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Por uma Análise Critica do Movimento Escola Sem Partido1

Lucas M., Maria E., Marina S., Pietro P., Rudah X., Stephanie C., William E.

A proposta deste artigo é esboçar um estudo sobre as causas e implicações


do ideal promovido pelo movimento Escola Sem Partido (ESP) e destrinchar as
condições históricas que criaram as condições de sua emergência. Neste, utilizamos
o apoio de autores que utilizam o método de análise do discurso para analisar não
apenas o movimento em si, mas fazermos uma leitura crítica expandida das
repercussões ideológicas produzidas pelo ESP, visando se defrontar com sentidos
transversais das ações que promove e com o contexto político do país.

História e Ideal do ESP

O movimento Escola Sem Partido nasceu em 2004, fundado por Miguel Nagib
e sediado em Brasília, e tem como proposta a denúncia e a batalha contra a alegada
doutrinação que ocorre nas escolas, principalmente na educação básica. Segundo
Nagib, Presidente da ONG Escola sem Partido, o ESP nasceu como “reação ao
fenômeno da instrumentalização do ensino para fins político-ideológicos, partidários
e eleitorais” (Entrevista de Miguel Nagib à revista Profissão Mestre). Foi idealizado
como uma versão nacional do movimento americano “No Indoctrination”, motivado
pelo mesmo tipo de preocupação proveniente dos pais.
Em entrevista, Nagib, ao questionado se a doutrinação no Brasil é realmente
um problema e por quais motivos seria, respondeu que seria um problema grave e
que a doutrinação fere o direito individual à liberdade, pois as principais vítimas
seriam jovens inexperientes e imaturos, incapazes de reagir, intelectual e
emocionalmente a um professor. Nagib cita uma pesquisa da revista Veja onde 78%
dos professores acredita que a principal missão da escola é “despertar a consciência
crítica dos alunos”, algo que, segundo ele, é extremamente grave por entender que
o despertar da consciência crítica seja o mesmo que, em suas próprias palavras,
“martelar ideias de esquerda na cabeça dos alunos”. É dito ainda que os pais de
alunos não estão dando a devida atenção ao fato de seus filhos estarem sendo

1
Trabalho apresentado à disciplina de Psicologia do Trabalho II do Curso de Psicologia da
UFF/CURO, ministrado pela professora Alessandra Daflon.
doutrinados e que alguns até corroboram com essa ação doutrinadora:
“Ingenuamente, eles acreditam na balela do 'pensamento crítico'.”
O ESP alega surgir sem vertente político-ideológica. O próprio fundador
afirma que não importa se ele se alinha politicamente com as visões de direita,
esquerda ou centro, o que importa é a neutralidade, que é algo considerado como
enfaticamente possível de ser alcançado, segundo o próprio, e o dever moral do
professor seria esse de perseguir o ideal da neutralidade e objetividade científica.
Nagib ao ser questionado se fundaria o movimento ESP caso a ideologia
disseminada no meio acadêmico fosse a de direita responde “talvez”, dando a
justificativa que algumas vertentes ideológicas são mais perigosas que outras,
deixando subentendido que a corrente ideológica da esquerda seria mais danosa
que a de direita. Outro ponto curioso foi que em 2014, Brasília, ocorreu o 1º
Encontro Nacional sobre Doutrinação Política e Ideológica nas Escolas, onde a
primeira palestra da programação foi ministrada por Olavo de Carvalho,
autointitulado filósofo e escritor, e autor de cujas obras polêmicas mostram fortes
tendenciosidades políticas. Sua palestra possuía como título “A Tragédia da
Educação Brasileira”. A questão que a ser levantada a fim fazer-se uma análise
coerente é em que medida figuras públicas consideradas de extrema parcialidade
são capazes de promover discursos de neutralidade.
Um dos pontos principais dentre as ideias promovidas pelo movimento é a de
que não cabe ao professor obrigar os alunos a aprenderem sobre temas que entrem
em conflito com as ideologias de sua educação familiar. Um exemplo de tema a ser
vetado em sala de aula, de acordo com a proposta, seria a Educação de Gênero, já
que isso iria de encontro com os valores da família. E a essa violação propõe-se a
possibilidade de abertura de processo judicial contra o professor, que estaria
ensinando valores morais para seus alunos. Nagib afirma que não é prudente que se
debatam assuntos que estão no noticiário dentro da sala de aula.
Para auxiliar a instauração do movimento foi proposto uma lista de deveres do
professor que deveria ser posta em toda sala de aula e ambientes de convívio dos
professores dentro das instituições de ensino, que passou a incorporar pa projeto de
lei N.º 867, de 2015. Conforme consta:

Art. 4º. No exercício de suas funções, o professor:


I - não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, com o objetivo de
cooptá-los para esta ou aquela corrente política, ideológica ou partidária;
II - não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções
políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas;
III - não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará
seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas;
IV - ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas,
apresentará aos alunos, de forma justa, as principais versões, teorias,
opiniões e perspectivas concorrentes a respeito;
V - respeitará o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação
moral que esteja de acordo com suas próprias convicções;
VI - não permitirá que os direitos assegurados nos itens anteriores sejam
violados pela ação de terceiros, dentro da sala de aula (PL N.º 867 DE
2015)

O deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), no dia 23 de março de 2015, apresentou


o projeto de lei nº 867/2015, que inclui o “Programa Escola Sem Partido” entre as
diretrizes e bases da educação nacional. Atualmente (Junho de 2016) o PL se
encontra apensado (anexado) ao PL 7180/2014, que por sua vez aguarda
designação de relator na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) e
aguarda também a criação de comissão temporária pela MESA, que possui a
seguinte ementa:

“Inclui entre os princípios do ensino o respeito às convicções do aluno, de


seus pais ou responsáveis, dando precedência aos valores de ordem
familiar sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação
moral, sexual e religiosa. Adapta a legislação à Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro
de 1969, ratificada pelo Governo Brasileiro.” (PL 7180/2014)

Nos âmbitos municipais e estaduais anteprojetos já prontos são entregues a


vereadores, deputados estaduais, prefeitos e governadores, onde a
institucionalização do Programa Escola Sem Partido pode ocorrer a níveis abaixo do
federal, enquanto essa é votada. Existe um grau de afetação de um grupo relevante
de pessoas pelas propostas do projeto, mesmo sem que ele tenha sido aprovado. O
movimento iniciou-se antes de se tornar um projeto de lei, então existe uma
mobilização que antecede os projetos na política.
Análise Crítica

Movimentações de discussão e problematização dos temas levantados pelo


projeto de lei são crescentes, e muitas críticas têm sido levantadas contra os
pressupostos que balizam a justificativa de implementação de tais medidas. Um dos
temas de grande discussão em torno dessa problemática é o pressuposto da
neutralidade na educação, o qual é defendido veementemente pelo projeto. Um dos
grandes opositores desta idéia de neutralidade na educação é Paulo Freire. Para
Freire existe um “mito da neutralidade da educação, que leva à negação da natureza
política do processo educativo e a tomá-lo como um quefazer puro, em que nos
engajamos a serviço da humanidade entendida como uma abstração”(Freire, 1921).
Para Freire é impossível que haja uma educação neutra, pois todo processo de
educação é desvinculado de seu contexto histórico, e a reprodução de uma
ideologia dominante é inevitável.
As críticas giram em torno da afirmação de que não há formas de se defender
um tipo de ensino que seja absolutamente desimplicado de algum caráter político, e
o argumento de neutralidade é fundado no não reconhecimento das próprias
implicações políticas de um discurso que, pela hegemonia e dominância, instituiu-se
invisivelmente como “neutro”,“verdadeiro”, “correto”, ou ainda“normal”. Essas
categorias escondem conflitos de forças históricas divergentes que concorreram à
supremacia, e que no percurso de suas relações instituiram-se como tais. Desse
modo, buscaremos defender a existência de uma relação de indissociabilidade entre
a educação e a política:

Do ponto de vista critico, é tão impossível negar a natureza política do processo


educativo quanto negar o caráter educativo do ato político. Isto não significa,
porém, que a natureza política do processo educativo e o caráter educativo do ato
político esgotem a compreensão daquele processo e deste ato. Isto significa ser
impossível, de um lado, como já salientei, uma educação neutra, que se diga a
serviço da humanidade, dos seres humanos em geral; de outro, uma prática
política esvaziada de significação educativa. Neste sentido é que todo partido
político é sempre educador e, como tal, sua proposta política vai ganhando carne
ou não na relação entre os atos de denunciar e de anunciar. Mas é neste sentido
também que, tanto no caso do processo educativo quanto no do ato político, uma
das questões fundamentais seja a clareza em torno de a favor de quem e do quê,
portanto contra quem e contra o quê, fazemos a educação e de a favor de quem e
do quê, portanto contra quem e contra o quê, desenvolvemos a atividade política.
Quanto mais ganhamos esta clareza através da prática, tanto mais percebemos a
impossibilidade de separar o inseparável: a educação da política. Entendemos
então, facilmente, não ser possível pensar, sequer, a educação, sem que se esteja
atento à questão do poder. (Freire, 1921 p.15)

Conforme a ideologia do projeto, o desenvolvimento de uma capacidade de


pensamento crítico por parte do aluno é algo a ser evitado durante o ensino, sob o
pretexto de que isso abre uma janela para que professores inculquem nos alunos
“pensamentos políticos e ideológicos de esquerda”. Portanto, partir do discurso de
neutralidade, o projeto visa instituir um dispositivo legal que pretende regular a
atuação do professor em sala de aula. Esse projeto de lei poderia ser considerado a
legitimação de uma forma de poder que controlará o discurso do educador, uma
forma violenta de atentado ao pensamento livre – o professor se vê impossibilitado
de ensinar a pensar e se vê obrigado a contribuir com uma lógica reprodutora de
uma ideologia oculta que pretende-se isenta ideologicamente.
O trabalho genealógico de Foucault nos parece importante para que
possamos entender a forma como algumas práticas que se instauraram no passado
foram importantes na implementação de lógicas de poder. Ao analisar a história dos
exércitos, das fábricas, das prisões, nos asilos e nas escolas, praticas que se
configuraram na Idade Moderna, Foucault identificou a consolidação de instituições
que funcionam como dispositivos de disciplina. E como um crítico da instituição
escolar, ele mostra como a implementação de tecnologias de distribuição espacial, a
disposição das classes, e técnicas diversas de ensino nas escolas em um processo
que se inicia nos “colégios” medievais e se expandem no século XVIII produz-se
uma instituição disciplinadora que por sua vez produz indivíduos cada vez mais
submissos.
As técnicas de gráficos, exames, relatórios, boletins, a observação configuram
um aparelho de docilização progressiva do corpo da criança, que torna-se objeto de
manipulação e condicionamento.

O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que


normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar,
classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual
eles são diferenciados e sancionados. É por isso que em todos os dispositivos de
disciplina o exame é altamente ritualizado. Nele vêm-se reunir a cerimônia do
poder e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da
verdade. No coração dos processos de disciplina, ele manifesta a sujeição dos
que são percebidos como objetos e a objetivação dos que se sujeitam. A
superposição das relações de poder e das de saber assume no exame todo o seu
brilho visível. (FOUCAULT 1977 p. 164-165)

As críticas de Foucault à educação fez com que ela não fosse mais a mesma.
Sua genealogia denunciou as relações de poder inerentes à lógica da educação,
trouxe à vista as correntes de forças ocultas por trás das instituições e fez com que a
educação na sua modalidade escolarizada passasse a ser considerada uma
maquinaria destinada a disciplinarização de corpos em ação. A escola na história
consistiu num processo de organização, classificação, depuração e censura dos
conhecimentos, onde uma moral se vê instalada no pano de fundo afetando não
somente os próprios corpos quanto os conhecimentos. O nascimento da chamada
“escola disciplinar” se deu num momento de intensas modificações nas relações de
poder, que deram origem ao que Foucault chama de “sociedade disciplinar”. O seu
trabalho mostra como essas relações explicam o surgimento não somente das
escolas, mas também dos hospitais, dos hospitais psiquiátricos, da prisão e das
fábricas. (FOUCAULT, 1977)
No percurso de sua obra, vemos como a passagem da sociedade disciplinar
para a sociedade de controle transforma o sujeito disciplinado em um novo tipo de
sujeito, dessa vez um sujeito moral, flexível, supostamente autônomo e tolerante, e
que requer um novo tipo de modulação no controle. Novas tecnologias de poder se
fazem necessárias e as práticas consolidam novos dispositivos biopolíticos, que
produzem um sujeito que substitui o sujeito disciplinado. Em todo percurso das
análises históricas, uma coisa é sempre evidente – a relação inexorável entre o
sujeito e a dimensão politica que atravessa a tudo. E a educação aparece, desde o
início de sua história, sempre como um fortíssimo dispostivo de implementação de
formas de poder.

Conclusão
A literatura consultada para este trabalho faz parte de um todo um conjunto de
estudos que se iniciaram nos séculos XIX e XX que problematizam a questão do
sujeito, do discurso e mostram como estão imbricados os jogos de poder e as
práticas discursivas. O ensino é uma prática discursiva de destaque nesse contexto,
pois consolida a formação intelectual, cultural e ainda política e ideológica dos
sujeitos. Foucault afirma que “todo sistema de educação é uma maneira política de
manter ou de modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes
que eles trazem consigo” (FOUCAULT, 1996. p. 44) e com base na construção deste
entendimento podemos refletir e problematizar a viabilidade de se instituir uma
educação desprovida de política e que não tenha nenhuma tendência ideologica de
fundo.

E quando produzirmos uma genealogia do poder, conseguimos entender


como se implementam instâncias de controle e de disciplinarização, entender como
são criados estes dispositivos e vislumbrar como funciona a repercussão dessas
institucionalizações a nível de relações de poder. A partir do momento que o projeto
lança um questionamento sobre o papel do professor na sala de aula quanto ao
posicionamento ideológico, inventa-se na política brasileira um profissional que
precisa se preocupar com questões políticas em sala de aula, e que precisa ou não
de interdições em algum nível, pois coisas passam a ser ou não permitidas como
resultado de um conjunto de forças históricas.

[...] Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições
que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o
poder. Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso [...] não é
simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é
objeto do desejo; e visto que – isto a história não cessa de nos ensinar – o
discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de
dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos
apoderar. (FOUCAULT, 1996).

Como vemos na citação de Foucault, todo discurso está ligado a poder. Se


antes não havia esse controle do profissional professor e por motivos históricos
passa-se a demandar, cria-se naturalmente a necessidade de produzir uma forma de
dar conta desse papel político-ideológico do professor. E esse é um momento
cuidadoso na história da pedagogia de nosso país, pois está se discutindo com
amplitude inédita a implementação de formas de controle da conduta do professor e
está em pauta a forma como o dispositivo vai ser criado. Querendo ou não, a
questão já está em voga, e nesse instante já nos é impossível voltar a um momento
onde essas questões simplesmente não importavam, ou não compunham as
discussões que envolviam o papel do professor – a ideologia do professor foi
inventada.
E a questão que prevalece ao olharmos contextualmente é que à partir do
momento em que essas questões são levantadas, torna-se iminente a necessidade
de se pensar sobre a forma de conduzir o trabalho, ou seja, estamos observando o
acontecimento de um processo biopolítico, de biopoder, onde o professor surge
como um ente a ser vigiado por um dispositivo que pretende-se implementar, ter
suas atitudes controladas por este (que alega uma neutralidade absolutamente
discutível), e que possibilita a instauração um regime que cerceia qualquer
possibilidade de mudanças no contexto da formação da mentalidade, e cristaliza um
sistema que mascara uma ideologia que busca fechar-se sobre si mesma.
Bibliografia

 Entrevista de Miguel Nagib à revista Profissão Mestre. (s.d.). Acesso em 16


de Junho de 2015, disponível em Escola sem Partido:
http://escolasempartido.org/midia-categoria/395-entrevista-de-miguel-nagib-a-
revista-profissao-mestre
 Foucault, M. (1996.). A ordem do discurso. 3. ed. Trad. L. F. de A. Sampaio.
São Paulo: Edições Loyola.
 Foucault, M. (1999). Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes.
 Foucault, M. (1977). Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes.
 Freire, P. (1921). A importância do ato de ler: em três artigos que se
completam. São Paulo: Autores Associados: Cortez.
 PL 7180/2014. (s.d.). Acesso em 16 de Junho de 2015, disponível em Câmara
dos Deputados:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=6
06722
 PL N.º 867 DE 2015. (s.d.). Acesso em 16 de Junho de 2015, disponível em
http://www.adufrj.org.br/tireamao/wp-content/uploads/2016/06/PL867-2015.pdf

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