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DESENVOLVIMENTO POLIGONAL NO BRASIL:! NEM DESCONCENTRACAO, GEO-131 NEM CONTINUA POLARIZACAO 16 PAGINAS Clétio Campolina Diniz” 1 INTRODUCAO A distribuicao da produgiio industrial no Brasil tem mudado significativa- mente nos ditimos anos. O resultado mais not4vel deste processo é um relativo declinio da elevada participacao da Area Metropolitana de Sao Paulo. A partir de entdo, alguns analistas tém concluido que um processo de desconcentracao ou polarizacao reversa est4 em andamento, como posto em Diniz (1986, 1987) e Diniz, Lemos (1986), apesar do crescimento ter se concentrado em poucas e selecionadas regides ou 4reas. Neste artigo, pretende-se mostrar que é mais apropriado considerar o Brasil como um caso de desenvolvimento poligonal, onde um limitado ntimero de novos pdlos de crescimento ou regides tém capturado a maior parte das novas atividades econ6micas. O resultado est4 longe de ser uma verdadeira desconcentracao, especialmente porque os novos centros esto no préprio Estado de Sao Paulo ou relativamente préximos dele. O desenvolvimento poligonal ¢ 0 resultado de um cojunto de forgas, dentre as quais cinco seriam as mais representativas. A primeira delas resulta das desecono- mias de aglomeracao na Area Metropolitana de Sao Paulo e da criagao de economias de aglomeragao em varios outros centros urbanos e regiGes. A segunda, o papel da politica econémica ou ago do Estado em termos de investimentos diretos, incentivos fiscais e construgao de infra-estrutura, que encorajaram a desconcentracao geografica da produgao, embora a politica dos estados com maior nivel de recursos tenha contraria- do a politica federal. Uma terceira, decorre da busca de recursos naturais que estimulou aabertura de novas regides para o desenvolvimento. Uma quarta razao, vem da grande concentra¢ao social e espacial da renda e 0 conseqiiente poder de compra e de pesquisa que retém o crescimento em regides com maior base econdmica. Uma quinta causa do desenvolvimento poligonal, é a unificagao do mercado, através da infra-estrutura de transportes e comunicagées, ¢ 0 conseqiiente aumento da competicao inter-empresarial, que contribuiram para a desconcentragdo geografica da producaio. Fato incontestével € que até o final da Década dos 60 um hist6rico processo de concentra¢ao econédmica e demografica ocorreu na Area Metropolitana de Sao Paulo, que, em 1970, chegou a participar com 44% da produgo industrial do Pais. A partir de entio, iniciou-se um processo de reverso desta polarizago, em fungo do qual esta 1 Trabalho elaborado com apoio da Fundag&o de Apoio Pesquisa de Minas Gerais - FAPEMIG. 2. Professor do CEDEPLAR (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional) ¢ do Departamento de Economia da UFMG. O autor agradege & Professora Ann Markusen pelos comentirios, criticas sugestes. Agradege, também, aos Professores Afonso Henriques Borges Ferreira ¢ Alda Maria Palhares Campolina, por seus estimulos e ajudas. Nova Economia! Belo Horizonte v. 31 n. 1 I set 1993. 35 participacao reduziu-se para 26%, em 1990. Entretanto, tal ndo implicou em uma MAPA 2 sustentada desconcentrac3o para a Nagao como um todo. Na primeira fase, 0 processo de reversao da polarizacao se fez com um relativo espraiamento industrial parao proprio BRASIL: Eixos de desconcentragao, principais pélos tecnolégicos Interior do Estado de Sao Paulo € para quase todos os demais estados brasileiros. Na € 0 novo poligono de aglomeracao industrial segunda fase, no entanto, vem ocorrendo uma relativa reconcentracio no poligono definido por Belo Horizonte-Uberlindia-Londrina/Maring4-Porto Alegre-Florianépo- lis-Sdo José dos Campos-Belo Horizonte, dentro do qual esto sendo formados os principais p6los de alta tecnologia (Mapas 1 ¢ 2). MAPA 1 BRASIL: Regides, Estados e suas capitais ‘ —— Novo polfgono de aglomeragio industrial = Eixos de desconcentragio (n) Principais pélos tecnolégicos (1) Sao Paulo (2) Campinas (3) Sao Carlos NOTA: 0 autor separou a regifio Sudeste (4) Sao José dos Campos oficial em Leste e em Sio Paulo. (5) Santa Rita do Sapucaf (©) Florianépolis (7) Campina Grande 36. Nova Economia | Belo Horizonte | v. 3 In. 11 set. 1993. Nova Economia | Belo Horizonte! v. 31 n. 1 | set. 1993. 37 A reconcentracio das mudancas tecnolégicas ¢ 4 reducdo da intervengo estatal se aliam a concentragao prévia da produgao industrial, da pesquisa, do mercado de trabalho profissional e da renda dentro do poligono mencionado. Face a isto, a continuidade do processo de desconcentra¢4o macroespacial vem sendo obstaculizado uma nova configura¢ao regional da inddstria no Brasil tem sido esbocada. Concilia a existéncia de reversio da polarizacao da Area Metropolitana de Sao Paulo com uma relativa aglomeragao no poligono mencionado. Isto significa que as regides objeto de politicas regionais, como o Nordeste, nao tém demonstrado capacidade de sustentar um crescimento diferenciado que se traduza em alterago macroespacial substantiva, apesar do crescimento industrial do Estado da Bahia. 2 A BUSCA DE BASE ANALITICA PARA INTERPRETAGAO DO CASO BRASILEIRO As tentativas recentes de reconstrucao teérica para interpretagao das questdes de localizacao e desenvolvimento regional tém sido fortemente influenciadas por problemas espectficos dos paises industrializados (desindustrializag4o, por exem- plo) e/ou relacionadas com a emergéncia das industrias de alta tecnologia. Embora relevantes estas interpretacdes nao podem ser tomadas como paradigma para andlise do caso brasileiro, consideradas as especificidades estruturais e setoriais de sua industria e a atual etapa hist6rica de seu desenvolvimento. Ainda que no seja objetivo deste artigo, a concep¢ao de desenvolvimento poligonal poder ser util para a andlise do desenvolvimento espacial em outras nagdes em desenvolvimento. Tratando-se de um pais com as caracteristicas do Brasil, em termos de dimensao geogrifica, tamanho populacional, diferengas de renda regional e per capita ea existéncia de uma fronteira aberta ou virgem, varias possibilidades se abrem. A primeira seria um processo de continua hiperurbanizacao, onde atividades econdmicas e populacao continuam se concentrando na maior 4rea metro- politana. Devido a sua dimensao absoluta, este processo toma a forma de desconcen- tracéo microlocacional ou intra-urbana, através da suburbanizacao do centro original. Tal situag&o caracteriza a megalopolizacao da Area Metropolitana de Sao Paulo a partir da Década dos 50. Uma segunda possibilidade estaria vinculada a desconcentrago ma- croespacial para cidades ou regides distantes do maior centro industrial. Neste caso existem dois tipos de regides. Um seria a fronteira dinamica, representada pelo Centro- Oeste. ¢ Norte do Pais, dotados de volumosos recursos naturais, 0s quais poderiam induzir a montagem de algumas indtstrias tecnicamente vinculadas a essa base, com efeitos multiplicadores sobre outras atividades. No entanto, o desenvolvimento da fronteira tem sido reduzido nos tltimos anos, devido ao aumento no custo de trans- portes, problemas tecnolégicos da agricultura tropical, crise econémica e redugao dos investimentos e incentivos governamentais. Outra grande frente representada pelas regides densamente ocupadas e pobres, Leste ¢ o Nordeste brasileiros, onde a grande disponibilidade de m4o-de-obra e relativamente menor custo de producao poderiam estimular a montagem de certas 38 Nova Economia | Belo Horizonte! y. 3 | n. 1 | set, 1993. atividades. Embora tenha havido expanso econdmica nestas 4reas em anos recentes, suas perspectivas parecem limitadas pela press&o social inerente e a recorrente fuga das empresas deste clima, apesar dos projetos ¢ incentivos implementados pelo Go- verno Federal. Uma terceira possibilidade seria um processo de desconcentracao interur- bana, porém dentro de uma 4rea limitada, correspondendo aproximadamente ao "campo aglomerativo" de So Paulo, como analisado por Azzoni (1986). A idéia do autor sobre desenvolvimento poligonal amplia 0 conceito anterior, considerando uma ampla regiaio como capaz de capturar este processo de desconcentracao. Este movimento estaria condicionado a existéncia de uma rede urbana dotada de servigos basicos, infra-estru- tura de ensino e pesquisa e alguma base industrial, além do maior nivel relativo de renda destas regides. Este processo, tenderia a atingir as cidades do interior do proprio Estado de Sao Paulo, o Sul ¢ Triangulo de Minas Gerais ¢ 0 Norte do Parand, podendo-se estender, no sentido sul, para o Estado de Santa Catariana e 0 Nordeste do Rio Grande do Sul e, no sentido norte, para a Regidio Central de Minas Gerais. Certos aspectos te6ricos ou metodolégivos, no entanto, devem ser consi- derados para a andlise da dinamica geogrdfica da industria brasileira nos anos recentes. Entre eles se destacam: a) deseconomias de aglomeracio na Area Metropolitana de Sao Paulo e sua Criacdo em outros centros urbangs ou regides; 'b) 0 papel do Estado, seja através de politicas regionais explicitas, seja pela conseqliéncia espacial de outras decisdes de importancia; c) disponibilidades diferenciadas de recursos naturais; d) unificagdes do mercado e mudangas de estrutura produtiva; f) concentracao da pesquisa e da renda. Embora cada um destes elementos tenha contribuido de forma distinta para a dinamica regional da economia brasileira, tomados de forma conjunta eles tém produzido um novo padr4o de dispersio produtiva, mais articulado com a terceira alternativa acima sugerida. 2.1 Mudangas nas economias de aglomeragio A questao das economias e deseconomias de aglomeracao foi amplamente enfocada na visdo classica da economia regional (Isard, 1956, 1960). Esta abordagem. decompée as economias de aglomeracio em economias de escala, localizacao e urbanizagao. Os economistas regionais e urbanos procuraram demonstrar que estes trés elementos agem em conjunto, principaimente nas primeiras fases do desenvolvimento, criando economias de aglomeragao e promovendo a concentracao industrial. No entanto € contraditoriamente, a partir de certo momento a concentra¢ao urbana comega a criar deseconomias de aglomeragdo em fun¢do do aumento da renda urbana, materializada Nova Economia | Belo Horizonte v. 3 !n. 1 I set. 1993. 39 no, prego dos terrenos e aluguéis, no custo do controle ambiental e de congestionamen- tos, no aumento dos salérios, entre outros. Adicionalmente a megalopolizacao acaba por gerar outros custos coletivos, pressionando o Estado (Castells, 1983), ou custos pendulares pela movimentacao improdutiva de pessoas (Boventer, 1968). Assim, a partir de certo momento, a concentragao abre, por si mesma, a possibilidade de desconcentracao. Para que a desconcentragdo ocorra, por sua vez, Se requer Novas economias de aglomeragao em outras regides, e € 0 resultado da difusio do conheci- mento, crescimento da populacdo ¢ renda, expansdo do mercado, disponibilidade de recursos e expansdo da infra-estrutura, recriando novas formas de concentra¢do, 0 que Richardson (1980) chamou de condigdes para que haja polarizagao reversa. A mais recente contribuigdo para a teoria da aglomeracio, se é que ela € uma teoria, postula que 0s novos distritos industriais so criados pela desintegragao vertical, a qual amplia as economias externas em detrimento das economias internas. Este processo tenderia a fortalecer as relagdes entre, plantas, pela necessidade de contato direto, troca de informagées, contatos face-a-face, fluxo de materiais ¢ de pessoas, implicando na necessidade de proximidade geografica e, portanto, recriando 0 distrito industrial (Piore, Sabel, 1984; Scott, Storper, 1988; Harrison, 1990). Estes distritos poderdio ser encontrados em novas locagdes, na medida em que as novas atividades exigem novos requisitos ¢ condigGes, nao encontrados nos velhos centros, € 40 mesmo tempo sao capazes de criar por si mesmos os seus recursos. Por. outro lado, estes novos distritos poderiam ser encontrados em velhos centros, cujos recursos Dbasicos seriam desviados para novas atividades quando as veihas entram em declinio (Friedman, Wolff, 1982). No caso do Brasil, as forcas centrifugas para a desconcentragao da Area Metropolitana de Sao Paulo esto claramente presentes. Deseconomias de aglomeracao surgiram em varias areas. A medida que a cidade se megalopolizou, a partir da Década dos 50, tanto os custos privados como sociais comegaram a aumentar. Por volta de 1970 tais custos eram considerados maiores nas 4reas metropolitanas que em qualquer outra parte e as ineficiéncias provocadas por congestionamentos ¢ dificuldades de desloca- mento e transporte também aumentaram. Se, por um lado, esse fendmeno explica 0 potencial para desconcentracao, por outro, no explica onde porqué novas econcmias de aglomeragio apareceram em outros lugares. Para isto € necessério a avaliacao de outros elementos, como a acao do Estado ¢ o comportamento do setor privado, entre outros. 2.2 O papel do Estado A hist6ria da expansdo econdmica brasileira pés-1930 nao pode ser enten- dida desconsiderando-se 0 peso e a importancia dos investimentos industriais feitos diretamente pelo Estado e justificados, em boa medida, pela incapacidade da burguesia industrial brasileira em assumir esta tarefa (Sachs, 1969). A ideologia de seguranca nacional foi também outra justificativa para pesados investimentos puiblicos em setores considerados de importancia estratégica. Dentro desta trajet6ria histérica, na Década dos 70, ocorreu uma avalanche de investimentos industriais pelas empresas controladas pelo Governo Federal, em aco, petrdleo, fosfato, potasio, papel, Ppetroquimica, carvdo, 40. ‘Nova Economia I Belo Horizonte | v. 31 n. 1 | set. 1993. minerago, titinio, cobre, cloroquimica entre outros’. A deciséo locacional em muitos casos foi tomada por critérios politicos. Entretanto, seja por razdes técnicas ou politicas, a maioria dos investimentos foi realizada fora do Estado de Sao Paulo, contribuindo para a desconcentracdo relativa da indistria’. Os incentivos fiscais, existentes deste 0 inicio deste século, foram amplia- dos ¢ generalizados a partir do final da Década dos 60. Os exemplos mais conhecidos s4o os da SUDENE (Superintendéncia- de Desenvolvimento do Nordeste) para 0 nordeste brasileiro, da SUDAM (Superintendéncia de Desenvolvimento da Amazé6nia) eda SUFRAMA (Superintendéncia de Desenvolvimento da Zona Franca de Manaus) para a regiao amazénica e para Manaus. Além desses, podem ser mencionados incen- tivos para reflorestamento, turismo, exportacao, subsidio ao crédito agricola, garantia de precos uniformes para produtos agricolas - independentemente dos custos de transporte - prego Unico dos derivados de petrdleo para todo 0 territério nacional, entre outros. Esta avalanche de subsidios e incentivos baratearam a formagao de capital, reforgando inclusive a expansao da fronteira”. Complementar ao sistema de incentivos fiscais federais, a partir do final da Década dos 60 generalizaram-se os incentivos estaduais (especialmente a isengao de ICM, doagao de terrenos e, até mesmo contribuic¢ao financeira, via participagio aciondria), em varios estados que nio se beneficiavam dos incentivos federais destina- dos ao Nordeste e Norte do Pais®. De modo geral, os maiores esforgos no sentido da integracdo nacional foram alcangados através da acd conjunta dos Governos Federal e Estaduais. A partir da Década dos 20 foi iniciadaa estatizacao do sistema ferrovidrio. Posteriormente foram criadas empresas publicas para 0 setor elétrico, que, a partir de entéo, comecaram a incorporar as empresas privadas existentes. Os governos federal e estaduais construiram grandes usinas e sistemas de transmissdo e distribuicao. A capacidade de geracao de energia elétrica subiu de 11 para 37 milhGes de kW, entre 1970 e 1980, e para aproximadamente 60 milhdes, em 1990, sendo a quase totalidade de propriedade de empresas estatais. A malha rodovidria pavimentada subiu de 2.000km, em 1955, para 3 Estima-se que nas Décadas dos 60 ¢ dos 70 o Estado chegou a participar com 60% da formacao bruta de capital fixo da economia brasileira (Baer et all. 1978). 4 OGoverno Federal chegou a editar, em meados da Décadados 70, a Resolugio n° 14 do CDI (Conselho de Desenvolvimento Industrial), que disciplinava a desconcentragao industrial no Pafs. Fsta, no entanto, nao foi execuitada pelas dificuldades objetivas, em termes técnicos de recursos, pela pressio de interesses de Sao Paulo. 5 Existem intmeras avaliagdes sobre o significado, custo e resultados destes incentivos, do onto de vista de seus efeitos regionais, predominando a critica aos seus efeitos (Oliveira, 1977; Desigualdades..., 1984; Cavalcanti et all. 1981; Guimaraes Neto, 1986; Diniz, 1981). 6 Um bom exemplo é 0 caso da FIAT, localizada em Betim-MG. Além de participar com 46% do capital do empreendimento, o Estado de Minas Gerais forneceu uma 4rea de terra de 200ha por prego simbélico, a ser paga em 45 anos, execugo gratuita da infra-estrutura (terraplenagem, estradas, energia elétrica, Agua, telefone, telex, esgotos), isengao de impostos por 10 anos, financiamento de capital de giro pela rede bancéria piblica do Estado, além de compromisso formal de gestées junto a0 Governo Federal para a concessio de todos os incentivos ¢ facilidades federais existentes (Diniz, 1981). Noya Economia | Belo Horizonte | v. 3 | n. 1 | set. 1993. At 50.000km, em 1970, ¢ 120.000km, em 1990. O sistema de telecomunicagies, até entao privado e operandoem condigées precArias até final da Década dos 50, foraestatizado, ampliado e modernizado, o que penpitiv integrar praticamente todas as cidades brasilei- tas, inclusive da Regio. ‘Amazé6nica’ . Todas estas agdes tinham como objetivo estimular © crescimento econédmico das regides atrasadas ou vazias e integrar a economia nacional. No entanto, na medida em que os estados tinham diferentes poderes de investimento e de manejo da politica econémica, os efeitos foram variados. 2.3 Recursos naturais A abordagem. weberiana ¢ adequada para explicar a localizago de atividades baseadas em recursos naturais, que so localizadas fundamentalmente em fungiio dos custos de transporte. Apés 0 inicio da exploragao de um recurso natural 0 custo de transporte tende a favorecer a localizacao das indtstrias processadoras desses materiais perto da base de recursos, podendo gerar um processo de aglomeracao. O papel dos recursos naturais para 0 desenvolvimento econdmico é um fenémeno bem conhecido na literatura de economia regional, como ilustrado pelo debate entre North (1978) e Tibeout (1977) e as formulaces de Perloff, Wingo (1967). Este papel é particularmente importante para regides vazias mas com grande volume de recursos naturais. Neste sentido, a ocupaco do espago geogrdfico brasileiro foi, em um primeiro momento, fundamentalmente determinado pela busca de recursos naturais ¢ a propria industrializagao de Sao Paulo teve como base a cafeicultura (Silva, 1976; Cano, 1977). Minerago, agricultura e silvicultura tém sido e continuam a ser impor- tantes setores na economia ¢ seu desenvolvimento ajuda a explicar a desconcentracio industrial (Diniz, 1987). E importante resaltar ainda que a grande expanso agricola das tltimas décadas tem se baseado mais na ampliacdo da drea plantada do que no aumento da produtividade. Isto se traduziu em incorporacao produtiva de terras em varias diregdes, em funcdo de sua aptidao natural, da distancia, do seu prego, do custo de transportes, além de mudangas tecnoldgicas que permitiram a incorporacao dos “cerrados" 2 produgo agricola (Tabela 1). As expensas de Sao Paulo e da Regio Leste, 0 Sul do Brasil teve 0 maior ganho absoluto em valor, embora as participagdes do Norte e do Centro-Oeste também tenham crescido. De maneira semelhante, 0 crescimento industrial do Pais ¢ 0 aumento das exportagdes induziram o aumento e diversificacio da pauta produtiva mineral. medida que novas descobertas ocorriam em regides distantes, que a infra-estrutura avancava ou era criada, observava-se 0 deslocamento geogr4fico dos investimentos na mineraco, e, conseqiientemente, da produgo mineral (Tabela 1). Sdo Paulo, o Sule o Nordeste perderam participagao para o Leste, Centro-Oeste ¢ o Norte do Pais. 7 Apreocupagao militar em termos de geopolitica contribuiu, evidentemente, para a expansio da infra-estrutura na Regio Amazbnica (Silva, 1978). 42 Nova Economia | Belo Horizonte |v. 31 n. 1 | set. 1993. TABELA 1 Brasil: Participagio relativa das regides na érea cultivada, produgio agricola, produgdo e investimento mineral Agricultura Produgio Mineral 'Byestimento Regides ee aes 1940 1960 1980 1975-84 Area Valor Area Valor Norte 49 LL 15 12 27° 32 00 104 4.6 13.8 Lied 306 206 304 222 289 198 136 10.7 8&5 173 Leste Rl 236 183 172 126 128 386 305 609 402 stado de eee 229 350 166 24.0 121 206 157 106 88 29 Sul 156 168 283 300 29.7 359 305 342 90 13.5 Comte Core roo MO SL 40uT 7) 05 a6 2 123 a 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 Area absoluta 18,835 28.703 49.043 (100ha) Fonte: IBGE - Censos Agropecuérios DNPM: Anuérios Industriais 1975-85, excluide petréleo. Agricultura e minerac4o vém induzindo 0 estabelecimento de um conjunto de atividades com elas relacionadas, dedicadas ao processamento de insumos agricolas e minerais e ao fornecimento de insumos industriais bens de capital, cuja produgao, por varias razGes, tende a se localizar junto a fonte de matérias-primas ou ao mercado potencial. Isto tem ampliado o irpacto de atividades baseadas em recursos naturais no processo de desconcentrag’o regional. Ainda que mudancas estruturais estejam ocor- tendo, a andlise da estrutura industrial do Pafs indica que as inddstrias orientadas por recursos (metalurgia, cimento, fertilizantes, agro-industrias) ainda dispoem de peso significative e, inclusive, boa parte do crescimento industrial do Pafs, nos milagres econdmicos das Décadas dos 50 ¢ dos 70, se fez através delas (estima-se que as mesmas ainda participam com taais de am tergo da producao industrial do Pais). Nao resta «iivida, por outro lado, que estas tendem a perder importancia relativa, & medida que a estrutura produtiva vai mudando. Além disso, as alteragdes tecnoldégicas permitem Aunientar a produtividade, intensificando o uso das terras mais préximas aos mercados do Sudeste, dimimuindo a demanda por insumos minerais e reduzindo o movimento de incorporag&o da fronteira, como aponiam Sawyer (1981, 1984) e Haddad (1988) e como reizata o estudo de Melo (1990) ao indicar que 0 crescimento da produgdo agricola na Década dos 80 se deve mais ao crescimento da produtividade que ao da drea. Nova Economia | Belo Horizonte! v.31 n. 1 | set. 1993. 43 2.4 Unificagao do mercado nacional e concorréncia interempresarial Embora 0 processo de unificagao do mercado brasileiro tenha se dado ao longo de todo o Século XX o mesmo s6 se consolidou nas ltimas décadas, com a construgao e ampliacao da malha rodoviria’, levada aefeito a partir da Década dos 50, com a ampliacao e melhoria da frota de veiculos” e com 0 desenvolvimento e moder- nizago das telecomunicagdes. Apés a grande recess4o econdmica da primeira metade da Década dos 60 ocorreu a retomada do crescimento, a partir de 1967, conhecida como “milagre econ6mico”. Naquele momento, a concorréncia interempresarial ganhou importancia em termos regionais. Apoiadas na infra-estrutura minima e em algum potencial de mercado e incentivos regionais e setoriais varias empresas se langaram na busca de recursos naturais, de ocupa¢io e abertura de mercado, de criagao de barreiras a entrada. Guimaries fala na passagem da integracao comercial para a integracao produtiva, demonstrando o crescimento das grandes empresas nacionais em pratica- mente quase todas as regides brasileiras (Guimaraes Neto, 1986; Redwood III, 1984; Oliveira, 1977; Cano, 1977; Diniz, 1987)." Aquele movimento conjugou a estratégia geografica da concorréncia com a pressao sindical, com o custo de controle de poluigao ¢ com o prego dos terrenos na Area Metropolitana de So Paulo. Por outro lado, este movimento se tornou possivel com a criagdo de economias urbanas em outras cidades ¢ regides brasileiras. Com a unificagao do mercado, ficou superada a possibilidade de que regides ou estados brasileiros venham a construir estrutura industrial integrada, como € 0 caso de Sao Paulo. Este foi industrializado primeiro e sozinho, na medida em que a economia do Rio de Janeiro estava em plena decadéncia e as demais regides eram atrasadas (Cano, 1977; Leopoldi, 1984). As novas regides tém que entrar na disputa do mercado nacional, cujo éxito esté relacionado com as vantagens relativas de cada uma. Desse modo, as alteragGes de estrutura produtiva, decorrentes de mudangas técnicas ¢ de composigio da demanda, alteram a posico relativa das regides, segundo suas condigGes objetivas ¢ os diferentes requisitos locacionais de cada setor. BO sistema ferroviério brasileiro nunca cumpriu este papel. Além dé sua pequena extensiio (maximo de 38.000km), 0 mesmo nao era integrado, ligando basicamente cada regitio exportadora ao respectivo porto, além de possuir distintas bitolas. A navegagao fluvial nao foi desenvolvida e os principais rios estavam fora das regides de maior importéncia econémica. 9 A inddstria automobilistica brasileira comegou a produzirno ano de 1960 (até entio existiam apenas montagens), porém a grande expansio da produgo ocorreu a partir do final daquela década, coma retomada do crescimento da economia brasileira. Entre 1967 ¢ 1973 aprodugio saltou de 200.000 veiculos/ano para 1.000.000, estabilizando-se a partir de entio. A frota nacional subiu de 400 mil unidades, em 1955, para aproximadamente 13 milhdes, em meados da Década dos 80 (Diniz, 1987). 10 Este processo poderia ser comparado ao movimento intemacional de capitais ou da propria criago ¢ ocupagao do mercado americano, a partir da segunda metade do Século XIX. 44 Nova Economia | Belo Horizonte | v. 3 [ n.-1 | set. 1993. 2.5 Regionalizagao da pesquisa, do trabalho profissional e da renda Ao contrario dos quatro elementos anteriores, a concentrag4o regional da pesquisa ¢ do mercado de trabalho profissional, assim como a concentrag4o pessoal e regional da renda, age como obstdculo ao processo de macrodesconcentracao industrial. De forma crescente, a pesquisa vem sendo vista como fator chave para 0 crescimento, sendo que as regides com alta participacao nas atividades de pesquisa estao mais aptas para exibir altas taxas de crescimento. Na concep¢ao original das incubado- ras, € em fun¢do da existéncia de recursos previamente acumulados, os tradicionais centros industriais teriam capacidade de recriar novas atividades modemas quando as velhas industrias entrassem em declinio e se dispersassem (Friedman, 1972). Na concep¢ao dos novos distritos industriais, baseados na desintegracao vertical, através de empresas cooperativas, os recursos de pesquisa so concentrados em poucos centros, criados em regides novas ou virgens (Piore, Sabel, 1984; Storper, 1989; Lipiew, Leborgne, 1988). Em ambos os casos a existéncia de base regional de ensino e pesquisa emercado de trabalho profissional so fatores fundamentais para a atracdo de atividades industriais. No que se refere 4 concentragao da renda, como apontaram Oliveira (1975) ¢ Furtado (1972), esta foi historicamente utilizada como estratégia de assegurar de- manda de bens industriais. Furtado identificou a concentragao da renda como o maior obstéculo estrutural para o desenvolvimento da América Latina e do Brasil e razo pela qual essas economias entraram em estagnacdo na Década dos 60. Isto poderia servir para explicar a situagao regional de forma semelhante. Diferentemente de um pais como os Estados Unidos, onde a renda familiar dos agricultores tende a se igualizar, no Brasil as altas rendas estao fortemente concentraias nas maiores cidades industriais ou regides. A mA distribui¢ao da tecnologia e da renda esto relacionadas. A extrema desigualdade na distribuicdo da renda nao somente perpetua a injustiga social, mas também age como um obstéculo ao crescimento econémico, devido ao retardo no progresso técnico, como demonstrou Fanzylber (1983) para a América Latina. Estes elementos, que explicam a diferenga internacional, podem ser também utilizados para aandlise das diferengas regionais ou subnacionais em cada pais, especialmente naqueles de grande dimensao territorial. No caso do Brasil, a concentrag4o industrial prévia ¢ desigualdade do potencial de pesquisa e de renda dificultam um processo de desconcentracao industrial para as regiGes pobres ou vazias. Assim considerando, nao resta dtivida que as melhores condigées para a localizacao de atividades de alta tecnologia esto predominantemente no Estado de S20 Paulo e secundariamente no corredor que vai de Belo Horizonte a Porto Alegre.! 11 Existe certa controvérsia a respeito dos fatores determinantes da localizagao das atividades de alta tecnologia. Markusen et all (1986) arrola um conjunto de fatores. Storper, Walker (1989) alega que as modernas atividades criam seus préprios recursos. 12 A Cidade do Rio de Janeiro é um caso especial para andlise. Embora possua. tradicionais Nova Economia | Belo Horizonte | v. 31 n. 1 | set. 1993. 45 3 POLARIZAGAO, REVERSAO E RECONCENTRACAO POLIGONAL O conjunto de forgas antes mencionado tem configurado o desen- volvimento regional brasileiro a0 longo do Século XX. Neste sentido, podem ser considerados trés est4gios de padrao regional. Depois de um século de crescimento hhegemdnico de Sao Paulo, na Década dos 70 sua 4rea metropolitana comegou a perder posi¢do relativa na produco industrial para outras regides. Entretanto, na Década dos 80 observou-se que as maiores parcelas do crescimento foram capturadas pelo polfgono’ mencionado, o qual inclui a maior parte do Estado de Sao Paulo. 3.1 Criagao do pélo de crescimento da Grande Sao Paulo A partir da segunda metade do Século XIX, ocorreu grande expansiio econémica no Estado de Sao Paulo. Este processo de rapido crescimento articulou boa qualidade de suas terras, producao de café para exportacao, entrada de imigrantes de outras regides do Pais e do exterior, introdugdo do trabalho assalariado, produgio mercantil de alimentos, transporte ferrovidrio, atividades de exportacdo e importacao e servigos urbanos em geral. Esse processo promoveu a concentraco agricola e, poste- tiormente, industrial naquele estado ¢ langou as bases de uma divisio inter-regional do trabalho no Brasil, marcada pelo predominio da economia paulista. (Cano, 1977; Dean, 1971; Silva, 1976; Mello, 1982). Ao longo do Século XX, foi sendo desenvolvido o sistema de transportes quebradas as barreiras comerciais interestaduais, unificando 0 mercado nacional ‘TABELA 2 Brasil: Participagao relativa das regides na produgio industrial Regides 1907 1939 1950 1970 1980 1990 Norte 43 Lb 0.6 07 24 31 Nordeste 16.7 10.4 93 a 81 84 Leste 423 28.9 238.9 22.7 19.2 20.0 Estado de Sio Paulo: 15.9 45.4 46.6 58.1 53.4 49.3 ‘Sul 19.9 B38 14.0 120 15.8 174 ‘Centro-Ocste 0.9 o4 06 08 Ll 18 Brasil 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 Brasil - Séo Paulo 84.1 54.6. 53.4 41.9 46.6 50.7 Fonte: IBGE - Censos Industriais, 1990 - Estimtativa do autor centros de ensino © pesquisa, além da sede de importantes corporagdes, especialmente Além desses, duas outras naturezas de custos n&o quantificados Passaram a ter efeito significativo sobre a decisio empresarial: a crescente pressio sindical, acompanhada de greves, e o controle de poluigao pela CETESB.!* Em contrapartida outros elementos agiram no sentido de levar ou atrair atividades industriais para outras regides. Ao lado das deseconomias de aglomerago ta Area Metropolitana de Sao Paulo as economias de aglomerac&o foram ampliadas em varias outras cidades, no préprio Interior de Sio Paulo e em outros estados. Destaque-se 0 eixo Belo Horizonte-Porto Alegre, onde est4 a maior rede urbana do pais (Mapa 3), a maior parte da producdo industrial e a melhor infra-estrutura. Complemen- tarmente, a politica econdmica, em termos de investimento publico direto em atividades industriais, incentivos fiscais e construgao da infra-estrutura, foi decisiva para as alteragGes regionais na produgao industrial. A distribuigio geografica dos recursos e a fronteira agropecudria e mineral também contribuiram para que algumas atividades industriais seguissem estas fronteiras. Ressalte-se, ainda, a unificacZo do mercado Proprocionada pelo desenvolvimento dos transportes e das telecomunicagdes, que 13. A SABESP (Saneamento Bésico do Estado de Sao Paulo) estimou que os custos na Regio Metropolitana em relagao as cidades do Interior do Estado de Sao Paulo eram superiores em 20% para abastecimento de égua, 17% para esgoto, 28 a 52% para satide, 9% para construao de escolas (Sao Paulo, 1987). Os salérios industriais eram 30% superiores a media nacional (Azzoni, 1986). 14 Pesquisa direta realizada pelo autor, em 1989, junto a empresas paulistas que construfram novas plantas no Sul do Estado de Minas Gerais, confirmou que estas duas razBes foram as principais responsaveis pela deciso locacional. Nova Economia | Belo Horizonte v. 3#n. 11 set. 1993. 47

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