RESENHA: A CONTRIBUIÇÃO DO PENSAMENTO DE CAIO PRADO
JÚNIOR NA INTERPRETAÇÃO SOCIAL DO BRASIL
NATAL, RN
2018 ESTUDANTE: LUAN GOMES DOS SANTOS DE OLIVEIRA
Caio Prado Junior é considerado como um dos maiores
expoentes do pensamento social brasileiro, dada a relevância de suas contribuições teóricas no campo da formação social, política e econômica do Brasil. Para essa resenha optou-se por três desdobramentos interpretativos que podem contribuir numa primeira leitura desse pensador, entre eles: apresentar um breve itinerário biográfico do autor, suas influências teóricas e políticas e por último expor um ideário de características do Brasil elegidas por esse intelectual.
A vida desse intelectual e militante foi de 1907 a 1990, é
oriundo de uma família de base tradicional de São Paulo, foi aluno da Universidade de São Paulo, do curso de Direito. No entanto, apesar de suas raízes tradicionais, desviou-se, e ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB), onde dedicou a sua vida e ideias. Caio Prado Júnior é reconhecido no meio acadêmico e partidário como intelectual e militante. Por esse caráter, Prado Júnior foi um intelectual que se posicionou sobre a vida em sociedade, não procurou se ausentar e nem se omitir na leitura crítica da realidade social, capitalista e agrária brasileira.
Vale salientar que mesmo sendo respeitado e reconhecido no
âmbito partidário, ele não teve a abertura para expor as suas ideias. Sua origem tradicional pintava a sua imagem feito um elemento que não transferia confiança para os comunistas do PCB. Mesmo com esse estranhamento, Prado Júnior se submeteu a vida político partidária, onde foi eleito deputado estadual pela sigla PCB. No âmbito acadêmico não fez da economia um campo dogmático, ao contrário sua atitude pluridisciplinar era perceptível pelo seu trânsito na história, na economia, na geografia, na filosofia e na política. Isso é característico de um pensador que não cooperou com a fragmentação de vida e ideias, soube religar conhecimentos que na modernidade são fragmentados e setorizados.
A obra desse intérprete do Brasil foi iniciada em 1933 com
Evolução Política do Brasil, sucedida pelas obras clássicas de Formação do Brasil Contemporâneo (1942), História Econômica do Brasil (1945) e A Revolução Brasileira (1966). Essas quatro obras conferiram a Caio Prado o seu reconhecimento enquanto intelectual e pensador do Brasil. É importante sinalizar alguns dos principais temas que perpassam as suas obras, dentre esses, o sentido da colonização como explicativo do que se tornou o Brasil; a análise da inserção subordinada da economia brasileira no sistema capitalista internacional e a inserção da análise do caráter da relação de classes no capitalismo brasileiro.
Prado Júnior identificou no estudo da formação social brasileira
a ausência de um projeto nacional, e conferiu ao Brasil um sentimento de subalternidade pelo processo histórico de colonização.
Deixamos de ser, em nossos dias, o engenho e a ‘casa
grande e senzala’ do passado, para nos tornarmos a empresa, a usina, o palacete e o arranha-céus; mas também o cortiço, a favela, o mocambo, o pau-a-pique (...) O sistema colonial brasileiro se perpetuou e continua muito semelhante (...) Somos hoje o que nós éramos ontem. Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’. Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo. Quem observa aquele conjunto, desbastando-o do cipoal de incidentes secundários que o acompanham sempre e o fazem muitas vezes confuso e incompreensível, não deixará de perceber que ele se forma de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada orientação” - p. 19-20.
O autor em relevo embora se situe no século passado, século
XX, e destaque o fenômeno da colonização, é relevante observar que a sua interpretação é contemporânea, não é de ordem do passado. Numa primeira leitura de uma de suas obras, o leitor deve levar em consideração a colonização, sem essa compreensão, não se pode compreender o contexto em que produz a sua interpretação. Para ele a característica do povoamento (colonização) brasileira,
[...] ainda era entendida como aquilo que dantes se
praticava; fala-se em colonização, mas o que o termo envolve não é mais que o estabelecimento de feitorias comerciais. Na América, a situação se apresenta de forma inteiramente diversa: um território primitivo habitado por rala população indígena incapaz de fornecer qualquer coisa de realmente aproveitável. Para os fins mercantis que se tinham em vista, a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorias, com um reduzido pessoal incumbido apenas do negócio, sua administração e defesa armada; era preciso ampliar estas bases, criar um povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias que se fundassem e organizar a produção dos gêneros que interessassem ao seu comércio. A ideia de povoar surge daí, e só daí. Real interesse: pilhagem das riquezas (p. 28-29 ).
Observou-se que o processo de colonização no Brasil cooperou
com a emergência de outras expressões da questão social, o agravamento do capitalismo, e a escravização de etnias consideradas inferiores, como os negros africanos e os indígenas.
Como se vê, as colônias tropicais tomaram um rumo
inteiramente diverso do de suas irmãs da zona temperada. Enquanto nestas se constituirão colônias propriamente de povoamento, escoadouro para excessos demográficos da Europa que reconstituem no novo mundo uma organização e uma sociedade à semelhança do seu modelo e origem europeus; nos trópicos, pelo contrário, surgirá um tipo de sociedade inteiramente original. Conservará um acentuado caráter mercantil; será a empresa do colono branco, que reúne à natureza, pródiga em recursos aproveitáveis para a produção de gêneros de grande valor comercial, o trabalho recrutado entre raças inferiores que domina: indígenas ou negros africanos importados(p.31/32). Compreender a dinâmica do processo de colonização no Brasil e a emergência de uma economia agrária, baseada na exploração e na exportação, é um dos aspectos da fala de Prado Júnior. Se vamos à essência da nossa formação veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois, algodão, e em seguida café para o comércio europeu. Nada mais que isto... (p.31-32)
É importante conhecer as características da economia brasileira
no período da colônia: grande propriedade, monocultura, trabalho escravo/mineração/estrativismo (mesmas características): Os elementos constitutivos da exploração. E é relevante reconhecer que no Brasil não houve feudalismo. Para ele a formação social e econômica do Brasil sempre esteve associada ao desenvolvimento do capitalismo, mas sempre distinguia por um certo tipo de capitalismo.
Portanto, é imprescindível a leitura da obra de Caio Prado Júnior.
Sua interpretação é essencial para uma leitura crítica do Brasil. Sem dúvida, o intelectual e militante é um clássico, e por isso deve ser lido com rigor.
Referências
PRADO, Junior Caio. A revolução brasileira. 2 ed. São Paulo:
Brasiliense, 1966. PRADO, Junior Caio. Evolução Política do Brasil Colônia e Império. 18 ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. PRADO, Junior Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 23 ed. São Paulo: Brasiliense, 1996. PRADO, Junior Caio. História Econômica do Brasil. 11 ed. São Paulo: Brasiliense, 1969.