Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
1
Trabalho apresentado como atividade final da disciplina Fundamentos Socioeconômicos e políticos da
educação, ministrada pela Profª Drª Alda Maria Duarte Araújo Castro Semestre 2018.1.
2
Mestrando em Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte
Apontamentos sobre os processos de reestruturação do capital e seus reflexos as
políticas públicas dos Estados capitalistas contemporâneos.
Ao tratarmos de Estado e políticas públicas e das relações que este tem com a
sociedade que o corresponde, nos aparece como tarefa primeira - dadas nossas convicções de
epistemologia marxiana e marxista - a análise dos processos de reestruturação do capital, da
divisão internacional do trabalho e suas consequentes influências nas tomadas de decisão dos
Estados capitalistas contemporâneos.
Nos convém recordar que a crise de 1929 levou milhares de bancos e indústrias à
falência num contexto em que postulava-se, segundo os preceitos liberais, que o Estado não
deveria interferir na economia. Em contrassenso de suas próprias teorias, em 1933, foi
colocado em prática o New Deal, pelo então presidente norte-americano Franklin Roosevelt,
num plano de obras públicas, com o objetivo de acabar com o desemprego, inaugurando o
que conhecemos por Welfare State. Já a partir da Segunda Guerra Mundial foi intensificada a
interação entre indivíduos, empresas e outras organizações nacionais e internacionais.3 Sendo
justificativa de mais um reexame quanto o papel dos Estados neste novo cenário do mundo da
globalização, da necessidade de competir na economia internacional e na internacionalização
de muitos assuntos, além do surgimento de novas demandas da sociedade moderna, como
novas tecnologias, grupos de pressão sobre os governos e exigência de maior transparência
nos assuntos governamentais (CASTELLS, 1999; JAMESON, 2001; CARNOY, 2002).
Contudo, a segunda metade do século XX foi permeada pelos conflitos da Guerra Fria
e pela crise no mercado financeiro. Este cenário de crise nas economias dos países centrais do
capitalismo - Estados Unidos e Reino Unido - foi então justificado pela acumulação intensiva
e por uma regulação monopolista dos Estados. Diante de problemas como inflação e
instabilidade econômica, o presidente norte-americano Ronald Reagan e a Primeira Ministra
Britânica Margareth Thatcher, em contestação ao keynesianismo, retomaram os ideais liberais
clássicos, embora com diferentes perspectivas, agora subsidiados pela teoria de Hayek,
3
Nas décadas de 1950 e 1960 foram elaboradas sob novas técnicas de administração estatal. Os Estados
passaram a fomentar grandes sistemas de planejamentos governamentais. Surgiram comissões, ministérios,
corporações para elaborar planos de desenvolvimentos ambiciosos. Nos países latino americanos “houve grande
crescimento econômico orientado, financiado e realizado pelo Estado” (SARAVIA 2006 p. 25).
inaugurando, o neoliberalismo. de modo a beneficiar as classes superiores e não as classes
mais baixas (WALLERSTEIN, 2004, p.61)
4
Neste período, marcado por guerras e crises petrolíferas e financeiras, as empresas foram levadas a trabalharem
com cenários e estratégias ao invés de metas, e objetivos claros, delimitados e rígidos. Esta perspectiva
possibilitou o surgimento de uma nova concepção de administração baseada muito mais nas estratégias, que não
prescinde de planejamento, mais que permite maior liberdade de ação aos desafios que surgirem (SARAVIA,
2006).
5
Após a primeira guerra mundial ocorreu à consolidação do capitalismo financeiro. As empresas ganharam mais
poder e influência, enquanto o mercado internacional começou a expandir de forma acelerada, surgindo
empresas globais, concorrência internacional e um avanço na tecnologia. O capital financeiro é caracterizado
como um tipo de investimento entre os bancários e as indústrias. É como investir uma quantia em um ativo e
conseguir lucrar de forma produtiva. Assim, a predominância deste sistema está nas mãos daqueles que tomam
de conta do mecanismo monetário da sociedade (BRAVO, 1997).
abrange todos os territórios e não inclui todas as atividades das pessoas. Sua operação e
estrutura reais dizem respeito só a segmentos de estruturas econômicas, países e regiões,
conforme a posição que estes ocupam na divisão internacional do trabalho6.
6
Castells (1999) chama a atenção para o surgimento de um padrão de globalização seletiva no comércio
internacional, no mercado financeiro na economia informacional. Ele exemplifica que em 1988 os países da
OCDE e mais os tigres asiáticos detinham 72,8% das fábricas do mundo, e que em 1990 os países do G-7
representavam 90% fábricas de alta tecnologia, e detinham 80,4% do poder de computação global.
políticas entre a classe trabalhadora e mais pobres da sociedade e as classes burguesas,
empresariais e latifundiárias, como é o caso aqui no do Estado brasileiro.
Celina Souza (2006) sinaliza que somente entre 1980 e 1990 é que foram valorizadas
as investigações e os investimentos e m políticas públicas. Esta nova acepção das ações e
programas governamentais, começam a serem entendidas como um campo holístico e
transdisciplinar - por concentrar teorias e metodologias das ciências humanas, sociais,
econômicas e políticas - focadas nas reformas dos Estados capitalistas. A ordem neoliberal
colocou em xeque o “Estado de Bem-Estar Social”, impondo uma nova atitude da
administração pública dos países desenvolvidos e também pela restrição à intervenção do
Estado na economia e nas políticas sociais, em especial na América Latina (SOUZA, 2006).
Entretanto, em 1995, com a Reforma de Bresser Pereira7 o foco foi para a gestão de
resultados e não por processos. Ademais, as políticas públicas induzidas pelo capital
internacional pressupunham seu direcionamento a clientes em vez de nos cidadãos
(ABRUCIO, 2003). O Estado brasileiro, orientado principalmente pelo Banco Mundial,
trilhando o caminho da descentralização e responsabilização individual, com práticas de
flexibilização e desregulamentação da economia, bem como de privatização d as empresas e
serviços públicos, garantindo a primazia da gestão sobre o planejamento (CARDOSO JR,
2011 p. 26) .
7
Como fora chamada a Nova Administração Pública implementada no governo de Fernando Henrique Cardoso
(CARDOSO JR, 2011)
A sociedade informacional e o funcionalismo a tribuído a educação para o capital
Portanto, para o estudioso, a TCH está alinhada à ideologia das relações capitalistas de
produção e não oferece subsídios para uma reflexão que rompa com os supostos neoclássicos
sob os quais foi fundada, não resolvendo os problemas estruturais geradores das
desigualdades sociais. Para Mészáros (2008) “a tarefa histórica que temos de enfrentar é
incomensuravelmente maior que a negação do capitalismo” (p.61). Deste modo, ao almejar a
superação da desigualdade na sociedade capitalista torna-se crucial para o investigador crítico
a mudança da análise. Argumenta Frigotto (1999) que seria necessário a utilização de um
método que colocasse em questão as relações sociais de produção vigentes, discutindo a
questão da dominação.
Considerações
Assim, romper com o ciclo vicioso do capital só seria possível mediante a alteração
epistemológica do positivismo neoclássico para o materialismo dialético. Nesta dinâmica os
sujeitos - determinados historicamente mas agentes transformadores da realidade -
contribuem tanto para a manutenção da concepção de mundo dominante quanto para sua
transformação.
Consideramos, neste sentido, que este viés epistemológico modifica a análise e a ação
dos cientistas sociais na elaboração de teorias e políticas públicas por romperem com o
caráter circular das teorias que justificam a exploração capitalista..
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ENGELS, F.. A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado. 4ª Ed.: Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1978.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação como capital humano: uma teoria mantenedora do senso comum.
In: A produtividade da escola improdutiva. 4 ed., São Paulo: Cortez. 1999.
GAMBOA, Sílvio Sánchez. A globalização e os desafios da Educação no limiar do novo século. In:
SANFELICE, José Luis. Pós-modernidade, globalização e educação. (Org.). Globalização,
Pós-modernidade e Educação: história, filosofia e temas transversais. Campinas: Associados, 2001.
HARVEY, David. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Edições Loyola. 2008.
Capítulo 06 e 07.
JAMESON, Fredric. A cultura do dinheiro: ensaios sobre a globalização. Rio de Janeiro: Vozes,
2001. Tradução de Maria Elisa Cevasco, Marcos César de Paula Soares, (p.17-72).
MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006
PAULINO, Robério . O Estado como agente de opressão e civilização. In: PAULINO, Robério (Org.).
O estado como opressor e civilizador. Natal: EDUFRN, 2017. p.11-58
PARO, Vitor Henrique. Gestão Escolar, Democracia e Qualidade de Ensino. São Paulo: Ática, 2007.
POULANTZAS, Nicos. Poder político e classes sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1977
SARAVIA, Enrique; “Introdução à Teoria Política Pública” In: Enrique Saravia e Elisabete
Fernandes, orgs. Políticas Públicas, vol. I (Brasília: ENAP, 2006)
SAVIANI, Demerval.. Escola e democracia. 42a ed. Campinas: Autores Associados; 2012.
SOUZA, Celina. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias [online]. 2006, n.16,
pp.20-45. ISSN 1517-4522
SOUZA, Lincoln Moraes de. Estado, autonomia relativa e políticas públicas. In: PAULINO, Robério
(Org.). O estado como opressor e civilizador. Natal: EDUFRN, 2017. p. 165-209