten-
ta que todos eles são explicáveis pela ciência,
Os seres humanos encontram-se num ex- e não fruto de qualquer poder mágico. Se ain-
tenso processo de evolução, que não se limita ao da não foram explicados, é porque nossa atual
tempo curto de uma encarnação, mas prossegue condição intelectual e moral não dá acesso ao
por reencarnações sucessivas, indefinidamente. conhecimento que Jesus possuía.
As vidas passadas explicam a atual situação e O espiritismo defende também que, como
condição aqui na Terra dos seres humanos a par- espírito puro, Jesus era desprendido da maté-
tir da lei do carma, que determina a casualidade ria. Vivia mais da vida espiri tual do que da
moral – toda ação, boa ou má, recebe a devida corporal, a cujas fraquezas não estava sujeito.
retribuição. Diz a FEB que sua alma provavelmente se en-
No longo percurso da evolução, os espíritos contrava presa ao corpo apenas “pelos laços
passam por diversos mundos habitados, os quais estritamente indispensáveis”. Por isso, se des-
se localizam em diferentes planos, escalonados prendia constantemente.
de acordo com os princípios evolutivos, distribu- Além disso, como os espíritas entendem
ídos numa escala que vai dos planos mais próxi- que é impossível um espírito retornar a um
mos à matéria, os andares inferiores, até o plano corpo depois que este morre, não aceitam que
mais elevado, o da suprema perfeição espiritual, Jesus ressuscitou no corpo que teve. Para eles,
atingível, acima de tudo, pela prática constante a ressurreição se explica pela materialização
da caridade e pelas orações dos espíritos de luz do espírito – uma espécie de corpo espiritual
já desencarnados. que nada tem a ver com o corpo físico.
Uma transcrição esclarecedora do Jornal
Zero Hora (RS), publicada em 11/04/2004, pági-
Processo de comunicação entre o
Arquivo ULBRAEAD
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relação aos cultos afro-brasileiros, notamos a nações em seus rituais. Só mais tarde é que o sen-
impossibilidade de perceber uma estrutura única tido ampliou-se para indicar a própria vivência
e universal. Falta-lhes a concepção de essências religiosa. Ainda assim, não existe unanimidade
imutáveis, bem como a idéia de um ser que se quanto ao uso do termo. Na Bahia, o termo se
possa captar intelectualmente. A força vital ou mantém, bem como em São Paulo e no Rio de Ja-
primeira dos fenômenos religiosos não é para ser neiro. Em Pernambuco e Alagoas, é denominado
pensada, mas vivida e manipulada, o que geral- de xangô. No Maranhão e no Pará, é conhecido
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como tambor de mina e, no Rio Grande do Sul, rança religiosa é incorporar o seu próprio orixá e
como batuque. Por muito tempo, no Rio de Janei- dar licença aos seus seguidores para que possam
ro, foi conhecido como macumba. levar adiante os pedidos e os desejos aos seus ori-
xás pessoais.
Perfil do Candomblé Os orixás são, ainda, desprovidos de morali-
Criador: Olorum. dade e, por isso, não há uma ênfase nas questões
éticas e morais. Não há exigência ou recompensa
Auxiliares: orixás (determinam o destino para quem faz o bem nem condenação ou castigo
da pessoa). para quem faz o mal. A religiosidade centra-se
Chefe dos orixás: Oxalá (recebe os pedidos nas questões rituais e mágicas, como o uso de
e as homenagens dos seres humanos). roupas adequadas e próprias a cada orixá, ali-
mentação e bebidas específicas, sons, perfumes,
As crenças do candomblé repousam na exis- flores, cores e assim por diante.
tência de uma pluralidade de deuses, denomina- Além das propriedades e das funções des-
dos de orixás, com diferentes poderes e funções critas com relação ao orixá, acredita-se que cada
na vida humana, além de diferentes exigências pessoa possui, ainda, um segundo orixá, chama-
aos seus adeptos. Os orixás são elementos da do de juntó, que complementa o primeiro, de-
natureza divinizados, percebidos sensorialmente terminando que a pessoa seja considerada, por
e manifestados por meio de imagens, em geral exemplo, filho de Iemanjá e Oxalá. Esta segunda
figuras humanas, adaptadas sincreticamente aos divindade, além de possibilitar ao seguidor inú-
santos aceitos pela Igreja Católica Romana. meras combinações de comportamento, permite
Conforme as tradições religiosas do candom- que ele possa identificar a presença em sua vida
blé, o mundo foi criado por Olorum, que, após a de um pai e de uma mãe. Em regra, se o “santo de
criação, recolhe-se e deixa que seus auxiliares, cabeça” for masculino, o segundo será feminino
os orixás, tratem das questões relacionadas aos e vice-versa.
seres humanos. Oxalá, o chefe de todos os ori-
xás, é quem recebe todos os pedidos e as home- Não há preocupação com ques-
nagens dos seres humanos. A função dos orixás tões éticas e morais.
é governar o mundo, intervir em favor dos seres
humanos e puni-los quando necessário. Cada
Há nos rituais do candomblé constantes re-
pessoa, já antes de nascer, recebe um orixá, que
ferências ao Exu. Não é propriamente um orixá,
lhe é dado, e não escolhido. A partir da geração
embora assim seja designado, mas um interme-
comandará toda a existência da pessoa (tristeza,
diário entre o orixá e o ser humano. Assim, para
dor, sofrimento, alegria, prazer etc.). Considera-
se conseguir algo de algum orixá, é o Exu que
se que, de uma forma geral, o ser humano cos-
lhe deve ser enviado (despachado) com o pedido,
tuma apresentar traços de caráter de seu orixá,
quer seja bom, quer seja mau.
que, por isso, é chamado de orixá de cabeça. Essa
identificação determina que tudo o que a pessoa Para o pedido chegar logo, as pessoas devem
tem a fazer é acomodar sua vida aos gostos e aos oferecer ao Exu coisas de que ele gosta. É uma
desejos de seu orixá para que possa ser bem- forma de agrado; esquecer tal princípio faz com
sucedida. Não compete ao indivíduo discutir ou que sejam desencadeadas todas as forças negati-
duvidar das preferências de seu orixá. Tudo o que vas contra a pessoa esquecida. O reinado de Exu
As Religiões do Brasil
tem a fazer é vivenciar as preferências, indepen- está presente nas ruas, nas encruzilhadas e nos
dentemente dos conceitos de bem e mal. lugares considerados perigosos.
A identificação do orixá é feita por meio do
jogo de búzios, em atendimento individualizado Não há a percepção de pecado. Os
e conduzido pelo sacerdote, denominado de ba- limites são estabelecidos pelo orixá,
balorixá ou pai-de-santo, se homem, e ialorixá variando de pessoa para pessoa.
ou mãe-de-santo, se mulher. A função da lide-
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Orixás do Candomblé
Exu: orixá mensageiro; guardião das encruzilhadas e da entrada das casas. É considerado masculino,
e suas cores são o vermelho e o preto. No sincretismo, está associado ao diabo.
Ogum: orixá da metalurgia e da tecnologia e ligado à guerra. É masculino, e suas cores são o azul-
escuro, o verde e o branco. No sincretismo, está associado a São Jorge e Santo Antonio.
Oxossi: orixá da caça e ligado à fauna. É masculino, e suas cores são o azul-turquesa e o verde. No
sincretismo, está associado a São Sebastião e São Jorge.
Ossaim: orixá da vegetação e ligado às folhas. É masculino, e suas cores são o verde e o branco. No
sincretismo, está associado a Santo Onofre.
Oxumarê: orixá do arco-íris. É andrógino, e suas cores são o amarelo, o verde e o preto. Está
associado, no sincretismo, a São Bartolomeu.
Obulaiê: orixá da varíola, da peste, das pragas e doenças e da cura. É masculino, e suas cores são
o vermelho, o branco e o preto, além de ser identificado pelo capuz de palha. Está associado, no
sincretismo, a São Lázaro e São Roque.
Xangô: orixá do trovão e ligado à justiça. É masculino, e suas cores são o vermelho, o marrom e o
branco. Está associado, no sincretismo, a São Jerônimo e São João Batista.
Iansã: orixá dos relâmpagos e ligado aos espíritos dos mortos. É feminino, e suas cores são o
marrom, o vermelho-escuro e o branco. Está associado, no sincretismo, a Santa Bárbara.
Oba: orixá da água e do poder da mulher, ligado ao trabalho doméstico. É feminino, e suas cores são
o vermelho e o dourado. Está associado, no sincretismo, a Santa Joana d’Arc.
Oxum: orixá das águas doces e do ouro, ligado ao amor e à fertilidade. É feminino, e suas cores são o
amarelo e o dourado. No sincretismo, está associado a Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora
Aparecida.
Logum Edé: orixá dos rios dentro das florestas. É alternadamente masculino e feminino, e suas
cores são o dourado e o azul-turquesa. Está associado, no sincretismo, a São Miguel Arcanjo.
Iemanjá: orixá das grandes águas, mares e oceanos, e ligado à maternidade. É feminino, e suas
cores são o azul-claro, o branco e o verde-claro. Está associado, no sincretismo, a Nossa Senhora das
Candeias (ou Navegantes) e Nossa Senhora da Conceição.
As Religiões do Brasil
Nana: orixá da lama do fundo das águas. É feminino, e suas cores são o lilás, o azul e o branco. Está
associado, no sincretismo, a Santa Ana.
Oxaguiã: orixá da criação da cultura material e ligado à sobrevivência. É masculino, e suas cores são
o branco com um mínimo de azul real. No sincretismo, está associado ao Menino Jesus.
Oxalufã: orixá da criação da humanidade. É andrógino, e sua cor é o branco. Está associado, no
sincretismo, ao Jesus Crucificado e ao Senhor do Bonfim.
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monização com Zambi. O livre-arbítrio é que de- cas da umbanda. É uma espécie de guerreiro que
termina se as ações e as intenções vão na direção quer impedir o acesso das entidades guerreiras,
da harmonização ou não. Duma ou doutra forma, os kimbas, às zonas espirituais mais elevadas.
o espírito reencarnará e sofrerá a lei do carma, Faz parte de sua função ser justo (nem bom, nem
segundo a qual o estado atual do ser humano é mau), castigando e protegendo segundo a lei cár-
decorrente de atos passados e determinante da mica.
vida posterior, à semelhança do hinduísmo e do
Por fim, é interessante fazer um breve co-
kardecismo. No decorrer de uma encarnação, o
mentário sobre a função sacerdotal na umbanda,
ser humano tem, de um lado, entidades que o
exercida pelo pai-de-santo e pela mãe-de-santo.
querem ajudar e, de outro, entidades que o que-
Eles fazem parte da chamada hierarquia espiri-
rem prejudicar. As entidades que o querem ajudar
tual (há também a hierarquia administrativa, que
são denominadas de orixás, e as que o querem
cuida da sustentação do templo), que tem por
prejudicar são conhecidas como kimbas, extre-
função incorporar o espírito protetor, identificar
mamente violentas, vingativas e cruéis.
os espíritos que baixam, riscar o ponto, explicar
É oportuno, a esta altura, comentar rapida- a doutrina, dar os passes, curar as doenças e adi-
mente sobre o Exu, uma da figuras mais polêmi- vinhar pelos búzios.
Orixás do Candomblé
Linha de Oxalá: sincretizado por Jesus Cristo. Esta linha é constituída de espíritos de pessoas
que na Terra tiveram grande sentimento religioso. A missão das suas falanges é catequizar os maus
espíritos que atuam a partir das forças negativas do universo e arrastá-los para o bem.
Linha de Iemanjá: sincretizada pela Virgem Maria. As falanges de suas legiões têm por missão
proteger as criaturas do sexo feminino e desmanchar os trabalhos de magia preta feitos no mar e nos
rios.
Linha do Oriente: sincretizado por São João Batista. As falanges de suas legiões estão incumbidas
de ensinar os habitantes da Terra tudo o que lhes for desconhecido. São os grandes mestres do
ocultismo.
Linha de Oxossi: sincretizado por São Sebastião. As falanges de suas legiões praticam a caridade,
doutrinam os sofredores, fazem curas e aplicam a medicina à base de ervas.
Linha de Xangô: sincretizado por São Jerônimo. As falanges de suas legiões formam o povo da
justiça, amparam os humildes e os humilhados.
Obulaiê: orixá da varíola, da peste, das pragas e doenças e da cura. É masculino, e suas cores são
o vermelho, o branco e o preto, além de ser identificado pelo capuz de palha. Está associado, no
sincretismo, a São Lázaro e São Roque.
Linha de Ogum: sincretizado por São Jorge. As falanges de suas legiões são responsáveis pelas
As Religiões do Brasil
Linha de Iofá: sincretizado por São Cipriano (pretos velhos). As falanges de suas legiões conhecem
todos os segredos da magia da umbanda e empregam todos os rituais na prática da caridade em
benefício daqueles que buscam auxílio.
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Arquivo ULBRAEAD
CULPA E PERDÃO:
UMA QUESTÃO EXISTENCIAL
Você já se sentiu culpado? Como é viver sob o peso da culpa?
Qual o efeito do perdão sobre as nossas vidas e relações?.
U
ma das primeiras questões que introdu- tar responder a esse questionamento de muitas
zem a nossa discussão diz respeito ao maneiras, mas duas delas já são suficientes para
porquê de abordar a temática da culpa fundamentar nossa posição de concordância. A
na disciplina de Cultura Religiosa. O texto base primeira delas remete a uma reportagem da Re-
que nos conduz nesta discussão encontra-se na vista Veja2 , cujo título de capa foi: “Culpa – por
obra do psiquiatra suíço Paul Tournier, cujo su- que esse sentimento se tornou um dos tormentos
gestivo título é Culpa e graça: uma análise do da vida moderna”. Nessa reportagem, a revista
sentimento de culpa e o ensino do evangelho1. procura apontar para “as culpas cotidianas de
cada um”, que parecem não ser mais uma ques-
Vamos tentar mostrar que a culpa é um dos
tão de escolha pessoal, mas sim de imposição
fatores fundantes e estruturantes de muitas religi-
aos indivíduos que vivem na sociedade moder-
ões, o que não invalida uma análise mais criterio-
na: competição no emprego, filhos ou carreira,
sa desse elemento, que aponte para as interfaces
desempenho sexual, comer demais, insucesso fi-
da culpa com aspectos psicológicos, sociológi-
nanceiro são apenas algumas das culpas listadas.
cos, antropológicos e existenciais do ser huma-
no. É essa visão interdisciplinar que propomos Uma segunda forma de fundamentar a uni-
observar. versalidade da culpa é fazer um exercício de
auto-análise. Cada um pode olhar para seu pas-
A culpa é uma questão existen- sado, recente ou remoto, e tentar listar todos os
momentos, as vivências e as situações em que se
cial. Ela acompanha o ser huma-
sentiu culpado, seja na última semana ou mês,
no desde o início da civilização.
Culpa e Perdão: Uma Questão Existencial
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possam ser questões de caráter cultural, religioso norma é violada. O transgressor é culpado peran-
e familiar, ou seja, o que para determinada socie- te essa lei (pela transgressão dela), mesmo que
dade, grupo ou cultura pode ser taxado de culpa talvez não se sinta culpado. Já a culpa subjetiva é
(ou ato culposo) para outra pode ser um costume o sentimento pouco confortável de pesar, remor-
normal ou natural. so, vergonha e autocondenação que surge com
freqüência quando fazemos e pensamos algo que
O que podemos afirmar, catego- sentimos estar errado ou quando deixamos de fa-
zer algo que julgamos que deveria ter sido feito3.
ricamente, é que a culpa é um
sentimento humano universal, A culpa subjetiva, portanto, está intimamen-
existencial, que precisaria estar te associada aos sentimentos humanos e remete-
nos à segunda fonte da culpa: a nossa própria
presente em todos os seres huma-
consciência. É possível afirmar que o ser huma-
nos ditos saudáveis, isto é, a falta no é dotado de uma capacidade inata, uma voz
de qualquer sentimento de culpa interior, que lhe dá uma intuição íntima e pessoal
é uma das marcas da psicopatia, do que é certo ou errado. Vamos exemplificar:
de uma mente não saudável. você pode ter feito algo que todas as pessoas ao
seu redor julgam como correto, mas mesmo as-
sim brota no seu coração o sentimento de culpa.
Origem da culpa Dois exemplos concretos: uma mãe que precisa
aplicar um castigo ao filho por um erro que este
De onde, afinal, surge a culpa humana? É um cometeu ou um gerente que precisa despedir um
fator externo ou interno ao ser humano? Ela brota mau funcionário que, entrementes, está com difi-
de dentro para fora, sendo um aspecto humano culdades de saúde na família. Tanto a mãe quanto
inato, ou é incutida de fora para dentro, como um o gerente fazem o que é socialmente esperado,
produto do meio social? Observamos que as duas agindo corretamente; porém, mesmo assim, po-
visões não se excluem mutuamente, pelo contrá- dem sentir-se culpados pela decisão que toma-
rio, são complementares. Há, portanto, um duplo ram. Isso confirma que a culpa subjetiva pode
caminho na formação da culpa humana: interno brotar no indivíduo mesmo quando não há uma
e externo. culpa objetiva ou exterior imposta a ele.
Que a culpa é incutida exteriormente é pos-
sível provar a partir de uma rápida análise do Culpa: um sentimento nega-
meio em que se vive. Quanto mais regras, leis
e mandamentos uma sociedade tiver, tanto mais
tivo ou positivo?
culpa gerará nos indivíduos que dela fazem parte.
Um dos grandes questionamentos na análi-
Mesmo que os indivíduos não se sintam culpados
se do sentimento de culpa é se ele é um aspecto
Culpa e Perdão: Uma Questão Existencial
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Aqui podemos perguntar: será que a culpa mo e continua repetindo indefinidamente como
e o seu respectivo pagamento são produtos ex- uma espécie de fatalidade inexorável6. Um exem-
clusivos da religião? Será que Freud está certo plo hipotético de como isso pode acontecer: uma
em afirmar que, libertando-se o homem do sen- mãe, muito irritada com seu filho de oito anos,
timento de culpa, a religião perde a sua finali- acaba dizendo a ele que o seu nascimento a impe-
dade ou necessidade? Pensamos que essa é uma diu de concluir o curso de Medicina, levando-a a
afirmação muito radical. Afinal, a relação entre abdicar de sua realização pessoal e profissional,
culpa-pagamento-perdão existe também fora do e que hoje se vê frustrada por ter feito tal escolha.
contexto religioso ou espiritual. Esse filho pode internalizar essa crítica e, por um
sentimento de culpa reprimido, não conseguir
Basta observarmos as relações humanas
concluir nenhum curso superior como forma de
cotidianas para comprovar tal assertiva. Muitos
pagar a culpa pela frustração profissional da mãe.
exemplos podem ser dados. Uma falha leve com
a namorada (deixar de acompanhá-la à liquida- A culpa, portanto, sempre cobra algum pre-
ção no shopping para ir ao jogo com os amigos) ço, muitas vezes um preço altíssimo, que pode
pode ser pago com um buquê de flores e um con- incapacitar o indivíduo de ser uma pessoa reali-
vite para jantar. Já uma falha mais grave (uma zada e feliz. Essa é uma crítica também reputada
traição) certamente exigirá um pagamento mais às religiões, como veremos a seguir.
“caro”, para a conquista de um eventual perdão.
A típica frase “Essa ele me paga!”, muitas
vezes repetida por nós em inúmeras e variadas
Culpa e religião
situações e contextos, expressa o que estamos
A culpa é um dos aspectos fundantes ou es-
afirmando neste texto. Todas as faltas, erros, de-
truturantes de muitas religiões. Por mais ácida
litos e pecados exigem um pagamento, que nor-
que seja essa afirmação, ela não é de todo injusta,
malmente implica uma proporcionalidade, isto é,
pois, após analisarmos grande parte das religiões
o tamanho (preço) do pagamento é proporcional
existentes, veremos que a culpa foi, e ainda é, uti-
ao tamanho do erro. Exemplo: no direito, um cri-
lizada como um dos mais eficazes instrumentos
me leve normalmente demanda uma pena leve, já
de domínio das Igrejas sobre os fiéis. Porém, ao
um crime grave demanda uma pena mais longa e
final desta análise, queremos apontar para uma
severa. Também na prática da confissão católica,
proposta religiosa que vai num caminho contrá-
normalmente, a penitência é dada ao fiel de acor-
rio, ensinando a total erradicação da culpa por
do com a gravidade do seu pecado.
intermédio de Jesus Cristo.
Indo além nesta abordagem psicológica,
O próprio Sigmund Freud, fundador da psi-
muitos dos problemas e neuroses trazidos pelos
canálise e um dos maiores críticos da religião,
pacientes nos consultórios estão ligados direta-
afirma que o sentimento de culpa é que deu ori-
mente ao sentimento de culpa, como já foi dito
gem às religiões, quando faz referência ao tote-
Culpa e Perdão: Uma Questão Existencial
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sentava. Essa afeição, antes recalcada, surge em pelas culpas e pelos pecados cometidos. Na Ida-
forma de remorso. A partir daí, os filhos criam de Média, era comum a venda das indulgências,
uma representação totêmica do pai morto, que se que representavam a compra do perdão e da sal-
torna ainda mais forte do que quando estava vivo. vação, além da veneração de relíquias sagradas,
Esta, portanto, seria para Freud a base estrutu- das encomendas de missas pagas, da realização
rante das religiões: a culpa que deu origem aos de votos e promessas e das práticas de autoflage-
rituais religiosos totêmicos. lo, tudo como forma de expiar as suas culpas, pa-
gar as dívidas com Deus e ganhar algum mérito
Nota: O mito é contado aqui de forma pessoal diante Dele.
muito resumida. Para uma melhor compre-
ensão, devido à complexidade do tema, A colunista Martha Medeiros, numa de suas
sugere-se a leitura do texto de Freud na crônicas publicadas no Zero Hora8, intitulada
sua íntegra. Prometa não sofrer, ressalta que algumas religi-
ões cristãs têm na culpa o seu maior alicerce, e
Saindo dessa abordagem antropológica, po- o rito das promessas seria a maior prova de que,
demos apontar diversas religiões que fazem uso aos olhos de Deus, o ser humano não é merecedor
cotidiano da culpa na sua relação com os fiéis. da felicidade, ao menos não de uma felicidade
Como diz Tournier, para apagar o passado de cul- gratuita. A autora faz referência a ritos penosos,
pas e pecados, uma expiação (pagamento) deve como subir 300 degraus de uma igreja, caminhar
ser feita, sendo esse o sentido de quase todos os vários quilômetros para pagar uma graça alcança-
ritos e sacrifícios praticados nas diferentes religi- da, dar uma soma polpuda para a caixa de coleta
ões. Atos de culto não deixam de ser uma forma etc. “Como sofrem esses fiéis”, diz Martha Me-
de pagamento, ao menos do ponto de vista psico- deiros, afirmando que eles se sentem devedores
lógico. Espera-se que eles garantam a libertação da própria fé, impingindo a si próprios inúmeros
da culpa descartando o débito que deu origem a sofrimentos e privações para pagar o que julgam
ela7. Vamos traduzir isso em exemplos práticos. dever a Deus. Ao almejar a felicidade, finaliza
Em tribos primitivas, quando aconteciam a autora, torna-se implícito que se pagará muito
tragédias, derrotas ou cataclismas (furacões, ter- caro por ela, se não financeiramente, ao menos
remotos, temporais etc.), normalmente se acre- com bolhas nas mãos e calos nos pés.
ditava que alguém da tribo havia cometido um Não é essa proposta, porém, que o cristianis-
grave pecado. Quando se achava o culpado, este mo, comprometido com os evangelhos bíblicos
era punido e sacrificado aos deuses. Portanto, e com a obra de Jesus Cristo, oferece aos seres
aplacar a ira dos deuses por meio de oferendas, humanos. A Igreja cristã tem o compromisso de
rituais e sacrifícios era prática comum em inú- proclamar a salvação, a graça e o perdão de Deus
meros povos, tribos e culturas da Antigüidade. à humanidade oprimida pela culpa: a salvação
Na realidade brasileira, temos a doutrina es- conquistada em Cristo, por Cristo e por intermé-
dio de Cristo. Essa salvação não tem preço, não
Culpa e Perdão: Uma Questão Existencial
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O grande ápice de nosso texto é a palavra toa que se diz que “errar é humano e perdoar é
perdão. De nada adianta falar de culpas se não divino”.
abrimos a possibilidade de refletir sobre o per-
Hoje já há estudos que comprovam ter a prá-
dão. Numa dimensão humana, a das relações in-
tica do perdão um efeito benéfico sobre a saúde
terpessoais, poderíamos afirmar que o perdão é
humana. O psicólogo americano Frederic Luskin
uma das mais importantes ferramentas terapêuti-
Culpa e Perdão: Uma Questão Existencial
cas existentes nesta vida. O perdão pode ser visto faz uma relação entre o bem-estar trazido pelo
sob três aspectos: o perdão divino, o perdoar a si perdão e a saúde do ser humano. Luskin afirma
próprio e o perdoar aos outros. Poderíamos per- que guardar ressentimentos, culpar os outros ou
guntar: o que é mais difícil, perdoar aos outros, apegar-se às mágoas estimula o organismo a libe-
pedir perdão aos outros ou ainda se apoderar do rar na corrente sangüínea as mesmas substâncias
perdão divino? Obviamente que a resposta a essa químicas associadas ao estresse, que prejudicam
questão está ligada a uma série de variáveis. o corpo. Um outro estudo de Luskin indicou que
as pessoas mais inclinadas ao perdão sofriam
Para um indivíduo orgulhoso, assumir o erro menos enfermidades e tinham menos doenças
e pedir perdão é quase uma impossibilidade. Para crônicas diagnosticadas10.
um indivíduo com pouca confiança em Deus,
Portanto, perdoar e pedir perdão são ações
aceitar o perdão de Cristo também é difícil. Ago-
promotoras da saúde na dimensão emocional, fí-
ra, perdoar realmente aos que nos fizeram algum
sica e espiritual. São ações que precisamos apri-
mal parece ser a mais árdua das tarefas. Não é à
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morar em nossa vida. O primeiro passo para isso as obras do cristão acompanham a verdadeira
é aceitar que as nossas culpas, os nossos erros já fé, mas obras feitas como símbolo de gratidão,
estão perdoados por Deus. como conseqüência natural da morada de Cristo
em nossos corações e mentes, e não como forma
Acabamos de ver que esse perdão divino é
de pagar alguma culpa ou ganhar mérito diante
concedido a nós gratuitamente, sem qualquer
de Deus. Finalmente, libertar-se da culpa impli-
barganha com Deus. Ele nos oferece o perdão
ca também uma disposição interna constante em
a todas as nossas culpas. Diante dessa verdade
perdoar aos outros, num compartilhamento mú-
bíblica, vem-nos à mente um ditado popular:
tuo e recíproco do perdão que nos é oferecido por
“Quando a esmola é muita, o santo desconfia”.
Deus em Cristo Jesus.
O ser humano parece ter uma grande di-
Culpa e perdão – uma questão existencial que
ficuldade de se apoderar do perdão oferecido
permanecerá atuando e ressoando nos corações
pelo evangelho bíblico. Mesmo participando de
humanos enquanto o indivíduo viver, mas cuja
rituais como a Comunhão (Santa Ceia), a Con-
resolução está mais próxima do nosso alcance do
fissão e a Absolvição nas missas e nos cultos, o
que podemos imaginar: na pessoa que se tornou a
ser humano não consegue libertar-se de suas cul-
encarnação viva do amor, da paz, do consolo e do
pas, presas a ele como sanguessugas a retirar sua
perdão, chamada Jesus Cristo. Crer nesse perdão
alegria, bem-estar, auto-estima e paz de espírito.
e apoderar-se dele é a ferramenta terapêutica por
Como diz Tournier:
excelência, fonte de vida e alegria, da qual todos,
Parecia-lhe impossível (ao ser humano) que sem exceção, podem fazer uso.
Deus pudesse remover a sua culpa sem que ele
tivesse de pagar alguma coisa. Pois a noção de Pela fé em Jesus Cristo as culpas
que tudo tem que ser pago está profundamente do ser humano são apagadas e o
arraigada e atuante em nós, tão universal quan-
perdão nos é concedida de graça.
to inabalável por qualquer argumento lógico.
Portanto, as pessoas que anseiam ardentemente É a grande e libertadora mensa-
pela graça são as que têm maior dificuldade em gem do Cristianismo.
aceitá-la. Seria uma solução muito simples, e
uma espécie de intuição se lhe opõe.12
Notas deste capítulo
Precisamos crer e confiar que Deus nos per-
doa. O grande privilégio que temos como cris-
1
Paul Tournier. Culpa e graça: uma análise do senti-
mento de culpa e o ensino do evangelho. São Paulo:
tãos é saber que somos perdoados e que o perdão ABU, 1985.
nos alcança por meio de Jesus Cristo. Foi para 2
Revista Veja, 31 de julho de 2002, edição 1762.
pregar a transformação radical, o despertar da
consciência de culpa e a erradicação desta culpa:
3
Collins, Gary R. Aconselhamento cristão. São Pau-
lo: Vida Nova, 1995, p.100-101.
Culpa e Perdão: Uma Questão Existencial
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A RELAÇÃO ENTRE
FÉ E SAÚDE
Um dos temas mais instigantes e polêmicos da atualidade é a relação (ou
talvez tensão) entre fé e saúde, religião e ciência, medicina e espiritualidade.
M
esmo que essa relação seja muita anti- integral constitui um aspecto que aponta para uma
ga – em inúmeras culturas a doença e valorização dessa área, tratando-se de um marco
a cura eram experiências que ficavam decisivo na aproximação e no entrelaçamento da
ao encargo dos sacerdotes, dos pajés e dos xamãs ciência com a religião ou, mais amplamente di-
–, nos dias de hoje, tem-se discutido muito quais zendo, com a espiritualidade humana.
são os limites de cada uma das duas áreas. Ape-
Dois trabalhos de cunho científico, entre
sar de haver inúmeras correntes que vêem aí opo-
tantos outros que poderiam ser citados, indicam
sição total, tensão constante ou diálogo crítico,
essa aproximação. O primeiro deles é a tese da
uma outra corrente procura caminhar no sentido
psicóloga gaúcha Luciana F. Marques, realizada
de propor uma perspectiva convergente ou inte-
pela PUCRS, em que ela procura comprovar que
gralista de ambas as áreas, sem desrespeitar as
a religiosidade e o bem-estar existencial são fa-
especificidades de cada uma delas.
tores importantes para os indivíduos terem uma
No artigo de Horta et al. cujo título é Psi- melhor saúde física e mental. Em sua pesquisa,
quiatria na prática médica: a religiosidade e suas as pessoas que afirmaram não ter religião, em ge-
interfaces com a medicina, a psicologia e a edu- ral, foram as que demonstraram menor bem-estar
cação, os autores afirmam: existencial.2
O segundo trabalho é oriundo da Univer-
A partir de Einstein, reduziram-se, um sidade do Texas e aponta para o fato de que a
a um, os impedimentos de cercania para ci- espiritualidade tem a ver com disposição física
ência e religião, a ponto de João Paulo II e mental. As pessoas que praticam uma religião
afirmar que religião sem ciência não é boa apresentam melhores condições de saúde. Os
religião, bem como ciência sem religião não maiores ganhos são de fundo psicológico, visto
é boa ciência. Uma posição convergente que os religiosos têm auto-estima maior e um
com a do sumo pontífice foi, recentemente, círculo de amizades com o qual têm afinidades,
tomada pela Organização Mundial da Saúde prevenindo doenças de fundo emocional.3
A Relação Entre Fé e Saúde
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ou possessão?
Imagem 65: Movie Mark
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de sua identidade pessoal, bem como sua liberda- to séculos atrás). São eles6:
de de pensamento e até de ação, ficando alienado
de si mesmo. Normalmente, uma possessão de- • O possesso deve falar diversas palavras
moníaca é acompanhada de um comportamento de um língua estranha ou entender o que
violento e destrutivo contra os outros e contra o alguém diz numa língua desconhecida.
ambiente, assim como contra o próprio indivíduo
“possuído”. • Deve ser capaz de relatar fatos secretos
Para que se levante a possibilidade de um ou acontecidos em lugares distantes.
diagnóstico positivo de possessão, é necessário
que um indivíduo apresente, de forma clara e
• Deve demonstrar forças que excedam a
significativa, uma série de sintomas, indicados sua idade e transcendam a possibilidade
na tabela a seguir, levando-se também em conta de que a natureza humana dispõe.
nesse diagnóstico a freqüência, a duração e a in-
tensidade dos sintomas. O filme Stigmata (1999), Diante desse tema, que desperta inúmeras
mesmo que não trate da questão da possessão, dúvidas sobre a sua etiologia, isto é, de onde sur-
traz cenas que praticamente sintetizam todos os gem e por que se manifestam as possessões nos
sintomas descritos neste texto, dando uma visão indivíduos, segue uma série de possíveis inter-
concreta (um pouco exagerada) do que aqui esta- pretações para o fenômeno, que transversalizam
mos tratando. a medicina e a religião.
É prudente afirmar, porém, que a ciência
já consegue provar que muitos desses sintomas
podem ser explicados à luz da fisiologia huma-
Doença, espíritos ou
na, como, por exemplo, em momentos de muita
tensão, extrema força e insensibilidade à dor em
apenas fraude? Diferentes
função de descargas de adrenalina. interpretações da possessão
Wegner, ao abordar essa temática, faz refe-
rência aos critérios que a Igreja Católica Apos- Interpretação bíblico-cristã – As Igrejas
tólica Romana levanta para indicar uma possível cristãs têm como fonte de suas doutrinas as Sa-
possessão, descritos no Rituale Romanum (escri- gradas Escrituras (Bíblia), de modo mais especial
Mudança na voz (aspereza, Habilidade para prever o fu- Entra em estado de transe quando
zombaria, ronquidão...) turo alguém ora
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dos estimulam o inconsciente das pessoas10. pelos diferentes grupos, científicos e/ou religio-
sos.
Um aspecto que chama a atenção dos estu-
diosos das religiões é o fato de que a manifesta- Não queremos aqui emitir juízos de valor
ção dos demônios é quase inexistente nos cultos ou desconsiderar algumas das interpretações, até
e nas missas tradicionais (não pentecostais ou porque a verdade religiosa é uma questão subje-
carismáticos). Ao compararmos tais eventos com tiva, que implica fé e que transcende uma análise
as sessões de descarrego ou libertação, em que lógica e racional dos fatos.
prolifera a manifestação dos casos de possessão,
Muitas ainda poderiam ser as questões a
fica em aberto uma grande pergunta: por que há
serem discutidas dentro dessa temática, como,
essa grande diferença?
por exemplo, as possíveis conseqüências para
Entre as possíveis respostas poderíamos ci- os indivíduos que se submetem aos rituais do
tar: o clima sugestivo dos cultos de libertação, a exorcismo, bem como o efeito terapêutico ou
quase conjuração à manifestação das possessões neurotizante de tais rituais. Mas isso implicaria
nesses cultos e o estado psicoemocional do fiel um outro estudo, que não é o objetivo desta breve
que vai a uma sessão de descarrego. análise do fenômeno possessão.
Uma fala de um pastor batista no programa
Notas deste capítulo
Documento Especial, da extinta Rede Manchete,
no ano de 1989, talvez seja um bom pensamento 1
Psiquiatria na prática médica: A religiosidade e suas
interfaces com a medicina, a psicologia e a educação
final. Mesmo admitindo a possibilidade e a ação (Paulo LR Sousa, Ieda A Tillmann, Cristina L Horta e
dos demônios, ele afirma: “Eu acho que muitas Flávio M de Oliveira - Universidade Católica de Pelo-
igrejas estão se preocupando demais com os de- tas, RS, Brasil In: http://www.unifesp.br/dpsiq/pol-
br/ppm/especial07.htm.
mônios e se esquecendo do principal, que é Jesus
Cristo”.
2
Jornal Zero Hora, Caderno Vida, 16/12/2000.
capítulo
Sul entre 1998-2001.
9
ANDRADE, Nilton Stamm de. Espíritos e obsessão
conforme a doutrina espírita codificada por Allan
Voltamos a afirmar que tratar desse tema Kardec., p. 55-58. In: Espiritualismo/espiritismo:
desafios para a igreja na América Latina. Org. Ingo
exige prudência, sem abrir mão de um olhar crí- Wulfhorst – São Leopoldo, RS: Sinodal; Genebra, CH:
tico e interdisciplinar, respeitando-se sempre os Federação Luterana Mundial, 2004, p.55.
diversos pontos de vista e interpretações trazidos 10
Ibidem, p.56-7
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ÉTICA
Cada visão religiosa tem princípios que orientam a maneira de
pensar dos seus seguidores e, muitas vezes, isso influencia no julga-
mento do que é moral e ético.
A
té aqui passamos por várias visões reli- Todo ser humano tem uma moral em razão
giosas e suas respectivas respostas para de que pratica ações que podem ser eticamente
as questões religiosas e existenciais. examinadas. Contudo, nem todos levam em con-
Cada uma, a sua maneira, segue o que denomi- ta quais são os princípios éticos que determinam
namos de filosofia de vida, os princípios ideais suas ações e, por isso, é fundamental avançar na
que normatizam o seu modo específico de pensar compreensão da ética.
Por vezes, no entanto, é difícil conciliar ide- Para refletir:
al e realidade. No campo religioso o problema
assume proporções ainda maiores, pois somos Tenho claro qual é o princípio ético que
inclinados a pensar que tanto o movimento reli- determina minhas ações?
gioso como seus seguidores são perfeitos e não
se desviam nunca de sua pregação. Não raro,
para indicar nossa indignação, usamos expres- Ética descritiva e ética
sões como “isso é uma imoralidade” ou, ainda,
“isso é antiético” normativa
De forma sintética, podem ser identificados,
Ética e moral com relação à ética, dois modos de percepção de-
nominados de ética descritiva e ética normativa.
As palavras ética e moral, embora usadas in- A ética descritiva retrata as noções éticas
diferentemente, possuem significados distintos. predominantes nas diversas culturas. Ao conside-
A moral se relaciona às ações, isto é, à conduta rar essas noções, não julga o que é certo e errado;
real. A ética diz respeito aos princípios ou juí- apenas descreve o que as pessoas pensam e como
zos que originam essas ações. Nessa dimensão, se comportam, sem emitir juízos de valor. Nor-
a ética e a moral são como a teoria e a prática. A malmente a ética descritiva pode ser observada
partir dessa constatação, é possível afirmar que a nas pesquisas de opinião que são feitas com as
Ética
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todas com direito à sua opinião. Nessa categoria moral dos Dez Mandamentos, cujos valores re-
se enquadram tanto os existencialistas quanto os pousam sobre a autoridade de Deus, sendo por
lingüistas, pois defendem a relatividade dos va- isso universais, pode estar vinculada a essa pers-
lores individuais. pectiva.
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No entanto, o mesmo indivíduo, por ser racional, pena de morte, da eutanásia, do pagamento de
deve reconhecer que os sentimentos são fidedig- impostos (como o de renda), do trabalho de me-
nos somente se forem livres, imparciais e frutos nores, da compra de produtos contrabandeados e
da informação. assim por diante. Há, ainda, o caso de profissio-
nais que se recusam a cumprir determinada fun-
ção em razão de sua consciência.
Consciência É possível relembrar muitos exemplos, mas
há um especial ocorrido em 2002. É o caso de
A consciência desempenha um papel impor-
um tratorista baiano e empregado de uma em-
tante no sentido de coibir ou incentivar a tomada
presa contratada para cumprir mandato judicial
de determinada decisão a partir de algum valor.
que determinava a derrubada de casas erguidas
Relativizando o conceito, consciência é a capaci-
numa área invadida. Diante de uma casa a ser de-
dade que temos de reagir ao certo ou ao errado a
molida, com a máquina ligada, o tratorista viu-se
partir daquilo que é o nosso mais alto valor.
tomado de dor pela senhora com seus filhos que
Algo que constantemente tem emergido e se postavam na frente da casa numa tentativa de
tornou-se ditado popular é que podemos fugir de impedir a demolição. Acabou por não executar
tudo, menos de nossa consciência. Aliada a essa a ação que lhe fora determinada e foi preso em
percepção, uma problemática se apresenta: de flagrante por desobediência à ordem judicial.
onde vem a consciência?
Tecnicamente, denomina-se desobediência
Há, pelo menos, três respostas a essa ques- civil o ato de uma pessoa ou grupo desafiar e in-
tão: uma que afirma ser a consciência inata ao fringir o direito positivo (o sistema jurídico acor-
ser humano; outra que diz ser ela imposta pelo dado) de maneira plenamente intencional (senso
ambiente externo, sendo o ser humano moldado de justiça).
pelas condições culturais externas, como pensam
a psicologia e as ciências sociais; uma última,
ainda, considera ser a consciência inata ao ser Responsabilidade
humano, apesar de receber informações externas,
agindo a partir destas, ou seja, ela pune as pesso- A questão da ética centra-se, também, no
as quando rompem as normas, mas não determi- senso de responsabilidade. A pergunta que cabe
na absolutamente essas normas. para discussão é a referente a por quem e pelo
que as pessoas se sentem responsáveis. A título
Uma questão em aberto ainda deve ser aqui
de reflexão, podemos falar em duas possibilida-
lançada : todos têm a mesma consciência?
des, que se completam, com relação à respon-
sabilidade: uma individual, em que o sujeito é
Direito positivo e senso responsável por si e pelo que o rodeia, e outra
coletiva, em que a sociedade é responsável pelas
de justiça ações que o sujeito não consegue fazer por si só.
O perigo que corremos é o de chegarmos
Essa é uma questão problemática, especial- a algumas circunstâncias em que nem o indiví-
mente em países marcados por desigualdades de duo, nem a sociedade assumem a responsabili-
toda ordem. É verdade que toda sociedade se ba- dade pelo que está acontecendo. Chama-se a esse
seia num determinado código originado por uma comportamento de diluição de responsabilidade.
ética que enfatiza a igualdade de todos. Violar
A alternativa mais viável quanto a esse tema
as leis do código implica a quebra da harmonia
é denominada de trabalho pela solidariedade,
social.
quando indivíduo e sociedade assumem suas res-
Podemos observar, no entanto, que nem sem- ponsabilidades.
pre o que cada um pensa sobre o certo e o errado
Descubra o porquê do surgimento das
corresponde às leis sociais. A título de exempli-
Ética
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da sociedade. São situacionistas por serem flexíveis e rígidos e dificilmente admitirem mudanças
se adaptarem às mudanças históricas. Resultam do históricas. Resultam do amor.
anseio pela liberdade.
Partem do próprio sistema cultural sobre o qual A lei moral que busca determinar o que é
atuam as diversas instituições sociais (família, melhor para o ser humano.
Meios
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Relativismo: cada situação é única. Não há A defesa da inexistência de verdades absolutas é uma
princípio experimental que defina o que é bom verdade absoluta.
e mau.
Esteticismo: o que entra em consideração não O princípio é imediatista, defendendo o aqui e agora,
é o ato em si, mas o resultado dele obtido. gerando a necessidade de auto-realização pessoal
Os sentidos e as emoções são utilizados ou grupal sem medir o ato em si e enfatizando uma
para dar significado à vida e transformar a existência limitada à historicidade humana.
insignificância em beleza.
Idealismo: é a busca de um ideal fora do A questão que pode ser contraposta à linha intuitiva é:
ser humano e da natureza. A linha intuitiva se o senso moral está na consciência, onde está ela?
reconhece que todos têm um conhecimento Para a linha racionalista, pode ser questionado: se o
intuitivo do que é certo e errado. A linha senso de dever se sobrepõe por meio do raciocínio,
racionalista enfatiza que o certo e o errado apenas os mais capazes é que estabelecem os
dependem do uso adequado do raciocínio. melhores deveres.
se baseiam em outros pressupostos. Confira o mana dentro de princípios movidos pelo amor e
quadro B. pelo desejo de proteger o ser humano dos perigos
morais. Pressupõe a livre aceitação dos princí-
Crítica interna pios cristãos, sem coerção.
Assim como faz com os princípios que lhe O amor como princípio
são alheios, o cristianismo também produz uma
auto-análise e identifica, com relação à ética, Destaca-se na linha pedagógica da ética re-
duas posturas comumente praticadas no seu inte- ligiosa o amor como elemento motivacional da
rior. Uma mais negativa, a legalista, e outra mais conduta humana.
positiva, a pedagógica.
Os significados que o amor apresenta na
Na linha legalista, a lei de Deus é vista de linguagem comum são múltiplos e quase sempre
forma inflexível, devendo ser cumprida em sua malcompreendidos em razão de pouco ou qua-
plenitude. Caso a pessoa não a cumpra, o infrator se nada se pensar sobre ele. Em geral, acredita-
só é redimido do erro mediante punição e peni- se que amor é um sentimento e como tal não se
tência. É prática coercitiva e baseada no medo. explica. A História da Filosofia, no entanto, tem
Na linha pedagógica, a lei de Deus é um mé- demonstrado diferente: o amor pode e deve ser
Ética
todo educativo que visa orientar a conduta hu- pensado. O fato hoje é que se desacostumou de
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É toda e qualquer relação humana resultante da funcionalidade das sensações (sentidos físicos). Desse
modo, entende-se amor como força unificadora e harmonizadora, tanto sexual como política, resultante das
percepções dos sentidos físicos. Quando os sentidos funcionam em sua normalidade biológica, é possível falar
em sensualidade. Quando a normalidade biológica é quebrada, ficando fora de controle, fala-se em paixão.
Eros
Normalmente, identifica-se esse modo de amor com a sexualidade, tendo em vista que, ao sermos despertados
para alguém, nossa sensualidade descontrola-se e, se correspondida, somos conduzidos à paixão, que culmina
no completo descontrole dos sentidos, a sexualidade.
Amor nessa dimensão não se identifica com a base cristã para a ética.
É toda e qualquer relação humana resultante de atitudes concordantes e afetos positivos (solicitude, cuidado,
piedade etc.). O termo se assemelha às noções de afeição e amizade.
Filia
Nesse sentido, é possível afirmar que a dimensão do amor se dá 1) por escolha (é seletivo) e 2) por concordância
ou, se preferir, por concórdia, o que implica abrir mão de juízos valorativos condenatórios.
Amor nessa dimensão não se identifica com a base cristã para a ética.
É toda e qualquer relação humana resultante da ação de Deus e que se estende a todo “próximo”. Ágape se
caracteriza pela aceitação mútua. Nesse sentido, é possível falar que ágape é a disposição à igualdade verificada
Ágape
quando Deus, na criação, tornou o ser humano igual a Ele e quando, na redenção, Ele mesmo torna-se, em
Cristo, ser humano a fim de resgatar nossa dignidade pela compreensão e pelo perdão. Essa é a ação de Deus
Ética
em nós e que se estende, por nós, a todo “próximo”. Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.
Amor nessa dimensão é a base cristã para a ética.
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E
ssa preocupação que alimenta faz com
que busque na ética social cristã formas
de poder equilibrar as relações sociais de
modo que o seu próximo não perca a alegria de
viver nem cause dano à existência dos outros.
O compromisso da ética cristã é com a vida,
em sua plenitude. A seguir, apresentamos alguns
apontamentos que, de forma resumida e fugin-
do das informações exaustivamente tratadas pela
mídia, escrita, falada e televisiva, por teses e li-
vros, procuram apontar a ação desejada pela éti-
ca social cristã. “O BOM SAMARITANO”, a parábola de Jesus ilustrada
pelo pintor inglês George Frederic Watts (1904).
tocar nesse tema, ainda que resumidamente. Com isso, coloca-se o problema do amor-
Pode um cristão ter amor-próprio? Como ser próprio não no amor, mas na razão que o produz.
criado e salvo por Deus, ele foi feito nova criatura
e recebeu, de graça, o favor de Deus. O ser hu- O amor próprio...
mano é visto por Deus como santo, bom. O cris-
• não por causa de si;
tão sabe disso. Sabe que recebeu o amor de Deus
para amar o próximo. Nesse sentido, o cristão • não por causa dos outros;
tem amor-próprio. É dele que emana o amor ao
• por causa de Deus, sim.
outro e a todas as criaturas divinamente criadas.
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O texto acima foi escrito in “És Aceite”, por Paul Johannes Oskar Tillich (1886–1965) foi
um teólogo alemão-estadounidense, um filósofo cristão. Tillich foi contemporâneo de
Karl Barth, um dos mais influentes teólogos protestantes do século XX. Fonte:Wikipedia
A ética cristã estabelece que todo ser huma- lia ou nas famílias próximas;
no deve ser respeitado como pessoa (não se trata • De seus irmãos crentes – é histórico que
de coisa) e que toda pessoa, amiga ou inimiga, é o cuidado material que um cristão tem com
nosso próximo. Amar o próximo inclui necessa- o outro é revelador do quanto eles se amam;
riamente o cuidado com ele. Isso significa não
apenas proteger os inocentes, mas agir de modo
• Dos pobres – cuidar de seres humanos,
criados à imagem e semelhança de Deus,
proativo, com vistas ao bem-estar de todos. Cui-
desprovidos de recursos para uma vida mi-
dar do próximo aqui também não significa ape-
nimamente digna é abusar da própria di-
nas zelar pela sua espiritualidade, mas, sim e in-
vindade e de Sua natureza de amor;
clusive, pelas suas necessidades materiais.
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O ciúme inibe e
Ética Social Cristã Aplicada
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Arquivo ULBRAEAD
Como é feita a inseminação artificial:
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Cultura Religiosa
Para refletir:
Tão importante quanto viver bem é
morrer bem!
Pena de morte
O espírito de vingança (“olho por
olho e dente por dente”) não cabe
nos princípios da ética cristã.
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Fonte: Wikipedia
trária por entender que Deus é o Senhor da vida divina e compete ao filho de Deus conservá-lo.
e da morte, que mesmo criminosos são alvos do Buscar a preservação do universo é manifestação
amor de Deus e merecem ser vistos como “o nos- do amor, como princípio ético. A conservação
so próximo” e, ainda, que por eles devemos zelar. só será possível com mudanças de rumo do ser
humano. Deixar de lado a cobiça e o egoísmo é
Ecologia imprescindível.
O cristão concentra sua luta ecológica no
controle da maldade humana: o grande destrui-
Usar a natureza, sim!Abusar dor da harmonia cósmica. A ética cristã não leva
da natureza, não! o cristão a ser contra o uso da natureza, e sim
contra o abuso que a maldade humana promove
O reino de Deus inclui todas as suas cria- contra a natureza e, por conseqüência, contra toda
turas, inclusive o cosmos. O universo é criatura a humanidade e o universo, criaturas divinas.
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