Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
vistas até agora foi possível, dentro de certos limites, abstrair da forma curva da Terra2, nas
operações de nivelamento tal só é possível desde que se verifiquem certos requisitos que
serão apresentados ao longo deste capítulo.
Consideremos a Figura 5.1, que nos ajudará a compreender melhor as diferentes
quantidades a definir, tendo por base um perfil (corte) da superfície terrestre:
v
Superfície Física v
A
Figura
5.1 A superfície física e o geoide.
Vertical do lugar (v) – linha de força do campo gravítico num ponto; esta direção é
materializada por um fio de prumo;
Superfície de nível – (também designada por superfície equipotencial) superfície
perpendicular, em todos os seus pontos, à direção da vertical do lugar (v); por cada
ponto passa uma e uma só superfície de nível. É, por isso, uma superfície curva. No
âmbito da Topografia estas superfícies consideram-se esféricas e concêntricas3;
Nível médio do mar em equilíbrio (Geoide) – altura média da superfície do mar
obtida pelas leituras do nível das águas num marégrafo; a superfície de um líquido em
repouso coincide com uma superfície de nível;
Datum vertical – superfície de nível arbitrada para origem das altitudes. Em Portugal,
essa superfície é o nível médio da água do mar que resultou das medições do marégrafo
de Cascais por um período de 19 anos;
Cota de um ponto – distância medida ao longo da vertical do lugar entre esse ponto e
uma superfície de nível arbitrária (não necessariamente o datum vertical);
Altitude de um ponto (HA) – distância medida ao longo da vertical do lugar entre esse
ponto, ou a superfície de nível que o contém, e o datum vertical;
2 Continua a ser verdade para distâncias do domínio da topografia, ou seja, algumas (poucas) centenas de
metros. Sempre que estes limites são ultrapassados a “planificação” da forma da Terra acarreta erros
consideráveis.
3 Veremos que, no caso de se considerarem distâncias curtas (algumas centenas de metros), estas superfícies
podem ser substituídas por planos de nível.
98 Topografia – Conceitos e Aplicações
Q
T
HPQ
HQ
HP
H=0
Datum vertical
Figura
5.3 O desnível entre os pontos P e Q.
Os antigos usavam algo que pudesse materializar uma horizontal a partir de Q, uma tábua
associada a um recipiente com água que servisse de nível, por exemplo, medindo depois
com fita métrica, na vertical, a distância que vai desde a tábua até ao ponto P (Figura 5.3).
Esta medida seria considerada o desnível pretendido (HQP). Este foi o método utilizado
pelos nossos antepassados com os meios de que dispunham.
Observa-se na Figura 5.3 que P está numa posição inferior a Q, logo: H P H Q PT .
A diferença de nível entre dois pontos é um valor algébrico ( ou ). No caso presente, a
diferença de nível é negativa. No entanto, isso também depende do sentido em que se
100 Topografia – Conceitos e Aplicações
5.1.1.1 O Nível
O nível é um aparelho topográfico munido de uma luneta astronómica, nivelas esféricas
e/ou tóricas e ainda parafusos nivelantes da base. Este tipo de elementos é também comum
aos taqueómetros e estações totais, estando já abordados no capítulo sobre medição de
ângulos. No entanto, o nível tem uma particularidade que o torna especialmente apto à
medição de desníveis. Com ele é fácil materializar com rigor uma visada horizontal.
Atualmente, os níveis poderão ser óticos ou digitais. Existem dois tipos de níveis óticos:
níveis bloco e níveis de horizontalização automática. No caso do nível bloco, a
horizontalização da luneta é efetuada com auxílio de uma nivela tórica colocada no
montante da luneta. Mostra-se na Figura 5.5 um nível bloco juntamente com o seu
esquema teórico.
Eixo de rotação
Parafusos nivelantes
Figura
5.5 O nível bloco: representação esquemática e fotografia.
O nível bloco tem como condição de construção o paralelismo entre o eixo ótico e a
diretriz da nivela tórica. A cada visada é necessário calar a nivela tórica, atuando num
parafuso de inclinação, garantindo-se assim a horizontalidade da visada. Aliás, colocar um
nível em estação não é mais do que garantir a perfeita horizontalidade da sua visada.
O nível de horizontalização automática é, atualmente, o tipo de nível mais utilizado,
possuindo um mecanismo interno que, atuando por gravidade, permite colocar a linha de
visada perfeitamente horizontal desde que haja uma aproximação, prévia, à horizontal, o
que se consegue com a nivela esférica. Pode observar-se um destes níveis na Figura 5.8.
Este nível é mais cómodo por não ser necessário calar nenhuma nivela durante as visadas.
Apenas quando se coloca o nível no tripé se cala a nivela esférica.
Atualmente, surgiram os níveis digitais, aparelhos de grande simplicidade de utilização.
Recorrem a dispositivos de compensação semelhantes aos dos níveis automáticos. A principal
inovação consiste na utilização de uma câmara fotográfica digital e uma mira tipo códigos de
barra (Figura 5.6). A grande vantagem deste tipo de nível reside no facto de as leituras serem
102 Topografia – Conceitos e Aplicações
7 A localização destes parafusos pode ser diferente dependendo do modelo e/ou marca do nível.
104 Topografia – Conceitos e Aplicações
dizer que, no caso do nivelamento geométrico, a distância entre a estação e o ponto visado
é dada pela Equação (5.2).
dh K L3 L1 (5.2)
LB
LA
HAB
B
A estação
Figura
5.10 Nivelamento geométrico simples (perfil).
Mira
Mira Nível
Figura
5.11 Nivelamento geométrico simples (perspetiva).
6 Apoio Topográfico
Capítulo
superfície plana. No nosso país é utilizada a projeção de Mercator transversa, que devido à
dimensão reduzida do nosso território dá origem a distorções pequenas (ver Capítulo 2).
Apoio Topográfico 139
O ângulo horizontal formado por uma direção e a direção do Norte cartográfico designa-se por
rumo cartográfico. O rumo cartográfico de uma direção AB será representado como RAB.
Nas secções seguintes referir-nos-emos ao rumo cartográfico, por vezes, simplesmente
como rumo.
6.1.2 Cálculo de rumo cartográfico e da distância entre dois pontos de coordenadas conhecidas
O problema pode ser apresentado da seguinte forma: dadas as coordenadas de dois pontos A e
B, pretende-se determinar a distância entre os pontos, assim como o rumo da direção AB.
Na Figura 6.2 ilustra-se uma possível representação esquemática em função das
coordenadas dos pontos. São ainda representadas, nesta figura, as várias quantidades,
conhecidas e a determinar.
NC
A( M A ; PA )
Dados:
B ( M B ; PB )
NC
B AB
PB
RAB A determinar:
R AB
AB
PA
A
MA MB
Figura
6.2 Representação esquemática do problema.
Para facilitar a compreensão da dedução do rumo de uma direção, atentemos na Figura 6.3,
que representa a mesma situação da Figura 6.2, mas, agora, com a inclusão de quantidades
auxiliares.
NC M=MB-MA
P=PB-PA
RAB
LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS
AB
Figura
6.3 Determinação do rumo.
Apoio Topográfico 141
Resolução
A figura seguinte representa, à escala 1:50.000, a posição dos marcos geodésicos referidos.
Pretende-se determinar a distância entre os marcos FS e o rumo RFS .
A
N Fragas da Ermida
Determinação da distância:
W E
M 20.215, 20 21.279, 22 1064,02 m
S P 171.308,08 174.192, 42 2884,34 m
Determinação do rumo:
Bastará aplicar a expressão deduzida anteriormente e somar 200g ao resultado:
1064,02
RFS arctg 222,499 g
2884,34
Podemos então dizer que para propagar um rumo bastará usar o rumo da direção anterior
(RAB), somar o ângulo formado pelas duas direções (α) e somar ou subtrair meia-volta
(200g).
MB MA
sin AB AB
PB PA (6.6)
cos AB
AB
NC
A( M A ; PA )
Dados:
NC R AB , AB
B A determinar: B ( M B ; PB )
PB
RAB
AB
PA
A
MA MB
LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS
Figura
6.6 Propagação de coordenadas.
Apoio Topográfico 145
Pode-se agora aplicar o transporte de coordenadas, ou seja, utilizar a expressão (1) para
determinar as coordenadas pretendidas:
M MA
RAB arctag B (6.8)
PB PA
b) Visar B e P e ler no limbo horizontal, LHB e LHP.
Posteriormente, podem ser adotados dois processos de cálculo distintos:
O primeiro processo consiste em obter o ângulo entre as direções AB e AP:
LH P LH B (6.9)
e daí obter-se a Relação (6.10).
RAP RAB (6.10)
LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS
O segundo processo, mais prático e por isso mais usado, consiste em calcular o rumo da
direção cuja leitura no limbo horizontal é zero ( R0 da estação), como apresentado na
Equação (6.11).
R0 R AB LH B (6.11)