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Fraco B-RIC-S, forte RIC: o triângulo estratégico que desafia os EUA e o Ocidente

“Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco
para chegar onde quer”
Confúcio (551 a.C. – 479 a.C.)

Neste momento em que os líderes dos Estados Unidos (EUA) e da Coreia do Norte vão se
encontrar em uma histórica reunião em Cingapura, em 12 de junho (dia dos namorados no
Brasil), não se pode ignorar o papel desempenhado na governança global pelo triângulo
estratégico formado por Rússia, Índia e China (RIC), países que constituem o núcleo central do
B-RIC-S.

O termo BRIC foi inventado, em 2001, pelo economista Jim O' Neill, do banco de investimento
Goldman Sachs, com o objetivo de orientar as empresas e os investidores mundiais como ganhar
dinheiro com os grandes países “emergentes” do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China. Estes
quatro países estão entre aqueles da comunidade internacional com maior população e/ou
maior território.

O termo fez grande sucesso, especialmente no período do superciclo das commodities, que
possibilitou um crescimento da economia dos países “emergentes” em relação aos países
“avançados”. Mas no acrônimo original não havia nenhum país da África, o que era
politicamente incorreto. Então foi incluída a África do Sul (South África) e o termo BRIC ganhou
uma letra a mais, se transformando em BRICS. O incrível é que a ideia dos BRICS tenha sido
criada pelo setor financeiro internacional para fortalecer a hegemonia Ocidental global, mas
pode servir para acelerar a Orientalização do mundo.

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Ou seja, os “alunos” superaram os mestres e os BRICS passaram a ser uma organização
autônoma e atuante na governança internacional, abrindo espaço para a aproximação mais
estreita entre Rússia, Índia e China (RIC), inclusive desafiando a hegemonia dos Estados Unidos
(EUA) e da Europa. Contudo, Brasil e África do Sul (o começo e o fim da sigla BRICS) são dois
países em crise econômica e política e que não possuem a fortaleza do conjunto formado pela
tríade “peso econômico - influência política - capacidade bélica”. Vladimir Putin, Xi Jinping e
Narendra Modi são três líderes fortes e com amplo controle de seus países, enquanto a África
do Sul destituiu o presidente Jacob Zuma e Lula está impedido de disputar as eleições de 2018
no Brasil. Desta forma, o que importa de fato no grupo B-RIC-S são os três países do meio que
são gigantes econômicos, políticos e possuem grande arsenal nuclear.

Desta forma, o grupo RIC (Rússia, Índia e China) é o seleto triângulo formado pelos dois países
mais populosos do mundo e o país mais extenso do globo. Estes 3 países são os grandes atores
da Eurásia – que é a área de território contínuo mais extensa do mundo e que abriga a maior
parte da economia internacional. Dominar a Eurásia é o primeiro passo para o domínio global
do Planeta.

Ironicamente, a Europa começou a dominar a Eurásia depois da queda de Constantinopla,


conquistada pelos Turcos Otomanos, sob comando do sultão Maomé II, em 29 de maio de 1453.
O fim da rota (terrestre) da seda, forçou os europeus à aventura das grandes navegações que
culminou com o domínio dos mares e, posteriormente, com o predomínio econômico do
Ocidente sobre o Oriente.

Nos últimos 250 anos, desde o início da Revolução Industrial e Energética (meados do século
XVIII), a Europa e os países de descendência anglo-saxônica (como Estados Unidos, Canadá,
Austrália e Nova Zelândia) passaram a liderar o desenvolvimento econômico, científico e
tecnológico e assumiram a vanguarda do processo civilizatório, em sua forma pragmática de
acumulação incessante de capital e riqueza e no estabelecimento de um regime político fundado
na democracia liberal. A arquitetura da hegemonia Ocidental foi fundada na argamassa que uniu
as normas econômicas do mercado e os princípios políticos da democracia burguesa.

Mas a hegemonia Ocidental está sendo desafiada pelo triângulo estratégico formado pela sigla
RIC. O grupo Rússia, Índia e China – sob liderança desta última – está reconfigurando um novo
tipo de globalização com base em um projeto diferente do modelo da economia de mercado e
da democracia liberal. Está em gestação o século da Ásia e a Orientalização do mundo.

No manifesto comunista, Marx e Engels, destacaram a força do capitalismo ocidental: “Os


preços baratos das suas mercadorias são a artilharia pesada com que deita por terra todas as
muralhas da China”. Hoje em dia são as mercadorias baratas feitas dentro das muralhas da China
que invadem o mundo. E mais do que isto, a implementação da iniciativa “Um cinturão, uma
rota” (One Belt, One Road – OBOR) pretende criar uma grande infraestrutura mundial para
interligar a China com o mundo e fazer fluir de maneira mais efetiva as mercadorias “Made in
China”, além de permitir a “diplomacia da infraestrutura”, tão requisitada pelos
desenvolvimentistas de todo o mundo e nacionalidades. Além disto a China exporta capitais,
compra empresas e terras pelo mundo afora e ocupa um lugar de destaque na transformação
da matriz energética e na indústria dos carros elétricos. A China também pretende ser a líder da
Revolução 4.0.

Artigo de Helen Davidson (The Guardian, 15/05/2018), mostra como a China utiliza as suas
enormes reservas para emprestar dinheiro para as nações carentes de recursos e infraestrutura.
Ela chama isto de "diplomacia dos livros de dívida". É um novo tipo de dependência que ocorre

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sem ocupação e sem o colonialismo tradicional, mas que mantém os países sob a órbita de
influência de uma espécie de “imperialismo chinês”.

A conquista prioritária chinesa está localizada na Eurásia, que é a área territorial que une a
Europa e a Ásia. Sua extensão territorial é de 54,8 milhões de km² (mais de seis vezes o tamanho
do Brasil) e possui uma população de quase 5 bilhões de habitantes (cerca de dois terços da
população mundial). Quem controlar a Eurásia, controlará o mundo.

Na década de 1950, a aliança entre a União Soviética (URSS) e a China parecia que iria prosperar,
ainda nos tempos de Josef Stalin (1878-1953) e Mao Tsé-Tung (1893-1976). Mas com a ascensão
de Nikita Khrushchov (1894-1971) e a visita do presidente dos Estados Unidos (EUA), Richard
Nixon (1913-1994), à Pequim, a China se afastou da URSS e se aproximou comercialmente dos
EUA. Ao mesmo tempo em que a China se afastava da URSS, a Índia - durante a Guerra Fria –
manteve uma forte relação comercial, militar, econômica e diplomática. Portanto, os três países
que hoje formam o grupo RIC já estiveram em lados opostos no cenário das alianças
internacionais.

Mas com o fim da URSS e o fim da Guerra Fria a conjuntura mudou e a China se aproximou da
Rússia. Recentemente, a China forneceu cobertura diplomática para a Rússia no Conselho de
Segurança das Nações Unidas após a anexação da Crimeia em 2014, enquanto a Rússia foi
expulsa do G8 (G7 mais a Rússia). Moscou e Pequim também trabalharam conjuntamente para
bloquear o apoio da ONU à intervenção contra o regime de Assad na Síria e para se oporem a
mais destacamentos militares dos EUA na península coreana, enquanto buscam laços bilaterais
mais estreitos com respeito a vendas de armas, acordos de energia e desenvolvimento de forças
armadas. Os dois países realizaram exercícios navais combinados no sul da China e nos mares
Bálticos e no Mar do Japão, áreas em que as tensões chinesa e russa com os EUA.

A Rússia forma uma aliança política e militar, de fato, com o Irã e, de forma conjunta, ambos
apoiam o regime de Bashar al-Assad da Síria. A China apoia esta aliança que é fundamental para
a influência na Ásia Central. Embora tenham divergências entre si, o que une Rússia, Irã e China
é que os três estão tentando enfraquecer, cada qual à sua maneira, uma ordem internacional
construída sobre o domínio dos EUA e seus parceiros ocidentais.

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Artigo de Donald Gasper (SCMP, 22/05/2018) mostra que a iniciativa OBOR está conquistando
os países da Ásia central e avança rumo à Europa Ocidental. Em maio, o presidente Xi Jinping se
reuniu com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que estava na China para
participar de uma reunião dos ministros das Relações Exteriores da Organização de Cooperação
de Xangai no final de abril, visando a cooperação da China com a União Econômica da Eurásia -
bloco comercial que foi criado em 2015 entre a Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguizistão
e a Federação Russa – e que tem um mercado integrado de mais de 183 milhões de pessoas e
um produto interno bruto (em termos de paridade de poder de compra) de mais de US $ 4
trilhões.

Um acordo de cooperação comercial e econômica entre a China e a União Econômica Eurásia


foi assinado em maio de 2018. Este acordo é um divisor de águas e um avanço significativo nas
ambições da China de levar as mercadorias chinesas por todo o continente Euroasiático.

Mas o ponto de mutação da correlação de forças no sentido de fortalecer o triângulo de gigantes


é a união da Rússia e China com a Índia. O relacionamento entre Índia e Rússia é profundo e
multifacetado. A Rússia forneceu uma parte significativa do equipamento militar da Índia, está
fornecendo a maioria dos reatores nucleares e continua a desempenhar um papel significativo
no complexo industrial-militar da Índia, incluindo programas de mísseis balísticos e submarinos.

Já a relação bilateral China-Índia é cheia de disputas de fronteiras não resolvidas e da


desconfiança indiana com patrocínio chinês ao Paquistão e a crescente presença marítima da
China na região do Oceano Índico. Mas esses problemas estão sendo gerenciados entre as partes
e podem ser resolvidos nos próximos 10 a 20 anos. Em setembro passado, o primeiro-ministro
Narendra Modi e o presidente chinês Xi Jinping disseram que "buscariam um acordo antecipado
para a questão da fronteira", sendo que os dois países nomearam novos enviados para ajudar a
administrar a disputa. Nos dias 27 e 28 de abril, Narendra Modi, e o presidente chinês, Xi Jinping,
fizeram uma reunião de cúpula informal, na cidade de Wuhan, visando dar um salto de
qualidade na relação bilateral.

No dia 21 de maio de 2018, Narendra Modi viajou à Rússia (em Sochi, no Mar Negro) para se
encontrar com o presidente Vladimir Putin e disse: "A Rússia é a antiga amiga da Índia.
Compartilhamos laços históricos de longa data e o sr. Presidente é meu amigo pessoal e amigo
da Índia". O objetivo da viagem foi reforçar as relações com o maior parceiro comercial da Índia.
Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Índia (MEA) disse que Putin e Modi
concordaram que os dois países "têm um papel importante a desempenhar em contribuir para
uma ordem mundial aberta e equitativa".

No dia 01 de junho, Narendra Modi discursou na Cúpula de Segurança do Instituto Internacional


de Estudos Estratégicos (IISS) na Ásia - O Diálogo Shangri-La (SLD) – que é um fórum de segurança
intergovernamental, realizado anualmente por um think tank independente, o IISS, que conta
com a presença de ministros da defesa, chefes de ministérios e chefes militares de 28 estados
da Ásia-Pacífico. O fórum recebe o nome de Shangri-La, em referência ao Hotel em Cingapura,
onde a Cúpula é realizada desde 2002.

Na Cúpula SLD, o primeiro-ministro indiano tomou uma posição intermediária entre os EUA e a
China. Modi fez eco aos apelos dos EUA por “liberdade de navegação, comércio desimpedido e
solução pacífica de disputas de acordo com o direito internacional” e atacou governos que
colocaram outras nações sob “ônus impossíveis de dívida”, palavras que foram consideradas
como críticas à política chinesa no Mar da China Meridional e em relação aos projetos de
infraestrutura da iniciativa “Um Cinturão uma Rota” (OBOR). Porém Modi nada disse sobre se

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juntar aos EUA, Japão e Austrália - um grupo conhecido como Quad - em um desafio mais pesado
à expansão regional da China. Ao contrário, ele disse que a “Ásia e o mundo terão um futuro
melhor quando a Índia e a China trabalharem juntas em confiança e sensibilidade, sensíveis aos
interesses de cada um”. Portanto, Modi ficou muito mais próximo de Xi e Putin, do que de
Trump.

A Índia tem tido um papel importante na consolidação do grupo RIC. Todos os três países têm
uma forte preferência por uma ordem mundial multipolar e pela diluição da hegemonia
americana. Rússia, Índia e China consideram que o princípio da soberania do Estado é a norma
proeminente das relações internacionais, tem uma inclinação mercantil para suas políticas
econômicas e já cooperam em muitas dessas questões por meio do agrupamento do BRICS.

Enquanto isto, a emergência da China como superpotência coloca diversos desafios à


hegemonia dos EUA. Matéria de Lioman Lima, na BBC (03/06/2018), descreve o plano naval da
China para superar os EUA e controlar o Pacífico até 2030. A matéria cita James Fanell, ex-diretor
de inteligência da Sexta Frota dos Estados Unidos, apresentou em maio diante do Congresso
americano um relatório de 64 páginas em que garante que a China desenvolve atualmente um
plano para ter, em um futuro não muito distante, uma marinha duas vezes maior que a dos
Estados Unidos. Isto desafia os interesses americanos na região, aumentando as possibilidades
da ocorrência da Armadilha de Tucídides.

Aliás, houve um “choque de culturas” nessa 17ª Cúpula de segurança de Shangri-La, de junho
de 2018, quando houve agressões verbais entre membros das delegações americanas e
chinesas. Zhou Bo, coronel sênior e diretor do Centro de Cooperação de Segurança da Comissão
Militar Central da China, rebateu às recentes afirmações do Secretário de Defesa dos EUA, James
Mattis e disse que "São os EUA que estão militarizando o Mar do Sul da China, não a China",
como descrito no artigo de Catherine Wong (04/06/2018).

Artigo de Minxin Pei (06/06/2018) mostra que, embora os EUA ainda não tenham formulado
uma nova política para a China, a direção de sua abordagem é clara. A mais recente Estratégia
de Segurança Nacional dos EUA, divulgada em dezembro passado, e a Estratégia Nacional de
Defesa, divulgada em janeiro, indicam que os EUA veem a China como "poder revisionista" e
estão determinados a conter os esforços chineses na região.

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Mas a política errática do presidente Donald Trump não favorece a manutenção da hegemonia
americana na governança global. Nos dia 8 e 9 de junho, o G7 (grupo formado pelas grandes
economia capitalistas - Estados Unidos, Canadá, França, Reino Unido, Alemanha, Japão e Itália)
se reuniu em Charlevoix, no Canadá, mas o destaque foi o aumento da tensão entre os aliados
do G7. Os outros 6 membros estão insatisfeitos com a saída dos EUA do Acordo de Paris e do
Acordo nuclear com o Irã, além de estarem revoltados com a guerra comercial promovida por
Trump, inclusive os países do NAFTA - Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North
American Free Trade Agreement – em inglês).

Assim, enquanto o G7 (que está virando G6 contra 1) se encontrou no Ocidente, em meio às


disputas internas geradas por Donald Trump, que não assinou o comunicado conjunto da Cúpula
de Charlevoix e ainda acusou o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau de ser fraco e
desonesto, os países asiáticos se encontravam no Oriente, na 18ª cúpula da Organização de
Cooperação de Shanghai (OCS), na cidade chinesa de Qingdao, nos dias 9 e 10 de junho de 2018.
A cúpula reúne os líderes dos estados membros e observadores da OCS, assim como chefes de
organizações internacionais. Será a primeira cúpula da OCS depois de a Índia e o Paquistão
serem aceitos como membros plenos em junho de 2017 na cúpula de Astana, no Cazaquistão.
Depois da expansão, os oito membros plenos da OCS são China, Índia, Cazaquistão, Quirguistão,
Paquistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão. A OCS também tem quatro estados observadores
e seis parceiros de diálogo. Os oito países membros respondem por mais de 60% do território
eurasiático, quase metade da população global e cerca de 30% do PIB mundial (em ppp). O PIB
da OCS é maior do que o PIB do G7.

Além da Declaração de Qingdao, mais de 10 acordos nas áreas de segurança, cooperação


econômica e intercâmbios entre pessoas foram assinados durante a cúpula, que teve a presença
da trinca Vladimir Putin, Narendra Modi e Xi Jinping (os líderes do triângulo estratégico), além
de Hassan Rohani, presidente do Irã. O Espírito de Shanghai de confiança mútua, benefício
mútuo, igualdade, consulta, respeito a civilizações diversas e busca do desenvolvimento comum,
foi reafirmado na Declaração de Qingdao. O presidente Xi Jinping disse que "A cúpula de
Qingdao é um novo ponto de partida para nós. Juntos, vamos içar a vela do Espírito de Xangai,
quebrar ondas e iniciar uma nova viagem para nossa organização".

Conseguir a unidade da OCS, mesmo tendo Índia e Paquistão como membros plenos foi uma
grande conquista. Outro sinal da cooperação crescente entre a China e a Índia, aconteceu no dia
09/06, paralelo à cúpula OCS, quando os dois países decidiram resolver a disputa sobre o rio
Brahmaputra, propenso a enchentes, que flui do Tibete para Bangladesh. Isto pode evitar uma
“guerra da água” em decorrência do degelo dos glaciares do Tibete.

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Antes da 18ª cúpula OCS, no dia 08/06, Vladimir Putin fez questão de visitar Xi Jinping, para
retribuir o fato de que o presidente chinês ter sido o único líder estrangeiro com quem o chefe
de Estado russo celebrou seu aniversário. Nesta reunião, Xi e Putin assinaram acordos de
cooperação, o estabelecimento de um fundo de investimento industrial dotado de 1 bilhão de
dólares e a construção, pelos russos, de quatro centrais nucleares em território chinês. Os dois
países querem estimular também sua relação comercial, que ainda está muito longe de alcançar
a meta oficial de 200 bilhões de dólares para 2020. No encontro bilateral, também discutiram
longamente a situação na península coreana.

Neste xadrez econômico e político, tem destaque a situação da Coreia do Norte e as propostas
para o fim formal da guerra e a “completa desnuclearização” da península coreana. Rússia, Índia
e China acompanham de perto o encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un, enquanto Brasil
e África do Sul (ou outros membros do BRICS) estão distantes dos novos arranjos do leste
asiático. De fato, as negociações avançaram rapidamente no leste asiático e a reunião
intercoreana entre o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e o líder da Coreia do Norte, Kim
Jong-un, no dia 27 de abril de 2018, foi um marco importante para deslanchar o processo de paz
na península e para que ser resolva a questão das armas nucleares da região. Neste meio tempo
Kim Jong-um teve duas reuniões na China, com o presidente Xi Jinping. O acordo da Coreia do
Norte com os EUA pode contribuir para a paz na região, mas também pode acelerar ainda mais
o processo de ascensão do século da Ásia, pois a menor presença de tropas americanas na Coreia
do Sul deixaria um espaço aberto para o avanço da China.

O posicionamento dos EUA tem sido confuso, pois enquanto busca a paz com a Coreia do Norte,
o país rompeu o acordo nuclear com o Irã, se alinharam com os setores fundamentalistas de
Israel. A reunião de 12 de junho, no Hotel Capella, na ilha de Sentosa, em Singapura pode ser
uma grande oportunidade para a paz mundial. O problema é que Trump nunca segue planos ou
conselhos diplomáticos (com aconteceu na reunião do G7 no Canadá). Ao descrever como lidará
com Kim Jong-un, disse: “meu toque, meu sentimento, é o que faço”. Trump disse que qualquer
acordo com o líder norte-coreano será "no impulso do momento". Ou seja, a reunião pode ser
um sucesso ou um fracasso, a depender do humor de Donald Trump. O certo é que Putin, Xi e
Modi (líderes do triângulo estratégico) estão acompanhando de perto o que vai acontecer em
Cingapura e tem grande interesse na estabilização da Coreia do Norte e na menor presença
americana na região.

O fato é que os EUA – com ou sem Donald Trump - estão em declínio militar, econômico e
político na Ásia, enquanto a Casa Branca está dividindo as próprias bases da aliança ocidental.
O aclamado livro do jovem jornalista vencedor do prêmio Pulitzer, Ronan Farrow, “War on
Peace: The End of Diplomacy and the Decline of American Influence” traça um agudo cenário do
colapso da diplomacia americana e a abdicação da liderança global pela postura do “America
First” do presidente Donald Trump. Ele mostra como a diplomacia americana está em declínio
no mundo, o que abre espaço para o engrandecimento da diplomacia do triangulo RIC. No
passado já se falou da “Chimerica” como uma hegemonia compartilhada entre a China e a
América. Mas a “Chimerica” virou uma quimera e a China busca parceiros na Eurásia.

Como já mostrei em outro artigo (Alves, 09/05/2018) a economia internacional está mudando
de eixo e a ordem construída pela Ocidentalização do mundo tende a ser superada por uma
outra ordem centrada na Orientalização do mundo. Como mostra o professor Graham Allison,
toda mudança de hegemonia global cria instabilidade entre as potências emergentes e
submergente. O perigo de uma guerra é definido pelo conceito “Armadilha de Tucídides”, pois

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nos últimos 500 anos, houve dezesseis mudanças de hegemonia global e a guerra estourou em
doze delas.

Talvez a mudança de hegemonia possa ocorrer de forma, relativamente pacífica. Mas, sem
dúvida, o triângulo estratégico que desafia os EUA e o Ocidente tem levado vantagem e está
mais bem posicionado para os desafios do futuro. Se a aliança do grupo RIC prosperar, o Brasil
e a África do Sul (nos BRICS), serão coadjuvantes e, no máximo, vão assistir de perto a mudança
de hegemonia global e a ascensão do século asiático, liderado pela China. Um acordo entre os
EUA e a Coreia do Norte pode ser bom para todo o mundo, podendo aliviar as tensões na Ásia,
mas sem dúvida vai fortalecer o triângulo estratégico, assim como a liderança chinesa. Como
disse Richard Heydarian (09/06/2018): “O que está claro é que a rápida ascensão da China está
redefinindo a ordem asiática como nunca antes nos tempos modernos”.

Referência:
ALVES, JED. Armadilha de Tucídides, Projeto Colabora, RJ, 09/05/2018
https://projetocolabora.com.br/cidadania/os-avancos-incontestaveis-da-china-e-as-
reviravoltas-da-historia/
ALVES, JED. A aliança China-Índia (Chíndia) e a ascensão do século asiático, Ecodebate,
04/05/2018 https://www.ecodebate.com.br/2018/05/04/a-alianca-china-india-chindia-e-a-
ascensao-do-seculo-asiatico-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Mark Landler. Trump Orders Pentagon to Consider Reducing U.S. Forces in South Korea, NYT,
03/05/18 https://www.nytimes.com/2018/05/03/world/asia/trump-troops-south-korea.html
Ronan Farrow. War on Peace: The End of Diplomacy and the Decline of American Influence, 2018
https://www.amazon.com/War-Peace-Diplomacy-American-Influence/dp/0393652106
Helen Davidson. Warning sounded over China's 'debtbook diplomacy', The Guardian,
15/05/2018 https://www.theguardian.com/world/2018/may/15/warning-sounded-over-
chinas-debtbook-diplomacy
Peter Coy, Kevin Hamlin, Keith Zhai, Enda Curran, Andrew Mayeda. The U.S.-China Rivalry Is Just
Getting Started, Bloomberg, 17/05/2018 https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-05-
17/the-u-s-china-rivalry-is-just-getting-started
Donald Gasper. How China’s Belt and Road Initiative can extend its reach to the edge of the
European Union. SCMP, 22/05/2018
http://www.scmp.com/comment/insight-opinion/article/2147129/how-chinas-belt-and-road-
initiative-can-extend-its-reach
The IISS Shangri-La Dialogue The Asia Security Summit
https://www.iiss.org/en/events/shangri-la-dialogue
Lioman Lima. O plano naval da China para superar os EUA e controlar o Pacífico até 2030, BBC,
03/06/2018 http://www.bbc.com/portuguese/internacional-44320969
Catherine Wong. At Western-led summit, Chinese find controversy and a clash of cultures,
SCMP, 04/06/2018 http://www.scmp.com/news/china/diplomacy-
defence/article/2149061/western-led-summit-chinese-find-controversy-and-clash
Mark J. Valencia. South China Sea tensions: does the US have an endgame, beyond war? SCMP,
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leaders-china-russia-iran-and-india-meet
Richard Heydarian. The Shangri-La Dialogue takeaway: China’s rapid rise is redefining the Asian
order like never before, SCMP, 09 June, 2018
http://www.scmp.com/news/china/diplomacy-defence/article/2150001/shangri-la-dialogue-
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Wendy Wu; Kinling Lo. Xi Jinping sends unity message at regional security summit in China after
G7 disarray, SCMP, 10/06/2018
http://www.scmp.com/news/china/diplomacy-defence/article/2150117/xi-jinping-sends-
unity-message-regional-security-summit

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

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