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SUMÁRIO
RESUMO
Este artigo apresenta a percepção de oitos professores de uma escola da rede pública estadual
de Passo Fundo sobre as possibilidades de uma intervenção psicológica na escola. O
problema da pesquisa foi: como os professores de uma escola da rede pública estadual de
Passo Fundo percebem o mal-estar docente e quais as alternativas que podem ser
desenvolvidas para a melhoria da saúde mental, mediante a intervenção do psicólogo escolar?
O objetivo geral foi: entender as percepções dos professores acerca do mal-estar docente e
identificar as principais alternativas de tratamento psicológico. E, os objetivos específicos
foram: identificar as principais doenças psicossomáticas enfrentadas pelos participantes;
entender os anseios e dificuldades enfrentados pelos profissionais no trato em sala de aula;
perceber o que os professores entendem sobre o mal-estar docente; e propor alternativas de
tratamento com a colaboração do psicólogo escolar. A presente pesquisa foi desenvolvida
como um estudo qualitativo do tipo descritivo. Os dados obtidos foram organizados em
gráficos que permitem a descrição da realidade dos oito professores participantes do estudo.
Nesse sentido, buscou-se a classificação por faixa etária, gênero, estado civil, escolaridade,
carga horária, turnos de trabalho, grau de ensino em que lecionam, tipo de profissionais da
saúde que procuraram e tipos de medicação utilizada de forma contínua. As categorias
encontradas, na análise qualitativa, abordam o mal-estar docente na percepção dos
professores; as dificuldades encontradas na escola; os motivos que os levaram a procurar
profissionais da saúde; a participação do psicólogo na escola, e alternativas para a qualidade
de vida.
Palavras-chave: Psicologia escolar. Mal-estar docente. Síndrome de Bournot. Professores.
1
Trabalho de Conclusão de Curso vinculado à linha de pesquisa “Processos e Intervenções em Saúde e
Qualidade de Vida”.
2
Graduando em Psicologia pela Faculdade Meridional (IMED) – Passo Fundo. E-mail:
mfernandoop@hotmail.com.
3
Professora Orientadora.
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ABSTRACT
This article talks about the perception of eight teachers that work at a public school in Passo
Fundo and want to know of the possibilities and limitations of psychological intervention in
school. The research problem was: how teachers of a public school of Passo Fundo perceive
the unrest and which alternatives can be developed to improve mental health, through the
intervention of the school psychologist? The overall objective was: to understand the
perceptions of teachers about teaching malaise and identify the main psychological treatment
alternatives. And, the specific objectives were: to identify the main psychosomatic illnesses
faced by participants, to understand the concerns and difficulties faced by professionals in
dealing in the classroom; realize that teachers understand about teaching malaise, and propose
alternative treatment with the collaboration of the school psychologist. This research study
was developed as a qualitative in nature. The data were organized into charts that allow the
description of the reality of the eight teachers in the study. Accordingly, we sought to
classification by age, gender, marital status, education, workload, shift work, level of
education they are teaching, type of health professionals who have sought and types of
medication used continuously. The categories found in the qualitative analysis address the
malaise in the perception of teaching teachers, the difficulties encountered in school, the
reasons that led them to seek health care professionals, the participation of psychologists in
school and alternatives to the quality of life.
Keywords: Educational psychology. Educational malaise. Syndrome Bournot. Teachers.
1 Introdução
Este estudo enfoca a percepção de oitos professores de uma escola da rede pública
estadual de Passo Fundo sobre as possibilidades de uma intervenção psicológica na escola. A
pesquisa tenta responder a seguinte pergunta: como os professores de uma escola da rede
pública estadual de Passo Fundo percebem o mal-estar docente e quais as alternativas que
podem ser desenvolvidas para a melhoria da saúde mental, mediante a intervenção do
psicólogo escolar? Assim, procura-se descrever como esses professores percebem esse
fenômeno e se têm sugestões sobre a participação do psicólogo escolar em relação à qualidade
de vida.
Pode-se definir o mal-estar docente como “uma resposta ao estresse profissional
prolongado e crônico, e pode ocorrer devido às dificuldades colocadas pela sua profissão”
(STREHL, 2010, p. 25). A manifestação do mal-estar docente se dá através de sentimentos de
angústia, desconforto e impotência, resultantes dos episódios estressantes nas relações
estabelecidas pelo professor, em situações cotidianas de sua prática com colegas, diretores e
alunos.
A hipótese considera que esses professores percebem o mal-estar docente e têm
sugestões sobre a participação do psicólogo escolar na promoção da qualidade de vida. Esta
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[...] não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade, mas como “um estado
de completo bem-estar físico, mental e social”. Nos últimos anos, esta definição
ganhou um maior destaque, em resultado de muitos e enormes progressos nas
ciências biológicas e comportamentais. Estes, por sua vez, aperfeiçoaram a nossa
maneira de compreender o funcionamento mental e a profunda relação entre saúde
mental, física e social.
Com base nessas questões, o objetivo geral é: entender as percepções dos professores
acerca do mal-estar docente e identificar as principais alternativas de tratamento psicológico.
Os objetivos específicos são: identificar as principais doenças psicossomáticas enfrentadas
pelos participantes; entender os anseios e dificuldades enfrentados pelos profissionais no trato
em sala de aula; perceber o que os professores entendem sobre o mal-estar docente; e propor
alternativas de tratamento com a colaboração do psicólogo escolar.
Com o auxílio desse profissional, os professores podem ter uma ferramenta de apoio
no sentido de relatar suas angústias, medos e ansiedades no exercício da profissão docente. O
psicólogo escolar tem o papel de minimizar o estado psíquico dos professores frente às
dificuldades e conflitos existentes no trato com alunos, funcionários e colegas de profissão no
ambiente específico da escola e da sala de aula. Paula e Naves (2010, p. 61) salientam que
“[...] em um cenário de incertezas, os docentes vivem o desafio de moverem-se num contexto
em que tudo o que parecia sólido desmancha-se no ar”. Nesse sentido, pode-se afirmar que a
fala silenciada, o constrangimento, o estresse e todo tipo de mal-estar são reais no dia a dia
dos professores.
Este tema surgiu na disciplina Psicologia do Trabalho II, cursada em de 2009 em que,
naquela ocasião, percebeu-se a ausência de vários professores atuando na escola. No período
de 2011, durante o estágio profissional, observou-se também que, devido a laudo médico
decorrente de problemas psicossomáticos, houve muitas faltas de docentes que tiveram
origem na tentativa de exercer a profissão.
Os problemas psicossomáticos são os que designam alterações funcionais e
enfermidades de origem orgânica provocadas pelas características psicológicas do ser humano
e por influências derivadas do ambiente em que vive. Vale a pena ressaltar que, embora sua
origem esteja relacionada com componentes psicológicos, estes problemas precisam de
tratamento (PROBLEMAS..., 2012).
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O tema torna-se ainda mais relevante devido à quantidade de trabalhos científicos que
enfocam o assunto no âmbito da intervenção psicológica. Nota-se que esses profissionais
possuem dificuldades para trabalhar em sala de aula e que estas não são um caso isolado de
uma escola em especial, mas sim, um fato comum em qualquer ambiente pedagógico.
Justifica-se este trabalho, então, devido à demanda percebida na esfera educacional por
intervenções clínicas e por ações psicossociais na tentativa de diminuição do sofrimento
psíquico em que se encontram os profissionais da educação, principalmente na rede pública
de ensino.
Identifica-se a necessidade de entender o processo que se dá através da entrada do
professor em laudo médico a partir do seu exercício profissional em sala de aula. Este artigo
inicia com a revisão bibliográfica, segue pela descrição dos aspectos metodológicos e, por
último, faz uma interpretação dos dados de forma qualitativa.
2 Revisão bibliográfica
A psicologia escolar possui uma breve história no Brasil com contribuições isoladas,
iniciativas pioneiras e a criação de diversas instituições relacionadas a esta área. Segundo
Cassins et al. (2007), as origens da psicologia escolar iniciam no século XIX, mas somente no
século XX é que se produzem serviços efetivos às escolas, aos professores e aos educandos.
A importância da psicologia escolar está relacionada ao melhor aproveitamento
acadêmico dos educandos, a fim de que este se torne um cidadão produtivo para a sociedade.
Tem como foco o desenvolvimento emocional, cognitivo e social, utilizando-os para abranger
os processos de ensino e de aprendizagem e direcionar a equipe educativa na busca de
aperfeiçoamento deste processo.
Sua participação na equipe multidisciplinar é essencial para respaldá-la com
conhecimentos atualizados na tomada de decisões, como a distribuição apropriada de
conteúdos programáticos conforme as fases do desenvolvimento humano, a seleção de
estratégias de condução da turma, apoio aos docentes para lidar com a heterogeneidade
presente na escola, desenvolvimento de técnicas inclusivas para alunos com dificuldades de
aprendizagem ou comportamentais, programas de desenvolvimento de habilidades sociais e
outros assuntos abordados, nos quais os fatores psicológicos tenham papel fundamental.
Nesse sentido, Cassins et al. (2007, p. 17) afirmam que “[...] o psicólogo escolar
desenvolve atividades direcionadas com alunos, professores e funcionários e atua em parceria
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Assim, as tarefas que o psicólogo escolar poderia realizar junto ao corpo docente são,
segundo Cassins et al. (2007), apoio na definição de conteúdos e teorias de aprendizagem;
promoção de atividades de desenvolvimento profissional; orientação, intervenção e
acompanhamento para dificuldades individuais e grupais; e trabalhos direcionados à
qualidade de vida no trabalho, como relações intersubjetivas, motivação, prevenção de
estresse e os fatores que envolvem o mal-estar docente, mais, especificamente, a Síndrome de
Burnout.
Gardenal (2009, p. 1), preocupada com os motivos que levam os professores a
adoecer, fez “[...] uma pesquisa de fôlego sobre as condições de trabalho e suas repercussões
na saúde dos professores da educação básica, que começou com um levantamento de teses e
livros de toda a produção do país nos últimos dez anos”.
Voltando o olhar para a organização escolar e todo o contexto em que a educação está
inserida, percebe-se que há uma sobrecarga em grande medida aos seus agentes e,
especialmente, aos professores.
Monteiro e Soares (2010, p. 1-2) tiveram como objetivo: “[...] fazer um levantamento
através da literatura científica dos processos de mudanças ocorridas na educação e as
principais consequência destas sobre a atividade docente e a saúde, apresentando a Síndrome
de Burnout que afeta profundamente estes profissionais”.
De acordo com Mazon, Carlotto e Câmara (2008), “Síndrome de burn-out” é um tipo
de resposta prolongada ao estresse emocional e crônico no trabalho, que afeta, principalmente,
profissionais da área da educação e cuidadores. Burnout é um fenômeno psicossocial que
surge como uma resposta crônica ao estresse ocorrido no trabalho, sendo constituído de três
dimensões relacionadas, mas independentes: exaustão emocional, despersonalização e baixa
realização profissional.
O processo de desenvolvimento da Síndrome de Burnout é individual e sua evolução
pode levar anos e até décadas, não sendo percebido em sua fase inicial pelo sujeito que,
geralmente, se recusa a acreditar que está acontecendo algo errado com ele. Os estudos de
Burnout têm focado em variáveis organizacionais e contextuais. No entanto, as pesquisadoras
sugerem que altos níveis de estresse não necessariamente levam o sujeito a desenvolver
Burnout.
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3 Aspectos metodológicos
[...] dá-se então pelo motivo de que ambos os integrantes da relação têm momentos
para dar alguma direção, representando ganho para reunir os dados segundo os
objetivos propostos. Enquanto bom pesquisador, o entrevistador deverá colocar-se
tranquilamente considerando certas situações da fala do informante como elementos
relevantes, falas incompletas e falas obscuras.
Preferiu-se a utilização desse instrumento pelo fato das perguntas, em certo momento,
exigirem respostas com conteúdo livre, em detrimento da totalidade de alternativas fornecidas
pelo investigador, contribuindo para o alcance dos objetivos propostos.
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Dos professores entrevistados, 13 % são viúvos (uma pessoa); 25% são casados (duas
pessoas); 25% são divorciados (duas pessoas) e 37% são solteiros (três pessoas), sendo um do
gênero masculino. Os professores não comentaram espontaneamente se tinham filhos,
somente uma delas disse que tem cinco filhos e que quatro deles se drogam, e outra, que a
chegada da segunda filha provocou depressão pela sobrecarga do trabalho e os deveres
familiares.
Dos oitos professores entrevistados, 13% tem carga horária com mais de 40 horas
semanais na escola (uma pessoa), 37% tem 40 horas semanais (três pessoas) e 50% possui 20
horas semanais (quatro pessoas). É necessário esclarecer que uma das educadoras com 20
horas semanais trabalha mais 40 horas noutra escola. E, outra entrevistada que declara ter 20
horas na escola pesquisada ainda trabalha mais 35 horas, noutra escola. Seis entrevistados
lecionam somente uma disciplina: dois dão aula de Educação Física, dois lecionam Artes, dois
ministram a disciplina de Matemáticas. Entretanto, uma docente dá aulas de Inglês e de
Ensino Religioso, e outra das entrevistadas leciona cinco disciplinas, sendo elas, História,
Filosofia, Religião, Artes e Geografia.
Dos oitos professores entrevistados, 25% atuam no ensino fundamental; 37% atuam no
ensino médio, e 38% atuam tanto no ensino fundamental como no médio/Eja. Então, dois
professores lecionam nos primeiro e últimos anos do ensino fundamental, três professores o
fazem nos três anos do ensino médio regular, e três professores trabalham no ensino
fundamental e no ensino médio da educação de jovens e adultos.
Os docentes manifestaram que o mal-estar pode ser causado por diversos motivos. Os
professores falaram da sobrecarga de trabalho e a pressão da escola; da desmotivação pessoal
e da frustração; da falta de incentivo ou valorização social.
De acordo com Villela e Silva (2008, p. 111):
Isso se percebe na fala dos próprios docentes quando dizem: “é a situação de pressão,
estresse e sobrecarga (Luísa)”; “sobrecarga de trabalho (Marta)”; “excesso de carga horária
(Ivone)”. Uma da docente fala também sobre o estresse, mas, este tema será abordado mais
adiante ao falar dos motivos que levaram os professores a buscar atendimento na área de
saúde. “O estresse resulta de nossa reação psicológica e física às mudanças potenciais com
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que convivemos atualmente. A mente reage com ansiedade, preocupação ou medo. O corpo
reage secretando substancia químicas e hormônios.” (WEISS, 2006, p. 9).
Três professores comentaram que se sentem desmotivados: “falta de vontade de
trabalhar” (Marta); “desânimo” (Manuela); “baixa motivação para o trabalho” (Simone).
Nesse sentido, Strehl (2010, p. 120) escreve:
[...] o descaso com o professor da rede estadual está aumentando, os alunos estão
desinteressados, o número de colegas doentes, física e mentalmente, está cada vez
maior; a remuneração é baixa, não existe apoio psicológico para o professor, existem
pais ausentes, alunos, de modo geral, agressivos, desanimados, sem respeito pelo
professor; falto incentivo para o aperfeiçoamento do professor, falta material
didático, especialmente em língua estrangeira; não tem livros, não tem recursos, e o
material é caro para o professor adquirir de seu próprio bolso.
Além da motivação interna, também falta motivos externos que contribuam com a
situação vivida pelos docentes. Eles comentaram: “temos má remuneração” (Luisa); “falta de
valorização” (Ivone); “falta de incentivo” (Simone).
Sobre este assunto, Strehl (2010, p. 120) escreve que é:
As crises de pânico são intensas crises de ansiedade, nas quais ocorre importante
descarga do sistema nervoso autonômico, produzindo sintomas como: náuseas,
taquicardia, e outros. As crises sejam recorrentes, com desenvolvimento de medo de
ter novas crises, preocupações sobre possíveis implicações da crise (perder o
controle, ter um ataque cardíaco ou enlouquecer), alem de sofrimento subjetivo
significativo. A síndrome do pânico pode ou não ser acompanhada de agorafobia.
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Somente uma professora falou de frustração. Isso é bastante relevante. Ela disse que
estava se sentindo desiludida, com objetivos não alcançados que “vai deixando a gente
frustrada” (Maria). Os autores que estudam o mal-estar já comprovaram este fato como se
observa na citação abaixo realizada por Strehl (apud MARCHESI, 2010, p. 28):
No próximo tópico, as dificuldades enfrentadas pela escola são relatadas pelos sujeitos
da pesquisa.
Percebe-se que a autoridade já não representa uma ordem a ser seguida, esta é
questionada e desautorizada, e que questionamento a ser feito é como exigir respeito
à autoridade de criança e adolescente que não respeitam. Essa é uma forma das
indagações importantes, uma vez que pais têm problemas para exercer seu papel de
autoridade diante dos filhos, levando concomitantemente à falta de limites e
respeito.
falaram que um dos motivos que as levaram a procurar atendimento na área de saúde foi o
estresse. Seyle foi o primeiro médico a falar no assunto, para definir um conjunto de situações
que a pessoa vive para se adaptar ao mundo.
Segundo Rodrigues e França (2010, p. 117): “Na verdade, a todo instante estamos
fazendo movimentos de adaptação, ou seja, tentativas de nos ajustarmos às mais diferentes
exigências, seja do ambiente externo, seja do mundo interno [...]”. Ainda, soma-se a inclusão
de pessoas com necessidades especiais que precisam de atendimento personalizado como
vemos na fala seguinte: “Muitas turmas com necessidades” (Simone).
Observa-se, na fala dos professores, que a sobrecarga de trabalho também provoca
dificuldades de conciliar vida pessoal e serviço: “O que me levou a procurar ajuda clínica foi
o fato de sobrecarga das horas de trabalho com o nascimento da segunda filha” (Luiza);
“Excesso de responsabilidade com a escola e com a vida” (Maria). O caso de Manuela é
diferente porque ela falou da discriminação dos colegas de trabalho “por causa dos quatros
filhos que são usuários de drogas e outros problemas familiares.” Dois professores
comentaram de modo amplo em “problemas na escola e com as turmas, indisciplina, falta de
respeito”. Ao fazer a entrevista percebeu-se o cansaço no rosto desses profissionais podendo
prejudicar a relação com os alunos.
Segundo Codo e Vasques-Menezes (1999, p. 242):
As relações interpessoais são cortadas, como se ele estivesse em contato apenas com
objetos, ou seja, a relação torna-se desprovidas de calor humano. Isso acrescido de
uma grande irritabilidade por parte do profissional, este quadro torna qualquer
processo de ensino-aprendizagem, que se pretenda afetivo, completamente inviável.
Por um lado, o professor torna-se incapaz do mínimo de empatia necessária para a
transmissão do conhecimento e, de outro, ele sofre: ansiedade, melancolia, baixa
auto-estima, sentimentos de exaustão física e emocional.
Não somente problemas psicológicos foram relatados pelos docentes. Três apresentam
também problemas físicos, havendo uma possibilidade de somatização. Marta falou da
disfonia “dificuldade de falar e falta da voz”. Os órgãos envolvidos na produção da fala e
linguagem não têm como função precípua produzir a voz; todos se incubem de funções mais
essenciais à sobrevivência, como a respiração, a mastigação e a deglutição; nem mesmo a
laringe, trecho pequeno do tubo de passagem do ar inspirado e expirado, tem a função
exclusiva de produzir a voz (RIBEIRO, 2010, p. 59). Os profissionais de sala de aula que
seus transtornos de voz têm relação com o trabalho, como laringite crônica, pólipos, nódulos e
câncer estão sendo mais prontamente atendidos e melhoraram o acesso aos serviços médicos
para tratar os transtornos da voz.
Ivone possui variação na pressão por causa do estresse. Ela disse: “tenho pressão alta,
enxaqueca, depressão e pânico”. De acordo com Weiss (2006, p. 10): “A epinefrina e a
norepinefrina aumentam a pressão arterial e a frequência cardíaca, desviam o sangue do
sistema gastrointestinal para os músculos e aceleram o tempo de reação”. Lucas, pelo mesmo
motivo, se queixou de “dor nas mãos, tendinite no braço direito, dor nas costas e braço
esquerdo”. Para o mesmo autor (WEISS, 2006, p. 11): “Uma ativação em longo prazo do eixo
HPA4 causa doenças crônicas nocivas, físicas e psicológicas, como problemas cardíacos,
úlceras, obesidade, abuso do uso de drogas, depressão, enfraquecimento do sistema
imunológico, entre outras”.
O terceiro motivo foi dito por três professores e se refere a problemas pessoais e
familiares sejam por causa de doença ou crise financeira: “Problemas pessoais de saúde e
familiar” (Lucas); “Problemas financeiros que atingem muito” (Maria); “Problemas
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O circuito completo de secreção de substâncias químicas e hormônios é conhecido o eixo HPA, esta sigla
indica hipotalâmico-pituitário-adrenal.
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familiares, cinco filhos, sendo que o filho caçula não usa drogas, e os outros são usuários No
ano de 2000, tive dificuldades financeiras e também por discriminação dos colegas”
(Manuela). Os docentes falam dos seus problemas e da baixa autoestima que lhes produz
serem tão mal remunerados.
Isto é reforçado por três entrevistados que afirmam ver o psicólogo escolar como um
suporte a professores e alunos concomitantemente: “Sim, acho que toda escola teria que ter
um psicólogo para contornar a situação, e prestar atendimento aos professores e alunos”
(Tânia); “Sim, o psicólogo, na escola, é muito importante. Ajudaria os alunos e os
professores” (Manuela); “Sim, um psicólogo na escola poderia ajudar muito os alunos e
professores, que o psicólogo auxiliar as dúvidas dos alunos e professores, esclarecer dando
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5 Considerações finais
produto do estresse causado pelos anseios e dificuldades enfrentados em sala de aula, mas não
só, também incluem-se problemas familiares e financeiros.
Finalmente, ante o desafio de propor alternativas de tratamento com a colaboração do
psicólogo escolar, sugere-se que seja realizado um projeto que, além de definir atividades de
apoio educacional ou atualização pedagógica, possa propor outros momentos específicos de
intervenção para tentar resolver dificuldades individuais e grupais que contribuam com o
bem-estar dos professores e com a convivência entre eles e seus alunos. Também, seria
preciso agir mais firmemente em relação aos alunos mais vulneráveis, porque, certamente, o
acompanhamento individual ou grupal de contenção da violência, na escola, e de prevenção
ao uso de drogas, poderá ajudar no momento em que acontecem as crises para posterior
encaminhamento ao profissional competente. Isto poderá refletir na relação entre os alunos e
dos alunos com os professores facilitando o convívio de todos.
Quanto à experiência como pesquisador, foi possível perceber que, além de conhecer
mais de perto as demandas que há dentro da escola, também foi importante entender as
necessidades dos professores e atrever-se a sugerir algumas participações mais efetivas do
psicólogo escolar na rede pública estadual. Um mundo até agora, completamente,
desconhecido.
REFERÊNCIAS
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Nome:
Nome fictício:
Idade:
Sexo:
Religião:
Estado civil:
Escolaridade:
Magistério:
Graduação:
Pós-graduação:
Atividade:
Naturalidade:
Endereço:
Bairro;
Telefone:
A ENTREVISTA:
Local:
Peculiaridade do local:
Carga horária semanal:
Turnos de trabalho:
Níveis de escolaridade ministrados:
Disciplinas ministradas:
Número de alunos atendidos:
Atitudes do entrevistado:
Observações complementares:
Duração da entrevista:
Questões para os entrevistados: