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Aprovado em .....................................................
Banca Examinadora
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Dr. Edson Pereira Lopes
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O presente trabalho é dedicado a Deus pelo sustento incondicional da
minha vida, aos meus pais pelo amoroso incentivo, a minha esposa
pela fiel dedicação, ao meu filho pela resignificação da vida.
RESUMO NA LÍNGUA VERNÁCULA
Esta obra visa refletir a respeito da aplicabilidade dos princípios educacionais de Lev
Semyonovitch Vygotsky à teologia
Sua obra, “A Formação Social da Mente”, que tem como base a teoria interacionista do
desenvolvimento humano, será o foco deste trabalho.
Analiso os três pilares que sustentam o raciocínio de Vygotsky, quais sejam: As funções
psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral; O
funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o indivíduo e o mundo
exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico; e a relação ser humano / mundo é
uma relação mediada por sistemas simbólicos.
RESUMO NA LÍNGUA ESTRANGEIRA
This work aspire to think about to apply Vygotsky’s education theory to theology.
His book, “Mind in Society – The Development of Higher Psychological Processes”,
based on interacionist theory of the human development, will be the focus this work.
I analyze the three columns sustain Vygotsky’s thesis: The psychological functions
have a biological support, because they are result of brain employment; The psychological
functioning establish oneself in the socials interactions between persons and world, and the
socials interactions develop oneself in the historic process; The relation human/world are
mediate by means of symbolics systems.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 07
2.1 As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade
cerebral ....................................................................................................................... 16
2.3 A relação ser humano / mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos ..20
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 33
INTRODUÇÃO
Além disso, através de sua teoria poderemos analisar as formas de ensino encontradas
nas Sagradas Escrituras com uma nova visão, sob outro ponto de vista.
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Vygotsky publicou diversos livros e artigos. Ao se deparar com suas obras, um leitor
atento perceberá que ele estudou o desenvolvimento humano à luz do evolucionismo e do
pensamento de Marx e Engels. Sua obra de maior impacto foi “A Formação Social da
Mente”, na qual basearemos nossos estudos.
Vygotsky nasceu na cidade de Orsha, na Bielo-Rússia, em 17 de novembro de 1986.
Era membro de uma família judia, sendo o segundo de oito irmãos. Seu pai era chefe de
departamento de um banco e sua mãe era professora formada, mas não exercia a profissão.
Sua família tinha uma situação econômica confortável e podia oferecer educação de alta
qualidade aos filhos. Sua casa tinha atmosfera intelectualizada, onde pais e filhos tinham o
hábito de debater sistematicamente diversos assuntos. A biblioteca dos pais estava sempre à
disposição dos filhos e dos amigos. Criado nesse ambiente de grande estimulação intelectual,
desde cedo se interessou pelo estudo e reflexão sobre várias áreas de conhecimento.
Organizava grupos de estudo com os amigos, utilizava freqüentemente a biblioteca pública e
aprendeu diversos idiomas. Tinha áreas de interesse, como literatura, poesia e teatro. A maior
parte da educação formal foi realizada em casa, por meio de tutores particulares. Apenas aos
15 anos ingressou em um colégio privado. Graduou-se em Direito pela Universidade de
Moscou, em 1917. Ao mesmo tempo, freqüentou cursos de história e filosofia na
Universidade Popular de Shanyavskii, onde aprofundou também estudos em psicologia e
literatura. Anos mais tarde, em razão do seu interesse em trabalhar com problemas
neurológicos, como forma de compreender o funcionamento psicológico humano, estudou
também medicina. Do mesmo modo de sua formação acadêmica, sua atividade profissional
foi muito diversificada. Trabalhou em diferentes localidades na ex-União Soviética tendo
saído do país uma única vez, em 1925, para uma viagem de trabalho a outros países da
Europa. Foi professor pesquisador nas áreas de psicologia, pedagogia, filosofia, literatura,
deficiência física e mental, atuando em diversas instituições de ensino e pesquisa, ao mesmo
tempo em que lia, escrevia e dava conferências. Criou o laboratório de psicologia na escola de
formação de professores de Gomet, na Região da Bielo-Rússia.
Vygotsky foi casado com Roza Smenkhova e teve duas filhas. Desde 1920 conviveu
com a tuberculose, doença que o levaria à morte em 1934, com apenas 37 anos. Apesar de
uma vida tão curta, sua produção escrita foi muito vasta. Seu interesse diversificado e sua
formação interdisciplinar determinaram a natureza dessa produção: foram cerca de 200
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trabalhos científicos, cujos temas vão desde a neuropsicologia até a crítica literária, passando
por deficiência física e metodológicas relativas às ciências humanas. As idéias de Vygotsky
não se limitaram a uma produção individual. Ao contrário, multiplicaram-se e se
desenvolveram na obra de seus colaboradores, dos quais destacaram-se como principais
Alexander Romanovich Luria e Alexei Nikolaievich Leontinev. Após a morte prematura de
Vygotsky, seus seguidores procuraram estudar e valorizar as suas idéias e seus trabalhos,
ignorados inicialmente no Ocidente e com publicações suspensas na União Soviética de 1936
a 1956. Entretanto, nas duas últimas décadas foram resgatados e aprofundados, em um
reconhecimento evidente do enorme significado das contribuições teóricas da psicologia russa
para a compreensão do ser humano. Vygotsky ganhou destaque na psicologia americana a
partir da publicação, em 1962, da sua monografia Pensamento e Linguagem (Thought and
Language). No Brasil, a primeira publicação de seus trabalhos foi a coletânea “A Formação
Social da Mente”, ocorrida em 1984.
Vygotsky, Luria, e Leontinev buscavam uma “nova psicologia”, que consistisse numa
síntese entre duas fortes tendências presentes do início do século XX, cujas divergências
geravam uma “crise na psicologia”: a psicologia como ciência natural (experimental,
preocupando-se com a quantificação dos fenômenos observáveis) e a psicologia como ciência
mental (aproxima-se da filosofia e das ciências humanas).
A teoria do evolucionismo foi justamente a causadora de muitos estudiosos se
embrenharem no estudo do desenvolvimento humano, e Vygotsky está inserido nesse grupo.
Os evolucionistas de maior influencia sobre Vygotsky foram Vladimir Aleksandrovich Vagner
e a Charles Darwin.
Vygotsky entendia que a origem do homem se distinguia em dois períodos: a evolução
biológica de Darwin e a historia do homem sob o prisma de Marx e Engels. Essa aceitação
dos conceitos darwinianos como a “variação” e “seleção natural”, por exemplo, redundava na
admiração de outras implicações do conceito de Darwin como a base hereditária da anatomia
e fisiologia, a idéia de que temos coisas em comum com os animais, dentre outras. Apesar de
admirar o evolucionismo, ele resistia à idéia de Darwin de que as faculdades mentais do
homem e dos animais inferiores não diferissem em tipo, apesar de diferir em grau. Vygotsky
afirmava que o homem adquiria traços humanos por causa do domínio da cultura através da
interação social com os outros. Por causa disso, colocou parâmetros na evolução biológica e
na genética, limitando-as. Dessa forma, afirmava que havia diferenças fundamentais entre
animais e homens. Associada a esta afirmação nota-se a influência Wagner sobre sua teoria
quando demonstra sua crença na ocorrência da aprendizagem pela experiência que conduzia
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desenvolveu uma postura ereta. Liberando as mãos para manipulação de objetos e construção
de instrumentos como as armas primitivas de pedra e madeira, desenvolvendo assim ações
motoras mais complexas. (ENGELS, 2000, p. 215) Os homens começaram a trabalhar em
cooperação e houve a necessidade de aprimorar a comunicação. Portanto, o trabalho
antecedeu a fala e a sua origem se deu com a fabricação de instrumentos. Dessa forma, o
homem transformava o ambiente e não agia simplesmente passivo. Acertadamente comentam
René Van Der Veer e Jaan Valsiner:
O próprio Darwin havia dito que, não raras vezes, muitos animais faziam uso de
instrumentos. Portanto, qual era a diferença essencial entre homens e animais? Uma visão
clássica era a de que os animais não passavam de maquinas vivas, mas isso incomodava
Vygotsky. Também incomodava a idéia de que os animais não são basicamente diferentes dos
seres humanos. Para Vygotsky, a história dos seres humanos estava intimamente ligada aos
instrumentos. Esses instrumentos permitiram que os seres humanos dominassem a natureza,
assim como o instrumento técnico da fala permitiu-lhes dominar seus próprios processos
mentais. Os animais demonstram que usam instrumentos e não trabalho. Os animais fabricam
e usam instrumentos, mas isso não redunda em trabalho. Como os animais não desenvolvem
trabalho, eles não podem desenvolver a fala. Portanto, Vygotsky optou pela solução dialética
de que a diferença entre animais e seres humanos é tanto uma questão de grau como de
espécie.
1.2.1 Inatista
1.2.2 Ambientalista
1.2.3 Interacionista
Ao contrário do que comumente se pensa esta concepção não é a integração das duas
concepções anteriores. Mas por si só forma outra vertente de pensamento sobre o
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“Essa nova abordagem para a psicologia fica explícita em três idéias centrais que
podemos considerar como sendo os “pilares” básicos do pensamento de Vygotsky:
as funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade
cerebral; o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre o
indivíduo e o mundo exterior, as quais desenvolvem-se num processo histórico; e a
relação homem/mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos”.
(OLIVEIRA, 2005, p.23)
2.1 As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade
cerebral.
O ser humano cria e transforma seus modos de ação na sua relação com o meio.
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“É justamente essa visão sobre o funcionamento psicológico que está na base das
concepções de Vygotsky a respeito do funcionamento do cérebro: se a história social
objetiva tem um papel crucial no desenvolvimento psicológico, este não pode ser
buscado em propriedades naturais do sistema nervoso. Isto é, o cérebro é um sistema
aberto, que está em constante interação com o meio e que transforma suas estruturas
e mecanismos de funcionamento ao longo desse processo de interação. Não
podemos, portanto, pensar o cérebro como um sistema fechado, com funções pré-
definidas, que não se altera no processo de relação do homem com o mundo”.
(OLIVEIRA, 2005, P. 83)
O ser humano possui uma existência material que o limita, restringe o campo do
desenvolvimento. O cérebro, no entanto, não é um sistema de funções fixas e imutáveis, mas
um sistema aberto de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são
moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual. Essa plasticidade
é muito importante, pois o homem possui imensas possibilidades de realização. Ou seja, o
cérebro pode servir para novas funções, criadas na história do ser humano, sem que sejam
necessárias transformações no órgão físico. Apesar de parecer “o caos”, essa flexibilidade
cerebral supõe uma estrutura básica estabelecida ao longo da evolução da espécie, que cada
um de seus membros traz consigo ao nascer.
Algumas descobertas, cientificamente comprovadas, podem corroborar essa
afirmação:
externo através dos órgãos dos sentidos. Trabalha com informações específicas,
como por exemplo, na percepção visual, com pontos luminosos, linhas, manchas. A
seguir essas informações são analisadas e integradas em sensações mais complexas,
constituindo objetos completos[...]. Depois são sintetizadas em percepções ainda
mais complexas que envolvem, simultaneamente, informações de várias
modalidades sensoriais[...]. Assim se dá a percepção de cenas, eventos, situações
que se desenvolvem no tempo e no espaço. Todas essas informações, das mais
simples às mais complexas, são armazenadas na memória e podem ser utilizadas em
situações posteriores enfrentadas pelo indivíduo. A terceira unidade postulada por
Luria é a unidade para programação, regulação e controle da atividade. ‘A atividade
consciente do homem apenas começa com a obtenção da informação e sua
elaboração, terminando com a formação das intenções, do respectivo programa de
ação e com a realização desse programa em atos exteriores (motores) ou interiores
(mentais)’. [...] Enquanto a segunda unidade trabalha com a recepção da informação
vinda do ambiente, essa terceira unidade regula a ação, física e mental, do indivíduo
sobre o ambiente. Luria enfatiza em seu trabalho que qualquer forma de atividade
psicológica é um sistema complexo que envolve a operação simultânea das três
unidades funcionais. [...] Essas três grandes unidades de funcionamento cerebral
estão presentes em todos os indivíduos da espécie humana e são as bases sobre a
qual se construirão mecanismos específicos, carregados de conteúdo cultural. Outro
aspecto importante resultante das concepções de Luria, sobre a organização cerebral,
é a idéia de que a estrutura dos processos mentais e as relações entre os vários
sistemas funcionais transformam-se ao longo do desenvolvimento individual. [...] Os
processos de mediação simbólica e o pensamento abstrato e generalizante, tornado
possível pela linguagem passam a ser mais centrais nos processos psicológicos do
adulto. [...] Lesões em determinadas áreas do cérebro podem causar problemas
completamente diferentes, dependendo do estágio do desenvolvimento psicológico
do indivíduo. Foi propondo uma linha de investigação que buscasse descrever a
estruturação das funções mentais em condições normais de desenvolvimento, sua
perda ou desorganização em caso de lesão cerebral e suas possibilidades de
recuperação que Vygotsky lançou os fundamentos do que viria a ser a
neuropsicologia de Luria e as bases de uma compreensão da psicologia humana, que
contempla o substrato biológico do funcionamento psicológico dessa espécie, cujo
desenvolvimento é essencialmente sócio-histórico”. (OLIVEIRA, 2005, pp. 86-89)
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Para facilitar a leitura e a sua compreensão adiantamos a definição de instrumentos e signos que serão
abordados no capítulo seguinte: Os signos e os instrumentos constituem os sistemas simbólicos, que são os
elementos intermediários entre o sujeito e o mundo. Os instrumentos são objetos sociais e mediadores da relação
entre o indivíduo e o mundo. E os signos, por sua vez, são meios auxiliares para solucionar questões psicológicas
como, por exemplo, lembrar, comparar coisas, relatar, escolher. Este é utilizado internamente, aquele
externamente.
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significado, ela volta a agir no mundo de forma diferente, porque o sentido que ela construiu,
que passa a ser compartilhado com as outras pessoas, a faz compreender o mundo de forma
diferente. Assim, acontece um movimento de vai e vem: a construção de conhecimentos de si
e do mundo.
Para Vygotsky, essa transação do homem, ou transformação de um ser biológico para
um sócio-histórico, ocorre porque a cultura é parte essencial da constituição da natureza
humana. Não se pode pensar no desenvolvimento como um processo abstrato,
descontextualizado, universal. Os aspectos histórico, social e cultural da espécie humana, e
sua interação com as condições de vida social, são as origens da vida consciente e do
pensamento abstrato. Entendamos esses aspectos: é histórico porque o nosso desenvolvimento
é influenciado pelas experiências e conquistas de muitos outros indivíduos ao longo do tempo.
É social porque o conhecimento é organizado e estruturado pelos grupos sociais como, por
exemplo, a família, a escola, a igreja, as empresas. É por meio desses grupos que vivenciamos
as nossas experiências no mundo e, portanto, aprendemos e nos desenvolvemos. É cultural
porque o desenvolvimento sofre influência do contexto cultural em que vivemos como a
linguagem, os valores, os hábitos, as crenças. O ser humano faz cultura por meio da sua
atuação na natureza, transformando-a, para que ela sirva aos seus propósitos, criando
instrumentos.
O ser humano é interativo, ou seja, compreende o mundo, transforma-o e transforma a
si mesmo por meio das relações sociais estabelecidas com outras pessoas. Nesse sentido, a
relação social tem um papel muito importante na origem do desenvolvimento, pois é nos
grupos sociais que o indivíduo organiza o seu conhecimento e as suas funções psicológicas.
Desse modo, deve-se procurar analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior dos
indivíduos, a partir da interação do sujeito com a realidade.
2.3 A relação ser humano / mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.
O ser humano não se relaciona com o mundo diretamente, sua relação é mediada. Os
signos e os instrumentos constituem os sistemas simbólicos, que são os elementos
intermediários entre o sujeito e o mundo. Esse conceito de mediação é central para a
compreensão vygotskyana sobre o funcionamento psicológico. Pensando genericamente,
mediação é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação
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deixa, portanto, de ser direta e passa ser mediada por esse elemento. A presença de elementos
mediadores introduz um elo a mais nas relações organismo/meio, tornando-as mais
complexas. Ao longo do desenvolvimento do indivíduo as relações mediadas passam a
predominar sobre as relações diretas. Vygotsky comenta:
Dessa formulação é que surge a sua conhecida figura do triângulo, onde “S” é
estímulo, “R” é resposta, e “X”, o elemento mediador.
S ______________ R
Esses sistemas simbólicos constituído pelos signos e instrumentos são criados pela
sociedade ao longo da história humana, mudando a forma social e o nível de seu
desenvolvimento cultural. Exemplificando a mediação, OLIVEIRA (2003, 27) diz que quando
um indivíduo aproxima sua mão da chama de uma vela e a retira rapidamente ao sentir dor,
está estabelecida uma relação direta entre o calor da chama e a retirada da mão. Se, no
entanto, o indivíduo retirar a mão quando apenas sentir o calor e lembrar-se da dor sentida em
outra ocasião, a relação entre a chama da vela e a retirada da mão estará mediada pela
lembrança da experiência anterior. Se, em outro caso, o indivíduo retirar a mão quando
alguém lhe disse que pode se queimar, a relação estará mediada pela intervenção dessa outra
pessoa.
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Dessa forma, os signos são meios auxiliares para solucionar questões psicológicas
como, por exemplo, lembrar, comparar coisas, relatar, escolher. São inúmeras as formas de
utilizar signos como instrumentos que auxiliam no desempenho de atividades psicológicas.
Fazer uma lista de compras por escrito, utilizar um mapa para encontrar um determinado
local, fazer um diagrama para a construção de um objeto, amarrar uma fita no dedo para não
esquecer um compromisso são alguns exemplos de como estamos constantemente recorrendo
à mediação simbólica para melhorar as nossas possibilidades de armazenamento de
informações e de controle da ação psicológica.
Os instrumentos, por sua vez, são objetos sociais e mediadores da relação entre o
indivíduo e o mundo. Para Vygotsky, “o signo age como um instrumento da atividade
psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho”. (VYGOTSKY,
2003, p. 70) Contudo, ele ressalta que há um aspecto que deve ser notado com relação a essa
analogia. Ela converge na questão, já comentada, que “a analogia básica entre signo e
instrumento repousa na função mediadora que os caracteriza”. (VYGOTSKY, 2003, p.71)
Contudo,
Vygotsky trabalha, portanto, com a noção de que a relação do ser humano com o
mundo é fundamentalmente uma relação mediada pelos sistemas simbólicos, por meio das
interações sociais.
Lembremos do que está relatado no livro de Saussure: “O signo lingüístico une não
uma coisa e uma palavra, mas um conceito a uma imagem acústica”. (Saussure, 2000, p. 80)
Como esses conceitos
“são construídos ao longo da história dos grupos humanos, com base nas relações
dos homens com o mundo físico e social em que vivem, eles estão em constante
transformação [...] As transformações de significado ocorrem não mais apenas a
partir da experiência vivida, mas, principalmente, a partir de definições, referências
e ordenações de diferentes sistemas conceituais, mediadas pelo conhecimento já
consolidado na cultura”. (OLIVEIRA, 2005, pp.48, 50)
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pela pessoa. Por isso, percebemos que há relações diretas, não mediadas, apesar de ser
minoria.
Dessa forma, podemos notar a influência e importância do signo no desenvolvimento
do ser humano. No próximo capítulo, relacionaremos estes conceitos, dos aos signos e a da
mediação, com os símbolos mais comuns da igreja.
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3 VYGOTSKY E A TEOLOGIA.
“Um dogma pode ser definido como uma doutrina, derivada da Bíblia, oficialmente
definida pela Igreja e declarada firmada sobre a autoridade divina. Essa definição
em parte dá nome, em parte sugere suas características. Seu assunto se deriva da
Palavra de Deus, pelo que é autoritário. Não é mera repetição do que se encontra nas
Escrituras, mas é fruto da reflexão dogmática. E é oficialmente definido por um
corpo eclesiástico competente, sendo declarado ter base na autoridade divina. Tem
significado social por ser a expressão de uma comunidade, e não de um só
indivíduo. E reveste-se de valor tradicional, pois transmite as preciosas possessões
da Igreja para gerações futuras. Na história do dogma, vemos a Igreja tornando-se
mais e mais cônscia das riquezas da verdade divina, sob a orientação do Espírito
Santo, atenta às suas elevadas prerrogativas como coluna e fundamento da verdade,
atarefada na defesa da fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos”.
(BERKHOF, 1992, P. 20)
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A igreja reformada admite a situação de pecado do homem e reconhece que somos passivos de erros. Por esse
motivo, crê que seus dogmas podem ser sempre revistos. Daí surge a conhecida frase: igreja reformada sempre
se reformando.
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Notemos que a experiência de cada indivíduo terá grande influência sobre sua ação ou
reação. No exemplo citado, o taxista terá mais afeição pelo automóvel, em contraste com o
pedestre atropelado que o temerá. Isso será percebido por nós através de coisas simples do
dia-a-dia, através da ação ou reação de cada um deles. Um lhe dará valor, lavando-o com
freqüência ao mecânico, ao lava - rápido. O outro, desejará nem ao menos dirigi-lo. Mas fica
uma pergunta, qual é a relação com a teologia?
Aqui notamos aquilo que muitos estudiosos cristãos têm dito através dos tempos, a
educação é muito importante para sociedade; é inclusive chamada de remédio para os males
sociais. Isso não é recente, notamos que mesmo no século XVI já afirmavam tal proposição.
reconduzir os homens à paz política e social, visto que somente por meio da fé na
educação é que o homem poderia sair das trevas para a razão e compreensão do seu
semelhante. A educação é, para retomar o título de uma obra posterior de Comenius,
a Via Lucis [Caminho da luz] que conduz à verdadeira regeneração do homem e do
mundo (CAULY, 1995, p. 126). Diante disso, constata-se que o interesse pedagógico
não pode ser dissociado do interesse teológico, visto que a educação constitui a via
da renovação [...].” (Lopes, 2006, pp. 134-135)
Quando houver essa ressignificação, os sinos e as torres serão associadas também às igrejas
evangélicas. A igreja evangélica tem a tarefa de intervir na cultura brasileira, afetando a
internalização de novos sentidos no nível social, que será partilhado por toda a sociedade. E
conseqüentemente o indivíduo reorganizará, resingificará e transformará esses novos sentidos.
Devolvendo à sociedade essa nova projeção, influenciando-a. Cremos que os seres humanos,
feitos a imagem e semelhança de Deus, têm impregnado no seu ser alguns atributos do
próprio Deus. Isso significa que os valores morais são reconhecidos pelo homem em
decorrência de sua imagem e semelhança. Contudo, manchado pelo pecado, o homem
desvirtua, ou abandona tais valores morais. Nesse sentido, a função educadora da igreja é
reorganizar e ou relembrar os verdadeiros princípios; dando novos e saudáveis modos de vida.
Se a princípio falamos da atuação educadora da igreja externamente, agora nos
voltamos a sua educação interna. Muito pode ser explorado de Vygotsky, com relação à
educação em nossas igrejas. Tratemos primeiramente do interacionismo.
As escrituras dão muita ênfase na soberania de Deus. Em seus estudos a igreja
reformada reconhece que:
“O fato do homem ser uma criatura o torna absolutamente dependente. [...] Mas
como uma pessoa que é, o homem tem um certo grau de independência, ‘não uma
dependência absoluta, mas relativa. Ser uma pessoa significa ser capaz de fazer
decisões, de estabelecer metas e de mover-se em direção às metas estabelecidas. Isto
significa possuir liberdade – ao menos no sentido de ser capaz de fazer suas próprias
escolhas. O ser humano não é um robot cujo curso é totalmente determinado por
forças externas. Ele tem o poder de auto-determinar-se e de auto-dirigir-se’”.
(CAMPOS, 2006, p.13, apud HOEKEMA, 1986, 5)
Dessa forma, entendemos que Deus, na sua soberania, deu ao homem a capacidade de
interagir com o meio, de tomar decisões. A Sagrada Escritura, por exemplo, é fruto de uma
história, ou várias histórias ocorridas no tempo e no espaço. Homens escreveram, através de
suas próprias experiências, e com suas próprias características, os ensinamentos divinos que
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atravessam os séculos. A igreja reformada crê que estes homens foram inspirados pelo próprio
Deus, através do seu Santo Espírito, tornando as Escrituras inerrantes e infalíveis. Isso não
invalida a liberdade humana, ou os argumentos aqui apresentados, pois a orientação do
Espírito de Deus guiava os escritores sem tolher suas características e experiências.
Dando continuidade a essa interação, aprouve Deus ainda, incumbir ao homem de
interpretá-la, e comentá-la. Deus poderia simplesmente fazer cair do céu todas as suas
ordenanças e ainda trazê-las de forma tão clara que não haveria a menor sombra de dúvida
sobre cada ponto ou vírgula. Como conseqüência dessa interação, o homem, através dos
tempos, vem se aperfeiçoando na interpretação das Escrituras. Essa união de pensamentos,
congruentes e divergentes, que ocorreram e continuam ocorrendo através dos séculos, tem
feito bem ao homem. Pois hoje temos muito mais subsídios para nos aproximar o máximo
possível da vontade de Deus. E isso graças a interação de homem com o homem. O próprio
Deus interage com as suas criaturas. O seu Espírito Santo relaciona-se com o homem tanto
inspirando o escritor, quanto iluminando o leitor.
Os efeitos educacionais do interacionismo e da utilização dos sistemas simbólicos é
incalculável. Esta perspectiva pode trazer os efeitos prazerosos da aprendizagem que muitos
pedagogos almejam. Contudo, antes de prosseguirmos é assaz oportuno relatarmos o
comentário de Portela Neto:
sobre pensamentos e linguagem. Por ser ao mesmo tempo pensador e cientista experimental, a
Piaget interessava uma visão transformadora da epistemologia.
Apesar de a teoria de Vygotsky também apresentar um aspecto construtivista , seria na
medida em que busca explicar o aparecimento de inovações e mudanças no desenvolvimento
a partir do mecanismo de internalização. Por outro lado, Vygotsky enfatiza o aspecto
interacionista, pois considera que é no plano intersubjetivo, isto é, na mediação entre as
pessoas, que se originam as funções mentais superiores. Considerando-os mecanismos
psicológicos complexos, que envolvem controle consciente de comportamento, ação
intencional e liberdade do individuo em relação às características do presente momento.
A teoria de Piaget também apresenta a dimensão interacionista, mas sua ênfase é
colocada na interação do sujeito com o objeto físico. Por exemplo, na observação de um
objeto a criança vai aprender a afirmar unicamente o que ela percebe, a distinguir o que é real
do que é produto da imaginação e conseqüência da afetividade, que influencia seu juízo; e,
além disso, não está clara em sua teoria a função da interação social no processo de
conhecimento.
Para Piaget, a criança se apodera de um conhecimento se "agir" sobre ele, pois
aprender é modificar, descobrir, inventar. Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui
relações entre as pessoas. A relação do individuo com o mundo está sempre mediado pelo
outro. Este processo de mediação ou, melhor dizendo, os mediadores, sempre vão estar entre
o homem e o mundo real, estes mediadores são : Instrumentos e Signos.
Os estudos de Vygotsky sobre a aquisição de linguagem como fator histórico e social
enfatizam a importância da interação e da informação lingüística para a construção do
conhecimento. O centro do trabalho passa a ser, então, o uso e a funcionalidade da linguagem,
o discurso e as condições de produção. Já para Piaget o desenvolvimento cognitivo se dá pela
assimilação do objeto de conhecimento a estruturas anteriores presentes no sujeito e pela
acomodação dessas estruturas em função do que vai ser assimilado. A adaptação – que
envolve a assimilação e a acomodação numa relação indissociável – é o mecanismo que
permite ao homem não só transformar os elementos assimilados, tornando-os parte da
estrutura do organismo, como possibilitar o ajuste e a acomodação deste organismo aos
elementos incorporados. Quando o campo afetivo está afetado a adaptação não acontece, à
criança assimila, pode até acomodar, mas a adaptação estará cortada.
Outro fator desenvolvido na teoria de Piaget é a maturação, onde acreditava-se que o
desenvolvimento estivesse predeterminado e, o seu afloramento, vinculado apenas a uma
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questão de tempo. Por sua vez Vygotsky criticou severamente este fator, pois acreditava que o
desenvolvimento tinha sua origem nas capacidades humanas.
Outra divergência que notamos claramente é a respeito da fala egocêntrica. Enquanto
que para Piaget é uma transição entre estados mentais individuais não verbais, de um lado, e o
discurso socializado e o pensamento lógico de outro. Para Vygotsky está claramente associada
ao pensamento e indica que a trajetória da criança vai dos processos socializados para os
processos internos. Desta forma, podemos dizer que para Vygotsky, o desenvolvimento é um
processo que se da de fora para dentro, já para Piaget, o desenvolvimento se da de dentro para
fora.
Uma conseqüência natural dessa abordagem sócio-histórica é o aprimoramento das
técnicas de ensino. Quanto mais o aluno interagir, maior será a eficácia do ensino. Quanto
mais utilizamos de signos que alcançam o íntimo do indivíduo maior será a probabilidade dele
internalizar a matéria. O próprio Senhor utiliza de recursos que vão além da audição. A Ceia
do Senhor marca bem essa característica. Para que lembrássemos do sacrifício de Cristo,
bastaria que alguém falasse sobre o assunto, ou contasse e recontasse sua história
periodicamente. Mas Deus na sua infinita sabedoria, lança mão de outros recursos. É sabido
por todos que enquanto lembramos da sua morte vicária, comemos o pão e bebemos o vinho.
O significado desses elementos penetram no homem muito além dos seus ouvidos. O paladar
é requerido para tornar mais vívida, mais próxima, aquela fatídica, e abençoadora ação. O
ouvinte literalmente come o material didático. Calvino comenta:
“[...] o sacramento não faz que Cristo primeiro comece a ser o pão da vida; pelo
contrário, enquanto revoca à memória ter-se {ele} feito pão da vida, de que nos
alimentemos continuamente, e desse pão nos oferece o gosto e o sabor (grifos
meus), faz que sintamos o poder daquele pão. Pois, assegura-nos que tudo quanto
Cristo fez e sofreu, isso se fez para vivificar-nos; então, que esta vivificação é
eterna, [vivificação] pela qual, sem fim, sejamos alimentados, sejamos sustentados e
sejamos conservados na vida”. (CALVINO, 1989, p. 342, Vol. IV)
CONCLUSÃO
Esse conhecimento não precisa vir necessariamente do povo cristão. Se bem que, na
maioria das vezes, é de lá que temos novas fontes de informação. Mas ela também pode vir de
contextos não-cristãos. Torna-se propício reafirmamos as seguintes palavras:
Associado à está informação, o relato da vida dos puritanos na Inglaterra, elucida quão
importante é a adoção de princípios norteadores:
“‘É Correto que dediquemos nossa vida à sua glória’ É assim que começa o
Catecismo de Genebra, escrito por Calvino em 1541. Com essa compreensão, os
puritanos – dentro da tradição reformada – lutaram para glorificar a Deus no
trabalho, sexo e casamento, no tratamento com o dinheiro, na família, na pregação,
na vida da igreja, no culto, na educação, na ação social e no estudo das Escrituras.
Em tudo isso eles viam a Deus na esfera comum...”. (FERREIRA, 1999, p. 36)
Que Deus nos ilumine para discernir os métodos, criar novas estratégias de ensino,
para resignificar a sociedade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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