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RESUMO
Este trabalho analisa a tributação no setor petroleiro do Brasil. as quais sempre
receberam tratamento específico em nosso ordenamento jurídico, devido às particularidades
estratégicas do setor e a constante influência do mercado internacional na formação dos preços dos
hidrocarbonetos. Portanto, é fundamental a compreensão do tratamento constitucional tributário
dado da matéria, pois este dará o fundamento de validade para toda a legislação infraconstitucional,
bem como sua exegese pode conduzir a múltiplos sentidos, gerando questões controversas acerca da
conformidade ou inconstitucionalidade de determinados dispositivos. Este artigo pretende analisar
os tributos mais relevantes que incidem sobre as operações da indústria petroleira, quais sejam: o
Imposto de Importação – II, Imposto de Renda – IR, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido –
CSLL, Imposto sobre Operações Financeiras – IOF, Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI,
Imposto sobre Serviço de qualquer natureza – ISS, Imposto de Circulação de Mercadorias e
Serviços – ICMS, Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico – CIDE Combustíveis,
Programa de Integração Social – PIS e Contribuição para o financiamento de Seguridade Social –
CONFINS. A metodologia adotada na elaboração deste artigo foram pesquisas doutrinárias e
jurisprudenciais acerca do tema, bem como a leitura de monografias e artigos que tratam da matéria,
os quais ajudaram na maior dinamicidade e discussão do mesmo, pretendendo dar utilidade pública
ao estudo desta matéria.
1
Bacharel em Direito – Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ, Especialista em Direito Tributário – Instituto Brasileiro de
Estudos Tributários/IBET, Mestrando em Direito Tributário – Pontifícia Universidade Católica/PUC SP. E-mail:
caplemesglo@yahoo.com.br
2
INTRODUÇÃO
O sistema tributário nacional possui uma série de impostos, sejam federais, estaduais e
municipais, que incidem sobre toda atividade empresarial, inclusive na indústria do petróleo e seus
derivados. Contudo, as atividades petroleiras sempre receberam tratamento específico em nosso
ordenamento jurídico, devido às particularidades estratégicas do setor e a constante influência do
mercado internacional na formação dos preços dos hidrocarbonetos. É relevante a compreensão do
tratamento constitucional2 da matéria, pois esta é o supedâneo de toda a legislação
infraconstitucional3, e sua interpretação pode conduzir a múltiplos sentidos da lei, gerando questões
controversas acerca da conformidade ou inconstitucionalidade de determinados dispositivos.
Os tributos mais relevantes que incidem sobre as operações da indústria petroleira e que
serão abordados neste trabalho são o Imposto de Importação – II, Imposto de Renda – IR,
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, Imposto sobre Operações Financeiras – IOF,
Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, Imposto sobre Serviço de qualquer natureza – ISS,
Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, Contribuição de Intervenção do
Domínio Econômico – CIDE Combustíveis, Programa de Integração Social – PIS e Contribuição
para o financiamento de Seguridade Social – CONFINS.
1. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL
O regime fiscal é um fator preponderante para atrair as companhias estrangeiras. Aquele
que investe espera obter lucro, espera ter o máximo de segurança possível no empreendimento. Já
que o risco inerente a atividade petrolífera é bastante acentuado. Toda e qualquer modelagem
prospectiva de investimentos nesta área impõe uma análise da estrutura tributária do país e seus
reflexos na estimativa de receita do projeto, considerando o valor comercial do produto no mercado
internacional, aspecto que poderá inviabilizar a E & P pela anti-economicidade.
2
Art. 20, incisos V, IX e § 1º; Art. 176, § 1º (EC 6/95); e Art. 177, § 1º (EC 9/95) da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, que tratam dos Bens da União, da propriedade, pesquisa, lavra e contratação de empresas,
respectivamente.
3
Lei 9.478, de 6 de agosto de 1997 (Marco Regulatório do Petróleo - Concessão); Projeto de Lei 5.938, de 2009
(Partilha da Produção); Lei 12.276, de 30 de junho de 2010 (Cessão Onerosa); Lei 12.304, de 2 de agosto de 2010 (Pré-
Sal Petróleo S.A. - PPSA); e Lei 8.617, de 4 de janeiro de 1993 (Mar territorial, ZC, ZEE e plataforma continental).
3
A Constituição de 1946, veio ratificar este imposto único em seu art. 15, através do qual
sobre produção, comércio, distribuição e consumo de combustíveis somente incidindo um único
tributo e de uma única vez.
A Constituição de 1967 também manteve o regime do imposto único, assim dispondo
sobre ele:
“Art. 21 – Compete a União instituir imposto sobre:
(...)
VII – produção, importação, circulação, distribuição ou
consumo de lubrificantes e combustíveis líquidos ou
gasosos ou de energia elétrica, imposto que incidirá uma
só vez sobre qualquer destas operações (...)
4
O IPMF foi julgado inconstitucional, pela ADI 926-5, por se tratar de exceção ao princípio da anterioridade. Na
decisão, foi entendido pelo STF, tendo sido relator o Min. Sidney Sanches, que a hipótese seria uma violação aos
direitos fundamentais, que por serem cláusulas pétreas não poderiam ser modificadas pelo constituinte derivado.
6
constituinte originário. Alterado o texto constitucional pela EC 42/2003, fica esvaziada a discussão
em tela.
Como dito, a Lei n° 10.336, de 19 de dezembro de 2001 instituiu essa contribuição, que
incidirá sobre a importação e comercialização de gasolinas e suas correntes; diesel e suas correntes;
querosene de aviação e outros querosenes; óleos combustíveis (fuel-oil), gás liquefeito de petróleo,
inclusive os derivados de gás natural e de nafta; e o álcool etílico combustível.
5
GUTMAN, José, Tributação e outras obrigações na indústria do petróleo, Rio de Janeiro: Freitas Bastos: Maria
Augusta Delgado, 2007, p. 301.
8
para a E & P de petróleo e gás natural. Ressalte-se que o REPETRO não é extensivo a serviços,
apenas aplica-se a mercadorias.
Neste regime aduaneiro especial, os bens produzidos pelo fornecedor nacional ficam
desonerados do pagamento do IPI, PIS e COFINS e, no caso de importação de componentes, fica
suspenso o pagamento do II, IPI, PIS e COFINS.
Com o advento da Lei n° 9478, de 06.06.1997 e a quebra do monopólio da Petrobrás, foi
instituído o REPETRO, com a edição do Decreto 3.161/99 (revogado pelo Decreto n° 4.543, de
26.12.2002), com a finalidade de fomentar a atividade de E & P nacional.
Atualmente o REPETRO6 está regulamentado nos arts. 411 a 415 do Regulamento
Aduaneiro (Decreto 4.543/02) e disciplinado pela Instrução Normativa SRF n° 4, de 10.01.2001.
6
GUTMAN, José, Tributação e outras obrigações na indústria do petróleo, Rio de Janeiro: Freitas Bastos: Maria
Augusta Delgado, 2007, p. 303.
7
CASSONE, Vittorio. Direito Tributário. 12ª ed. São Paulo: Atlas, 2000.
9
O ISS é dedutível do imposto de renda. Permanece a polêmica sobre sua incidência nas
atividades de E & P offshore, já que os municípios não têm jurisdição sobre essas áreas
confrontantes da ZEE, apenas em relação a faixa confrontante do mar territorial, como no caso das
operações do Terminal Almirante Barroso – TEBAR, em São Sebastião – SP, em que o município
tributa o ISS das operações realizadas no terminal.
confere imunidade objetiva nas operações interestaduais (art. 155, §2°, X, “b”). O estado produtor
de petróleo e seus derivados não determina o imposto, o que é atribuição do estado receptor, que faz
no momento da circulação interna dos referidos produtos. Como os estados produtores combustíveis
estão da Bahia para o Sul, essa imunidade beneficia sobretudo os estados do norte e nordeste
brasileiros. É que esses estados recebem mais petróleo e derivados do que os estados do sul.
Sobre o assunto, faz-se oportuno trazer à luz os ensinamentos de Alcides Jorge Costa8:
“Quero, agora, dizer alguma coisa a respeito da energia
elétrica e dos combustíveis, a cujo respeito há o perigo da
cumulatividade. A energia elétrica é tributada pelo ICM,
como os combustíveis. Os impostos únicos eliminados e
acho que, do ponto de vista econômico, a eliminação foi
saudável. Não há tempo para maiores considerações a
respeito, mas saliento que há uns problemas que foram
muito bem resolvidos no texto constitucional. Sabemos
que a energia elétrica é produzida em muitíssimos menos
lugares que os de consumo e que há grandes usinas
geradoras, como Itaipu, Tucuruí, etc. que estão localizadas
em certos estados. Se o ICM sobre energia elétrica fosse
pago à medida que ela vai sendo vendida, e apenas sobre o
valor acrescido, como acontece com qualquer mercadoria,
os estados e municípios onde estão localizadas essas
usinas receberiam uma quantia imensa. Lembro, por
exemplo, que o município de Foz do Iguaçu
provavelmente ficaria muito rico, recebendo uma
participação de ICM sobre toda energia produzida naquela
usina geradora. Desse modo, há que se ter um sistema que
não tribute todas as operações relativas a energia elétrica
para evitar esse tipo de distorção, que não diz respeito ao
contribuinte, mas diz respeito às relações entre os estados.
O mesmo acontece com os combustíveis derivados de
petróleo porque as refinarias estão localizados em sete
estados só e dali os combustíveis são distribuídos, de tal
forma que não seria justo que os estados onde estão as
refinarias recebessem tanto imposto e outros só o valor
agregado. O que fez a constituição? Disse que o ICM não
incidira sobre operações que destinem a outros estados
petróleos, lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos
dele derivados e energia elétrica. Então, nas operações
interestaduais não haverá incidência do ICM, mas daí
resulta um problema. Vou citar concretamente um caso.
Quem opera Itaipu, que é as Furnas, vende energia elétrica
8
COSTA, Alcides Jorge. Apud. MARTINS, Ives Gandra Martins. Comentários a Constituição do Brasil. São Paulo:
Saraiva, 1990, p. 475-476.
18
Segundo a Constituição:
“Art. 155, §2° - O imposto previsto no inciso II atenderá
ao seguinte:
(...)
X – Não incidirá:
(...)
19
11
ROSA, Dênerson Dias. Emenda Constitucional n° 33 – ICMS sobre combustíveis: “déjà-vu”. Tributário.com [on
line], Rio de Janeiro, 28 fev. 2002. Disponível: WWW.tributario.com.br/ler_texto.asp [capturado em 12 abr. 2002].
21
Esta determinação vai além do que a Constituição previu como hipótese de incidência
do imposto, permitindo a cobrança do imposto em atividade objeto de imunidade. A Constituição
imunizou as operações interestaduais sem fazer ressalva alguma e não pode ser restringida por lei
complementar. A inconstitucionalidade deste dispositivo é flagrante.
Sobre a inconstitucionalidade, a posição de Hugo de Brito Machado12:
“se uma distribuidora de derivados de petróleo prefere
fazer vendas a clientes domiciliados em outros Estados,
em face da imunidade no art. 155, item X, letra b, ela está
no exercício legítimo de seu direito de pagar menos
imposto, a opção pela prática da operação imune é
juridicamente válida. Ninguém pode ser obrigado a
realizar operações tributadas, se as podem realizar sem
incidência do tributo. (...). dessa forma, a cobrança desse
imposto, naquelas operações, seja a título que for,
contraria os fins visados pela Constituição. A norma que
determina, portanto, padece de inconstitucionalidade
substancial insanável. E se reside em convênio celebrado
pelos Estados, como é o caso, padece também de
inconstitucionalidade formal”.
12
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 14ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1998.
22
nenhuma ilegalidade ao ter sido instituída por lei ordinária, ao invés de lei complementar. Esse é,
inclusive, o entendimento do STF13
Os arts. 2º e 3º da lei definem quem é o contribuinte e o fato gerador:
“Art. 2º São contribuintes da CIDE o produtor, o
formulador, o importador, pessoa física ou jurídica, dos
combustíveis líquidos relacionados no art. 3º. Parágrafo
único. Para efeitos desse artigo, considera-se formulador
de combustível líquido, derivados de petróleo e derivados
de gás natural, a pessoa jurídica, conforme definido pela
Agência Nacional do Petróleo (ANP) autoriza a exercer,
em Plantas de Formulação de Combustíveis, as seguintes
atividades:
I- Aquisição de correntes de hidrocarbonetos líquidos;
II- mistura mecânica de correntes de hidrocarbonetos
líquidos, com o objetivo de obter gasolinas e diesel;
III – armazenamento de matérias-primas, de correntes
intermediárias e de combustíveis formulados;
IV – comercialização de gasolinas e diesel; e
V – comercialização de sobras correntes.
Art. 3º A CIDE tem como fatos geradores as operações,
realizadas pelos contribuintes referidos no art. 2º, de
importação e de comercialização no mercado interno de:
I – gasolinas e suas correntes;
II – diesel e suas correntes;
III – querosene de aviação e outros querosenes;
IV – óleos combustíveis (fuel-oil);
V – gás liquefeito de petróleo, inclusive o derivado de gás
natural e nafta; e
VI – álcool etílico combustível.
§1º Para efeitos dos incisos I e II desse artigo, consideram-
se correntes os hidrocarbonetos líquidos derivados de
petróleo e os hidrocarbonetos líquidos derivados de gás
natural utilizados em mistura mecânica para a produção de
gasolinas ou de diesel, de conformidade com as normas
estabelecidas pela ANP.
§2º A CIDE não incidirá sobre as receitas de exportação,
para o exterior, dos produtos relacionados no caput desse
artigo”.
No entanto, o art. 3º, ao definir os fatos geradores, omitiu-se quanto ao gás natural. Não
há, também, previsão de alíquota para este no art. 5º da Lei. Dessa forma, apesar da previsão
13
RE 138.284 – Ementa: “(...) As contribuições do art. 195, I, II e III da Constituição, não exigem, para sua instituição,
lei complementar (...)”. Rel. Min. Carlos Veloso, julgado em 01/07/92.
26
constitucional, a falta de lei instituidora gerou a controvérsia da não incidência da CIDE em relação
ao gás natural.
Contudo, consideram-se correntes os hidrocarbonetos líquidos derivados de petróleo e
os hidrocarbonetos líquidos derivados de gás natural utilizados em mistura mecânica para a
produção de gasolinas ou de diesel, em conformidade com as normas estabelecidas pela ANP, logo
sujeitos a CIDE combustíveis. A receita de comercialização dos gases propano, classificado no
código 2711.12, butano, classificado no código 2711.13, todos da NCM, e a mistura desses gases,
quando destinados à utilização como propelentes em embalagem tipo aerosol, não estão sujeitos à
incidência da CIDE combustíveis até o limite quantitativo autorizado pela ANP e nas condições
estabelecidas pela Secretaria da Receita Federal.
O art. 7º da lei prevê a sua não-cumulatividade:
Art. 7º Do valor da CIDE incidente na comercialização, no
mercado interno, dos produtos referidos no art. 5º poderá
ser deduzido o valor da CIDE:
I – pago na importação daqueles produtos;
II – incidente quando da aquisição daqueles produtos de
outro contribuinte.
Parágrafo Único. A dedução de que trata esse artigo será
efetuada pelo valor global da CIDE pago nas importações
realizados no mês, considerado o conjunto de produtos
importados e comercializados, sendo desnecessária a
segregação por espécie de produto.
14
SILLOS, Lívio Augusto de. Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) sobre combustíveis.
Tributário.com [on line], São Paulo, 14 de fev. 2003. Disponível: WWW.tributario.com.br/ler_texto.asp [capturado em
12 de abr. 2002].
27
O art. 8º também traz uma hipótese de dedução. Os valores da CIDE podem ser
deduzidos dos valores das contribuições de PIS/PASEP e COFINS, devidos pela comercialização
no mercado interno dessas operações, até os valores estabelecidos na própria lei. Em sendo
compensado com esses outros tributos, as receitas provenientes terão a destinação prevista para
estes.
A CIDE pode ter suas alíquotas alteradas pelo poder executivo, até o limite da lei, o que
não representa uma flexibilização do princípio da legalidade, haja vista tratar-se de competência
derivada e não originária.
15
RE 150.755/PE, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 18 de novembro de 1992.
28
não ia para o estado, o que prejudicava essa classificação. O STF já possuía um entendimento16,
ainda no direito anterior, no sentido de que o PIS não era tributo, ao julgar uma questão da
imunidade de empresas que negociavam combustíveis e lubrificantes. À época, vigia o imposto
único, e, em sendo considerado tributo, o PIS não poderia incidir sobre essas operações. A decisão
do STF foi no sentido de que o PIS não estaria incluído no sistema tributário nacional, entre outros
motivos, porque a destinação de suas receitas não era para o estado, mas sim para o empregado, o
que permitiu sua cobrança com o imposto único. Com isso, posteriormente, manteve seu
entendimento a acabou por declarar inconstitucionais os decretos-lei que regulavam o PIS17. Dessa
forma, o PIS continuou a ser regulado pela lei complementar nº 07, até a medida provisória nº 1212,
que depois foi convertida na lei 9.718/98, que passou a prever que o cálculo deveria ser feito com
base no mês anterior e não mais nos seis meses anteriores.
Hoje, PIS e COFINS são calculados juntos, sendo o fato gerador de ambas o
faturamento.
Com a redação do art. 155, §3º, CF, anterior a EC 33/01, era extremamente relevante
essa discussão sobre a natureza dessas contribuições. Uma vez entendidos como tributos e não
estando expressamente excepcionados pelo artigo, não poderia haver incidência nas operações de
petróleo e seus derivados. No entanto, se consideradas de natureza não-fiscal, não haveria nenhum
entrave a sua cobrança. Ocorre que, com o advento da referida emenda, a imunidade passou a recair
sobre os demais “impostos” e não mais sobre os demais “tributos”, não havendo nenhum obstáculo
para a cobrança de contribuições sociais, uma vez que notoriamente não são impostos.
Com essa polêmica, haviam decisões judiciais em todos os sentidos, o que gerava uma
situação anti-isonômica entre as empresas. Aquelas que obtinham liminares suspendendo o imposto
conseguiam vender seu produto mais barato, sendo beneficiadas. Esses tributos representam 3,65%
de cada uma das operações, que no total dá aproximadamente 15%, que é mais ou menos o triplo
das margens de comercialização. Deve-se atentar para o fato de tratar-se de um ambiente altamente
concorrencial. Ou seja, aquele que não paga o PIS/COFINS, ganha três vezes mais, ou pode baixar
o preço e destruir sua concorrência.
16
RE 100.790/SP “(...) A regra da exclusividade do imposto único sobre combustíveis e lubrificantes não constitui
obstáculo à incidência e à exigibilidade de contribuição como a do PIS, que não tem natureza tributária”. Rel. Min.
Francisco Rezek, julgado em 15 de agosto de 1984.
17
RE 148.754/RJ “(...)II – Trato por meio de decreto-lei: impossibilidade ante a reserva qualificada de matérias que
autorizavam a utilização desse instrumento normativo. (...) Inconstitucionalidade dos decretos 2.445 e 2.449, de 1998
que pretenderam altera a sistemática da contribuição para o PIS” Rel. Min. Francisco Rezek, julgado em 24 de junho de
1993.
29
Não há dúvida de sua natureza tributária. Tais exações enquadram-se perfeitamente nas
características já apresentadas no item 3.3 desse trabalho monográfico.
Somente para corroborar com esse entendimento, alude-se ao art. 4º do Código
Tributário Nacional, que assim dispõe:
“Art. 4º - A natureza jurídica específica do tributo é
determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação,
sendo irrelevante para qualificá-la:
18
FRANCESHI, Fernando Ozanan de. PIS e Cofins sobre combustíveis. Revista Dialética de Direito Tributário, São
Paulo: Dialética, nº 40, p.26-31, jan. 1999.
30
Dessa forma, o argumento de que não seria verdadeiro tributo, pelo fato das receitas não
serem destinadas ao estado, mas sim ao trabalhador, não deve prosperar por ser flagrantemente
ilegal, pois a destinação da receita é irrelevante para definição de sua natureza jurídica. Quanto a
sua denominação, nem chega a ser controvertida, pois a própria lei instituidora do PIS, em seu art.
10º, prevê sua natureza fiscal.
Outra questão que gerou controvérsias sobre a incidência do COFINS nas operações
imunizadas pelo art. 155, §3º, CRFB/88, foi o fato de que esse tributo incide sobre o faturamento e
não sobre as próprias operações. Com isso, surge a questão se “operações” e “faturamento”
identificam-se ou não. Aqueles que defendem a incidência da COFINS argumentam a este tributo
não incide sobre as operações de derivados de petróleo, que são objeto de imunidade, mas sim sob o
faturamento proveniente aquela operação. No entanto, imunizar a operação e tributar o faturamento
proveniente dessa operação é esvaziar o sentido da imunidade. Deve-se atentar também para o fato
de que trata-se de uma imunidade, e obedecendo aos princípios basilares do direito tributário, esta
deve sempre ser interpretada da maneira mais extensa o possível. Além disso, o vocábulo
“operação” é muito mais abrangente do que “faturamento”. Dessa forma, o “faturamento” está
subsumido a “operação” devendo também ser englobado pela imunidade.
Logo, a base de cálculo da COFINS é a soma das operações realizadas na venda dos
derivados de petróleo.
No entanto, a jurisprudência não vem acompanhando o entendimento da doutrina, prova
de que a questão não é tão simples assim:
AGRAVO REGIMENTAL EM SUSPENSÃO DE
SEGURANÇA. COFINS. PIS. OPERAÇÕES
RELATIVAS A PETRÓLEO E COMBUSTÍVEIS. LEIS
COMPLEMENTARES 7/70 E 70/91 E LEI 9.718/98.
1. A União deixará de recolher, segundo Nota Técnica
DIPAR/COSAR Nº 97, o valor anual de R$ 74,4 milhões
– valor esse a ser destinado à execução dos programas de
saúde, previdência e assistência social – demonstrando,
assim, o risco de grave lesão à economia e,
principalmente, à saúde pública.
2. Decisão agravada em consonância com entendimento
da Corte Especial desse Tribunal que rejeitou a argüição
31
CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO.
CONTRIBUIÇAO SOCIAL PARA O PIS (LC 07/70) E
PARA FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL
– COFINS (LC 70/91). Operações relativas à derivados de
petróleo e combustíveis. Fato gerador em cujo conceito se
compreende o lucro, faturamento global ou receita bruta
da empresa. Inexistência de direito à imunidade prevista
no parágrafo 3º do art. 155 da Constituição Federal.
Apelação e remessa oficial providas. (TRF 5ª Reg. 2ªt.
ApMS nº 68196/AL. Rel. Juiz Lázaro Guimarães.
J.02/05/2000 DJ pág. 001579).
CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO.
LEGITIMIDADE DA PETROBRÁS.
IMUNIDADE. ART. 155, II, PAR[AGRAFO 3º, DA C.F
COFINS. OPERAÇOES RELATIVAS À CIRCULAÇÃO
DE MERCADORIAS E SERVIÇOS. DERIVADOS DE
PETRÓLEO, COMBUSTÍVEIS E MINERAIS DO PAÍS.
MOVIMENTAÇÃO FICTA, FÍSICA E ECONÔMICA.
1. Em ação que se discute a imunidade da COFINS
incidentes em derivado de petróleo e lubrificantes, tem
legitimidade ad causam o substituto tributário, o posto
que a ele compete o dever de recolher o tributo, na
qualidade de sujeito passivo indireto da obrigação
tributária.
2. Da redação do parágrafo 3º do art. 155 da C.F. de 1988,
o legislador contribuinte, ao beneficiar com imunidade
tributária os bens e os serviços ali especificados, limitou
tal benefício constitucional ao fato gerador relativo à
circulação de mercadorias não se incluindo na expressão
“operações” o conceito de faturamento, fato gerador da
COFINS e do PIS.
3. Apelação improvida. (TRF 5ª Reg. 2ªt. ApMS 6936/PE
Rel. Juiz Petrucio Ferreira j. 09/05/2000 DJ pág. 001743).
CONCLUSÃO
A diversidade do sistema tributário aliado a introdução de mais dois regimes de E & P,
quais sejam a Cessão Onerosa e a Partilha da Produção, tornaram o marco regulatório do petróleo
brasileiro um dos mais complexos do mundo. Tais mudanças, implicam na dificuldade das
empresas na modelagem de cálculos confiáveis de médio e longo que dêem o mínimo de segurança
contábil, envolvendo projetos de alto custo e risco.
Em matéria tributária, diversos são os impostos e contribuições que incidem sobre essa
atividade. O legislador demonstrou uma preocupação específica com esse setor, procurou proteger a
atividade, tornando-a objeto de imunidade parcial. É um setor que movimenta altas quantias, o que
faz com que a receita proveniente desses tributos seja um montante considerável, mesmo tratando-
se de impostos com alíquotas irrisórias. Aspecto que atrai a ganância dos governantes ávidos por
gerarem novas receitas.
Para o Dr Pedro van Meurs, um geólogo e economista holandês radicado no Canadá e
especialista em regimes fiscais, a complexidade administrativa de um sistema fiscal é inversamente
proporcional à capacidade administrativa do governo19. Neste sentido, há evidências que os regimes
fiscais do Reino Unido, dos Estados Unidos, da Austrália e da Noruega são bem mais simples que o
adotado no Brasil, que toma forma heterodoxa e heterotópica em relação as demais nações.
O regime fiscal brasileiro tende a permitir que nosso país seja competitivo no cenário
mundial. Contudo, as recentes mudanças, com a volta de concessão de privilégios a Petrobras,
prejudicando a livre concorrência, demonstra desrespeito para com o investidor estrangeiro,
podendo comprometer futuros investimentos no setor.
A segurança jurídica dos contratos firmados, bem como a adoção de um sistema de
tributação simplificado, atrairia mais investimentos para o país, além de facilitar a fiscalização e a
captura de receitas de maneira mais eficiente. A adoção de políticas públicas de longo prazo, com
objetivos e regras definidas é vital para a atração de novos investimentos.
19
BARBOSA, Décio Hamilton. Tributação do Petróleo no Brasil. Rio de Janeiro: IBP – Livre Expressão, 2011, p. 208.
34
ABSTRACT
This paper analyzes taxation in the Brazilian oil sector. which have always received
specific treatment in our legal system due to the strategic characteristics of the sector and the
constant influence of the international market in the formation of hydrocarbons prices. Therefore,
understanding the constitutional tax treatment of the matter is fundamental, since it is the basis of
validity for all infraconstitutional legislation, as well as its exegesis can lead to multiple senses,
generating controversial questions about the conformity or unconstitutionality of certain devices.
This article intends to analyze the most relevant taxes that affect the operations of the oil industry,
such as: Import Tax - II, Income Tax - IR, Social Contribution on Net Income - CSLL, Tax on
Financial Transactions - IOF, Tax on Industrialized Products - IPI, Service Tax of any nature - ISS,
Tax of Circulation of Goods and Services - ICMS, Contribution of Intervention of the Economic
Domain - CIDE Combustíveis, Program of Social Integration - PIS and Contribution for the
financing of Social Security - CONFINS. The methodology adopted in the elaboration of this article
was doctrinal and jurisprudential research on the subject, as well as the reading of monographs and
articles that deal with the subject, which helped in the greater dynamicity and discussion of the
same, aiming to give public utility to the study of this matter.
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CAMPOS, Diogo Leite de e CAMPOS, Mônica Horta Neves Leite de. Direito Tributário. 2ª ed.
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