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Análise do poema de Mário de Sá-Carneiro “O Recreio”

Mário de Sá-Carneiro é um dos vultos da geração do Orfeu, um grande amigo de


Fernando Pessoa com quem manteve estritas relações no domínio da criação
poética e com o qual se identifica em determinados percursos poéticos. A
correspondência ente os dois escritores, vem confirmar quanto estimavam e quanto
reflectiam sobre a arte.
“O Recreio” descreve a boa recordação que o sujeito poeta guarda de um tempo
mítico, reflectido no poema através do menino que balouça dentro de si.
Todo o poema está repleto de antíteses entre as ideias: presente/futuro,
criança/adulto, sonho/realidade, ilusão/desilusão, vida/morte. Esta dualidade de
opostos incompatíveis está manifestada na ideia do balouço, isto porque o
movimento que ele cria, ao andar para a frente e para trás, relaciona-se através da
metáfora com a exposição que o sujeito poético concebe acerca do seu presente e a
incerteza do seu futuro. Está também evidente na própria alternância entre as
estrofes do poema, a transmissão da ideia de movimento.
No início da terceira estrofe, nomeadamente do seu primeiro verso «se a
corda se parte um dia» acontece a ruptura entre os conceitos acima
referidos. As primeiras duas estrofes retractam o passado contínuo onde o sujeito
gostaria de estar ou permanecer, pois o sujeito poético nem vive o presente, vive
distanciado de si e a única saída é o sonho, contudo esse tempo de sonho, de
ingenuidade de vida é inconstante e duvidoso é um «Balouço à beira de um
poço, / Bem difícil de montar». Após o primeiro verso da terceira estrofe
ocorre uma alteração no sentido do poema, é como se o balouço estivesse a recuar
depois de ter avançado. A própria pontuação evidencia essa ruptura, ao lermos o
último verso da segunda estrofe evidencia-se a profunda tristeza que o invade,
sente-se um contínuo como se aquele menino nunca fosse parar de brincar, no
entanto o verso seguinte encaminha-nos de volta à dura realidade.
A corda que prende o sujeito poético aos pólos positivos (infância, sonho, ilusão,
vida) está a romper «já vai estando esgarçada». Este verso estando
entre parênteses reverte a mensagem para o interior do sujeito poético, onde ele
reconhece a situação em que se encontra, porém este ostenta uma posição de
orgulho ou provavelmente apenas uma inadaptação quando afirma que não muda a
corda. Pode ser que a corda aqui signifique a ligação do sujeito poético à sua
infância, ao «era uma vez (...)», que é a fórmula usada nos contos
para não especificar um tempo, para não falar de um momento concreto . O sujeito
poético prefere continuar como está que adaptar-se a uma vida que não é a dele,
que não é verdadeira. Assim assegura que «mais vale morrer de bibe/ que
de casaca» e «balouçar-se enquanto vive» pois cessar o baloiço
é pior que morrer.
Há uma relação de conformidade entre a quarta e a última estrofe, pois são as
estrofes que decifram a atitude do sujeito poético, é sempre mais fácil a adaptação,
é mais simples sermos uniformes, é sempre mais cómodo não debater,
«mudar a corda era fácil...», mas essa possibilidade não ocorre na
cabeça do sujeito poético, «tal ideia nunca tive...». Todo o poema é
simbólico, contempla a vida como uma brincadeira, um jogo do faz-de-conta, um
jogo de criança, o jogo irónico da vida que não reconhemos quando somos
«meninos de bibe» e ao qual dificilmente nos ajustamos quando
estamos cientes de que ele existe.
É constante na poesia de Mário Sá-Carneiro a confissão de grandeza a que se sente
chamado, a megalomania que o não deixou viver nem adequar-se à realidade.

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