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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE DIREITO

ALINE DA SILVA SANTOS

2015020380

REFLEXÕES SOBRE A MORTE

São Luís

2018
ALINE DA SILVA SANTOS

2015020380

REFLEXÕES SOBRE A MORTE

São Luís

2018
Esta obra se origina nas reflexões de um eu-lírico que, tal qual
Schopenhauer, enxergou na sociedade o berço da morte. As cartas que se seguem
foram enviadas a Bertram1, personagem-antítese desconhecido.

Bertram,

Faz dez dias que estou preso nestes sentimentos, demasiadamente inconstantes
para que sejam externados. São gotas que afogam mais do que oceanos por simplesmente
serem únicas demais para que sejam processadas. Não enxergam os oceanos nas gotas,
Bertram, e é este o triste fim deles! Sei que tu enxergas, mas não as compreende, o que
pouco altera o resultado. Tem qualquer efeito o dissabor do carrasco em praticar a
execução? Embora me faça sentir a injustiça, é errado que eu condene o carrasco tanto
quanto condeno minha sentença? Erro ao pintar em sua carapuça as leis que me afligem?

São gotas inconstantes, meu amigo. Ainda assim, prefiro elas à catatonia que
parece perseguir esses hereges.

Bertram, escute por momento uma anedota.

A fina manta cai sobre o rosto do homem. Não se sabe se sua translucidez é
involuntária ou se serve da ignorância do homem para mal lhe cobrir a visão. A manta
que cai sobre o rosto do homem é a mesma que derrubas. O homem já não enxerga, mas
lhe dói a alma, e o pano sobre os olhos é uma escusa para sua solidão. Muita há o que
veja, mas ver o exaure e a paisagem é de difícil entendimento. O pano que cai sobre os
olhos do homem é pouco confortável, mas sua permanência é todo o conforto de que o
homem precisa. A clarividência do mestre que lhe colora os olhos é transeunte, fina e
efêmera, mas sua existência basta para a confiança cega do homem que deixa cair sobre
seus olhos o pano. Logo lhe dão a espada e a balança, chamam-lhe Justiça e dizem que
cumpre um importante papel na sociedade dos homens vendados. Não lhe contam que a
espada será usada no corte de sua casa e a balança em seu Ver-o-Peso. Não lhe contam,
pois escolhe ser surdo para tudo que não diz respeito ao pano que lhe cobre os olhos.

1
Bertram é, na verdade, um dos convivas na narrativa de Álvares de Azevedo encontrada em “Noite na
Taverna e Macário”, no capítulo III do mesmo livro (AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna e Macário.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012).
Calmamente, rasteja e se consome, seu aspecto fino e vendado são agora sua consciência.
Calmamente, segue a fila rumo ao precipício.

Bertram,

Estou morrendo engasgado com a vida.

Bertram,

Canso-me de te explorar. Sabes que te procuro tão somente por tua mentalidade
excessivamente otimista, sabes que te uso. Tentei diversas vezes cortar este nosso laço,
mas a verdade é que me prendo a ti por seres o único ser de luz que me visita. Estou
cansado e a presença destes demônios agora me incomoda.

Soube que há um clarão constante na cidade. Diz-me: é o nascente ou o poente?


Não mais enxergo, e o que antes imaginei ser meu discernimento mostra agora sua face e
apresenta-se como a consciência que me persegue. Socorre-me, Bertram: é minha
consciência a voz da sociedade que me ronda? É ela meu algoz? Devo teme-la, ou isso
parte deste medo absurdo do meu reflexo?

Não mais posso respondê-lo. Sinto-me um foragido de mim mesmo. Saboto


minha própria felicidade. Não vos compreendo, pois vós sois tudo o que mais detesto e
tudo o que mais desejo. Minha alma canta e chora por vós, Bertram.

Por favor, perdoai-me.

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