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ESCOLA POLITÉCNICA
SÃO PAULO
2016
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA POLITÉCNICA
SÃO PAULO
2016
Catalogação-na-publicação
Nosso professor-orientador Telmo Porto, pelas orientações e apoio ao longo dos dois
semestres de elaboração desse trabalho;
Ao Julio Fontana Neto, presidente da Rumo, por ter viabilizado o estudo de caso;
This term paper analyzes railway capacity within a theoretical and practical bias. Firstly,
important railway concepts were properly explained. The constituents elements of the
permanent way (tracks, sleepers, gauges, etc) were separately evaluated, plus the
traffic vehicles. The railway operation was also studied, approaching the licensing and
signaling systems, maintenance procedures and specific concepts, such as yards, loops
and block sections. On the other hand, the capacity concept was widely analyzed since
it is this term paper’s scope. Several capacity definitions and existing calculation
methods were presented. Furthermore, the factors which influence railway capacity and
the alternatives that increase capacity were also evaluated. In the case study, the
analyzed railway section is situated between cities Rio Claro and Limeira. Current
transportation demand was calculated and compared to the capacity obtained from
Colson’s method, indicating significant capacity saturation. Therefore, alternatives that
increase railway capacity were studied, such as the increase of the railway operational
efficiency, construction of crossing yards, reduction of licensing time and railway
duplication. In addition, new values of capacity were calculated for each of these
alternatives. It was observed that Colson’s coefficient K causes a high variability in the
capacity results and that the construction of new crossing yards is unfeasible. Thus, the
reduction of the licensing time does not contribute significantly to the increase of railway
capacity, whereas the duplication can absorb transportation demand up to year 2035. In
view of the several limitations of Colson’s method, this work emphasizes the relevance
of applying computational softwares to more sophisticated analysis, ensuring more
reliable results and effectively supporting the decision making.
i
Figura 21 - Sequência de movimentos para via dupla .................................................. 35
Figura 39 - (a) Plano de operação original e (b) plano após compressão ..................... 75
ii
Figura 42 - Segmento de linha composto por n seções de bloqueio ............................. 79
Figura 62 - Vagão TCD para transporte de álcool e óleo diesel .................................. 110
iii
iv
LISTA DE TABELAS
Tabela 15 - Cálculo da capacidade para linha singela pela fórmula de Colson .......... 114
Tabela 16 - Nível de saturação para o trecho em estudo em linha singela ................. 114
v
Tabela 22 - Impacto do aumento de K no atendimento da demanda .......................... 121
vi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
vii
RFFSA Rede Ferroviária Federal S/A
TB Tonelagem Bruta
TU Tonelagem Útil
viii
LISTA DE SÍMBOLOS
BT Braking time
C Capacidade de tráfego
d Distância
H Headway
h Hora
K Coeficiente redutor
km Quilômetro
m Metro
min Minuto
OT Operating time
ix
P Período de tempo considerado
RT Release time
s Segundo
S Sazonalidade
t Tempo
tm Tempo de manutenção
ton Tonelada
TT Travel time
V Velocidade
ϴ Tempo de licenciamento
x
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1
1.4. Metodologia........................................................................................................ 4
xi
5.3. Fatores que afetam a capacidade .................................................................... 56
xii
1. INTRODUÇÃO
1.1. Apresentação
O transporte ferroviário, desde sua invenção no início do século XIX, é uma alternativa
excelente tanto para o transporte de cargas, devido à sua alta capacidade e baixo
custo, quanto para o transporte de passageiros, por ser uma alternativa confortável e
rápida. Entretanto, com a utilização em larga escala do automóvel e em seguida dos
caminhões, a partir da década de 1950 a ferrovia deixou de dominar o transporte de
cargas por não conseguir competir com a versatilidade do transporte porta a porta.
Além de ter trazido enormes contribuições para o transporte, também as trouxe para a
civilização, pois foi a partir dela que diversos países puderam desenvolver e ocupar as
regiões interiores.
1
recursos tanto em projetos de novas ferrovias quanto em planejamentos para melhoria
da malha existente.
Além de analisar a forma com que esses fatores influenciam a capacidade de carga de
uma via, o presente estudo busca avaliar as alternativas para aumento de capacidade,
dando enfoque para a duplicação da via. Essa é uma alternativa que será abordada no
estudo de caso desenvolvido no Capítulo 8.
1.2. Objetivos
2
capacidade ser genérico, a própria definição de capacidade está relacionada com o
enfoque de aplicação.
Com o apoio da empresa Rumo ALL, será estudado um trecho de via férrea quanto à
sua capacidade de carga e as possíveis alternativas para atendimento da demanda.
Serão avaliadas duas alternativas para aumento da capacidade: a construção de pátios
de manobra e a completa duplicação do trecho estudado.
Assim, esses estudos buscam estabelecer como um acréscimo de tráfego pode ser
absorvido pela infraestrutura existente, ou, caso se observe a existência de uma
demanda reprimida, deverão ser estudadas as melhores formas de atendê-la,
considerando fatores fundamentais como investimento, acréscimo de capacidade e
horizonte de atendimento da demanda. Este último é de extrema importância, e diante
dos outros dois, apresenta maior incerteza. No estudo, deve-se considerar além da
demanda atual, a demanda futura em um horizonte adequado, e planejar os
investimentos ao longo do tempo, para que sempre consiga atender à projeção da
demanda sem resultar em capacidade ociosa.
1.4. Metodologia
A pesquisa bibliográfica que constitui o objetivo principal desse estudo e serve de base
para o estudo de caso subsequente, foi realizada em bibliografia nacional e
internacional. Foram utilizados livros, dissertações, teses, manuais, normas, relatórios,
dicionários de termos, páginas da internet e matérias jornalísticas. Os dados
apresentados foram obtidos da bibliografia.
4
1.5. Organização do trabalho
5
O capítulo sete, “Simuladores Computacionais” busca compreender o funcionamento
dos softwares de simulação, bastante utilizados na avaliação de alternativas de
aumento de capacidade e simulação de cenários.
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2. O SISTEMA FERROVIÁRIO
A principal função das primeiras ferrovias do século XIX era o transporte de carga
pesada (ferro e carvão, principalmente) das minas para os portos. O transporte de
passageiros era secundário (VERSIGNASSI, 2015).
A empresa responsável por fazer uma linha que ligasse Santos a Jundiaí, passando
pela capital paulista, ficou sob o comando do escocês James Brunlees, famoso pela
7
construção de diversas ferrovias na Inglaterra, e ganhou o nome de São Paulo Railway
Company (VERSIGNASSI, 2015).
8
Figura 1 - Extensão da malha ferroviária nacional
9
Figura 2 - Carga transportada (x10³ em Tonelada Útil – TU)
De acordo com (PYRGIDIS, 2016), nos Estados Unidos, trens utilizados para o
transporte de cargas convencionais possuem até 2km de extensão, e em ferrovias
dedicadas à minérios o comprimento dos trens heavy haul pode chegar a 4km. Na
Europa, onde o transporte é majoritariamente de passageiros (POURYOUSEF;
LAUTALA; WHITE, 2015), o comprimento dos trens atinge 750m.
10
2.2.1. Vantagens
Alta capacidade de transporte: De acordo com Profillidis (2006), nos EUA são
comuns trens que transportam 15 mil toneladas e na Austrália esse valor chega a
25 mil. Quanto ao transporte de passageiros, trens japoneses de alta velocidade já
transportaram 520 mil passageiros entre as cidades de Tokio e Osaka em um único
dia. Além disso, um trem é formado por diversas unidades, permitindo assim, alterar
sua capacidade de transporte de acordo com a demanda (PYRGIDIS, 2016).
Eficiência: O contato metal com metal entre o trilho e roda reduz significativamente
a resistência ao rolamento. O consumo energético do transporte rodoviário é cerca
de três vezes maior que do transporte ferroviário. Essa eficiência se traduz em
redução de custos em relação a outros modais, principalmente para deslocamentos
de médias e grandes distâncias, como pode ser visto na Figura 3.
Figura 3 - Competição modal no transporte de carga segundo a distância percorrida e peso de carga
11
Segurança: Apresenta maior segurança, em relação ao modal rodoviário, com
menor índice de acidentes e menor incidência de furtos e roubos (PYRGIDIS,
2016).
2.2.2. Desvantagens
Devido à suas características, com destaque para o baixo custo de transporte para
longas distâncias e a alta capacidade de transporte, os principais produtos
transportados por ferrovias são produtos siderúrgicos, grãos, minério de ferro, cimento
e cal, adubos e fertilizantes, derivados de petróleo, calcário, carvão mineral e clinquer e
contêineres.
12
2.2.3. Comparativo com o transporte rodoviário
13
Figura 4 - Comparativo de capacidade de carga
2.3.1. Malha
Na Figura 5 estão exibidas, para efeito comparativo, as extensões das maiores malhas
ferroviárias do mundo.
14
Figura 5 - Extensão das malhas ferroviárias nos principais países
200
150
100
50
Observa-se que uma parcela muito grande da malha ferroviária brasileira é constituída
de vias singelas. Nos Estados Unidos cerca de 20% da malha é duplicada, e na
Europa, 46% dos corredores possuem via dupla ou superior (POURYOUSEF;
LAUTALA; WHITE, 2015).
15
Tabela 2 - Produção ferroviária de mercadorias e subgrupos de mercadorias (milhões de TKU)
16
3. ELEMENTOS DA VIA FERROVIÁRIA
3.1. A estrutura ferroviária
A via ferroviária é composta por diversos elementos que interagem entre si de maneira
complexa, visando oferecer segurança e estabilidade suficientes para sua operação
frente à solicitação do tráfego. Segundo Esveld (2001), a vias ferroviárias podem ser
classificadas em duas categorias: (i) as vias convencionais, ou clássicas, que possuem
o lastro como material de suporte para os dormentes e trilhos e (ii) as vias sobre laje de
concreto. Apesar de muitas vezes as estruturas com laje de concreto apresentarem
maior durabilidade, dificuldades construtivas e custos elevados de construção limitam a
difusão deste tipo de via. Estruturas em lastro ferroviário, por outro lado, são mais
comumente difundidas, tendo em vista vantagens como redução no custo de
construção, facilidade na manutenção, características favoráveis para drenagem,
redução na geração de ruído, entre outros. As Figura 6 e Figura 7 ilustram os dois
tipos de estrutura.
17
Figura 7 - Via sobre laje de concreto
18
Figura 8 - Representação da super e subestrutura bem como seus respectivos componentes
3.1.1. Trilho
19
Figura 9 - Seção transversal do trilho tipo Vignole
O trilho é composto por três partes principais: boleto, alma e patim. Esses elementos
podem assumir geometrias distintas em função dos esforços solicitantes, sejam eles de
compressão ou flexão. Dessa forma, devem garantir inércia suficiente para que não
sofram deformações plásticas ou até mesmo a ruptura, estado último do material. A
Figura 10 ilustra uma seção transversal de um trilho de aço tipo Vignole, bem como os
elementos mencionados.
20
Figura 10 - Seção transversal do trilho e seus elementos
De modo geral, existem três tipos principais de bitola atualmente utilizadas e seus
valores estão apresentados na Tabela 3. A tolerância do valor da bitola varia em função
do país, da organização ferroviária e da velocidade da via (PORTO, 2004).
21
Tabela 3 - Classificação das bitolas
Padrão 1435
Métrica 1000
3.1.2. Dormente
22
Figura 12 - Dormente de madeira
Fonte: railway-fastener.com
23
Figura 14 - Dormente de concreto
24
Tabela 4 - Tipos de sistemas de fixação dos trilhos
Tipo Descrição
3.1.4. Lastro
O lastro corresponde à uma camada granular de agregados graúdos que, por atrito
interno, absorve e distribui os esforços de compressão, transmitindo-os para as
camadas subjacentes (ESVELD, 2001). Além disso, a presença de material graúdo
confere à camada de lastro elevada capacidade de drenagem, aspecto importante para
o desempenho da estrutura como um todo, além de impedir o deslocamento dos
dormentes, seja na direção longitudinal ou transversal (BRINA, 1988).
3.1.5. Sublastro
25
3.1.6. Subleito
Entende-se por subleito a camada de solo natural propriamente dita, que receberá os
outros elementos da estrutura da via mencionados anteriormente. O subleito deve
apresentar resistência suficiente para suportar as tensões advindas do carregamento
nos trilhos, além de oferecer capacidade drenante adequada e regularização
necessária para o assentamento da via. Em alguns casos, adiciona-se uma camada
de reforço ou um material geossintético para aumentar a capacidade de suporte do
subleito (CHANDRA; AGARWAL, 2007; KAEWUNRUEN; REMENNIKOV, 2008).
Dessa forma, na década de 1890, o surgimento das locomotivas elétricas foi bastante
favorecido e gradualmente foram ganhando espaço no transporte ferroviário ao longo
dos anos. Porém, foi apenas a partir da década de 1950 que as locomotivas elétricas,
juntamente com as movidas a diesel, passaram a ser predominantes em relação às
movidas à vapor. Atualmente, a locomotiva à diesel padrão também conta com um
sistema elétrico para o seu funcionamento (BONNETT, 2005). Há ainda locomotivas
elétricas que não produzem sua própria energia, sendo dependentes de um sistema de
alimentação. No Brasil, este tipo de locomotiva está destinado preferencialmente ao
transporte de passageiros (ROSA, 2010).
O veículo rebocado, por sua vez, pode ser classificado como carro, para transporte de
passageiros, ou vagão, para transporte de carga. Vale destacar que o tipo de vagão é
26
definido pelo tipo de carga a ser transportada (BRINA, 1988). Dessa forma, a Tabela 5
apresenta apenas alguns tipos de vagões utilizados e suas respectivas cargas.
Tipo de
Tipo de carga
vagão
27
28
4. OPERAÇÃO DA FERROVIA
4.1.1. Desvios
Os desvios são linhas adjacentes à linha principal ou a outros desvios, utilizados para
comportar trens em sentidos opostos, permitindo o desvio de vagões, formação de
trens, estacionamento de veículos e acesso a terminais (VALEC, 2014). Tais desvios
devem ser dimensionados de modo a permitir que o trem de maior comprimento que
circula no trecho seja capaz de permanecer parado enquanto aguarda a movimentação
dos outros trens na linha principal. Entende-se por comprimento útil como a parte do
desvio em que esses trens podem de fato estar estacionados, variando em função da
quantidade de trens a desviar (BRINA, 1988). A Figura 15 ilustra um desvio em uma
estação ferroviária para transporte de passageiros em Penryn, Inglaterra.
Um desvio pode ser definido como vivo quando suas duas extremidades permitem a
entrada ou saída da linha principal. O desvio morto, por sua vez, possui saída apenas
para um dos lados, contando com um para-choque de desvio na outra extremidade
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para evitar o descarrilamento dos trens (BRINA, 1988). Para que o trem seja desviado,
um conjunto de máquinas, acessórios e outros componentes, denominados aparelhos
de mudança de via (AMV), são utilizados para garantir que esse desvio seja feito de
maneira adequada (VALEC, 2014). A Figura 16 abaixo apresenta um AMV que
possibilita o desvio dos trens.
4.1.2. Pátios
Entende-se por pátio, como uma área ampla e relativamente nivelada que tem como
algumas de suas funções permitir: a classificação de vagões, o carregamento e
descarregamento de vagões, cruzamento de trens, manutenção de
locomotivas/vagões, dentre outros (DNIT, Projeto de Pátios Ferroviários).
30
seja feita da forma mais rápida possível. Além disso, durante a operação desses pátios
é preferível que o movimento dos trens seja unidirecional, evitando quaisquer eventuais
atrasos (CHANDRA; AGARWAL, 2007). A Figura 17 apresenta um pátio de
classificação localizado na cidade de Chicago, Illinois, nos Estados Unidos.
31
Figura 18 apresenta a construção de um pátio de cruzamento na Escócia em uma linha
singela com desvio único.
32
linhas singelas, ou seja, vias que permitem a circulação entre pátios de apenas um
trem por vez, a seção de bloqueio corresponde ao próprio trecho entre pátios
(CHANDRA; AGARWAL, 2007) como ilustra a Figura 19.
(a)
33
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
Com a aproximação do trem à esquerda pela via principal (a), o trem proveniente da
direita adentra o pátio de cruzamento e desvia da via principal (b) até que o primeiro
trem cruze o trecho em que se encontrava (c). Quando o primeiro trem sai do pátio de
cruzamento e entra na próxima seção de bloqueio, o segundo trem pode voltar para a
linha principal (d).
34
Tendo em vista que um trem precisa aguardar no pátio de cruzamento para que o
segundo consiga trafegar, atrasos inerentes ocorrem durante os cruzamentos.
Segundo Vidal (1991), este atraso pode ser quantificado como a soma de três parcelas,
como apresentado na Tabela 6.
(a)
35
(b)
(c)
36
4.3. A circulação dos trens
37
de análise. A Figura 24 apresenta um gráfico de circulação para diversos trens,
considerando ambos os sentidos de importação e exportação.
38
Figura 25 - Diagrama espaço-tempo representado tridimensionalmente para diferentes segmentos da
ferrovia
O diagrama espaço-tempo é utilizado para realizar a programação dos trens, uma vez
que permite observar os instantes de chegada e saída de trens, bem como os períodos
de licenciamento em cada pátio. Dessa forma, é possível determinar o número máximo
de trens que pode trafegar em um determinado trecho da ferrovia (BRINA, 1988).
39
A preferência de circulação é determinada em função das normas de operação de cada
ferrovia, estando sujeita a alterações de ordem (i) técnica ou operacional, (ii) presteza
operacional e (iii) harmonia na circulação (VIDAL, 1991).
Para o caso de existência de algum navio ou fábrica que esteja aguardando a chegada
de uma determinada carga, a prioridade de alguns trens também pode ser alterada.
Assim, no quesito de presteza operacional, determinados trens terão seu movimento
privilegiado, uma vez que a não entrega ou atraso considerável da mercadoria pode
comprometer seriamente a relação comercial com clientes.
Segundo Vidal (1991), a prioridade entre dois trens possui três categorias
apresentadas a seguir.
40
4.5. Licenciamento e sinalização
O licenciamento também pode ser controlado por intervalo de espaço. Nesta situação,
garante-se a segurança definindo-se uma distância mínima (headway) entre dois trens,
que deve ser superior à distância necessária para frenagem do trem. Para que esta
distância mínima seja garantida, são utilizados dois postos de licenciamento ou dois
sinais, em geral luminosos, que bloqueiam um determinado trecho, garantindo que
somente um trem esteja presente (BRINA, 1988). É importante destacar que a
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sinalização tem como objetivo informar o maquinista durante a operação da ferrovia,
indicando a necessidade de reduzir a velocidade dos trens, aguardar a partida em uma
estação ou até mesmo parar em um determinado ponto da linha. Segundo Brina
(1988), licenciamento e sinalização podem ser considerados sinônimos na operação
ferroviária.
42
Figura 26 - Classificação da sinalização
Em condições de neblina, nas quais sinais visuais não podem ser observados, são
utilizados os sinais sonoros com detonação de explosivos. No caso de neblina muito
acentuada, os explosivos são fixados no trilho 90 metros antes de uma sinalização
visual. Dessa forma, a passagem do trem faz com que o explosivo seja detonado,
alertando o maquinista da aproximação que outra sinalização se aproxima (CHANDRA;
AGARWAL, 2007).
Por outro lado, a sinalização visual é bastante utilizada dado o seu posicionamento
estratégico na via. Os sinais manuais, apresentados na Figura 26, correspondem a
bandeiras verdes ou vermelhas manuseadas por funcionários da própria ferrovia. No
período noturno, as bandeiras são então substituídas por lanternas verdes e vermelhas
(CHANDRA; AGARWAL, 2007).
43
Figura 27 - Sinalização semafórica
São inúmeros os elementos de sinalização existentes além dos semáforos, tais como
sinais de posição, plurifocais, unifocais, anões, de desvio, entre outros (BRINA, 1988).
A descrição detalhada de tais elementos, desde sua operação até o significado da
sinalização, não será realizada tendo em vista que ela não faz parte do escopo deste
trabalho.
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system, este tipo de tecnologia garante o bloqueio de determinados trechos da via a
partir da passagem dos próprios trens e de sinais luminosos, sendo considerado um
dos sistemas mais simples e eficazes (BONNETT, 2005).
Cada trecho da ferrovia possui dois circuitos. O primeiro é composto pelo relé
eletromagnético e pelos trilhos, alimentados por uma bateria ou transformador, em
função do tipo de corrente (contínua ou alternada). O segundo, por sua vez, é
composto por uma alavanca e um outro sistema de alimentação, além dos focos de
iluminação vermelha e verde.
Na ausência de trens na via, a corrente elétrica passa pelo relé, gerando um campo
eletromagnético capaz de atrair a alavanca e fechar o circuito do foco verde, indicando
assim que não há trens no trecho em questão. Caso haja um trem presente na via, a
corrente elétrica nos trilhos passa a percorrer as rodas e eixos do trem. Assim, uma
45
corrente insignificante atravessa o relé, gerando um campo magnético insuficiente para
atrair a alavanca. Dessa forma, a alavanca se abre, fechando o circuito do foco
vermelho e indicando a presença de um trem na via. Caso haja uma ruptura nos trilhos,
o primeiro circuito também se abre, fazendo com que o campo magnético não seja
suficiente para atrair a alavanca, acendendo assim o foco vermelho.
Supondo uma situação em que haja ruptura do trilho logo após a entrada do maquinista
na seção de bloqueio, o foco vermelho acenderá devido à presença do circuito da via.
O maquinista, porém, ao entrar na seção, não é capaz de observar que o foco verde
passou para vermelho com a ruptura do trilho, seguindo viagem até seu destino. Assim,
a presença de um sinal luminoso dentro da cabine do maquinista permite ao mesmo
verificar eventuais ocorrências. Neste caso, será possível observar se houve ruptura
nos trilhos após sua entrada na seção de bloqueio (BRINA, 1988).
46
4.5.3. Controle de Tráfego Centralizado (CTC)
47
Figura 29 - Centro de Controle Operacional (MRS)
O CBTC conta com uma rede dedicada e interligada com o sistema de sinalização em
campo. O computador de bordo troca informações continuamente em diferentes pontos
da via, informando sua posição, velocidade, licenciamento, e recebendo informações a
respeito de trens à sua frente, ocorrência de manutenção da via e limites de velocidade
restritivos.
A manutenção da via permanente deve ser feita de maneira correta com o objetivo de
garantir boas condições de operabilidade da linha, bem como prolongar o tempo de
seus elementos constituintes (BRINA, 1988). Além disso, a devida conservação da
ferrovia implica diretamente em redução do consumo de combustível e de custos
48
operacionais (CHANDRA; AGARWAL, 2007). Alguns dos principais defeitos
decorrentes da ação do tráfego estão apresentados na Figura 30.
49
Figura 31 - Sinalização para redução de velocidade
50
Figura 32 - Exemplos de sinalização de manutenção
Para o caso de vias duplas, esses sinais são posicionados apenas na direção dos trens
que se aproximam da seção de manutenção. Em vias singelas, por sua vez, eles
devem ser colocados em ambas direções, uma vez que além do cruzamento os trens
podem realizar manobras de ultrapassagem (CHANDRA; AGARWAL, 2007).
Abaixo, encontram-se listados alguns dos serviços mais usuais realizados para
manutenção da via permanente (BRINA, 1988).
51
52
5. AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL
Até o início do século XX as ferrovias em todo o mundo eram projetadas para absorver
um enorme crescimento do tráfego, graças aos baixos custos de materiais e mão de
obra e às circunstâncias econômicas da época. Por esse motivo, nunca haviam sido
enfrentados problemas relacionados a capacidade das vias. O tráfego de cargas e
passageiros era bastante reduzido, assim como o nível de produção e consumo da
época, e ainda não existiam as grandes concentrações populacionais que temos hoje.
A partir da Segunda Guerra Mundial o panorama mudou completamente e, tendo em
vista o aumento populacional e a necessidade de competir com o transporte rodoviário
(que possibilita maior flexibilidade, rapidez e facilidade para o transporte porta a porta),
surgiu a preocupação com a capacidade das ferrovias e o interesse em métodos para o
seu cálculo. Com o tempo surgiram diversos métodos para o cálculo da capacidade,
que se tornou uma valiosa ferramenta para o direcionamento de investimentos e para a
gestão operacional das ferrovias (VIDAL, 1991).
53
pode ser atendido pela infraestrutura existente e quanto investimento é necessário para
aumentar essa infraestrutura. Os resultados destes estudos devem também provar a
necessidade e viabilidade de tal investimento (ABRIL et al., 2007). Da mesma forma
que a falta de capacidade é um problema, o aumento da capacidade além do
necessário faz com que o investimento não tenha o retorno esperado pelas
companhias ferroviárias, resultando em prejuízos. Assim, o estudo da capacidade
também possibilita um planejamento dos investimentos ao longo do tempo, para que
sempre consiga atender à demanda projetada sem resultar em capacidade ociosa (LAI;
BARKAN, 2009).
Brina (1988) define a capacidade de um trecho ferroviário como o número de trens que
podem circular num determinado intervalo de tempo, geralmente 24 horas, neste
trecho. Vidal (1991), por sua vez, diz que a capacidade de transporte de uma linha é a
tonelagem máxima de carga que pode ser transportada durante um determinado
intervalo de tempo, em ambos os sentidos, sob determinadas condições de serviço.
Nota-se que Vidal define duas capacidades distintas: a capacidade de linha, que é
limitada pelas restrições impostas à circulação dos trens pela via, pátios e terminais e a
capacidade de frota, que é, por sua vez, limitada pelo tamanho da frota disponível.
54
Barter (2010) utiliza a definição de capacidade do Institution of Railway Operations, do
Reino Unido:
“O número de trens que podem ser incorporados em uma programação que seja livre
de conflitos, comercialmente viável, compatível com requisitos regulatórios e que pode
ser operada diante de atrasos primários esperados enquanto atende aos níveis de
desempenho estabelecidos. ”
55
Nesta representação, a capacidade corresponde ao comprimento da linha que liga os
eixos. A Figura 33 indica como exemplo duas situações: uma ferrovia de tráfego misto
(linha preta) e uma ferrovia utilizada pelo sistema de metrô de uma cidade (linha
laranja). No primeiro caso, é possível se alcançar altas velocidades com uma alta
heterogeneidade de trens, mas não se consegue uma grande estabilidade e o número
de trens é reduzido. No caso do metrô, a situação se inverte. Deve-se notar que a
definição da UIC está intimamente relacionada ao método proposto pela instituição
para cálculo da utilização da capacidade (POURYOUSEF; LAUTALA; WHITE, 2015).
a) Número de vias
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Em geral, a capacidade de uma via dupla é cerca de quatro vezes a de uma via singela
(LINDFELDT, 2015).
As distâncias entre os pátios de cruzamento, que são seções de bloqueio, têm impacto
significativo na capacidade de uma via. Nas vias singelas, um trem que se move em
direção oposta a outro deve esperar no desvio para poder entrar na seção. Assim,
quanto maior essa distância, maior será o tempo de espera, e menor a capacidade. Por
esse motivo, é fundamental que as distâncias entre pátios não sejam muito longas
(LINDFELDT, 2015).
c) Licenciamento e sinalização
57
falhas nos circuitos, defeitos nas chaves elétricas e falha no isolamento do sistema
elétrico devido a chuvas (BARROS, 2013). Ainda, a sinalização funciona como uma
extensão da visibilidade do maquinista, e por isso uma melhor sinalização permite que
o trem alcance maior velocidade, o que também influencia na capacidade da via
(ABRIL et al., 2007). Trens mais lentos normalmente reduzem a capacidade pois
ocupam a seção por mais tempo, impedindo que mais trens passem por ela (LANDEX
et al., 2006).
A capacidade de tráfego de uma ferrovia depende muito dos trens que a utilizam.
Quanto maior a heterogeneidade do tráfego, maiores as interferências entre eles, ou
seja, maior a necessidade de cruzamentos e ultrapassagens. Essa heterogeneidade
resulta em comportamentos operacionais diferentes que refletem no desempenho de
toda a malha. Os tempos de aceleração, de deslocamento e de parada são diferentes
para tipos diferentes de trem, tornando a gestão e o planejamento da malha mais
difíceis e impactando na capacidade da via (ABRIL et al., 2007; BARROS, 2013). A
Figura 34 ilustra a diferença entre uma tabela de horários de alta heterogeneidade
comparada a uma mais homogênea.
58
Figura 34 - Comparativo entre (a) tabela de horários heterogênea e (b) tabela de horários homogênea
e) Estado da via
f) Manutenção
A manutenção das vias férreas é necessária para que as mesmas sejam mantidas em
boas condições, e acontece em interrupções programadas, no caso da manutenção
preventiva. No entanto, ocasiona a interrupção na circulação de trens, afetando a
59
capacidade da via. Elevando-se o padrão de manutenção é possível reduzir a
quantidade de interrupções necessárias para realização dos serviços, aumentando
assim a capacidade (VIDAL, 1991).
g) Traçado horizontal
h) Greide
60
Figura 35 - Relação entre pontualidade e utilização da capacidade
Todos estes fatores citados tendem a ser aqueles que impactam na capacidade de
forma mais direta, mas muitos outros ainda podem influenciar na capacidade da
ferrovia. Há também fatores que alteram não a capacidade de tráfego, mas sim a
capacidade de carga da ferrovia. O tipo de trilho utilizado, por exemplo, pode ser
determinante na carga máxima por eixo da via e permitir que mais ou menos carga seja
transportada.
61
5.4. Conceitos específicos para análise de capacidade
62
mais condizentes com a realidade. Segundo Vidal (1991), são considerados no
cálculo da capacidade prática de um segmento de linha:
a) O intervalo de tempo concedido para a realização de serviços de
manutenção da via permanente, o qual reduz o tempo de disponibilidade da
linha para a circulação dos trens;
b) O tempo para licenciamento dos trens em cruzamentos e ultrapassagens,
função do sistema de sinalização empregado, que interfere na produtividade
da operação ferroviária e determina o nível de segurança na circulação dos
trens;
c) As irregularidades nos horários dos trens, os intervalos para a
manutenção da via e eventuais problemas operacionais.
63
Figura 36 - Ilustração da relação entre a capacidade prática e o nível de confiabilidade desejado
De fato, manter uma capacidade prática mais próxima da teórica exige uma maior
combinação de fatores favoráveis, e a probabilidade de isso se manter é menor. Na
verdade, o principal parâmetro na diferenciação entre capacidade teórica e prática é a
confiabilidade (ABRIL et al., 2007). O processo de obtenção da capacidade prática a
partir da capacidade teórica está representado de forma esquemática na Figura 37. De
acordo com Krueger (1999), é possível estimar a capacidade prática como sendo
aproximadamente dois terços (ou 67%) da capacidade teórica.
64
Figura 37 - Obtenção da capacidade prática a partir da capacidade teórica
65
A maioria dos métodos de cálculo de capacidade de tráfego recomenda sua aplicação
no trecho crítico, que é a seção de bloqueio de maior distância ou tempo de percurso,
também denominada gargalo operacional (BARROS, 2013). Esses trechos são os que
acabam determinando a capacidade de toda a linha (VIDAL, 1991).
Da mesma forma que não existe uma definição única para o conceito de capacidade,
diferentes autores categorizam os métodos de cálculo existentes de diferentes
maneiras, de acordo com critérios específicos (ABRIL et al., 2007; KONTAXI; RICCI,
2010; KRUEGER, 1999; POURYOUSEF; LAUTALA; WHITE, 2015). Duas categorias
que aparecem com mais frequência são os métodos analíticos e os métodos de
simulação, podendo existir também subcategorias dentro destas.
Métodos analíticos:
66
Figura 38 - Diferentes níveis de complexidade dos métodos analíticos para o cálculo da capacidade
67
Métodos de simulação
68
Dentro dos métodos analíticos estão também os modelos paramétricos, que são
considerados uma ponte entre os modelos de capacidade teóricos, normalmente mais
simplificados, e os modelos de simulação mais detalhados. Alguns autores consideram
os paramétricos como sendo uma categoria a parte (LAI; BARKAN, 2009). A principal
característica dos modelos paramétricos é que eles procuram focar em elementos-
chave da capacidade da linha para encontrar de forma rápida os gargalos existentes no
sistema (KRUEGER, 1999).
Kontaxi e Ricci (2010) citam ainda os métodos sintéticos, que utilizam expressões
determinísticas de forma que as variáveis assumem valores fixos durante o tempo de
referência. De um ponto de vista matemático, são equações em que os valores não
conhecidos são mutualmente independentes.
69
fazem sobre as interrupções programadas e não programadas para manutenção
(apesar de ainda não as tratarem da forma ideal). O método mais utilizado no Brasil é a
Fórmula de Colson (BARROS, 2013), que a seguir será apresentada em mais detalhe.
Fórmula de Colson
(Equação 1)
Sendo a capacidade de tráfego (C) de um trecho o número de trens que podem passar
por ele no período de 24 horas, esta pode ser calculada da seguinte forma:
(Equação 2)
(Equação 3)
70
Para calcular a capacidade nos dois sentidos da via, considerando que o tempo de
percurso no sentido de ida (ti) é diferente do tempo de percurso no sentido de volta (t p),
a equação adota a seguinte forma:
(Equação 4)
(Equação 5)
71
minutos. Nesse caso, a equação adota o seguinte formato, onde C é dado em pares de
trens por dia e está representado pela Equação 6 abaixo.
(Equação 6)
Outra consideração importante a ser feita sobre a fórmula de Colson é que ela admite
sempre a circulação nos dois sentidos, de forma intercalada, sem considerar a
possibilidade de dois ou mais trens se sucederem em cada sentido. Nesses casos são
formadas “ondas de trens”, tipo de operação também conhecida como operação em
frota. Para essas situações, pode ser adotada uma generalização da fórmula de Colson
72
em que se considera também o número de trens em frota e o headway entre eles
(BRINA, 1988; NABAIS, 2014).
(Equação 7)
Brina (1988) frisa que as fórmulas apresentadas são todas aproximadas, e recomenda
para o cálculo mais exato que seja feita a representação gráfica dos trens de maior
prioridade e que sejam encaixados no gráfico o maior número possível de trens de
menor prioridade. Essa abordagem proposta é semelhante às utilizadas nos métodos
de otimização citados anteriormente. Entre eles, está o método proposto e
recomendado no UIC code 406 (UIC, 2004), que se tornou o método de cálculo mais
utilizado em toda Europa (POURYOUSEF; LAUTALA; WHITE, 2015).
73
É importante frisar que este método fornece o cálculo da utilização, ou consumo, da
capacidade, e não a capacidade em trens por dia como nos casos anteriores. Isso
acontece porque o método leva em conta que este é o único valor que pode ser obtido
de forma objetiva a partir dos parâmetros disponíveis (UIC, 2004). Goverde e Hansen
(2013) chamam esse indicador de ocupação da infraestrutura, e o consideram como
sendo um dos possíveis indicadores de desempenho de uma tabela de horários.
74
Figura 39 - (a) Plano de operação original e (b) plano após compressão
(a) (b)
(Equação 8)
( )
75
De acordo com o UIC code 406 (2004), a utilização da capacidade não deve exceder
alguns limites máximos, dependendo do tipo de linha. Tais limites são baseados na
experiência com transporte de passageiros na Europa. Se a utilização da capacidade
estiver abaixo dos limites, deve-se tentar inserir mais trens na programação. Se isso
não for possível, a capacidade restante é chamada de “capacidade perdida”.
Segundo Lindner e Pachl (2010), o procedimento proposto pela UIC parece bem
simples à primeira vista, mas o seu uso em casos com diferentes tipos de infraestrutura
e de tráfego traz diversas questões que não são abordadas pelo método. Em especial,
são citadas dúvidas sobre a aplicação do método da compressão em diversos casos.
Além disso, os autores criticam o fato de que os usuários deste método obtêm apenas
informações sobre como melhorar uma tabela de horários já existente, e recomendam
que ele seja combinado a um outro método que traga mais informações sobre a
capacidade da infraestrutura disponível.
Esta alternativa visa aproximar a capacidade prática da capacidade teórica. Isso pode
ser alcançado das mais diversas formas sem a necessidade de grandes investimentos.
Algumas opções são, por exemplo, utilização de pessoal mais capacitado (ou
76
treinamento de pessoal), modernização dos sistemas de controle, melhor
acompanhamento da operação e dos atrasos e melhorias gerenciais (NABAIS, 2014;
VIDAL, 1991).
b) Frota
77
Quando se tem uma seção de bloqueio, como mostrado na Figura 40, delimitada pelos
desvios A e C, a capacidade teórica (CT1) é dada pela Equação 9 onde P é o período
de tempo considerado e TP é o tempo de percurso da seção crítica.
(Equação 9)
O TP, por sua vez, é dado pela Equação 10, onde D é o comprimento da seção crítica
e VT é a velocidade média do trem na seção.
(Equação 10)
(Equação 11)
78
(Equação 12)
(Equação 13)
(Equação 14)
( )
79
A quantidade de desvios atingirá um número limite, o qual será função da possibilidade
de os trens circularem a velocidades compatíveis com as condições da via. Além deste
limite, os trens circularão a velocidades inferiores (incorrendo em maiores tempos de
percurso) devido ao comprimento das seções de bloqueio não permitir que os mesmos
atinjam a velocidade máxima autorizada, determinada pelas condições e traçado da via
permanente. A partir desse número limite de desvios, deve-se buscar outra alternativa
para aumentar da capacidade de transporte, como por exemplo a duplicação da linha
(VIDAL, 1991).
e) Duplicação da via
Como já foi citado, o fator que mais afeta a capacidade de uma ferrovia é o número de
vias. As configurações mais comuns quanto ao número de vias são: (i) singela, (ii)
dupla e (iii) quádrupla. Em geral, a capacidade de uma via dupla é quatro vezes a de
uma via singela e uma via quádrupla possui três vezes mais capacidade que uma via
dupla para uma condição de tráfego razoavelmente heterogêneo. Mudar de via singela
para via dupla significa que trens em sentidos opostos podem se encontrar em
qualquer posição da linha, sem a restrição de fazê-lo somente em pátios de
cruzamento. Assim, elimina-se a necessidade de paradas e frenagens nos pátios para
esperar a passagem dos trens que se deslocam em sentido oposto, o que aumenta a
velocidade média do trem e por consequência reduz o tempo de viagem. Além do
aumento na capacidade, o tráfego em cada sentido se torna quase independente, ou
seja, não há propagação de atrasos (LINDFELDT, 2015).
80
6. ESTUDOS RELATIVOS A DUPLICAÇÃO DA VIA
Ferrovias precisam prever o tipo e o volume de negócios futuros, da mesma forma que
qualquer outro tipo de negócio. Deve haver tráfego suficiente em vista para justificar
economicamente o projeto e garantir um retorno adequado ao grande volume de
investimento envolvido. Volumes em longo e curto prazos devem ser considerados.
Diversos modelos matemáticos são utilizados para prever a demanda futura. Por meio
da análise de séries históricas de demanda é possível determinar parâmetros
específicos que auxiliarão no desenvolvimento de modelos matemáticos e estatísticos
(PACHECO; SILVA, 2003).
6.2. Duplicação
A duplicação de uma via é uma alternativa que visa aumentar a capacidade da ferrovia.
Para tanto, deve haver demanda suficiente de forma que não possa ser atendida pela
via singela ou mesmo com a introdução de novos pátios de cruzamentos. A decisão de
duplicar uma via deve ser tomada, idealmente, antes que o aumento da demanda torne
a capacidade da via insuficiente. Além disso, reduções significativas de demanda
81
podem gerar capacidade ociosa, implicando assim eu custos unitários muito elevados
(PACHECO; SILVA, 2003).
A Estrada de Ferro Carajás (EFC) é uma ferrovia da empresa Vale que liga as jazidas
da companhia na Serra de Carajás (Pará) ao porto maranhense de Ponta da Madeira.
Tem extensão de 892km e conta com 10.756 vagões e 217 locomotivas para
transportar principalmente minério de ferro, ferro-gusa, manganês, cobre, combustíveis
e carvão. Além de carga, a ferrovia também transporta anualmente 350 mil passageiros
(VALE).
Até 2013, a Vale já havia concluído 5 dos 11 trechos a serem duplicados da EFC,
sendo estes cinco trechos correspondentes a uma extensão de 63 km. A duplicação
82
total permitiria que vagões com capacidade de 37,5 t/eixo pudessem trafegar (Revista
Ferroviária, 2013)
A Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) é uma ferrovia da empresa Vale que liga o
interior de Minas Gerais ao Porto de Tubarão, no Espírito Santo, fazendo parte de um
complexo (minas-ferrovia-porto) especializado na mineração e transporte de minérios.
Tem extensão de 905 km e transporta minério de ferro da Vale e carga geral para
terceiros (carvão e produtos agrícolas). Além de carga, a ferrovia também transporta
anualmente 1 milhão de passageiros. A EFVM é considerada uma das ferrovias mais
modernas do mundo, transportando aproximadamente 40% da carga ferroviária no
Brasil (Revista Ferroviária, 2015)
Com a duplicação do trecho do porto de Tubarão até Itabira na década de 1970, foi
possível aumentar a capacidade de transporte de 20 milhões para 120 milhões de
toneladas de minério por ano. A Figura 43 apresenta uma ilustração do trecho logo
após a duplicação na década de 1970.
83
Nos anos 2000, uma nova duplicação foi realizada, chegando até o município de Santa
Bárbara, MG (ANTF, Estrada de Ferro Vitória a Minas). Em 2007, a EFVM possuía 590
km duplicados (Silveira, 2007), e desde então foram executadas obras para duplicar
trechos em via singela com o objetivo de aumentar a capacidade de transporte.
6.2.3. FCA
A Ferrovia Centro Atlântica (FCA) é uma ferrovia pertencente à empresa Vale, que
possui 7.220 quilômetros de extensão. Destaca-se como uma rota importante para o
fluxo logístico de carga geral, por meio de suas conexões com outras ferrovias, cujas
cargas se destinam ao Porto de Santos. A FCA atende aos estados de Minas Gerais,
Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe e Distrito Federal (DER-ES,
2009).
6.2.4. MRS
A MRS é uma operadora logística que administra uma malha ferroviária de 1.643 km
nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A ferrovia se conecta a
importantes portos do país como o de Santos, do Rio de Janeiro e o de Sepetiba, além
84
das ferrovias FCA, EFVM e Rumo ALL, transportando principalmente contêineres,
produtos siderúrgicos, cimento, bauxita, agrícolas, coque, carvão e minério de ferro.
85
86
7. SIMULADORES COMPUTACIONAIS
87
esquemática os principais elementos envolvidos na simulação e como eles se
relacionam.
88
Vagões (quantidade, peso e comprimento da composição, número de eixos), e
Programação (pontos de início e fim, rota, horário de partida).
89
também é inviável na vida real. Nestas situações, cabe ao operador resolver o
problema ajustando os dados de entrada.
Atraso: o tempo em que o trem permaneceu parado durante seu trajeto de forma
não programada;
Tempo de parada: o tempo em que o trem permaneceu parado em uma estação
ou pátio de forma programada;
Tempo de viagem;
Distância percorrida;
Combustível consumido.
Algumas relações entre os parâmetros de saída obtidos são úteis para a interpretação
dos dados, como a relação atraso/tempo de viagem e atraso/distância percorrida, que
são mais utilizados. No entanto, infinitas relações podem ser adotadas para a análise.
No final da análise, o ideal é que seja calculada a capacidade utilizada, ou nível de
utilização, parâmetro citado no Capítulo 5. Este parâmetro consegue exprimir a relação
entre o tráfego e a infraestrutura de forma mais significativa e consistente do que a
simples observação dos atrasos em relação ao tempo ou à distância percorrida.
Muitas vezes o número de variáveis e de dados de saída da simulação pode ser muito
grande, dificultando uma análise estatística mais acurada. Nesses casos, uma análise
90
de causa raiz ou RCA (Root Cause Analysis) pode ser eficiente para ajudar na tomada
de decisões, inclusive gerando informações que não são obtidas na análise estatística.
No entanto, suas conclusões dificilmente podem ser quantificadas de forma precisa
para serem incorporadas aos outros dados da simulação. É muito útil também como
uma ferramenta de validação ao final do processo.
91
Figura 46 - Análise de causa raiz feita graficamente
92
8. ESTUDO DE CASO: RUMO ALL
8.1. A empresa
A Rumo ALL é uma companhia criada a partir da fusão da Rumo Logística com a ALL
(América Latina Logística) em 2015. A ALL foi criada em 1999, durante o período de
concessão da malha ferroviária federal, e a Rumo Logística foi criada em 2008, como
parte do grupo Cosan (Raízen, Comgás).
Com 12,9 mil quilômetros de malha ferroviária, 966 locomotivas, 28 mil vagões e 11,7
mil funcionários diretos e indiretos, a Rumo ALL detém a malha ferroviária mais
extensa da América Latina e é a principal escoadora de grãos do Centro-Oeste para o
porto de Santos.
Ela é composta por quatro malhas distintas: Norte, Paulista, Oeste e Sul, e tem acesso
a portos nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além
de fazer interconexões com terminais hidroviários. A sua malha pode ser vista na
Figura 47.
93
Figura 47 - Unidades da Rumo ALL
Fonte: http://pt.all-logistica.com/all/web/conteudo_pti.asp?idioma=0&tipo=27024&conta=45
8.2.1. Localização
O trecho escolhido para o estudo localiza-se entre as cidades de Rio Claro e Limeira,
no estado de São Paulo, como pode ser observado na Figura 48. Essa figura
representa o exato percurso da ferrovia, sendo o segmento vermelho correspondente
ao trecho de análise e os segmentos azuis os trechos adjacentes da malha Paulista.
94
Figura 48 - Imagem por satélite do trecho estudado
O trecho escolhido está inserido no lote 09 da Malha Paulista da Rumo, entre os pátios
ZLI (Limeira) e ZQX (Camaquã), entre os quilômetros 105,5 e 144,5 da ferrovia, com
uma extensão de 39 km. A Figura 49 apresenta de maneira esquemática o trecho a ser
estudado, bem como os pátios de cruzamento compreendidos entre Limeira e
Camaquã. Além disso, estão apresentados na Figura 50 os comprimentos entre pátios
do trecho.
95
Figura 49 - Esquema ilustrativo de todos os pátios existentes entre Limeira e Camaquã
Deve-se notar que nem todos os pátios do trecho operam atualmente. Atualmente,
estão desativados os pátios Batovi (ZRQ), Santana (ZWX) e Santa Gertrudes (ZSQ).
96
Figura 51 - Capacidade utilizada por trechos
97
Tabela 7 - Características adicionais do trecho Camaquã-Limeira
Características do trecho
Bitola Larga
Perfil do trilho TR 57
Dormente Madeira
VMA Trem Carregado 55km/h
VMA Trem Vazio 55km/h
VMC Trem Carregado 27km/h
VMC Trem Vazio 27km/h
Fixação Flexível
Carga máxima por eixo 30 ton
Fonte: Declaração de rede 2016 – ALL Malha Paulista
Para este estudo serão utilizados dados das malhas Norte e Paulista.
A malha Norte possui 617km de extensão. Atende os estados de Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul e está ilustrada na Figura 52.
Toda carga com origem na Malha Norte segue para a Malha Paulista.
98
Vale acrescentar que ao longo de toda a malha é adotada a bitola larga de 1,60m.
Diferentemente da malha Paulista, a malha Norte possui apenas um ponto de
interconexão com outras ferrovias, localizado no Marco Inicial, São Paulo (ANTT,
2013).
A Malha Norte possui o milho como principal produto transportado, equivalente a 46%
de todo o transporte realizado. Nesta malha, combustíveis, derivados do petróleo e
álcool correspondem a apenas 4% (Figura 53).
A malha Paulista atende aos estados de São Paulo e está ilustrada na Figura 54. A
ALL obteve a concessão da malha Paulista após leilão em 1998, antes pertencente à
Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA). Os serviços de transporte de cargas só foram
iniciados em 1999.
99
Figura 54 - Malha Paulista da Rumo ALL
Possui 1.945km de extensão com diferentes tipos de bitola ao longo da ferrovia. São
1.463km, 243km e 283km de bitolas métricas, largas e mistas, respectivamente. Além
disso, a malha Paulista possui diversas interconexões com outras ferrovias, como
apresentado na Tabela 8. Vale acrescentar ainda que a Malha Paulista está interligada
com três portos do estado de São Paulo: Santos, Pederneiras e Panorama.
100
A malha Paulista possui como principais produtos transportados os combustíveis,
derivados do petróleo e álcool, que correspondem a aproximadamente 54% da carga
total transportada. Em Segundo lugar encontra-se o açúcar, com cerca de 37%. A
Figura 55 ilustra a representatividade de cada produto no transporte ferroviário da
malha Paulista (ANTT, 2013).
Utilizando o software Google Earth Pro foi obtido o perfil de elevação do trecho
estudado. Os perfis estão apresentados na Figura 56 e Figura 57.
101
Figura 56 - Ponto mais baixo
Como pode ser visto na Figura 56, o ponto mais baixo do trecho se localiza entre os
pátios Rio Claro Novo e Camaquã, aproximadamente no km 136,1.
102
Figura 57 - Ponto mais alto
Na Figura 57 é possível observar que o ponto mais alto está localizado entre os pátios
Cordeirópolis e Rio Claro Novo, aproximadamente no km 119,3.
8.2.5. Pátios
Adobe Acrobat
Document
103
8.2.6. Sinalização e licenciamento
104
De acordo com o eng. Gustavo, em áreas urbanas a velocidade dos trens fica restrita a
30km/h.
Por orientação do Eng. Gustavo, serão considerados 270 dias operacionais para os
produtos sazonais e 360 dias para os demais produtos.
Dias
Produto
operacionais
Combustíveis, derivados
de petróleo, álcool 360
Contêineres 360
Extração vegetal, celulose 360
Granéis minerais 360
Milho 270
Soja e Farelo de soja 270
Açúcar 270
105
8.3.1. Demanda
A Tabela 11, por sua vez, apresenta os valores de demanda para a Malha Paulista
(ANTT, 2013).
106
8.3.2. Trem-tipo
Quantidade
Quantidade de Distância Comprimento
Trem Tipo Origem Destino de TB TU Mercadorias
Vagões (km) (m)
Locomotivas
Soja, Milho, Farelo de
E60 Chapadao do Sul Marco Inicial 1 80 7.960 6.400 288 1.225
Soja, Alcool
E60 T. Olacyr F. Morais Marco Inicial 2 80 7.960 6.400 400 1.225 Soja, Milho, Farelo de Soja
I48 Alto Araguaia Marco Inicial 3 80 8.200 6.400 498 1.275 Soja, Farelo de Soja, Milho
L30 Aparecida do Taboado Marco Inicial 2 80 7.960 6.400 23 1.275 Celulose
X10 Itiquira Marco Inicial 2 80 8.080 6.400 612 1.250 Soja, Milho, Farelo de Soja
Soja, Farelo de Soja,
X96 Rondonópolis Marco Inicial 2 80 8.080 6.400 752 1.225
Milho, Contêiner
107
Tabela 13 - Trens com origem na Malha Paulista
Comprim
Qtde Qtde Distância
Trem Tipo Origem Destino TB TU ento Mercadorias
Loco Vagao (km)
(m)
B20 Triagem Paulista Boa Vista Nova 1 30 3.060 2.400 285 475 Alcool
Álcool, Adubos e
B20 Triagem Paulista Boa Vista Velha 1 30 3.060 2.400 284 475
Fertilizantes
B23 Boa Vista Nova Triagem Paulista 2 30 3.060 2.400 285 500 Diesel, Gasolina
C80 Rio Preto Paulista Boa Vista Velha 3 80 8.200 6.400 404 1.275 Soja
C81 Airosa Galvão Boa Vista Velha 2 60 6.120 4.800 239 950 Contêiner
C87 Km 254 Araraquara 3 80 8.200 6.400 204 1.275 Contêiner
E23 Tutóia Mairinque 2 45 4.650 3.600 312 725 Cimento, Trilhos, Arroz
E41 Paratinga Triagem Paulista 2 30 3.180 2.400 517 500 Trilhos
Trilhos, Produtos
E54 Triagem Paulista Mairinque 2 30 3.180 2.400 388 500
Siderúrgicos
F11 Jundiaí Rio Preto Paulista 2 80 8.080 6.400 456 1.250 Adubos e Fertilizantes
F15 Boa Vista Nova Rio Preto Paulista 3 80 7.960 6.400 406 1.225 Diesel, Gasolina
L16 Itirapina Paratinga 3 80 8.080 6.400 355 1.300 Açucar
L40 Votuporanga Paratinga 2 80 8.200 6.400 740 1.300 Açucar
L42 Fernandopolis Paratinga 2 80 7.960 6.400 774 1.225 Açucar
M60 Araraquara Jundiaí 4 80 8.320 6.400 253 1.300 Açucar
M60 Santa Adélia Jundiaí 2 80 8.320 6.400 368 1.300 Açucar
M61 Jundiaí Santa Adélia 3 80 8.200 6.400 368 1.275 Bauxita
Adubos e Fertilizantes,
N01 Conceiçãozinha Paratinga 1 80 7.960 6.400 43 1.225
Contêiner, Farelo de Soja
Contêiner, Adubos e
N03 Conceiçãozinha Araraquara 1 80 7.960 6.400 477 1.225
Fertilizantes
N06 Airosa Galvão Boa Vista Nova 1 60 6.000 4.800 240 925 Açucar
N09 Pradopolis Mairinque 1 35 3.550 2.800 373 550 Celulose
N11 Boa Vista Velha Araraquara 3 80 7.960 6.400 201 1.225 Contêiner, Trilhos
N17 Araraquara Boa Vista Velha 3 80 7.960 6.400 201 1.225 Contêiner, Soja, Milho
N37 Conceiçãozinha Boa Vista Nova 1 80 7.960 6.400 276 1.225 Adubos e Fertilizantes
T13 Boa Vista Nova Marco Inicial 3 80 8.080 6.400 638 1.250 Diesel, Gasolina
X37 Paratinga Araraquara 2 80 8.080 6.400 435 1.250 Contêiner, Farelo de Soja
X53 Rio Preto Paulista Pereque 3 80 8.200 6.400 657 1.300 Açucar
Contêiner, Adubos e
X87 Conceiçãozinha Boa Vista Velha 1 80 7.960 6.400 276 1.225
Fertilizantes
Y71 Água Branca Mairinque 1 80 7.960 6.400 63 1.225 Produtos Siderúrgicos
8.3.3. Vagões
108
Figura 59 - Vagão HPT para transporte de açúcar
109
Figura 61 - Vagão PCT para transporte de contêineres
Tabela 11. Foram utilizados dados de 2013 devido à falta de dados mais recentes.
110
A partir das Declarações de Rede (ANTT, 2016) foram determinados os trens-tipo para
cada tipo de mercadoria. Além disso, outros parâmetros como tonelagem útil e
sazonalidade foram utilizados no cálculo da capacidade. Vale ressaltar que, a maioria
dos trens não possui carga de retorno. Isto significa que o trem carregado que realiza
uma viagem em um sentido, retorna vazio no outro sentido.
(Equação 15)
onde C’i : Capacidade necessária para atender a demanda para uma mercadoria “i”
(pdt/dia)
Dessa forma, a capacidade necessária total pode ser obtida a partir da somatória das
capacidades por mercadoria, como apresentado na Equação 16.
∑ (Equação 16)
111
Realizando os cálculos, foi obtida uma capacidade necessária total de 10,87 pdt/dia.
112
8.5. Cálculo da capacidade para linha singela
(i) Para a determinação dos tempos de viagem entre pátios (t i e tp) utiliza-se a
velocidade máxima autorizada (VMA). Como apresentado anteriormente, o
trecho em estudo encontra-se dentro do perímetro urbano, o que reduz
sensivelmente a velocidade dos trens. Além disso, apenas os trens noturnos,
rápidos ou expressos atingem a VMA (BRINA, 1988). Recomenda-se a
utilização de um coeficiente de aproveitamento menor que 1,0 para
representar a redução da velocidade dos trens. Dessa forma, foi adotado um
coeficiente de aproveitamento de 0,60 para a velocidade de operação, sendo
V igual a 0,6 x 55 = 33 km/h. Ressalta-se que esse coeficiente é afetado
também pelas condições da via.
(ii) Apesar de não serem exatamente iguais, os tempos de viagem de
importação e exportação foram adotados como idênticos, tendo em vista que
as VMAs fornecidas nas Declarações de Rede (ANTT, 2016) são iguais tanto
para o caso do trem vazio quanto carregado. Além disso, o cálculo da
capacidade pela fórmula de Colson torna-se mais conservador e a favor da
segurança.
(iii) Foi adotado o tempo de 120 minutos diários para a manutenção da via
(VALEC, 2008).
113
Os tempos de viagem (ti e tp) foram determinados a partir da razão entre as distâncias
entre pátios pela velocidade de operação (33km/h). O tempo de licenciamento para o
cálculo foi de 4 minutos, dado este obtido da Declaração de Rede (ANTT, 2016). Por
fim, foi adotado o valor de 0,6464 para o coeficiente redutor (K), valor recomendado
pelo Eng. Gustavo e correspondente à eficiência da Malha Paulista como um todo. Os
resultados encontrados estão apresentados na Tabela 15.
Nível de
Origem Destino
saturação
Camaquã Rio Claro Novo 69%
Rio Claro Novo Cordeirópolis 79%
Cordeirópolis Limeira 63%
Observa-se, portanto, que o trecho que liga os pátios de Rio Claro Novo e
Cordeirópolis é aquele com maior nível de utilização e, consequentemente, será o
primeiro a exigir algum tipo de medida que viabilize o aumento de sua capacidade.
114
8.6. Aumento de capacidade
A Tabela 17 mostra a quantidade de carga transportada pela Rumo entre os anos 2006
e 2015.
Por falta de dados mais recentes e de uma previsão de demanda fornecida pela
empresa, estimou-se as demandas para os anos de 2017, 2025 e 2035 a partir dos
dados da Tabela 17 e uma taxa de crescimento linear de 5,0% a/a. Foram
consideradas as cargas das malhas Norte e Paulista.
115
Figura 63 – Gráfico de previsão de demanda
116
Tabela 18 - Previsão de demanda para 2017
117
Tabela 19 - Previsão de demanda para 2025
118
Tabela 20 - Previsão de demanda para 2035
119
Nota-se que, para o caso de linha singela, a demanda irá superar a capacidade obtida
pela fórmula de Colson entre os anos de 2017 e 2025. Dessa forma, diferentes
alternativas devem ser avaliadas com o objetivo de aumentar a capacidade de
transporte da ferrovia, absorvendo assim a demanda.
Nível de saturação
Origem Destino
K = 0,60 K = 0,85
Camaquã Rio Claro Novo 75% 53%
Rio Claro Novo Cordeirópolis 85% 60%
Cordeirópolis Limeira 68% 48%
120
Da Tabela 21, observa-se uma grande variabilidade do nível de saturação, que reduz
aproximadamente 30% de seu valor quando os valores extremos de K são usados.
Essa alta variabilidade pode conduzir de maneira equivocada à conclusão de que um
determinado trecho deve ter sua capacidade aumentada ou não.
Logo, a adoção de um coeficiente único que englobe diversas variáveis como eventuais
atrasos, estado da via, presença de curvas, entre outros, não é adequada. Como
mencionado no capítulo 5, a utilização da fórmula de Colson é uma forma aproximada
de se obter a capacidade da via, sendo necessário utilizar metodologias mais
sofisticadas, tais como softwares de simulação de modo a obter resultados mais
confiáveis a respeito da operação ferroviária.
K = 0,6464 K = 0,85
Demanda 2013 Capacidade Demanda 2025 Capacidade
Saturação Saturação
(pdt/dia) (pdt/dia) (pdt/dia) (pdt/dia)
Tendo em vista que uma distância mínima de 9 km deve ser respeitada entre os pátios
existentes, novos pátios de cruzamento não poderão ser incluídos. Mesmo para o caso
de Rio Claro Novo-Cordeirópolis que possui a maior distância equivalente a 14,93 km,
a implantação de um pátio de cruzamento no ponto médio dessa seção de bloqueio
criaria duas seções de bloqueio de no máximo 7,5 km, inferior ao limite estabelecido de
9 km.
121
c) Melhoria no sistema de licenciamento e sinalização
Para a análise foi considerada a mesma velocidade de operação (33 km/h), com tempo
de manutenção de 120 minutos/dia e K igual a 0,6464. A fórmula de Colson foi utilizada
considerando um tempo de licenciamento igual a 1 min, valor quatro vezes menor do
que o tempo real de licenciamento no trecho estudado. A Tabela 23 apresenta os
valores de capacidade calculados.
122
É possível observar que a redução do nível de saturação não é significativa
considerando a adoção de um sistema mais eficiente que diminua o tempo de
licenciamento dos trens. Observa-se um ganho de aproximadamente 12% na
capacidade de transporte da ferrovia, insuficiente para atender a demanda estimada de
17,21 pdt para 2025. Dessa forma, outras alternativas como a duplicação da linha
devem ser analisadas.
Para o cálculo da capacidade, foi utilizada a Equação 7 apresentada por Nabais (2014)
e presente no capítulo 5.
(Equação 17)
123
Figura 64 - Representação esquemática dos termos que compõem o cálculo do headway
O RT, por sua vez, corresponde ao tempo necessário para que o todo o comprimento
do trem passe por uma determinada seção. Ele é determinado pela divisão do
comprimento do trem pela velocidade do mesmo. Foi adotado um comprimento de
1,225 km para o trem-tipo, considerado um valor representativo dos dados disponíveis
na Declaração de Rede (ANTT, 2016).
Por fim, o OT foi negligenciado para o cálculo do headway, uma vez que não influencia
significativamente na capacidade da via (ABRIL et al., 2007),
Vale acrescentar que foram adotados os mesmos 120 minutos para manutenção diária
da via, além de um K igual a 0,85 (limite máximo recomendado por Nabais (2014),
tendo em vista a maior eficiência operacional dos trens em linhas duplas.
124
Os resultados de capacidade expressos em pdt para a linha dupla estão apresentados
na Tabela 25.
Distância V TT BT RT H tm Capacidade
Origem Destino K
(km) (km/h) (min) (min) (min) (min) (min) pdt
Camaquã Rio Claro Novo 12,73 33 23,15 8,33 2,23 26 120 0,85 43,98
Rio Claro Novo Cordeirópolis 14,93 33 27,15 8,33 2,23 30 120 0,85 38,02
Cordeirópolis Limeira 11,43 33 20,78 8,33 2,23 23 120 0,85 48,47
Nível de
Origem Destino
saturação
Camaquã Rio Claro Novo 25%
Rio Claro Novo Cordeirópolis 29%
Cordeirópolis Limeira 22%
125
Como alternativa para atendimento da demanda futura, nota-se que a duplicação da via
permite atender a demanda prevista de 22,67 pdt/dia para o ano de 2035, com ainda
um excedente que permite garantir um alto nível de serviço.
126
9. CONCLUSÃO
Apesar de ser capaz de reduzir os custos com transporte, as ferrovias exigem grandes
investimentos de longo prazo para a sua construção, ampliação ou modernização. Os
estudos de capacidade buscam definir, para uma dada infraestrutura, a quantidade de
trens, ou de carga, que conseguem percorre-la em um dado intervalo de tempo. Assim,
são um instrumento fundamental para determinar a viabilidade econômica e estrutural
de um projeto ferroviário. Uma análise de capacidade precisa e sistêmica permite o
bom direcionamento dos recursos para o aumento da malha de acordo com a demanda
existente e futura.
A revisão bibliográfica foi dividida em seis partes, nas quais foi dado foco aos assuntos
considerados mais relevantes para compreensão da capacidade de ferrovias. Na
primeira parte, foram apresentados um histórico do desenvolvimento do sistema
ferroviário no Brasil e uma análise das principais características do transporte
ferroviário, suas vantagens e desvantagens, incluindo uma comparação com o
127
transporte rodoviário. Além disso, foi feita uma descrição do panorama atual da malha
ferroviária brasileira e sua utilização.
128
foram analisadas as principais alternativas existentes para o aumento da capacidade, e
de que forma elas alcançam esse objetivo.
129
Apesar de ter sido possível alcançar os objetivos do estudo de caso, algumas ressalvas
devem ser feitas em relação à sua metodologia e resultados. A mais importante delas
diz respeito aos dados utilizados, disponíveis no site da ANTT e referentes ao ano de
2013, e, portanto, defasados em 3 anos. Isso se deve a falta de divulgação de dados
mais recentes pela agência. Quanto à demanda futura, deve-se ressaltar que não
corresponde àquela adotada pela empresa, e sim estimada com base em dados
públicos.
130
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