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‘Half-Earth’: reservar metade da Terra para a natureza

"Este mundo curioso que nós habitamos é mais maravilhoso do que conveniente,
mais bonito do que útil, mais para ser admirado e apreciado do que usado"
Henry Thoreau (1817 - 1862)

O Homo sapiens surgiu na África e, há cerca de 80 mil anos, começou a sua jornada no sentido
de ocupar todos os continentes da superfície terrestre. Primeiro ocupou o Norte da África e o
Oriente Médio (o chamado Crescente Fértil, que inclui a região que vai do delta do Nilo à
Mesopotâmia), para, em seguida, ocupar todo o território contíguo da Eurásia (Europa + Ásia).
Navegou e ocupou as ilhas do Pacífico até conquistar a Austrália e a Nova Zelândia. Depois
atravessou o Estreito de Bering para alcançar o continente americano. Em ondas sucessivas, a
humanidade foi ocupando todos os rincões do Planeta e, como uma espécie invasora egoísta,
foi dominando, explorando e reconfigurando a paisagem e o modo de vida das demais espécies
vivas da Terra.

Ao longo do tempo os humanos foram aprendendo a explorar a natureza em larga escala e


passaram a utilizar a riqueza do Planeta em benefício próprio. A humanidade foi progredindo e
o meio ambiente foi regredindo. Especialmente nos últimos 250 anos, o processo incessante de
acumulação de riqueza levou ao extremo o modelo “Extrai-Produz-Descarta”, significando que
para produzir bens e serviços, a economia arranca recursos da natureza e devolve lixo, resíduos
sólidos e poluição.

A ONU estabeleceu o dia 05 de junho como data comemorativa do MEIO AMBIENTE. Entre os
objetivos das comemorações estão: “a) Mostrar o lado humano das questões ambientais; b)
Capacitar as pessoas a se tornarem agentes ativos do desenvolvimento sustentável; c) Promover
a compreensão de que é fundamental que comunidades e indivíduos mudem atitudes em
relação ao uso dos recursos e das questões ambientais; d) Advogar parcerias para garantir que
todas as nações e povos desfrutem um futuro mais seguro e mais próspero”. O Dia Mundial do

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Meio Ambiente foi estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1972, marcando
a abertura da Conferência de Estocolmo sobre Ambiente Humano.

Mas nos últimos 46 anos, enquanto os indicadores humanos melhoraram (a despeito das
desigualdades sociais), a situação ambiental na Terra piorou e houve uma aceleração do
processo da 6ª extinção em massa das espécies. A perda de biodiversidade é tão grande que o
avanço das atividades antrópicas está se transformando em uma força de destruição em massa
que provoca um holocausto biológico. O Antropoceno está se transformando na Era do ecocídio,
que também pode ser a Era do suicídio, pois sem ECOlogia não há como sustentar a ECOnomia.

Para salvar os seres vivos do Planeta, o biólogo e entomologista americano, Edward Osborne
Wilson (1929 - ) propõe um plano denominado “Half-Earth”, para reservar metade da superfície
da Terra à natureza. Ele lançou o livro “Half-Earth: Our Planet’s Fight for Life” onde argumenta
que a situação que enfrentamos é grande demais para ser resolvida aos poucos e propõe uma
solução compatível com a magnitude do problema: dedicar metade da superfície da Terra à
natureza.

Para o premiado pesquisador Edward O. Wilson, a atual taxa de perda de biodiversidade que
paira sobre a Terra, ameaça erradicar virtualmente todos os animais e plantas selvagens. Ele diz:
"Estamos extinguindo a biodiversidade da Terra como se as espécies do mundo natural não
fossem melhores do que as ervas daninhas e os insetos da cozinha. Não temos vergonha?”

A resposta costuma ser evasiva e dúbia. Por um lado, temos o Dia Mundial do Meio Ambiente
que este ano, por exemplo, tem como tema um assunto muito importante:
“#AcabeComAPoluiçãoPlástica”, que visa chamar a atenção dos governos, setor privado,
comunidades e indivíduos para a necessidade de se reduzir a produção e o consumo excessivo
de produtos plásticos descartáveis, que contaminam nossos oceanos, prejudicam a vida marinha
e afetam a saúde humana.

Mas, a despeito das campanhas de conscientização, o modelo de produção e consumo - voltado


para atender os anseios de uma pequena elite altamente consumista, mas também uma massa
gigantesca de bilhões de pessoas que necessitam do consumo básico e sonham em mimetizar o
consumo dos ricos – continua danificando a saúde dos ecossistemas e destruindo o equilíbrio
da comunidade biótica.

A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. Além dos artigos de consumo


de luxo, os governos e a iniciativa privada constroem barragens, fazendas para a produção de
commodities agrícolas e produção de gado, fábricas industriais, escolas, hospitais, resorts de
férias, infraestrutura urbana e rural e uma infinidade de empresas que obliteram os habitats
preciosos para a vida natural. A humanidade está destruindo os solos, as nascentes de água
potável, poluindo os rios, lagos e oceanos, além de usar a atmosfera como depósito de carbono
da queima de combustíveis fósseis e do metano da pecuária que transformam o sistema
climático da Terra, gerando o aquecimento global, as mudanças climáticas e todas as suas
consequências. O resultado é um aumento de mil vezes nas taxas de extinção de espécies.

O processo é tão intenso que a maioria dos cientistas, incluindo Wilson, acredita que agora
entramos em uma nova época, definida não por influências naturais, mas por aquelas emanadas
pelos seres humanos: o Antropoceno, que avança enquanto a natureza murcha e morre.
Acontece que eliminar as espécies a uma taxa que supera nossa capacidade de compreendê-las
ou estudá-las, deixa a própria humanidade seriamente comprometida. Há também a questão
moral. Por séculos, os humanos tem agredido as espécies pelas mais triviais das razões, como o

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rinoceronte que está sendo levado à extinção porque seu chifre é valorizado como
medicamento tradicional e afrodisíaco.

Todavia, apesar das péssimas condições ecológicas da Terra, o livro “Half-Earth: Our Planet’s
Fight for Life” não é um panfleto pessimista ou fatalista. Desafiando a sabedoria convencional
predominante, ele sugere que ainda temos tempo para excluir as atividades antrópicas de
metade da Terra e identificar os pontos reais onde a biodiversidade do Planeta ainda pode ser
recuperada e regenerada. Com uma profunda compreensão darwiniana da fragilidade do
Planeta, Edward Wilson clama, com a urgência que poucos assumem, por uma meta atingível
que é dedicar metade da superfície da Terra à natureza e conservar a outra metade que ficaria
com a terra dos humanos.

Como escrevi em outro artigo (Alves, 20/12/2017), preservação e conservação são concepções
que podem ser equacionados em uma visão holística de sustentabilidade ecocêntrica.
Preservação quer dizer proteção integral, ou seja, manter um determinado ecossistema intacto
e sem interferência da ação humana (áreas anecúmenas). Conservação significa exploração das
riquezas naturais, com avaliação de custos e benefícios, garantindo a sustentabilidade para as
atuais e futuras gerações (áreas ecúmenas). Desta forma, é preciso preservar a metade do
Planeta e conservar a outra metade.

Desta forma, não dá para continuar com o vício do crescimento populacional e econômico
(“Growthism”). Somente o decrescimento demoeconômico pode evitar o colapso do
aquecimento global e da 6ª extinção em massa das espécies, preservando a metade do espaço
terrestre para as forças vivas da natureza e a outra metade e utilizando a outra metade de
maneira responsável e de acordo com os princípios da conservação, da regeneração dos
ecossistemas e do equilíbrio homeostático do clima.

Referências:
ALVES, JED. Preservação e conservação da natureza, Ecodebate, 20/12/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/12/20/preservacao-e-conservacao-da-natureza-artigo-
de-jose-eustaquio-diniz-alves/
WILSON, E.O. “A Biologist’s Manifesto for Preserving Life on Earth” Half-Earth Project, Dec 16,
2016 https://eowilsonfoundation.org/e-o-wilson-writes-article-for-sierra-club-magazine-on-
why-we-need-the-half-earth-solution/
WILSON, E.O. Half-Earth: Our Planet’s Fight for Life
https://eowilsonfoundation.org/half-earth-our-planet-s-fight-for-life/

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