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CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UFSJ: Uma

experiência com a flexibilidade e a autonomia visando


a um novo perfil profissional
Rafael Silva BRANDÃO, Flávia Nacif da COSTA
Coordenador e vice-coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo - UFSJ
Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Artes Aplicadas (DAUAP)

1.Contexto e perfil
O curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de São João del-Rei está

inserido na cidade de São João del-Rei, município da mesorregião do Campo das Vertentes, no

centro-sul do estado de Minas Gerais. A cidade sede, com cerca de 88 mil habitantes1, é polo

regional, principalmente como centro educacional – estimulado pela existência da Universidade. A

região conta com uma ocupação originária no período colonial brasileiro, vinculada a uma

economia mineradora, contando com parque edificado do período relativamente preservado.

A implantação do curso ocorreu no âmbito do programa de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais (REUNI), iniciado pelo governo federal em 2009. Entende-se que, no

momento da expansão da universidade pública brasileira, torna-se mais relevante a discussão

sobre o processo tradicional de formação dos arquitetos que, desde o Renascimento, voltou-se

para o planejamento e projeto de espaços extraordinários (grandes edifícios públicos, ou edifícios

privados de dimensões e/ou relevância pública). O arquiteto, deste modo, unia arte e técnica na

realização de obras com forte caráter autoral, baseadas em cânones discutidos exclusivamente

dentro dos círculos de arquitetura. A partir do século XIX, dentro da lógica industrial e iluminista2,

houve um crescimento da demanda por formação superior que superou a demanda existente por

espaços extraordinários, forçando os arquitetos a se ocuparem também das demandas dos

espaços cotidianos. Sua formação, entretanto, permaneceu conectada às grandes obras autorais,

1
fonte: IBGE, 2014 <http://cod.ibge.gov.br/234VF>
2
Stevens (1998) discute este processo na arquitetura norte-americana no decorrer do século XIX.
1
fazendo com que o arquiteto se desconecte da experiência ordinária do espaço e do seu usuário,

fixando-se somente nas questões plásticas e/ou técnicas que dizem respeito a estes espaços.

Partindo da crítica deste contexto atual da arquitetura e do urbanismo e entendendo as

demandas regionais observadas, foi traçado um perfil para o curso e seu egresso que vem sendo

orientado em três eixos principais, alimentados, complementados e ampliados por outras

discussões contemporâneas relevantes global e localmente: Obra Civil, Planejamento Urbano e

Regional e Patrimônio Histórico.

1.1. Eixo de Obra Civil:

Ao entender a autoprodução de edifícios como principal processo de construção no Brasil

(BONDUKI,1998; FERRO, 2012), atingindo cerca de 70% do parque edificado brasileiro3, valoriza-

se uma formação que exceda o paradigma da perspectiva e da projeção mongeana, conectando

novamente o arquiteto com o objeto construído e sua materialidade.

Busca-se assim superar a dicotomia entre obra e desenho nascida com o Renascimento e

aprofundada nos anos seguintes. Entende-se que o processo de materialização do espaço (seja

urbano ou arquitetônico) tem a mesma relevância de seu processo conceptivo e portanto precisa

ser compreendida pelo arquiteto e urbanista. Os materiais passam a ser explorados a partir de seu

potencial plástico, funcional e estético, sendo utilizados com maior propriedade e eficiência nas

soluções propostas (YOPANAN, 2000). Cria-se ainda uma ampliação do campo de atuação

profissional do egresso, que pode também atuar no acompanhamento da construção, demanda

frequente principalmente dos construtores de pequeno porte, nas regiões interioranas do país.

Chama-se a atenção ainda para a importância de trabalhar novos processos propositivos

que contem com a participação tanto dos executores das obras quanto dos usuários, evitando a

concepção solitária e autoral do projeto. Também se busca inserir no debate as novas

possibilidades tecnológicas de intervenção no espaço, sejam elas novos mecanismos tecnológicos

de interação ou novas estratégias de fabricação, conformação e utilização de materiais,


3
Cf. http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/55/artigo121578-1.asp, consulta em outubro de 2009.
2
principalmente aquelas relacionadas aos processos digitais.

1.2. Eixo de Planejamento Urbano e Regional:

Por sua localização, o curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSJ lida com o panorama

delineado pelas especificidades da realidade urbana das cidades brasileiras de pequeno e médio

porte, onde ainda existe uma carência de estruturas de planejamento e gestão. Isto abrange todos

os níveis da gestão pública municipal, desde a disponibilidade de recursos humanos para

planejamento e fiscalização até a existência de uma base de dados de referência e de um

arcabouço legislativo que discipline e oriente a ocupação do solo urbano4. As redes de

infraestrutura apresentam-se muitas vezes inexistentes, ineficientes ou degradadas, sem registro

técnico de sua implantação que permita complementação do traçado.

Nesse sentido, a lógica que se deve utilizar na aproximação, compreensão e diagnóstico

das questões urbanas existentes e/ou na criação de um plano consistente para o futuro é diferente

daquela utilizada nos grandes centros e em suas regiões metropolitanas. Ainda que muitas

questões sejam compartilhadas com o mundo globalizado, há a necessidade de adaptação à

escala do local, na proporção do tamanho do território e também dos problemas enfrentados,

contextualizando as possíveis formas de ação pelo campo do urbanismo e da arquitetura.

Vale lembrar ainda que, à medida que a concepção do edifício não está desconecta de seu

entorno, e de todo contexto em que se insere - social, econômico, político, ambiental, a produção

do objeto se mescla à do espaço urbano. Não é possível lidar com demandas específicas da

construção do espaço arquitetônico sem compreender a lógica de sua infraestrutura urbana e as

consequências de sua implantação na cidade, sejam elas físicas (na própria ocupação do

território) ou da ordem do planejamento e da gestão de recursos e lugares. Também é preciso

identificar os aspectos globais de funcionamento de edifícios e cidades para entender como

questões locais se enquadram no panorama geral.

4
Lembra-se aqui que a cidade conta apenas com um Plano Diretor (Lei nº 4.068 , 13 de novembro de 2006), ainda
não plenamente implantado, sem grande parte da legislação complementar necessária, p. e. uma Lei de Uso e
Ocupação do Solo.
3
Assim, objetiva-se não só a compreensão generalista dos processos de planejamento e

gestão nas escalas urbanas e regionais, mas também um entendimento das possibilidades de

aplicação à realidade e às características próprias da região analisada, atendendo às suas

especificidades. O projeto pedagógico do curso engloba, neste eixo, uma sólida instrumentação e

sensibilização crítica para a participação em equipes multidisciplinares voltadas à elaboração de

políticas públicas e diretrizes urbanas para o desenvolvimento de pequenas e médias cidades,

considerando-se a identificação e a preservação da paisagem cultural e natural, assim como o

incentivo ao envolvimento das comunidades locais no processo de gestão urbana

1.3. Eixo de Patrimônio Histórico:

Considerando o contexto histórico no qual o curso está inserido, não é possível evitar o

debate constante entre a inserção de propostas contemporâneas e sua interface com o parque

edificado já existente. A cidade de São João del-Rei conta com um expressivo patrimônio de

arquitetura colonial, especialmente em seu centro histórico, sobre o qual incidem tombamentos

federais (Decreto-Lei Federal N° 25, de 30 de novembro de 1937) e municipais (Lei Municipal N°

3.531, de 06 de junho de 2000).

Há um atuante conselho de patrimônio na cidade, que ainda não conta com diretrizes claras

que orientem suas ações, o que faz com que parte das edificações da cidade, principalmente no

centro histórico, acabem por adotar como estratégia de composição com o patrimônio histórico a

lógica do pastiche, com representações contemporâneas reduzidas à referência formal da

arquitetura colonial.

Neste sentido, cabe uma discussão das cartas patrimoniais e teorias mais recentes (CURY,

20005, BRANDI, 2008), bem como de práticas contemporâneas de intervenção no patrimônio

construído, no sentido de adequar as demandas atuais da experiência do espaço e da construção

da cidade à convivência com o tecido e edifícios históricos ainda existentes, sem congelar o

5
Dentre as mais relevantes temos a Carta de Atenas (1934), Carta de Veneza (1964) e a Carta de Washington
(1987), que contradizem muitas das políticas adotadas na cidade de São João del-Rei.
4
crescimento de sua arquitetura e de sua infraestrutura urbana. Para este projeto pedagógico, a

dimensão crítica em torno do tema do patrimônio torna-se tão importante quanto o próprio

conhecimento das técnicas de intervenção junto ao mesmo.

Entende-se que a maior dificuldade de lidar com as questões da revitalização, restauração,

preservação e intervenção no espaço urbano e arquitetônico reside no consenso dos critérios de

avaliação do objeto, em atestar sua relevância e saber abordá-lo de modo coerente ao passado e

também ao presente, adaptando-se ao contexto atual e às novas demandas de experiência e uso

contemporâneos.

1.4. Formação generalista:

Apesar do reforço nas discussões dos eixos o curso busca manter uma formação

generalista, compatível com Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Arquitetura e

Urbanismo6 e das atribuições profissionais definidas pela Resolução n°2 do CAU/BR7. As

competências requeridas do Arquiteto e Urbanista estão no artigo 5° da referida resolução e

orientam os princípios e diretrizes do currículo proposto.

2. Estrutura curricular
2.1. Diretrizes curriculares

A estrutura curricular do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSJ foi pensada não como

um objeto finalizado e enrijecido, mas antes como um instrumento de mediação entre agentes e

interessados (instituição, alunos, docentes, técnicos e a sociedade como um todo). Neste sentido,

ele é norteado pelas seguintes diretrizes, condizentes com o Art. 5° da Resolução 027/2013 do

Conselho de Pesquisa, Ensino e Extensão (CONEP/UFSJ)8:

6
MEC, CNE, CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. Resolução Nº 2, de 17 de junho de 2010. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do
curso de graduação em Arquitetura e alterando dispositivos da Resolução CNE/CES n°6/2006. Disponível em
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com _docman&task=doc_download&gid =5651&Itemid= . Acesso em março de 2013.
7
BRASIL. Conselho de, Arquitetura e Urbanismo. Resolução 21, de 5 de abril de 2012. Dispõe sobre as atividades e atribuições profissionais do
arquiteto e urbanista e dá outras providências. Disponível em: http://www.normaslegais.com.br/legislacao/ resolucao-cau-21-2012.htm. Acesso em
março de 2013.
8
BRASIL. Universidade Federal de São João del Rei. Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Resolução n° 027 de 11 de setembro de 2013.
Estabelece definições, critérios e padrões para organização dos projetos pedagógicos de Cursos de Graduação da UFSJ. Disponível em:
http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/soces/Res027Conep2013_EstabeleceNormasPPCs_Graduacao(1).pdf. Acesso em maio de 2014
5
a) flexibilidade curricular: reduzindo o número de unidades curriculares obrigatórias e pré-

requisitos ao mínimo, garantindo uma diversidade de arranjos curriculares e formas de

apropriação de conteúdos;

b) incentivo à autonomia: ligada à flexibilidade, tornando o aluno responsável pelo seu

percurso acadêmico, estimulando a formação de capacidade crítica e o meta-aprendizado

do discente;

c) integração entre teoria e prática: com a criação de unidades curriculares autônomas na

qual o aluno busca apropriar-se dos conteúdos apreendidos nas unidades curriculares

teóricas, aplicando-os em propostas espaciais em diversas escalas e âmbitos de atuação;

d) formação generalista com ênfases regionais: inserindo as questões regionais

relevantes nos eixos principais do curso, mas buscando uma formação de fato diversificada

e completa, que permita ao aluno atuar em diversas áreas no campo;

e) estímulo às experiências de trabalho externas e à formação complementar; com a

criação de unidades curriculares que contabilizem estas experiências na carga horária do

aluno e proporcionando horários livres no decorrer do curso para a efetivação desta

formação complementar.

f) integração entre projeto e tecnologia visando a uma formação social: desfazendo a

polaridade entre arte e tecnologia e direcionando os alunos a uma prática ética, cidadã e

socialmente inserida.

2.2. Estrutura curricular

O curso é organizado em dois momentos: um primeiro de Fundamentação, que acontece

nos dois primeiros períodos, e um segundo momento, de Profissionalização, que ocorre a partir do

terceiro período, culminando com o Trabalho Final de Graduação (TFG). Estes momentos contêm

dois tipos de atividades: internas, contabilizadas em horas-aula de 55 minutos (disciplinas do ciclo

de fundamentação, estúdios, módulos e trabalhos integrados), e externas ou de orientação

6
(Atividades complementares, Estágio e Trabalho Final de Graduação), contabilizadas em horas-

relógio de 60 minutos.

A carga-horária de 3.600 horas9 é idealmente dividida de forma equilibrada, sendo que o

aluno é estimulado a cursar a carga horária prevista em cada um dos dois primeiros períodos,

podendo personalizar a partir do terceiro período. Há uma diminuição gradativa da carga horária a

partir do terceiro período, visando à consolidação da autonomia do aluno.

Com o objetivo de garantir a flexibilidade proposta nas diretrizes, o currículo é estruturado

em três tipos de ementas para as unidades curriculares:

a) fixas: dentro dos moldes tradicionais, definindo os conteúdos a serem abordados que

são essenciais na formação dos alunos e garantem a base para as discussões posteriores

no curso; fazendo parte deste grupo principalmente as disciplinas panorâmicas do ciclo de

fundamentação e as unidades curriculares do Trabalho de Curso;

b) maleáveis: integrando o conhecimento de áreas diversas ao redor de um mesmo

trabalho, fortalecendo a interdisciplinaridade e a capacidade crítica do aluno e o preparando

para as atividades propositivas ao longo do curso (são deste tipo as ementas das Oficinas);

c) genéricas: nas quais são trabalhados temas abrangendo uma gama de unidades

curriculares específicas variáveis ao longo do curso, compreendendo aí os Estúdios,

Módulos e Trabalhos Integrados.

Para preservar a liberdade do aluno no seu percurso acadêmico e evitar retenções

excessivas, os pré-requisitos são aplicados predominantemente aos ciclos e não às unidades

curriculares isoladamente. Por exemplo, para cursar o ciclo Intermediário, o aluno precisa ter

concluído com aprovação as disciplinas práticas do ciclo de fundamentação e 80% da carga

horária teórica; para cursar o ciclo Avançado, o aluno deve ser aprovado na Avaliação

9
Horas relógio, conforme estabelecido em MEC, CNE, CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR. Resolução Nº 2, de 18 de junho de 2007. Dispõe
sobre carga horária mínima e procedimentos relativos à integralização e duração dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade
presencial . Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2007/rces002_07.pdf; Acesso em março de 2013
7
Intermediária de Curso (AIC), que analisa o portfólio produzido no ciclo de Fundamentação e em

oito (8) Estúdios Intermediários cursados.

A representação gráfica do desenho curricular pode ser visto na figura 1, com as cargas

horárias colocadas sob o nome das unidades curriculares10.

Figura 1: Representação gráfica do desenho curricular

Os dois primeiros períodos iniciais, compondo o ciclo Introdutório, são dedicados à

fundamentação. A instrumentação clássica é substituída por uma abordagem voltada para a crítica

e problematização. Busca-se a construção da autonomia do aluno, sensibilizando-o para as

questões relativas ao espaço e ao ambiente construído, estimulando o desenvolvimento de uma

linguagem de representação e de expressão próprias e promovendo a capacidade de apropriação

crítica de informações e técnicas disponíveis na produção do seu trabalho. Paralelamente, nas

unidades curriculares teóricas, é traçado um panorama do campo da arquitetura e urbanismo,

mapeando-o para que o aluno seja capaz de navegar pelo mesmo.


10
Lembrar das distinções entre hora-relógio (Atividades complementares, Estágio e TFG) e hora-aula (demais unidades curriculares. Buscamos
evitar a expressão "grade curricular" entendendo que há uma grande possibilidade de variação dentro da estrutura proposta.
8
A partir do terceiro período, o curso dedica-se à formação profissionalizante, composta por

quatro instâncias. A primeira, caracterizada como ciclo Intermediário, vai idealmente do 3º ao 6º

período e conta com unidades curriculares de duração bimestral, que conferem maior velocidade

(ao realizar várias propostas em um curto espaço de tempo) e foco (ao limitar o número de

unidades curriculares concomitantes em três ou quatro e não seis ou sete como ocorre nos cursos

convencionais) ao aluno. Para cada período letivo (no caso deste ciclo, a cada bimestre), o aluno

constrói um plano de trabalho, constituído de uma disciplina prática – Estúdio –, um determinado

número de disciplinas teóricas – Módulos – e uma unidade curricular autônoma – Trabalho

Integrado –, na qual o aluno produz, com tutoria individual, um caderno técnico-teórico conectando

suas atividades do período. O resultado do Trabalho Integrado é compilado em um portfólio que,

ao final do ciclo, é submetido a um processo de avaliação que verifica eventuais carências de

conteúdo na sua formação, indicando unidades curriculares complementares a serem cursadas. A

segunda instância, caracterizada como ciclo Avançado, tem estrutura semestral, semelhante ao

ciclo Intermediário, buscando promover um aprofundamento no exercício da prática projetual e de

planejamento urbano e regional. Separando o ciclo Intermediário do Avançado propõe-se um

semestre sem atividades letivas obrigatórias, dedicado à terceira instância, o Estágio Curricular

Supervisionado, que pode ser realizado em outras cidades.

Ao final o aluno conclui a quarta e ultima instância profissionalizante, ao desenvolver o

Trabalho de Curso em dois semestres: o primeiro, idealmente em seu 9° período, com a

elaboração de um plano de trabalho na disciplina Seminários de Trabalho Final de Graduação,

cursada concomitantemente ao Ciclo Avançado, e o segundo, idealmente em seu 10° período na

unidade curricular Trabalho Final de Graduação para a efetiva execução do plano.

Distribuída do terceiro ao nono períodos, ampla carga de optativas e eletivas livres e

atividades complementares completam a estrutura proposta.

9
3. Detalhamento e implantação
3.1. Ciclo de Fundamentação

O curso inicia-se com a disciplina prática Oficina I, trabalhando os processos de percepção,

proposição, execução e representação de intervenções espaciais. Busca-se substituir a lógica

estrita da instrumentação para o projeto por um desenvolvimento da capacidade de crítica e

problematização, levando a estratégias e soluções mais complexas e menos absolutas.

A discussão desta disciplina inicia-se no espaço bidimensional, utilizando simultaneamente

técnicas digitais e analógicas; tais como desenhos abstratos de ocupação do espaço, desenho de

observação, colagens em programas de edição de imagens e montagem de projetos gráficos. O

embasamento teórico é sempre construído após o aluno ter iniciado o processo propositivo, ou

simultaneamente a ele, apresentando técnicas de desenho, ferramentas computacionais ou

estratégias de composição formal (CHING, 2011; KANDINSKY, 2012). Também são iniciadas

discussões urbanas, principalmente a partir das "Cidades Invisíveis" de Calvino (1990).

O processo é tridimensionalizado com a construção de estruturas abstratas, utilizando

materiais lineares ou de superfície, rediscutindo as questões espaciais já abordadas e

introduzindo a lógica estrutural do espaço. Por fim, a partir das questões da virtualidade e do

programa (LEVY, 1996; FLUSSER 2005), os alunos propõem um objeto interativo, onde são

tratadas as questões da alteridade, da abertura e do diálogo no exercício propositivo.

Os dois últimos módulos giram em torno de uma intervenção em um espaço consolidado,

apropriando os conceitos até então vistos dentro de um contexto urbano em escala real. O terceiro

módulo envolve a execução da intervenção, levantando as dificuldades que a materialização das

propostas suscita, e o quarto consiste na representação gráfica e técnica do resultado obtido,

invertendo a lógica tradicional da arquitetura, na qual a representação sempre antecede o objeto.

No segundo período, a disciplina Oficina II completa o processo de fundamentação iniciado

na Oficina I, dando continuidade à sua linha metodológica e expandindo e aprofundando suas

referências. As discussões estabelecidas com foco no corpo como referência sensório-espacial, e


10
o desenvolvimento da linguagem e da representação são o fio condutor da disciplina. Entende-se

a representação como processo de conhecimento, e o aluno é levado a explorar diferentes

técnicas e formas de expressão analógica e digital e a desenvolver sua própria forma de

comunicação, a partir do reconhecimento dos códigos básicos do desenho arquitetônico. Sua

iniciação ao processo de projeto ocorre na proposição seguida da representação, a partir da

problematização das demandas e não de um programa pré-estabelecido. Através de um

embasamento teórico-prático, o discente deve investigar demandas não respondidas do homem

contemporâneo e a relação entre ferramentas de desenho e o processo de projeto.

A Oficina II é dividida em três módulos principais. Diversos exercícios são aplicados, com

destaque para o desenho técnico à mão, croquis, workshops de percepção, maquetes físicas e

eletrônicas, diagramas, colagens, além de um caderno técnico e pranchas-resumo, comuns às

outras disciplinas de Estúdio. O Módulo 1 consiste em intervenção na escala do corpo. A partir do

estudo aprofundado de uma ação que ocorre no espaço vivido e das percepções vinculadas a tal

ação, passa-se ao desenvolvimento de "biomecanismos", que consistem em instrumentos a serem

anexados ao corpo físico, como próteses sensórias, a fim de modificar o padrão de percepção de

uma ação e rearticular sentidos e experiência corpóreo-espacial. O Módulo 2 propõe a intervenção

na escala do objeto arquitetônico e engloba a projeção de espaços a partir do desenvolvimento de

uma postura crítica diante de diferentes espaços arquitetônicos e suas interfaces com o contexto

urbano, tendo como referência uma ação ou função no espaço vivido. O procedimento envolve a

concepção de um espaço arquitetônico – um habitáculo –, bem como suas interfaces urbanas, e a

representação desses espaços como projeto. O Módulo 3 propõe uma intervenção urbana que

amplie a inserção e as interfaces dos habitáculos com a cidade para além do entorno imediato. O

objeto a ser gerado deverá potencializar a ação dos objetos no espaço, criando novas relações

em rede e outras respostas ao modo de habitar a cidade contemporânea. Como procedimento,

devem identificar estratégias de plano, gestão e projeto na cidade a partir das questões que foram

levantadas e trabalhadas no habitáculo.


11
O conteúdo das Oficinas I e II são frequentemente integrados aos módulos teóricos de

fundamentação dos dois primeiros períodos, onde se destacam análises de espaços comuns para

as mesmas disciplinas (como a análise estrutural e de conforto ambiental dos habitáculos

produzidos na Oficina II), suporte de teórico, crítico e histórico aos processos de projeto (como nas

análises históricas dos locais das intervenções urbanas da Oficina I), respaldo técnico para

aplicação e experimentação diretas nos projetos trabalhados (como o suporte de Introdução aos

Sistemas Estruturais e Cartografia e Topografia às Oficinas I e II). Objetiva-se consolidar a

integração de conteúdos e o meta-aprendizado, visando à autonomia do estudante e o

desenvolvimento de linguagem própria para expressão e representação, bem como promover a

capacidade de apropriação crítica de informações e técnicas disponíveis para a prática projetual.

3.2. Ciclo Intermediário, Avançado e Avaliação Intermediária de Curso (AIC)

Para o ciclo profissionalizante, o aluno foca nas disciplinas práticas de caráter

preferencialmente propositivo (podendo em alguns casos ser analítico), utilizando como suporte os

conhecimentos técnicos e teóricos adquiridos nos Módulos.

Os Módulos são oferecidos em cinco categorias: Tecnologia da Construção; Teoria, História

e Patrimônio; Sustentabilidade e Instalações Prediais; Planejamento Regional, Urbanismo e

Políticas Públicas; Tópicos Especiais. A fim de assegurar que o aluno tenha acesso ao conteúdo

básico fundamental ao aprendizado do arquiteto e urbanista e que as áreas de ênfase propostas

para o curso tenham realmente relevância e destaque na sua formação, o aluno deverá cursar,

dentre os Módulos técnico-teóricos ofertados a cada semestre, em qualquer ordem e segundo seu

interesse e escolha, pelo menos dois módulos de cada uma das quatro primeiras categorias.

Cobrem-se, assim, oito dos 14 Módulos técnicos-teóricos mínimos a serem cursados. Os demais

poderão ser escolhidos livremente pelo aluno. Quando da elaboração do Projeto Pedagógico, foi

prevista uma sequência de ofertas, que foi expandida até 2017. No entanto, sistematicamente têm

sido ofertados, quando há disponibilidade de cargas horárias, Módulos fora da sequência original,

12
tais como Paisagismo e Tópicos Especiais em Tecnologia. No entanto, foram já verificadas

carências, tais como o estudo de técnicas construtivas convencionais11, cuja implantação será

discutida dentro do Núcleo Docente Estruturante (NDE).

Nos estúdios, as ofertas são discutidas semestralmente dentro do conjunto de professores,

buscando uma diversidade de oferta e uma afinidade com os interesses dos docentes

responsáveis. Busca-se evitar a lógica tipológica convencional, com terreno e programa pré-

definidos e com complexidade associada exclusivamente à questão de escala. A abordagem

temática mais ampla pode focar em questões contemporâneas relevantes global ou

regionalmente, bem como trabalhar com processo de projeto e planejamento, deixando para o

aluno, dentro do plano de trabalho estabelecido, a responsabilidade de definir a proposta a ser de

fato desenvolvida. O nível de aprofundamento e a duração diferenciam os Estúdios do ciclo

Intermediário (bimestrais) daqueles cursados no ciclo Avançado (semestrais). Espera-se que os

últimos tenham maior consistência teórica e conceitual, assim como um maior detalhamento das

propostas realizadas.

O processo de distribuição dos alunos nos temas é realizado pela Coordenação com auxílio

dos professores. Os temas são apresentados em um documento sucinto que descreve objetivos,

métodos e produtos esperados de cada estúdio. Os alunos então se candidatam aos estúdios

apresentando os portfólios. A seleção primária é feita pelos professores avaliando o portfólio dos

alunos e considerando como critérios a qualidade do desempenho anterior (merecimento) e o

potencial de contribuição para o aluno naquele momento do curso (necessidade imediata). O

ajuste final é realizado pela Coordenação, que busca distribuir os alunos de modo que a maioria

consiga cursar sua primeira opção ao menos em um dos bimestres. Embora o processo pareça

subjetivo, ele permite uma análise mais cuidadosa da produção do aluno, premiando aqueles que

construíram um conjunto de trabalhos mais consistente, sem deixar de atender aqueles alunos

que apresentam lacunas na área do Estúdio. Os alunos não selecionados participam de uma
11
Há Módulos que tratam dos sistemas vernaculares e dos sistemas alternativos, mas os sistemas convencionais são abordados somente no Ciclo
de Fundamentação.
13
segunda rodada utilizando os mesmos critérios, até que todos os discentes sejam alocados nas

vagas disponíveis.

O processo do aluno é acompanhado pelo tutor, normalmente o professor do Estúdio, que o

auxilia na integração dos conhecimentos das várias unidades curriculares cursadas no Trabalho

Integrado (T.I.). Esta tutoria é progressivamente reduzida, fortalecendo a autonomia do aluno, até

a completa independência no ciclo Avançado. O Trabalho Integrado também permite que o

discente demonstre conhecimentos adquiridos fora das unidades curriculares cursadas, em

estudos autônomos. Dentro das normas atuais, os T.I.s são compostos de um caderno técnico-

teórico, no qual consta toda a apropriação e aplicação dos conteúdos de Módulos, optativas,

eletivas e estudos extras na proposta prática realizada, e de três pranchas-resumo, que irão

compor seu porfólio.

Uma das principais questões que se coloca é o nível de cobrança recomendado para

alunos de cada período, uma vez que todos terão percursos, habilidades e dificuldades muito

diferentes. Neste sentido, o conjunto dos professores busca criar parâmetros homogêneos de

cobrança de representação técnica, gráfica e de capacidade de comunicação acadêmica e

científica. Exige-se, assim, um maior nível de detalhamento, uma maior complexidade propositiva

e uma maior capacidade analítica e crítica dos alunos mais avançados no curso. Também é

considerada a necessidade do desenvolvimento de uma escrita acadêmica nos primeiros períodos

do ciclo Intermediário, que pode dar lugar a outras linguagens na medida em que o aluno vai

ganhando maturidade.

O acompanhamento do aluno no ciclo Intermediário é realizado por meio de uma ficha, na

qual o tutor aponta seu desempenho em cinco quesitos propositivos e quatro instrumentais. São

quesitos propositivos: 1) ambiência: criar arranjos espaciais, conexões e ambiências de

qualidade; 2) contexto: relacionar o espaço proposto com o contexto histórico, social e cultural do

entorno e dos usuários; 3) escala: tratar adequadamente cada escala de intervenção, bem como

estabelecer relações entre as escalas trabalhadas; 4) coerência: conectar dados, conceitos,


14
diagnósticos e problematizações com programas, planos e projetos e 5) aplicação: apropriar

conhecimentos técnicos e teóricos na elaboração das intervenções espaciais. Os quesitos

instrumentais são: 6) comunicação: conhecer as linguagens de representação gráfica,

arquitetônica e complementares, utilizando-as adequadamente para concepção, desenvolvimento

e comunicação de intervenções espaciais; 7) teoria: discutir criticamente os elementos

constituintes da arquitetura, do urbanismo, do paisagismo e das artes, tendo como objetivo a

reflexão crítica, a pesquisa e a prática no campo profissional; 8) tecnologia: eleger tecnologias de

construção (materiais, infraestrutura, estrutura) e gestão adequadas à materialização das

propostas de intervenção espacial e 9) conforto: entender as condições ambientais geradas pela

proposta e apresentar domínio das técnicas utilizadas para conhecê-las e alterá-las. Além disso, é

avaliada a área de atuação na qual o projeto se insere: edifício, desenho urbano, planejamento

urbano e regional, paisagismo e patrimônio histórico.

Os alunos são avaliados continuamente por estes critérios, com notas de 0 a 10, que serão

considerados também na Avaliação Intermediária de Curso. A nota 7 indica um aluno em estágio

adequado para o período em que se encontra, podendo a nota ser reduzida ou aumentada caso

ele supere as expectativas ou não atenda a elas.

Ressalta-se, no entanto, que a nota dada pelo tutor no decorrer do processo não considera

o conjunto da formação do aluno. É aceitável que o aluno deixe de trabalhar algum dos quesitos e

áreas em alguns dos estúdios, mas é fundamental que em algum momento todas as áreas sejam

abordadas. Também é esperada uma evolução nos quesitos, sendo que um trabalho que obtém

nota 7 produzido por um aluno de terceiro período não receberá a mesma avaliação se entregue

por um aluno do sexto.

Neste sentido, é realizada, no sexto período, a Avaliação Intermediária de Curso, na qual o

portfólio do aluno é enviado a um Avaliador Externo, que o analisa dentro de uma perspectiva

global, atribuindo notas aos quesitos a partir do conjunto da produção e verifica as áreas

trabalhadas pelo aluno ou eventuais lacunas existentes. A avaliação final é realizada por um
15
professor do curso (Avaliador Interno), tutor do último estúdio cursado pelo aluno, que é capaz de

avalizar tanto seu processo como o estado corrente da sua produção. O resultado final é uma

composição destas avaliações - 40% da média obtida nos estúdios, 30% da nota dada pelo

Avaliador Externo e 30% para o Avaliador Interno.

Os resultados possíveis são: a) aprovação: quando o aluno se encontra em estágio adequado em

todas as áreas, entrando no ciclo Avançado com total liberdade para selecionar suas unidades

curriculares; b) aprovação com recomendações: quando o aluno se encontra em estágio

adequado na maioria das áreas, mas apresenta deficiências, devendo ser indicadas ao aluno

unidades curriculares a serem cursadas no ciclo Avançado ou temas a serem trabalhados pelo

aluno em Estúdios Avançados de modo a supri-las e c) reprovação: quando o aluno apresenta

deficiências graves em algumas áreas ou desenvolvimento geral inadequado, sendo indicado a

ele cursar um ou mais Estúdios Intermediários e/ou Módulos específicos.

A aprovação na Avaliação Intermediária de Curso é pré-requisito para que o aluno ingresse

no ciclo Avançado, onde vai cumprir as eventuais recomendações (que serão checadas ao final

deste ciclo) ou desenvolver seus projetos de acordo com as próprias escolhas de tema ou ênfase,

dentro das possibilidades de Estúdio oferecidas.

3.3. Outras atividades: Estágio Curricular Supervisionado e Optativas/Eletivas,


Atividades Complementares

O Estágio Curricular Supervisionado é componente fundamental na formação profissional

do aluno e deverá ser desenvolvido pelo aluno em conformidade com seu campo de formação

profissional e tem como objetivos: complementar a formação acadêmica, formalizando a ligação

entre educação escolar e o mundo do trabalho; assegurar a vivência de experiências próprias nas

diversas áreas de competência profissional e o contato com situações, contextos e instituições,

permitindo que conhecimentos, habilidades e atitudes previstas no Projeto Pedagógico do Curso

se concretizem em ações profissionais; proporcionar o exercício do aprendizado compromissado

16
com a realidade socioeconômica, cultural e política do país, contribuindo na sua formação

profissional e pessoal.

Observa-se que, tendo em vista a oferta limitada de estágios na cidade de São João del-

Rei e região, o projeto pedagógico prevê um período de seis meses (idealmente o 7º período do

curso, livre de encargos acadêmicos, de modo que o aluno possa realizar o estágio em outras

cidades12. Com isso, permite-se que o aluno tenha contato com a realidade de atuação

profissional da sua cidade de origem ou de um grande centro urbano. Sugere-se que os alunos

optem por estágios em concedentes que atuem nas áreas destacadas do Projeto Pedagógico do

Curso – obra civil, planejamento urbano e regional e preservação e intervenção no patrimônio

construído, devendo ser supervisionado por profissional da área de Arquitetura e Urbanismo ou

afim13.

Outra medida que visa a uma formação do aluno não restrita às atividades de sala de aula

é incentivar atividades complementares, que, segundo as diretrizes curriculares do MEC, podem

compreender até 10% da carga horária total do curso. Assim, atua-se estrategicamente no reforço

da relação entre a graduação e as várias atividades acadêmicas de pesquisa e extensão, além de

incentivar a participação dos estudantes em eventos e viagens de estudo. Estas atividades não

significam o simples cumprimento de tarefas administrativas e, por possuírem importante caráter

pedagógico, devem ser acompanhadas por um professor do curso. Incentiva-se uma diversidade

na realização destas atividades, sendo vedada a contabilização de mais de metade da carga

horária em um único tipo de atividade.

O projeto pedagógico do curso envolve ainda o cumprimento de carga horária de disciplinas

optativas e eletivas, sendo que as primeiras são ofertadas dentro da própria grade do curso e as

últimas compreendem qualquer unidade curricular ofertada na Universidade, ou mesmo em outras

12
O estágio pode acontecer a qualquer momento após a integralização de 288 horas de Estúdios (normalmente 5º período), inclusive de forma
concomitante com outras atividades acadêmicas do curso.
13
De acordo com a Lei Federal n° 11.788, de 25/09/2008, que dispõe sobre o estágio de estudantes. O Estágio Curricular Supervisionado
compreende um conjunto de atividades de aprendizagem profissional e cultural que ocorre além daquelas previstas na grade curricular, e é parte
integrante das diretrizes curriculares definidas pela Resolução n° 06, de 02/02/2006, e do Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo
da UFSJ.
17
universidades via mobilidade acadêmica. O Projeto Pedagógico não diferencia a carga horária de

optativa ou eletiva, exigindo o cumprimento de 252 horas-aula no total para integralização

curricular14. No caso do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSJ, tem havido pouca

disponibilidade de encargos didáticos dos professores no Departamento (DAUAP - Departamento

de Arquitetura e Artes Aplicadas) para ofertar um número suficiente de optativas dentro da própria

área do curso, o que leva os alunos à necessidade de procurar disciplinas em outros cursos e

departamentos15.

3.4. Trabalho de Curso

O Trabalho de Curso acontece nos dois últimos períodos em duas unidades curriculares

Seminários de Trabalho Final de Graduação (STFG) e TFG. Na primeira, são definidos os temas

de estudo e elaboradas as estruturas dos planos de trabalho. A disciplina é organizada em duas

partes: uma lecionada por dois professores, que orientam a construção do plano, e outra com a

participação do orientador, na qual o aluno consolida o plano e realiza pesquisas preliminares.

Busca-se, aqui também, escapar da definição tipológica, conferindo complexidade temática e

processual aos temas abordados e flexibilizando a possibilidade de produtos no TFG.

No TFG, procurou-se incentivar a autonomia construída pelo aluno, com a redução do

número de orientações individuais (apenas cinco ao longo do semestre) e a multiplicação de

orientações coletivas (duas bancas e duas orientações coletivas com outros professores que não

o orientador). Espera-se que assim o aluno responsabilize-se integralmente pelo seu trabalho e

pelas soluções adotadas, demonstrando sua capacidade de apropriação de diferentes visões

sobre seu tema de estudo e de argumentação em cima de suas tomadas de posição em relação

ao trabalho desenvolvido. Tais habilidades serão extremamente úteis na sua atuação profissional

14
Estas unidades podem ser cursadas como complementação do conhecimento em áreas afins, favorecendo a efetiva interdisciplinaridade entre
os cursos e estimulando sua capacidade de apropriação e aplicação de conteúdos diversos, de forma mais aprofundada e crítica. Nesse sentido,
estimula-se o aluno que esteja em posição mais avançada no curso, a fim de que ele tenha maior maturidade para aproveitar plenamente tal
experiência.
15
Embora o próprio projeto pedagógico do curso preveja a não-obrigatoriedade de tal oferecimento, é do desejo de vários de seus docentes ofertar
optativas. Há um esforço nessa direção, especialmente a partir do momento atual, onde o quadro de professores se aproxima do número adequado
a um funcionamento mais fluido do curso e de uma melhor distribuição de encargos didáticos, a fim de proporcionar o envolvimento dos docentes
em outras atividades acadêmicas.
18
futura, abrindo caminho para um posicionamento consciente, mas aberto e interdisciplinar.

4. Considerações finais

O Curso de Arquitetura e Urbanismo formou, em março de 2014, sua primeira turma regular

e recebeu conceito CPC 5 em sua avaliação de reconhecimento pelo MEC, consolidando um

primeiro ciclo de implantação do Projeto Pedagógico iniciado em 2009.

Ao propor um projeto pedagógico fora dos moldes tradicionais da academia brasileira,

especialmente na área da arquitetura e urbanismo, muitas questões se colocam, com a

necessidade constante de ajustes na estrutura universitária, seja em termos legais e conceituais,

seja em termos de infraestrutura disponível.

Destaca-se a dificuldade em encontrar um equilíbrio entre a flexibilidade da proposta e a

garantia de formação adequada para o aluno. Considera-se mais complexo avaliar o perfil do

aluno quando os percursos acadêmicos são únicos e devem ser analisados individualmente. A

segurança, neste caso, vem de uma consolidação do ciclo de fundamentação, que servem como

referência para o restante do curso, lançando as bases de um novo raciocínio espacial e para uma

postura necessária ao meta-aprendizado - autônoma, crítica e responsável. Une-se a isso um

processo avaliativo continuado, baseado não em um sistema arbitrário de notas, mas em uma

análise constante e diversificada da produção do aluno pelo conjunto do corpo docente.

Neste sentido, apresenta-se outro desafio, que está na construção de uma equipe coesa e

afinada com a proposta do Projeto Pedagógico. Isso exige um fino gerenciamento para articular

um sistema de ofertas de disciplinas flexíveis - tanto em temática como na possibilidade de ser

cursada por alunos de diferentes níveis -, autonomia do professor e construção de um trabalho

coletivo, diversidade de abordagens e uma base referenciada de conteúdos e critérios de

avaliação. A estratégia, neste caso, consistiu em separar a apreciação do desempenho do aluno

nas unidades curriculares da compreensão do seu percurso acadêmico, considerando-as como

19
aspectos complementares do curso. As figuras da Avaliação Intermediária e das Bancas de

Trabalho de Curso são fundamentais neste processo.

Por fim, já se podem experimentar grandes avanços referentes à aplicação deste projeto

pedagógico, sendo especialmente notada a formação de alunos com postura crítica, capazes de

lidar com diferentes realidades e demandas, propositivos e conscientes de seu papel de atuação

possível no cotidiano de formação das cidades.

Agradecimentos

Agradecemos à equipe do Projeto Pedagógico original – Profa. Ana Paula Baltazar, profa. Ana

Cristina Reis Faria (coordenadora do curso quando da sua elaboração), Juliana Torres de Miranda

e Roberto Estaáquio dos Santos (consultores) – ao corpo docente atual e àqueles que por lá

passaram, além de todos os integrantes da UFSJ, instituição que muito tem nos apoiado nesta

empreitada.

5. Referências bibliográficas

BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.

CALVINO, Ítalo. (trad. Diogo Mainardi). Cidades invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras,
1990.

CHING, Francis. Representação gráfica em arquitetura. 5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.

CURY, Isabelle (Org.). Cartas Patrimoniais. Rio de Janeiro: IPHAN, 2000.

FERRO, Sérgio. Arquitetura e trabalho livre. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

FLUSSER, Vilem. Filosofia da caixa preta. São Paulo: Relume-dumara, 2005.

KANDINSKY, Wassily. Ponto e linha sobre o plano. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

LEVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.

REBELLO, Yopanan C. P.. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.

STEVENS, Garry.The favored circle: the social foundations of architectural distinction, Cambridge:
MIT Press, 1998.

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