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PRÁTICAS AQUÁTICAS:
NATAÇÃO
Leonardo Graffius Damasceno
Vitória
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Impressão
Gráfica e Editora Liceu
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apresentação
Saudações aquáticas!
Mesmo não tendo jogado basquete, vôlei, longe do convívio com a água, como a praia, os
futebol ou handebol, por exemplo, você não de- rios por exemplo, as dificuldades apresentadas pa-
monstraria nenhuma situação de desconforto recem ainda maiores.
(apreensão, ansiedade, receio ou mesmo medo) se Se essa situação lhe parece verdadeira ou fa-
fosse convidado a participar/jogar. Enfim, mes- miliar, isto é, se você têm esse sentimento com
mo não dando mostras de “talento”, você não se relação à água e, mais propriamente, à ideia de
intimidaria, não é mesmo? No caso, ao ser con- “nadar”, é importante lembrar que boa parte de
vidado, participaria e daria o melhor de si. Tudo seus alunos também se sentem assim. Portanto,
bem se logo, logo viessem a descobrir que não foi relaxe! Você não é diferente de ninguém ou, pelo
a melhor opção para o time/equipe, mas (ou pelo menos, da maioria das pessoas. Para aqueles que
menos!) você não se negou a participar. Mesmo não têm experiências prévias no meio líquido, a
não sendo nenhum “craque” (poderia você pen- ideia de ter que entrar na água já é suficiente
sar), convenhamos, não é tão difícil assim acertar para transmitir toda sorte de desconforto.
a bola vez ou outra. Nesse sentido é que me apresento e o convi-
Em “terra” (é claro!), tudo parece bem mais do a participar da Oficina de Práticas Aquáticas.
simples, bem mais fácil! Deslocamos-nos com Por meio deste material didático (fascículo) e em
facilidade, respiramos sem que para isso seja ne- nossos encontros, você terá a oportunidade de vi-
cessário desviar nossa atenção (de forma natural!), venciar todo um conjunto de conteúdos/atividades
não nos desequilibramos ao irmos de um lugar a caracterizados por jogos e brincadeiras na água e
outro e nem perdemos a direção. Nada nos atrapa- que irão, com certeza, lhe proporcionar os funda-
lha para que nossos olhos fiquem abertos, ou seja, mentos necessários para que você e também seus
ficamos à vontade e nos sentimos “em casa”. alunos (nosso principal objetivo!) dissimulem esse
De forma diametralmente oposta, ao imaginar quadro inicial de sentimentos negativos, quando
uma situação na qual você deveria ter que entrar se trata da prática da natação.
numa piscina... pronto, já começam os problemas! Venha comigo! Vamos lá...
Apreensão, ansiedade, receio ou mesmo medo são Vamos mergulhar juntos em mais este desafio
apenas alguns deles. E, convenhamos, é bem mais para depois darmos braçadas de alegria por mais
complicado “[...] que acertar uma bola vez ou ou- esta conquista.
tra”, não é mesmo? Para aqueles que foram criados
sumário
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Vamos falar um pouco sobre a história da natação. . . . . 8
Conceitos gerais da natação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Valores da natação e sua importância para saúde. . . . . 15
Influências da natação no organismo. . . . . . . . . . . . 16
No coração e na circulação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
No aparelho respiratório. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Na musculatura e no aparelho locomotor. . . . . . . . . . . . . 17
No metabolismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
No sistema nervoso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Programa de aprendizagem de natação. . . . . . . . . . . . . . 19
Características de um programa de aprendizagem. . . . . 20
Sobre o desenvolvimento das atividades. . . . . . . . . . . . . 20
Aspectos didáticos e metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Piscinas rasas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Pisicinas fundas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Pisicnas mistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Atitude didática do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Materiais auxiliares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Considerações sobre o programa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Características do programa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Descrição do programa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Quadro resumo dos critérios
finais de desempenho nas unidades. . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Estratégias de atividades do
programa de aprendizagem de natação. . . . . . . . . . . . . . 34
Ficha de observação de
desempenho na aprendizagem de natação . . . . . . . . . . . 66
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
introdução
Este fascículo foi elaborado com o objetivo da facilitar o acesso, pelo
professor, à etapa inicial de um programa de aprendizagem de natação, isto
é, a adaptação ao meio líquido e aos conteúdos que compõem o seu desen-
volvimento. Logo, a intenção é que sirva como material didático de consulta
(caráter técnico-pedagógico) para sanar as dificuldades encontradas pelo
professor no processo inicial de ensino-aprendizagem da natação, mas, que
também não perca seu caráter de praticidade para a elaboração e/ou plane-
jamento de cada uma das suas próprias aulas, em função do acesso imediato
a um conjunto ilustrativo de aulas previamente planejadas (e que já foram
aplicadas/desenvolvidas) com o conteúdo específico (direcionado) a uma
dada unidade temática.
Dessa forma, o professor encontrará, em cada uma das unidades que
compõem a totalidade do programa em questão, um conjunto sugestivo de
jogos, brincadeiras e atividades elaborado dentro de cada uma das 38 aulas
apresentadas, ao qual poderá lançar mão como “orientação” para planejar as
suas aulas, como já referenciado.
Por outro lado, as unidades abordadas pelo programa que contemplam a
adaptação ao meio líquido obedecem a uma ordem hierárquica, assim como
os conteúdos sugeridos para cada unidade se encontram listados em grau de
complexidade crescente, ou seja, o desempenho que se espera que o aluno
possa apresentar ao realizar uma certa atividade/exercício varia em cada
uma das unidades do programa, com maior nível de exigência, é claro, na
última unidade.
Ainda sobre as unidades do programa e sua ordem hierárquica, é preciso
afirmar que seu caráter não é excludente, mas sim interdependente, quer di-
zer: o sucesso em desempenhar os conteúdos relativos a uma certa unidade
está diretamente associado ao bom desempenho na unidade que a antece-
deu. Por outro lado, o fato de um conjunto alunos de uma turma demonstrar
que já sabe realizar, fazer ou desempenhar o comportamento previsto como
objetivo para uma certa unidade, como abrir os olhos embaixo d’água, não
significa excluir aquela unidade do programa. Neste caso, o professor deve
alterar o critério de desempenho estipulado como satisfatório para aquele
comportamento (abrir os olhos embaixo d’água), em função da capacidade
demonstrada pelos alunos. Em outras palavras, o professor deve exigir mais
dos alunos, por exemplo, abrir os olhos embaixo d’água e contar o número
de dedos colocados pelo professor. Essa pode ser uma alternativa válida. No
transcorrer do fascículo, essas questões ficarão mais claras.
Não custa afirmar, também, que os jogos, as brincadeiras e as atividades
sugeridos não encerram os conteúdos do programa em sua totalidade. Pelo
contrário, apenas introduzem o professor num “universo de possibilidades”.
A experiência, a criatividade e, acima de tudo, a dedicação do professor na
busca de alternativas que facilitem o processo de aprendizagem dos conteú-
dos da natação para o aluno devem prevalecer.
Antecedendo a abordagem ao programa de aprendizagem propriamente
dito, o fascículo em questão inicia-se enfatizando, sob a forma de “frag-
mentos” históricos (já que aqueles que desejarem aprofundar conhecimentos
sobre a história da natação poderá recorrer à bibliografia), aspectos curiosos
que já destacavam a importância da natação no contexto educacional da
época. Em seguida, procura polemizar um pouco, discutindo os conceitos de
“nadar” e “natação”. Existe diferença entre uma coisa e outra? Na sequência,
mostra também os valores da natação e de sua prática agregados à saúde.
Logo após, serão apresentados alguns dos principais problemas didáticos e
metodológicos aos quais o professor deve estar atento ao elaborar suas au-
las, no intuito de obter sucesso nos objetivos pretendidos no processo de
ensino-aprendizagem da natação. O fascículo termina com a sugestão de
um programa de aprendizagem dividido em quatro estágios. Reúne, ainda,
nas 38 aulas previamente planejadas que apresenta, diversas sugestões de
atividades — em sua maioria sob a forma de jogos e brincadeiras, como já
relatado, para que o professor possa utilizá-las como suporte complementar
no planejamento de suas aulas, a fim de que seus alunos desempenhem com
sucesso os objetivos determinados para cada unidade do programa.
Feitas essas (poucas!) colocações iniciais... chega de papo e vamos ao
que interessa, vamos ao trabalho, vamos para a água!
Mas, antes...
1 Vamos falar um pouco sobre...
Natação • 9
a coordenação dos movimentos natatórios e sua contínua repetição
por, no mínimo, uma hora, também assegurava ao praticante “uma
boa” resistência física (e bota boa nisso!). Os exercícios em seco (em
alguns métodos realizados inclusive na posição deitado sobre um
cavalete de barriga para baixo – decúbito ventral) ficaram conheci-
dos como “exercícios de ritmo de natação”.
Essa persistente ideia só teve fim em 1925 (imaginem vocês
quantos anos foram necessários ao homem para perceber isso, ou
seja, desde 9000 a.C. até 1925! Será que se esse “mistério” tives-
se sido resolvido há mais tempo, nós, atualmente, estaríamos na-
dando de forma “diferente”, num outro novo estilo, ainda mais
rápido? Kurt Wiessner, valendo-se de pressupostos psicológicos,
afirma que “[...] o homem não sabe nadar por natureza pois, não
está habituado a encontra-se dentro d’água” (lewin, 1978, p. 56).
Sem poder imaginar a dimensão da repercussão que tomaria
suas palavras, Wiessner promove uma “revolução” no ensino da na-
tação. A partir de suas afirmações, todos os métodos de aprendiza-
gem iniciam-se com a etapa conhecida como “adaptação ao meio
líquido” (nós não somos diferentes, vocês irão ver logo,logo!).
Com base nos exercícios de adaptação ao meio líquido e tra-
balhos de ginástica natural, Wiessner leva a natação aos primeiros
anos da escola, já que essa nova dimensão dada ao ensino da nata-
ção possibilitou, também, o desenvolvimento de uma metodologia
de trabalho em grupos e em piscinas rasas.
Bem, mas que natação “nova” é essa, afinal? De que natação
nós estamos falando? Antes desse tal de Weissner, nadava-se de
um jeito e, atualmente, nada-se de outro? Nadar e natação são a
mesma coisa? Para responder a essas e a outras dúvidas vamos falar
um pouco sobre...
Diz o dito popular que “[...] quando não se sabe o caminho, qualquer
direção nos leva para o lugar certo!”.
Enquanto refletimos sobre isso com sentido pedagógico, é claro,
os nossos sempre valiosos dicionários, Aurélio e Houaiss (eletrônico,
2
lógico!), fazem-nos ver que o termo “conceito” se refere a: modo de
pensar, de julgar, de ver; noção, ideia, concepção; compreensão que
alguém tem de uma palavra.
Quero chamar a sua atenção para o fato de que, quando se trata
de processo ensino-aprendizagem, é necessário, como professor, ter-
mos clareza de como diferenciar natação e nadar, pois é o “conceito”
que, num primeiro momento, temos sobre uma e outra coisa, que
irá direcionar nossa opção metodológica e, portanto, caracterizar o
nosso ensino. Isto é: eu estou ensinando natação ou ensinando meu
aluno a nadar para quê?
Natação • 11 capítulo 2
Em outras palavras, o “conceito” (nessa esteira de pensamento/
reflexão) estaria diretamente vinculado aos “fins ou finalidades” da
natação e/ou do nadar.
Tal como sugerem Burkhardt e Escobar (1985), a natação pode
assumir: o caráter elementar utilitário (prazer da vivência lúdi-
co-aquática, segurança própria, terapia, entre outras); o caráter
esportivo-formal (aprender a técnica dos quatro nados esporti-
vos); e o caráter competitivo (aprimoramento técnico; envolver-se
competitivamente).
Se você nunca havia pensado sobre isso e muito menos em de-
finir um “conceito” sobre “Como é que eu penso/defino o que seja
natação e nadar”, apresento, a seguir, algumas definições cunhadas
de vários especialistas no assunto, para, então, você verificar se al-
guma delas se encaixa ou se aproxima daquela por você elaborada.
A partir deste “ponta pé inicial”, você deverá tentar começar a se ver
como alguém que irá ensinar natação/nadar, isto é, a refletir sobre
os tais “fins ou finalidades” a que você se propõe.
Isso é muito importante, pois o programa de aprendizagem que
será apresentado é, num primeiro momento, inanimado, cabendo
a você o “sopro da vida” (Nossa! Você nunca pensou que pudesse
ter tanto poder, não é mesmo! Fala sério?), também com sentido
pedagógico, é claro.
Ou, como diria o nosso mestre de genebriano Jean Piaget (1977,
p. 172), “[...] perceber uma casa não é ver um objeto que nos entra
pelos olhos, mas um objeto que vamos penetrar”.
Sem perder mais tempo, vamos aos especialistas e a seus con-
ceitos sobre...
Natação
Para Jayme Werner dos Reis (1983, p. 33), “[...] a arte de nadar
significa a técnica de deslocar-se na água por intermédio da coorde-
nação metódica de certos movimentos”.
Roberto Burkhardt e Micheli Ortega Escobar (1985, p. 29) afir-
mam que nadar é a habilidade de “[...] manter-se na água e ir por ela
sem tocar no fundo; podendo ser esta habilidade de nadar ser exe-
cutada sem preencher os requisitos dos 4 nados mas, comprovando
a completa ambientação do indivíduo ao meio líquido”.
Leonardo Graffius Damasceno (1987, p. 19) diz que nadar “[...] é
uma atividade de intervenção social”.
Para a Federação Internacional Amadora de Natação (Fina)
(1987, p. 3) “[...] é a ação de autopropulsão e auto-sustentação na
água que o homem aprendeu por instinto ou observando animais”.
Natação • 13
Como vocês podem perceber, também não existe consenso en-
tre inúmeros especialistas sobre o “conceito” de natação e nadar
(lembram-se da definição dos dicionários Aurélio e Houaiss, lá no
começo, relativa à palavra conceito?). No entanto, quero reforçar —
pelos motivos já expostos — a necessidade de você elaborar o seu
próprio conceito sobre esses termos.
A esse respeito, também é preciso lembrar que a Federação In-
ternacional Amadora de Natação (Fina) é a instituição máxima re-
presentante da natação em todos os países do mundo. Sendo assim,
a orientação (burocrática!) é a de considerar o conceito expresso por
ela como sendo o “conceito orientador”.
A esta “altura do campeonato”, você deve estar pensando: Tudo
bem! já percebi a importância da natação para o contexto educacio-
nal desde os mais remotos tempos, entendi a necessidade de ter meu
próprio conceito sobre essa atividade mas... afinal, por que a natação
é considerada como a atividade física mais completa?
Essa pergunta já foi motivo de publicação de inúmeros livros,
quer dizer, a explicação para dar conta da abrangência do papel
formativo e totalizador da natação não é tão simples. No entanto,
e de forma muito resumida, vamos falar um pouco sobre esse po-
lêmico tema.
Natação • 15 capítulo 3
Esses seriam os principais valores relacionados com a possibili-
dade que somente a natação lhe confere, ou seja, praticar uma ati-
vidade desde o nascimento. Mas... e para a saúde? Então vamos lá:
No aparelho respiratório
No metabolismo
Natação • 17
No sistema nervoso
Natação • 19 capítulo 4
Características de um programa de aprendizagem
Natação • 21
a. que são crianças acima de seis anos;
b. já têm experiência prévia em natação;
c. o professor é experiente;
d. a piscina é adequada (dimensão e profundidade).
Piscinas rasas
Vantagens:
a. permitem os alunos manterem os pés no fundo;
b. tornam mais fáceis os primeiros contatos com a água;
c. permitem grupos mais numerosos;
d. possibilitam a redução de permanência do professor dentro d’água.
Piscinas fundas
Vantagens:
a. estabelecem uma relação aluno x meio mais real;
b. possibilitam que, vencidas as primeiras dificuldades, o ensino-
aprendizagem evolui de forma mais coerente.
Desvantagens:
a. menor confiança dos alunos nos primeiros contatos;
b. diminuição do número de alunos;
c. permanência do professor dentro d’água.
Natação • 23
Materiais auxiliares
Natação • 25
a natação, especialmente para aqueles indivíduos cuja faixa etária se
situa a partir do quatro anos, inclusive.
No seu início, as estratégias de atividades elaboradas perseguem
o desenvolvimento não só de uma aprendizagem elementar como
meio — etapa da adaptação — como também em relação ao próprio
estilo eleito (arbitrariamente, mas justificado!), ou seja, o nado no
estilo Crawl.
De acordo com Navarro (1978, p. 41), “[...] o primeiro e funda-
mental passo na aprendizagem é dar ao aluno a possibilidade para
que se familiarize com a água e venha a ter confiança nela”.
Desee modo, a partir da primeira aula, o aprendiz executa um
conjunto de exercícios variados, representados pelas estratégias de
atividades contidas no programa, que, ao provocarem um proces-
so de adaptação das sensações visuais, táteis, auditivas, muscu-
lares, de equilíbrio, da respiração etc., o conduzirão à aquisição
dos principais fundamentos, permitindo, posteriormente, a apren-
dizagem de outras técnicas padronizadas. Quer dizer, ao se supor
um enriquecimento das sensações e experiências corporais, como
consequência do somatório do número de estratégias de atividades
exercitadas à medida que o programa avança em suas unidades,
o indivíduo, ao final do processo, gozará de suficientes subsídios
— total domínio do meio bem como das técnicas rudimentares no
estilo do nado Crawl.
Sobre as estratégias de atividades que perfazem cada uma das
aulas sugeridas no programa, obviamente não esgotamos as pos
sibilidades. A imaginação do professor, aliada à sua experiência,
é determinante, na utilização oportuna de outros procedimentos,
como já foi dito.
Em todo caso, é importante lembrar que qualquer exercício ou
atividade não é um fim em si mesmo.
O programa apresentado deve ser desenvolvido por meio de um
processo lúdico, em que o jogo, a diversão em realizar exercícios,
o contato social etc. assumam papel de destaque, promovendo be-
nefícios do tipo físico-psíquico numa natação em que o prazer e a
técnica se apresentem como elementos indissociáveis.
Natação • 27
Quadro 1 – Etapas e Unidades do Programa de Aprendizagem de Natação.
Características do programa
Natação • 29
Após a avaliação do desempenho do aluno ou de um grupo nas
aulas da Unidade I, primeira unidade do Programa de Aprendizagem
de Natação, isto é, a denominada Descontração Facial – realizada
sempre na última aula da unidade em desenvolvimento com base no
Critério Final de Desempenho estabelecido, o grupo, para o ensino
das atividades das unidades seguintes deve passar a ser organizado
conforme os resultados que cada aluno consegue atingir, pois, antes
de ser aprendida a Unidade I, não é possível que o aluno seja levado
a aprender a Unidade II e assim por diante.
Portanto, os grupos passam a ser formados em função do nível
de aproveitamento dos alunos nas aulas, constantes de cada unida-
de, ou seja, todos que passarem para a unidade seguinte e apresen-
tam, dessa forma, o mesmo nível de rendimento, passam, então, a
formar um grupo, e os que não conseguirem aprender as estratégias
de atividades devem ser agrupados, conforme a unidade que forem
aprendendo.
Assim, o número de alunos que passa a integrar cada novo
grupo – considerando-se, a título de exemplo, que a primeira uni-
dade do programa se iniciou com um certo grupo de alunos, fica
na dependência desses mesmos alunos terem atingido ou não os
critérios estabelecidos pela Ficha de Observação de Desempenhos
na Aprendizagem da Natação, quando da passagem de uma unida-
de para a outra.
O objetivo da referida ficha, adaptada com base no Programa
de Aprendizagem de Natação, elaborada por Pavel (1977), é regis-
trar o desempenho de cada criança, no cumprimento de cada uni-
dade das quatro etapas (adaptação, propulsão, respiração e coor-
denação) do Programa de Aprendizagem de Natação, permitindo o
estabelecimento do critério final de aprendizagem.
Assim, e ainda para melhor ilustrar, as crianças que repetem a
Unidade I uma vez e alcançam o critério estabelecido para passar
para a Unidade II, integram um mesmo grupo juntamente com as
que, no transcorrer da Unidade II, não atingirem o critério e, portan-
to, precisam repeti-la.
Natação • 31
Quadros-Resumo dos Critérios
Finais de Desempenhos nas Unidades
1ª Etapa — adaptação
2ª Etapa – propulsão
4ª Etapa - coordenação
Natação • 33
5 Estratégias de Atividades do
1ª Etapa – Adaptação
programa de aprendizagem de natação
1ª Aula
2ª Aula
3ª Aula
Natação • 35
4. Em pé dentro da piscina, os alunos, de mãos dadas, rodam em
círculo, ao comando do professor, cantando a música “Atirei o
pau no gato”. Quando o gato fizer “miau”, todos os alunos se
abaixam, imergindo a cabeça.
4ª Aula
5ª Aula
1ª Aula
Natação • 37
2ª Aula
3ª Aula
4ª Aula
5ª Aula
Natação • 39
reage batendo na água somente com a perna que foi tocada ou,
então, com as duas simultaneamente, quando for o caso.
2. Cada aluno solta sua prancha de isopor para que flutue livre-
mente. Ao comando do professor, o aluno imerge, passando em-
baixo da sua prancha.
3. Segurando uma prancha de isopor, com os braços esticados à
frente da cabeça, cada aluno, após colocar o rosto dentro d’água,
parte da borda, ao comando do professor, e vai andando ou cor-
rendo, o mais longe que puder, sem respirar.
4. Os alunos imergem, ao comando do professor, quando este co-
meça uma contagem. Quando emersos, cada aluno ouve um nú-
mero. O professor pergunta a cada um o número que ouviu, a fim
de descobrir quem ouviu o maior número falado, isto é, o maior
deles e, portanto, foi o que permaneceu maior tempo imerso.
1ª Aula
2ª Aula
Natação • 41
3ª Aula
1ª Aula
2ª Aula
Natação • 43
separados, como se fosse um X, flutua. Em seguida, repete-se o
exercício, invertendo-se a mão de apoio.
3. Os alunos formados em duplas colocam-se um de frente para o
outro, segurando uma prancha de isopor. Ao comando do profes-
sor, o componente de cada dupla segurando a prancha em extre-
midades opostas realiza simultaneamente a flutuação, manten-
do as pernas esticadas e separadas como se fosse um X.
4. Dispostos à vontade, dois a dois, aleatoriamente, os alunos es-
colhidos pelo professor, segurando um cano de PVC, um de cada
lado, realizam a flutuação, mantendo os braços e as pernas esti-
cados e separados como se fosse um X.
3ª Aula
Unidade V – Deslizar
1ª Aula
Natação • 45
2. Os alunos, formados em duplas, colocam-se um de fren-
te para o outro, dando as mãos. Ao comando do professor, o
componente de cada dupla que está à frente puxa seu opo-
nente pelas mãos até a borda oposta. Este mantém o corpo
esticado com os braços à frente da cabeça, sem realizar mo-
vimentos de pernas durante o percurso. Em seguida, repete-
se o exercício invertendo as posições das duplas.
3. Cada aluno possui uma prancha de isopor. Ao comando do pro-
fessor, o aluno salta para frente, deixando-se deslizar, em de-
cúbito ventral, sem realizar movimentos de pernas. Os braços
são mantidos esticados à frente da cabeça, e o rosto permanece
dentro d’água. Em seguida, voltando à posição de pé, o aluno
salta novamente, procedendo de forma idêntica e assim sucessi-
vamente até atingir a borda oposta.
4. Em pé dentro da piscina, os alunos são dispostos à vontade.
Aleatoriamente, cada aluno escolhido pelo professor é seguro por
ele que coloca uma das suas mãos na barriga e a outra na sola dos
pés do aluno. Mantendo o corpo esticado na posição de decúbito
ventral, com os braços à frente da cabeça, o aluno, ao seu coman-
do, coloca o rosto dentro d’água e, nessa posição, é impulsionado
para frente, pela sola dos pés, como se fosse um torpedo.
2ª Aula
3ª Aula
Natação • 47
vimentos de pernas, mantendo os braços esticados à frente da
cabeça e o rosto dentro d’água.
3. Em pé, dentro da piscina, junto à borda, cada aluno segura uma
prancha de isopor com os braços esticados à frente da cabeça.
Um a um, aleatoriamente, o professor puxa pela prancha, em
direção à borda oposta, correndo. Durante o percurso, o professor
pronuncia a palavra “torpedo” e o aluno, imediatamente, coloca
o rosto dentro d’água. Em seguida, o professor solta a prancha,
deixando o aluno deslizar, com o corpo esticado na posição de
decúbito ventral, sem realizar movimentos de pernas.
4. Em pé, dentro da piscina, distante quatro metros da borda, o pro-
fessor coloca-se de frente para os alunos. Ao seu comando, cada
aluno, em pé, dentro da piscina, junto à borda, segurando uma
prancha de isopor com os braços esticados à frente da cabeça,
após colocar o rosto dentro d’água, impulsiona-se na parede da
piscina com os pés. Deslizando em decúbito ventral, sem realizar
movimentos de pernas, cada aluno tenta atingir o professor.
4ª Aula
2ª Etapa – Propulsão
1ª Aula
Natação • 49
da dupla batem as pernas no estilo do nado Crawl, mantendo os
braços esticados à frente da cabeça.
4. Cada aluno segura um flutuador de braço com uma das mãos. Ao
comando do professor, o aluno bate as pernas no estilo de nado
de Crawl até a borda oposta, mantendo os braços esticados à
frente da cabeça.
2ª Aula
3ª Aula
Natação • 51
Unidade VII — Bater as pernas no estilo do nado crawl
1ª Aula
2ª Aula
Natação • 53
mantendo os braços esticados à frente da cabeça, ele deve ir o
mais longe que puder.
3ª Aula
4ª Aula
Natação • 55
da posição de pé na borda, pula para dentro d’água. Batendo as
pernas no estilo do nado de Crawl, com o rosto dentro d’água e
mantendo os braços esticados à frente da cabeça. Cada aluno vai
até o cano, passa por cima dele e dirige-se, em seguida, para a
borda oposta, procedendo de forma idêntica.
1ª Aula
2ª Aula
Natação • 57
4. Fora da piscina, partindo da posição de pé na borda, cada aluno,
segurando uma prancha de isopor, é desafiado pelo professor a
pular para dentro d’água e ir o mais longe que puder, batendo as
pernas e os braços no estilo do nado Crawl, com o rosto dentro
d’água.
3ª Aula
4ª Aula
Natação • 59
4. Fora da piscina, partindo da posição de pé na borda, cada aluno,
segurando uma prancha de isopor, é desafiado pelo professor a
pular para dentro d’água, batendo as pernas e os braços no estilo
do nado Crawl, ininterruptamente, até atingir a borda oposta.
Durante o percurso, o rosto é colocado dentro d’água pelo menos
três vezes.
3ª Etapa – Respiração
1ª Aula
Natação • 61
3ª Aula
1ª Aula
2ª Aula
Natação • 63
aluno, em pé dentro da piscina, parte da borda nadando Crawl
em apneia, até atingir uma prancha. De posse da prancha, o alu-
no, após assumir a posição de decúbito ventral com a prancha
presa entre as pernas, bate somente os braços no estilo do nado
Crawl, até atingir a borda oposta.
3. Em pé, dentro da piscina, distante sete metros da borda, o pro-
fessor coloca-se de frente para os alunos. Ao seu comando, cada
aluno fora da piscina, partindo da posição de pé na borda, segu-
rando uma prancha de isopor com os braços esticados à frente da
cabeça, pula para dentro d’água e vai indo ao seu encontro, na-
dando Crawl em apneia. No momento em que atingir o professor,
o aluno coloca-se na posição de pé e, após entregar-lhe a sua
prancha, prossegue da mesma forma até atingir a borda oposta.
4. Fora da piscina, partindo da posição de pé na borda, cada aluno,
ao comando do professor, pula para dentro d’água e vai até a
borda oposta, nadando Crawl em apneia. Durante o percurso, o
aluno pode parar somente uma única vez.
∙∙ Apito
∙∙ Bacia plástica pequena
∙∙ Balde plástico médio
∙∙ Bambolê
∙∙ Boia circular em isopor ou plástico*
∙∙ Boia de braço*
∙∙ Bolas de gude
∙∙ Bolas de isopor pequenas
∙∙ Bolas de plástico médias
∙∙ Cano de PVC com três polegadas de diâmetro
∙∙ Canudos de plástico
∙∙ Conjunto de figuras geométricas em alumínio
∙∙ Corda de nylon
∙∙ Fita de seda na cor vermelha
∙∙ Folhas de jornal
∙∙ Moedas
∙∙ Pneus
∙∙ Pranchas de isopor tipo natação
∙∙ Pratos de alumínio (sopa)
∙∙ Regador plástico pequeno
∙∙ Varetas de alumínio em dois tamanhos distintos
∙∙ Velas
* Material acessório
Natação • 65
Ficha de Observação de Desempenhos na Aprendizagem de Natação (FODAN) PÁGINA 1
1ª Etapa – Adaptação
Unidades Observadas
Nome do aluno
Descontração facial Apneia voluntária Visão subaquática Flutuação emdecúbito ventral Deslize
2ª Etapa – Propulsão
Unidades Observadas
Nome do aluno
Perna de Crawl sem prancha Perna de Crawl com prancha Braço de Crawl com prancha
Ficha de Observação de Desempenhos na Aprendizagem de Natação (FODAN) PÁGINA 2
3ª Etapa – Respiração
Unidade Observada
Nome do aluno
Respiração frontal com prancha
4ª Etapa – Coordenação
Unidade Observada
Nome do aluno
Nadar Crawl em apneia
referências
BURKHARDT, Roberto; ESCOBAR, Michele Ortega. Natação para
portadores de deficiências. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1985.