Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Para todos esses autores, a escassez de braços nativos na escala exigida pela
produção é o que levaria à adoção da escravidão mercantil, ou seja, para todos
eles a demanda precede à oferta de braços. Exceto para Novais, que acreditava
que, ao passássemos ao tráfico de africanos, teríamos que a alta lucratividade
desta atividade é o que levaria à utilização dos africanos pelas empresas
escravistas coloniais.
Em meio a uma frágil divisão social do trabalho, implicava uma débil circulação
de numerário e bens, o que, por sua vez, redundava na rarefação dos
mecanismos de crédito. Estava dado o contexto inicial para a preeminência do
capital mercantil residente, que, ao deter a liquidez do sistema, controlava a
própria reprodução da economia. Assim podemos perceber que é possível que or
grandes comerciantes constituíssem a verdadeira elite colonial. Uma economia
marcada pelo controle interno dos fatores baratos de produção desfrutava de
uma relativa autonomia em face das flutuações do mercado internacional. A
empresa escravista não poderia estar completamente à mercê das flutuações do
mercado internacional; caso contrário, a cada fase B (queda) corresponderia
uma verdadeira revolução nas relações sociais vigentes. Daí a incessante busca
das empresas por expandir-se também em meio às conjunturas desfavoráveis,
seja incrementando o volume da produção, seja pela adoção de novos produtos.
Desse movimento dependia a manutenção do poder das elites coloniais.
Mercado dominado por bandos: 42% a 50% do valor total dos engenhos
transacionados foram negociados por pessoas conhecidas entre si; ou seja,
compradores e vendedores eram parentes sanguíneos, afins ou integrantes de
um mesmo bando. Devido à natureza dos laços entre esses compradores e
vendedores, tais valores não eram dados somente pela oferta e procura. Com
essas vendas, familiares e aliados resolviam problemas de caixa sem colocar em
risco a posição social e política de suas famílias ou de seu bando diante da
sociedade. As famílias senhoriais também tiveram a capacidade de criar seus
próprios mecanismos de empréstimo e, nesse sentido, provavelmente os
financiamentos estavam a sabor dos jogos políticos do grupo senhorial. Essa
sociedade sobreviveu ao declínio da plantation no Rio. A persistência do Antigo
Regime nos trópicos talvez explique uma transição sem maiores traumatismos
entre uma acumulação de riquezas centrada em particular na economia do bem
comum para outra mais mercantil, e com ela a passagem da hegemonia
econômica de uma nobreza da República para um grupo de grandes negociantes
baseado no comércio interno e no Atlântico.
Conclusões:
ao contrário do imaginado, a escravidão não era incompatível com a
criação de gado;
a fronteira com o Uruguai não impedia a existência de escravos;
ter escravos homens na fronteira, após 1850, significava um aumento do
risco de perda de tal ativo.
A escravidão do século XIX e de séculos anteriores, mais une do que
separa o Rio Grande do Sul do restante do Brasil. As diferenças entre a
sociedade gaúcha e o restante do Brasil devem ser buscados em outros
elementos e em períodos menos remotos.
Ou seja, as diferenças entre o RS e o resto do Brasil podem ser vistos a partir de
1889, com a Proclamação da República, quando ocorrem as revoluções
federalista (1893-1895) e libertadora (1923)