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From the SelectedWorks of Paulo Ferreira da

Cunha

April 2011

Filosofia e Constituição. Simbolismo das Origens.


A Lição de Brotero

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FILOSOFIA E CONSTITUIÇÃO

Simbolismo das Origens. A Lição de Brotero

Uma das primeiras démarches no fazer a ponte entre o constitucional e o


jurisfilosófico é obra em língua portuguesa, precisamente do primeiro Lente do curso
jurídico de São Paulo, cuja egrégia figura, ostentando o colar da Ordem de Cristo,
ainda hoje nos olha, tutelar, num corredor principal da tradicional Faculdade do Largo
de São Francisco.

Para que o conheçamos melhor, deste lado do Atlântico, lembremos a sapiente


e pesada estátua do seu tio, o naturalista Felix de Avellar Brotero, que nos saúda à
entrada (a uma das entradas) do Jardim Botânico pombalino, da Alma Mater
conimbricense. São parecidos, embora os traços do jurista pareçam mais resolutos que
os do seu parente cientista, que recordamos das nossas deambulações pela Lusa
Atenas só um pouco menos reclinado que o Pensador de Rodin. Mas as memórias são
imaginativas, perdoar-nos-ão.

O Conselheiro e Professor José Maria de Avelar Brotero deveria obrigar a


reescrever as histórias do Direito Constitucional por esse mundo fora, pois precedeu o
italiano Pellegrino Rossi, que posa para a posteridade como pioneiro absoluto do
ensino desta disciplina. Com efeito, este só viria a dar aulas em Paris em 1835, sendo
que Brotero seria nomeado a 12 de Outubro de 1827 por D. Pedro I, Imperador do
Brasil, precedendo mesmo a criação dos cursos jurídicos paulistas, criados a 11 de
Agosto de 1928.

Mesmo pensando que Brotero só dará a sua primeira aula no início de 1829,
ficaria nos anais que a primeira lição constitucional afinal foi dada em português, e na
América. Não por acaso ao sol do Novo Mundo...

É que o Direito Constitucional – tal não foi visto durante demasiado tempo – é
realmente, quando bem entendido, um novo mundo no Direito, não um novo
continente (as metáforas da continentalidade jurídica tiveram o seu tempo), mas
inequivocamente o caminho para um novo paradigma. Mesmo o próprio Direito
Constitucional em si, aparentemente “clássico”, o saído do constitucionalismo

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moderno. Não falamos agora do Direito Constitucional natural, histórico, que também
nos dá lições interessantíssimas, mas não propriamente deste âmbito.

E é sintomático, é simbólico mesmo, que no Brasil, em que o chamado


neoconstitucionalismo tem pujantemente desabrochado, a cadeira que Avelar Brotero
inauguraria era votada a um ensino já pelo menos multidisciplinar, basicamente
assente nos pilares jurisfilosófico, constitucional e internacional. O seu nome era,
esclarecedoramente: Direito Natural, Público, Análise da Constituição do Império,
Direito das Gentes e Diplomacia.

Deste ensino ficou-nos pelo menos uma obra, sintética, como era timbre dos
trabalhos universitários da época (“e que saudades, Deus meu!” desse aticismo por
vezes até um tanto avaro de referências, com rodapés muito livres de erudição),
precisamente com título “misto”: A Filosofia do Direito Constitucional (ed. de São
Paulo, Malheiros, 2007, Introd. de José Afonso da Silva).

Vale a pena revisitar esta obra, e desde logo admirar o seu autor pelo
desassombro e coragem de muitas observações democráticas, que não seriam
politicamente corretas, pelo menos em muitos setores poderosos da época.

O simbolismo desta obra é mais notável ainda, e representativo de uma época


de desenvolvimento do diálogo entre estas matérias. Desde logo, começando o título
da disciplina a que se destinava precisamente pela questão jurisfilosófica, o Direito
Natural, debalde procuraremos nela um apartado sequer ex professo a tal devotado.
Mais ainda: o Direito Natural, que era ainda, na época (mercê de um fenómeno de
alguma cristalização académica), uma referência obrigatória nas Universidades, é
considerado, pelo autor, como ciência subsidiária da política, enquanto ciência. Tudo
nos dá muito para pensar e para especular.

Não se faça passar Brotero por neoconstitucionalista, avant-la-lettre. Mas não


deixa de ser interessante que a interdisciplinaridade esteja nele presente, e que a parte
filosófica esteja pedagogicamente como que incrustada e efetivamente mais
pressuposta que posta no Direito Constitucional.

Nunca o Direito Constitucional, nem nos tempos mais positivistas, deixaria de


ter como base uma fundamentação filosófica. Mas vai ser precisamente a assunção de
um Direito Constitucional não alheio ao enfrentar das questões filosóficas que

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irreprimivelmente coloca o factor determinante de uma nova feição neste Direito: não
só ramo, mas ainda tronco, raiz e copa da árvore jurídica.

Portanto, o empreendimento de Brotero pode ver-se com simbolismo, em toda


a sua ambiguidade: como que um perder-se da Filosofia no Direito Constitucional.
Mas um perder-se para se re-achar.

Como, aliás, ocorre um pouco hoje. Quando é cada vez mais complicado
invocar-se autonomamente um Direito Natural, por exemplo, sem o vincular aos
Direitos Humanos, aos Princípios Fundamentais e até aos Valores políticos que
Declarações de Direitos e Constituições já interiorizam. Mas também vice-versa:
quando Direitos Humanos, Princípios, Valores e Constituições não podem de modo
algum legitimar-se (para além dos votos, legitimação politicamente imprescindível
em democracia, mas axiologicamente formal) se não se firmarem numa
fundamentação filosófica. Cuja linguagem hoje é outra, na maior parte das vezes, mas
não vemos como possa prescindir da mesma preocupação pela Justiça.

Paulo Ferreira da Cunha

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