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Homonovana Gola
DIREITO COMERCIAL I
Faculdade de Direito
CAPÍTULO I: COMÉRCIO E COMERCIANTES
§1: SENTIDO OBJECTIVO. Os actos de comércio em sentido objectivo são aqueles que
se encontram especialmente regulados no Código [art. 2º, 1ª parte]. Esta primeira noção
denota a relação de especialidade entre o direito comercial, especial, e o direito civil, geral
A fórmula legal recorre a um enunciado implícito que cumpre determinar com maior
clareza.
OLIVEIRA ASCENSÃO, só são comerciais os actos regulados no Código e nos quais aflore a
§2: ANALOGIA. Dado o teor de tipicidade fechada do art. 2º, aliado a razões de
segurança jurídica, poder-se-ia dizer que a qualificação de actos comerciais por analogia seria
Todavia, cumpre recordar que as normas comerciais são especiais e não excepcionais,
susceptíveis, por isso, de aplicação analógica nos termos gerais do art. 10º CC: as normas
comerciais não contrariam os princípios gerais do direito, nem constituem qualquer ius
singulare. Mas nem por isso se diga que a aplicação analógica das mesmas deva ser
deveria ser constatada em cada regra [a relação de especialidade só poderia ser relativizada,
concorrência não é especial em relação a norma nenhuma, já que não lhes assiste
corresponde a norma “geral” no direito civil português. Não obstante, o direito comercial é
certamente mais restrito e particularizado que o direito civil. Nestes termos, e com as
limitações apontadas, a natureza especial do direito comercial deve ser ponderada caso a
caso.
termos, o mesmo poderia ser qualificado como acto comercial em sentido objectivo,
COUTINHO DE ABREU.
obrigações dos comerciantes, com capacidade para tal, que façam do comércio profissão. A
natureza dos mesmos não pode, todavia, ser exclusivamente civil, e o contrário não pode
BARBOSA DE MAGALHÃES.
introduzido em 1907 por GUILHERME MOREIRA, pelo que ao elencar “empresas comerciais”
académica não é comerciante por organizar um espectáculo por ano; se o fizer, o acto é
A capacidade comercial dos comerciantes [art. 13º] coincide com a capacidade civil,
pelo que o art. 7º deve ser remetido para as regras gerais da capacidade de gozo e de
exercício.
Por outro lado, pratica, de facto, o comércio, o comerciante que celebre contratos e
A natureza do acto não pode ser exclusivamente civil: para MENEZES CORDEIRO serão
actos exclusivamente civis aqueles que, no momento considerado, não sejam regulados pela
lei comercial geral [fórmula mais abrangente e actualista, caso a caso]. OLIVEIRA ASCENSÃO
vai mais longe: será exclusivamente civil o acto que o direito comercial geral, pela sua
natureza, não possa regular [inclua-se os actos relativos ao direito da família e sucessões e as
CORREIA assumem uma interpretação mais extensiva, nos termos seguintes: é exclusivamente
civil o acto que não tenha qualquer conexão com o exercício do comércio em geral [assim, a
doação já seria considerada um acto comercial]. MENEZES CORDEIRO discorda: uma doação
feita a clientes não tem qualquer regime comercial, não se tratando de acto de comércio.
Conclusão:
decisiva: já não depende do foro competente, como historicamente já se admitiu [até 1932,
com a unificação o foro, os actos comerciais eram julgados em tribunais comerciais e os actos
civis pelos tribunais comuns]. Não obstante, a relevância desta discussão reside na aplicação
do regime comercial, maxime daquele que ainda vigora no nosso país: os poucos arts que
§4: COMERCIANTES. Nem todos os que praticam actos de comércio devem ser
Tenha capacidade para tal [art. 7º, que remete globalmente para a lei civil]
anulabilidade].
requisitos e que o sistema é móvel: poder-se-á dispensar um indício, desde que os outros
sejam inequívocos.
São pessoas semelhantes a comerciantes, ainda que não o sejam para efeitos do art.
13º: todas as entidades autónomas que pratiquem actos com fins lucrativos e que para tal
liberais de grandes sociedades de advogados, vg, possam ser reconduzidos à categoria geral
o direito a aplicar é o direito comercial. Será unilateral o acto de comércio só com relação a
A lei comercial rege quanto a todas as partes, enfim. Salvo se o contrário resultar da
própria lei.
Singulares
Plurais [co-obrigados]:
mesmo credor.
no exercício do seu comércio. Requisitos cumulativos para que esta presunção se verifique:
CSC, têm por objecto a prática de actos de comércio. Considera-se que as obrigações
contraídas nos casinos não são naturais porque delas cabe recurso para os tribunais [art.
1245º CC]. Se um comerciante contrair uma dívida deste cariz, o “contrário resulta do próprio
acto”: contrai as dívidas no casino não enquanto comerciante, mas sim enquanto cidadão
comum. Não é por ser comerciante que todas as actividades por ele praticadas sejam
comerciais.
Para além dos actos objectivamente comerciais previstos no Com são ainda
considerados actos objectivamente comerciais, aqueles constantes de:
1. Lei avulsa que substitui o CCM: toda a lei avulsa que substitui o CCM será,
em princípio comercial por uma questão de coerência; assim são objectivamente
comerciais os actos constitutivos das sociedades comerciais previstos no Cód.
Sociedades Comerciais que substituem artigos do CCM.
2. Lei avulsa que se auto-qualifica como comercial: lei,do arendamento
urbano,lei do inquilinato e o codigo civil , possui um capítulo relativo apenas ao
arrendamento comercial e industrial, estabelecendo regras específicas, quanto à
cessação de exploração do estabelecimento e o trespasse comercial ou industrial. Este
capítulo visa essencialmente actividades e empresas e como tal deve ser considerado
como contendo actos objectivamente comerciais.
3. Leis analógicas à lei comercial; na maioria dos casos uma lei não se qualifica
como comercial, daí que seja necessário analisar se a matéria por ela regulada diz
respeito a situações análogas à àquela regulada pela lei comercial.
A este propósito cumpre analisar o artigo 230.º CCM, que apresenta uma lista, que
apesar de desactualizada, de actividades consideradas comerciais.