Vous êtes sur la page 1sur 12

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2018.0000365090

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário


nº 1057259-15.2016.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO e Recorrente JUIZO EX OFFÍCIO, é
apelado FUNDAÇÃO EZUTE.

ACORDAM, em 13ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso interposto e à
remessa oficial. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FLORA


MARIA NESI TOSSI SILVA (Presidente sem voto), BORELLI THOMAZ E ANTONIO
TADEU OTTONI.

São Paulo, 16 de maio de 2018

RICARDO ANAFE
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Apelação Cível nº 1057259-15.2016.8.26.0053 – São Paulo


Apelante: Municipalidade de São Paulo
Apelada: Fundação Ezute
Recorrente: Juízo ex officio
TJSP (Voto nº 29.558)

Apelação Cível Ação de Cobrança.

Siga-Saúde Empresa prestadora de serviço de suporte


técnico Falta de pagamento de algumas notas fiscais
Cartas expedidas com apontamento dos débitos
Municipalidade que aponta ocorrência da supressio
Inadmissibilidade.

Verba honorária assinada se revela demasiada (art.


85,§3º, do CPC) Arbitramento por equidade (art. 85, §§
8º e 11, do CPC) - Viabilidade.

Dá-se provimento ao recurso interposto e à remessa


oficial.

1. Trata-se de ação de “ação de cobrança” ajuizada por


Fundação Ezute em face da Municipalidade de São Paulo, deduzindo, em
síntese, que em 24 de maio de 2011 foi firmado contrato de prestação de
serviços de suporte técnico especializado para manutenção, desenvolvimento
e operação do Sistema Integrado de Gestão e Assistência à Saúde Siga
Saúde, no importe de R$3.059.518,00. Alega que após a assinatura do
contrato principal, foram assinados quatro termos aditivos de serviços, preço
e prazo, passando a vigência para até 24 de maio de 2015, com acréscimo no
valor final, totalizando R$4.033.974,48. Assevera que todos os serviços
foram prestados, com aceitação e recebimento dado pela requerida e, de
forma aleatória algumas notas não foram pagas, perfazendo um crédito de
R$727.185,00, que atualizado monetariamente, totaliza R$1.130,490,78.
Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Postula a procedência da ação, a fim de que a Municipalidade de São Paulo


seja condenada no pagamento de R$1.130.490,78, atualizado e acrescido de
juros, bem como no pagamento de honorários, custas e despesas processuais,
devidamente corrigido. Pedido julgado procedente (fl. 215/218 e fl. 230 e fl.
234).

Inconformada, apela a Municipalidade de São Paulo,


visando, em síntese, a reforma da sentença, quanto aos honorários
advocatícios assinados (fl. 236/244).

Processado regularmente, com contrarrazões (fl. 257/266),


subiram os autos a esta Instância.

É o relatório.

2. A sentença apelada merece pequeno reparo.

A Fundação Ezute propôs ação de cobrança em face da


Municipalidade de São Paulo, em razão de ter prestado serviços nos meses de
dezembro de 2012 e janeiro de 2013, correspondente às notas fiscais nº2451,
nº2452, nº2453, nº2455, nº2456, nº2457, nº2465, nº2466, nº2467 e nº2468,
totalizando R$1.130.490,78.

Em 28 de dezembro de 2015, o Secretário Municipal da


Saúde proferiu despacho no qual considerou regular a despesa e reconheceu o
direito ao pagamento à autora, no valor de R$727.185,00, sem o acréscimo
dos juros, referente às notas fiscais emitidas, tendo em vista a prestação de
Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

serviços de suporte técnico especializado para manutenção, desenvolvimento


e operação, com transferências de tecnologia, nos módulos Sistêmicos do
Siga-Saúde, cujas despesas não haviam sido quitadas, razão pela qual
solicitou providências para lançamento na previsão orçamentária (Cf. fl.
186).

A Coordenadoria Financeira Orçamentária, em 1º de março


de 2017, informou que o débito estava inscrito em DEA Despesa de
Exercício Anterior e a previsão de pagamento dependia de um aporte de
recursos a ser tratado entre as pastas da Secretaria Financeira e Secretaria
Municipal da Saúde (Cf. fl. 189).

Incontroverso é que a Municipalidade de São Paulo


reconhece o débito, porém entende não ser devidos os encargos moratórios e,
para tanto, lança mão do argumento da supressio, tendo em vista que os
serviços foram prestados em dezembro de 2012 e janeiro de 2013 e cobrados
em ação judicial apenas em 2016, sendo certo que nesse interstício foram
celebrados Termos Aditivos 03/2013 e 04/2014, com prorrogação de doze
(12) meses cada um (Cf. fl. 116/120).

Com efeito, segundo a lição de Antônio Manuel da Rocha e


Menezes Cordeiro,

“diz-se supressio a situação do direito que,


não tendo sido em certas circunstâncias,
exercido durante um determinado lapso de
tempo, não possa mais sê-lo por, de outra
Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

forma, se contrariar a boa-fé” (in Da Boa Fé


no Direito Civil, Ed. Almedina, Coimbra,
1997, p. 796).

Sendo, pois, instituto afeito ao Direito Contratual, relativo


ao fenômeno da supressão de determinadas relações jurídicas pelo decurso do
tempo, exige-se a investigação acerca da bona fide, que se faz presente na
hipótese em análise.

Para tanto, observa-se que os débitos dizem respeito às


notas fiscais emitidas entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, repita-se,
proveniente do contrato celebrado em 24 de maio de 2011 (Cf. fl. 36/42),
sendo certo que seus aditivos firmados foram em abril de 2012 (Cf. fl.
111/113), maio de 2012 (Cf. fl. 114/115), junho de 2013 (Cf. fl. 116/118) e
julho de 2014 (Cf. fl. 119/126).

Nessa espia, ao tempo em que os dois últimos aditivos


foram pactuados, o débito em questão já estava pendente de quitação, tanto
que desde março de 2013 a autora emitiu Carta 286/2013, Carta 0771/2013,
Carta 1043/2014, Carta 0256/2014, Carta 0203/2015, Carta 0627/2015, Carta
0702/2015 (Cf. fl. 150/162), em que aponta o débito relativo às notas fiscais
emitidas (Cf. fl. 166), o que comprova a tentativa de recebimento amigável
do montante com envio de sete (07) missivas e uma resposta correspondente
a Carta 0627/2015, em novembro de 2015, na qual a Coordenadoria de
Finanças e Orçamento CFO/SMS-G, informa que está “aguardando
liberação de recursos para pagamento desta despesa” (Cf. fl. 165).

Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Assim, demonstrada a bona fide da autora, justificada está a


incidência dos encargos sobre o montante devido, de maneira que o
argumento da supressio não vinga.

No que toca aos honorários advocatícios, nota-se que foram


arbitrados no patamar mínimo, em conformidade com o artigo 85, parágrafo
3º, do Código de Processo Civil.

A verba honorária é a contraprestação devida ao advogado


pela execução dos seus serviços profissionais.

O Código de Processo Civil de 1973 previa a figura dos


honorários advocatícios, estabelecendo-os como uma espécie de despesa
processual a ser paga no final da demanda pela parte vencida à parte
vencedora.

Nessa moldura, o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos


Advogados do Brasil estabeleceu em seus artigos 22 e 23, respectivamente,
que além dos honorários convencionados, aqueles devidos ao final da
demanda pela parte sucumbente, além de ser direito privativo dos advogados,
também consistiam em verba remuneratória, rompendo, desta forma, a ideia
de que se tratava de verba de despesa difundida por Alfredo Buzaid, quando
da elaboração do Projeto de Lei do Código de Processo Civil de 1973.

Com o advento do Código de Processo Civil de 2015,


houve o rompimento definitivo do pensamento instituído por Alfredo Buzaid,
oportunidade em que restou ratificado o posicionamento dos artigos 22 e 23
Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, conforme se


observa no caput do artigo 85 do novel diploma legal que diz: “os
honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar,
com os mesmos privilégios dos critérios oriundos da legislação
trabalhista”.

Dessa forma, dados novos contornos aos honorários


advocatícios, pode-se afirmar com certeza que sua natureza é remuneratória,
sendo certo que devida toda vez que a parte sucumbe ao patrono do
vencedor.

Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, como


autora ou ré, os percentuais são fixados nos inciso I a V do parágrafo 3º do
artigo 85 do Código de Processo Civil e a base de cálculo é o valor da
condenação ou valor do proveito econômico obtido.

O Código de Processo Civil estipula o percentual a ser


aplicado nas condenações ao pagamento de honorários advocatícios, sendo de
10% a 20% sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido
até 200(duzentos) salários mínimos; de 8% a 10% sobre o valor da
condenação ou do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos)
salários mínimos até 2.000 (dois mil) salários mínimos; de 5% a 8% sobre o
valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois
mil) salários mínimos até 20.000 (vinte mil) salários mínimos; de 3% a 5%
sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de
20.000 (vinte mil) salários mínimos até 100.000 (cem mil) salários mínimos;
e de 1% a 3% sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido
Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

acima de 100.000 (cem mil) salários mínimos.

Em verdade, a razão de ser do parágrafo 3º do artigo 85 do


Código de Processo Civil é o de evitar as controvérsias que existiam na
vigência do Código de Processo Civil de 1973 (artigo 20, parágrafo 4º),
porém não se pode ignorar que quando sucumbe à condenação em honorária,
os recursos públicos são afetados.

Nessa espia, como pontuado pelo eminente Desembargador


Décio Notarangeli, sabendo-se que os recursos públicos são escassos e
finitos, no momento da assinação da verba honorária, há que se observar
também os princípios regentes da probidade administrativa, principalmente o
da moralidade e da razoabilidade.1

O princípio da moralidade cuja inolvidável lição de Hely


Lopes Meirelles, citando Hauriou, assim define:

“A moralidade administrativa constitui hoje em


dia, pressuposto de validade de todo ato da
Administração Pública (Const. Rep., art. 37,
caput). Não se trata __ diz Hauriou, o
sistematizador de tal conceito __ da moral
comum, mas sim de uma moral jurídica,
entendida como 'o conjunto de regras de conduta
tiradas da disciplina interior da Administração'.
Desenvolvendo a sua doutrina, explica o mesmo

1 in AC nº 1001983-95.2017.8.26.0624, Rel. Décio Notarangeli, D.O.E. 22.11.2017.


Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

autor que o agente administrativo, como ser


humano dotado da capacidade de atuar, deve,
necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o
honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá
desprezar o elemento ético de sua conduta.
Assim, não terá que decidir somente entre o legal
e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o
inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas
também entre o honesto e o desonesto. Por
considerações de direito e de moral, o ato
administrativo não terá que obedecer somente à
lei jurídica, mas também à lei ética da própria
instituição, porque nem tudo que é legal é
honesto, conforme já proclamavam os romanos:
non omne quod licet honestum est. A moral
comum, remata Hauriou, é imposta ao homem
para sua conduta externa; a moral administrativa
é imposta ao homem para sua conduta interna,
segundo as exigências da instituição a que serve e
a finalidade de sua ação: o bem comum” (Direito
Administrativo Brasileiro, 35ª edição, Malheiros
Editores, 1990, atualizada por Eurico de Andrade
Azevedo, Délcio Balestero Aleixo e José Emmanuel
Burle Filho, p. 90).

E conclui o preclaro mestre:

Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

“De certa forma, a moralidade se compara à 'boa-


fé objetiva' do Direito Privado, na qual é vista
como uma 'norma de comportamento leal' ou um
'modelo de conduta social, arquétipo ou standard
jurídico', ao qual cada pessoa deve ajustar a
própria conduta, 'obrando como obraria um
homem reto: com honestidade, lealdade,
probidade'” (op. cit., p. 93).

D'outro bordo, a razoabilidade nada mais é do que a


verificação de um ato ou fato se conforme com a razão, o que se traduz com
mais exatidão pelo conceito expresso no Dicionário de Ciências Sociais da
Fundação Getúlio Vargas: “Do uso restrito, que designa a atividade de
raciocínio ou dedução lógica de verdade necessária, o termo razão passou a
designar mais genericamente o poder do intelecto de formular conceitos e
estabelecer relações lógicas de modo a deduzir uma conclusão correta de uma
premissa dada ou de fazer um julgamento objetivamente válido a respeito de
fenômenos empíricos. Por extensão, passou a significar também uma
explicação ou justificação válida e lógica de um acontecimento ou
relacionamento; e por outra extensão ainda, qualquer causa ou motivo.” (Cf.
p. 1.025).

Desse modo, como se pode notar, a razoabilidade guarda


sentido extremamente amplo, passando pelo campo ideal da idéia de
adequação, idoneidade, logicidade, eqüidade, revelando tudo que não é
absurdo, tendo-se como aceitável apenas o admissível, pelo que

Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη


TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

compreensível a conceituação pelo prisma do bom senso, da prudência e da


moderação.

Com efeito, a questão sub examine não se revela complexa,


tampouco houve resistência em se admitir que houve prestação de serviço,
bem como demora no pagamento, ao revés, vez que considerou regular a
despesa e reconheceu o direito ao pagamento à autora, de tal arte que a
assinação de sucumbência deve estar diretamente relacionada ao trabalho
realizado pelo advogado no processo e sujeita ao controle judicial, sendo
certo que a assinação de honorária em estrita obediência ao parágrafo 3º do
artigo 85 do Código de Processo Civil afronta não apenas a convicção do
magistrado, como também à moralidade, à razoabilidade, que devem nortear
as decisões judiciais.

Nessa esteira, nada obstante ao cabimento de arbitramento


da verba honorária por equidade nas causas em que o proveito econômico se
revelar inestimável ou irrisório ou, ainda, a causa for de valor muito baixo
(parágrafo 8º do artigo 85 do Código de Processo Civil), vale adotar o
arbitramento por equidade para as hipóteses em que o valor da causa for
demasiada e, consequentemente, resultarão em honorários que não
condizerem com o trabalho desenvolvido no processo, como se pode verificar
in casu.

Por epítome, conclui-se que a respeitável sentença merece


pequeno reparo, apenas no que toca à assinação dos honorários advocatícios,
que pelos motivos expostos fixo em R$20.000,00 (vinte mil reais),
Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

obedecendo ao disposto nos parágrafos 8º e 11 do artigo 85 do Código de


Processo Civil, azo pelo qual resta provido o recurso interposto.

3. À vista do exposto, pelo meu voto, dou provimento ao


recurso interposto e à remessa oficial.

Ricardo Anafe
Relator

Apelação / Reexame Necessário nº 1057259-15.2016.8.26.0053 - São Paulo - VOTO Nº 29.558 - Аν άφη

Vous aimerez peut-être aussi