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Tema: Ser casado com a cruz

1. A lei em seus três usos


2. Os reveses da vida
3. Pecado: nossa incapacidade de cumprir a lei de Deus
4. Graça: a misericórdia que nos acolhe
5. O que a gente faz com isso?

1.

O texto que servirá de base para esse sermão, e que já foi lido aqui anteriormente,
encontra-se na primeira carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, capitulo 6. Nele o apóstolo
corrige um pensamento que havia se tornado corrente entre os irmãos de Corinto de que a
sexualidade era algo que, assim como comer ou beber, dizia respeito à liberdade cristã, uma
coisa sobre a qual Deus não disse nada a respeito nas Sagradas Escrituras e que, portanto,
você pode escolher fazer ou não fazer que, independente da sua escolha, não influenciará em
nada a sua salvação.
A questão central da confusão feita pelas coríntios é a liberdade cristã. Ao escrever esta
carta, Paulo trava um diálogo com os irmãos a fim de esclarecer seu pensamento. Algumas
traduções da Bíblia indicarão diretamente no texto que a frase “tudo me é lícito” ou, na
Linguagem de Hoje, “tudo me é permitido” está sendo dito por outra pessoa, outras apenas
põem esta frase entre aspas. Sabemos, portanto, que essa leitura da liberdade cristã não é de
autoria do apóstolo mas sim dos irmãos da igreja em Corinto. Paulo não chega a refutar
totalmente sua afirmação, mas a complementa com sabedoria, afirmando que apesar de nossa
liberdade, nem todas as coisas nos convém e que não podemos nos deixar dominar por
nenhuma delas.
Depois de esclarecer essa questão, o apóstolo retorna à questão da sexualidade para
tratar do problema de forma mais específica. Paulo finaliza com os versos 9 e 20, afirmando
que o nosso corpo é templo do Espírito Santo e com o mandamento de glorificarmos a Deus
com o nosso corpo. Meu interesse aqui não é mergulhar na exposição de Paulo a respeito do
corpo mas sim destacar o caráter legal deste texto, ou seja: este texto da carta paulina é todo
ele um texto de Lei.
De acordo com o que cremos, a Lei possui três usos: freio, espelho e norma. Ela nos
aparece como freio ao ser criada com a finalidade de aplacar os excessos de nossas más ações
e, assim, nos apontar o caminho certo. Em segundo lugar, a Lei nos aparece como espelho. É
quando, diante do rígido mandamento de Deus, nos vemos incapazes de atender às
expectativas. Nesta situação, percebemos o quanto somos fracos, falhos e pecadores e como
não temos mérito nenhum diante de Deus. É quando nos bate o desespero diante da nossa
realidade que Cristo nos aparece, pagando pelos nossos pecados e cumprindo a Lei que somos
incapazes de cumprir por nós mesmos. Por fim, depois de termos sido resgatados por Cristo
do horror da perdição, a lei nos surge como norma. Uma vez salvos pela Graça, por meio da
fé em Jesus, a Lei agora nos serve de parâmetro para vivermos. Ela não nos oprime mais, mas
através dela conhecemos a vontade de Deus e contamos com Cristo para podermos cumpri-la,
tendo a certeza de que, caso falhemos mais uma vez, receberemos novamente o perdão e a
força para seguirmos em frente.
É, portanto, sobre a Lei que o apóstolo Paulo trata nos versículos lidos aqui, da carta aos
Coríntios. Paulo apresenta aos irmãos convertidos um esclarecimento com base na Lei,
apresentando-a como norma, pois, por causa de uma má compreensão a respeito da liberdade
que temos em Cristo e do valor do corpo diante de Deus, os irmãos, convertidos, de Corinto
haviam se desviado da vontade de Deus. A intenção de Paulo é corrigir a conduta dos irmãos
coríntios, para que estes pudessem apresentar uma boa conduta cristã e, assim, um bom
testemunho. Paulo não condenou suas atitudes mas, amorosamente, os instruiu a respeito da
verdade.
A Lei, portanto, aparece para nos mostrar a nossa realidade pecadora, antes de nos
convertermos a Cristo, e para nos orientar a uma boa conduta, uma vez que fomos salvos pelo
sacrifício da cruz. Daqui por diante, vou me ater especificamente no tema da boa conduta.
O versículo 12 é bastante conhecido de todos nós e é sempre lembrado quando
queremos fazer alguma coisa mas não temos certeza se é certo ou por alguém que deseja nos
apontar que uma determinada escolha não é muito boa. Mas ele também apresenta um
problema: a Lei de maneira geral, este texto do apóstolo Paulo ou os 10 mandamentos, são
condições ideais apresentadas diante de nós, são a vontade manifesta de Deus e, portanto, a
perfeição, uma perfeição que somos incapazes de alcançar por conta do pecado que ainda
habita em nosso corpo mortal, de modo que a Lei é nosso alvo, mas o caminho até lá é cheio
de acidentes. Talvez seja possível que alguém, pleno de sua saúde física e mental, com sua
vida financeira tranquila e organizada e com seu emocional equilibrado, leia as palavras do
apóstolo em 1 Coríntios 6:12, compreenda-a perfeitamente e a cumpra sem vacilar. Mas essa
não é a realidade da grande maioria dos indivíduos. Na verdade, talvez essa não seja a
realidade de nenhum ser humano.
2.

Recentemente tive contato com um texto do teólogo luterano norte-americano Chad Bird,
chamado Casado com a cruz no divórcio. Neste texto o autor nos fala da realidade com a
qual ele se deparou ao passar pela experiência de seu divórcio e relata um pouco de como ele
se viu durante o processo. Ele diz que “Há momentos em que você se sente como um
espectador assistindo em câmera lenta a demolição da sua vida. Mini-explosões abalam os
fundamentos de tudo o que te deu sentido e propósito. Talvez isso aconteça enquanto você
observa o caixão descendo a terra crua, ou o raio-x de um tumor cerebral, ou o oficial de
justiça parado na sua porta, te entregando os papéis do divórcio. Nesses momentos, não é
como se alguma coisa morresse dentro de você, é como se você morresse inteiramente. O que
fica é uma concha fina cobrindo uma vida que diminui rapidamente.” Quantos de nós não
experimentamos em nossas vidas pelo menos uma situação parecida com essas? A morte de
um ente querido, o desemprego, anunciando dificuldades e tantas outras coisas. Situações que
nos fazem querer deitar em posição fetal, um golpe da vida que nos rouba toda a esperança e
que, quando olhamos para o futuro, tudo o que somos capazes de ver é desolação, uma
escuridão infinita. Em momentos como esse ficamos sem vontade de viver, nos sentimos
desprotegidos. Ninguém é capaz de nos oferecer alívio e parece que até mesmo Deus nos
abandonou. Diante de tamanha aparência de morte nós passamos a buscar alguma forma de
encontrar alívio, junto com constantes questionamentos a Deus nos esforçamos a todo o custo
para que possamos sair dessa situação mórbida, para no fim percebermos que não saímos do
lugar e que só ficamos esgotados. Como afirma o Chad Bird, não existe um ritual fúnebre que
nos permita sepultar uma situação como essa, que nos conduza à aceitação disso e nos permita
seguir adiante. Todo o nosso esforço somos nós tentando realizar o velório dessa situação
desesperadora.
Nesse momento, nos afundamos em atitudes que, com certeza, passam longe da Lei do
Senhor e só nos afastam da sua vontade para nós. No caso do autor desse texto, “foi uma
liturgia de uísque e promiscuidade, alternando gritos e choros em direção ao céu e buscando
salvação em cada nova namorada. Um passo a frente, dois para trás.” Quantos de nós aqui
nessa manhã não nos identificamos com esse relato? Quantas pessoas não se afundam
bebendo para esquecer, talvez recorrendo a drogas, quantas vezes não nos tornamos amargos
e, por isso, ferimos as pessoas ao nosso redor, mais uma vez, pecando contra a Lei de Deus ao
faltarmos com amor para com os nossos irmãos na fé, amigos e familiares? Tudo o que vemos
nesses momentos é o sofrimento e tornando cada vez maior dentro de nós. Perdemos a
vontade de viver e muitos acabam entrando em depressão profunda, alimentando dia após dia
a vontade de morrer, no desejo de que todo esse sofrimento acabe de uma vez por todas.
A vida está recheada de reveses inesperados. Sabemos que Deus, o onipotente, tem todo
o poder para impedir que nós passemos por situações como essas mas, mesmo assim, ele não
o faz, nos deixando órfãos de sua voz quando nós sentimos que mais precisamos dela. Diante
de tudo isso, meus irmãos, eu pergunto: como é possível que atendamos às palavras do
apóstolo Paulo aos Coríntios, como alguém pode ser capaz de cumprir o mandamento deixado
por ele para uma boa conduta cristã se estamos diante da falência, da morte de todo o sentido
da nossa vida.

3.

A resposta, meu queridos irmãos, que podemos encontrar na Escritura Sagrada, pode
parecer para alguns ainda mais desoladora: é porque somos pecadores vivendo num mundo
desestruturado pelo pecado, completamente afastado da vontade de Deus e da perfeição que
ele planejou para nós. O pecado nos lança para bem longe de Deus, num lugar onde não
somos capazes de compreender o seu agir e, muito menos, de cumprir a sua vontade.
Nesse ponto alguns de vocês podem pensar que eu vou seguir dizendo que tudo isso nos
serve para nos tornarmos mais fortes, para aprendermos com a vida, sermos homens e
mulheres melhores, podem mesmo pensar que Deus usa esse tipo de situação para nos ensinar
a viver a vida com mais qualidade. E faz sentido que os irmãos e irmãs pensem assim.
Estamos rodeados de mensagens e dos mais diferentes conceitos motivacionais, há livrarias
com prateleiras recheadas de best sellers que nos ensinam 10 passos para uma vida feliz, 7
passos para o sucesso, 5 passos para um casamento blindado. Nossa cultura é uma cultura que
nos motiva a acreditarmos na nossa própria capacidade, a ponto de nos convencer que toda a
nossa vida depende unicamente do nosso esforço e dedicação.
Sinto dizer, meu amados irmãos, que essa não é a mensagem do Evangelho para nós. O
que o Evangelho nos ensina, na verdade, é uma coisa completamente oposta a isso.
Aprendemos na Palavra de Deus que somos pecadores fracos e falhos, que era necessário que
um homem inocente morresse por nós para que pudéssemos viver plenamente e que, no
entanto, não existem homens inocentes na face da terra, de modo que foi necessário que o
próprio Deus assumisse uma forma semelhante à nossa para que esse sacrifício pudesse
cumprir o seu propósitos. O Evangelho nos ensina que somos completamente incapazes de
lidar com a vida e, menos ainda, de cumprir a vontade de Deus. Era necessário que alguém
pudesse cumpri-la por nós. E é sobre isso que a obra da cruz vem nos ensinar.
O teólogo Chad Bird afirma que através de sua experiência com o divórcio todo o seu
sofrimento serviu para remover as máscaras que ele carregava, máscaras que cada um de nós
usamos e carregamos ao longo da vida, mentiras que ostentamos para que possamos nos
afirmar diante do mundo e da nossa sociedade. A máscara da soberba, que nos faz acreditar
que somos melhores que as outras pessoas e até mesmo dar graças a Deus por sermos
diferentes deles, a máscara de que somos felizes, que temos um casamento feliz ou de que
somos absolutamente felizes no nosso trabalho, a máscara da absoluta segurança a respeito da
nossa fé, sob a qual afirmamos que não temos nenhuma dúvida a respeito de Deus, da nossa
doutrina, de Lutero, a máscara da afirmação de que temos tudo sob controle e mesmo a
máscara da justificação, que nos faz afirmas que falhamos diante de Deus, com o seu
mandamento, mas “nem tanto.” Não estou dizendo que todos aqui usam todas essas máscaras.
Algumas delas podem não caber para ninguém que está presente hoje, podem haver máscaras
que alguns de nós utilizem que eu não citei aqui. Mas é certo que cada um de nós usamos
alguns tipos de máscaras, e elas só são removidas quando o Senhor nos permite passar por
aquelas situações desesperadoras. “Enquanto as verdadeiras realidades do divórcio arranham
o rosto que exibimos para o mundo, as camadas caem uma a uma. O que eu descobri por
debaixo delas era o que eu sempre afirmei ter mas que realmente nunca acreditei: o rosto de
um mentiroso e trapaceiro, um rosto marcado pelo farisaísmo, um rosto tão sujo quanto o
mais obsceno pecador. O que os outros descobrem sob suas máscaras escolhidas são rostos
corados de raiva, corroídos pelo clima da preocupação, ou faces monstruosas de ódio. Seja lá
o que encontremos, são rostos que somente Deus pode amar.”
Ao passarmos pelo sofrimento, nos deparamos com a nossa verdadeira realidade: somos
pecadores sujos e desprezíveis.

4.

Mas acontece que, do ponto de vista da Graça, a destruição causada pelo sofrimento é
uma verdadeira benção. A situação que o Chad Bird usa como exemplo é o divórcio e
sabemos que Deus odeia o divórcio, bem como sabemos que Deus não nos alegra com o
nosso sofrimento. Entretanto, convivemos com muitas outras coisas que, no decorrer da nossa
vida, se tornaram normais pra nós mas que também são desprezíveis pra Deus: arrogância,
hipocrisia, autoconfiança. E ele também deseja nos ver livres delas. Os grandes sofrimentos
pelos quais passamos nos libertam dessas coisas, descobrirmos a nossa condição pecadora nos
faz ver a miséria das coisas que sustentamos com orgulho. Às vezes demora, muitas vezes são
anos até que desistamos de lutar com as nossas próprias forças, tentando nos manter de pé.
Mas o nosso Deus é paciente conosco, ele espera. Ele não tem a pressa que nós temos para ser
curados. Nosso esforço é por um remédio que não passa de um paliativo, Deus quer nos curar
por inteiro.
Quando somos alcançados pela cura de Deus descobrimos que não somos dignos de nada,
que nós não temos nada em nós mesmos que seja capaz de agradar a Deus, não somos fortes
nem justos. Diante de Deus nós não somos nada mais que um cadáver, como Lázaro
sepultado há 4 dias. Quando nos deparamos com essa realidade nos vemos em completo
desespero. E é aí, quando chegamos nessa posição que estamos prontos para ganhar todas as
coisas.
Em meio à destruição de tudo aquilo que dá sentido à nossa vida, Deus nos une, como em
um casamento, com a cruz. Não é algo que a gente deseja e, no entanto, Deus a põe sobre os
nossos ombros. Nesse momento, estamos crucificados, como Cristo: pregos, coroa de
espinhos, dor, escuridão e somente a morte diante de nós. “Quando estamos despidos de todo
o bem que nós pensamos que temos, nós ficamos frente a frente com todo o mal dentro de
nós. Nós lutamos, brigamos, ficamos sem ar, morremos e nos tornamos nada.” E é nesse
momento que estamos exatamente onde Deus deseja que nós estejamos. Assim como ele criou
todo o mundo do nada, é do nosso nada que ele começa a fazer a sua obra. Nessa hora ele abre
os nossos olhos para vermos que não estamos crucificados sozinhos, mas que Cristo está
conosco, estamos crucificados com ele, completamente imersos nele e em seu sacrifício. Nós
morremos com ele para que possamos viver através dele. Diante do nosso nada, onde
podemos ver somente a nossa sujeira, a nossa maldade, Deus nos ama, nos toma e nos beija,
como a filhos amados. Ele nos lava, levanta o nosso rosto e nos dá dignidade. Somos
chamados de filhos! Casamos com a cruz conhecemos Jesus, o nosso noivo amado.
Ao contrário do que o mundo ao nosso redor tem dito, em meio ao sofrimento Deus não
está nos fortalecendo, mas nos matando para que possamos viver a partir da força que ele nos
dá. Ele não está nos fazendo pessoas melhores, mas sim revelando todo a maldade que existe
em nós, para que a gente ache toda a bondade do Pai em Cristo.
No nosso sofrimento, verdadeiramente, encontramos a morte: a morte do nosso ego, das
nossas máscaras, da nossa vida fingida e mentirosa. É doloroso, mas é quando todas essas
nossas coisas morrem dentro da gente que podemos encontrar a verdadeira vida nele. E é só
passando pela morte que encontramos a ressurreição e é na ressurreição que encontramos a
Cristo e recebemos, de graça e por Graça, tudo aquilo que precisávamos, pois Cristo é o nosso
tudo.

5.

O caminho até aqui foi doloroso. Precisamos sentir a dor da via crucis para
encontrarmos a nossa verdadeira riqueza. E agora, o que a gente faz com isso? Podemos
agora, em Cristo, voltar às palavras do Apóstolo Paulo aos coríntios. Eu disse no início que
aquele é um texto de Lei e é a mais pura verdade! Conhecemos o mandamento da Palavra a
respeito da nossa conduta e pudemos vê-la como um espelho, conhecendo a nossa verdadeira
realidade: diante das situações adversas da vida, rapidamente nos dispomos a abandonar o
mandamento e nos esforçar para alcançarmos a salvação. Mas o Pai nos resgata através da
Cruz de Cristo e da ressurreição. Agora, agarrados a Ele e unicamente a Ele, nos humilhamos
e reconhecemos que dependemos unicamente dele para realizar a sua vontade. Agora nós
amamos a Lei e sabemos que o testemunho da nossa boa conduta depende somente da Graça.
Somos, finalmente, casados com a Cruz.

Que a paz de Deus, que excede o nosso entendimento, guarde os nossos corações e as nossas
mentes em Cristo Jesus para a vida eterna. Amém.

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