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Gênero não é ideologia: explicando os Estudos de Gênero 30/05/2018 13)53

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explicando os Estudos de Gênero HISTÓRIA
do Rio de Janeiro promove novo concurso de história

Gênero não é & NOTÍCIA Primeiro Nome

ideologia: Sobrenome

explicando os
E-mail *
Estudos de Gênero
" 27 de novembro de 2017 # Artigo $ 19 ASSINAR

Nos últimos anos, este campo de


estudos acadêmicos tem sofrido
LEIA TAMBÉM
com a difusão de termos estranhos
a ele, como o de “ideologia de
gênero”, e com a propagação de
informações falsas ou questões há
tempos superadas.

Por Georgiane Garabely Heil Vázquez

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Nos últimos anos, pesquisadores e pesquisadoras Deportação de


dos Estudos de Gênero vêm sofrendo uma série de
crianças judias
ataques (alguns, violentos) contra as temáticas que
é tema de
estudam e problematizam. A princípio, nada de
novo, uma vez que os Estudos de Gênero foram projeto
durante muito tempo marginalizados por setores historiográfico
dentro das próprias universidades. No entanto, o " 19 de Fevereiro de
aumento da propagação de discursos equivocados 2014 $0
sobre o campo nos últimos anos, especialmente no
Site especial agrega
Brasil, chama a atenção para um de seus principais
mapas e diversos outros
combustíveis: a desinformação.
materiais sobre o
holocausto que ajudam
A fim de desfazer certas confusões – algumas mal-
a compreender como se
intencionadas – proponho discutir o que é, afinal
deu a deportação de
de contas, o conceito de gênero. De uma forma
diversas crianças judias
simples, direta e acadêmica, pretendo contribuir
francesas para campos
para um debate bastante pertinente tanto no
de extermínio nazistas.
campo das pesquisas como nos debates públicos
que ocorrem pelo país.

Gênero e Feminismos

Não é possível entender o que são Estudos de


Gênero sem compreender o movimento feminista,
que começa no cenário internacional no século XIX
e reivindica direitos civis para as mulheres. É muito
A “caça” aos
reconhecida a luta pelo direito ao voto, mas é
importante lembrar que essa não era a única
nazistas após a
reivindicação – as mulheres tinham pouco direitos Segunda
e muito pelo que lutar. A mulher casada, por Guerra Mundial
exemplo, era considerada pela lei brasileira " 1 de Janeiro de 2018
“incapaz” e sob tutela do marido – o que somente $2
foi alterado na legislação em 1962, com a Lei 4.121.
Adolf Eichmann, Franz
Stangl, Klaus Barbie e
até mesmo Adolf Hitler.
A busca por criminosos
nazistas no pós-guerra
despertou a atenção de
historiadores e não-
historiadores, combinou
casos reais com

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Diversidade e respeito são questões importantes na imaginados.


perspectiva social dos Estudos de Gênero. Foto: Pixaby.

No espaço universitário, os feminismos – no plural


devido à heterogeneidade do movimento –
iniciaram uma trajetória em meados do século XX.
Na História, por exemplo, a incorporação da
categoria mulher está relacionada a todo um
movimento historiográfico de renovação no campo
de conhecimento. A história demográfica, a história
da família e a ideia de uma história “vista de
baixo”, na qual também deveriam ser contadas as
vidas de pessoas comuns, de operários e operárias,
de camponeses e camponesas, entre outros,
contribuíram significativamente para a
compreensão de que era necessário se escrever
sobre Mulher – nesse primeiro momento ainda no
singular, ou seja, ainda pensada como uma
categoria homogênea.1

Entre o fim dos anos de 1970 e o início da década


de 1980 as historiadoras feministas –
principalmente ligadas ao feminismo norte-
americano – começaram a problematizar as
particularidades que existiam entre elas próprias. A
categoria Mulher já não dava conta de explicar a
multiplicidade de experiências e subjetividades.
Joana Maria Pedro argumenta que as mulheres
negras, particularmente, questionaram o gesto
excludente da escrita da História das Mulheres,
revelando as fraturas internas não só da História,
mas do próprio feminismo acadêmico ao mostrar
as armadilhas e ilusões da categoria Mulher. Desde
então, feministas como Angela Davis e Bell Hooks,
colocaram o dedo na ferida ao dizer que as
mulheres não viviam da mesma forma a
experiência de ser mulher. Outras variáveis
precisavam ser levadas em consideração, como
classe, cor, escolaridade, dentre outros aspectos
que precisavam ser compreendidos.

Gênero: que negócio é esse?

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É neste contexto que chegamos à questão do uso


da palavra Gênero no final da década de 1980.
Quando Joan Scott publicou seu famoso artigo
“Gênero: uma categoria útil de análise”, na
American Historical Review, em 1986 (clique para
ver o original em inglês e traduzido para o
português em 1990), ela visava demonstrar que a
imensa produção da História das Mulheres havia
chegado a um impasse: ou ficava numa categoria
suplementar ao mainstream historiográfico, ou
forçava uma transformação no interior da
disciplina e do conhecimento histórico.
Defendendo a segunda posição, Scott então
propõe o gênero como categoria de análise e não
como um tema ou um objeto. E como categoria, ela
propõe a perspectiva de gênero para análise,
inclusive, das estruturas e dos discursos políticos:

O gênero é uma das referências


recorrentes pelas quais o poder
político tem sido concebido,
legitimado e criticado. Ele não
apenas faz referência ao significado
da oposição homem/mulher; ele
também o estabelece. Para proteger
o poder político, a referência deve
parecer certa e fixa, fora de toda
construção humana, parte da ordem
natural ou divina. Desta maneira, a
oposição binária e o processo social
das relações de gênero tornam-se
parte do próprio significado de
poder; pôr em questão ou alterar
qualquer de seus aspectos ameaça o
sistema inteiro (SCOTT, 1990, p.92).

Scott aponta, de maneira muito interessante, para


um dos eixos mais polêmicos que os Estudos de
Gênero enfrentam hoje no Brasil. Não se trata de
negar as diferenças sexuais e corporais entre
homens e mulheres, mas de compreendê-las não

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como naturais e determinadas, mas como relações


sociais e de poder, que produziram hierarquias e
dominação. Para Scott, gênero é a organização
social das diferenças sexuais. É um saber que
estabelece significados para as diferenças
corporais.

Já em 1989, Judith Butler publica “Gender Trouble“,


que no Brasil foi lançado em 2003 com o título
“Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da
Identidade“, mostrando o caráter performativo do
gênero. Nele, Butler questionou a ideia de que sexo
está exclusivamente ligado à biologia e de que
gênero relacionado à cultura, como o debate era
apresentado até aquele momento por boa parte
das pesquisadoras e pesquisadores da área. Ela
questionou a ideia de que o gênero fosse uma
espécie de “interpretação cultural do sexo”.

Para Judith Butler, a ideia de performatividade de


gênero compreende a noção de que sexo e gênero
são discursivamente criados e que, ao se
desnaturalizar o sexo, deve-se também
desnaturalizar o gênero. Portanto, não se trata de
negar a existência de sexo ou de gênero, mas de
historicizar tais diferenças, procurando analisar as
estratégias discursivas que as consolidaram. Nesse
ponto, a meu ver, encontra-se uma das
contribuições mais significativas da obra de Judith
Butler: dar visibilidade ao fato de que existem
corpos que “importam” – corpos enquadrados no
sistema heteronormativo – e corpos que “não
importam” – o que a autora chama de corpos
abjetos. Esses, dentro da lógica binária, podem ser
vistos como “corpos desviantes”, culturalmente
inintelegíveis e que ameaçam as estruturas de
poder. Pessoas gays, lésbicas, transexuais e
intersexuais acabam por demarcar fronteiras que
não deveriam ser cruzadas dentro do sistema
heteronormativo e, dentro desse sistema
excludente, seus corpos não são aceitos, ou

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melhor, a existência dessas pessoas não é aceita.


Tal exclusão acabou por colocar em risco a vida
dessas pessoas, gerando intolerância, mortes e
inúmeras outras violências.

Assim, Butler propôs a reflexão sobre as


armadilhas na naturalização do gênero. De lá para
cá, se passaram 30 anos. E todo esse período foi de
muita luta para a consolidação de um campo de
investigação acadêmica.2

A expressão “ideologia de gênero”, que tanto tem


sido empregada nos dias de hoje para criticar os
Estudos de Gênero, não é uma categoria
acadêmica ou um objeto de pesquisa. Como vimos,
os pesquisadores e pesquisadoras que se dedicam
o entendem justamente no contrário: que gênero
não é uma ideologia. Para eles, a expressão
“ideologia de gênero” é estranha, uma anomalia.
Quem fala (e muito) em “ideologia de gênero” são
os movimentos conservadores – muitas vezes com
explicações falsas e sem fundamento.

Estudos de gênero hoje

Os Estudos de Gênero nunca tiveram como


objetivo modificar a sexualidade de ninguém – até
porque os pesquisadores e pesquisadoras da área
não acreditam que a orientação sexual ou a
identidade de gênero das pessoas sejam
modificáveis como querem fazer crer seus
detratores. Nunca defenderam pedofilia ou
incentivaram a erotização infantil. Nunca foram
“ideologia”.

Estudar Gênero
significa estabelecer Os
um recorte sobre
aspectos da realidade Estudos
social existente – no de
presente e/ou no
Gênero
passado – que têm

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como peça nunca


fundamental a
organização de papeis tiveram
sociais baseada numa como
imagem socialmente
construída acerca do
objetivo
que foi consolidado modificar
como sendo masculino
a
ou feminino por
exemplo. Portanto, sexualida
procura compreender de de
como a ideia de uma
masculinidade
ninguém.
hegemônica influencia
nas relações e
restringe as opções sociais de mulheres, de
crianças e dos próprios homens, e propor
estratégias de libertação. Aqui, nos Estudos de
Gênero, estão as pesquisas sobre violência
doméstica, violência sexual, feminicídio,
desigualdade econômica e outras assimetrias
relacionadas às desigualdades de gênero.

Aliás, os Estudos de Gênero possuem como uma de


suas principais características a
interdisciplinaridade, o que amplia seus temas de
pesquisa. Diferentes áreas, não só das Ciências
Humanas, mas também as Ciências Sociais
Aplicadas, as Ciências da Saúde e as Ciências
Exatas vêm se dedicando às pesquisas em Gênero.

Trata-se, ainda, de respeitar as diferenças sexuais e


enxergar sujeitos históricos que têm sido apagados
das narrativas históricas: gays, lésbicas, trans,
intersexuais e bissexuais. Significa compreender
que o “mundo privado” também é político e que,
portanto, o direito à cidadania deve efetivamente
ser de todas, todos e todes.

Pesquisas sobre sexualidades existem dentro dos


Estudos de Gênero, porém – e parece ser

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necessário repetir – não se trata de conspirar para


mudar a orientação sexual de ninguém. As
pesquisas sobre sexualidade variam em
quantidade proporcional e, na maioria das vezes,
procuram analisar trajetórias, sociabilidades ou
mesmo subjetividades dos indivíduos relacionando
tais conceitos à sexualidade – sejam os indivíduos
heterossexuais ou não.

Também são temas dentro dos Estudos de Gênero:


a maternidade, os sentimentos, a religiosidade, a
assistência, a participação política, os racismos, as
interseccionalidades e o próprio movimento
feminista, isso só para citar algumas poucas áreas.

Não existe ideologia de gênero! E se os Estudos de


Gênero puderem impactar de forma
transformadora em nossa sociedade, será na
construção de um mundo mais justo e igualitário.
Um mundo em que meninas não sejam mortas por
namorados. Um mundo sem violência doméstica,
sem exploração sexual. Um mundo em que
ninguém tenha medo da igualdade de direitos e
deveres.

Notas

1 É importante destacar, assim como fez Joana


Maria Pedro (2011), que não existe, pelo menos no
Brasil uma total linearidade entre as categorias
mulher, mulheres, gênero. Tais
palavras/conceitos/categorias, transitam em títulos
de artigos e projetos variados, sem um rigor
cronológico.

2 Os Estudos de Gênero hoje figuram como uma


das áreas mais consolidadas nas universidades
internacionais e brasileiras. No Brasil contam com
revistas especializadas de alto impacto como a REF
(Revista de Estudos Feministas) vinculada à UFSC e
os Cadernos Pagu, da UNICAMP, dentre inúmeras

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outras especializadas no tema. Além disso, a área


já possui um curso de bacharelado específico
(Bacharelado em Gênero e Diversidade, na UFBA),
disciplinas de graduação e pós-graduação em
várias áreas, além de inúmeros projetos de
pesquisa e extensão.

Referências Bibliográficas

ALVES, B. PITANGUY, J. O que é feminismo. 8aed.


São Paulo: Brasiliense, 2003

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e


Subversão da Identidade. 8aed. São Paulo:
Civilização Brasileira, 2015.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise


histórica. Revista Educação e Realidade. v.lS, n.2,
jul./dez. 1990.

PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o Debate: o uso


da categoria gênero na pesquisa histórica.
HISTÓRIA, São Paulo, v.24, N.1, P.77-98, 2005.

________. Relações de Gênero como categoria


transversal na historiografia contemporânea.
Topoi, v. 12, n. 22, jan.-jun. 2011, p. 270-283.

Georgiane Garabely Heil Vázquez é historiadora e


feminista. Doutora e Mestra em História pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR). É
professora do Departamento de História da
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),
coordenadora do GT Estadual de Estudos de
Gênero da Associação Nacional de História – Seção
Paraná, (ANPUH/ PR) e membro fundadora do
LAGEDIS – Laboratório de Estudos de Gênero,
Diversidade, Infância e Subjetividades.

Como citar este artigo

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