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Modelo de financiamento do SNS

Estado gasta 20 milhões de euros por dia com o Serviço


Nacional de Saúde
31.07.2006 - 09:33 Por Alexandra Campos, Andrea Cunha Freitas, PÚBLICO

http://www.publico.pt/Sociedade/estado-gasta-20-milhoes-de-euros-por-dia-com-o-
servico-nacional-de-saude_1265768?all=1

Em Fevereiro deste ano, o ministro da Saúde desencadeou uma autêntica vaga de


protestos, ao admitir a possibilidade de recorrer a medidas drásticas, alterando o modelo
de financiamento do SNS e pondo os utentes a pagar parcialmente os custos, caso não
consiga controlar o imparável crescimento da despesa no sector. Às polémicas
declarações de Correia de Campos seguiu-se a nomeação de uma comissão de
especialistas que está a analisar em profundidade a situação e vai equacionar possíveis
soluções para o futuro, até 15 de Outubro.

A despesa com o SNS foi de 1830 milhões de euros nos primeiros três
meses do ano (Pedro Inácio/PÚBLICO (arquivo))

Enquanto o grupo de "mentes brilhantes" pensa o sistema, o Governo já começou a


introduzir algumas mudanças que visam, sobretudo, o "corte nos desperdícios". No
campo dos medicamentos, a estratégia de Correia de Campos já está a dar alguns frutos,
ainda que, em parte, graças à transferência da despesa para os cidadãos e sobretudo à
custa de cortes nas comparticipações, mas falta ainda definir as linhas de orientação
estruturais para o futuro do SNS.

Num controverso "pacote" que inclui o anunciado corte nas horas extraordinárias dos
profissionais de saúde e o gradual fecho dos serviços de urgência dos centros de saúde
denominados Serviços de Atendimento Permanente (SAP), entre outras medidas de
racionalização, há ainda demasiadas questões em aberto que dividem os especialistas no
complexo mundo da sustentabilidade do SNS. O PÚBLICO procurou as opiniões de
alguns "peritos" sobre três das principais equações em debate.

Cortar no desperdício?

Os números são avassaladores: no primeiro trimestre deste ano, segundo dados da


Direcção-Geral do Orçamento, a despesa com o SNS foi de 1830 milhões de euros;
fazendo as contas por alto, o Estado está a gastar uma média superior a 20 milhões de
euros por dia em saúde.
Este ano, o orçamento para a saúde ascende a 7,8 mil milhões de euros. E tudo indica
que o enorme bolo não irá chegar para as encomendas. Apesar de ser a primeira vez que
o Governo concede ao SNS um orçamento "realista", há quem defenda já que não dá
folga para o acréscimo de gastos previsível, devido à pressão demográfica e tecnológica.
Correia de Campos tem respondido que a folga existe no desperdício que está a ser
combatido e no corte da gordura do sistema.

O combate ao desperdício tornou-se mesmo uma das novas palavras de ordem na


discussão sobre a sustentabilidade do SNS. Mas o especialista em economia da saúde e
membro da comissão que está a estudar o problema Pedro Pita Barros faz questão de
separar as águas do desperdício da falência do sistema: "O combate ao desperdício vai
estar lá sempre, independentemente de o sistema estar em falência ou não". "A
sustentabilidade passa, em primeiro lugar, pelo combate ao desperdício e à
promiscuidade", defende o economista do Instituto Bento de Jesus Caraça, ligado à
CGTP, Eugénio Rosa, que tem feito trabalhos sobre o tema e está convencido de que o
SNS tem remédio. "Como é que é possível haver directores de serviço e médicos em
part-time nos hospitais? Ninguém tem força para mudar isto", lamenta.

Privatização?

Sem acreditar que o SNS esteja em causa - "a privatização em termos políticos não está
em cima da mesa" -, Pedro Pita Barros acha que poderá fazer sentido, quando muito,
privatizar os [serviços] que funcionam mal. "Pensemos na zona de Lisboa, Porto e
Coimbra. Podemos mudar as equipas, fechar partes do hospital... porque a satisfação das
necessidades da população pode passar por outro lado".

Analisando o passado recente, Manuel Delgado, presidente da Associação Portuguesa


dos Administradores Hospitalares, nota que a empresarialização de alguns hospitais não
resolveu o problema do financiamento e do pagamento a tempo e horas. "Muitos
hospitais estão profundamente endividados", diz, sublinhando que alguns andam mesmo
"a pagar a fornecedores a 400 dias". "Vai ser preciso injectar mais dinheiro no sistema",
sentencia, considerando que não bastará "introduzir mais racionalidade" no SNS. "Há
uma teoria da economia que refere que, muitas vezes, quando se põe mais dinheiro em
cima de um problema, provavelmente o problema mantém-se e o dinheiro desaparece",
contrapõe Pita Barros. O especialista avança ainda com duas propostas assumidamente
provocadoras. "Nós podemos fazer um hospital abrir falência sem necessariamente
prejudicar a população e penalizar os eventuais responsáveis pela má gestão com, por
exemplo, a redução em 10 por cento do salário e impossibilidade de gerirem uma
unidade de saúde durante cinco anos". Alterar modelo de financiamento?

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) pôs o dedo


na ferida no seu último relatório, avisando que vai ser necessário fazer escolhas e que,
face ao crescimento imparável das despesas com a saúde, os países têm várias hipóteses:
pagar mais impostos, pagar mais do nosso bolso ou cortar noutras áreas.

"Nós podemos querer organizar as fatias do bolo ou a maneira como pagamos essas
fatias do bolo, de forma a que o bolo cresça o menos possível para os mesmos
resultados de saúde. Mas a maneira como isso se faz pode ser diferente de sociedade
para sociedade. Não acredito em soluções que sejam iguais para todos os países", diz
Pedro Pita Barros.
Pouco optimista, Manuel Delgado não tem muitas dúvidas sobre a inevitabilidade do
caminho a seguir. "É muito difícil ver uma solução que não passe por uma remodelação
radical do modelo de financiamento", até porque, defende, "aliviar o peso do Estado na
saúde" não é resposta que "possa dar grandes frutos a médio prazo". A solução passaria
pela criação de "um seguro público obrigatório".

Desdramatizando as declarações menos optimistas do ministro da Saúde - "ele também


disse que o SNS está de boa saúde e recomenda-se" -, Pedro Lopes Ferreira,
coordenador do Observatório Português dos Sistemas de Saúde e professor na
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, considera que a alteração do
modelo de financiamento "só deveria ser equacionada em última instância", porque
"desvirtua a lógica do sistema". Apesar de admitir que o aspecto financeiro é
importante, defende que é preciso olhar para além do défice. "A despesa com a saúde
tem crescido em todos os países. Não pode haver défice zero". "Sustentar quer dizer
conservar, impedir que caia". E o especialista acredita que, mesmo com "desvios e
recuos", "temos estado no caminho correcto", ensaiando novas formas de gestão.

Pedro Pita Barros acha que chegou um momento decisivo em que a sociedade tem de
estar preparada para fazer "escolhas explícitas". Já não se trata de deixar a solução do
"problema" nas mãos do Estado: "O Estado não é uma entidade abstracta, somos nós. A
sociedade portuguesa tem uma tendência de paternalismo atroz".

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