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Pensamento Contemporâneo
Professor Euler Renato Westphal
Ensaio de conclusão de disciplina.
1
A partir da leitura das teses “Sobre o Conceito de História” do pensador Walter
Benjamin (1892 – 1940), com o valioso auxílio da interpretação encontrada no livro
2
“Walter Benjamin: aviso de incêndio” de Michel Lowy, este ensaio pretende discorrer
sobre os conceitos de história e história cultural defendidos pelo filósofo alemão.
A Tese VII (Anexo I) serve de base para a análise a ser desenvolvida uma vez que,
sem desconsiderar a inter-relação com as demais teses, destaca o processo de transmissão
dos bens culturais.
1
O documento Sobre o conceito de história composto por 18 teses e 2 apêndices foi redigido no começo de 1940.
2
Lowy, Michel. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”; São
Paulo: Boitempo, 2005.
3
Tema recorrente na obra de Benjamin foi especialmente abordado em Origem do drama barroco alemão de 1925.
Benjamin quanto por Nietzsche4; a interseção entre os dois pensadores será abordada mais
adiante.
Pode-se ilustrar essa relação dialética entre a cultura e a barbárie através de ícones
edificados como os Arcos de Triunfo e outros monumentos que sintetizam as conquistas
através da subjugação da cultura e ícones culturais do derrotado. Esses monumentos,
edificações ou mesmo peças de arte, fruto invariavelmente de conquistas bélicas, celebram
a conquista pela guerra, a pilhagem e a morte. Na contemporaneidade, essa apropriação e
usurpação de grupos sociais poderosos política e economicamente é menos truculenta, no
entanto, exemplos desse processo violento são facilmente encontrados em diversos espaços
urbanos.
4
F. Nietzsche. Segunda consideração intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida de 1873.
5
Escultura-monumento, executada por César Dobner, encomendada para a ocasião da celebração dos 150 anos de
Joinville durante o governo municipal de Luiz Henrique da Silveira - 2001. Fig. Anexo II
6
Monumento localizado na Praça Dario Salles, executado por Edson Machado - concluído em 1988. Fig. Anexo III.
Ao se tratar e se dispor a discutir a questão do patrimônio cultural e sua relação com
a sociedade – entendendo ser esse o propósito desse mestrado – deve-se atentar para essas
questões e principalmente sobre o conceito de patrimônio utilizado para essa abordagem.
Promover a discussão acerca dos ícones, consolidados ou não, e o processo histórico que os
produziu, o discurso e classe que representam, é a tarefa daquele que se coloca o desafio de
discutir o patrimônio cultural em qualquer nível e localidade.
7
W. Benjamin, Gesammelte Schriften. Vol. I, 3, p. 1240.
8
E. Galeano, “El tigre azul y nuestra tierra prometida” em Nosostros decimos no (México, Siglo XXI, 1991).
[ed. bras.: Nós dizemos não, Rio de Janeiro, Revan, 1992.]
ANEXO I - TESE VII
Ao historiador que quiser reviver uma época, Fustel de Coulanges recomenda banir
de sua cabeça tudo o que saiba do curso ulterior da história. Não se poderia caracterizar
melhor o procedimento com o qual o materialismo histórico rompeu. É um procedimento
de identificação afetiva. Sua origem é a indolência do coração, a acedia, que hesita em
apoderar-se da imagem histórica autêntica que lampeja fugaz. Para os teólogos da Idade
Média ela contava como o fundamento originário da tristeza. Flaubert, que bem a
conhecera, escreve: “Peu de gens devineront combien il a fallu être triste pour ressusciter
Carthage.” [“Poucas pessoas serão capazes de imaginar como foi preciso estar triste para
ressuscitar Cartago.”]A natureza dessa tristeza tornasse mais nítida quando se levanta a
questão de saber com quem, afinal, propriamente o historiador do Historicismo se
identifica afetivamente? A resposta é, inegavelmente: com o vencedor. Ora, os dominantes
de turno são herdeiros de todos os que, algum dia, venceram. A identificação afetiva com o
vencedor ocorre, portanto, sempre, em proveito dos vencedores de turno. Isso diz o
suficiente para o materialismo histórico. Todo aquele que, até hoje, obteve a vitória,
marcha junto no cortejo de triunfo que conduz os dominantes de hoje [a marcharem] por
cima dos que, hoje, jazem por terra. A presa, como de costume, é conduzida no cortejo
triunfante. Chamam-na bens culturais. Eles terão de contar, no materialismo histórico,
com um observador distanciado, pois o que ele, com seu olhar, abarca como bens culturais
atesta, sem exceção, uma proveniência que ele não pode considerar sem horror. Sua
existência não se deve somente ao esforço dos grandes gênios, seus criadores, mas,
também, à corvéia sem nome de seus contemporâneos. Nunca há um documento da cultura
que não seja, ao mesmo tempo, um documento da barbárie. E, assim como ele não está
livre da barbárie, também não o está o processo de sua transmissão, transmissão na qual
ele passou de um vencedor a outro. Por isso, o materialista histórico, na medida do
possível, se afasta dessa transmissão. Ele considera como sua tarefa escovar a história a
contrapelo.
ANEXOS II e III