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D I S C I P L I N A Organização do Espaço
Autoras
aula
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UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.
Apresentação
N
a aula passada, foi abordada a discussão do espaço geográfico a partir da relação
homem-natureza. Nesta aula, aprofundaremos a discussão, verticalizando a noção de
espaço geográfico a partir da inter-relação que se estabelece com o tempo. Assim,
a aula está dividida em duas partes que se articulam e se complementam. Na primeira,
estabelecemos um diálogo entre o espaço e as diversas faces do tempo; na segunda,
aproximamos as variáveis espaço e tempo a uma sociedade dada, ou seja, à sociedade
capitalista, mostrando a relação entre essência e aparência na leitura da ciência geográfica.
No enredo da aula, você será levado a refletir sobre o espaço geográfico a partir de sua
conexão com o tempo em uma sociedade específica.
Objetivos
Entender a definição de espaço como objeto de estudo
1 da ciência geográfica.
A afirmação de Milton Santos nos leva a querer entender melhor o espaço geográfico
a partir do diálogo que deve se estabelecer entre os elementos que interferem na sua
composição. Nesse diálogo, que sugerimos ser aberto e reflexivo, o tempo assume uma
posição central.
Vejamos, para responder a essa questão, algumas expressões em que esse termo
aparece.
Você deve ter percebido nas expressões que a palavra tempo foi empregada em uma
linguagem corrente, incorporando-se como uma variável do cotidiano. Na vida diária, há a
necessidade de localizar as ações, visões e procedimentos no tempo. Por meio dele, pode-se
enxergar os limites e as possibilidades dos fazeres e saberes dos homens.
1.
sua resposta
2.
A partir dessa atividade, você pôde perceber que o tempo não é só companheiro da
Geografia, mas está em diferentes campos de interpretação humana. Ele é uma variável que
transversaliza as variadas esferas de representação social.
Assim, para você compreender o espaço geográfico é necessário “treinar” o olhar a fim
de enxergar nas formas espaciais as marcas do tempo, da natureza e do homem.
O que vejo?
Como surgiu?
Por que existe?
Desde quando?
Quem o construiu?
A resposta a essas perguntas pode ser dada submetendo-se o que foi visto à variação
temporal, social e cultural.
Assim, veja: tomando uma realidade espacial qualquer, você pode ampliar as questões
anteriores interrogando:
Isto é novo?
Isto é velho?
Isto é atual?
Isto é natural?
Isto é artificial?
Para dar mais substância as nossas discussões, leia um trecho de Milton Santos (1986,
p. 10) a seguir.
a.
sua resposta
b.
c.
Vamos submeter está frase a pergunta “por quê?” Para responder a essa pergunta,
é necessário considerarmos o que foi dito até agora e acrescentarmos à palavra tempo a
designação social. Assim, o tempo para a Geografia é uma construção social. O que nos
remete a condição de que no tecido espacial a ação humana institui-se como tempo social. O
que isso significa? Significa que quando nos referimos ao espaço estamos considerando o
registro de tempos em sucessões desiguais, que se acumulam em formas ou feições distintas.
Isso ocorre a partir de interesses, saberes, fazeres, técnicas, conhecimento e trabalho que
variam, fazendo coexistir feições fragmentadas de tempos distintos em ambientes também
distintos, porém complementares.
Henri Lefbvre nos ajuda a pensar sobre essa coexistência de tempo no espaço, ou no
espaço como uma memória ampliada do tempo. Leia a seguir o que ele afirma.
A afirmação do geógrafo nos sugere que há “uma cumplicidade” entre estrutura espacial
e estrutura social. Assim, o desenvolvimento social marca o desenvolvimento espacial, que
por sua vez, condiciona o próprio desenvolvimento social. Temos a forma espacial sendo
organizada em um movimento espiralado que se alimenta da dinâmica sócio-espacial que
une e separa, dialogicamente, homens e coisas.
Figura 4 – Espaço e sociedade: onde está o começo, será que tem fim?
Atividade 3
Faça você um exercício. Tome a sua cidade como forma espacial. Caminhe
por suas ruas, praças, bairros... Observe o que ela é. Registre as diferentes
imagens que você encontrou e monte um quadro, procurando aproximar
imagens do passado a imagens do presente. Encontre o que une e separa os
homens no tecido urbano visitado. Responda a questão: o que é a cidade em
termos sócio-espaciais?
Da aparência à essência
A cidade que você viu pode ser considerada uma forma espacial. O que você registrou
pode ser lido de maneira metafórica, a casca do ovo, o invólucro, o papel que embrulha
um presente. Ela constitui a primeira impressão sobre algo, podendo ser considerada a
aparência das coisas. É uma parte de um todo. Assim, no que vemos existe um conjunto de
elementos que não vemos e que são fundamentais para que aquilo que se vê possa existir. É
a incorporação ou incrustação de idéias, procedimentos, técnica, trabalho e meios utilizados
para a produção de um determinado objeto ou forma espacial. O que não se vê, mas que está
lá constitui a essência do que foi visto. É a outra parte da totalidade espacial.
[...] a mercadoria é concebida, em primeiro lugar, como uma coisa ou um objeto que
satisfaz uma necessidade qualquer do homem; em segundo lugar, como uma coisa
que se pode trocar por outra. A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso, isto
é, tem utilidade específica para o seu consumidor. Conseqüentemente, pode-se afirmar
que as mercadorias diferenciam-se umas das outras pelo seu valor, uma vez que a cada
necessidade específica corresponde uma mercadoria com características específicas. Por
sua vez o valor de troca (ou simplesmente valor) poderia ser caracterizado como sendo
a relação ou a proporção na troca de um certo número de valores de uso de uma espécie
contra um certo número de valores de uso de outra espécie. (CATANI, 1983, p. 22)
Para isso, é necessário termos claro que estamos tratando da organização espacial
em um contexto sócio-histórico, ou seja, a criação do espaço geográfico está atrelada ao
processo de produção social do tempo.
Para ampliar o nosso entendimento, vamos ler o que Milton Santos diz:
O mesmo exercício vale para o espaço geográfico. Quando olhamos, somos capazes
de identificar formas, contornos, sinais... Adentramos suas formas como se fossem portas
abertas para um universo complexo de informações, sentidos, simbologias, técnicas, idéias.
Sob um objeto fixo, subjaz um conjunto de informações que não aparecem de imediato e
que o põe em movimento, dando fluxo e vida a sua existência. O ato de criar espaço está
submetido às regras dialógicas que satisfazem as distintas maneiras de (dês) organização
de uma sociedade. Quando construímos uma casa, um bairro, uma cidade, é uma sociedade
que se revela em fragmentos.
Figura 8 – “Tá vendo aquele edifício, moço, ajudei a levantar...” (Lúcio Barbosa).
Auto-avaliação
a) A partir do que você estudou e realizou ao longo desta aula, defina o que é o espaço
geográfico como objeto de estudo da Geografia.
c) Explique a situação criada por você utilizando os conhecimentos discutidos nesta aula
a respeito do espaço, do tempo e da sociedade.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica.
São Paulo: HUCITEC, 1978.
Anotações
EMENTA
Objeto de estudo da geografia; as correntes filosóficas que embasam o pensamento geográfico; espaço, território,lugar,
região e paisagem nas diversas abordagens geográficas; a importância das redes no estudo geográfico do mundo
globalizado; a ciência geográfica na sociedade pós-moderna:paradigmas, perspectivas e dificuldades; as formas de
abordagens dos temas geográficos no Ensino de geografia; atividades práticas voltadas para a resolução de problemas
referentes ao espaço geográfico em situações de ensino
AUTORAS
AULAS