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Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul TJ-MS

FL.488
0101425-24.2006.8.12.0043

12 de dezembro de 2013

5ª Câmara Cível

Apelação - Nº 0101425-24.2006.8.12.0043 - São Gabriel do Oeste


Relator – Exmo. Sr. Des. Vladimir Abreu da Silva
Apelante : Estado de Mato Grosso do Sul
Proc.Est. : Jucelino Oliveira da Rocha
Recorrente : Juiz Ex Officio
Apelado : Ministério Público Estadual
Promotor Just. : Alexandre Estuqui Júnior

E M E N T A – APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME DE


SENTENÇA – EMBARGOS À
EXECUÇÃO EXECUÇÃO DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUT
A HOMOLOGADO JUDICIALMENTE – NULIDADE DA SENTENÇA
POR CERCEAMENTO DE DEFESA – CARÊNCIA DE AÇÃO POR
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO – ILEGITIMIDADE ATIVA
DO MINISTÉRIO PÚBLICO – NULIDADE DA SENTENÇA POR
OMISSÃO DA APRECIAÇÃO DAS TESES DE AUSÊNCIA DE CERTEZA
E LIQUIDEZ DO TÍTULO – PRELIMINARES AFASTADAS –
ALEGAÇÃO DE CUMPRIMENTO
DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA – LEGISLAÇÃO
SUPERVENIENTE – NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/12) –
APLICAÇÃO DO ARTIGO 462 DO CPC – OBRIGAÇÕES AJUSTADAS
NO TAC INCOMPATÍVEIS COM A NOVA LEGISLAÇÃO – FALTA DE
EXIGIBILIDADE DO TÍTULO – EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO –
CONDENAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO AO PAGAMENTO DE
CUSTAS E DE HONORÁRIOS – NÃO CABIMENTO – AUSÊNCIA DE
MÁ–FÉ – RECURSOS VOLUNTÁRIO E OBRIGATÓRIO PROVIDOS.
Não há óbice à execução do Termo de Ajustamento de Conduta –
TAC se o Estado se obrigou ao cumprimento das obrigações estabelecidas,
motivo por que não há falar em impossibilidade jurídica do pedido.
O Ministério Público é parte legítima para executar
o Termo de Ajustamento de Conduta do qual é signatário.
Não há falar em cerceamento de defesa pela não produção de prova,
se essa era desnecessária para o julgamento do feito.
Também não há falar em omissão da sentença na apreciação das teses
do apelante de ausência de certeza e liquidez do TAC, bem como, acerca da
incidência de juros e correção monetária, haja vista que a matéria foi apreciada
em embargos de declaração na primeira instância.
O advento de legislação superveniente (novo Código Florestal)
trazendo normas incompatíveis com aquelas firmadas
no Termo de Ajustamento de Conduta retiram a exigibilidade do título
executivo, impondo-se a extinção da execução.
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É possível aplicar a legislação promulgada após a prolação da


sentença, eis que considerada fato novo superveniente e passível de aplicação
de ofício nos termos do artigo 462 do CPC.
A teor do artigo 18 da Lei n. 7.347/85, aplicado por analogia, não é
cabível a condenação do Ministério Público ao pagamento de custas e de
honorários advocatícios, salvo comprovação de má-fé.

A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes da 5ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos, por
unanimidade e contra o parecer, afastar a preliminar e dar provimento aos recursos, nos
termos do voto do relator.

Campo Grande, 12 de dezembro de 2013.

Des. Vladimir Abreu da Silva - Relator


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R E L A T Ó R I O
O Sr. Des. Vladimir Abreu da Silva.

Estado de Mato Grosso do Sul, irresignado com a sentença que


julgou improcedentes os embargos à execução n. 0101425-24.2006.8.12.0043 (f.
112/118), interpõe recurso de apelação (f. 226/254). Suscita preliminares de carência de
ação por impossibilidade jurídica do pedido e de ilegitimidade ativa do Ministério
Público. Também suscita preliminares de nulidade da sentença de nulidade da sentença
por não individualizar a obrigação que cabe a cada um dos compromissários do TAC e
de nulidade da sentença por cerceamento de defesa, em razão de o Magistrado a quo não
ter aberto às partes a oportunidade de produzir provas pericial e testemunhal.

No mérito, aduz que houve o cumprimento integral do Termo de


Ajustamento de Conduta TAC firmado entre o Ministério Público Estadual e Hugo
Deiss, no qual atuou como interveniente o Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso
do Sul IMASUL e a Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
SEMA.

Alega que cumpriu o parágrafo primeiro da cláusula décima nona, a


qual ficou estabelecido que deveriam ser expedidas normas regulamentares dentro do
prazo de noventa dias a contar da homologação judicial do TAC, conforme se constata
pela edição das Portarias IMAP/MS 27, 28, 29, 31, 36 e 40. Aduz que também houve o
cumprimento do parágrafo segundo da mesma cláusula, pelo qual se obrigou a prestar a
assessoria técnica necessária para análise dos aspectos ambientais, bem como o disposto
no parágrafo terceiro, porquanto realizou a análise e reavaliação referente à
compensação da reserva legal.

Em caso de manutenção da sentença de procedência dos embargos e


de não provimento do recurso, arguiu a inconstitucionalidade de condenação do Estado
ao pagamento de honorários advocatícios em favor do Ministério Público Estadual.

Ao fim, requereu o acolhimento das preliminares suscitadas e, caso


não seja acolhida, no mérito, requereu o provimento do recurso de apelação interposto
com a reforma integral da sentença proferida.

Houve, também, recurso de ofício.


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O Ministério Público, em primeira instância, apresentou as


contrarrazões (f. 425/444) e pugnou pela manutenção da sentença.

Finalmente, o Parquet, por meio da Procuradoria-Geral de Justiça,


trouxe aos autos seu parecer (f. 450/465), em que opinou pelo conhecimento e não
provimento do recurso.

V O T O
O Sr. Des. Vladimir Abreu da Silva. (Relator)

Trata-se de recurso de apelação interposto pelo Estado de Mato


Grosso do Sul, irresignado com a sentença proferida pelo Juízo da Vara Única da
Comarca de São Gabriel do Oeste, que julgou improcedente o pedido formulado nos
embargos à execução (autos n. 0101425-24.2006.8.12.0043), ajuizados pelo recorrente
em face do Ministério Público Estadual.

O ponto central do recurso recai sobre o fato de o Termo de


Ajustamento de Conduta ter sido cumprido ou não. Segundo consta nos autos, houve a
celebração do TAC entre o Ministério Público Estadual e Hugo Deiss, tendo como
intervenientes a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMA e
o apelante Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso - IMASUL.

Antes de ingressar no mérito, contudo, impende analisar as


preliminares suscitadas.

Preliminares:

A.1) Carência de ação impossibilidade jurídica do pedido.

A alegada carência da ação por impossibilidade jurídica do pedido


não merece prosperar, a toda evidência.

Alega o Estado que não pode ser compelido a "elaborar leis" sob
pena de ofensa ao princípio da separação dos Poderes, daí o óbice jurídico à pretensão
executiva.
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Ocorre que a execução, como já mencionado, tem por objeto o


cumprimento de obrigação assumida pelo Estado em Termo de Ajustamento de Conduta
homologado judicialmente e descumprida, além das consequências também contratuais
do inadimplemento ou mora. Quem assumiu a obrigação, portanto, foi o próprio Estado,
motivo pelo qual não há falar em imposição. E o que se pretende com a execução é o
cumprimento dessa obrigação.

E mesmo que a obrigação não tivesse origem em disposição


contratual, fruto do exercício do poder discricionário da Administração Pública, não
haveria óbice jurídico à imposição de obrigação de fazer ao Poder Legislativo ou
Executivo pelo Poder Judiciário, no sentido de editar norma regulamentar. Para essa
finalidade, inclusive, prevê a Constituição Federal um remédio jurídico específico: o
mandado de injunção.

Se não existe óbice legal à pretensão executiva, não há falar em


carência da ação.

A.2) Carência de ação ilegitimidade ativa do Ministério Público.

Noutro ponto, sustenta o Estado que o Ministério Público Estadual


não teria legitimidade para figurar no polo ativo da execução, sob o argumento de que
não teria ele competência para compelir o Poder Executivo a editar norma
regulamentando legislação ambiental.

O argumento, entretanto, cai diante do fato, já explicitado, de que a


obrigação em questão foi assumida pelo próprio Estado, no exercício do poder
discricionário. Não lhe foi imposta pelo Ministério Público. No mais, o Ministério
Público é parte legítima para promover a Execução do Termo de Ajustamento de
Conduta que elaborou, motivo por que também afasto referida preliminar.

A.3) Nulidade de sentença por não individualizar a obrigação que


cabe a cada um dos compromissários do TAC.

Suscita também como preliminar a nulidade da sentença por omissão


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quanto à tese de iliquidez e incerteza do título executivo, vez que não individualiza as
obrigações impostas, nem dispõe quanto a eventuais juros e correção monetária.
Omissão inexiste, conquanto opostos embargos de declaração a matéria foi
suficientemente analisada, conforme se infere às f. 219/221.

A matéria, aliás, sequer poderia ser enfrentada pelo Juízo da causa,


ao prolatar sentença, porquanto não ventilada na inicial dos embargos à execução. E
ainda que tivesse, de fato, o Juízo se pronunciado sobre o tema, em embargos de
declaração, a matéria não pode ser analisada por este Colegiado, por implicar inovação à
lide. Em conformidade com o disposto nos arts. 128 e 460 do Código de Processo Civil,
não é possível ao Juiz decidir a lide além dos limites impostos pelo próprio autor, na
inicial, em expressão ao princípio da congruência.

Segundo valiosa lição de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de


Andrade Nery:
É o autor quem, na petição inicial, fixa os limites da lide. É ele quem
deduz pretensão em juízo. O réu, ao contestar, apenas se defende do
pedido do autor, não deduzindo pretensão alguma. (...) Deve haver
correlação entre pedido e sentença (CPC 460), sendo defeso ao juiz
decidir aquém (citra ou infra petita) fora (extra petita) ou além (ultra
petita) do que foi pedido, se para isto a lei exigir iniciativa da parte."
(CPC Comentado, 10ª ed., RT, 2007, p. 387) Vale registrar, por oportuno
que o Estado, de fato, pleiteou na inicial que o valor devido somente seja
acrescido de correção monetária e juros estipulados no percentual de 6%
ao ano, a partir da citação. Entretanto, tal pretensão não se fez
acompanhar de qualquer fundamentação, o que torna inepta a inicial
neste ponto. E se de fato o Estado entende que estão sendo-lhe exigidos
juros e correção monetária além do que estabelece a lei, o caso é de
excesso de execução, que está restrito às hipóteses previstas no art. 743,
do CPC), alegação que inexiste nos autos

A.4) Nulidade de sentença por cerceamento de defesa pelo


julgamento antecipado, não tendo sido produzidas outras provas.

O apelante suscita preliminar de cerceamento de defesa, pelo


julgamento antecipado da lide, o que teria lhe impossibilitado de produzir provas
pericial e testemunhal, as quais comprovariam o cumprimento do Termo de
Ajustamento de Conduta.

Ocorre, porém, que referida preliminar também deve ser rejeitada.


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Embora o apelante tenha requerido a produção de prova pericial e


testemunhal, extrai-se dos autos que o conjunto probatório apresentado era suficiente
para o julgamento antecipado da lide, conforme preceitua o art. 330, I, Código de
Processo Civil, não havendo necessidade da produção de outras provas, além daquelas
já existentes nos autos (prova documental).

Como é cediço, a finalidade da prova nada mais é que a formação da


convicção acerca dos fatos da causa. Visa a verificar a existência dos fatos afirmados e a
convencer o juiz, destinatário principal das provas produzidas no processo.

Com efeito, o juiz deve decidir consoante o artigo 131 do CPC, ou


seja, com a livre apreciação da prova, “atendendo aos fatos e circunstâncias constantes
dos autos”, e com a indicação dos motivos que formaram o seu convencimento, tal qual
ocorreu no presente caso.

Nesse passo, não se deve olvidar que cabe ao Juiz indeferir as provas
consideradas inúteis ou meramente protelatórias, conforme inteligência do artigo 130 do
Código de Processo Civil. Assim, se as provas constantes dos autos são suficientes para
formar o convencimento motivado do juiz a respeito da questão, torna-se desnecessária
a produção de outras provas.

No caso, o processo se encontrava apto a ser julgado e a prova


documental suficiente para formar o convencimento do Magistrado, motivo pelo qual
este entendeu desnecessária a produção de outras provas. Assim, a prolação da sentença
foi medida que se impôs, à vista dos princípios da economia e celeridade processual.
Nesse sentido, o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO. CERCEAMENTO DE


DEFESA. INOCORRÊNCIA. DANOS MATERIAIS. REVISÃO. REEXAME
DE PROVAS. SÚMULA STJ/7. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA.
IMPROVIMENTO.
1.- O julgamento antecipado da lide, por si só, não caracteriza
cerceamento de defesa, já que cabe ao magistrado apreciar livremente
as provas dos autos, indeferindo aquelas que considere inúteis ou
meramente protelatórias.
2.- No caso, o Colegiado Estadual fixou a indenização a título dos
danos materiais levando em conta os prejuízos materiais que o agravado
experimentou, diante da demonstração do conjunto probatório presente
nos autos. Nesse sentido, a revisão desse quantitativo encontra obstáculo
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na Súmula 7 desta Corte.


3.- A agravante não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a
conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos.
4.- Agravo Regimental improvido. (Grifou-se)
(AgRg no AREsp 357024 / DF. Rel. Min. Sidnei Beneti. DJ
05.11.2013)

Posto isso, não há qualquer nulidade a ser reconhecida na sentença,


porquanto não houve cerceamento de defesa. Por conseguinte, afasto a preliminar
arguida.

Mérito:

Quanto ao mérito, alega o apelante ter cumprido as obrigações


firmadas no TAC, não incidindo qualquer multa nele cominada.

A título de elucidação, no presente caso, o Ministério Público


Estadual, em razão de entender ter sido descumprido o TAC firmado com o Sr. Hugo
Deiss (no qual o apelante foi interveniente) ajuizou execução visando à aplicação da
multa nele cominada. Citado, o Estado de Mato Grosso do Sul interpôs embargos à
execução com a finalidade de demonstrar o cumprimento das obrigações assumidas,
afastando, via de consequência, a aplicação da multa. Os embargos foram julgados
improcedentes, determinando o Juiz da instância singular o prosseguimento da
execução. Diante disso, o Estado de Mato Grosso do Sul interpôs recurso de apelação e
requereu, para tanto, a reforma da sentença proferida.

Diante da abrangência do recurso voluntário, este será analisado


juntamente com o recuso obrigatório.

Segundo consta, no referido TAC, firmou-se o compromisso de


regularizar inadequações ambientais em parte da “Fazenda Ponte da Pedra (área B)” no
tocante à área de reserva legal, à área de preservação permanente e à conservação do
solo.

No tocante à alegação de cumprimento das cláusulas estabelecidas


no TAC, necessário indicar, inicialmente, aquelas atinentes ao apelante, pois este atua
como interveniente. Não atuou, pois, como compromitente ou compromissário no TAC.

Conquanto não conste nos autos cópia do TAC, em vários momentos


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as partes citam as cláusulas estipuladas em favor dos intervenientes IMASUL e


Secretaria do Meio Ambiente o que viabiliza a análise do recurso interposto pelo Estado
de Mato Grosso do Sul, bem como, o Termo de Ajustamento de Conduta. Denota-se,
pois, que a maioria das obrigações foram estipuladas em favor do compromissário
(Hugo Deiss), sendo destinado ao interveniente o Título VI, cláusula décima nona e
parágrafos.

A cláusula décima nona, caput, reconheceu que o Decreto Estadual


n. 11.700/2004 carecia de regulamentação quanto aos critérios técnicos e específicos
para a compensação da reserva legal, tendo se obrigado o interveniente a reavaliar a
aprovação contida nos autos do processo administrativo n. 15/101722/2000.

Por sua vez, o parágrafo primeiro da mesma cláusula obrigou o


interveniente a expedir normas regulamentando o Decreto supramencionado, no prazo
de 90 (noventa) dias, a contar da homologação judicial do TAC.

O recorrente alega ter cumprido tal regulamentação, tendo editado as


Portarias 27, 28, 29, 31, 36 e 40 - IMAP/MS.

Pois bem. O dispositivo do Decreto Estadual 11.700/2004 a


regulamentar possui a seguinte redação:
Art. 9º. O proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de
floresta nativa, natural, primitiva ou outra forma de vegetação nativa com
extensão inferior a vinte por cento, ressalvado o disposto nos incisos I e II
do art. 30, deve adotar as seguintes alternativas isoladas ou em conjunto:
I - recompor a reserva legal de sua propriedade mediante o plantio
com espécies nativas a cada ano de pelo menos um dezessete avos da área
total necessária à complementação da referida reserva legal, contado da
vigência deste Decreto e de acordo com critérios estabelecidos neste
instrumento e em regulamento do Instituto de Meio Ambiente-Pantanal;
II - conduzir a regeneração natural da reserva legal;
III - compensar a reserva legal por outra área equivalente em
importância ecológica e extensão, desde que pertença ao mesmo
ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia, conforme critérios
estabelecidos em regulamento pelo Instituto de Meio Ambiente-Pantanal.
(Decreto Estadual 11.700/2004)
Em consulta ao sítio eletrônico
http://www.imasul.ms.gov.br/index.php?inside=1&tp=3&comp=8320&show=6182
para análise das Portarias veiculadas, vê-se que todas elas, de fato, regulamentam o
Decreto Estadual 11.700. Quanto ao prazo de noventa dias, embora não conste no
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caderno processual a data da homologação judicial do TAC, constata-se que o


instrumento foi assinado em 11.08.2005, data essa que será considerada como marco
inicial da contagem.

Nesse passo, a Portaria 27/2005 foi editada em 20.07.2005, a


Portaria 28/2005 em 01.08.2005, a Portaria 29/2005 em 11.08.2005, a Portaria 31/2005
em 05.10.2005, a Portaria 36/2006 em 26.01.2006 e a Portaria 40 em 16.05.2006.

Percebe-se, portanto, que somente as Portarias 36 e 40 estariam fora


do prazo, contudo, vê-se que elas foram normas que apenas adequaram a
regulamentação já existente, pois promoveu ajustes na Portaria n. 28 (esta editada no
prazo). Desse modo, é possível concluir que nesse ponto houve cumprimento do
disposto no parágrafo primeiro da cláusula décima nona do TAC.

Foram estipuladas também as seguintes condutas: reavaliar a


aprovação contida nos autos do processo administrativo n. 15/0101722/2000, prestar ao
compromitente (Ministério Público Estadual) assessoria técnica para análise dos
aspectos ambientais dos documentos a serem apresentados pelo compromissário (Hugo
Deiss) com relação aos capítulos I a IV do Título V do TAC e reavaliar os
procedimentos previstos na cláusula décima (cláusula 19, parágrafos segundo e
terceiro).

Todas essas condutas acima enumeradas tratam essencialmente da


reserva legal (comprovação, regularização, averbação e compensação), inclusive o
parágrafo primeiro, o qual já havia edição das Portarias pelo apelante. Ocorre que, nesse
ínterim, houve a edição da Lei Federal n. 12.651 em 25.05.2012, que instituiu o novo
Código Florestal e revogou a Medida Provisória n. 2.166-67 e a Lei n. 4771/65.

A respeito da alegação de fato novo superveniente, aplica-se o artigo


462 do Código de Processo Civil, cabendo ao juiz tomar referido fato em consideração
no momento de decidir, de ofício ou a requerimento das partes. Na esteira do REsp
53.765/SP, "a sentença deve refletir o estado de fato da lide no momento da entrega da
prestação jurisdicional, devendo o Juiz levar em consideração o fato superveniente". E,
ainda, no AgRg no AREsp 275268/AL, assentou-se expressamente que os fatos
supervenientes, se influenciarem diretamente a demanda, devem ser abordados pelo
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Tribunal a quo.

A corroborar a jurisprudência, Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de


Andrade Nery1, em comentário ao artigo 462, assim lecionam: “o ius superveniens pode
consistir no advento de fato ou direito que possa influir no julgamento da lide. Deve ser
levado em consideração pelo juiz, de ofício, ou a requerimento da parte ou interessado,
independentemente de quem possa ser com ele beneficiado no processo (...)”.

Portanto, ainda que o apelante não tenha tecido alegações acerca do


novo Código Florestal, e nem poderia fazê-lo, haja vista que a sentença e o recurso
datam de 2010, tendo a lei sido promulgada em 2012, esta deve ser tomada em
consideração no presente julgamento, de ofício, com a devida autorização legal
conferida pelo citado artigo 462.

Pois bem. A novel legislação, como toda lei em seu princípio, traz à
baila discussões ainda não sedimentadas na doutrina e na jurisprudência, como ocorre
no caso acerca da aplicabilidade da lei nova a um termo de ajustamento de conduta já
homologado.

Sobre o tema, a Câmara reservada ao meio ambiente do Tribunal de


Justiça de São Paulo2 estipulou algumas diretrizes relevantes, as quais oportuno
transcrever:

I) O regime jurídico da reserva legal se alterou com a


superveniência do Código Florestal de 2012, e a nova lei, entrando em
vigor na data de sua publicação, deve ter aplicação imediata.
II) A superveniência do novo direito acarreta a necessidade de
consideração e de aplicação das novas disposições sobre o tema, mesmo
em casos de tutela antecipada na vigência da lei revogada.
III) É tal a força desse entendimento, que até mesmo embargos de
declaração interpostos contra acórdão proferido em apelação na
vigência da lei anterior foram recebidos com caráter infringente, e na
decisão colegiada que os julgou se reconheceu a necessidade de
adequação do comando judicial aos termos da nova legislação.
IV) Com a prova de que de que a supressão da vegetação nativa
respeitou os percentuais previstos pela legislação em vigor na época da
supressão, o artigo 68 do novo Código Florestal desobriga os
proprietários ou possuidores de promover a recomposição, compensação
1 NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil comentado e legislação extravagante. 7 ed,
rev e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.
2 Disponível em: http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI165713,51045- Aplicacao+do+
Codigo +Florestal + de+2012+Judiciario+paulista+sai+na
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ou regeneração da área.
V) É de se afastar a obrigatoriedade de apresentação de projeto de
instituição e demarcação da reserva legal ao órgão ambiental, mesmo que
determinada por antecipação de tutela na vigência da lei anterior,
sobretudo em atenção aos prazos concedidos pela nova lei.
VI) Também é de se confirmar a determinação da lei que entende
pela desnecessidade de averbação da reserva legal na matrícula do
imóvel, junto ao Cartório de Registro de Imóveis, bastando, em sua
substituição, que se inscreva a reserva legal no CAR Cadastro
Ambiental Rural.
VII) É de se afastar, por fim, a aplicação dos prazos previstos pela
legislação revogada para cumprimento da reserva legal, bem como a
determinação para imediato início de recuperação da reserva florestal.
(Grifou-se).
Por sua vez, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais considerou o
termo de ajustamento de conduta ato jurídico perfeito, não devendo sofrer alterações
aqueles já pactuados em virtude da instituição do novo Código Florestal, senão vejamos
o acórdão a seguir colacionado:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TAC. RESERVA


LEGAL. SENTENÇA. EXECUÇÃO. OBRIGAÇÃO FAZER. EXTINÇÃO.
NOVO CÓDIGO FLORESTAL. FACULDADE DO PROPRIETÁRIO.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
(...)
4. A constituição da área de reserva legal estava prevista no art. 1º, §2º,
inciso III, da Lei nº 4.771/65. O novo Código Florestal (Lei Federal nº
12.651/12) manteve a obrigatoriedade de sua instituição para os
proprietários de imóveis rurais, mas facultou sua averbação junto ao
Cadastro Ambiental Rural - CAR ou ao Cartório de Registro de Imóveis,
não mais subsistindo a imposição de averbação da área de reserva legal
na matrícula do imóvel.
5. Não há falar-se em inexequibilidade de obrigação de fazer em
razão do Novo Código Florestal. (Apelação Cível
0105174-30.2011.8.13.0016. J em 05.09.2013)

Com efeito, o termo de ajustamento de conduta possui controvertida


natureza jurídica, prevalecendo a lição de Hugo Nigro Mazzilli, segundo o qual o
compromisso de ajustamento é um título executivo extrajudicial, por meio do qual um
órgão público legitimado toma do causador do dano o compromisso de adequar sua
conduta às exigências da lei. Acrescenta o autor3:

Como tem natureza bilateral e consensual, poderíamos ser tentados


3 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em juízo: meio ambiente,
consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. São Paulo: Saraiva, 2010.
Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul TJ-MS
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a identificá-lo como uma transação do direito civil. Não seria correto,


porém, esse raciocínio. Se tivesse mesmo
a natureza de transação verdadeira e pró-pria, seria um contrato,
porque suporia o poder de disposição dos contraentes,que, por meio de
concessões mútuas, preveniriam ou terminariam o litígio(CC, art. 840).
Entretanto, o compromisso de ajustamento de conduta não é um contrato;
nele o órgão público legitimado não é o titular do direito transindividual,
e, como não pode dispor do direito material, não pode fazer concessões
quanto ao conteúdo material da lide. Nem se diga que o compromisso
teria natureza contratual porque o órgão público nele também assumiria
uma obrigação, qual seja a de fiscalizar o seu cumprimento. Essa
obrigação decorre do poder de polícia da Administração, não tendo
caráter contratual, tanto que, posto omitida qualquer cláusula a respeito
no instrumento, mesmo assim subsistiria por inteiro o poder de fiscalizar.
É, pois, o compromisso de ajustamento de conduta um ato administrativo
negocial por meio do qual só o causador do dano se compromete; o
órgão público que o toma, a nada se compromete, exceto, implicitamente,
a não propor ação de conhecimento para pedir aquilo que já está
reconhecido no título.

Feitas tais considerações, e não obstante o respeitável entendimento


adotado por parte da doutrina e da jurisprudência de se tratar de ato jurídico perfeito, é
inegável que as exigências trazidas pelo novo Código Florestal a respeito da reserva
legal afetam o âmago das obrigações pactuadas no TAC.
Por exemplo: o parágrafo único da cláusula sexta obriga o
compromissário a averbar, em Cartório, o termo de compromisso para comprovação da
reserva legal, no entanto, uma das alterações da Lei 12.651/12 foi justamente desobrigar
o proprietário da averbação da reserva legal no Cartório de Registro de Imóveis,
conforme o artigo 18, § 4º.
Um segundo exemplo seria a cláusula décima, inserida no capítulo
II, que trata da compensação da área de reserva legal. O novo Código admite a
compensação desde que o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel
no Cadastro Ambiental Rural - CAR (artigo 15), cadastro este, inclusive, obrigatório
para todos os imóveis rurais (artigo 29).
Não se pretende analisar cláusula a cláusula, mas se vê, com razoável
grau de clareza, que as obrigações firmadas no TAC foram atingidas pelo advento da
nova Lei e vai de encontro às novas exigências traçadas. Na prática, tornaram-se
verdadeiramente inexequíveis, pois como a lei entrou em vigor na data de sua
publicação, todos os Cartórios Extrajudiciais, bem como os órgãos ambientais, já estão a
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aplicá-la.
Não se trata, pois, de violação a um ato jurídico perfeito, mas de
superveniência de Lei Federal, que possui efeito imediato e geral e pode alcançar os
efeitos de atos produzidos antes de sua entrada em vigor. Nos dizeres de José de
Oliveira Ascensão, "a retroatividade encontra espaço para se expandir no que tange a
efeitos ainda em aberto4". Esse é o caso dos autos, uma vez que a execução permanece
suspensa por longos anos, estando o TAC com os efeitos ainda em aberto.
A meu ver, o mais adequado ao caso seria a realização, entre
compromitente e compromissário, de um termo aditivo adequando-se o que foi
estabelecido às exigências do novo Código Florestal. Contudo, como não foi efetivada
tal prática, deve-se analisar o feito no estado em que se encontra.
Assim, diante da incompatibilidade do TAC com o novo Código
Florestal, não se pode falar em descumprimento da cláusula décima nona, parágrafos
segundo e terceiro pelo interveniente, eis que, na prática, o compromitente não lograria
êxito em cumprir o pactuado com base na velha legislação. Se descumprimento não há,
igualmente não há falar na incidência da multa prevista na cláusula vigésima, porquanto
esta somente incidiria se estivesse efetivamente caracterizado o descumprimento das
obrigações assumidas.
Dessa feita, a conclusão não é outra senão a de que a cláusula décima
nona e seus parágrafos do título exequendo (termo de ajustamento de conduta) tornaram-
se inexigíveis, uma vez que as obrigações ali assumidas não encontram meios práticos
de ser impostas, pois encontram óbices nas exigências na Lei n. 12.651/12.
Nesses moldes, o art. 618, I do Código de Processo Civil culmina de
nulidade a execução lastreada em título despido dos caracteres reclamados pelo art. 586,
caput. Reconhecida a inexequibilidade do título executivo nos termos legais, não possui
o apelado interesse de agir. Via de consequência, a reforma da sentença objurgada é o
caminho que se impõe.
Por fim, em virtude da falta de exigibilidade do título e da extinção
da execução, fica prejudicada a análise da alegação de inconstitucionalidade de
estipulação de pagamento de honorários em favor do Parquet.
4 ASCENSÃO, José de Oliveira. Introdução à ciência do direito. 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2005.
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Registre-se, ainda, que não obstante a extinção da execução, é


incabível a condenação do Ministério Público ao pagamento de custas e de honorários
advocatícios, salvo na hipótese de comprovada e inequívoca má-fé, o que não ocorre in
casu. Nesse sentido, pacífica jurisprudência consubstanciada no julgado a seguir
transcrito:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. MINISTÉRIO PÚBLICO. CONDENAÇÃO AO
PAGAMENTO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS. INEXISTÊNCIA DE MÁ-
FÉ. IMPOSSIBILIDADE.
1. No caso dos autos, o recorrente sustenta que o Ministério Público
deve ser condenado ao pagamento de honorários advocatícios, já que a
entidade é parte sucumbente nos autos de embargos à execução de Termo
de Ajustamento de Conduta, por entender inaplicável o artigo 18 da Lei n.
7.437/85.
2. Contudo é indevida a condenação do órgão público ao pagamento
de honorários advocatícios sucumbenciais nas hipóteses em que se trata
de embargos à execução decorrente de TAC, salvo quando houver prova
da má-fé do autor, o que não ocorre no caso in fine, Nesse sentido: REsp
896.679/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 12.5.2008.
3. Ademais, é pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que é
indevida a condenação do Ministério Público ao pagamento de
honorários advocatícios nas hipóteses em que se trata de ação civil
pública, execução e correlatos embargos, exceto quando houver prova da
má-fé do parquet. Precedentes: AgRg nos EDcl no REsp 1.120.390/PE, 1ª
Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJe 22.11.2010; AgRg no Ag
1.135.821/RS, 4ª Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe
18.2.2010; REsp 891.743/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe
4.11.2009; REsp 419.110/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJ
27.11.2007.
4. Agravo regimental não provido.
(STJ. AgRg no Ag 1304896/MG. Julgado em 22.03.2011)

Ante o exposto, contra o parecer, conheço os recursos voluntário e


obrigatório. Ainda que por fundamentos diversos daqueles alegados no recurso de
apelação, dou provimento ao recurso voluntário e empresto o mesmo resultado ao
recurso obrigatório a fim de julgar procedentes os embargos à execução e decretar a
carência da ação in executivis por falta de interesse processual, extinguindo-se, em
consequência, a ação de execução n. 043.06.000267-3. Deixo de condenar o apelado ao
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, por aplicação
analógica do artigo 18 da Lei n. 7.437/85.
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D E C I S Ã O
Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR UNANIMIDADE E CONTRA O PARECER, AFASTARAM


A PRELIMINAR E DERAM PROVIMENTO AOS RECURSOS, NOS TERMOS DO
VOTO DO RELATOR.

Presidência do Exmo. Sr. Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva


Relator, o Exmo. Sr. Des. Vladimir Abreu da Silva.
Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Des. Vladimir Abreu
da Silva, Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva e Des. Júlio Roberto Siqueira Cardoso.

Campo Grande, 12 de dezembro de 2013.

mp

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