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Jornal Defesa e Relações Internacionais Page 1 of 12

2007/03/22
O CONCEITO DE GEOPOLÍTICA: UMA APROXIMAÇÃO HISTÓRICA E EVOLUTIVA (1ª PARTE)
Eduardo Silvestre dos Santos

1ª Parte: A Geopolítica até à 2ª Guerra Mundial

Introdução

Apesar do termo “Geopolítica” ter sido utilizado pela primeira vez pelo
cientista político sueco Johan Rudolph Kjellen apenas no final do século
XIX, vários intelectuais importantes tinham já escrito sobre a influência
da geografia na conduta da estratégia global das nações, e os confrontos
pelo domínio de territórios e populações perdem-se na neblina dos
tempos.

Merecem referência o filósofo chinês Sun Tzu (séc. VI AC), Aristóteles


(séc. IV AC) e Ptolomeu (séc. II), entre outros. No séc. XIV, o árabe
(tunisino) Ibn Khaldoun desenvolveu um pensamento próximo do de
Ratzel e Kjellen, considerando haver uma analogia entre a vida dos
seres vivos e dos Estados: os impérios têm vida própria , nascem,
crescem, atingem a maturidade, declinam e morrem. Jean Bodin (séc.
XVI), francês determinista, salientou a influência do clima, factor
dominante para os percursores, mas acrescenta condições geográficas
físicas na formação do carácter do homem, às quais se devem adaptar
as diferentes formas de sociedade e de governo. A natureza física e
ambiental contribui para a formação fisiológica e espiritual dos homens,
mas também para as formas de organização social. A escola alemã de
geógrafos do séc. XVIII (Humboldt, Ritter, etc.) defendeu que a
morfologia do solo exerce uma influência determinante sobre o clima e
que estes dois factores, associados, pesam sobre a vida orgânica. Daqui
uma ligação estreita entre a geografia terrestre e a biologia, bem como
sobre o comportamento das populações, com reflexo na natureza do
Estado.

No séc. XIX, dois britânicos, Charles Darwin, biólogo e naturalista,


defensor da selecção natural, e Herbert Spencer, biólogo e filósofo,
defensor da tese da progressiva diferenciação dos seres vivos pela
capacidade de adaptação ao meio envolvente, o que favorecia o triunfo
dos melhores, traduzido no conceito de “Darwinismo social”, deram
também um contributo indirecto. As suas teorias foram transpostas para
a evolução das sociedades e dos Estados. Ratzel encontrou aqui
excelentes argumentos para as suas teorias.[1]

Por outro lado, grandes chefes militares houve na antiguidade que, pela
forma como integraram as suas campanhas militares na construção de
grandes projectos políticos, revelaram um pensamento geoestratégico
com finalidades geopolíticas: Dario, imperador persa (séc. VI/V AC),
Alexandre Magno (séc. IV AC), o cartaginês Aníbal (séc. III/II AC), Júlio

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César (séc. I AC), Carlos Magno (séc. VIII DC), Genghis Khan (séc. XIII)
e Napoleão (séc. XVIII/XIX).

O termo “Geopolítica” surgiu na era da rivalidade imperialista entre 1870


e 1945, quando os impérios em competição travavam inúmeras guerras,
gerando, alterando e revendo as linhas de poder que eram as fronteiras
do mapa político mundial.[2] No início do século XX, Kjellen e os outros
pensadores imperialistas entendiam a Geopolítica como a parte do
conhecimento imperial ocidental que lidava com a relação entre a Terra
física e a política. Durante os últimos anos da guerra-fria, a Geopolítica
foi utilizada para descrever o confronto global entre os EUA e a URSS
pela influência e o controlo sobre os Estados e os recursos estratégicos
mundiais. Henry Kissinger ajudou a fazer reviver o termo nos anos
1970’s, usando-o como um sinónimo para o jogo de equilíbrio de poder
entre as superpotências em todo o mapa político mundial.

Existem inúmeras definições de “Geopolítica”. Aqui se deixam algumas


que, na opinião do autor, melhor reflectem e abrangem o pleno âmbito do
termo:

Kjellen definiu-a como o “estudo da influência determinante do ambiente


na política de um Estado” e como “Ciência do Estado enquanto
organismo geográfico, tal como se manifesta no espaço”. Para N.
Spykman, era “o planeamento da política de segurança de um país em
termos dos seus factores geográficos”.[3] Samuel Cohen define-a como
“a análise da relação entre o poder político internacional e o meio
geográfico”.

Pierre Gallois considera-a como o “estudo das relações que existem


entre a condução de uma política externa e o quadro geográfico em que
se exerce”. Josué de Castro, por seu lado, entende que “estabelece as
correlações existentes entre os factores geográficos e os fenómenos
políticos, a fim de demonstrar que as directrizes políticas não têm sentido
fora dos quadros geográficos”.[4]

Mais modernamente, G. O’Tuathail afirma que é “o modo de relacionar


dinâmicas locais e regionais com o sistema global como um todo”[5] e,
em conjunto com J. Agnew, o mesmo autor escreve que a Geopolítica
estuda ”a espacialização da política internacional por potências
hegemónicas” e a “a geografia da política internacional, particularmente a
relação entre o ambiente físico (localização, recursos, território, etc.) e a
conduta da política externa”.[6]

A Geopolítica promove um modo de pensar espacial que organiza


diferentes actores, elementos e locais, simultaneamente, num tabuleiro
de xadrez global. Tem uma marca multidimensional global – quer no
sentido geográfico, quer no conceptual – e surge mais visual do que
verbal, mais objectivo e independente, do que subjectivo e ideológico.
Num mundo em encolhimento e em aceleração, de intensa compressão
espaço-tempo forjada pela revolução nas telecomunicações e pela

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globalização das redes económicas, o desejo de perspectivas que


ofereçam uma “visão intemporal” é mais forte do que nunca.

Na “nova ordem mundial” de hoje, as relações pós-guerra fria entre


geografia, poder e ordem mundial variam consideravelmente. Para
alguns, o fim da guerra-fria permitiu a emergência de uma nova ordem
geopolítica dominada por questões e temas geo-económicos, um mundo
onde a globalização da actividade económica e fluxos comerciais, de
investimento e de mercadorias globais estão a refazer Estados, a
soberania e a estrutura geográfica do planeta. Para outros, a “nova
Geopolítica” descreve um mundo já não dominado por lutas territoriais
entre blocos rivais, mas por problemas transnacionais novos, tais como o
terrorismo, a proliferação nuclear e o choque de civilizações. Para outros
ainda, a relação entre a política e a Terra é mais importante do que
nunca, já que países e povos lutam contra a degradação ambiental, o
esgotamento de recursos, a poluição transnacional e o aquecimento
global. Existem, de facto, várias visões da “nova Geopolítica”.

Para Gearóid O’Tuathail, podem definir-se três períodos históricos na


Geopolítica: o primeiro vai do início do pensamento geopolítico,
entrelaçando visões geopolíticas com estratégias imperialistas e com
conceitos de supremacia rácica branca, até à 2.ª Guerra Mundial; o
segundo abarca o período da guerra-fria, como uma estrutura da ordem
mundial e um conjunto de práticas e discursos geopolíticos; o terceiro
engloba um conjunto de debates geopolíticos acerca da “nova ordem
mundial” proclamada pelo Presidente Bush durante a Guerra do Golfo,
onde se juntam também visões ambientais e novas correntes de
pensamento tais como a “anti-geopolítica” e a “geopolítica crítica”.[7]

Por seu lado, John Agnew considera ainda um período anterior à


“geopolítica imperialista”, entre 1815 e 1875, a que chamou “geopolítica
civilizacional”. Ao período da “geopolítica imperialista” de O’Tuathail,
Agnew chama “geopolítica naturalista”.[8]

A grande ironia sobre a teoria geopolítica é que ela foi sempre uma
forma de análise bastante ideológica e politizada. De Ratzel a Mackinder,
de Haushofer a Spykman, nunca foi uma actividade objectiva e
desinteressada, mas sim uma parte da filosofia política e das ambições
daqueles intelectuais e figuras públicas. Enquanto que as formas de
escrita variaram consoante os autores, a teoria geopolítica teve sempre
um propósito comum: a produção de conhecimento que ajudasse a arte
de governar e de promover o poder do Estado.

A Geopolítica Civilizacional

A política internacional neste período era liderada por um “convénio


europeu”, no qual nenhum estado impunha a lei aos outros dentro da
Europa e em que o domínio económico britânico dominava no resto do
mundo. Foi no contexto político-económico de 1815-1875 que a
“geopolítica civilizacional” se estabeleceu. O seu elemento principal era
um comprometimento ao carácter único da civilização europeia, uma

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crença que as raízes da distinção europeia se encontravam no seu


passado, um sentimento que, apesar de outras culturas poderem ter
passados e obras nobres, tinham sido eclipsadas pela Europa. O resto
do mundo estava à disposição da Europa para a utilização desta, porque
a sua história estava destinada à grandeza.

A dicotomia estabelecida entre a Europa e os outros continentes era


reforçada pela combinação frequente de uma “terra-mãe” original com
uma periferia ou fronteira, que caracterizava a Espanha (nas Américas),
a Inglaterra (na América do Norte), os EUA (para lá das terras habitadas
da Costa Leste) e a Rússia (na Sibéria). Diferentemente dos impérios
europeus, nos quais a “terra-mãe” estava separada da maior parte das
suas colónias por oceanos, nos EUA e na Rússia tal separação clara não
existia.

Nos EUA, à medida que a colonização europeia se espalhava para o


interior, no início do século XIX, a expansão da fronteira tornava-se o
símbolo daquilo que se tornou na justificação predominante da “missão
providencial da América” em espalhar os seus ideais e instituições para
lá das suas fronteiras, “um poder mais alto do que o terrestre” que tinha
guiado a sua expansão, que tinha seleccionado aquele “grande país” e o
impelia para a frente.

Na Europa, e onde quer que os europeus estivessem, os estados


ligavam-se como entidades territoriais limitadas que se
contrabalançavam, como num sistema mecânico de pesos e equilíbrios.
Fora deste sistema existia um espaço ilimitado de formas políticas
primitivas ou decadentes que eram candidatas a ser conquistadas.[9]

A Geopolítica Imperialista

A Geopolítica, como forma de poder e de conhecimento, nasceu na era


de rivalidade imperial entre 1870 e 1945, quando os impérios em
competição combatiam várias guerras, duas das quais foram mundiais,
alterando e rearranjando as fronteiras do mapa político mundial. Era uma
época de expansionismo colonial e modernização industrial, de
tremendas conquistas tecnológicas, de turbulência social e
transformação cultural.

À medida que o “convénio europeu” se foi desfazendo nos anos 1870’s,


surgiram dois grupos antagonistas de estados. Um, liderado pela Grã-
Bretanha e pela França, com discreto apoio americano, defendia a
coexistência do comércio livre e do imperialismo. O outro, cujo principal
membro era a Alemanha recém-unificada, era revisionista, preocupado
em construir os seus próprios impérios e desafiar o domínio financeiro
britânico. Por volta de 1890, esta divisão tinha-se tornado na maior
característica da política mundial. A sua base assentava parcialmente no
crescimento exponencial da economia alemã, mas também no intenso
nacionalismo da época.

O eixo principal da acumulação de capital encontrava-se na estrutura


“terra-mãe”-colónias do império britânico e nas relações Grã-Bretanha-

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EUA. O desafio para a Alemanha e para os outros revisionistas, como o


Japão e a Itália, era construir uma alternativa a esta estrutura. Isto era
impossível sem enfrentar militarmente a Grã-Bretanha e os seus aliados.

Neste estádio de crescimento do capitalismo mundial, a centralização


britânica era vista pelas elites políticas europeias como servindo não só
os interesses nacionais, mas também um interesse “global”. Com o
sucesso das economias da Alemanha e dos EUA, a economia britânica,
baseada em tecnologias mais antigas, enfrentou um dilema: por um lado,
enfrentava o aumento da competição nas mercadorias confeccionadas e,
por outro, tinha alguma vantagem sobre os outros no acesso ao resto do
mundo. Consequentemente, após 1875, a Grã-Bretanha afastou-se da
Europa e dos EUA, e virou-se para o seu império e para aquelas regiões
do mundo onde a sua hegemonia era mais segura. Esta situação levou
ao colapso final do “convénio europeu”, já de si ameaçado pelo emergir
de novos Estados na Europa, como a Alemanha e a Itália, e o
aparecimento de um sistema global de impérios em competição, quando
a Alemanha, a França, o Japão e os EUA, seguiram as pisadas
britânicas.

Um dos elementos mais importantes elementos da Geopolítica


Imperialista foi a separação entre povos imperiais e colonizados, apoiado
na visão que alguns países europeus se tinham tornado mestres da
natureza, como resultado de uma aptidão superior num processo natural
de evolução. Este princípio da selecção natural, “a sobrevivência dos
mais aptos”, foi assim importado de Darwin para a Geopolítica. Estas
ideias foram partilhadas internacionalmente, não só pela Alemanha. Tal
sucedeu com a Grã-Bretanha na Irlanda e, na Europa em geral, os
Judeus tornaram-se particularmente vulneráveis ao crescimento do
“racismo científico”.

Mesmo antes do termo “Geopolítica” ter surgido, nos finais do século


XIX, houve um importante número de intelectuais que escreveram sobre
a influência da geografia na conduta da estratégia global. O historiador
naval americano Alfred Mahan (1840-1914), por exemplo, escreveu
sobre a importância da geografia física – massa territorial e relevo físico
relativamente ao mar – no desenvolvimento do poder marítimo por
Estados em expansão, numa época em que a propulsão a vapor, os
submarinos e o armamento associado sofreram uma evolução técnica
considerável. O caminho para a grandeza nacional, para o marinheiro
profissional Mahan, passava pelo expansionismo naval, em que realçava
a importância de obter bases navais além-mar. Mahan teve grande
influência na ascensão dos EUA no início do século XX, derrotando o
Império Espanhol nas Caraíbas - ocupando Porto Rico, as ilhas Virgens,
controlando Cuba e Hispaniola -, intervindo no Panamá para fomentar a
sua independência da Colômbia, e adquirindo as Filipinas como colónia,
bem como as ilhas Hawai, Samoa, Guam, Wake e Midway.

As ideias de Mahan tiveram repercussão na ideologia Darwinista social


de Theodore Roosevelt e Henry Cabot Lodge. Roosevelt acreditava,
como outros imperialistas da sua época, na supremacia da raça branca,

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com os anglo-saxãos no topo. O seu racismo, ao contrário do


posteriormente exaltado pelos nazis, era mais civilizacional e etnográfico
do que biológico e genético. Em 1905, após a sua eleição para a
presidência, Roosevelt formalizou o seu pensamento geopolítico num
“corolário” à “Doutrina Monroe” (1823), onde se afirmava que as
potências europeias não deviam “estender o seu sistema a qualquer
porção deste hemisfério”. Roosevelt acrescentou que o hemisfério
“americano” era uma reserva especial dos EUA, como o estado mais
civilizado e superior do hemisfério, tinha o direito, mesmo a obrigação, de
“exercer um poder de polícia internacional”, para manter países
conflituosos e incivilizados na ordem. Outra personalidade que defendia
a intervenção nos assuntos de países imaturos e desregrados para impor
a lei e restaurar a disciplina, foi Rudyard Kipling, que lhe chamou “o fardo
do homem branco”.

O geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) escreveu também sobre


a importância da relação entre o território e a nação no desenvolvimento
da força imperial do poder nacional. Ratzel, Darwinista social,
considerava o Estado como sendo um organismo vivo lutando pela
sobrevivência com outros Estados. Como um organismo vivo, o Estado
necessitava constantemente de se expandir ou enfrentar a decadência e
a morte. Ratzel considerava a nação e o território alemães superiores a
todos os outros. A Alemanha devia expandir-se à custa de estados
“inferiores” para conseguir mais “espaço vital” para si.

Como todos os organismos vivos, um Estado tinha de lutar contra o


ambiente, isto é, outros estados legítimos e “espaços vazios”, para
sobreviver. Na Rússia, os Urais foram progressivamente descartados
como uma barreira geográfica. Uma corrente intelectual influente via a
Rússia como “uma entidade geo-histórica, geopolítica, geo-cultural, geo-
etnográfica e mesmo geo-económica transcendente”.

Outro elemento na visão do Estado como entidade orgânica, era a ideia


que tinha “fronteiras naturais”. Isto implicava, primeiro de tudo, que as
fronteiras históricas não eram necessariamente as correctas. O conceito
nazi de “espaço vital”, adoptado de Ratzel, justificando a expansão
territorial alemã na Europa Central e a “liquidação intelectual” da Polónia,
tinha a sua base nesta noção de fronteiras naturais.

Esta lógica nunca se estendeu ao mundo colonizado. Tal é


eloquentemente ilustrado no caso de África. No início da sua exploração,
a conquista e as regras coloniais impuseram-se rápida e
devastadoramente. No Congresso de Berlim, as potências europeias
acordaram a demarcação das suas esferas de influência em África. Os
20 anos seguintes produziram fronteiras que tinham muito pouca relação
com os padrões culturais ou económicos subjacentes. Noutras regiões
não foram menos arbitrárias, se bem que menos precipitadas. Ainda hoje
estes problemas continuam a assombrar e a agitar estas regiões.

Mas o tema do expansionismo imperial esteve também presente nos


textos de Halford Mackinder e Karl Haushofer, entre outros, pois é no

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discurso imperialista que a Geopolítica emerge como conceito e prática,


no início do século XX. Por outro lado, de 1880 a 1914, uma série de
mudanças radicais na tecnologia e na cultura, criou novos modos de
pensar sobre o espaço e o tempo. Inovações como o telégrafo, o
telefone, o automóvel, o cinema, a rádio e a linha de montagem,
comprimiram a distância, truncaram o tempo e ameaçaram a hierarquia
social.

Halford Mackinder iniciou a sua carreira ensinando Geografia na


Universidade de Oxford em 1887, graças à influência da Royal
Geographical Society (RGS). Mackinder possuía ideias seguras sobre o
papel que o conhecimento geográfico poderia desempenhar no combate
ao relativo declínio do Império Britânico, ilustradas na difícil vitória na
“Guerra dos Boers” (1899-1902). Na sua opinião, a Geografia podia
também educar os líderes do Império sobre os factores que era
considerava terem condicionado a história humana e a condução da
estratégia.

Em 1904, deu uma conferência na RGS precisamente sobre esse tema,


“o pivot geográfico da História”. Poucos líderes políticos o ouviram, mas
esta conferência estava destinada a torná-lo famoso décadas mais tarde
quando, durante a 2.ª Guerra Mundial, os britânicos e americanos
descobriram a Geopolítica alemã e a relevância que dava às ideias de
Mackinder. Esta conferência é importante na história da Geopolítica por
três razões: pela sua visão global; pela sua divisão do globo em vastas
faixas de territórios (área pivot, crescente interno, etc.); e pela sua tese
sobre a influência condicionante da geografia no curso da história e da
política, as “causas geográficas da história”.

No núcleo desta teoria está a relação entre a geografia física e a


tecnologia dos transportes. Na sua opinião, existiam três épocas da
história, cada uma definida pela “mobilidade do poder”. Entrava-se então
na terceira época, em que acontecimentos numa parte do globo teriam
um efeito ondulatório em todo ele. De um ponto de vista imperial
britânico, os caminhos-de-ferro transcontinentais estão a transformar as
condições do poder terrestre, e esse efeito assume importância vital na
heartland euro-asiática, ameaçando alterar o equilíbrio de poder entre o
poder terrestre (a Europa continental, nomeadamente a Alemanha) e
poder marítimo (a Grã-Bretanha) na Eurásia. O grande temor de
Mackinder era uma aliança entre a Alemanha e a potência do heartland,
que ele identificava como o Império Russo. Os líderes políticos do
Império Britânico deveriam impedir a todo o custo essa eventual aliança.

Em 1919, após a 1.ª Guerra Mundial, Mackinder faz uma recomendação


estratégica ainda mais explícita aos líderes vitoriosos. Renomeando a
Eurásia como “Ilha –Mundo”, fez a declaração que o tornou famoso:

Quem governar a Europa Oriental, domina a heartland;

Quem governar a heartland, domina a “Ilha-Mundo”;

Quem governar a “Ilha-Mundo, domina o Mundo!

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O que necessitava ser evitado era concretamente o expansionismo


alemão na Europa Oriental e a sua aliança com o Império Russo, que se
tornou na URSS após a guerra. Negligenciou a importância da
organização no desenvolvimento do poder, esqueceu as implicações
revolucionárias do poder aéreo emergente e, acima de tudo, subestimou
o poder nascente dos EUA e sobrestimou o significado estratégico dos
vastos espaços do heartland russo. As suas ideias tiveram pouco
impacto na política externa britânica enquanto viveu, mas ganharam a
admiração de Karl Haushofer e dos seus seguidores.

O sentimento de supremacia branca que era comum na prática das


geopolíticas imperialistas do Reino Unido e dos EUA dessa época,
também encontrou expressão na Alemanha, numa escola geopolítica
criada a seguir à 1.ª Guerra Mundial por Karl Haushofer (1869-1946).
Haushofer era um general reformado após a 1.ª Guerra Mundial que se
tornou geógrafo aos 50 anos. Esteve no Japão entre 1908 e 1910, onde
admirou a sua unidade nacional, a sua disciplina, a sua orientação
militarista e a obediência e devoção cegas com que o povo seguia os
seus líderes.

Durante a 1.ª Guerra Mundial conheceu Rudolf Hess na frente oriental.


Destroçado pela derrota da Alemanha e pelos termos do Tratado de
Versalhes – afirmou posteriormente que a Alemanha tinha perdido a
guerra porque os seus líderes não tinham estudado Geopolítica –,
conseguiu um lugar de professor de Geografia na Universidade de
Munique, onde Hess foi seu aluno e onde fundou o “Jornal de
Geopolítica” em 1924. Nos anos 20’s, após o putsch de 1923, foi visitá-lo
à prisão de Landsberg, onde Hess o apresentou a Adolf Hitler. As
sanções impostas à Alemanha em Versalhes, uma potência mundial
natural com uma população grande e avançada, que lhe retiraram parte
do território e as colónias, fê-lo crer que a necessidade de “espaço vital”
era maior do que nunca.

Tal como Mackinder na Grã-Bretanha, Haushofer cria que os líderes


deviam aprender as relações que a Geografia tinha com a política
internacional. Misturando o Darwinismo social de Ratzel, seu herói
intelectual, e as ideias de Mackinder, que admirava, reduziu a
complexidade das relações internacionais a algumas leis e princípios
básicos que promoveu constantemente. A política internacional era uma
luta incessante pela sobrevivência entre Estados que competiam entre si.
Para sobreviver, a Alemanha tinha de conseguir “espaço vital”. A melhor
maneira de conseguir isso era fazer uma aliança com a URSS. Além
disso, a Alemanha deveria aliar-se ao Japão e tentar criar um bloco com
aqueles dois Estados para contrariar os impérios marítimos da Grã-
Bretanha e da França.

Os geopolíticos nazis dos anos 1930’s surgiram com esquemas formais


para combinar povos imperiais e colonizados naquilo a que chamaram
“pan-regiões”. Apesar dos termos rebuscados com a finalidade de
ultrapassar as relações político-económicas da época, aquelas

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cartografias expressavam de forma extrema a suposição que o mundo


era constituído por agrupamentos raciais que podiam ser divididos
claramente em dois “tipos” de povos, em que um existia primariamente
para servir o outro. Raças dominantes e subordinadas eram agrupadas
territorialmente nas “pan-regiões”.

O almirante francês Raoul Castex (1878-1968) desenvolve criticamente


as teorias anteriormente defendidas pelo almirante americano Alfred
Mahan sobre o poder naval, criando um conceito novo, o de “posições
geobloqueantes”, posições geográficas nos territórios de alguns Estados
com potencialidades para interceptar saídas de outros Estados para o
mar alto, ou para dominar rotas importantes para os mesmos (i.e.
Espanha vs. França no Golfo da Biscaia e no Mediterrâneo, a Grã-
Bretanha vs. Holanda, França e Alemanha no Canal da Mancha e no Mar
do Norte).

O seu contributo primário para o pensamento geopolítico foi a noção de


“perturbador continental” (1935). Segundo ele, a estabilidade europeia é
alterada periodicamente por um Estado aspirando à hegemonia, em
grande desenvolvimento económico e demográfico, com ambições
expansionistas, que acabam por ser contidos pela coligação de outros
Estados, liderada pela potência marítima. Dá como exemplos históricos a
Espanha de Carlos V e de Filipe II, a França de Luís XIV e de Napoleão
e a Alemanha de Guilherme II. Existe, para ele, uma superioridade
permanente do poder marítimo sobre o poder terrestre, em virtude
daquele se desgastar menos, pela sua estratégia envolvente e flexível. O
poder terrestre, por seu lado, tem de adoptar processos penetrantes e
rígidos, que provocam grande desgaste. [10]

A economia liberal do final do século XIX sofreu um golpe fatal com a


Grande Depressão dos anos 1930’s. O desemprego em massa da altura
produziu várias reacções políticas e intelectuais. O colapso da economia
do mundo capitalista ofereceu oportunidades a várias formas de
internacionalismo socialista (planeamento económico centralizado,
agricultura colectiva e novas elites políticas), modelo que ameaçou as
elites estabelecidas e levou à associação entre o socialismo e a
“subversão”, que teve grande importância no discurso geopolítico após a
2.ª Guerra Mundial. Foi a racional para a gestão governamental da
economia defendida pelo economista inglês Keynes, que forneceu a
justificação mais importante do estímulo das economias britânica e
americana durante os anos 1930’s e 1940’s.

A 2.ª Guerra Mundial não foi, por isso, exterior a este discurso
geopolítico. Para o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) forneceu a lógica
para a guerra – expansão ou declínio. Para os Aliados, foi como uma luta
pela sobrevivência dos estados marítimos, pacíficos, cujo sucesso se
baseava na sua capacidade de invenção e comércio. O resultado da
guerra trouxe um fim à ordem geopolítica de rivalidade entre impérios e
criou as condições para uma nova ordem geopolítica pós-guerra, distinta,
caracterizada pela destruição dos velhos impérios coloniais, através do

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processo de descolonização, e a emergência dos EUA como uma


potência económica, militar e política hegemónica.

[1] PEZARAT CORREIA, Pedro – “Manual de Geopolítica e


Geoestratégia – Vol. I – Conceitos, teorias e doutrinas”, Quarteto,
Coimbra, 2002, pp. 115-127.

[2] O’TUATHAIL, Gearóid – “Thinking critically about geopolitics”, em


“The geopolitics reader”, Routledge, London, 1998, pp. 9, 15.

[3] TOSTE, Octávio – Teorias geopolíticas”, Biblioteca do Exército, Rio


de Janeiro, 1993, p. 31.

[4] PEZARAT CORREIA, Pedro – obra citada, pp. 102-103.

[5] O’TUATHAIL, Gearóid – obra citada, p. 1.

[6] O’TUATHAIL, Gearóid & AGNEW, John – “Geopolitics and discourse:


Pratical geopolitical reasoning in american foreign policy”, em “The
geopolitics reader”, pp. 79-80.

[7] O’TUATHAIL, Gearóid – obra citada, pp. 1-3.

[8] AGNEW, John – “Geopolitics – Re-visioning world politics”, Routledge,


London & New York, 1997, p. 87.

[9] AGNEW, John – obra citada, pp. 87-94.

[10] MARTINS, Raul François – “Geopolítica e Geoestratégia: para que


são e para que servem?”, Revista “Nação e Defesa”, n.º 76, IDN, 1996.,
p. 59.

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O CONCEITO DE GEOPOLÍTICA: UMA APROXIMAÇÃO HISTÓRICA E EVOLUTIVA (2ª PARTE)
Eduardo Silvestre dos Santos

2ª Parte: A Guerra Fria e a “Nova ordem Mundial”

A Geopolítica da Guerra Fria, ou Geopolítica Ideológica

Após a 2.ª Guerra Mundial, a imaginação geopolítica centrou-se


muito mais explicitamente à volta das concepções em
competição em como organizar melhor a política internacional.
Os valores, mitos e frases feitas retiradas das experiências dos
dois Estados vitoriosos, definiram e determinaram os termos da
imaginação geopolítica do período.

De 1943 a 1947, sob a ditadura de Estaline, a URSS construiu


uma economia militar formidável que requeria como premissa a
existência de uma ameaça externa de grande envergadura. Do
lado americano, o governo demonstrou querer patrocinar, a
partir da mesma altura, uma ordem internacional de liberalismo
económico, no qual as despesas militares forneceriam um
aparelho de protecção para o comércio internacional em
expansão. No final, as condições domésticas de cada um dos
Estados minaram o estatuto global de cada um. Nos anos 1980’s
a economia soviética não conseguiu fornecer quer o
equipamento militar, quer os padrões melhores de vida para a
população, à medida que o Partido Comunista e a sua liderança
mergulhavam na complacência. Para os EUA, a
internacionalização teve sucesso.

O conflito global da Guerra Fria serviu para trazer Estados


importantes como a Alemanha e o Japão para o lado dos EUA e
para definir duas esferas de influência geopolítica, nas quais
cada um aceitava o domínio do outro. Os EUA e a URSS
permaneceram agarrados a filosofias anti-colonialistas, mesmo
estando empenhados numa competição imperial. Tinham de
tentar ganhar amigos e influência, para alargar as suas esferas
de influência.

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Neste cenário, a Geopolítica ideológica desenvolveu as


características principais seguintes: um conflito central sistémico
e ideológico sobre a organização político-económica; três
mundos de desenvolvimento nos quais as esferas de influência
americana e soviética tentavam expandir-se num “terceiro
mundo” de antigas colónias e estados “não alinhados”; uma
homogeneização do espaço global em “amigo” e “ameaçador”,
nos quais os modelos de comunismo e capitalismo liberal
democrático reinavam livres da contingência geográfica; e a
naturalização do conflito ideológico por conceitos como
contenção, efeitos de dominó e estabilidade hegemónica.

Mas as suspeitas mútuas entre americanos e soviéticos tinham


começado na revolução bolchevique de 1917. Ambos os
Estados possuíam peculiaridades semelhantes. Ambos tinham
nascido de revoluções explicitamente ideológicas. Ambas se
reclamavam de mandatos populares que se sobrepunham a
etnias, classes ou interesses regionais. Ambos tinham sido palco
de experiências político-económicas inovadoras num mundo em
que o cinismo é desenfreado.

Em Março de 1947, o presidente Truman assinalou um marco


importante na imaginação geopolítica da Guerra Fria ao afirmar,
num discurso ao Congresso, que “se estava a traçar uma linha
contra o comunismo”, referindo-se aos “povos livres que
resistem tentativas de subjugação por minorias armadas ou por
pressões externas”.

A Guerra Fria foi mais um jogo cuidadosamente controlado com


regras aceites por ambos os lados, do que um confronto onde
existiriam vencedores e vencidos. O espaço geopolítico foi
concebido em termos de uma repartição a do mundo em três
partes, que se baseava na velha distinção entre tradicional e
moderno e numa nova, entre ideológico e livre. Em princípio, o
mundo moderno “desenvolvido” distinguia-se do mundo
tradicional “subdesenvolvido”, o “terceiro mundo”, uma vasta
área geográfica ainda não comprometida com uma das partes
da modernidade. Numa segunda divisão, o mundo moderno
separava-se em duas partes: uma não ideológica (capitalista) e
livre, e outra ideológica (socialista). Locais reais tornaram-se

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significativos quando colocados numa das três categorias


geopolíticas, não importando as suas localizações ou
características. Esta divisão tripartida baseava-se numa
combinação de atributos daquelas distinções.

Toda a história americana é interpretada em muitos textos como


a realização de um “Destino Claro” em que os americanos eram
um povo escolhido, destinado a expandir-se em território,
riqueza e influência. De modo idêntico, no caso soviético, os
russos viam-se há muito como portadores da luz à escuridão
cultural da Sibéria e da Ásia Central. A proximidade da fronteira
colonial permitiu a ambos pensar que se estavam a envolver em
algo diferente do grosseiro imperialismo europeu. Outro
incentivo para uma bipolarização clara do espaço global era a
posse de grande número de armas nucleares por ambas as
superpotências.

Alexander de Seversky (1894-1974) nasceu na Rússia e


combateu no Báltico como aviador da Aviação Naval Russa na
1ª Guerra Mundial. Após a revolução de Outubro de 1917,
refugiou-se nos EUA, formou-se em engenharia aeronáutica,
fundou uma empresa de construção de aviões em 1931, mas só
publicou as obras que contêm as suas ideias a partir de 1942 (“A
vitória pelo Poder Aéreo”). Em 1939 estava na Europa e tirou
algumas conclusões sobre as potencialidades do poder aéreo e
da sua acção estratégica. Após a 2ª Guerra Mundial e com o
crescimento do poderio da União Soviética, concebeu uma teoria
geoestratégica com base no poder aéreo estratégico de longo
alcance, “transoceânico e inter-hemisférico”.

A sua concepção pode visualizar-se numa projecção azimutal


equidistante com centro no Pólo Norte. O mundo apresenta-se
dividido em duas grandes áreas de domínio aéreo: o alcance da
área de domínio soviético cobre toda a Eurásia, quase toda a
África e a América do Norte; o alcance da área dos EUA cobre
todo o continente americano, o Norte de África, a Europa e
quase toda a Ásia. Estas áreas sobrepõem-se numa “área de
decisão”, onde se encontram os heartlands industriais das duas
potências e na qual o “Mediterrâneo Árctico” e o Estreito de
Bering ocupam o centro crítico. Na sua visão, era vital para os
EUA manter a superioridade aérea na área mencionada.[1]

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Rejeitava os princípios defendidos por Douhet e por Mitchell


para o poder aéreo, que defendiam alcançar a superioridade
aérea bombardeando os aeródromos e as fábricas, não se
envolvendo na batalha aérea. Esta, para Seversky, deveria ser
decidida o mais cedo possível. Algumas das suas posições não
foram validadas pela experiência futura, nomeadamente não ter
dado importância às bases intermédias em locais distantes da
sua base continental e, apesar de ser engenheiro, não ter
contemplado a evolução tecnológica dos sistemas de armas.

Após a 2.ª Guerra Mundial, a geopolítica americana desenvolveu


-se sob a égide de Nicholas Spykman, professor na
Universidade de Yale, considerado como um determinista
ambiental. A sua aproximação tentou criar uma discussão sobre
a segurança e a política externa do país com base na ideologia
realista, para combater o idealismo fracassado do período entre
as guerras.[2] Para ele, quer o poder marítimo, quer o terrestre,
eram importantes. Acreditava que o verdadeiro potencial da
Eurásia estava no “Crescente Interior” de Mackinder (Europa
Ocidental, Médio Oriente, Ásia do Sul e do Sueste, e Extremo
Oriente).[3] Aceitava a oposição entre poder terrestre e poder
marítimo e o conceito de Heartland já introduzido por Mackinder,
e defendia que a luta pela hegemonia mundial se decidia numa
região intermédia entre o Heartland e os mares circundantes,
denominada Rimland (orla continental), também designada por
“área de decisão”, “uma região intermédia entre o Heartland e os
mares circundantes, que funcionaria como uma zona
amortecedora de conflitos entre o poder terrestre e o poder
naval”, onde a potência continental teria de ser contida, caso
pretendesse expandir-se para obter também o domínio do mar.
Era nesta área, que a potência que dominasse o Heartland se
teria de expandir, caso pretendesse obter o domínio mundial.[4]

A fórmula de Mackinder assumia para Spykman uma orientação


diferente, materializando a política de contenção americana, e
lançando as bases para as teses defendidas posteriormente por
Kennan[5], que irá levar à constituição não só da OTAN, como
de outras alianças – “quem controlar o Rimland domina a
Eurásia; quem dominar a Eurásia, controla os destinos do
mundo”. Defendia a projecção dos EUA para o Atlântico e para o

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Pacífico e o dimensionamento da sua capacidade estratégica


para intervir activamente no Rimland, que define em termos
geográficos de forma semelhante ao Crescente Interior de
Mackinder.

Nicholas Spykman argumentou em 1944 que a orla periférica da


Eurásia detinha a chave para o poder global. As suas teorias são
consideradas como a base das políticas formuladas durante a
Guerra Fria. Estas teorias diferiam nalguns pontos da teoria do
Heartland de Mackinder, a que adicionou algumas das ideias e
dos conceitos de Mahan. Spykman afirmou que o Rimland da
Eurásia e as áreas costeiras, e não o Heartland, eram a chave
para o controlo da “ilha mundial”.

O antagonismo entre os EUA e a URSS desenvolveu-se de tal


modo que dividiu o continente europeu em dois. O raciocínio
geopolítico que levou a essa situação foi primeiramente definido
por George Kennan, “encarregado de negócios” dos EUA em
Moscovo em 1946. No seu memorável “longo telegrama”, ele
descrevia a URSS como uma potência histórica e
geograficamente necessitada de constantemente se expandir.
Esta era, segundo ele, a essência da URSS e nada podia fazer-
se para o modificar e não se podiam fazer acordos com aquele
país. As fontes fundamentais da conduta soviética eram internas
e determinadas pela história e geografia russas, “de séculos de
batalhas obscuras entre tribos nómadas em vastas planícies
desprotegidas”.[6] As suas opiniões tiveram um efeito importante
nas escolhas políticas da administração Truman.

A política desta administração para com a URSS tornou-se mais


inamistosa à medida que aquela tentava manipular a política
interna de vários países europeus a seu favor. A “Doutrina
Truman” foi a primeira declaração pública da geopolítica
americana da Guerra Fria: “Acredito que a política dos EUA deve
apoiar os povos livres que resistem tentativas de subjugação por
minorias armadas ou por pressões externas. A nossa ajuda deve
ser primariamente económica e financeira, essenciais para
assegurar a estabilidade do processo político”.[7]

Esta retórica, que partia do local para o geral, do particular para


o absoluto, tornou-se característica da geopolítica americana da

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Guerra Fria. Tal como os geopolíticos imperialistas, adoptou-se e


construiu-se uma visão abstracta do “mundo livre” e o “mundo
escravizado”, um mapa da política internacional a branco e
preto. Especificidades geográficas e a complexidade de conflitos
particulares não eram importantes. O que era importante era a
“verdade mais alta” da luta entre a liberdade e o totalitarismo em
todo o mundo. Esta postura personifica a atitude de longa data
dos mitos americanos de destino expresso e excepcionalismo
nacional.

O contraste entre os discursos geopolíticos da Guerra Fria era


entre um modo de vida baseado na vontade da maioria,
instituições livres, governo representativo, eleições livres,
garantia de liberdades individuais e liberdade de expressão, e
um outro baseado na vontade de uma minoria imposta pela força
a uma maioria. Três conceitos geopolíticos tiveram importância
relevante na habituação da compreensão da política global para
americanos e outros: contenção, efeitos de dominó e
estabilidade hegemónica.

A contenção, enunciada primeiramente por Kennan, referia-se


ao isolamento económico e militar da URSS junto às suas
fronteiras de influência, um pouco como o modelo da heartland
de Mackinder. Mas o âmbito da contenção foi sendo alargado,
através da chamada “teoria ou efeito de dominó”, que
argumentava que quanto mais cedo uma ameaça potencial à
situação global fosse enfrentada, onde quer que ela ocorresse,
menos provável seria que se alargasse e propagasse (i.e.
Grécia, Coreia, Vietname, América Central, etc.). A teoria do
dominó é na realidade uma metáfora de contágio ou reacção em
cadeia, tal como a da maçã podre no cesto da fruta.[8]

No final da década de 1970’s, Colin S. Gray, americano de


origem britânica, baseou-se nas teorias de Mackinder e
Spykman e introduziu-lhes as reflexões inerentes ao factor
nuclear e às inovações tecnológicas dos mísseis e da utilização
do espaço. Defendia que a realidade nuclear não nega os
princípios que é o controlo da “ilha mundial” que permite o
controlo do mundo e que é no rimland que esse controlo se
disputa.[9]

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“Congelada” no mapa durante 40 anos, a Guerra Fria descrevia


um sistema geopolítico com duas ordens, cada uma
caracterizada por uma organização particular do espaço, interno,
aliado e do “terceiro mundo”. A Europa era o principal “teatro de
operações”, onde os dois competidores se enfrentavam e o local
de maior militarização.

A URSS envolveu-se militarmente na sua zona geopolítica, para


enfrentar revoltas populares na Hungria, na Checoslováquia, na
Polónia e no Afeganistão. A justificação para esta atitude ficou
conhecida como a “doutrina Brejnev” (1968), onde se
articulavam os limites dentro dos quais os Estados-satélite
comunistas da Europa Oriental podiam operar. Qualquer decisão
desses Estados que pudesse por em causa o socialismo nesse
país, os interesses fundamentais do socialismo noutros países,
ou o movimento comunista a nível mundial, justificavam a
intervenção militar soviética, estando o exército vermelho apenas
a ajudar o povo a exercer a sua autodeterminação num sentido
ideológica e geopoliticamente correcto.[10] “Cada Partido
Comunista é responsável não só perante o seu povo, mas
também perante todos os países socialistas e o inteiro
movimento comunista. (...) A soberania individual de países
socialistas não se pode sobrepor aos interesses do socialismo e
do movimento revolucionário mundiais. (...) Cada Partido
Comunista é livre de aplicar os princípios do Marxismo-
Leninismo e do socialismo no seu país, mas não se pode desviar
desses princípios”[11]

O discurso de Brejnev de 18 de Janeiro de 1977 marcou a


adopção formal do conceito de dissuasão na doutrina estratégica
soviética. A partir de 1979, multiplicaram-se as referências, não
só à dissuasão, mas também à ideia do absurdo de uma guerra
nuclear e à impossibilidade de obter uma vitória numa tal guerra.
Em 1981, Brejnev afirmou que “o equilíbrio estratégico-militar
entre a URSS e os EUA, entre a OTAN e o Pacto de Varsóvia,
servia objectivamente a manutenção da paz no planeta”.

Na década de 80’s, tinha surgido uma nova geração de


burocratas soviéticos, ansiosos por salvar o sistema comunista
da estagnação, da corrupção e da hiper-extensão imperial (por

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demais evidente na campanha militar desastrosa no


Afeganistão). O nome mais sonante dessa geração foi Mikhail
Gorbachev. Ao declarar que “nenhum país detém o monopólio
da verdade” e que “a única maneira de alcançar a segurança é
através de decisões políticas e do desarmamento”, assinalou o
fim da “doutrina Brejnev” como o princípio geopolítico orientador
das relações entre a URSS e os regimes comunistas da Europa
Oriental.[12] A sua chegada ao poder, em 1985, apressou a
mudança das atitudes. Para os líderes ocidentais, a vontade
soviética de renunciar à “Doutrina Brejnev” e de desistir da “luta
anti-imperialista” no Terceiro Mundo, eram sinais evidentes de
que a perestroika era um facto real.

Por seu lado, os EUA envolveram-se em guerras civis na Coreia


e no Vietname, bem longe do seu território, e intervieram nos
negócios internos de muitos estados (Irão em 1953, Guatemala
em 1956, Chile em 1973, etc.). Apesar de, a partir de
determinada altura, os EUA terem reconhecido que ambos os
países tinham a capacidade efectiva de destruir o outro – a
“destruição mútua assegurada”, e ter promovido uma doutrina de
dissuasão nuclear e a negociação de limitação de armamentos
com a URSS, as administrações continuaram a cruzada contra
os governos “esquerdistas” (pró-soviéticos) do “terceiro mundo”.
Ao mesmo tempo, porém, iniciaram a colocação na Europa das
chamadas armas nucleares “limitadas” (mísseis Pershing-II e de
cruzeiro), em contraposição aos SS-20 soviéticos.

E depois da Geopolítica Ideológica?

Por um breve período, o fim da Guerra Fria pareceu acordar a


velha esperança de uma sociedade mundial nova e democrática,
mais liberta de violência do que as anteriores. Em vez disso,
contudo, a “nova ordem mundial” levou a um aumento nos
conflitos armados. As guerras no Golfo, na Bósnia, no Kosovo e
na Tchetchénia soltaram um grau de violência que se julgava
ultrapassada após a 2.ª Guerra Mundial.

Ao mesmo tempo, as sociedades pós-modernas sofreram


mudanças sócio-económicas e políticas de grande alcance, ao
nível local e regional. As consequências sociais e ecológicas da
modernidade levaram ao desenvolvimento de uma “sociedade

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de risco”, que causou um regresso da incerteza. Mesmo as


nações mais prósperas têm de fazer face desenvolvimentos
como a crise institucional e financeira do Estado, problemas
ambientais, liberalização económica e aumento da desigualdade
social.

Estes desenvolvimentos levaram, nalguns casos, a mudanças


radicais no equilíbrio tradicional de poder geopolítico. Para lidar
correctamente com esta nova organização política e social do
espaço, houve que repensar e expandir os conceitos
tradicionais. À escala internacional, tornou-se impossível
compreender e explicar o que se estava a passar no mundo
apenas à luz da confrontação entre duas ideologias fortes. A
primazia tradicional do Estado-Nação foi desafiada pelas redes e
instituições globalizadas, assim como por particularidades
regionais.[13]

A acentuada “compressão espaço-tempo” forjada pelas


telecomunicações modernas e pela globalização dos capitais,
das ideologias e da cultura, uniram o destino das várias regiões
mais intimamente, mas também abriram uma série de
oportunidades para novos tipos de subjectividades e novas
formas de solidariedade política entre essas regiões.

A Geopolítica da “nova ordem mundial”

Definida como uma relação de competição entre duas


superpotências, a Guerra Fria terminou com um dos
competidores a sucumbir sob o peso das suas próprias
contradições. Porém, nunca foi simplesmente uma relação
antagónica, mas sim um sistema de controlo geopolítico com um
complexo sistema de instituições estatais, forças militares,
interesses económicos, coligações políticas, valores culturais e
intelectuais da governação em ambos os lados. À medida que o
sistema soviético começou a desintegrar-se, o conjunto ocidental
de ideologia, instituições e intelectuais mantiveram-se
presumivelmente coerentes.

O fim da Guerra Fria foi sentida como uma vertigem geopolítica,


um estado de confusão em que as velhas panaceias eram
redundantes e as novas ainda não tinham sido inventadas,
publicadas e aprovadas. O grande problema foi que ninguém, no

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Ocidente, tinha previsto o colapso do comunismo, a implosão da


URSS e o fim da Guerra Fria. O colapso do império soviético
revelou, não só o falhanço do comunismo, mas também o
falhanço intelectual das instituições do Ocidente peritas em
Geopolítica.

O fim da ordem bipolar pôs em evidência as características da


“nova ordem mundial”, nomeadamente: a existência de uma
única superpotência; a tendência para a criação de grandes
blocos económicos e a decorrente competição entre eles; a
internacionalização dos mercados e do capital; o aparecimento
de novos confrontos ideológicos, baseados já não em doutrinas
político-sociais, mas em extremismos nacionalistas, étnicos e
religiosos; novas atitudes e princípios na política internacional,
como a soberania limitada, o dever de ingerência, os direitos
humanos e a protecção do ambiente; por fim, uma opção
unilateralista do governo dos EUA nas decisões sobre os
grandes temas globais, colocando em segundo plano os acordos
e compromissos internacionais anteriormente assumidos.[14]

Aconselhando sobre os perigos da euforia, a administração Bush


(pai) proclamou a “incerteza”, a “imprevisibilidade”, a
“instabilidade” e o “caos” como as novas ameaças, e encontrou
a razão e a racional para definir a “nova ordem mundial”, com os
EUA no centro, com a “responsabilidade sem igual” de fazer o
“trabalho sujo” de trazer a liberdade ao resto do globo.

O excepcionalismo nacional e o triunfalismo que caracterizaram


a declaração de Bush de uma “nova ordem mundial” durante a
Guerra do Golfo de 1991, eram já evidentes no verão de 1989
na cultura estratégica e política dos EUA. Um exemplo gritante
foi o ensaio “O fim da História?”, de Francis Fukuyama, e a
admiração e o entusiasmo que ele recebeu de muitos sectores
da comunicação social ocidental. Este artigo foi apresentado
como uma declaração filosófica importante, principalmente para
proeminentes intelectuais neoconservadores. O “fim da História”
era aquele ponto em que a humanidade tinha conseguido as
verdades universais expressas primeiramente pela Revolução
Francesa, os princípios da liberdade e da igualdade. O “estado
homogéneo universal” tinha alcançado o pináculo da evolução
histórica. Era homogéneo porque todas as contradições

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anteriores, como a divisão geopolítica ou em classes, estavam


resolvidas e todas as necessidades humanas estavam
satisfeitas. O que restava era primariamente a actividade
económica.

O artigo de Fukuyama foi importante porque ilustrou uma


tentativa precoce dos neoconservadores para refazer o discurso
da Guerra Fria à luz do colapso do comunismo na Europa. Dado
que tinha atingido o “fim da História”, o Ocidente era “pós-
histórico”, ao passo que o resto do mundo estava ainda a lutar
no “histórico”. As ideias de Fukuyama tinham contudo, na
opinião de O’Tuathail, duas falhas importantes. Em primeiro
lugar, era um esquema fortemente etnocêntrico que não
reconhecia os problemas sérios que afectavam os estados
ocidentais. Classificar certos estados como “liberais” não diz
grande coisa sobre a estrutura geográfica específica de estados
e as contradições das suas versões históricas particulares de
liberalismo, nacionalismo e militarismo; os estados ocidentais
estão longe de ser homogéneos em termos de liberalismo. Em
segundo lugar, a suposição que o declínio da ideologia marxista-
leninista e a suposta expansão do liberalismo levará à
diminuição dos conflitos internacionais entre os estados, é
indevidamente optimista. A sua conclusão que a vida
internacional para aqueles que alcançaram o “fim da História”
está mais preocupada com a economia do que com a política e
com a estratégia, vai de encontro à suposição falaciosa que as
democracias capitalistas são pacíficas e não belicosas.[15]

De acordo com Fukuyama sobre a importância da economia na


“nova ordem mundial”, mas discordando com o seu raciocínio e
com as suas conclusões, esteve Edward Luttwak um ano mais
tarde. Argumentava que era visível que todos defendiam que os
métodos de comércio estavam a destronar os métodos militares
na política mundial. Porém, como consequência quer da
globalização da economia americana, quer da modernização
militar levada a cabo pela administração Reagan, no início da
década de 1990’s, os EUA tiveram um orçamento recorde e um
défice comercial.

Examinada mais atentamente, a argumentação de Luttwak era


meramente uma extensão dos pressupostos essencialmente

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realistas que tinham legitimado e alicerçado a corrida


armamentista da Guerra Fria. Tal como a oposição de Fukuyama
entre economia e política/estratégia, a oposição de Luttwak entre
geopolítica e geo-economia caracterizava mal uma realidade
mais complexa. Por um lado, a Geopolítica da “guerra fria”
também englobava a geo-economia. Por outro, o fim da “guerra
fria” não marcou, por si só, o fim da Geopolítica; apenas da
ideológica. A globalização da economia americana e o poder
crescente das empresas transnacionais não eram antagonizadas
pelos líderes políticos dos EUA, mas sim activamente
encorajadas por eles. Quer Reagan, quer Clinton, subscreviam o
discurso do liberalismo transnacional (ou neoliberalismo),
acreditando na extensão mundial dos princípios do comércio
livre e da desregulamentação. Geopolítica e geo-economia não
são conceitos opostos mas sim que se entrelaçam.

Alguns intelectuais neoconservadores, como Samuel Huntington,


moldaram todo o mundo pós- Guerra Fria como uma guerra
cultural entre diferentes grupos civilizacionais. Huntington
escreveu sobre um “choque de civilizações” à escala mundial,
que, no final, opunha “o Ocidente contra o resto”. Esta tese do
“choque de civilizações” causou um enorme debate nos meios
estratégicos americanos. Como outros intelectuais da
governação estabelecida, Huntington tentou “civilizacionar” a
turbulência e o caos da “nova (des)ordem mundial”, desenhando
um mapa da política mundial que baseava o “Ocidente” à volta
de valores conservadores, e redefinia novos inimigos contra
quem se mobilizar (i.e. fundamentalistas islâmicos, imigrantes e
multiculturalistas).

O acontecimento que marcou oficialmente o início da “nova


ordem mundial” foi a invasão do Kuwait pelo Iraque. Em termos
práticos, esta “nova ordem” para Bush era um mundo onde os
EUA, aliados àqueles que os quisessem seguir, impusessem a
ordem. Qualquer alteração à ordem geopolítica desfavorável aos
EUA e aos “interesses do Ocidente”, eram consideradas
agressões fora da lei que “não podiam ser aceites”. A “guerra do
Golfo” foi a oportunidade perfeita para o complexo industrial
militar americano se relegitimar e definir a situação fluida do pós-
“guerra fria” como um mundo de “Estados-pária” e “fora-da-lei
nucleares” (Iraque, Irão, Líbia, Síria, Coreia do Norte, etc.) que

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ameaçavam a segurança do Ocidente. Com a “guerra do Golfo”


como relações públicas de grande impacto, o Pentágono e
outras instituições foram capazes de justificar a nova doutrina
como a sua nova postura pós- Guerra Fria. O argumento que as
Forças Armadas dos EUA deviam manter uma capacidade de
combater duas guerras regionais, pilar estratégico da sua
defesa, era fundamental para a nova doutrina “pária”. O
objectivo do padrão das “duas guerras” era conter os cortes na
defesa, mais do que ameaças geopolíticas reais.

Sem uma superpotência como inimigo claro, e ajudada pela


globalização da actividade económica, criou-se uma crise de
significado e de coerência para o “Ocidente”. Adicionalmente,
dentro da sociedade ocidental, vozes sobre o multiculturalismo,
a defesa do ambiente, as perspectivas feministas e das minorias
étnicas e raciais, começaram a desafiar as posições
privilegiadas de quem tinha detido historicamente a autoridade.
Para alguns neoconservadores, a tendência crescente das
ideias do “multiculturalismo” – que desafiava os mitos
excepcionalistas do Ocidente e a aplicação limitada dos seus
princípios de liberdade e igualdade – ameaçavam balcanizar por
dentro o “Ocidente” como identidade.

[1] Tosta, Octávio – “Teorias geopolíticas”, pp. 97-98.

[2] POLELLE, Mark R. – “Imagined hegemonies: Geopolitics and


foreign policy in the twentieth century”, em
history.rutgers.edu/graduate/ab95pole.htm, 2005-01-31.

[3] www.list.org/~doyle/theory.html, 2005-01-10.

[4] RAMALHO, José L. Pinto, obra citada, p. 37.

[5] HAGGMAN, Bertil – “Geopolitics, the United States, the


Eurasian transcontinental bloc, and China”, em
www.algonet.se/~jman/bertil/geous.html, 2005-01-17.

[6] KENNAN, George – “The sources of soviet conduct”, em


“Foreign Affairs”, n.º 25, 1947, p. 576.

[7] TRUMAN, Harry – “The Truman Doctrine”, em “The


geopolitics reader”, p. 59.

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[8] AGNEW, John – obra citada, pp. 115-117.

[9] PEZARAT CORREIA, Pedro – obra citada, pp. 121-122.

[10] O’TUATHAIL, Gearóid – “Cold War geopolitics –


Introduction” , em “The geopolitics reader”, Routledge, Londres,
1998, pp. 52-53.

[11] BREZHNEV, Leonid – “Soberania e a obrigação


internacionalista dos países socialistas”, Pravda, 1968, citado
em “The geopolitics reader”, pp. 74-75.

[12] WALKER, M. – “The cold war: A history”, Holt, New York,


1993, p. 290.

[13] REUBER, Paul – “Conflict studies and critical geopolitics –


theoretical concepts and recent research in political geography,
em
www.ru.nl/socgeo/html/files/geogviolence/ReuberGeoJournal.pdf,
2007-01-11.

[14] PEZARAT CORREIA, Pedro – obra citada, Volume II, pp. 71


-72.

[15] O’TUATHAIL, Gearóid – “The geopolitics reader”, pp. 105-


106.

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2007/03/24
O CONCEITO DE GEOPOLÍTICA: UMA APROXIMAÇÃO HISTÓRICA E EVOLUTIVA (3ª PARTE)
Eduardo Silvestre dos Santos

3ª Parte: Os Novos Campos de Estudo da Geopolítica

A Geopolítica Crítica

O fim da Guerra Fria fez sugerir a muitos que a compreensão


dominante da política global era agora de globalização e de
transcendência das fronteiras tradicionais dos estados por
fluxos e interligações da economia e da cultura. Em parte, a
focalização actual nos fluxos e nas ligações e práticas políticas
que atravessam fronteiras, sugerem que a política é hoje sobre
novas formas de comunicação, comunidades virtuais, capital
rápido e guerras cibernéticas.

Desde meados dos anos 1980’s, as críticas às teorias


universalistas levaram à redescoberta de conceitos como
“lugar”, “identidade regional”, “cultura”, etc. Isto provocou uma
tendência generalizada nas ciências sociais em dar maior
atenção à importância do “lugar” para a actividade humana. O
poder, o espaço e o tempo pareceram tomar formas diferentes
numa sociedade informacional do que aquelas com o sentido de
localização, hierarquia e organização das sociedades
industriais.[1] Uma das influências mais subtis foi a
“informacionalização” dos meios sociais de produção, de
consumo, de administração e de destruição, quando o impacto
global da massificação das telecomunicações, da
computorização electrónica, da automatização cibernética e da
rapidez dos transportes, começaram a ser sentidas por mais
gente.

A Geopolítica Crítica é uma escola de pensamento radical,


surgida nos anos 1990’s, que se coloca em oposição à
Geopolítica clássica. Conceptualiza a Geopolítica como um
conjunto complexo de discursos, representações e práticas, em
vez de uma ciência coerente, neutral e objectivista. Baseada na
escola de pensamento pós-estruturalista, preocupa-se, na sua
essência, com a interacção e a contestação dos discursos
geopolíticos. A orientação pós-estruturalista defende que as

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realidades do espaço político global não se revelam apenas a


observadores omniscientes e separados. Ao contrário, o
conhecimento geopolítico é parcial e localizado, fruto de
posições subjectivas particulares. A visão que qualquer pessoa
tem do mundo é um conceito subjectivo, dependente das suas
próprias avaliações, percepções e objectivos. Neste contexto,
as práticas geopolíticas resultam de agrupamentos complexos
de ideias e discursos em competição que, por seu turno,
modificam. Não existem verdades universais! A prática
geopolítica não é, por isso, directa ou natural. A Geopolítica
Crítica desmonta os modos como as elites políticas descreviam
e representavam os locais no seu exercício do poder.

Além disso, na Geopolítica Crítica, dado que o conhecimento


geopolítico é tido como parcial, localizado e integrado, os
Estados-Nação não são as únicas unidades legítimas de análise
geopolítica. Em vez disso, pensa-se que o conhecimento
geopolítico é mais difuso, em que aos discursos “formal” e
“prático”, se junta o discurso “popular”. A Geopolítica “popular”
diz respeito ao modo como se produz e reproduz a
compreensão leiga dos assuntos geopolíticos através da cultura
popular, sendo por isso uma relação recursiva entre a cultura e
a consciência populares.

A Geopolítica “formal” refere-se à cultura geopolítica dos actores


mais tradicionais. Presta atenção ao modo como os actores da
política externa formal (incluindo académicos e think-tanks)[2]
medeiam os assuntos geopolíticos. A Geopolítica “prática”
descreve a prática real da estratégia de política externa. Os
estudos focam quer a acção, quer o raciocínio geopolíticos, e
como se ligam com os discursos “popular” e “formal”. Uma vez
que a Geopolítica crítica se preocupa com o discurso, a
Geopolítica “prática”, presta atenção às acções, mas também às
estratégias utilizadas nos discursos utilizados para as sustentar.

A Geopolítica Crítica está normalmente associada a um grupo


de académicos “dissidentes” onde se incluem John Agnew,
Simon Dalby e, principalmente, Gearóid O’Tuathail.

Uma perspectiva crítica do significado da “guerra do Golfo” é


dada por Timothy Luke, num artigo de 1991: “o estilo de
raciocínio do tempo da guerra fria continua a dominar o

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pensamento estratégico americano, tal como a premissa da


contenção, dirigida agora contra qualquer entidade
ameaçadora, em vez de contra simplesmente o comunismo, e a
política de equilíbrio de poderes alicerça a resposta de
Washington a crises externas”. Luke descreveu como a
globalização económica, cultural e política, e o caminho para
uma forma de capitalismo corporativo mais transnacional e
informacional, estavam a transformar os princípios tradicionais
básicos da política mundial, como a soberania do Estado, a
integridade territorial e as comunidades ligadas aos seus locais.
Na sua opinião, o poder já não estava ligado ao “lugar”, mas
“também flutua muitas vezes entre, sobre e sob as fronteiras
colocadas no espaço ao mesmo tempo que novos sentidos de
localização artificial se tornam mais móveis e fluidos, definidos
pelas condições mutáveis das redes de informação que
transportam esses fluxos”. Quer o espaço, quer a velocidade,
tornaram-se num espaço híbrido que se entrelaça, à medida
que a territorialidade do sistema de estados estava a ser
sufocado pelas redes globais de telecomunicações e do
capitalismo corporativo transnacional. Na condição de pós-
modernidade, o real tornou-se “hiper-real”, ou mais real que o
próprio real, quando informacionalizado e televisionado.[3]

Os novos campos de pesquisa na Geopolítica[4]

A. A Geopolítica ambiental

Um dos mais importantes novos campos de interesse e de


pesquisa diz respeito às políticas e movimentos ecológicos e
aos conflitos políticos com contornos ambientais: é a
“Geopolítica ambiental”. Desde o princípio da década de 1970’s,
muitas questões ambientais foram consideradas como assuntos
de preocupação global. A pesquisa sobre estes temas levou à
elencagem de ameaças ambientais como o esgotamento da
“camada do ozono”, a perda de biodiversidade e a alteração
climática global, consideradas por muitos analistas como
desafios políticos cruciais do século XXI. De facto, as tensões
entre a exploração dos recursos naturais e a regulamentação
política sobre a preservação ecológica, tendo como objectivo
uma gestão sustentável dos recursos, devem ser objecto de
estudo, investigação e acção.

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Florestas estão a ser destruídas e pessoas desalojadas; a


possibilidade de roturas como resultado de alterações climáticas
tem de ser levada a sério; a diminuição do buraco do ozono é
um perigo real para os ecossistemas e para a saúde humana. O
modo como estes assuntos são apresentados, e quem é
apontado como fonte do problema, quem pode eventualmente
fornecer a possível solução, ou quem deve tomar decisões
sobre ele, é um assunto importante e entra na esfera da
Geopolítica.

No início da década de 1980’s, muitos argumentavam que o


desenvolvimento e as preocupações ambientais tinham de ser
compreendidas como complementares. O “Relatório
Brundtland” (1987), assim conhecido por ter sido elaborado sob
a orientação da Primeiro Ministro norueguesa de então,
publicou um programa que era um compromisso entre aqueles
dois aspectos.

Mas a compreensão das dimensões ambientais da Geopolítica


contemporânea requer atenção política, porque se sabe serem
fonte de ameaças à saúde e à riqueza que têm dimensão
internacional. Alargar o conceito de segurança para abranger
novas ameaças que necessitam gestão e controlo pelos
estados e por organizações internacionais, foi uma resposta
óbvia às novas circunstâncias.

Um artigo especialmente alarmista sobre estes assuntos, e que


influenciou bastante os círculos políticos, foi “A anarquia que aí
vem”, escrito por Robert D. Kaplan em 1994, onde se
sintetizavam as preocupações sobre as causas ambientais do
caos e do colapso dos estados. Muitas das novas ameaças
eram interpretadas como fenómenos globais, em que o
crescimento populacional, o buraco do ozono, a água como
recurso escasso, a perda de biodiversidade e as alterações
climáticas são os exemplos mais óbvios do que se passou a
chamar “segurança ambiental”. Em África, por exemplo, está a
formar-se uma fronteira impenetrável que ameaça isolar todo o
continente: a fronteira da doença! Segundo Kaplan, a África
está a tornar-se mais perigosa do que em meados do século
XIX, antes de serem inventados os antibióticos.[5]

Com base no pressuposto que o planeta é um “recurso” que

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pode ser administrado, o discurso do “desenvolvimento


sustentado” pode tornar-se perigoso e permitir injustiças e a
continuação da degradação ambiental. O desenvolvimento
praticado no último meio século assume a separação entre a
humanidade e a natureza.

As práticas tradicionais de recolha de alimentos e de agricultura


produzem muitas vezes alimentação de subsistência mas não
para comercialização. As populações que sobrevivem em
economias tradicionais, também não têm títulos legais sobre
terras e partem do princípio que o ambiente está ali para cuidar
e se viver nele, de forma comunal. Confiam nos ecossistemas
naturais intactos para ter comida, medicamentos e água potável.
Estes modos de vida são muitas vezes rejeitados como sendo
primitivos e irrelevantes. A tarefa de modernização é
normalmente compreendida como devendo converter aqueles
ambientes e os seus habitantes em empreendimentos
comerciais “produtivos”.

As elites políticas dos estados interessados em “desenvolver” os


seus recursos, vêem por vezes a defesa das populações
indígenas como interferências na sua soberania, e os
ambientalistas são, por consequência, vistos como uma ameaça
à segurança nacional.

É tempo de compreender o ambiente pelo que ele é: um


importante assunto de segurança nacional do século XXI! O
impacto político e estratégico do aumento populacional, do
aumento de doenças, da desflorestação, da erosão dos solos,
da falta de água, da poluição atmosférica, de regiões
superpovoadas e, possivelmente, da subida do nível do mar,
irão originar migrações em massa, incitar a conflitos e serão o
fundamento e o grande desafio das políticas externas. Enquanto
que uma minoria da humanidade estará, como Fukuyama prevê,
suficientemente protegida para entrar num período “pós-
histórico”, um cada vez maior número de gente estará “presa”
na história, vivendo em “favelas” onde as tentativas de sair da
pobreza, da luta étnica e da marginalidade cultural, estarão
condenadas pela falta de água potável, terra para cultivar e
espaço para sobreviver. Em vez de fronteiras, passarão a existir
“centros de poder”, como na Idade Média [6]

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B. A globalização e as novas relações internacionais

O campo das relações internacionais tem-se expandido desde o


fim da “guerra fria”, incluindo os temas da “globalização” e da
“internacionalização”, muito actuais. Para além da execução da
política externa, um novo campo de interesse e de investigação
é a influência geopolítica de actores supranacionais e os seus
interesses estratégicos, que estão a ganhar cada vez mais
importância no contexto da globalização. Esses actores podem
ser formais, político-económicos ou militares (ONU, UE, OTAN,
IMF, etc.), ou informais (ONG’s organizadas globalmente,
empresas multinacionais e o seu lobbying transnacional, etc.).

C. Conflitos regionais e novos movimentos sociais

Novos conflitos sobre questões de poder e de controlo


territoriais, bem como sobre fronteiras, surgem com escalas de
importância variáveis. Para alguns analistas, a questão central
já não é “onde fica a fronteira”, mas “como, de que modo, e face
a que resistência pode a fronteira ser imposta e ritualizada?”

Na última década e meia, novos movimentos sociais surgiram


no contexto dos conflitos sobre o uso da terra, ao nível local e
regional, em particular em países em vias de desenvolvimento.
Esses movimentos entram frequentemente em conflito sobre a
distribuição de recursos entre os centros de orientação
globalizadora e as regiões periféricas. Neste campo, a política
deixou já de pertencer apenas aos políticos. A variedade e a
origem geográfica dos grupos de interesse em conflitos locais
ou regionais cresceu significativamente.

D. A política de identidade

Face às revoluções sociais e políticas da pós-modernidade, a


construção de identidades territoriais e a política de identidade
são campos importantes de pesquisa geopolítica. Do ponto de
vista da “Geopolítica Crítica”, é aí que a “construção de
identidades” (nações, regiões, etnias, por vezes religião) e a sua
instrumentalização estratégica para finalidades geopolíticas se
movem para o centro do palco. Do mesmo modo, a pesquisa
sobre as implicações geopolíticas da identidade de género ou
de sexo, a sua representação simbólica e o seu poder territorial

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(i.e. a construção de um espaço político) ganha a sua


importância.

A Anti-Geopolítica[7]

A Geopolítica é, como escreveu um analista, “um discurso sobre


um Estado, orientado politicamente e inspirado na sua posição
no mapa”. Reclama-se de objectividade, garantida pela sua
atenção nas condições perduráveis do ambiente físico, e de uma
perspectiva imparcial da política internacional, “limpa” de
ideologia, representando um discurso determinista que analisa a
política baseada na geografia. Porém, como se pode verificar
anteriormente, o conhecimento geopolítico tende a ser
construído a partir de locais e posições de poder político,
económico e cultural. Porém, existem milhares de histórias
alternativas que podem ser contadas da perspectiva daqueles
que resistem ao Estado e às práticas geopolíticas. Estas
histórias de resistência podem caracterizar-se como “Geopolítica
dos níveis inferiores”, saídas de posições sociais subalternas
que desafiam a hegemonia militar, política, económica e cultural
do Estado e das suas elites. Em contraste com a Geopolítica, a
Anti-Geopolítica acentua o papel das ideias, a capacidade dos
seres humanos em fazer escolhas e de defender essas
escolhas, bem como a possibilidade de mudança, apesar das
restrições de condições objectivas.

A Anti-Geopolítica pode ser imaginada como uma força ética,


política e cultural dentro da sociedade, que desafia a noção que
os interesses da classe política do Estado são idênticos aos
interesses da comunidade. Afirma uma independência
permanente do Estado, quem quer que esteja no poder, e
articula duas formas inter-relacionadas de luta anti-hegemónica.
Em primeiro lugar, desafia o poder geopolítico material
(económico e militar) dos Estados e instituições globais; em
segundo lugar, desafia as representações impostas pelas elites
políticas para servir os seus interesses geopolíticos. A Anti-
Geopolítica mostra quão profundamente ideológica pode ser a
Geopolítica, revelando “a política escondida do conhecimento
geopolítico”, segundo as palavras de O’Tuathail.

Apesar das práticas anti-geopolíticas estarem normalmente


localizadas dentro das fronteiras políticas de um Estado, sendo

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este o adversário principal, nem sempre assim acontece. Com a


intensificação do processo de globalização, os movimentos
sociais estão a tornar-se cada vez mais transnacionais,
desafiando as principais instituições internacionais e estruturas
globais de poder.

A Anti-Geopolítica não é um assunto de hoje. A desobediência


civil de Gandhi e os movimentos políticos nacionalistas de
descolonização do período após a 2.ª Guerra Mundial podem
ser definidos como a luta social das populações, combinada ou
não com a luta armada. Nos EUA, os movimentos anti-guerra do
Vietname e de direitos civis, contra a segregação e
discriminação raciais, liderada por Martin Luther King foram, nos
anos 1960’s, outro exemplo de Anti-Geopolítica. Estabeleceram
a ligação entre o imperialismo fora das fronteiras e o racismo e
a pobreza dentro do país. Na Europa de Leste, enquanto a
URSS apoiava movimentos revolucionários no “Terceiro
Mundo”, as ideias dissidentes de Václav Havel, líder da escola
geopolítica checa, e Andrei Sakharov, entre outros, eram
consideradas fora da lei. Aí se engloba, do mesmo modo, o
“movimento de paz” na Europa Ocidental, contra a colocação
dos mísseis de cruzeiro e Pershing-II.

George Konrad, um húngaro que escreveu durante a Guerra


Fria, definiu a Anti-Geopolítica como uma força moral da
sociedade civil que articulava a desconfiança e rejeição públicas
do monopólio de poder da classe política dentro do Estado – um
poder brandido contra as populações através de legislação
repressiva (i.e. a censura). Esta força moral não pretendia
derrubar o poder político, mas opunha-se à opressão que ele
exercia sobre as populações.

“Qualquer que seja a ideologia defendida por um político, o que


ele diz é apenas um meio para ganhar e manter o poder. Um
político para quem o exercício do poder não seja um fim em si
mesmo, é uma contradição (...) A anti-política é a actividade
política daqueles que não querem ser políticos e que recusam a
sua quota de poder.(...) é um contra-poder que não o toma e
que nem sequer deseja fazê-lo. (...) A anti-política e o governo
trabalham em duas dimensões e esferas diferentes. A anti-
política não apoia nem se opõe a governos; é diferente. Os seus
apoiantes estão bem onde e como estão; vigiam o poder

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político, exercem pressão com base apenas no seu estatuto


cultural e moral. É o seu direito e a sua obrigação mas, acima
de tudo é a sua autodefesa. (...) A anti-política é a rejeição do
monopólio do poder da classe política. (...) Se a oposição
política ganhar o poder, a anti-política mantém-se à mesma
distância e mostra a mesma independência do novo
governo.”[8]

Com o desmembramento da URSS e a “Guerra do Golfo”, criou-


se uma nova ordem mundial, envolvendo uma maior dimensão
geo-económica e uma doutrina de neoliberalismo. O princípio
central desta doutrina é a liberdade económica para os
poderosos, uma economia que deve ser livre dos impedimentos
e “grilhetas” impostas pelos Estados, para tentar regulá-la em
nome do interesse público, que são consideradas barreiras ao
fluxo livre do comércio e do capital, e à liberdade das empresas
transnacionais de explorar a força de trabalho e o ambiente no
seu interesse. Por isso, a doutrina argumenta que as economias
nacionais devem ser desregulamentadas (i.e. através da
privatização das empresas estatais) para promover a
distribuição dos recursos pelo “mercado”, o que significa na
prática, pelos mais poderosos. O neoliberalismo defende a
mobilidade de capitais, o afastamento da produção dos Estados
desenvolvidos e a centralização do controlo da economia
mundial nas mãos de empresas multinacionais e seus aliados
nas agências governamentais, grandes bancos internacionais e
instituições como o Banco Mundial, o FMI e a OMC.

A competição global por empregos e investimentos que esta


doutrina provocou, teve como resultado o empobrecimento e a
marginalização de populações locais, dos camponeses
agricultores e dos trabalhadores da indústria, bem como uma
redução nos postos de trabalho e nas condições sociais e
ambientais, aquilo a que se chamou “o nivelamento por baixo”.
Um dos exemplos mais conhecidos dos movimentos que se
rebelaram contra este estado de coisas foi o “Movimento
Zapatista” do México.

Como este, vários exemplos de resistência ao neoliberalismo


surgiram em todo o mundo nos últimos 15 anos. Movimentos de
guerrilha, sociais, de direitos humanos, organizações não-
governamentais, ambientais e locais. Esta resistência é

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frequentemente uma resposta a condições locais que são em


parte produto de forças globais, resistência que existe quer a
nível local, quer global. Em contraste com o discurso político
oficial sobre a economia global, estes movimentos articulam
uma “globalização por baixo” que envolve uma “geopolítica por
baixo”, uma rede internacional emergente de grupos,
organizações e movimentos sociais.

Vários autores propuseram uma agenda para este tipo de


resistência, para contrariar e transformar a agenda do
neoliberalismo, onde se inclui a revitalização das práticas
democráticas e das instituições públicas, a promoção da
sustentabilidade económica e ambiental, o encorajamento das
raízes do desenvolvimento económico, e a responsabilização
das empresas transnacionais pelo cumprimento de códigos de
conduta.

10. Os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001

Um dos comentários que mais comuns sobre os atentados de


11 de Setembro de 2001, é que “mudaram tudo”! Apesar de tal
ser correcto de algumas perspectivas, é arriscado atribuir uma
data ou um acontecimento específicos para determinar um
momento-chave da História. Na realidade, os ataques de 11 de
Setembro assentaram em tendências muito mais
profundamente enraizadas na Geopolítica pós-moderna actual.
Vários estudiosos destes assuntos, nomeadamente Timothy
Luke, referem essencialmente três: as vulnerabilidades e riscos
de viver em sistemas tecnico-científicos complexos, os conflitos
culturais das sociedades industriais e das redes virtuais, e a
natureza da globalização após o fim da Guerra Fria.

Durante o séc. XX, o projecto de modernização fez competir a


promessa de democracia, abundância, igualdade e razão contra
as tradicionais injustiças da pobreza rural generalizada, dos
privilégios da aristocracia e das religiões opressivas. Com o
triunfo da tecnologia sobre a natureza, do secular sobre o
sagrado, e da abundância sobre a pobreza, pensava-se que a
ciência tinha melhorado a vida. Mas a importância da ciência, as
suas técnicas e a sua racionalidade não conseguiram fazer com
que a humanidade vivesse razoavelmente, sem mitos, fraudes
ou superstições. Por isso, a “pós-modernidade”, a promessa de

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mudança e de progresso constante, começou a colapsar. A


“pós-modernidade” aconteceu de facto, mas com o falhanço das
expectativas de que a razão e a liberdade seriam os grandes
paradigmas da história humana. Uma busca incessante do lucro
e do êxito parecem ser, ao contrário, a essência das condições
da actual “pós-modernidade”, que estão a criar um novo sistema
social para além do capitalismo clássico, proliferando através do
“espaço global do capital multinacional”. Parece que o objectivo
das forças científicas e tecnológicas que apoiam as grandes
empresas já não tem como base a linguagem da verdade, mas
sim do desempenho, isto é, a melhor relação input-output.
Fazendo do consumo de mercadorias um modo da vida
moderna, a “pós-modernidade” representa o capitalismo rápido
dos mercados: rejeita estruturas fechadas, territórios fixos,
espaços sagrados e fronteiras fixas, em favor de fluxos
instáveis, práticas secularizadas e fronteiras permeáveis.

A violência não-estatal organizada surgiu durante a Guerra Fria,


em guerras de libertação nacional e secessões étnicas, tolerada
pelas duas superpotências até 1990, por ter provado ser uma
ferramenta útil nos conflitos fronteiriços entre o capitalismo e o
comunismo. Porém, no vácuo político criado em muitos estados
após aquela data, aquelas entidades adquiriram poderes quase-
soberanos em muitas áreas e tornaram-se núcleos não-estatais
de violência organizada com capacidade de jogar o seu poder
institucional, quer a nível local, quer a nível global.

Após os ataques de 11 de Setembro, os EUA entraram num


“estado de guerra” contra “guerreiros sem estado”, uma situação
que não existia desde as campanhas contra os nativos
americanos, nos séculos XVIII e XIX. Os EUA necessitam
perguntar-se urgentemente quais os erros estratégicos, as
inconsistências políticas e as descontinuidades económicas que
caracterizaram o seu papel global como ùltima superpotência,
para que tais tendências anti-modernas se tenham tornado
endémicas.

Muitos continuam a ver hoje os ataques terroristas como


incidentes de uma guerra santa neo-medieval, cuja finalidade é
fazer cair as nações ocidentais altamente modernizadas que
abusam e exploram as nações islâmicas. Todavia, eles são
também a resposta desesperada ao falhanço da modernidade

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trazida pela globalização empresarial ao mundo dos pobres e


dos sem poder. A “nova ordem mundial” de 1991 negligenciou e
fez com que grandes partes do “segundo” e “terceiro” mundos
caíssem num caos retrógrado sem paralelo desde o séc. XVII.
As redes terroristas por detrás dos ataques de 11 de Setembro
representam um falhanço profundo da modernidade, uma farpa
cravada no triunfalismo dos últimos 15 anos. Em contrapartida a
Hong Kong, a Singapura ou a Seul, existiram Grozny, Kabul,
Luanda, Kinshasa, Sarajevo e Mogadíscio. Grandes áreas do
mundo não têm controlo territorial das instituições de Estados-
Nação modernos. Muitas regiões do mundo regressaram a
relações de comércio em que os mercados negros de pedras
preciosas, petróleo, drogas, madeiras ou mesmo de pessoas,
eclipsaram a livre troca de bens e serviços legítimos.

Para muitos, a globalização é a figura chave que faz a ligação


entre o capitalismo neoliberal, as técnicas de informação, o
consumo maciço da cultura e os mercados mundiais integrados
da Geopolítica pós-moderna. Porém, ao mesmo tempo, as
redes terroristas da Al-Qaeda e as suas estruturas celulares
com ligações muito “soltas”, são também exemplos vivos da
globalização contemporânea.

Os EUA necessitam reflectir em que extensão as ideologias


globalistas de hoje, com os seus sistemas neoliberais de
produção industrial e reprodução cultural massificada estão a
ser o rastilho dos cruéis conflitos que está a ter com o
terrorismo. A modernidade tem falhado em muitos locais à volta
do mundo, e os modelos dominantes da economia e da política
neoliberais não estão inocentes neste assunto.

11. Conclusão

Os textos sobre Geopolítica são ainda formas de poder ou de


conhecimento. Por eles sabemos que as ideias geográficas são
componentes importantes das doutrinas estratégicas dos
estados, dos processos e das retóricas de fazer política dos
políticos, das críticas dos dissidentes e das discussões
académicas sobre os assuntos mundiais. A leitura desses textos
mostra também a rapidez com que o significado político de
determinados “locais” pode mudar, e como devemos ser
prudentes sobre prognósticos geopolíticos: o que parece muitas

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vezes sólido e permanente, acaba por ser temporário e fluido.


Tal acontece porque os “atributos naturais” que são utilizados
para formar a linguagem geopolítica são “construções sociais”.

A ideia de Mackinder de que existem causas geográficas para a


História, não é totalmente errada, se interpretada em sentido
lato. Mas as alterações dramáticas nos modelos globais de
poder no final do século XX, forçadas pelas alterações
económicas e tecnológicas, parecem sugerir que as chaves
para a compreensão da política global requer uma teoria
bastante mais sofisticada do que aquela que se concentra no
controlo da Heartland. A atenção aos processos de mudança
rápida, em vez de a modelos geográficos eternos, fornece
ferramentas de análise mais úteis. Na última década, a rapidez
da mudança foi especialmente dramática.

No meio de todas as discussões sobre o comércio livre e a


globalização, é normalmente excluído um tema importante, que
é o crescimento das empresas transnacionais e as
consequências políticas das suas acções. Em termos de puro
poder económico, várias empresas, fazem parecer alguns
Estados como anões. Nos discursos geo-económicos do
neoliberalismo, tais desenvolvimentos são considerados como
uma organização de poder e riqueza correcta não merecendo,
por isso, comentários. Porém, como tem sido o caso das
companhias petrolíferas durante muitas décadas, as grandes
empresas têm tido impactos substanciais nas políticas externas
e nos interesses geopolíticos dos Estados mais poderosos.

Desde o fim da Guerra Fria, os temas dominantes na política


global têm sido uma mistura da celebração da suposta vitória do
Ocidente com o redobrado apoio às práticas de comércio
neoliberal na economia global. Porém, estas celebrações têm
contrastado com os receios de que todo o sistema se
desmorone, como resultado das rivalidades económicas, do
alargamento do crime organizado, das migrações
desestabilizadoras, da degradação ambiental, ou de choques de
civilizações. Estes receios de uma “vertigem” ou de um “caos”
geopolítico têm surgido com várias formas. A análise da
situação actual parece sugerir que as visões de integração
económica global e de conflito tribal local, são ambas essenciais
para tentar compreender o futuro.

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Ao repensar a economia política contemporânea, M. Castells


propôs que as ligações complexas da vida global na era da
informação pode ser melhor compreendida em termos do
aparecimento de uma “sociedade em rede”. As redes sugerem
ligações e elos em vez de barreiras espaciais.[9]

Para alguns autores, esta integração da economia global e das


redes dos fluxos de informação parece assegurar que a ameaça
de uma guerra entre grandes Estados industriais é uma coisa
do passado. Outros especularam que estas possibilidades
tecnológicas mudaram a importância de tal maneira que a
política contemporânea é melhor compreendida se falarmos de
“cronopolítica” – uma política de velocidade e de tempo, em vez
de território e de distância. Outros ainda afirmam que o território
perdeu o seu significado e que a velocidade é mais importante
em política do que o local; o espaço é um assunto de
electrónica e não de território. Mas, ainda para outros, as
considerações geopolíticas continuam a ser de primordial
importância e que o poder militar é hoje compreendido em
função do poder da informação.

Apesar de tudo, os fluxos de informação e os tempos de


reacção, a tecnologia por si só não são responsáveis por
decisões e acções políticas. O que é muitas vezes esquecido
nesta discussão sobre tecnologia da informação é que a
sociedade da informação ainda depende dos abastecimentos de
combustíveis para fazer andar os carros e fornecer electricidade
para os computadores e para os telefones. Os fornecimentos de
combustíveis ainda são essenciais às economias do mundo
pós-industrial. Adicionalmente, a abertura e a interligação das
fontes de informação electrónica, torna a sociedade dependente
delas potencialmente vulneráveis, quer de “piratas” informáticos,
quer mesmo de uma “ciber-guerra” com uma potência hostil.

O actual apoio generalizado, entre os decisores políticos, aos


discursos geo-económicos do neoliberalismo, não é contudo
suficiente para tornar claro qual, se alguma, das correntes
geopolíticas actuais se tornará hegemónica na compreensão do
período pós- Guerra Fria. Muito do que se escreve actualmente
defende que o estado territorial está a perder importância e que
os assuntos militares têm menor significado na política das
grandes potências. Mas declarar que o fim da “guerra fria” e o

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aparecimento do actual sistema económico global, significam o


fim da história ou o fim da geopolítica do final do século XX, é
esquecer alguns dos pontos–chave sobre Geopolítica.

Em todas as discussões sobre acelerações e alterações nos


arranjos geopolíticos, deixa-se frequentemente de parte o
destino daqueles que são marginalizados pelos processos
económicos de globalização. Podem não ter “modems”, não
conhecer os detalhes das estatísticas económicas, nem
perceber o significado militar dos satélites de reconhecimento
que os sobrevoam, mas pagam o preço das acções militares em
muitas partes do mundo e conhecem directamente as
alterações económicas profundas que estão a concentrar
riquezas fabulosas nas mãos das elites económicas e políticas
que estão mergulhadas aos circuitos globais do capital. Os
pobres e os marginais não lêem normalmente teorias
geopolíticas, e esta é a razão porque a política de como, a
maior parte das vezes, não são representados, é uma parte
importante de qualquer análise crítica da Geopolítica, tida como
um modo de influência e poder com consequências políticas.

Os textos sobre Geopolítica não são “neutrais”, escritos de


posições exteriores à política, à história ou à geografia, tentando
responder a uma questão aceite por todos. Tal é apenas uma
táctica retórica utilizada repetidamente para convencer os
leitores que o autor do texto é imparcial nessa resposta.
Normalmente, esse tipo de resposta é percursora de decisões
políticas e do exercício do poder por parte de algum governo,
empresa ou agência.

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[1] LUKE, Timothy – “The discipline of security studies and the


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geopolitics reader”, pp. 140-141.

[2] N.A: think-tank – grupo de trabalho de especialistas que


estuda um assunto específico.

[3] LUKE, Timothy – obra citada, pp. 140-142.

[4] REUBER, Paul – obra citada.

[5] KAPLAN, Robert – “The coming anarchy” – em “The


Geopolitics reader”, p. 190.

[6] KAPLAN, Robert – obra citada, pp. 190-195.

[7] ROUTLEDGE, Paul –“Geopolitics reader”, pp. 245-253.

[8] KONRAD, George – “Antipolitics: A moral force”, em “The


Geopolitics reader”, pp. 283-285.

[9] CASTELLS, Manuel – “The rise of the network society”,


London, Blackwell, 1996.

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