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D - Estrutura fundamental do processo penal

35. Introdução

As pessoas e as entidades que actuam no processo penal chamam-se de um modo geral participantes
processuais. São aquelas pessoas ou entidades que sendo investidas das mais diversas funções actuam
juridicamente no processo.

A estes participantes processuais a quem competem determinados direitos e deveres, chamam-se


sujeitos processuais, e têm-se:

- O Tribunal;

- O Ministério Público, e na sua dependência os órgãos de polícia criminal;

- O arguido, associado ao defensor;

- O assistente;

- As partes civis.

Tem-se depois aqueles a que se chama simples participantes processuais. São pessoas que intervêm no
processo, mas que de forma alguma vão co-determinar a sua tramitação. Eles intervêm e com a sua
intervenção contribuem para a boa decisão da causa, são eles:

- As testemunhas;

- Os peritos;

- Os intérpretes.

Quanto aos órgãos de polícia criminal (art. 55º CPP) têm por função coadjuvar as autoridades judiciárias
com vista à realização das finalidades do processo.

36. Processo penal como conceito forma de parte

Conceito formal, adjectivo ou processual de parte em processo penal, são aqueles sujeitos processuais
que discutem a causa e esperam do juiz uma apreciação de mérito.
O conceito adjectivo está ligado ao conceito formal de parte, isto é, dois sujeitos: o acusador e o
acusado, que exercem funções formalmente contrapostas. O acusador pretende a condenação do
arguido: o arguido pretende afastar essa mesma condenação.

a) Posição da parte acusadora

O Ministério Público não poderá ser visto como uma verdadeira parte em sentido formal, isto é, ele não
tem como finalidade pura e exclusiva obter a condenação do arguido na medida em que[17] toda a sua
actuação é conduzida sob critérios de estrita objectividade. O Ministério Público não poderá ser uma
verdadeira parte em processo penal, só o seria se ele pudesse dispor do processo e sempre pretendesse
o custo obter uma condenação.

b) Posição do arguido, a parte acusada

O arguido seria parte em processo penal se ele em vez de ter um direito de defesa, tivesse um dever de
defesa, isto é, se o arguido perante uma acusação tivesse obrigatoriamente de se defender sob pena de
se considerarem provados os factos que ele não contestasse. Ele não é uma verdadeira parte, não tem o
dever de se defender, ele tem o direito de se defender.

Do ponto de vista formal não se tem nem uma verdadeira parte acusadora nem uma verdadeira parte
defensora, na medida em que um não tem um dever de defesa, mas apenas um direito de defesa.

Conceito de parte em sentido material: são titulares de interesses contrapostos que no processo se
discutem e que se encontram concretamente em jogo.

37. No Direito Processual Penal português

Não se pode falar em partes processuais no processo penal português. O Ministério Público e o arguido
por um lado, não se encontram ao mesmo nível jurídica e facticamente, e o Ministério Público tem todo
um aparelho investigatório ao seu dispor.

Na fase do inquérito, o arguido não tem um direito igual ao do Ministério Público. O Ministério Público
vai fazer a investigação exaustivamente, o arguido suporta essa mesma investigação e inclusivamente
não se pode opor a ela. Apenas poderá, depois de ouvido, carrear provas para o Ministério Público, no
sentido de afastar a queixa ou os factos que eventualmente lhe poderão ser imputados.

Também, quer o Ministério Público, quer o arguido, nenhum deles dispõe do processo.

O processo penal português é um processo sem partes.

É um processo penal basicamente acusatório mas integrado por um princípio de investigação.

E é esta característica do processo penal, de se dar ao Tribunal a possibilidade de, independentemente


do concurso das partes em julgamento, de investigar os factos Constantes da acusação e de valorar a
prova adquirida e introduzida em julgamento, que confere ao processo penal a estrutura de um processo
sem partes.

Deve-se falar, sim, em sujeitos processuais.

38. Estrutura do processo penal

- Inquérito;

- Instrução (que é facultativa);

- Julgamento.

O inquérito é uma fase processual da competência do Ministério Público (art. 262º CPP) e com ele se
pretende investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes, a responsabilidade deles,
descobrir e recolher as provas. Tudo isto com uma finalidade: submeter ou não o arguido, ou o suspeito
(autor da infracção), a julgamento.

Primeiro há que determinar se realmente houve crime, depois, tentar descobrir o agente.

Depois de descoberto o agente, saber a responsabilidade que lhe cabe, saber se se trata de um indivíduo
que agiu com dolo ou se porventura se trata de um inimputável, uma vez isto feito (art. 283º CPP) o
Ministério Público deduz acusação. Com a acusação pretende-se submeter o arguido a julgamento (art.
262º CPP).

Esta acusação é notificada ao arguido. E aqui, entre a decisão de submeter o arguido a julgamento – que
é a acusação – e o julgamento propriamente dito, pode surgir uma fase intermédia, que é uma fase
facultativa – a instrução.

A instrução é presidida, é levada a cabo e é da competência do Juiz de Instrução Criminal. Vem prevista
nos arts. 286º segs. CPP e tem como finalidade comprovar ou não a acusação.

39. Sujeitos processuais

São eles:

- O Tribunal/juiz penal;

- O Ministério Público;

- O arguido e o defensor, ligado ao arguido está sempre o defensor, nunca poderá haver audiência de
julgamento sem a presença do defensor. Poderá excepcionalmente, nalguns casos, haver audiência de
julgamento sem a presença do arguido, nomeadamente nos casos punidos apenas com multa, ou ainda
nos acasos do art. 334º/2 CPP. O arguido poderá não estar presente, mas estará sempre o defensor.
- Assistente[18], é o ofendido que, quando quer intervir no processo, adquire essa qualidade, desde que
reúna determinados requisitos. Se o não fizer, está lá o Ministério Público que defenderá mas se ele
quiser também intervir e colaborar no processo, adquire a qualidade de assistente.

- As partes civis, são aquelas pessoas ou entidades que, embora não sofrendo directamente com o
crime[19] no entanto sofreram danos.

40. O Tribunal

É um órgão de soberania, é um órgão independente, que tem como função administrar a justiça em
nome do povo (art. 202º – 110º CRP).

Como característica dos Tribunais tem-se a independência, (art. 203º CRP), os tribunais, como órgãos de
soberania que são, têm que ser independentes.

Concede-se por conseguinte plena liberdade aos Tribunais para decidir em plena liberdade, sem que
estejam submetidos a quaisquer ordens da Assembleia da República, do Governo ou do Presidente da
República.

Independência também perante a organização hierárquica judicial. Isto é, o juiz não está obrigado a
aceitar ordens ou instruções de outros juízes a que deve obediência hierárquica. Esta hierarquia apenas
é relevante em matéria de organização judiciária, o juiz é independente, não está obrigado a aceitar
ordens ou instrução de outros juízes.

Relacionado com esta independência tem-se o carácter inamovível (art. 216º/1 CRP) dos juízes.
Juntamente com a inamovibilidade, tem-se a irresponsabilidade judicial (art. 216º/2 CRP), querendo isto
dizer, que os juízes não respondem pelos seus julgamentos, pelas suas decisões.

A lei processual penal criou um sistema de impedimentos – as chamadas suspeições – que têm como
finalidade garantir imparcialidade das decisões judiciais e defender o próprio juiz contra a suspeita de
não ser imparcial na sua decisão.

Os impedimentos traduzem-se na impossibilidade que o próprio juiz declara de participar num processo,
alegando qualquer das situações previstas no art. 39º CPP.

Mas também pode acontecer que o juiz nada diga. Aí o arguido, o Ministério Público, ou o assistente
podem levantar a suspeita e requerer que aquele juiz seja retirado do processo (art. 43º CPP).

Portanto:

- Impedimento (art. 39º CPP) é o próprio juiz que declara estar impedido de participar;

- Suspeição (art. 43º CPP), é a escusa ou a recusa que qualquer sujeito processual tem de ter aquele juiz
a participar naquele processo.
41. Princípio do juiz natural

Os cidadãos têm direito de exigirem que uma determinada causa seja julgada pelo Tribunal previsto
como competente por lei anterior ao conhecimento da infracção, e não por um Tribunal que seja
especialmente criado para o julgar[20].

Os Tribunais têm competência para julgar todo e qualquer tipo de crime, com a excepção dos Tribunais
militares. Todos têm direito a ser julgados por um Tribunal que já existe no momento do cometimento da
infracção, com isto se prevê o princípio do juiz natural. Com este princípio, pretende-se salvaguardar os
direitos da pessoa.

Está directamente ligado a este princípio de Direito Penal “nullum crimen sine legem”, nenhuma prática
de determinado facto pode ser considerado crime se não for previsto na lei como tal.

42. Consequências do princípio do juiz natural

Só a lei pode instituir o Tribunal e fixar-lhe a competência, a fixação do Tribunal e da sua competência
tem que se feita por uma lei vigente ao tempo da prática do facto, princípio da irretroactividade.

Outra consequência é a proibição do desaforamento de qualquer causa, isto é, um Tribunal é


competente para julgar uma causa e essa causa não lhe pode ser retirada.

Outra consequência é a proibição da suspensão discricionária de qualquer autoridade, nenhuma


autoridade poderá, proibir o Tribunal de continuar a apreciar determinada causa.

43. Competência do Tribunal

Quanto à competência do Tribunal no exercício da sua jurisdição, define-se a competência, como o


âmbito de actuação de cada Tribunal, o que ele abrange na sua actuação, qual a jurisdição que ele
abrange. Isto é, a actuação de cada Tribunal de forma, a que cada caso penal concreto seja julgado, seja
deferido a sua apreciação a um único Tribunal (e não a vários).

a) Competência material: define o Tribunal que segundo a sua espécie é competente para julgar um
determinado crime, ou para julgar determinadas pessoas (art. 10º segs. CPP);

b) Competência funcional: atende-se, em face do desenvolvimento do processo, à fase em que ele se


encontra, assim:

* Para a instrução, é competente o Tribunal de Instrução Criminal;

* Para o julgamento, é competente o Tribunal de 1ª Instância (é a regra);


* Para a fase de recurso, será competente o Tribunal da Relação ou o Supremo Tribunal de Justiça[21].

c) Competência territorial: define qual o Tribunal, de entre vários da mesma espécie, que é competente
para julgar uma determinada causa, atento o local onde foi cometido o crime – arts. 19º segs. CPP.

44. Competência territorial

O Tribunal tem uma certa área onde exerce a sua jurisdição, onde actua. Normalmente coincide com os
limites concelhios mas nem sempre é assim, nomeadamente tratando-se de Lisboa.

A regra é no entanto coincidir com os limites concelhios. Por conseguinte, a competência territorial
define qual o Tribunal, entre os vários da mesma espécie, que é competente para julgar um determinado
caso, atenta a sua realização no território.

O território nacional está dividido em:

a) Distritos judiciais;

b) Tribunais de Círculo;

c) Tribunais de Comarca;

O Supremo Tribunal de Justiça, tem jurisdição em todo o território, depois tem-se os distritos judiciais,
que abrangem uma série de comarcas que se encontram definidas por lei.

Exclusivamente, cada distrito judicial tem jurisdição apenas sobre as suas comarcas, não há interferência
entre os distritos judiciais. Os conflitos entre comarcas de distritos judiciais terão de ser resolvidas pelo
Supremo Tribunal de Justiça.

a) Método da determinação abstracta: faz-se decorrer da lei, isto é, o próprio legislador que dá a cada
Tribunal competência para o conhecimento de determinados crimes;

b) Método da determinação concreta: tem-se que atender à pena que se espera que concretamente
venha a ser aplicada.

Antes da intervenção do Tribunal é que se vai determinar a competência, tem que haver um órgão que
vá determinar essa competência, tem que ser feita na própria acusação. Por conseguinte, o método da
determinação concreta faz depender da própria acusação, do próprio órgão acusador, a definição e a
determinação da competência.

O método seguido pelo Direito Processual Penal português é o método da determinação abstracta. Mas
admite também o art. 16º/3 CPP, o método da determinação concreta da competência.

A incompetência, que consiste precisamente na alegação das partes que obstam, que impedem a
apreciação do mérito da causa por parte de um Tribunal. Tem-se pois dois Tribunais que se consideram
competentes ou incompetentes para julgar o caso. Tem-se de ver quem é que vai resolver este conflito
de competência.

Quanto à incompetência territorial (art. 32º CPP).

Quanto à competência material e na determinação da competência do Tribunal, ela obtém-se através de


dois critérios:

1) Através da natureza ou do tipo legal de crime, critério qualitativo: neste critério deve atender-se ainda
à qualidade do sujeito activo do crime, do arguido, da pessoa, portanto, que praticou o crime. Atende-se
à natureza, ao tipo legal de crime, à pessoa que praticou o crime.

2) Através da gravidade do crime, critério quantitativo: aqui atende-se desde logo à pena que é
abstractamente aplicável.

A competência material, regra geral distribui-se pelos Tribunais de 1ª Instância. Dentro destes temos o
Tribunal de júri, o Tribunal colectivo e o Tribunal singular.

45. Conexão

Define-se conexão como a relação que intercede entre vários processos pendentes que se encontrem na
mesma fase, ou se vão instaurar, relação essa que poderá levar à unificação ou apensação dos vários
processos, sem que seja de atender às normas sobre a competência material ou territorial[22]. Nunca há
conexão em relação a processos que se encontrem em fases distintas: se um se encontra na fase de
instrução e outro na fase de inquérito, não é possível haver conexão; se um se encontra na fase de
instrução e outro em fase de julgamento, também não; se um se encontra na fase de julgamento e outro
na fase de recurso, também não. Portanto, só não se atende à competência material ou territorial do
Tribunal.

Para haver conexão (arts. 24º segs. CPP), torna-se necessário:

- Que o mesmo agente tenha cometido vários crimes;

- Que o mesmo crime tenha sido cometido por vários agentes em comparticipação; ou

- Que vários agentes tenham cometido diversos crimes em comparticipação;

- E destinando-se uns a continuar ou a ocultar os outros.

46. Requisitos para a existência da conexão

Tem de haver dois ou mais Tribunais competentes para julgar o caso.


Tem que haver dois ou mais processos distintos, quer sejam distintos sobre o ponto de vista formal, quer
mesmo quanto ao objecto específico[23].

Tem de haver derrogação da regra geral da competência do Tribunal, isto é, um dos Tribunais tem de
ceder em relação ao outro: ele é competente porque o crime foi cometido na sua área, ou é competente
materialmente porque é o Tribunal colectivo ou porque é o Tribunal singular que deve julgar aquele
crime, mas outro é também competente. Há uma derrogação da competência de um dos Tribunais.

Os processos têm que se encontrar todos na mesma fase – inquérito, julgamento ou instrução. No
recurso não há conexão.

47. Ministério Público

É característico de um sistema acusatório a existência de uma identidade investigadora e acusadora e de


uma entidade julgadora.

Com a criação do Ministério Público visa-se obter a estrutura acusatória do processo penal, na medida
em que se obtém (ou pretende obter-se) a separação entre a entidade a quem compete presidir e dirigir
o inquérito e elabora a acusação.

O inquérito, tem como finalidade investigar a existência de um crime, determinar quem foram os seus
agentes e a responsabilidade que lhes cabe. Findo o inquérito, cabe ao Ministério Público, também
sempre que havendo indícios suficientes da prática de um crime e determinados que sejam os seus
agentes, deduzir acusação.

Portanto, compete ao Ministério Público não só a promoção do processo e a direcção do inquérito, como
também elaborar a acusação, tem-se aqui uma entidade investigadora e acusadora.

Entre o Ministério Público e o Tribunal há uma separação funcional e institucional. No entanto, estão
estritamente correlacionadas.

A actuação do Ministério Público no processo penal não se deixa conduzir por critérios de
discricionariedade e oportunidade, como é característico da administração pública, mas antes segundo
critérios de objectividade e em obediência estrita ao princípio da legalidade.

O Ministério Público é um órgão autónomo da administração da justiça, exerce as suas actividades


independentemente, não está vinculado a qualquer poder[24], exerce a sua actividade de forma
autónoma (art. 53º CPP).

Critérios de estrita objectividade

Compete ao Ministério Público investigar e trazer para o processo tudo o que possa demonstrar a
culpabilidade do arguido, mas também lhe compete carrear para o processo todos os indícios que
possam conduzir à minoração da pena do arguido, ou inclusivamente à prova da sua inocência.
O Ministério Público deve ser isento, imparcial na sua investigação e na dedução da acusação. Daí que se
aplique também ao Ministério Público todo o sistema de impedimento e suspeições relativo aos juízes
(arts. 39º e 43º CPP). Mas o pedido de escusa não é feito ao Tribunal, mas ao seu superior hierárquico.

48. Estrutura (arts. 7º, 8º, 9º estatuto do Ministério Público, Lei 47/86)

A estrutura do Ministério Público constitui uma magistratura orgânica e estruturalmente dependente,


inamovível, responsável e hierarquicamente organizada e subordinada. Os magistrados do Ministério
Público são responsáveis disciplinar e criminalmente (art. 414º CPP). Se o Ministério Público não
promover o processo a sua conduta poderá ser sancionada em termos penais e certamente o será em
termos disciplinares. Encontra-se hierarquicamente organizado. O Ministério Público exerce funções
junto dos tribunais, sendo assim, a sua área de jurisdição está subordinada à área de jurisdição dos
Tribunais.

A propósito do inquérito, tem competência para o promover o Ministério Público que exerce funções
junto do Tribunal da área onde foi cometido o crime. Donde pode surgir conflitos de competência, vale
para aqui o mesmo relativo aos Tribunais, nomeadamente quanto à competência por conexão.

O crime é cometido num determinado local: será competente o delegado do Ministério Público que
exerce funções junto do Tribunal da área onde o crime foi cometido.

49. Legitimidade

O art. 50º CPP, relativamente a crimes particulares, em que é necessário haver queixa do ofendido e
constituição de assistente.

Quanto aos crimes semi-públicos, o Ministério Público só promove o processo quando há uma queixa do
ofendido ou das pessoas que tenham legitimidade para se queixar (art. 49º CPP).

Ao Ministério Público não compete definir o direito ao caso, porque é uma actividade própria dos
Tribunais. No entanto, as funções exercidas pelo Ministério Público verifica-se que em determinados
casos ele quase que tem funções jurisdicionais.

A lei processual penal fala indiferentemente em denúncia, queixa, e em participação. Entende-se que
entre estes conceitos haverá alguma diferença.

a) A queixa

Refere-se essencialmente a crimes particulares e a crimes semi-públicos.

Têm legitimidade para a fazer os ofendidos ou as pessoas a quem a lei confere legitimidade para tal.
A queixa refere-se ao crime pelo qual não se pode promover oficiosamente o processo penal. É o
ofendido que dá a notícia do crime ao Ministério Público. A partir desse momento ele tem legitimidade
para promover o processo.

b) A denúncia

Entende-se que se refere aos crimes públicos (art. 24º CPP). Tem legitimidade para a fazer
obrigatoriamente os órgãos de polícia criminal e as autoridades judiciárias e ainda qualquer pessoa que
tenha a faculdade de denunciar um crime.

c) A participação

É mais um acto administrativo, ou um acto do Governo, através do qual se vai transmitir ao Ministério
Público a notícia dum crime ocorrido no exercício das funções ou por causa delas (art. 242º/1-b CPP).

A denúncia, a queixa e a participação podem ser feitas oralmente. Serão depois reduzidas a escrito pelas
entidades competentes, dando com isso origem aos autos de notícia.

50. Inquérito

A seguir à recepção das queixas, denúncias e/ou participações, compete ao Ministério Público dirigir o
inquérito (art. 53º/2-b CPP).

Vem definido no art. 262º CPP, e constitui um conjunto de diligências levadas a cabo pelo Ministério
Público, ou por ele delegadas nos órgãos de polícia criminal, que têm a finalidade investigar a prática de
um crime[25], de determinar os seus agentes[26] e a responsabilidade que lhes cabe para que, apurado
tudo isto, se decida se deve ou não deve submeter-se o autor da infracção a julgamento.

Os actos de inquérito vêm regulados nos arts. 267º segs. CPP. Com o encerramento do inquérito o
Ministério Público pode tomar uma de três posições:

- Deduz acusação;

- Arquiva o inquérito;

- Suspende provisoriamente o processo.

51. Arquivamento do Inquérito

No arquivamento do Inquérito, a que se referem os arts. 277º[27] e 280º CPP, pode-se falar em dois
tipos de arquivamento:

1) Arquivamento por falta de indícios suficientes da prática do crime ou pela não determinação de quem
foram o (s) agente (s) (art. 277º CPP);
2) Arquivamento porque se verifica uma situação de dispensa ou de isenção de pena (art. 280º CPP)

Arquivando o Inquérito pode acontecer duas situações:

1) Ou a pessoa que se queixou – o ofendido – (a pessoa cujos interesses foram violados) – se constitui
assistente e requer a abertura da instrução criminal no prazo de cinco dias após a notificação do
arquivamento, conforme se prevê no art. 287º CPP;

2) Ou não há requerimento para a abertura da instrução criminal, os autos seguem para o superior
hierárquico do Ministério Público e este tem trinta dias para se pronunciar, podendo dizer ao seu
subordinado que prossiga as investigações, ou que deduza a acusação. A isto se refere o art. 278º CPP.

Os casos de dispensa de pena (art. 280º CPP), são aqueles em que o arguido confessa o crime, colabora
com a justiça e a lei prevê que ele seja dispensado de pena. E em relação a ele o processo é arquivado.

Os casos de isenção de pena[28] podem ser, por exemplo, a invocação do estado de necessidade.

Também nestes casos – arquivamento por isenção de pena – exige a concordância do Juiz de Instrução
Criminal (art. 280º CPP).

No caso previsto no art. 280 CPP, há como que uma antecipação do julgamento. Porém, se a acusação
ainda não tiver sido deduzida, bastará uma decisão de arquivamento, por parte do Ministério Público,
seguida de concordância do Juiz de Instrução Criminal, não sendo necessária qualquer intervenção do
arguido, uma vez que não chega a haver acusação.

No caso de a acusação já ter sido deduzida, a situação é algo diferente: então será o juiz a arquivar o
processo, com a concordância do Ministério Público, e agora também a do arguido.

A falta de concordância de alguma destas entidades fará que o processo prossiga, não se operando então
o arquivamento nos termos do art. 280º CPP.

Se a instrução já tiver encerrada ou já tiver sido deduzida acusação não poderão funcionar as disposições
do art. 280º CPP.

52. Acusação

O Ministério Público, através de indícios que o levam a convencer-se de que a pessoa teria cometido o
crime. Não precisa de ter uma certeza, basta que haja indícios, passar-se-á eventualmente à fase
seguinte ao inquérito – a fase do julgamento – em que se produzirão provas e examinarão todas as
provas.

E então, submete o arguido a julgamento, isto é, deduz contra ele, uma acusação.
O Ministério Público convence-se de que o arguido cometeu o crime. E mesmo que ele tenha dúvidas
quanto à prática desse crime, como aqui não poderá funcionar por analogia o princípio “in dubio pro
reo”, então ele deve acusar. É isso que lhe é imposto pelo princípio da legalidade (art. 283º CPP).

É esta possibilidade razoável que forma convicção do Ministério Público quanto à suficiência dos
elementos que recolheu para submeter o arguido a julgamento.

Em conclusão, os indícios serão suficientes quando o Ministério Público conclui que os elementos de
prova já recolhidos por si ou conjuntamente com outros que depois advenham ao processo, numa fase
posterior, possam conduzir à aplicação ao arguido de uma pena ou de uma medida de segurança.

53. Conteúdo da acusação

Tem de haver a identificação do arguido.

Após a identificação, vem a narração dos factos que são imputados ao arguido.

A seguir, vêm as disposições legais aplicáveis; aliás, constitui uma nulidade a sua não inclusão.

Depois, vem a indicação da prova, remetendo então para os autos; indica-se também a prova
testemunhal.

Finalmente, coloca-se a data e assina-se.

A tomar a posição de “atendendo ao comportamento anterior do arguido, não lhe deve ser aplicada uma
pena de prisão superior a três anos”, o Ministério Público está desde logo a determinar a competência
do tribunal, dizendo que aquele caso será julgado pelo tribunal singular e não pelo tribunal colectivo,
como aconteceria se ele nada dissesse.

A acusação é notificada ao arguido, ao assistente se já o houver e também ao denunciante (art. 285º/3 e


273º/3 CPP), sendo como refere estes artigos para crimes públicos e semi-públicos. Nos crimes
particulares não tem aplicação o art. 277º/3 CPP, quanto ao assistente, porque quem deduz acusação é o
próprio assistente.

A notificação que é feita ao arguido é uma notificação penal.

A lei processual penal não fala em citação: fala na notificação que reveste no entanto as características
de uma verdadeira citação:

- Ou o arguido é chamado ao tribunal e é notificado directamente da acusação, se ainda não foi


constituído como tal;

- Ou então já está constituído como arguido no processo.


Ao assistente cabe recorrer (interpor recurso), requerer a abertura de instrução, etc. Ora, não é qualquer
indivíduo que pode praticar esses actos. Tem de estar assessorado por um advogado, por um técnico
inserido nos meios de justiça. Daí que se lhe exija que ele esteja representado por um advogado.

A partir do momento em que se encontrem preenchidos estes requisitos, o juiz admite-o como
assistente: ele adquiriu a qualidade de sujeito processual.

O ofendido e o assistente são a mesma pessoa, em momentos diferentes e com qualidades diferentes.

No entanto tratando-se de crime particular, o indivíduo tem de declarar que se vai constituir assistente.
Isto faz com que a queixa siga logo para o Ministério Público (art. 246º/4 CPP).

Uma vez constituído como assistente, o Ministério Público inicia o inquérito. Chegando ao fim do
inquérito, há que deduzir a acusação. Quem vai acusar em primeiro lugar é o assistente (art. 285º/1
CPP).

O assistente vai dirigir a acusação ao Tribunal. Pois, não pode ser ao Ministério Público, porque foi ele
que fez o inquérito; já terminou as suas funções, não tem competência para apreciar a acusação.

O objectivo da acusação é submeter o arguido a julgamento. Portanto, a acusação é dirigida ao Tribunal.


A acusação segue os mesmos termos que a acusação feita pelo Ministério Público.

54. Suspensão provisória do processo

Pode acontecer que o Ministério Público tenha recolhido indícios suficientes da prática do crime mas,
atendendo a determinadas circunstâncias, lhe seja permitido não deduzir acusação, lhe seja permitido
decidir-se por outra forma diferente da acusação.

Então:

* Se durante o inquérito tiverem sido recolhidos indícios suficientes da prática do crime;

* Se o crime abstractamente for punível com pena não superior a 3 anos;

* Se se tratar de um delinquente primário, desde que haja uma culpa diminuta e não haja dolo na prática
do crime;

* E depois, desde que haja concordância do arguido, do assistente e também do Juiz de Instrução
Criminal.

A lei, no art. 281º CPP, permite ao Ministério Público que, em vez da acusação, se decida pela suspensão
provisória do processo, mediante a imposição ao arguido de injunções e regras de conduta.

Se as injunções e as regras de conduta que são oponíveis ao arguido contêm limitações aos seus direitos,
então exige-se a concordância Juiz de Instrução Criminal.
Estas regras de conduta (art. 281º/2 CPP), não se mantêm indefinidamente. Estão condicionadas a um
certo tempo, num prazo máximo de 2 anos. Por isso, fala-se em suspensão provisória do processo: o
processo chegou ao fim do inquérito e parou, suspendeu-se, para ver se o arguido cumpre aquilo que
lhe foi imposto.

Mas, se o arguido não cumprir com as regras que lhe foram impostas pelo art. 281º/2 CPP, então volta-se
ao momento em que o processo se suspendeu: há indícios suficientes, então necessariamente tem de se
seguir a acusação – o Ministério Público vai deduzir a acusação.

A suspensão provisória do processo, sendo uma decisão que cabe ao Ministério Público, apenas pode ter
lugar nos crimes públicos e semi-públicos, nunca nos crimes particulares. Aí a decisão compete ao
assistente, ao particular, e ele não tem poderes para propor a suspensão provisória do processo.

55. Instrução

A instrução, não é um novo inquérito, mas tão-só um momento processual de comprovação.

Trata-se de uma fase dotada de uma audiência rápida e informal, mas oral e contraditória, destinada a
comprovar judicialmente a decisão do Ministério Público de acusar ou de não acusar, e que portanto
termina por um despacho de pronúncia ou de não pronúncia.

É óbvio, por outro lado, que, tratando-se já de uma fase judicial, a sua estrutura eminentemente
acusatória deverá apresentar-se integrada pelo princípio da investigação; não terá por isso o Juiz de
Instrução Criminal de limitar-se, em vista da pronúncia, ao material probatório que lhe seja apresentado
pela acusação e pela defesa, mas deve antes – se para tanto achar razão – instruir autonomamente o
facto em apreciação com a colaboração dos órgãos de polícia criminal.

Tem como finalidade, comprovar judicialmente a decisão de deduzir a acusação ou de arquivar o


inquérito com o fim último de submeter ou não o arguido a julgamento sendo a sua natureza facultativa
(art. 286º/2 CPP).

56. Legitimidade

Têm legitimidade para requerer a abertura da instrução o arguido ou assistente, nunca o Ministério
Público.

a) O arguido (art. 287º/1-a CPP)

Tem legitimidade para requerer a abertura da instrução em caso de acusação: ou de acusação


formulada, pelo Ministério Público ou acusação formulada pelo particular que se constitui assistente.

O arguido vai requerer ao juiz que examine novamente os autos do inquérito, porque ele discorda da
atitude do Ministério Público ou do assistente. Entende que os elementos de prova que constam do
processo não são relevantes de forma a preverem que ele seja condenado, ou que lhe possa ser aplicada
uma pena ou medida de segurança.

b) O assistente (art. 287º/1-b CPP)

Pode requerer a abertura da instrução em caso de arquivamento do inquérito nos termos do art. 277º
CPP; ou por factos pelos quais o Ministério Público não tiver deduzido acusação.

Mas, tal como o Ministério Público não pode requerer a abertura da instrução, também, nos crimes
particulares, o assistente não pode requerer a abertura da instrução.

Portanto, uma vez requerida a abertura da instrução pelo arguido ou pelo assistente, o juiz pratica os
designados actos de instrução: vai fazer novas diligências, vai ouvir novamente as testemunhas,
eventualmente vai requerer exames.

57. Debate instrutório

É uma audiência em que o juiz vai expor sumariamente o que é que se pretende atingir com o
requerimento para a abertura da instrução: vai expor as diligências que fez, e depois pergunta a cada um
dos sujeitos processuais se tem mais provas para apresentar naquele acto.

Findo o debate, é dada a palavra a cada um dos sujeitos processuais, para que tirem as suas conclusões.

A instrução termina com a decisão do juiz, proferindo um despacho de pronúncia ou despacho de não
pronúncia (art. 308º CPP).

O juiz pronúncia, o arguido, pelos factos respectivos, que são os descritos na acusação ou no
requerimento para a abertura da instrução e através deste despacho vai-se submeter o arguido a
julgamento.

Caso contrário, se houver arquivamento do processo e durante a instrução o juiz atender que não foram
trazidos aos autos elementos suficientes para modificar a decisão do Ministério Público, então o juiz
profere um despacho de não pronúncia, isto é, mantém a não submissão do arguido a julgamento.

Se o arguido vai ser submetido a julgamento, vai ter a possibilidade de se defender. Como não se está a
limitar nenhum direito, o despacho de pronúncia é irrecorrível (art. 400º/1-g CPP).

Mas já é possível recurso quando seja um despacho de não pronúncia (art. 310º CPP). Uma vez que o
assistente vê desde logo afastada a possibilidade de ver a sua posição ser apreciada por um Tribunal,
então pode recorrer do despacho.

O princípio do acusatório impede que seja o juiz a tomar a iniciativa de alterar a acusação; por isso, se
entender que se provam indiciariamente factos que alterem substancialmente os da acusação, limitar-
se-á a não receber a que foi deduzida, proferindo despacho de não pronúncia e comunicando ao
Ministério Público os factos para que, quanto a eles, abra inquérito.
Mas o se Juiz de Instrução Criminal vier a pronunciar o arguido por outros crimes, ou venha agravar o
crime cometido, estaria-se numa situação de alteração substancial dos factos descritos na acusação e
então essa decisão era nula (art. 309º CPP).

58. O arguido

Sujeito processual essencial para o processo, de tal maneira que se não houver arguido não há acusação
não pode haver julgamento.

O condenado é a pessoa contra quem já foi proferida uma sentença de condenação.

O suspeito, será toda a pessoa relativamente à qual exista um indício (não muito forte) de que praticou
um crime, ou se prepara para cometer um crime, ou nele participou ou se prepara para participar.

O arguido, será a pessoa singular contra quem foi deduzida acusação, contra quem foi requerida a
abertura da instrução penal ou que veio a ser constituída como tal nos autos.

Com a notificação da acusação a pessoa, ao tomar conhecimento, assume a qualidade de arguido.

Tem-se de distinguir:

* Por um lado a assunção da qualidade de arguido;

* Por outro lado, a constituição dessa pessoa como arguido (art. 58º CPP).

A partir do momento da comunicação (art. 58º/2 CPP), adquire-se a qualidade de sujeito processual. Se
faltar essa comunicação, oral ou escrita, as consequências são desde logo que tudo quanto o arguido
disse até esse momento não pode ser usado contra ele. Ou seja, se ele confessou o crime, se disse como
o preparou, o que fez, etc., tudo isso é como que apagado, não pode ser usado contra ele (art. 58º/4
CPP).

As outras formas de constituição da qualidade de arguido encontram-se enumeradas nos arts. 57º e 59º
CPP.

Quando uma pessoa formula o pedido de que se quer constituir arguido (art. 59º/2 CPP), adquire essa
qualidade a partir do momento em que lhe é notificado o despacho que o admite como tal.

Pretende-se com a constituição de arguido, desde logo dar conhecimento tempestivo à pessoa de
existência de um processo contra ela, e possibilitar-lhe a faculdade de ela ir em tempo útil preparando a
sua defesa.

59. Estatuto jurídico do arguido


O arguido é um sujeito processual: reconhecem-se-lhe direitos e cabem-lhe também deveres (art. 61º
CPP).

A pessoa deixou de ser um mero objecto do processo e tem todos os direitos, liberdade e garantias que
a Constituição lhe prevê e assegura.

Pretende-se com isso a consagração da verdade material, na medida em que este sujeito processual goza
da protecção do direito.

Há que notar, que a aquisição – quer por assunção, quer por constituição – da qualidade de arguido não
pressupõe a intervenção do Ministério Público.

a) Direitos do arguido:

1) Direito a todas as garantias de defesa, estabelecido no art. 32º/1[29] CRP.

2) Presunção de inocência até trânsito em julgado da decisão de condenação (art. 32º/2[30] CRP).

3) Direito a julgamento no mais curto prazo compatível com as garantias de defesa (art. 32º/2 CRP).

4) Direito à escolha de defensor, a ser por ele assistido em todos os actos do processo e a comunicar,
mesmo em privado, com ele (art. 32º/3 CRP e 61º/1-d); e) CPP). Porem enquanto o arguido pode
constituir defensor em qualquer altura do processo, o juiz é obrigado a nomear-lho nos casos em que a
lei determina a obrigatoriedade de assistência do defensor (art. 64º CPP).

5) Direito de estar presente nos actos processuais que directamente lhe disserem respeito (art. 32º/7
CRP; art. 61º/1-a CPP). Os actos que dizem respeito ao arguido, são todos aqueles relativamente aos
quais vale em geral o princípio da contrariedade. Quer-se dar ao arguido a mais ampla possibilidade de
tomar posição, a todo o momento, sobre o material que possa ser feito valer processualmente contra si,
ao mesmo tempo que garantir-lhe uma relação de imediação com o juiz e com as provas.

6) Direito de audiência pelo Tribunal ou pelo Juiz de Instrução Criminal sempre que eles devam tomar
qualquer decisão que pessoalmente o afecte (art. 61º/1-b CPP).

7) Direito de não responder a perguntas feitas relativamente a factos que lhe são imputados (art. 61º/1-c
CPP).

8) Direito de intervir no inquérito e na instrução, oferecendo provas e requerendo diligências (art. 61º/1-
f CPP).

9) Direito à informação dos direito que lhe assistem (art. 61º/1-g CPP; vide também arts. 141º/4 e 144º
CPP).

b) Deveres processuais do arguido:


1) Dever de comparência perante o juiz, o Ministério Público ou os órgãos de polícia criminal, sempre
que a lei o exija ou que tenha sido para isso devidamente convocado por alguma dessas entidades (art.
61º/3-a CPP, vide também arts. 116º/2; 208º; 36º; 473º CPP).

2) Deve de responder com verdade às perguntas feitas sobre a identidade (arts. 61º/3-b; 141º/3 CPP).

3) Sujeição de diligências de prova e a medidas de coacção e de garantia patrimonial especificadas na lei


e ordenadas e efectuadas por entidade competente (art. 61º/3-d CPP). Estas medidas de coacção têm de
ser as especificadas na lei, decorrência do princípio da legalidade, e só devem ser utilizadas quando
absolutamente necessárias (princípio da necessidade), vide arts. 191º segs. CPP.

60. O defensor

A função do defensor será não só de carrear para os autos tudo quanto seja favorável à posição do
arguido mas também e sobretudo fazer realçar no processo tudo o que for útil de modo a favorecer a
posição do arguido.

A função do defensor é, conjuntamente com o Tribunal e com o Ministério Público trazer provas que
possam afastar a imputabilidade, ou minorar a pena a aplicar ao arguido, como também dar realce a
essas situações.

O art. 62º CPP, indica quem tem legitimidade para ser defensor. Em princípio deve ser advogado ou
advogado estagiário.

Regra geral cabe ao Juiz de Instrução Criminal ou ao juiz de julgamento nomear o defensor ao arguido.

Excepcionalmente essa competência poderá caber ao Ministério Público (art. 62º/3 CPP).

A falta de nomeação de defensor constitui uma mera irregularidade, o Tribunal não nomeou, ainda está
a tempo de o fazer. A falta de assistência, designadamente nos actos em que é obrigatória a assistência
do defensor constitui uma nulidade insanável. Essa nulidade será invocável a todo o tempo, até ao
trânsito em julgado da sentença, obrigando à repetição de todos os actos que se praticaram a partir daí.

O Código de Processo Penal submete o arguido a três tipos de interrogatório[31], como ainda lhe
concede uma alegação final no fim da audiência de julgamento, quanto aos interrogatórios:

- Um interrogatório não judicial, que é feito pelo Ministério Público e eventualmente pelos órgãos de
polícia criminal a quem foram delegadas essas funções (art. 143º CPP).

- Um interrogatório judicial, que é feito pelo Juiz de Instrução Criminal;

- Um interrogatório judicial feito pelo juiz de julgamento.


Só o Tribunal é que pode fazer um interrogatório directo ao arguido. Os outros sujeitos processuais farão
esse interrogatório através do Tribunal, a não ser que este consinta um interrogatório directo (arts.
141º/6; 345º/2 CPP)

61. O assistente

Para se falar em assistente é necessário distinguir:

a) Ofendido: titular de interesses que a lei especialmente quis proteger com a incriminação, desde que
maior de 16 anos (art. 68º/1-a CPP), ou seja, titular dos interesses que a lei quis especialmente proteger
quando formulou a norma penal;

b) Lesado: o titular de um interesse de natureza civil. É a pessoa (singular ou colectiva) que sofreu danos
ocasionados com a prática do crime (art. 74º/1 CPP);

c) Partes civis: são as pessoas (singulares ou colectivas) que por terem legitimidade para deduzirem
(lesados) ou contra eles ser deduzido, em processo penal um pedido de indemnização de natureza cível
derivado da prática de um crime, intervêm ou são chamadas a intervir no processo, são sujeitos
processuais;

d) Assistente: é a pessoa (s) (singular ou colectiva) que, por serem ofendidas ou porque a lei lhes confere
legitimidade para se constituírem como tal (art. 68º/1 CPP), requereram ao juiz a sua intervenção no
processo penal para ai fazerem valer os seus interesses (de natureza penal e conjuntamente de natureza
cível), quer em colaboração com o Ministério Público (crimes públicos e semi-públicos), quer
autonomamente nos casos previstos na lei (crimes particulares), e que por despacho judicial foram
admitidas como tal. É um sujeito processual.

62. Legitimidade

Torna-se necessário que a pessoa tenha mais de 16 anos, que seja titular de um interesse que a lei penal
quis proteger (art. 68º CPP).

Se o ofendido nada fizer, tratando-se de um crime público; ou se apresentar meramente uma queixa,
tratando-se de um crime semi-público, os seus interesses serão defendidos pelo Ministério Público. Se
quiser intervir no processo, então, tem de adquirir a qualidade de sujeito processual. O ofendido adquire
essa qualidade querendo a constituição como assistente, isto é, vai pedir ao juiz que a admita a intervir
nos autos como sujeito processual, na qualidade de assistente. O assistente tem de ser representado por
advogado (art. 70º CPP).

O ofendido pode requerer a sua constituição como assistente desde o início do processo até um
determinado momento, que difere consoante seja ou não requerida a abertura da instrução – requisito
de tempestividade:
- Se houver Instrução, é até cinco dias antes da data marcada para o debate instrutório;

- Não havendo instrução, passando-se logo para a fase de julgamento, então é desde que o requeira até
cinco dias antes do início da audiência de julgamento.

a) Requisitos formais:

- É necessário que tenha legitimidade, e para isso tem de ser o ofendido ou alguma das pessoas a que se
refere o art. 68º CPP;

- Tem que fazer um requerimento ao juiz (Juiz de Instrução Criminal, ou juiz de julgamento, dependendo
da fase em que requerer) – art. 68º/2 CPP;

- Tem que fazer esse requerimento em tempo (art. 68º/2 CPP);

- O art. 70º CPP; faz referência à representação judiciária dos assistentes.

b) Requisitos substanciais:

Não ter havido renúncia à queixa, se houver renúncia, a pessoa não pode depois vir a constituir-se
assistente.

Também não se pode constituir assistente quem tenha comparticipado num crime.

O requerimento é acompanhado da respectiva procuração que constitui o mandatário e é depois levado


à apreciação do juiz para proferir um despacho de admissão ou de indeferimento.

Se faltar algum dos requisitos enunciados, então o juiz deverá proferir um despacho de indeferimento.

63. O lesado

O lesado é aquela pessoa que não sofre directamente o crime, mas por efeito dele sofre danos (art. 74º
CPP).

Lesado deve ser considerada toda a pessoa que, segundo as normas de Direito Civil tenha sido
prejudicada em interesses seus juridicamente protegidos, desta perspectiva se alcançando um conceito
lacto ou extensivo de ofendido, que abrangerá todas as pessoas civilmente lesadas pela infracção penal.

Em suma, dever-se-á considerar lesado, para os efeitos do art. 74º CPP, todo aquele que perante o
Direito Processual Penal tiver legitimidade para formular o pedido de indemnização.

O lesado, quando só é lesado, porque não é o ofendido, nunca se poderá constituir como assistente, a lei
não lhe confere legitimidade, a não ser que se encontre previsto no art. 68º CPP.
O assistente tem que estar sempre numa relação directa com o crime; o lesado, apenas nessa qualidade,
nunca se pode constituir assistente. Quando ofendido e lesado se fundam numa única pessoa então,
nesse caso, como ofendido, já poderá constituir-se como assistente.

64. Posição jurídico-processual do assistente

Nos crimes públicos e semi-públicos, o prosseguimento do processo penal está assegurado pelo
Ministério Público. O assistente pode também participar mas a entidade principal é o Ministério Público,
logo, o assistente apenas intervirá no processo em colaboração com o Ministério Público, mas será
sempre uma actuação subordinada.

É uma actuação (do assistente) subordinada à actividade do Ministério Público, de quem o assistente é
um mero colaborador. Dir-se-á por conseguinte que ele é um sujeito processual subordinado.

Há contudo uma excepção, em que se invertem os termos, em que o assistente passa a sujeito principal
e o Ministério Público passa a sujeito subordinado e que decorre dos crimes particulares.

Neste, o procedimento criminal só tem lugar se houver queixa, constituição de assistente e só há


julgamento se o assistente acusar. O Ministério Público poderá acusar depois de o assistente o ter feito
(art. 285º CPP).

Direitos do assistente:

- Direito de intervenção no inquérito, oferecendo provas, requerendo diligências;

- Direito de deduzir acusação: quer o art. 69º/2 CPP, quer o art. 284º CPP, se referem à acusação do
assistente;

- Pode também interpor recurso.

O assistente pode ainda na audiência de julgamento:

- Inquirir as testemunhas, directamente;

- Inquirir o arguido, através do Tribunal (art. 345º/2 CPP);

- Tem direito de requerer a consulta dos autos (art. 89º/1 CPP).

65. Posição jurídico-processual do lesado

O lesado sofre danos indirectamente com o crime: ele não é a vítima directa do crime.

Quando a pessoa é só lesada ou mesmo quando é assistente, a indemnização cível só será atribuída se
for requerida. E tem de ser requerida no processo penal.
A figura do lesado está directamente relacionada com o pedido de indemnização cível.

Mas uma vez que o ofendido é ao mesmo tempo lesado, quando o ofendido se constitui assistente tem
igualmente legitimidade para formular um pedido de indemnização civil.

Quanto a este pedido, diz a lei que ele é deduzido obrigatoriamente no processo penal, a não ser que a
lei, em casos tipificados, permita que seja o Tribunal civil (art. 71º CPP, excepção do art. 72º CPP).

Que razão levou o legislador a tornar obrigatória a dedução do pedido de indemnização no processo
penal (art. 71º CPP)?

Em princípio, haveria uma economia de tempo, porque o processo penal devia ser mais rápido.

Uma outra razão é a de que o ofendido economiza dinheiro, porque o processo penal é mais barato.

Depois, outra razão é o aproveitamento das provas carreadas para o processo pelo Ministério Público,
consagradas com elementos de prova que são produzidos na própria audiência de julgamento,
principalmente as declarações do ofendido.

Uma razão de ordem geral é a prevenção geral da criminalidade.

O princípio da obrigatoriedade da dedução do pedido de indemnização civil em processo penal apenas é


válido em toda a sua plenitude nos crimes públicos, embora com as limitações do art. 72º/1-a), b), c), d),
e), f), h) CPP.

Para os crimes particulares e para os crimes semi-públicos, vigora o princípio da opção. Mas opção com
estas consequências: é que se o ofendido ou o assistente quiserem optar pelo processo civil, isso
equivale a uma renúncia ao prosseguimento do processo penal.

O pedido de indemnização é de natureza exclusivamente civil. Não há indemnizações de ordem penal.

Vigora o princípio da necessidade, na medida em que o pedido de indemnização é deduzido pelo lesado
(art. 74º CPP). Quer isto dizer que só haverá atribuição de uma indemnização se a mesmo for requerida.

66. Legitimidade para intervir no pedido de indemnização

Do lado passivo, tem-se duas pessoas:

- O arguido, o infractor contra quem é imputada a prática de um crime: ele será responsável pelo
pagamento da indemnização;

- Pode haver também um responsável meramente civil, que é a pessoa singular ou colectiva que está
obrigada ao ressarcimento do dano que é ocasionado pelo crime.

O lesado, se quer intervir no processo, se quer formular um pedido de indemnização, ou requerer ao


Ministério Público que o represente ou faz-se representar por advogado (art. 76º/1 e 2 CPP).
Quanto à legitimidade activa, essencialmente pertence ao lesado. Mas poderá pertencer também a uma
parte civil. Neste conceito cabem não só as pessoas singulares, como também as pessoas colectivas.

A posição do lesado no processo restringe-se ao exercício dos poderes de sustentação e da prova em


matéria cível quanto ao pedido de indemnização.

O lesado pode exercer o seu direito, a partir da sua intervenção no processo, ou a partir do momento em
que as autoridades judiciárias lhe comuniquem esses direitos.

É-lhe comunicado esses direitos quando, num processo penal o Ministério Público ou o juiz se aperceber
que há alguém que foi afectado pela prática do crime, isto é, que sofreu danos ocasionados pelo crime,
deve notificá-lo e informá-lo de que tem um direito a ser indemnizado pelos prejuízos sofridos (art. 75º
CPP) – dever de informação.

O arguido pode contestar o pedido de indemnização. Daqui, não decorre nenhuma consequência, na
medida em que a falta de contestação não implica a condenação no pedido de indemnização.

67. Natureza do pedido de indemnização civil

O pedido de indemnização cível é exclusivamente civil. O que se pretende é obter uma compensação,
um ressarcimento pelos danos sofridos, com a aplicação das normas de Direito Civil substantivo, no que
respeita à formulação e à atribuição dessa indemnização.

Também, a decisão penal que conhecer do pedido de indemnização civil constitui caso julgado, isto é,
não se pode formular o pedido de indemnização no processo penal e depois, porque se ficou satisfeito,
formular novo pedido no Tribunal civil, forma-se caso julgado mesmo no que diz respeito à matéria civil
em processo penal.

Há legitimidade activa e passiva:

- A legitimidade activa pertence ao lesado e, eventualmente, a terceiro;

- A legitimidade passiva, pertence ao arguido e também, se o houver, a um responsável meramente civil:

* O arguido é chamado directamente ao processo;

* O responsável meramente civil poderá ser demandado ou poderá ele próprio fazer a sua intervenção
porque, nomeadamente se houver um direito de regresso contra o arguido, tem interesse em discutir se
houve ou não houve causas de exclusão da sua responsabilidade.

É obrigatório a formulação do pedido de indemnização no processo penal, quando isso não acontecer, o
Tribunal não conhece desse pedido.
68. Formulação do pedido de indemnização

Rege esta matéria o art. 77º CPP. Neste artigo tem-se que ter bem presente quem formula o pedido de
indemnização: se é o Ministério Público, se é o assistente, ou se é o lesado.

Quando formulado pelo Ministério Público o pedido de indemnização é deduzido na acusação.

Isto quer dizer que o lesado deve fornecer ao Ministério Público os elementos de facto que
fundamentam o seu pedido antes do termo do inquérito, isto é, antes do Ministério Público formular a
acusação.

Quando formulado pelo assistente o pedido de indemnização é deduzido na acusação ou no prazo em


que esta deva ser formulada.

Esta alternativa aplica-se aos crimes públicos e semi-públicos, em que o assistente pode não acusar,
pode pura e simplesmente fazer sua a acusação do Ministério Público, ou seja, pode aderir à acusação
do Ministério Público. Tem cinco dias após a notificação da acusação do Ministério Público, o assistente
também pode deduzir acusação (art. 284º CPP).

Nos crimes particulares o pedido deve ser formulado na acusação.

Se o assistente não deduzir acusação então deve, nesses cinco dias, formular o pedido de indemnização,
sob pena de o mesmo depois não ser conhecido.

Se não houver acusação não há prosseguimento do processo penal nos crimes particulares, em que é
obrigatória a acusação por parte do assistente. Portanto, quando ele deduz a acusação formula também
o pedido de indemnização, na mesma peça processual.

O art. 7º/2 CPP, refere-se ao pedido de indemnização feito pelo lesado, que intervém no processo
através de advogado.

Quando à data do despacho de pronúncia ou da data do julgamento ainda não são conhecidos os danos,
então poder-se-á deixar a formulação do pedido para uma execução de sentença.

[17] Art. 53º in fine CPP

[18] Poderá existir ou não.

[19] Não foram vítimas directas.

[20] Proibição de criação de Tribunais de excepção – art. 209º/4 CRP.

[21] Para a Relação recorre-se das decisões do Tribunal singular e para o Supremo Tribunal de Justiça,
recorre-se das decisões do Tribunal colectivo.

[22] Há derrogação das normas de competência material ou territorial, mas nunca funcional.
[23] Tratar-se de crimes diferentes

[24] Poder executivo, judicial, legislativo.

[25] Saber em que circunstâncias ocorreu.

[26] Saber quem o praticou

[27] Relativamente ao art. 277º CPP é possível distinguir as seguintes modalidades de arquivamento:

a) Arquivamento em sentido estrito, previsto no art. 277º/1 CPP, sempre que se verifique não ter havido
crime, o arguido não o ter praticado a qualquer título, ou ser legalmente admissível o procedimento
criminal;

b) Arquivamento por falta de prova indiciária suficiente da verificação do crime ou de quem foram os
seus agentes, modalidade que se encontra prevista no n.º 2 do art. 277º CPP;

c) Arquivamento em caso de dispensa ou isenção de pena, modalidade que se encontra prevista e


regulada no art. 280º CPP. Neste caso o arquivamento depende da concordância do Juiz de Instrução
Criminal.

[28] Os casos de dispensa de pena são casos de culpa muito diminuta, em que se não justifica a
aplicação de qualquer reacção criminal

[29] O processo criminal assegura todas as garantias de defesa, incluindo o recurso.

[30] Todo o arguido se presume inocente até ao trânsito em julgado da sentença de condenação,
devendo ser julgado no mais curto prazo compatível com as garantias de defesa.

[31] Quanto aos interrogatórios, eles constituem não só um meio de prova, como são também o
exercício do seu direito de defesa.

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