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MÓDULO II – PLANEJAMENTO............................................................................................................ 25
Projetos pessoais
Ambições e transformações
Como você realiza as suas ambições pessoais? Você teve ou tem “projetos pessoais”? O
tratamento que dispensa aos seus projetos pessoais é diferente do que dá às obrigações corriqueiras?
Por que o tratamento dado aos projetos é tão diferenciado?
Muitos não percebem o que fazem intuitivamente: filtram sonhos, elegem quais deles se
tornarão projetos, assumem compromisso de realizá-los e ainda adotam atitudes e métodos muito
diferentes da sua vida rotineira.
Hoje, você tem muitos projetos pessoais? Se os tem, significa que tem muitas ambições
viáveis; significa que tem perfil similar ao de empreendedores. Nesse caso, a sua vida se transformará
bastante no médio prazo. Reflita sobre o que e como faz nos seus projetos pessoais e pense na sua
atuação profissional: você está envolvido em projetos? Lidera projetos na organização onde atua?
Como os gerencia, do mesmo modo que nos seus projetos pessoais?
Gerenciar projetos é essencial
Muitos desejam desenvolver a atitude empreendedora, e muitas organizações incluem isso na
lista de competências organizacionais. Contudo, não basta ter a atitude de um empreendedor se
não tiver as habilidades exigidas para levar os projetos ao sucesso. É leviano incentivar as pessoas a
empreender sem lhes dar condições de método e ferramentas que lhes permitam ter sucesso como
empreendedores. É como instilar pessoas a “assumir” riscos – julgo leviandade isso.
Por isso, prefiro estimular que as pessoas tenham projetos, na sua vida pessoal e profissional.
Aprendendo a enquadrar como projetos as nossas ambições, e aprendendo a gerenciar esses projetos,
o resultado efetivo é o de ampliar a capacidade de transformação da vida da pessoa e da organização.
É a melhor maneira de incentivar o empreendedorismo.
Note que criar negócio é o exemplo mais estrito de empreendedorismo, e é projeto pessoal.
Portanto, desde já enfatizo: empreendimento é sinônimo de projeto. Curiosamente, nem
empreendedores nem gestores de projetos pertencentes a organizações percebem assim, dado que
são campos que floresceram independentemente um do outro.
É curioso que para algumas pessoas casar ou ter filhos não é considerado projeto: é algo que
ocorre acidentalmente, ou então é algo que se presume que vai de fato ocorrer, sem esforço. Porém,
para a maioria, casar requer cuidadosa preparação e esforço. Isso indica a característica primordial
dos projetos pessoais: se “deixar rolar”, eles tendem a não ocorrer.
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Outra curiosidade: uma viagem só é considerada projeto se for longa ou a lugares exóticos.
Passar os fins de semana em um sítio ou na praia quase nunca é tido como projeto. Isso indica que
cada pessoa escolhe deliberadamente aquilo que considera projeto pessoal, isolando-o dos demais
aspectos da sua vida corriqueira.
Por que precisamos de projetos? Porque há coisas que requerem empenho pessoal: envolvem
recursos escassos e desafio arriscado – não queremos que sejam confundidos com assuntos
corriqueiros. Viajantes de negócios não relacionam viagens longas a projetos. Para um milionário,
viajar ao exterior ou adquirir um imóvel é parte do seu cotidiano, e não um projeto. Para quem
casou três vezes, o casamento seguinte será corriqueiro. Para nós, os “normais”, é preferível realizar
essas atividades na forma de projetos.
Note outra questão curiosa, retomando o exemplo de projeto relacionado a filhos. O primeiro
filho costuma ser um importante projeto da família. Desde o momento em que a mulher engravida
já prepara o enxoval do bebê. Mais tarde, o quarto do bebê é mobiliado, e o lar é preparado para
receber o bebê. Depois que nasce a criança, ainda continua o projeto: há o “diário do bebê”, tudo
é registrado em uma profusão de filmes e fotos, há festas, etc.
Curioso: nas mesmas famílias que assim procedem com o primogênito, o terceiro filho tem
tratamento distinto – há pais os quais afirmam que o seu último filho foi “criado pelos irmãos”.
Não há diferença de amor paterno, mas a diferença essencial é que o primeiro filho foi um projeto,
e o último, por nada mais apresentar de desconhecido, incorporou-se à família e foi administrado
como rotina. Portanto, todo projeto tem algo de único, inusitado ou desconhecido, e é isso que os
torna desafiadores.
Casar, viajar ou titular-se são projetos pessoais com horizonte de curto ou médio prazo. Aliás,
sempre há expectativa de prazo para os nossos projetos. Além disso, há objetivos de custo, qualidade,
desempenho e resultados esperados. Um projeto, para valer a pena, envolve objetivos claros a
perseguir. Ora, se há metas de prazo a serem realizadas, significa que os projetos são temporários e,
se são temporários, há um ciclo de vida: projetos são concebidos, evoluem até a sua maturidade,
apresentam declínio e, em algum momento, são concluídos. Note bem: para ser um projeto é
preciso que tenha uma data de término – veremos que nas organizações isso costuma ser um
problema, embora de fácil solução.
Note que não foi citado como exemplo de projeto ganhar na loteria. Se isso fosse projeto,
haveria determinação e preparo, e a elaboração de apostas somente nas condições mais favoráveis.
Há quem estude as probabilidades de acerto, as combinações mais adequadas, etc. Porém, para a
maioria das pessoas, a loteria não é projeto, é apenas um sonho (devaneio ou fantasia). Sonhar é
essencial, porque é manifestação da nossa riqueza emocional. Contudo, misturar sonhos com
realidade não é sintoma de saúde mental.
Portanto, projetos pessoais não pertencem ao cotidiano nem são sonhos. Estão a meio
caminho – podem ser considerados sonhos viáveis –, passaram pelo filtro da viabilidade, o que
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sustenta o esforço com que são perseguidos. Assim, projetos pessoais envolvem algo único e
desafiador, embora viáveis, e desse modo só são alcançados se forem planejados.
Enquanto na vida corriqueira a surpresa é agradável porque rompe a monotonia, nos projetos
a surpresa costuma ser desastrosa e precisa ser evitada. Por isso planejamos a execução de projetos,
que não pode ser deixada ao improviso. Nos projetos sempre há riscos e incerteza, que precisam ser
enfrentados. Essa característica de envolver elevados riscos e incerteza é o que faz com que tanta
gente acalente os seus projetos pessoais solitária e sigilosamente. Não os compartilham com
ninguém, pelo temor de insucesso. Também há outro atributo que os diferencia das atividades
corriqueiras: há rituais de iniciação e de encerramento.
O que há em comum entre os exemplos de projetos pessoais comentados? Todos eles
apresentam as mesmas características:
São oportunidades que, se “deixar rolar”, tendem a não ocorrer – projetos requerem
esforço deliberado e compromisso.
Envolvem interesses elevados – vontade, ambição e preocupação com o futuro.
Não são devaneios, são sonhos viáveis em que há o compromisso de realizar.
São temporários, com ciclo de vida e horizonte de médio prazo.
Envolvem recursos escassos, o que os transforma em desafios.
São únicos, incomuns ou extraordinários.
Sempre envolvem muito risco e incerteza.
São conquistas memoráveis que geram satisfação.
Rememorando os exemplos de projetos pessoais, note que eles compõem as ações mais
especiais que protagonizamos nas nossas vidas. Por isso, a capacidade de realizar projetos com êxito
resulta na capacidade de transformar a própria vida.
Há indivíduos muito empreendedores, capazes de lidar com mais de cinco projetos pessoais
desafiadores em dado momento. Em um período de cinco a sete anos, a vida deles muda
significativamente por força dos êxitos alcançados. Pessoas razoavelmente empreendedoras lidam
com dois a quatro projetos pessoais. Pessoas pouco empreendedoras têm apenas um, ou nenhum,
projeto em andamento. Se bem que essa classificação de grau de empreendedorismo não é precisa:
há quem tenha apenas um projeto pessoal, mas tão desafiador que ocupa toda a sua energia por
décadas – e isso não retira dessa pessoa o atributo de ser empreendedora.
Porém, se temos mais de um projeto desafiador em andamento, ocorre um problema: como
repartir recursos e energia empreendedora? Surge aqui outra questão importante. Quando há
muitos projetos, mentalmente estabelecemos prioridades: maior atenção é dada às prioridades desse
portfólio. Outra questão usual: quando uma das prioridades perde viabilidade – passa o tempo e
não conseguimos viabilizar a aquisição de imóvel, por exemplo –, o que fazemos?
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Ocorre uma compensação psicológica. Abandonar projetos – ou, como dizemos
popularmente, abortar – causa tanta frustração, pois há o comprometimento psicológico para
realizar tal projeto, que evitamos ao máximo essa possibilidade. Se um projeto perde viabilidade,
alteramos as suas metas, prorrogando duração, ampliando orçamento, reduzindo expectativas de
resultados. Modificada alguma meta, isso nos obriga a rever as prioridades. Alterando prioridades,
privilegiamos algum projeto mais viável ou que traga mais resultados. No fim da lista de prioridades,
restarão aqueles projetos pessoais aos quais pouco nos dedicamos ou que são quase devaneios, ou
desvarios que o tempo se encarregará de eliminar.
Veremos que tal situação também ocorre nas organizações, isto é, nos projetos profissionais.
Eles têm características equivalentes às dos projetos pessoais. A metodologia que adotamos
profissionalmente para lidar com os projetos é similar à que intuitivamente adotamos nos nossos
projetos pessoais, o que veremos mais detalhadamente nos próximos módulos. Administrar
prioridades é a essência da gestão de portfólio.
E quem não tem projetos pessoais? Quer dizer que nada ambiciona? Não, mas nesse caso as
suas ambições dependem mais da sorte que do esforço pessoal. Às vezes, os ganhos caem do céu;
outras vezes, as dificuldades os levam ao inferno. O tempo passa, não sobra tempo para construir o
futuro, ocupados com seu dia a dia. Quando se dão conta, pouco realizaram.
Há momentos de balanço ou retrospectiva quando atingimos o ápice da maturidade. Nesses
momentos, só nos recordamos dos nossos projetos pessoais, dos sucessos e dos insucessos – nada
mais é lembrado. Com método, nós é que realizamos o futuro. Com método para os projetos
pessoais, nós é que estabelecemos a sorte.
Considero que a gestão profissional dos nossos projetos pessoais é a chave para a autorrealização
e a satisfação plena nas nossas vidas. Mais que credenciar para a competência em projetos profissionais,
é nos projetos pessoais que vislumbro a maior aplicação das ideias deste material.
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Mapa mental de projetos
Como fazemos na vida pessoal?
Há alguma relação entre gerenciar projetos pessoais e gerenciar projetos no mundo
profissional? De fato, as características desses dois tipos de projetos são muito diferentes? Se são, o
que diferencia a gestão de cada tipo de projeto?
A metodologia é a mesma
Nem todo sonho ou ideia torna-se um projeto. Apenas aqueles que passaram por um filtro
de avaliação de viabilidade tendem a se tornar projetos pessoais. Na realidade, também os projetos
profissionais passam pelo filtro da viabilidade, mas é preciso agregar outro filtro: o dos valores da
organização. No caso pessoal, como os valores comandam as nossas atitudes, não é preciso ter um
filtro específico para eles, a coerência é intuitiva.
A gestão de qualquer projeto inclui os seguintes fatores: ritual, compromisso, planejamento,
controle e tenacidade na sua execução. Nos projetos pessoais, isso ocorre tão natural ou
intuitivamente que não nos damos conta (awareness). Porém, quanto maior a disciplina de explicitar
esses fatores, documentando-os, maior a chance de sucesso nos projetos pessoais.
Liderar projetos causa eustresse, o estresse positivo que revigora e rejuvenesce. Quando o
indivíduo está desanimado, a sua vida perdeu o “sabor”, as obrigações matam os desejos e as
vontades – nada melhor que criar e gerenciar um projeto pessoal, com o benefício de melhorar o
ânimo, a vitalidade e a vontade de realizar ambições.
Nas organizações, há um benefício adicional para o estresse trazido pelos projetos em
andamento: criam conquistas memoráveis, ampliam a satisfação de interessados (stakeholders) e
promovem valor tangível (valor do negócio) e intangível (imagem, atração de talentos,
capacidade empreendedora).
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Benefícios dos projetos
Quanto maior a quantidade de projetos pessoais que realizamos, maior o empreendedorismo
na nossa sociedade, maior a capacidade de inovar. Portanto, isso leva à maior transformação pessoal
e ao dinamismo da sociedade. De modo análogo, quanto mais projetos uma organização realiza,
maior a criação de valor sustentável, para a própria organização e também para a sociedade.
Você tem muitos projetos pessoais? Experimente e verá.
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Ciclo de vida complexo
O PMBOK Guide – 5ª edição define projetos como “esforços temporários empreendidos para
criar produtos, serviços ou resultados únicos”. Dessa definição derivam as seguintes características
de um projeto (note a similaridade com atributos de projetos pessoais):
Envolve ambição e vontade empreendedora.
É ambicioso e desafiador, embora viável (endeavour).
É temporário, tem ciclo de vida pré-determinado (time-limited).
É marcado por objetivos (goal-driven).
É único, não se confunde com a rotina (one-shot).
Sempre contém riscos e incerteza.
identificação de necessidades;
estabelecimento de objetivos claros e alcançáveis;
balanceamento de demandas conflitantes de qualidade, escopo, tempo e
custo e
adaptação das especificações, dos planos e da abordagem às diferentes
preocupações e expectativas dos diversos interessados (stakeholders).
Para explicar as “demandas conflitivas”, veja quais são elas. Atender aos requisitos e objetivos
é o principal critério de sucesso na execução de projetos. São objetivos de um projeto:
Custo ou investimento – todo projeto requer o estabelecimento de um orçamento de
referência. Orçamento é uma estimativa de custo convertida em compromisso para
a execução.
Tempo – todo projeto tem um prazo limite ou diversos prazos, um para cada etapa de
execução. Há eventos importantes chamados de datas-marco (milestone no inglês), porque
balizam a execução.
Qualidade – é sempre objetivo – qualidade do produto do projeto, qualidade do projeto
(implantação e gestão) e qualidade percebida. No primeiro caso, trata-se da conformidade
com relação às especificações. O segundo envolve a execução harmônica, econômica e
promotora de aprendizagem. O terceiro envolve a percepção que induz à satisfação de
partes interessadas do projeto.
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Desempenho – há objetivos sejam eles de produtividade ou efetividade da gestão, sejam
de desempenho do produto depois de implantado o projeto.
Resultados esperados – se voltado para o lucro, o benefício de um projeto pode ser explorar
oportunidade mercadológica e obter retorno para o investimento. Se voltado para o social,
daí decorre e efetividade da execução – atender à demanda social. Sempre há também
objetivos ligados à aprendizagem e à evolução da metodologia de gestão.
O que há de complexo na gestão é que essas demandas são conflitivas. Por exemplo, prazos
muito curtos podem aviltar a qualidade, prazos folgados prejudicam a rentabilidade do projeto. Há
outro fator relevante, ligado à flutuação de ênfases: no início da execução, o prazo é o que mais
importa; durante a execução, os custos são enfatizados, mas, depois de concluído o projeto, só o
desempenho e o resultado importam. A norma recomenda que o gerenciador estabeleça um
agrupamento de objetivos coerentes entre si e convença a todos que de nada adianta maximizar um
ou outro desses objetivos em detrimento dos demais.
A 5ª edição da norma apresenta uma novidade promissora. Afirma que o principal propósito
da gestão é assegurar “valor do negócio (business value)”, definido como “o valor total do negócio;
a soma de elementos tangíveis e intangíveis. Exemplos de tangíveis: ativos monetários, ações.
Exemplos de intangíveis: good will (capital intelectual), reconhecimento da marca, benefício público
e valor da marca”. A mentalidade de valor agregado revela que os projetos deixaram de ser assunto
operacional para ser questão estratégica.
Note que a gestão do projeto é realizada por meio de processos. Cria uma questão ardilosa:
os projetos são únicos, mas os processos de gestão podem ser padronizados, mesmo que admitam
“adaptação às preocupações e expectativas dos interessados”. A mentalidade é focar em resultados
únicos, mas a gestão é padronizável.
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Os processos de gestão, como vimos, agrupam-se em cinco grupos. Muitos erroneamente
acreditam que são essas as fases de execução de um projeto. A norma alerta que, caso a execução
seja repartida em fases, cada etapa tem os cinco grupos de processos – portanto, não são fases.
Uma visão ingênua e utópica indicaria que primeiro iniciamos, depois planejamos, depois
executamos, para enfim terminar o projeto. Contudo, na vida real, depois de lançado o projeto
começa a execução, fazendo com que todos os grupos de processos ocorram em paralelo, como
mostra a figura.
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Para dar uma ideia de tempos, a iniciação tem o seu pico uma semana depois de iniciado, para
que o sistema de gestão seja estabelecido, os interessados sejam identificados e o Termo de Abertura do
Projeto seja produzido. O pico do planejamento ocorre a um mês do início: são produzidos pelo menos
oito planos, reunidos no Plano do Projeto. O monitoramento e controle ocorre desde o primeiro até o
último dia da execução. A execução inicia no primeiro dia, mas termina antes do fim. Para terminar,
são realizados testes para a emissão do Termo de Aceite do Projeto – o grupo de processos de
encerramento começou muito antes, para que fosse planejado o aceite.
Há mais uma questão sobre o ciclo de vida, evidenciada nesta outra figura extraída da norma.
No primeiro dia, a influência dos interessados sobre a execução é máxima, e o custo de qualquer
mudança é reduzido. À medida que a execução avança, a influência dos interessados diminui, até
porque decisões firmes são tomadas: os Requisitos são coletados e definidos, os Planos são aprovados
e divulgados, contratos são firmados e datas-marco são atingidas, evidenciando alguns entregáveis
(deliverables). Contudo, o custo de qualquer mudança cresce vertiginosamente. Não é fácil mudar
algo no momento do Aceite.
Diante desse ciclo de vida, a norma recomenda a proatividade: a execução é otimizada quando
se antecipam decisões e ações. Não se deixa para depois o que podemos fazer logo.
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Um esquemático
Como oficializar um projeto? Antes de chegar esse momento alguns estudos foram feitos, ou
deveriam ter sido feitos para demonstrar a viabilidade do projeto. Alguns os chamam de Estudo de
Viabilidade, outros preferem o termo Caso de Negócio (Business Case), outros preparam apenas
apresentações que foram levadas a discussões.
Nada disso substitui a necessidade de criar um documento como o Termo de Abertura do
Projeto, que o PMBOK Guide chama de Project Charter, em inglês, que literalmente significa
“esquemático do projeto”. Na ausência de metodologia de projetos, a maioria das organizações usa
Atas de Reunião de Diretoria com igual propósito.
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definir exatamente o que deseja realizar – sem uma referência oficial, o projeto pode mudar ao sabor
dos acontecimentos: sem planos, sem baseline ou referência de controle; portanto, sujeito a
alterações ditadas por quem quer que seja. Se não existe Termo de Abertura ou documento
equivalente, não existe gestão como a desejamos.
Como produzir o Termo de Abertura? Quem o fará usará informação derivada de estudos
anteriores e formatará o termo de um modo claro e consistente. Julgo necessário definir um
conteúdo mínimo para o Termo de Abertura, supondo que centenas ou milhares de termos serão
levados aos decisores em um ano típico. Se cada documento for muito diferente do outro, como
criar uma capacidade de decidir objetivamente?
O PMBOK Guide não considera padrões (templates), mas sugere que alguns conteúdos são
usuais em Termos de Abertura de Projetos:
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Ver http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/inovacao-na-pratica/2014/04/27/15-canvas-para-fazer-a-inovacao-decolar.
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Modo sintético e artístico de elaborar
O benefício de usar a técnica do Canvas para estruturar o projeto é evidente. Contudo, em
minha opinião, o Canvas do projeto substitui o Termo de Abertura, e não o planejamento do
projeto, que ainda precisará ser feito.
Experimente reunir um grupo e estruturar o seu projeto usando Canvas. Para cada parte da
tela, lance o desafio e peça ao grupo para registrar uma ideia em cada post-it, para depois pregar
sobre a tela, eliminando redundâncias, fundindo ou sintetizando ideias.
Comece pela descrição macro do projeto e a sua justificativa: por que o projeto é importante,
oportuno ou valioso? Faça também alguma referência ao passado: ocorreu algo que justifica investir
atualmente nesse projeto?
Depois, defina quais são os objetivos do projeto. Não é obrigatório que exista apenas um, mas
escreva os objetivos na forma SMART – eSpecífico, Mensurável, Atingível, Relevante e Temporal.
Para denotar ação, escreva os objetivos na forma verbal. Os objetivos ditam o rumo a seguir, a
ambição pela qual vale a pena realizar. Os resultados esperados derivam dos objetivos. Sempre que
possível, também escritos na forma SMART. Para denotar realização, escreva no particípio passado.
Os benefícios se originam dos resultados, que quase sempre são pouco tangíveis e obtidos no médio
prazo, depois que o projeto terminou. Em projetos sociais, os benefícios costumam ser mais
relevantes que os resultados diretos, mas costumam ser negligenciados pela equipe do projeto que
não faz avaliação de impactos.
Na sequência, gosto de definir a Governança e Equipe do Projeto. Governança é quem decide
e comanda: patrocinadores (sponsors), comitês de decisão, eventualmente diretores. A equipe do
projeto pode ser multidisciplinar e pode envolver pessoal externo, o que recomenda que o critério
de formação da equipe seja definido ainda no Termo de Abertura.
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Fazemos a distinção entre “stakeholders externos” e a “equipe do projeto”, mas ressalto que
ambos são stakeholders, e a separação entre externo e interno só se justifica para enfatizar quem é
contável pela execução do projeto. No campo dos stakeholders externos, sugiro listar clientes,
usuários, beneficiários, envolvidos na execução e afetados. Em ambos os campos, sempre que
possível, liste cada um pelo nome, em favor da accountability.
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entregáveis (deliverables): todos os produtos e resultados tangíveis e controláveis que resultam da
execução do projeto.
Definido o escopo do projeto, o Canvas se completa ao preencher as datas-marco principais
(milestones): datas de início, marcos principais e de término. Também como decorrência do escopo,
podemos fazer uma estimativa de custo, melhor dizendo, investimento no projeto.
Enquanto processo grupal de idealização e organização de ideias, o Canvas é um instrumento
poderoso. Contudo, como envolve 14 partes, pode ocorrer de escrevermos um mosaico de ideias
disparatadas. Por essa razão, não interrompa o processo quando a última parte for preenchida. Use
a cognição do grupo para verificar se há coerência entre as partes.
Primeiro, ateste a coerência entre objetivos, resultados e benefícios. Depois, verifique se a
justificativa é coerente com eles. Verifique a coerência entre premissas/restrições e escopo do
projeto. Verifique se os entregáveis são coerentes com eles e também com os objetivos e resultados
esperados. A partir dos entregáveis e do escopo, é possível verificar a coerência com a linha do tempo
e com o investimento associado. Já a consistência dos fatores críticos requer a mente flutuante e a
idealização de como se dará a execução do projeto.
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MÓDULO II – PLANEJAMENTO
Multidisciplinar
Muitos profissionais de projeto perceberam que gerir um projeto é como gerir uma pequena
empresa: temos de lidar com finanças, tempo, qualidade, recursos humanos, aquisições, etc. Se você
concorda com isso, deve aceitar que a norma Guia PMBOK apresente um número tão variado de
processos de gestão.
Definição caso a caso
A gestão do projeto é multidisciplinar: envolve 10 áreas de conhecimento, também
organizadas em cinco grupos de processos. Cabe ao gestor de cada projeto definir quais desses
processos de gestão ele deve adotar caso a caso.
Processos de gestão
O Guia PMBOK envolve 49 processos de gestão organizados matricialmente: por área de
conhecimento e por grupo de processo. Em cada área de conhecimento, há processos de iniciação,
ou de planejamento, ou de execução, ou de monitoramento e controle ou de encerramento. A figura
a seguir apresenta os 49 processos associados aos cinco grupos de processos no ciclo de vida do projeto.
Todos os processos de gestão que não são exclusivos de alguma área de conhecimento
(escopos, cronograma e custos, por exemplo) pertencem à área de integração. Gerir a integração
significa integrar e coordenar processos de gestão de todas as áreas. Para coordenar de fato a
execução, o Termo de Abertura e os outros documentos são cruciais: o Plano de Gerenciamento do
Projeto, com caráter integrador e nível estratégico; e o sistema de Controle Integrado de Mudanças,
em que o impacto de cada mudança é analisado na visão sistêmica.
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Os processos vinculados a essa área do conhecimento são indicados no quadro a seguir. A essência
do gerenciamento é a integração, por isso essa área do conhecimento inclui outros processos cruciais:
gerir conhecimentos, dirigir e liderar o projeto, verificar e controlar a execução. Ainda não interessa
definir quem faz o quê: a equipe (como um todo) do projeto é responsável por esses processos.
Área de
Processo Finalidade
conhecimento
Desenvolver
Processo de definir, preparar e coordenar todos os
plano de
Integração componentes do plano e consolidá-los em um plano integrado
gerenciamento
de gerenciamento do projeto.
do projeto
Gerir escopos envolve gerenciar todo o trabalho, e apenas o trabalho requerido para atingir os
objetivos do projeto. Envolve coletar requisitos para definir escopos, organizá-los e depois verificar
e controlar as mudanças de escopos. Escopos incluem não só as atividades a executar, assim como
os produtos do projeto.
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É importante distinguir o Escopo do Produto (componentes e partes) do Escopo do Projeto:
atividades a executar. O PMI adota o conceito de entregável (deliverable) para fazer com que cada
conjunto de atividades (trabalho) se torne tangível por meio de algum tipo de “entrega”: um
relatório, uma aprovação, um evento, etc. Tangibilizar partes do escopo resulta em maior controle
sobre a execução do projeto, sobretudo quando ele envolve atividades de cunho intelectual. O
quadro a seguir lista processos e finalidades dessa área do conhecimento.
Note que o processo “Definir escopo” envolve detalhar escopos aprovados no Termo de
Abertura do Projeto. Se os escopos são progressivamente elaborados, é raro um projeto iniciar com
o escopo suficientemente claro. Esse fato obriga a organizar o escopo de modo estruturado, o que
corresponde ao processo “Criar EAP”, técnica reputada como muito importante.
Área de
Processo Finalidade
conhecimento
Criar EAP –
EAP, no inglês WBS – Work Breakdown Structure, é a subdivisão dos
Estrutura
Escopo principais entregáveis e do trabalho do projeto em componentes
Analítica do
menores e mais facilmente gerenciáveis.
Projeto
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Área de
Processo Finalidade
conhecimento
Note que as metas de prazo não podem ser alteradas sem prévia anuência de interessados
relevantes, mas isso não significa que o cronograma precise ser “congelado”. Em ambiente de
incerteza, há imprevistos que afetam a execução. Por isso, o gerenciador revê o cronograma sempre
que necessário, mas evita alterar metas antes aprovadas.
Gerir custos compreende os processos usados em planejamento, estimativa, orçamento,
financiamento, gerenciamento e controle de custos. O objetivo é otimizar custos, visando a impedir
estouros nos gastos em relação ao orçamento aprovado. Note que a norma desafortunadamente
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trata de custos, e não de investimentos. Gerir investimentos compreende não apenas controlar gastos,
como também controlar as fontes de financiamento do projeto e os retornos obtidos. A maioria dos
projetos tem investimento, e não custo. O quadro a seguir relaciona processos e finalidades.
Área de
Processo Finalidade
conhecimento
Planejar
Processo de definir como os custos do projeto serão
Custos gerenciamento
estimados, orçados, gerenciados, monitorados e controlados.
dos custos
Área de
Processo Finalidade
conhecimento
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Gerir recursos do projeto inclui os processos para identificar, adquirir e gerenciar os recursos
necessários para a conclusão do projeto. Por recursos, a sexta edição do Guia PMBOK inclui equipe,
instalações, equipamentos, materiais, suprimentos e outros. As pessoas voltam a ser consideradas
mais um “recurso” para executar o projeto, infelizmente. Contudo, ao somar a gestão de outros
recursos, cobre-se uma lacuna.
Área de
Processo Finalidade
conhecimento
Planejar
Processo de definir como estimar, adquirir, gerenciar e utilizar
Recursos gerenciamento
recursos físicos e de equipe.
dos recursos
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Área de
Processo Finalidade
conhecimento
Processo de desenvolver uma abordagem e um plano para as
Planejar
comunicações do projeto baseadas nas necessidades de
Comunicação gerenciamento
informação de cada interessado ou grupo, nos ativos
da comunicação
organizacionais disponíveis e nas necessidades do projeto.
Processo de criar, coletar, distribuir, armazenar, recuperar,
Gerenciar
Comunicação monitorar e cuidar da disposição final da informação do
comunicação
projeto, de forma oportuna e adequada.
Monitorar Processo de garantir que as necessidades de informação do
Comunicação
comunicação projeto e de interessados sejam atendidas.
Gerir riscos envolve os processos de: planejar a gestão de riscos; identificar ameaças e
oportunidades; analisar riscos (quali ou quantitativamente), visando a estabelecer graus de
severidades; planejar respostas (Planos A e B) para cada ameaça e oportunidade severas e controlar
se os riscos tornam-se realidade, se as respostas são eficazes ou se há riscos posteriores a gerir.
Área de
Processo Finalidade
conhecimento
Planejar
Processo de decidir como conduzir as atividades de
Riscos gerenciamento
gerenciamento de riscos de um projeto.
dos riscos
Processo de identificar riscos individuais e fontes de risco geral
Riscos Identificar riscos
do projeto, e de documentar as suas características.
Processo de priorizar riscos para a análise ou ação posterior
Realizar análise
Riscos por meio de avaliação combinada da sua probabilidade de
qualitativa
ocorrência e impacto.
Processo de analisar numericamente o efeito dos efeitos
Realizar análise
Riscos combinados de riscos individuais identificados e outras fontes
quantitativa
de incerteza nos objetivos do projeto.
Planejar Processo de desenvolver alternativas, selecionar estratégias e
Riscos respostas aos acordar ações para ampliar oportunidades e reduzir ameaças
riscos aos objetivos do projeto.
Implementar
Processo de implementar planos acordados de respostas a
Riscos respostas a
riscos.
riscos
Processo de monitorar a implementação dos planos
Monitorar os acordados, acompanhar riscos identificados, identificar e
Riscos
riscos analisar novos riscos, e avaliar a eficácia do processo de risco
ao longo da execução do projeto.
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Gerir aquisições envolve comprar produtos e serviços, gerindo contratos de fornecimento e de
prestação de serviços. Por questões de compliance, na maioria das organizações, a realização de
compras e contratações cabe exclusivamente ao setor de Compras, contudo, são atividades que
fazem parte do escopo do projeto. Os propósitos gerais são: repartir riscos com os contratados,
repartir responsabilidades, otimizar custos de contratação e gastos contratuais. Os contratos são
entendidos como instrumentos de gestão, e não apenas como burocracia para a proteção jurídica.
Note que essa área do conhecimento é fortemente afetada pela legislação de cada país e região.
Por esse motivo, cabem adaptações caso a caso. Note que Conduzir Aquisições são processos que nos
países latinos e no setor público são conhecidos como processos de Licitação. Note que a sexta edição
eliminou o processo de “encerrar aquisições”, na premissa de que ela faz parte do “controlar aquisições”.
Área de
Processo Finalidade
conhecimento
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Área de
Processo Finalidade
conhecimento
Gerenciar
Processo de comunicar e trabalhar com interessados para
engajamento
Interessados atingir as suas necessidades/expectativas e adaptar
de
estratégias de engajamento, modificando planos.
interessados
Monitorar
engajamento Processo de monitorar os relacionamentos com interessados
Interessados
de do projeto, ajustando estratégias e planos para engajá-los.
interessados
Hipercompetência
O Guia PMBOK relaciona, portanto, 49 processos de gestão na sexta edição. Não é exagero
complicar tanto a gestão de um projeto? Tenho o receio de que, ao revisar a norma a cada quatro
anos, como faz o PMI desde 2000, há uma tendência de fazê-la crescer sempre. Os processos de
gestão de cronograma poderiam ser reduzidos a dois, e não foram; o erro de considerar custos, e
não investimentos, permanece. Embora não sejam de adoção obrigatória, tal quantidade de
processos fomentou a criação de metodologias “ágeis” em outros campos de aplicação.
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Se cada processo de gestão for associado a pelo menos uma competência, cria-se um
problema: o gerenciador e a equipe do projeto precisariam de pelo menos 49 competências. É um
desafio. Agora, você pode avaliar em quantos desses processos você se julga competente. Isso
incentivará o seu autodesenvolvimento.
Fonte
PMI – Project Management Institute. Guia PMBOK: um guia para o conjunto de conhecimentos em gerenciamento
de projetos. 6. ed. Newtown Square: PMI, 2017.
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Questão de mentalidade, não de ferramentas
Para a evolução do conhecimento, é sempre útil questionar o conhecimento hegemônico,
como o é a norma PMBOK Guide do PMI hoje no mundo. É essa a maior contribuição de
Highmisth e colegas. Em 2001, eles publicam o “Manifesto Ágil”:
Decorridos alguns anos, Highsmith pondera: “agilidade é mais atitude que processo, mais
ambiente que metodologia”. Reagindo às principais incompreensões sobre o “ágil”, o autor ressalta:
“não quer dizer que as ferramentas, processos, documentos, planos e contratos sejam
desimportantes [...] Ferramentas são críticas para acelerar e reduzir custos. Contratos são vitais para
iniciar relacionamentos. Documentação auxilia a comunicação”.
Na formação dessa nova mentalidade, Highsmith estabelece três valores críticos:
Fornecer valor ao invés de cumprir restrições.
Liderar a equipe ao invés de gerenciar tarefas.
Adaptar-se a mudanças ao invés de cumprir planos.
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Ao enfatizar a liderança em relação à gestão, o autor explica: “líderes, e não gestores,
encorajam a mudança – criando possibilidades de visões de futuro e interagindo com muita gente”.
Além disso, confronta os paradigmas tradicionais de controle, de previsibilidade do futuro, de
repetição de melhores práticas, da importância de medir, e de que ao reduzir incertezas as certezas
aumentam. Note como as suas ideias são refrescantes:
Comandantes conhecem objetivos, líderes compreendem a direção.
Comandantes ditam, líderes influenciam.
Controladores demandam, colaboradores facilitam.
Controladores fazem microgestão, colaboradores encorajam.
Gestores que abraçam o modelo liderança-colaboração compreendem que seu principal
papel é estabelecer direção, guiar e facilitar a conexão entre pessoas e equipes.
Ao enfatizar mudanças sobre planos, fico aliviado com a afirmação do autor: “Ambos
gerenciadores ágeis e tradicionais consomem uma boa quantidade de tempo planejando”. Qual é a
diferença: adaptar-se ao invés de conformar-se com os planos. Os planos deixam de ser algo a ser
cumprido para se tornarem guias constantemente revisados.
Afirma que “os gerenciadores de projetos tradicionais focam em seguir os planos com o
mínimo de mudanças, enquanto o líder ágil foca em adaptar-se com sucesso às mudanças
inevitáveis”. É de fato uma crítica profunda à escola clássica de Administração, mas como seria
possível realizar projetos em ambiente de risco e incerteza sem fazer análises metódicas de riscos
como parte do esforço de planejamento? O autor responde: “ambos, líderes tradicionais e ágeis
precisam utilizar práticas de gestão de riscos”, reafirmando que não há ferramentas exclusivas da
abordagem ágil e da tradicional.
Outro conceito que é confrontado na abordagem ágil: o tradicional triângulo de gestão
composto de escopo, custo e cronograma. A abordagem ágil coloca no topo as metas de valor
(entregar um produto), qualidade (produzir produto confiável e adaptável) e restrição (atingir metas
de valor e qualidade dentro de restrições aceitáveis). Note que o PMI, na quinta edição do PMBOK
Guide, passa a mencionar o objetivo último de qualquer projeto: agregar valor de negócio.
Desde o início do movimento ágil, muitos dos pioneiros criaram as suas próprias abordagens
ou metodologias ágeis. As mais difundidas são: Metodologia Scrum, Extreme Programming (XP) e
Feature Driven Development (FDD). Todas elas interativas e aderentes ao pensamento ágil.
Highsmith criou uma moldura conceitual suficientemente ampla para abranger todas essas
opções. A moldura ágil consiste em: Governança de Portfólio no topo, abaixo da qual figuram
respectivamente (como degraus de uma escada): Gerenciamento do Projeto, Gestão Interativa e
Práticas Técnicas.
A governança, seja na abordagem ágil e tradicional, enfoca duas preocupações: investimento
e riscos. A camada de gerenciamento envolve a produção de planos, no qual inclui planos de riscos
e de contratos. A novidade é a ênfase na camada de interação que enfoca o planejamento, a execução
37
e a liderança durante curtos períodos de interação. Já a camada técnica enfoca as técnicas específicas
de cada campo de aplicação de projetos.
Para Highsmith, “processos não são tão importantes quanto pessoas, mas estão longe de
serem desimportantes”. Por isso, fornece um macroprocesso de gerenciamento ágil, composto de
cinco fases:
Envisionamento – definindo o produto, os objetivos, a comunidade e como a equipe operará.
Especulação – desenvolvendo planos para fornecer a visão.
Exploração – planejando e entregando em curtas interações, constantemente buscando
mitigar riscos e incerteza.
Adaptação – revisando resultados, desempenhos e situações para fazer adaptações.
Encerramento – concluir o projeto, revendo lições aprendidas e celebrando.
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Dessa forma, o critério para adotar a abordagem tradicional e a abordagem ágil é clara: onde
há maior incerteza vale a pena a mentalidade ágil. Os tipos de projetos onde se percebe essa
condição são:
projetos de desenvolvimento de produtos, processos, mercados e organizações inovadores;
projetos de mudança cultural planejada em grandes organizações;
projetos de natureza política: campanhas políticas, engajamento de interessados;
projetos de desmonte, intervenção e recuperação de crises.
A abordagem ágil resolve muitas preocupações que os mais antigos gerenciadores de projetos –
como eu – tinham, e abre caminhos promissores para a criação de novas técnicas, criando de fato um
novo modelo de gestão.
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Síntese de muitos planos
O PMBOK Guide afirma que: “o plano de gerenciamento do projeto é o documento que
descreve como o projeto será executado, monitorado e controlado. Ele integra e consolida todos os
planos de gerenciamento e linhas de base” de escopo, custos e cronograma, entre outras. É um
documento completo (portanto, detalhado), cuja coerência é assegurada entre os nove planos que
o compõem e é atual, porque revisado sempre que a realidade torna obsoleta a versão existente.
Para produzir o Plano do Projeto, julgo necessário um esforço coletivo: são vários planos que
afetam uns aos outros. Além do mais, o planejamento requer discussão; pelo debate, as melhores
opções são desenvolvidas. Um bom planejamento requer expertises diferentes; por isso, julgo valioso
agregar outras pessoas além da equipe do projeto. Nem sempre a equipe do projeto foi totalmente
mobilizada nesse momento de início da execução do projeto, ressalto. Seria proveitoso contar com
a participação do Escritório de Projetos, se existir; do patrocinador, mesmo que apenas em
momentos especiais; e de especialistas convidados do jurídico, da auditoria, do financeiro, de áreas
técnicas, e até mesmo parceiros externos.
O conteúdo básico do Plano do Projeto é a reunião dos planos das nove áreas do
conhecimento: escopo, tempo, custo, qualidade, recursos humanos, interessados, comunicação,
risco e aquisição. Contudo, como a norma do PMI não fornece padrões (templates), podemos
adicionar outros planos. Em projetos entre organizações, adiciono um plano de ética e conduta; em
que a questão ambiental está colocada, devo adicionar um plano para ela; onde for oportuno, um
plano para gerir o conhecimento gerado pode ser proveitoso.
O PMBOK Guide sugere que podem ser adicionados ao conteúdo citado: o ciclo de vida
selecionado para o projeto; detalhes das decisões relativas às adequações especificadas pela equipe
de gerenciamento; um plano de gerenciamento de mudanças que documenta como as mudanças
serão monitoradas e controladas; um plano de gerenciamento de configuração que documenta
como o gerenciamento de configuração será realizado; e como o plano será revisado abordando
questões em aberto e decisões pendentes.
Como cada plano afeta os demais, não há uma sequência ótima de execução. Minha
preferência é iniciar por interessados, comunicação e riscos; e terminar por cronograma e recursos
humanos. São planos tão intrincados que é necessário que sejam feitos todos na mesma ocasião.
Sugiro reservar o primeiro mês do projeto para conduzir algumas atividades de execução enquanto
se planeja o projeto. Nessa época, podem faltar informações que serão produzidas no futuro. Para
evitar que a ausência delas comprometa a consistência do plano é que se adicionam as “questões em
aberto e pendências”.
O quebra-cabeças mostrado no mapa mental inclui além dos planos, um capítulo muito
importante: o Sumário Executivo, habitual em planos de negócios produzidos por norte-
americanos. Como um sumário do que há de mais importante nos planos, ele cria uma
oportunidade fantástica. Comparando o Sumário Executivo do Plano do Projeto com o documento
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anterior que é o Termo de Abertura, podemos a qualquer tempo avaliar o quanto o projeto mudou
por força do planejamento, em comparação com a referência. Quanto maior a defasagem entre
Sumário Executivo e Termo de Abertura, maior é a necessidade de aprovar novamente o Plano.
O Plano do Projeto na visão PMI assemelha-se a um tipo de Plano de Negócio (Business
Plan): aquele que não só explica o escopo do produto (comum em empreendimentos imobiliários),
não enfoca apenas a viabilidade econômica (comum quando visa a atrair investidores), não apenas
define a tecnologia, mas enfoca principalmente como será executado e controlado o projeto.
41
Questões estratégicas
Definir estratégias de execução de projetos requer, como sempre, uma disciplina mental.
Primeiro, é preciso definir com qual parcela do escopo o projeto inicia e termina, porque isso não
foi pensado no pré-projeto e na elaboração do Termo de Abertura. O projeto só inicia depois de
escolhida a solução, ou ele inicia com o estudo de diferentes soluções e em algum momento seguinte
será escolhida a solução que será implantada? O projeto termina com o lançamento do produto do
projeto ou será prolongado por mais algumas semanas, para que a equipe do projeto forneça apoio
aos usuários? Essas são questões estratégicas.
Outras questões estratégicas: devemos testar o produto do projeto em um campo limitado,
para ter certeza dos resultados antes de lançar esse produto no mercado? Devemos segmentar a
equipe do projeto na fase de implantação ou contratar terceiros para suprir pessoal em momentos
de sobrecarga?
O projeto pode iniciar somente quando a especificação estiver aprovada ou então pode incluir
esse trabalho no seu escopo. Pode iniciar com solução já definida ou a seleção da solução pode
compor a fase inicial de execução. O projeto pode terminar na fase de concepção e estudos,
remetendo a implantação para um projeto posterior. Pode terminar no fim da implantação ou pode
prolongar-se até a fase de pós-implantação, mas todo projeto precisa terminar para demarcar que a
partir daquele ponto o produto do projeto entrará em operação rotineira.
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Uma questão muito comum em projetos de desenvolvimento de produtos é a incerteza sobre
a aceitação dele no mercado. Para essa questão, duas estratégias podem ser escolhidas. A estratégia
4 é a implantação-piloto, usada desde os anos 1950. A implantação-piloto é usada quando se
pretende avaliar as dificuldades de execução e os ganhos obtidos após a implantação, por isso ela é
feita em um âmbito restrito, com fronteiras definidas e controladas. Escolha uma pequena parcela
do mercado, com demografia similar ao do mercado e lance o produto do modo planejado. No fim
de certo período, os resultados do piloto são avaliados e se decide por continuar a implantação (roll
out) ou não. A estratégia 5 é mais simples: trata de antecipar entregas para criar “fatos consumados”
que demonstram a todos que o projeto avança.
Tema do projeto
2) Limitar o escopo aprovado apenas à fase de concepção: no
controverso, muito
fim dela, decide-se sobre a continuidade da execução.
inovador ou duvidoso
Incerteza sobre a
3) Dividir o projeto em fases – o fim da primeira fase, destinada
tecnologia, metodologia
ao estudo da solução, entrega a definição requerida para
ou produtos usados no
executar as fases posteriores.
projeto
Incerteza sobre a
7) Estabelecer uma fase de teste, simulação em plataforma ou
operação do produto do
operação experimental assistida pela equipe do projeto.
projeto
43
Questão Estratégias de execução
Dificuldade de
11) Dividir em fases o projeto, aprovando recursos fase a fase,
assegurar fontes de
depois de fazer um balanço da implantação em cada fase.
investimento
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Situação similar ocorre em projetos de desenvolvimento de sistemas: há dúvidas sobre a adesão
dos usuários ao produto do projeto. Há três estratégias para a sua escolha. A estratégia 8 envolve somar
uma fase de pós-implantação, pelo período de tempo necessário para a equipe do projeto apoiar
usuários, corrigir defeitos precoces e avaliar resultados. A estratégia 9 envolve antecipar treinamentos a
usuários para medir se está ocorrendo demasiada resistência a mudanças, ainda a tempo de se reforçarem
as ações de aceitação. A estratégia 10 é bastante assertiva, contudo funciona: envolve definir um Dia D
em que tudo o que existia é desmobilizado e todos são forçados a usar o produto do projeto – muitos
denominam essa estratégia cinicamente de big bang.
Uma situação frequente em megaprojetos é a dificuldade de financiar o projeto como um
todo. A estratégia 11 envolve repartir o projeto em fases e aprovar orçamento fase a fase.
Quando o projeto envolve enorme abrangência para a implantação, além da estratégia 6,
outras são usadas. A estratégia 12 envolve antecipar a execução para que as dificuldades se
evidenciem a tempo de rever os planos e o sistema de gestão adotados. A estratégia 13 envolve fazer
um contrato por “ordens de serviço”, de tal modo que pessoal adicional pode ser fornecido
temporariamente para cobrir lacunas. A estratégia 14 indica que há outro modo de pensar
estratégias: trate a questão como um risco do projeto e crie respostas de planos B e C, contingenciais,
caso problemas aconteçam.
Por fim, a estratégia 15 é de uso mais recente: a implantação em ondas sucessivas. A implantação
em ondas significa iniciar a implantação por uma parte (do escopo ou da abrangência) e, antes mesmo
de terminar essa implantação, a equipe responsável pela primeira onda se desloca à próxima e a implanta.
Sucessivamente, o escopo vai sendo implantado. Nesse caso, os benefícios são avaliados periodicamente
e confrontados com a amplitude do que foi até então implantado. É o caso de projetos de mudança
cultural: a primeira onda divulga o propósito de mudança, a segunda avalia prós e contras, a terceira
visa a engajar pessoal na experimentação, e assim por diante.
Existe tanta confusão entre as estratégias de ondas e piloto que justifica explicar as diferenças.
O piloto é temporário, e pode resultar na decisão de recolher o produto e interromper o projeto. A
primeira onda não será interrompida, a sua execução avançará pelo tempo exigido, mesmo que
outras ondas sejam superpostas.
Note as palavras que se repetem na primeira coluna do quadro: dúvida, risco, incerteza,
dificuldade, etc. Significa que o verdadeiro propósito de estabelecer estratégias de execução é
mitigar riscos e incerteza.
Essas 15 estratégias podem ser combinadas conforme o grau de incerteza do projeto. Quanto
mais incerto, mais estratégias merecem ser somadas ao escopo do projeto. Para que as estratégias
sejam evidenciadas, é conveniente adaptar a EAP para que as mostre, seja no primeiro, seja no
segundo nível da “árvore” ou da lista enumerada.
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Primeiro a estratégia, depois a tática
Inúmeras estratégias de execução foram criadas e são usadas em projetos. A principal
característica dos projetos é a existência de riscos e incerteza. Não é de estranhar que as diferentes
estratégias usuais de execução derivem exatamente dessa característica.
Quem executa o projeto sem estratégia antes definida se sujeita ao vai e vem tático: ora segue
em uma direção, ora muda para outra direção. Definir estratégias é definir uma direção ótima que
mitiga riscos e amplia a chance de sucesso. Primeiro, defina as estratégias; depois, deduza as táticas!
Escopo em projetos
Você conhece o conceito de escopo?
Você sabe definir os escopos (scope) de um projeto? O Alcorão dos muçulmanos afirma: “para
quem não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve”. O escopo compreende a definição de
onde se quer chegar, ou seja, o produto do projeto, e o caminho para obtê-lo, ou seja, as atividades
por realizar. Se não sei o que quero, não sei o que fazer nem como fazer.
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“Esculpindo” escopos
O propósito da Gestão de Escopos do Projeto é “assegurar que o projeto inclui todo o
trabalho necessário, e apenas o necessário, para terminar o projeto com sucesso”. O PMI alerta que
escopo compreende o trabalho e os resultados ou produtos desse trabalho, portanto, há dois tipos
de escopo a serem geridos:
Escopo do produto – “as características e funções que caracterizam um produto, serviço
ou resultado”.
Escopo do projeto – “o trabalho que deve ser realizado para entregar um produto, serviço
ou resultado com as características e funções especificadas”.
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Planejar Gestão de Escopos é o processo de criar um plano que documenta como o escopo será
definido, validado e controlado. Se a organização tem políticas e procedimentos que definem quem,
quando e como fazer a gestão de escopos, no projeto esse processo de gestão é dispensável
(lembrando que não é obrigatório usar os 47 processos de gestão). Esse processo tem dois
entregáveis: Plano de Gestão de Escopos e Plano de Gestão de Requisitos, tamanha é a dificuldade
de coletar requisitos.
Coletar Requisitos “é o processo de definir e documentar as características e funções do produto
e do projeto que atendam às necessidades e expectativas de interessados”. Outro conceito essencial:
requisito (requirement) é “uma condição ou capacidade que deve ser atendida ou possuída por um
sistema, produto, serviço, resultado ou componente para satisfazer um contrato, uma norma, uma
especificação ou outros documentos formais. Os requisitos incluem necessidades, desejos e
expectativas quantificados e documentados do patrocinador, do cliente e de outros interessados”.
Definir escopos é o esforço de detalhamento e documentação do escopo do produto e do
projeto. O PMI sugere que é raro um projeto começar com o seu escopo perfeitamente definido: o
usual é iniciar o projeto com uma macrodefinição do escopo que é definida por completo quando
do planejamento. Significa que escopos mudam, eles não são “congelados”, como muitos gostariam.
Ao definir escopos, a norma recomenda também definir as exclusões, os itens fora de escopo.
Também as premissas e restrições e os critérios de aceitação do projeto. A norma menciona que há
uma redundância com o conteúdo do Termo de Abertura, mas como são feitos em épocas distintas
e por pessoas distintas, na maioria das vezes, vale a pena revisitá-los.
Criar EAP – Estrutura Analítica do Projeto (Work Breakdown Structure – WBS) é organizar
escopos de forma lógica para facilitar a compreensão em projetos complexos. A EAP subdivide o
projeto desde estratégias, macroatividades até chegar aos pacotes de trabalho, a mais detalhada
medida de trabalho que se deseja controlar. A EAP também subdivide o projeto por algum critério
em cada nível de detalhamento. Nas últimas décadas, é a ferramenta de gestão mais importante, na
visão da comunidade do PMI.
Há uma diferença importante envolvendo os últimos processos de gestão de escopos. Validar
Escopos significa validar a aceitação de entregáveis. Controlar Escopos abrange monitorar os escopos e
decidir sobre mudanças no escopo do produto ou do projeto. Se não é possível congelar os escopos
durante a execução do projeto, controlar escopos é o meio de evitar que se entregue “gato por lebre” –
o gerenciador nunca perde o controle do escopo aprovado em um dado momento da execução.
Como se percebe, os requisitos se desdobram em escopos que são controlados para que
qualquer mudança assegure o pleno atendimento aos requisitos. Se não foram coletados os
requisitos juntos aos principais interessados, o escopo perde controlabilidade, as mudanças são
aceitas por critérios frágeis, o excesso de mudança causa imensos distúrbios na execução, ameaçando
o sucesso do projeto.
48
Sem definir não se controlam os escopos
Gerenciar escopos é fundamental no gerenciamento de projetos. Envolve competências duras,
na sua maioria: desenvolve uma abordagem técnica do projeto, conecta o conhecimento técnico
com o conhecimento em gestão, é o canal para incorporar inovação e desenvolver estratégias para o
projeto. Faça do “limão uma limonada”: enriqueça o escopo dos seus projetos, sejam eles pessoais
sejam eles profissionais. Obterá recompensas por esse esforço.
Envolvidos e afetados
Ao redor de um projeto, são agregadas inúmeras pessoas ou organizações com interesses e
expectativas sobre ele. Além do mais, se os projetos são o principal meio para introduzir mudanças
nas organizações, isso significa que a execução de um projeto afeta diversas pessoas ou organizações.
Esses afetados podem reagir positiva ou negativamente. Por isso, é crucial conhecer precocemente
quem são esses interessados (stakeholders), de modo a propor estratégias para estimular o seu apoio
ao projeto e para mitigar impactos negativos.
A gestão de Interessados do projeto foi adicionada ao PMBOK Guide na quinta edição, de
2013, demonstrando a importância do tema. Alguns processos, antes pertencentes à gestão da
comunicação do projeto, ganharam relevância na norma em vigor.
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entendimento de que a organização lida com diferentes atores. A corruptela de shareholder gerou
stakeholder. Nos EUA, at stake significa “em jogo”; portanto, stakeholder se associa aos jogadores,
apostadores, ou melhor, partes interessadas, como o PMI traduz.
O PMBOK Guide define:
Com tantos interessados, alguns positivos e outros negativos, ainda mais com interesses e
expectativas variando ao longo do tempo, realizar o projeto pode ser uma tarefa quixotesca, caso o
gerenciador não procure agregar e atender eticamente a tantos.
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A figura ao lado apresenta os quatro processos de Gestão de Interessados
do Projeto. Identificar Interessados envolve criar um Registro de Interessados,
contendo nome, cargo e posição no projeto, além dos meios de contato com
eles. Para isso, as fontes de consulta são: Termo de Abertura do Projeto,
contratos, legislação, organograma da organização e registros de experiências
similares. Isso não basta, é preciso avaliá-los de modo a discernir quem são os
relevantes entre as dezenas de interessados levantados.
Note que os interessados são pessoas, grupos ou organizações que podem
“afetar, serem afetados ou sentirem-se afetados por uma decisão, atividade ou
resultado de um projeto”. Dessas condições decorrem os seus interesses
positivos ou negativos.
O sucesso do projeto requer a identificação precoce dos principais interessados, para que se
possa engajá-los no momento oportuno. A ausência desse processo faz com que muitos se coloquem
de imediato em oposição ao projeto, e essa atmosfera pode crescer e tornar-se ainda mais perniciosa
durante a execução.
Planejar Gestão de Interessados envolve “desenvolver estratégias apropriadas de
gerenciamento para engajar as partes interessadas de maneira eficaz no decorrer de todo o ciclo de
vida do projeto, com base na análise das suas necessidades, interesses, e impacto potencial no sucesso
do projeto”. Possivelmente, é um dos planos mais importantes entre os reunidos no Plano de Gestão
do Projeto e merece uma discussão especial.
Gerenciar o engajamento de interessados requer usar da comunicação para estabelecer o melhor
relacionamento com os interessados relevantes, incentivando o maior engajamento deles no projeto.
Na prática, significa “colocar todos no mesmo barco”. Para o PMI, gerenciar o engajamento envolve
ações tais como:
Engajar interessados para obter ou confirmar o seu compromisso contínuo com o êxito
do projeto.
Gerenciar as suas expectativas por meio de negociação e comunicação para assegurar o
alcance das metas.
Abordar proativamente preocupações potenciais que ainda não se tornaram problemas e
antecipar problemas futuros que podem ser colocados por interessados.
Esclarecer e solucionar questões identificadas.
Note que a influência dos interessados é maior no início do projeto e declina à medida que
entregáveis são liberados, daí a proatividade exigida. Contudo, as questões se avolumam com o
passar do tempo, e a influência negativa pode ser mais danosa. Esse processo requer competências
brandas citadas pela norma: confiança, escuta ativa, gestão de conflitos, gestão da mudança,
influência, buscar consensos, negociar e compreender a organização para alterar comportamentos
(e cultura).
51
Controlar o engajamento de interessados é monitorar o engajamento dos interessados, ajustando
estratégias e planos como medida de controle. Em casos extremos, o controle do engajamento pode
recomendar a neutralização de interessados negativos, seja pela substituição, isolamento ou
exclusão. Para evitar as situações extremas, o monitoramento deve ser cuidadoso, e a análise desses
interessados deve incluir opiniões de dirigentes, especialistas e consultores.
Boa política
Se tivesse de renomear a gestão de interessados, eu a chamaria de gestão política, porque é
disso que se trata. Se a política é a arte de mediar antagonismos, cabe bem à situação de projetos
que têm dezenas de interessados, muitos positivos (adeptos, apoiadores, cooperativos), muitos
neutros (indiferentes, inertes, menosprezam o projeto) e muitos negativos (discordam, rejeitam,
sentem-se negativamente afetados pelo projeto).
Costumamos rejeitar a política, sobretudo, os gerenciadores de perfil técnico. Contudo, é
importante notar que as organizações são altamente politizadas: seja por disputas de poder, seja pelo
funil das oportunidades de carreira, seja pelo relacionamento externo com outras fontes de poder
político. Desprezar a política é ingenuidade; praticar a boa política a torna mais nobre e explicita o
seu valor: engajar a todos.
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comunicação por e-mail. Comunicar é codificar e decodificar mensagens, dado que segue o
modelo emissor-receptor da figura abaixo.
O PMI trata da comunicação abrangente: interna e externa; formal e informal; oficial e não;
verbal e não verbal; vertical (com a governança) e horizontal.
A qualidade das relações com interessados, da efetividade da governança e do trabalho em
equipe, da construção de identidade e reputação, do enfrentar resistência a mudanças – todos
dependem da qualidade da comunicação.
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Gerenciar Comunicação envolve criar, coletar, distribuir, armazenar, recuperar e apagar
informação do projeto, isto é, envolve aplicar o plano de comunicação. A qualidade desse processo
depende das tecnologias e políticas de comunicação adotadas pela organização: não basta o esforço
da equipe do projeto. Controlar Comunicação é o processo dedicado a monitorar e controlar a
comunicação ao longo do ciclo de vida do projeto para assegurar a sua efetividade. Se a comunicação
perde eficiência/eficácia, o plano é revisto e aprimorado.
Ainda é raro encontrar organizações que exigem comunicação planejada dos gerenciadores de
projeto. Consequência disso é o excesso de reuniões demoradas e improdutivas, o excesso de
documentos de informação incongruentes entre si, e um esforço exagerado ou negligente da equipe
do projeto, sem obter efetividade da comunicação. Comunicação é o principal problema em
projetos, informa o benchmarking feito pelos capítulos brasileiros do PMI há anos. Diante disso, o
maior esforço deve ser dedicado ao planejamento da comunicação.
O PMBOK Guide recomenda que um Plano de Comunicação do Projeto deve conter:
requisitos de comunicação para cada interessado relevante;
informação – formato, conteúdo, nível de detalhe;
responsáveis pela comunicação;
público-alvo – pessoa ou grupo que receberá informação;
veículos – métodos ou tecnologias usadas para formatar a informação;
frequência – periodicidade e período de tempo do envio ou coleta de informação;
escalação – critérios para escalar decisões e nome dos responsáveis, caso a caso;
atualização – métodos para atualizar o plano de comunicação à medida que o projeto
progride e
glossário dos principais termos.
Note que, quando coletar requisitos e analisar interessados, é importante coletar requisitos de
comunicação: como o interessado deseja ou necessita comunicar-se. Se é um tema tão relevante,
note que cada comunicação precisa ter um responsável designado para ela. Dessa recomendação,
deduzimos como elaborar o plano, basta identificar: informação, responsáveis, público, veículos ou
mídias e frequência da comunicação. A esses itens, costumo acrescentar no plano a forma, que
explica local, duração, registro e infraestrutura requerida.
Porém, a norma adiciona três itens muito importantes: escalação, atualização e glossário. Os
critérios de escalação derivam da governança e indicam quando ocorre a comunicação para decisões
que excedem a alçada do gerenciador. Como todo plano merece controle, a norma sugere a revisão
dos planos, que prefiro fazer periodicamente. Como toda comunicação é sujeita a “ruídos” ou
interferências, diz o modelo emissor-receptor, um glossário garante o entendimento e alinhamento
de todos para a linguagem adotada.
54
Informação sobre o quadro-síntese do projeto;
projeto informação geral do projeto;
decisões urgentes;
55
reuniões e eventos:
reunião de lançamento do projeto, kick-off meeting (apresenta quem está
comprometido), reuniões de apresentação e apresentações itinerantes (road-show);
reuniões periódicas de avaliação, reunião de balanço do projeto, apresentações a
comitês e a dirigentes, reunião de grupo focal com usuários ou clientes,
videoconferência;
eventos de reconhecimento, de comemoração e de networking com parceiros,
premiações;
treinamentos presenciais, a distância e para autodesenvolvimento;
veículos formais:
contratos, concursos, correspondências oficiais e declarações ao público;
encartes, press-releases, casos de sucesso, guia rápido, informativos;
relatórios de status, de progresso ou de tendências.
veículo específico para projetos e situações de crise:
sala de estratégia (war room) – local de acesso restrito usado para reuniões sem
pauta para deliberar assuntos de ação imediata e cotidiana e
brindes, selos, lembretes, encontros informais (happy hour).
Público-
Veículo Frequência Conteúdo Forma Responsável
alvo
56
O quadro anterior oculta as seguintes estratégias que uso ao planejar a comunicação:
1. Para explorar oportunidades de comunicação, acrescento mais públicos ao alvo
(“carona”).
2. Mesclo veículos formais com informais, divulgação com contatos, comunicação
planejada com a que ocorre naturalmente sob demanda.
3. Cautela – o excesso de comunicação é tão contraproducente quanto a falta de comunicação.
4. Quanto maior a resistência a mudanças, mais comunicação é requerida.
57
MÓDULO III – PLANEJAMENTO:
COMPLEMENTAÇÃO
Precisa de sorte?
É da natureza humana que os jovens sejam audaciosos, aventureiros e, por necessidade de
“adrenalina”, atraídos e expostos demasiadamente a riscos. Enquanto amadurecem, as pessoas
mudam a sua aceitação a riscos; às vezes, até vão para o extremo oposto e se tornam avessos a riscos,
mas existe um “caminho do meio”: aquele em que aceitamos muitos riscos sem nos tornarmos
“amantes do risco”, porque sabemos como lidar com eles.
Quanto maior a competência em gerir riscos, maior a nossa capacidade de empreender e lidar
com desafios extraordinários. Nesse ponto, deixamos de depender da sorte e de condições
favoráveis: o sucesso e a sorte não caem do céu, nós construímos.
Desafiando deuses
Nos tempos antigos, tudo era creditado ao acaso e à ação de deuses. O povo era supersticioso:
era a forma de lidar com coisas que não estavam sob o seu controle. No início da época moderna,
século 17, ocorre uma mudança cultural. Depois das grandes descobertas marítimas, na Itália, a
marinheirada gritava “cuidado com o risco”, porque se a embarcação passasse sobre arrecifes e
houvesse um risco no casco, fatalmente iria naufragar. Risco passou a ser um conceito; tanto é que
o verbo risicare no italiano tanto significa riscar, como arriscar. A ciência progredia aceleradamente,
e o conceito de risco demarca o momento em que decidimos assumir esses azares como a nossa
responsabilidade e fonte de controle – e assim desafiamos os deuses.
Riscos estão em toda parte. Derivam do desconhecimento e da ignorância. Derivam da
incerteza sobre o futuro, que traz acidentes, imprevistos, motivos de “força maior” e casos fortuitos
nos contratos, do conturbado e do incontrolável. Isso não significa que sempre queremos eliminar
ou mitigar riscos.
Qualquer risco tem uma dupla natureza: dependendo de como o encaramos pode ser positivo
ou negativo. Vou dar um exemplo: pense nas respostas que funcionários dão para o risco de serem
demitidos. Por um lado, eles podem: esforçar-se mais no trabalho; evitar conflitos ou
comportamentos não aceitos; fazer treinamentos para melhorar o seu desempenho; cancelar viagens
de férias; cortar despesas supérfluas; e adotar medidas legais de proteção ao emprego, tornando-se
membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidenttes (Cipa), de sindicatos, ou até mesmo
engravidar, no caso de mulheres. Por outro lado, e tão usual quanto, podem: atualizar o seu
curriculum; divulgar na sua rede de relações (networking) que está em busca de novos desafios; fazer
cursos para ampliar a sua empregabilidade; buscar outra fonte de renda; buscar novo emprego;
tornar-se empreendedor. Esse risco é apavorante, ninguém gosta de ser demitido, mas a amplitude
de respostas é enorme. Alguns percebem no risco uma ameaça a ser mitigada ou eliminada;
enquanto outros percebem oportunidades a serem exploradas.
A atitude empreendedora se manifesta na gestão de riscos. Diferentemente do pessoal de
finanças e de seguros, para o gerenciador de projetos os riscos não são necessariamente nocivos.
“Quem não arrisca não petisca”, aforismo brasileiro, e “Nothing ventured, nothing gained”, aforismo
norte-americano, sugerem que riscos e oportunidades são duas faces de uma mesma “moeda”: não há
oportunidade sem risco, assim como não há risco que não carregue consigo alguma oportunidade.
60
A norma define risco individual como “um evento ou condição incerta que, se ocorrer,
provocará um efeito positivo ou negativo em um ou mais objetivos do projeto”. O risco geral do
projeto é efeito da incerteza, fonte de riscos e crises: “o risco tem origem na incerteza existente em
todos os projetos”. Existe risco no contexto ao redor do projeto, em condições da organização que
hospeda o projeto ou os riscos decorrentes da própria situação de execução do projeto.
“As organizações percebem os riscos quando eles estão relacionados a ameaças ao sucesso ou
a oportunidades para ampliar a chance de sucesso do projeto”, afirma a norma, e conclui: “a
organização deve estar comprometida com uma abordagem proativa e consistente de gerenciamento
de riscos durante todo o projeto”.
Há sete processos de gestão envolvendo riscos do projeto, mostra a figura.
Planejar o gerenciamento dos riscos é o processo de definição de como conduzir as
atividades de gerenciamento dos riscos de um projeto. Identificar os riscos é o
processo de determinar os riscos que podem afetar o projeto e documentar as
suas características. Realizar a análise qualitativa dos riscos é o processo de
priorização de riscos para análise ou ação posterior por meio da avaliação e
combinação da sua probabilidade de ocorrência e impacto. Realizar a análise
quantitativa dos riscos é o processo de analisar numericamente o efeito dos riscos
identificados sobre os objetivos do projeto. Planejar respostas aos riscos é o
processo de desenvolvimento de opções e ações para aumentar as oportunidades
e reduzir as ameaças aos objetivos do projeto. Implementar respostas a riscos
envolve realizar os planos acordados, se é que eles não foram adicionados ao
escopo do projeto. Controlar os riscos é o processo de implementar planos de
respostas aos riscos, acompanhar os riscos identificados, monitorar riscos
residuais, identificar novos riscos e avaliar a eficácia do processo de gestão dos
riscos durante todo o projeto.
Se a organização dispõe de políticas sobre riscos, o processo de planejar a gestão de riscos é
dispensável. Certas organizações determinam que o Escritório de Projetos auxilie a equipe do
projeto na identificação de riscos. Transnacionais e empresas de capital aberto determinam que os
riscos corporativos dos projetos sejam informados à matriz, tamanho pode ser o impacto deles sobre
a organização. Outras organizações determinam a realização periódica da identificação, análise e
respostas a riscos.
A identificação de riscos é o processo que merece mais cuidado, porém ninguém fica imune
a riscos, daí decorrendo que só percebemos os riscos que desejamos perceber. A audácia juvenil
é consequência de não perceber os riscos ou os seus impactos – e não é por falta de informação, é
que a perspectiva de se defrontar com a morte é tão avassaladora que preferem não tomar
consciência dos riscos – não de forma consciente. O mesmo ocorre com gestores maduros: os riscos
catastróficos convenientemente são deixados de lado.
61
Chernobil, a maior catástrofe causada pelo humano na história estranhou ao governo
soviético: como poderia a elite dos técnicos soviéticos desprezar, como fizeram, o risco de uma fusão
descontrolada do reator, por erro de operação? Depois de acarear dezenas deles, a resposta mais
ouvida foi: “Isso nunca iria acontecer”. Também a melhor polícia do mundo, o FBI, desprezou os
cinco pedidos de investigação no ano que antecedeu o 11 de setembro; um dos pedidos citava a
escola de aviação e o nome de terroristas que depois morreram no ataque. Dez anos depois, o FBI
negligenciou informe do serviço secreto russo que chamava a atenção de um tal de Tamerlan,
naturalizado norte-americano, que havia passado meses em visita a terroristas chechenos – um mês
depois, esse sujeito explodiu bombas na maratona de Boston de 2013.
Diante disso, o Guia PMBOK sugere inúmeras técnicas para identificar riscos em projetos.
Gosto de iniciar por um toró de palpites (brainstorming), para enganar a razão e usar a sagacidade para
perceber o máximo de riscos, até os improváveis e impensáveis. Posso complementar com uma lista
de verificação (check-list). Depois, faço a análise da documentação: um olhar crítico faz perceber
dezenas de riscos. Então, analiso as premissas e restrições: como as premissas são fatores assumidos
como verdadeiros, por detrás de cada premissa há riscos; o mesmo ocorre com restrições. Ainda
completo a lista com a análise SWOT: as fraquezas e ameaças são obviamente riscos do projeto;
contudo, as oportunidades e forças são riscos! Completo a lista com análises de causas-efeitos: como
o risco é uma possibilidade, toda causa de risco é um risco, e todo efeito de risco é também um risco.
A consulta a Estruturas Analíticas de Risco (ver figura) é proveitosa. A norma ainda sugere a
entrevista com interessados (ou oficina de riscos), que permite não só identificar o que não
percebemos, baseado nas suas expertises, como também permite aferir a sua tolerância a diferentes
riscos, o que evitará crises. Resultado: de 150 a 300 riscos são identificados, mesclando riscos positivos
(oportunidades) e riscos negativos (ameaças). São exemplos de riscos em um projeto – adapto os
sugeridos por Wideman (1992):
Ameaças externas imprevisíveis:
desastres da natureza, condições climáticas, força maior, sabotagem e terrorismo;
riscos legais e regulatórios (mudança de legislação, normas e regulamentos);
eventos indiretos causados pelo projeto (desastres ambiental, técnico e social) e
interrupção do projeto por fatores externos.
Riscos externos previsíveis:
mercado (flutuações de demanda e oferta, competitividade, orientação do
consumidor);
ameaça de insolvência e inadimplência de parceiros, fornecedores e
subcontratados;
riscos operacionais (depois de concluído o projeto).
62
Riscos internos, não técnicos:
organizacionais (cultura organizacional, modelo de gestão, competição entre
projetos e por recursos, financiamento, prioridades);
gestão (mudanças sem controle, alterações em metas, planejamento falho,
decisões, conflitos, alterações da equipe) e
execução (logística, acidentes, desastres, falhas na execução).
Riscos técnicos (geralmente controláveis):
mudanças tecnológicas, inovação;
concepção do projeto (erros em requisitos, engenharia, especificação);
qualidade insuficiente;
riscos específicos da tecnologia adotada e
problemas de desempenho técnico, confiabilidade.
A análise qualitativa de riscos visa a selecionar os riscos mais severos. A severidade deriva da
maior probabilidade e impacto (positivo ou negativo) de um risco. Por ser qualitativa, é preciso
reduzir a subjetividade.
Recomendo que um grupo de até 10 pessoas faça essa análise, expurgando avaliações anômalas.
Transformo o conceito de “alto”, “moderado” e “baixo” em números, e escolho a moda (número mais
frequente) das avaliações, tanto de probabilidades de ocorrência quanto de impactos.
63
A técnica FMEA, muito usada por especialistas em qualidade, avalia um terceiro fator: a
dificuldade relativa de detecção. Multiplicando a avaliação de probabilidade, impacto e detecção,
temos uma medida da severidade. Para escolher os riscos mais severos de uma lista em ordem
decrescente de severidade, há três métodos:
1. Pareto ou regra 80/20 – escolha 20% dos riscos com maior severidade, que em geral eles
somam 80% do total.
2. Curva ABC – escolha os riscos que totalizam 70% do somatório das severidades, eles são a
curva A.
3. Regra de Sabbag – varra a lista de cima a baixo e pare quando julgar que os riscos mais
severos acabaram.
Inventei essa terceira regra por uma simples razão: se a análise qualitativa é subjetiva, não faz
sentido usar a matemática para a seleção de riscos. Mesmo quando ocorra muita subjetividade nas
avaliações de probabilidades e impactos, como a avaliação é relativa, a lista em ordem decrescente é
quase confiável – o nosso escrutínio seleciona os mais severos.
Na lista de riscos identificados, não sei discernir o que é risco mensurável e o que é incerteza.
Lembre que todo projeto é único, portanto, não temos histórico em que nos basear para fazer
análises estatísticas. Por isso, poucos riscos permitem fazer uma análise quantitativa: riscos de
prazos, de custos e de retorno do investimento são os principais. Veja em artigo específico como
proceder nesses casos, fazendo uma simulação de Monte Carlo.
O Guia PMBOK recomenda: riscos severos merecem respostas específicas para cada um
deles. As respostas podem ser de prévias (antes de o risco eclodir), o que chamamos de Planos A,
ou contingenciais (depois da eclosão do risco), que chamamos de Planos B. Essa é a “abordagem
proativa e consistente”: raramente eliminamos riscos, portanto, por mais que as minhas respostas o
enfrentem, eles ainda podem ocorrer. Por isso, precisamos de Planos B, C, etc. Se ainda podem
ocorrer, o projeto está “exposto” ao risco.
A norma faz a separação entre os tipos de respostas para ameaças e para oportunidades:
Respostas para AMEAÇAS:
Escalar – para decisões fora do alcance do escopo ou do gerenciador;
Prevenir – resposta que elimina a ameaça;
Transferir – resposta que transfere a responsabilidade a terceiros;
Mitigar – respostas que reduzem a probabilidade ou os impactos da ameaça e
Aceitar – nada fazer significa aceitação passiva; definir Planos Contingenciais
(Planos B) significa aceitação ativa.
64
Respostas para OPORTUNIDADES:
Escalar – para decisões fora do alcance do escopo ou do gerenciador;
Explorar – dar prioridade e garantir que a oportunidade seja explorada;
Compartilhar – transferir a terceiros para que eles compartilhem benefícios;
Melhorar – respostas para aumentar a probabilidade ou os impactos e;
Aceitar – nada fazer significa aceitação passiva; definir Planos Contingenciais
(Planos B) significa aceitação ativa, criando reservas de contingência para
aproveitar a oportunidade.
Plano B –
Ameaça Probab. Impacto Severid. Plano A – prevenção
contingencial
Contratar apoio
especializado em estimar B1. Rever
demanda. planos visando
a acelerar
Vendas Criar rigoroso controle vendas
mensal de vendas.
do B2.
produto Efetuar análise de valor Renegociar
visando a reduzir gastos com
do
3 7 21 remanescentes. interessados
projeto
abaixo Controlar com rigor fatores B3. Informar a
geradores de problemas quem de
do
com vendas a fim de oportuno
esperado remover obstáculos.
C1.
Ser mais rigoroso na Interromper
decisão sobre retorno do projeto
investimento.
65
medidas de Plano B, porque muitos podem aderir diretamente a elas, desprezando o Plano A, ou
então podem alarmar-se com a sua gravidade, sem motivo para tanto.
Depois de validado o plano de respostas a riscos e durante a execução do projeto, os Planos
A, B e C precisam ser implementados. Note-se que qualquer resposta implementada pode criar
outros riscos, denominados riscos secundários. Note que ganhamos compreensão à medida que o
projeto avança, portanto, novos riscos são percebidos.
Para completar, como fazer o controle de riscos? Durante a execução, o Plano de Respostas a
riscos é revisto: riscos ocorridos e respostas são avaliados, novos riscos são incluídos no plano,
inclusive riscos secundários.
Sagacidade é essencial
Se o que mais caracteriza um projeto é a incerteza e os riscos associados, gerir riscos é essencial.
Contudo, isso envolve um perfil de competências muito abrangente. Perspicácia e sensibilidade
para riscos (gut feelings) são indispensáveis para a identificação de riscos. Uma boa dose de
sagacidade e temperança é necessária para a identificação e seleção de riscos. Porém, para responder
a riscos, o gerenciador precisa da razão treinada e de criatividade para as respostas não
convencionais. Novamente, a sensibilidade é importante para avaliar quando certos riscos eclodem
e, sobretudo, quando se transformam em crises. A prontidão para responder a problemas
emergentes (workaround) requer uma atitude atenta, alerta e flexível, sobretudo proativa.
Fontes
CHAPMAN, C. B. Project risk management: processes, techniques, and insights. Chichester: John Wiley, 1997.
PMI – Project Management Institute. Guia PMBOK: um guia para o conjunto de conhecimentos em gerenciamento
de projetos. 6. ed. Newtown Square: PMI, 2017.
WIDEMAN, R. M. Project and program risk management: a guide to managing project risks and opportunities.
Newtown Square: PMI, 1992.
66
Gestão de Cronograma do Projeto
Pontualidade
Você é pontual na sua vida pessoal e profissional? Admiro quem é pontual sem fazer disso
uma obsessão, porque denota que você é organizado e contável (accountable): cumpre o que
promete. Quem não é pontual, mas deseja ser, tem duas opções: espaça mais os seus compromissos,
chegando muito antes do agendado; ou planeja e gerencia o seu tempo. A primeira opção sacrifica
a eficiência; portanto, admito que o tempo precisa ser gerenciado como qualquer outro recurso.
Nesse caso, ser pontual significa ser mais eficiente porque usa melhor o seu tempo, e ser mais eficaz,
porque cumpre o que planejou.
Outra questão: você usa técnicas sofisticadas para planejar tempos ou usa o computador
apenas para desenhar “barrinhas” de um cronograma? Quero mostrar a arte de gerir cronogramas.
Em outro artigo, verá a técnica de usar softwares para gerir cronogramas.
67
Otimizar cronogramas implica os sete processos de gestão da figura ao
lado. Em minha opinião, eles poderiam ser apenas três processos: planejar a gestão
de cronograma, desenvolver cronograma e controlar cronograma – os demais
processos são apenas etapas do processo de desenvolver cronograma. Contudo, a
norma alerta que optou por separá-los porque utilizam técnicas distintas – é um
preciosismo; se o objetivo é o término pontual, não há porque separá-los.
Planejar gestão de cronograma é definir critérios para elaborar
cronograma: métodos e ferramentas; nível de exatidão; critérios de atualização
e limites de controle. A questão-chave desse processo é a definição de
ferramenta: qual sistema de gerenciamento de projetos será utilizado, caso não
exista uma política para o tema.
Definir atividades equivale a detalhar a EAP no nível mais baixo dos
pacotes de trabalho. Se esse detalhamento já foi feito quando do planejamento
de escopos, este processo é dispensável. Todos os entregáveis são definidos.
Também os marcos (milestones) obrigatórios ou contratuais são produtos desse processo.
Sequenciar atividades, informando qual atividade precede ou sucede outra. São estudadas as
ligações entre atividades e entregáveis, em todos os níveis da EAP. O método para isso é o diagrama
de precedência.
Estimar durações para cada atividade significa estabelecer com a maior exatidão possível as
durações de cada atividade, em condições normais de trabalho. Quando a duração de uma atividade
é elástica, muda caso a caso, recomenda-se fazer uma “estimativa de três pontos”, calculando a
média ponderada das durações otimista, esperada e pessimista. Se a sequência e as durações foram
determinadas, conhecemos a duração global do projeto, embora nenhuma otimização ou verificação
tenha sido efetuada. A maioria dos gestores não profissionais para aí e se contenta com esse desenho
de cronograma. É um grave erro.
Desenvolver cronograma é o processo mais importante porque ele visa a otimizar e tonar mais
viável o cronograma desenhado. Requer: verificar se cada duração não é otimista ou pessimista;
inserir datas-marco (milestones) não só para os entregáveis como para controle; administrar folgas,
reduzindo sobrecargas pontuais e nivelando os esforços de cada recurso planejado; verificar se o
prazo global é aceitável. Como se vê, se o gerenciador não considerar este processo, o cronograma
produzido tem baixa qualidade – não servirá de guia para os executores; sofrerá revisões constantes;
será difícil de controlar.
Para desenvolver o cronograma é usual utilizar o método do caminho crítico. O nivelamento
de recursos, com análises “e se...” também é útil. Adoto uma regra heurística: não aceito executar um
projeto com mais de 40% de atividades críticas, 50% no extremo. Se estou otimizando um
cronograma, e o grau de criticidade é superior a 50%, adiciono “pulmões” dilatando o prazo de alguns
entregáveis: a duração global cresce, mas a chance de terminar no prazo também aumenta.
68
Otimizado o cronograma, temos a melhor definição de prazo global para o projeto.
Todavia, é comum que esse prazo global vá além do esperado por interessados e definido como
expectativa no Termo de Abertura do Projeto. O que fazer então? Ainda como ação de
desenvolvimento do cronograma, é preciso efetuar a “compressão” do prazo. Há duas formas de
fazer a compressão do cronograma:
Compressão, que prefiro chamar Esmagamento (crashing), que encurta durações pela
adição de recursos ou ampliação da jornada de trabalho. Permite reduzir à metade a
duração global do projeto, contudo, amplia demasiadamente riscos e custos;
Paralelismo, que prefiro chamar de Execução Acelerada (fast tracking), quando fases e
atividades críticas se superpõem, causando redução da duração global. Como heurística,
não aceito superposição global superior a 50% em fases e atividades. Permite reduzir até
30% da duração global, contudo, amplia os problemas de coordenação e gestão.
Note a arte de produção do cronograma: usa-se a melhor cognição para definir escopos do
projeto; usa-se a melhor técnica para sequenciar atividades, estimar recursos e durações para cada
atividade; se for necessário, efetua-se o esmagamento do cronograma.
Se for possível definir a duração global do projeto sem compressão, essas duas técnicas ficam
reservadas para uso na mitigação de atrasos eventuais durante a execução. Nesse caso, tentamos
primeiro a via rápida o quanto possível, reservando o esmagamento como Plano B para situações
excepcionais. Contudo, se no momento do planejamento do projeto já se define um prazo forçando
uma compressão do cronograma, “queimam-se” todas as possibilidades de recuperar atrasos – e
explodem os riscos.
Sem otimizar o cronograma, não é possível confirmar o planejamento da equipe do projeto.
Somente quando avaliamos o esforço de cada recurso para uma dada sequência de execução e
durações é possível comprovar que a execução naquelas condições é viável. Aqui há uma estreita
relação com o planejamento da equipe do projeto: um depende do outro. Como se vê, planejar
tempos, custos e recursos são processos intrincados, que devem ser feitos ao mesmo tempo, nos
momentos finais do período de planejamento.
Aprovado o planejamento, esse cronograma otimizado passa por aprovação do patrocinador,
cliente e dirigentes, tornando-se um baseline, que prefiro chamar de referência para controle. Cada
vez que a realidade indicar que a execução ocorre em tempos distintos, torna-se necessário controlar
o cronograma.
Controlar o cronograma envolve coletar e tratar informação para atualizar o cronograma no
sistema, informando datas reais de início, término das atividades e os percentuais executados.
Como tudo flui, as coisas não acontecem conforme o planejado. Um general francês afirmou:
“Quando a guerra começa, a primeira vítima são os planos”. Diante dele, Napoleão Bonaparte
afirmou: “Planos não são nada, planejamento é tudo”: ter um plano não é nada porque planos ficam
obsoletos; ter planejamento é tudo porque permite rever os planos. Na mesma linha, Mané
69
Garrincha fustigou o técnico da seleção brasileira de futebol na véspera do jogo contra a União
Soviética, na final da Copa do Mundo de 1962: “Gostei dos planos, seu Feola, mas fiquei com uma
dúvida: o senhor já combinou com os russos?”. Genial, o jogador percebeu que em ambiente de
incerteza e risco os planos são apenas guias, e eles precisam ser revistos durante a execução.
Torna-se necessário rever o cronograma, mas como ele não foi aprovado? Vamos esclarecer:
o que é fixo são os marcos aprovados. Este é o compromisso estabelecido pelo gerenciador do
projeto. A sequência de execução e a alocação dos recursos é assunto de responsabilidade do
gerenciador, e ele só pode recuperar atrasos se atualizar o cronograma e estudar novas otimizações.
Em minha prática de gestão de projetos, gasto duas horas no início de cada semana para
atualizar dinamicamente o cronograma, estudando o que fazer para recuperar atrasos. É
suficiente e efetivo!
Fontes
PMI – Project Management Institute. Guia PMBOK: um guia para o conjunto de conhecimentos em gerenciamento
de projetos. 6. ed. Newtown Square: PMI, 2017.
70
Planejar é otimizar e antever problemas
O Plano de Gestão do Projeto é um documento detalhado, que usualmente consome um mês de
esforço de uma equipe com cerca de seis membros. Usando como base a norma do PMI, esse
documento contém pelo menos nove planos: interessados, comunicação, riscos, qualidade, aquisições,
recursos humanos, escopos, tempos e custos. Cada plano afeta os demais, portanto, não há uma ordem fixa
a ser seguida pelos planejadores. Além dos nove planos, costumo inserir no início desse documento um
Sumário Executivo no mesmo padrão do Termo de Abertura, para que a comparação entre eles revele
se há incongruências que motivariam solicitar nova aprovação do Plano.
Sumário Executivo
71
Objetivos:
Resultados:
Benefícios:
Premissas:
Há mercado – classes A e B do Brasil, em particular das cidades de São
Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba.
Recuperação da economia brasileira ocorre durante 2018.
Produtos culturais aceitam divulgação e condições especiais.
Assume-se como modelo de gestão do projeto o PMI.
Assume-se a confecção de site responsivo – acessado por notebook, tablet
ou celular.
Como O negócio requer organização enxuta, evitando a verticalização da
operação.
A equipe do projeto é formada pelo pessoal que depois ocupará posições
do organograma da empresa, visando a reduzir a curva de aprendizado.
Restrições:
legislação brasileira;
Código de Ética e Conduta do PMI, enquanto não for definido o da nova
empresa.
72
Escopo do produto:
Escopo do projeto:
Como gestão – planejamento e controle, comunicação, aquisições, finanças,
recursos humanos, apoio jurídico;
desenvolvimento da marca;
registro da empresa e contratação de contador;
desenvolvimento do modelo de negócio;
coleta de requisitos para desenvolvimento do site;
desenvolvimento e testes do site;
definição de parcerias culturais;
coleta de produtos a disponibilizar no site;
planejamento de marketing digital;
campanha de lançamento do serviço;
Esse sumário foi comparado ao Termo de Abertura aprovado pelos acionistas, determinando
nova aprovação deste plano devido a diferenças substanciais.
73
Plano de gestão de interessados
Este plano apresenta as estratégias para engajamento dos principais interessados (stakeholders)
do projeto. Essas estratégias dirigem a elaboração do Plano de Comunicação. No anexo, costumo
adicionar um quadro registrando o Registro de Interessados que contém: nome, posição, função
no projeto e meios de contato.
Interessado Estratégia
Esse plano poderá ser revisado caso se perceba a existência de tensões e conflitos entre
interessados, bem como se forem notadas defasagens no engajamento de interessados.
74
Plano de gestão da comunicação
Este plano contém todos os veículos planejados para informar e para comunicar interessados
durante a execução do projeto. Inclui também as rotinas para a tomada de decisão no projeto e as
iniciativas educacionais. Usualmente, na forma de quadro, para permitir a visão sistêmica da
comunicação.
Este plano deriva do Plano de Interessados e dos objetivos de comunicação definidos:
Comunicação atende a necessidades e expectativas dos interessados, portanto, é aprovada
por eles.
Comunicação visa a: alinhar informação sobre a execução; criar atmosfera favorável para
a execução harmônica; ampliar a eficiência e eficácia da execução do projeto.
Comunicação deve ser distribuída ao longo do ciclo de vida do projeto e deve ser reforçada
caso existam conflitos, crises e resistência a mudanças por parte dos afetados.
1. equipe do
projeto
Paulo, Mario, duração: 70’
reunião 2. plano do projeto
Ernesto, Rui dia 36 local: sede Rui
kickoff 3. matriz de
e convidados café e ata
responsabilidade
4. dúvidas
1. situação atual
bimestral a Rui, com
reunião com 2. decisões duração: 30’
Paulo e Rui partir de apoio da
patrocinador urgentes local: sede
mar.18 equipe
3. próximos passos
75
Mídia Público-alvo Periodicidade Conteúdo Forma Responsável
duração: 8h
1. a empresa
local: sede contratado,
treinamento 2. valor para o
com apoio
de Funcionários out.18 cliente café de equipe do
funcionários 3. operações
material projeto
4. casos e soluções
didático
Duração: 60’
Paulo, Mario, 1. o serviço Rui, com
evento de
Ernesto, Rui e 30.11.2018 2. fale conosco Local: TBD apoio de
lançamento
convidados 3. degustação Paulo
café e brindes
1. termo de
abertura
2. planos digital,
dossiê do 3. contratos registrado na
Paulo e Rui 31.03.2019 analista1
projeto 4. documentos base de
5. relatórios conhecimentos
6. lições
aprendidas
Esse plano será revisto na metade do prazo do projeto, a menos que solicitado pelo
patrocinador ou ocorrendo conflitos com interessados. Na ocorrência de crise, esse plano será
desdobrado em um plano emergencial, sem perder a validade deste plano.
76
Plano de gestão de riscos
Para o PMBOK Guide, os riscos incluem ameaças e oportunidades. Ambos podem ter
impactos positivos ou negativos para o projeto. Foi efetuada a identificação de riscos, com o uso
das técnicas: toró de palpites, análise da documentação, causa-efeitos, entrevistas com interessados
e Análise SWOT. Foram identificados 86 riscos, classificados pela severidade, isto é, pelo produto
da probabilidade de ocorrência pelo impacto, que usualmente é mostrado no anexo. Foram
selecionados os 18 riscos cuja severidade acumulada representa 70% do total de severidade, conceito
extraído da “Curva ABC”. Para cada risco severo foram criados planos A de prevenção e planos B
de contingência. Extrato do Plano de Respostas a Riscos:
77
Plano de gestão da qualidade
Planejar a qualidade do projeto envolve criar métricas para os fatores que envolvem a
aprovação do projeto e que, portanto, determinam a satisfação dos interessados. O PMBOK Guide
menciona métricas de qualidade do produto e qualidade do projeto. Diante da relevância da
satisfação de interessados – que, para mim, é a principal medida de sucesso do projeto –, costumo
adicionar a qualidade percebida, como mostra o quadro a seguir:
80% de “ótimo” e
pesquisa de satisfação do “bom” na média das
usuário (anexo), medida avaliações
1. satisfação do cliente
180 dias após lançamento
2. satisfação do mínimo de 80
qualidade
acionista avaliação a 90, 180 e no pontos em escala
percebida
3. satisfação da lançamento de 0 a 100
equipe do projeto
avaliação a 90, 180 e no mínimo de 80
lançamento pontos em escala
de 0 a 100
índice de falha em
decisões
inferior a 20%
4. eficácia do índice de cumprimento
qualidade superior a 80%
planejamento dos planos
do projeto inferior a 200h
5. valor agregado índice de horas extras não
planejadas IDP e IDC > 1
mínimo de 70%
evolução da carteira de
6. adesão do mercado
clientes após lançamento mínimo 93%
qualidade 7. desempenho
do financeiro evolução do faturamento resultado líquido
produto 8. retorno do mensal após lançamento superior a
investimento
evolução mensal do DRE R$ 300.000 a partir
do 6º mês
Oportunamente, serão definidas métricas para a organização a ser criada, permitindo operar
sobre todos os contratados definindo Acordos de Nível de Serviço (ANS) para assegurar a qualidade
do produto, no que tange à contribuição de cada contratado.
78
Plano de gestão de aquisições
Uma premissa agora adotada é a de que o negócio requer organização enxuta, evitando a
verticalização da operação. O quadro abaixo evidencia os quatro principais contratos.
Formalizar: 2
escritório de preço melhor meses.
legal convite R$ 20.000
advocacia global preço Executar: 3
meses.
preço Formalizar: 2
desenvolved global meses.
tomada técnica e
tecnologia or de com R$ 80.000
de preços preço Executar: 5
sistema prêmio e
multa meses.
Formalizar: 2
preços meses.
agência melhor
marca convite unitários R$ 60.000
publicidade preço Executar 4
com teto
meses.
Formalizar: 3
agência de meses.
preços melhor
marketing marketing convite R$ 200.000
unitários preço Executar: 4
digital
anos.
O escopo detalhado de cada pacote de contratação será deduzido a partir do Plano de Gestão
do Escopo. Os requisitos para a contratação de cada pacote serão definidos oportunamente pela
equipe do projeto. Será feita avaliação de mercado visando a operacionalizar a seleção dos
convidados e cadastrados. Serão definidas minutas de contrato, a serem disponibilizadas aos
licitantes para que preparem as suas propostas. Além dos investimentos em contratações, não se
podem desprezar os investimentos em infraestrutura, publicidade e serviços de contabilidade.
79
Plano de gestão de recursos humanos
Outra premissa adicionada é a de que a equipe do projeto será formada pelo pessoal que
futuramente ocupará posições do organograma da empresa, visando a reduzir a curva de
aprendizagem. No primeiro ano, o CEO terá quatro funcionários: eles serão recrutados em 60 dias,
para compor a equipe do projeto. Depois de recrutados, terão dedicação exclusiva ao projeto. A
data-marco da sua mobilização também pode ser observada no cronograma. O quadro a seguir
indica papéis e responsabilidades deles.
Envolvido no
Papéis e responsabilidades
projeto
80
Oportunamente, será produzida a Matriz de Responsabilidades, baseada no cronograma
detalhado do projeto, repartindo de modo específico as responsabilidades em cada atividade do
escopo. Durante a execução, o Gerenciador do Projeto responde pela gestão da equipe e aplicação
das melhores práticas de gestão de pessoas.
NEGÓCIO
SISTEMA
Contém:
1. eventos e objetos culturais;
2. comando de busca;
3. publicidade;
site EE
4. testemunhos;
5. agenda de eventos;
6. assinatura e
7. fale conosco.
81
NEGÓCIO
Para organizar o escopo do projeto, foi produzida a seguinte Estrutura Analítica do Projeto (EAP):
82
Todas as solicitações de mudança de escopo serão encaminhadas ao gerenciador do
projeto, que decidirá se pode ser aprovada imediatamente e por quem, ou se necessitará de
estudos antes da aprovação. Um registro de solicitações para monitoramento está disponível
com o Gerenciador do Projeto.
Para readequar-se à realidade, o cronograma será revisado a cada 15 dias. Contudo, caso
datas-marco oficiais venham a ser alteradas na revisão do cronograma, isso exigirá que o plano de
projeto seja revisado e novamente aprovado.
83
Como elas alteram o que foi aprovado no Termo de Abertura, torna-se necessária nova
aprovação deste plano. O cronograma resumido do projeto é apresentado na figura abaixo:
84
8. Conflito de interesses – não subcontratamos serviços, nem divulgamos ou protegemos
quaisquer produtos culturais cujos responsáveis tenham ou pareçam ter qualquer vínculo
com a empresa e os seus funcionários.
9. Relacionamento comercial – não prestamos serviços a clientes ou divulgamos produtos
de origem duvidosa.
10. Sustentabilidade – adotamos todas as políticas necessárias à proteção do meio ambiente,
da saúde e da segurança do pessoal e da clientela.
Anexos
Registro de interessados
Lista de riscos – avaliação qualitativa
Questionários de satisfação
85
MÓDULO IV – MONITORAMENTO,
CONTROLE E ENCERRAMENTO
88
nenhum dos fatores, por isso um dirigente de banco alardeava: “Para conquistar o certo, é preciso
fazer o certo, do jeito certo”.
Controlar é decidir para assegurar governabilidade. Decidir sobre cada área do
conhecimento envolvida na gestão. Controlar escopos significa decidir sobre mudanças. Controlar a
qualidade é decidir sobre aceitar os entregáveis e exigir retrabalho sempre que o nível de qualidade
planejada não é atingido. Controlar custos e tempos é verificar, a cada momento, se a execução do
projeto agrega valor – gestão pelo valor agregado (earned value) fazendo mais por menos, isto é,
realizando o projeto melhor que o planejado. Gerir a comunicação é tomar ações corretivas para
preservar o bom relacionamento e alinhamento de todos. A ela se soma o controle dos interessados,
que visa a decidir como sustentar o engajamento de todos. Controlar riscos é acionar os Planos B
(contingenciais) e praticar o workaround: prontas respostas para problemas emergentes visando a
ampliar a chance de sucesso do projeto. Controlar aquisições e o trabalho visa a, sobretudo, assegurar
eficiência e competência dos envolvidos na execução. Para concluir, controlar a integração nada mais
é que rever o Plano do Projeto e a sua liderança sempre que necessário.
O ápice do controle ocorre no momento de avaliar e aceitar os entregáveis, produtos e
resultados do Projeto. Muitas vezes isso envolve realizar testes, homologar e avaliar resultados. Esses
processos fazem parte do grupo de processos de encerramento do projeto.
Encerrar o projeto envolve obter a aceitação provisória e depois a aceitação definitiva. Isso
está definido no Código Civil Brasileiro, quando trata da entrega futura de qualquer bem ou serviço.
A aceitação provisória significa apontar não conformidades no produto ou entregável. Supõe-se que
é necessário um tempo para que essas conformidades sejam eliminadas, por isso vem depois a
aceitação definitiva.
Obtida a aceitação provisória, é uma decisão do cliente do projeto se ele aceita que as
responsabilidades sejam transferidas a ele ou se aguardará a aceitação definitiva – é questão de
conveniência, o direito está assegurado desde que apontadas as não conformidades. Contudo, venho
observando um problema nas corporações brasileiras: definida a aceitação provisória de um novo
software, decide-se colocá-lo em “produção” ou operação; mas para isso é exigida a homologação,
por questões de auditoria. Parece insanidade, mas o que se pratica é fornecer uma “homologação
provisória”, seja lá o que isso significa.
Encerrar o projeto também inclui avaliar resultados do projeto, completar o dossiê com a
documentação do projeto, coletar as lições aprendidas e desmobilizar a equipe do projeto (handover)
assim que as responsabilidades foram totalmente transferidas a alguém. No caso de haver um cliente
externo, resta uma responsabilidade à organização que hospedou o projeto: efetuar serviços em
garantia – dita a legislação de defesa do consumidor, mas isso não impede de desmobilizar a equipe
do projeto.
89
Quando há negligência durante a aceitação, a transferência de responsabilidades é dificultada,
a aceitação definitiva não ocorre, e os membros da antiga equipe do projeto continuam a serem
acionados ao mínimo problema, por serem os que mais conhecem os produtos do projeto. Por isso
é tão importante sistematizar e regrar como se dará a aceitação do projeto.
Sobre a avaliação de resultados, há mais uma coisa a transferir: alguns indicadores de
desempenho usados durante o projeto podem continuar a serem usados depois. Como os
gerenciadores costumam ser os que mais entendem de criar indicadores, a equipe do projeto pode
inclusive criar um painel de controle contendo indicadores pós-projeto. Isso permite avaliar
benefícios, por isso é explicitado na norma do PMI para a gestão de programas.
Sobre as lições aprendidas, há que diferenciá-las das “melhores práticas”: as primeiras incluem
aprender com os erros, enquanto as últimas pretendem perenizar os melhores acertos. Prefiro coletar
as lições aprendidas: para mentes preparadas, os erros ensinam mais que os acertos. Para a
efetividade disso, é preciso planejar o que mais ensina, para criar o sistema de coleta, processamento
e registro dessas lições. Considero todos os incidentes ocorridos, os fatores causadores de desvios e
as contingências ocorridas como as melhores fontes.
Revalorizando o controle
Nas hierarquias, ninguém gosta de ser controlado. Controle, nesse caso, significa que o chefe
cuida para que o trabalho seja adequado, quase sempre desempoderando e removendo a liberdade
de funcionários responsáveis atuarem.
Em projetos, controlar é uma função nobre, significa corrigir desvios, colocar o “trem de volta
nos trilhos” do planejamento. Sem controle, qualquer resultado é justificável. Sem controle, não
há gestão. Essa concepção está distante do senso comum sobre o conceito de controle nas
hierarquias. Precisa ser revalorizado.
90
Controle baseado em monitoramento
Para o PMI, há uma grande diferença entre monitorar e controlar. Monitorar requer coletar
informação para divulgar aos interessados; equivale a acompanhar a execução; portanto, é de certo modo
passivo. Controlar envolve tomar decisões para corrigir o rumo da execução frente ao planejado.
Há muitas organizações que monitoram a execução, mas não usam essa informação para
controle; em outras, há excelente controle – decisões ágeis e firmes –, porém, na ausência de
monitoramento metódico. Nenhuma dessas opções é adequada: monitorar sem controlar é assistir
passivamente os riscos ocorridos; controlar sem monitorar envolve decisões arbitrárias que podem
levar o projeto a condições muito diferentes das aprovadas no Termo de Abertura. Por essa razão,
o PMI preconiza um controle baseado em monitoramento metódico.
Para evidenciar o monitoramento e controle da execução, o entregável usual é o relatório. São
usados três tipos de relatório, cada qual endereçado a diferentes interessados: status, progresso e
tendências. Status revela apenas a situação presente; Progresso compara a evolução da execução até o
momento atual; Tendências compara a situação presente com a tendência futura.
Este caso demonstra um Relatório de Status endereçado ao comitê executivo; um Relatório
de Progresso endereçado ao setor de controle de investimentos; e um Relatório de Tendências,
endereçado ao patrocinador do projeto. Cada qual em um momento diferente.
91
Relatório de progresso – 30 de setembro de 2018
indicadores:
situação
VP – Valor Planejado: R$ 293.000 (sem margem)
atual
CR – Custo Real: R$ 201.000 de R$ 750.000 = 27%
92
A curva “S” atual é:
controle de
investimento
controle da
Não houve alterações na equipe do projeto; todos foram mobilizados conforme
equipe do
os prazos planejados.
projeto
próximos
1. Agilizar definição de parcerias e coleta de produtos culturais – pode haver
passos –
atrasos em relação ao planejado.
curto prazo
93
Relatório de tendências – 30 de dezembro de 2018
94
Foco é o controle, não a divulgação
Os exemplos acima mostram as diferenças entre relatórios de status, progresso e tendências.
Os conteúdos e a profundidade dos relatórios podem variar. Há relatórios adicionais pré-
formatados no software de gerenciamento de projetos, muito úteis para controlar progresso. A
organização pode usar sistemas de business intelligence para criar painéis de controle digitais
(dashboards), automatizando parte da produção dos relatórios.
Ressalte-se que os relatórios visam ao controle do projeto, isto é, às decisões corretivas e à
eventual solicitação de revisão dos planos existentes. A informação é insumo para a gestão, visando
a ampliar a chance de sucesso do projeto.
95
Valor agregado e índices de desempenho
A relação entre tempos e custos acumulados foi popularizada como “Curva S”, utilizada desde
meados do século 20. O formato do gráfico (ver Figura 1) corresponde à letra “S” sugere que, no
início, os gastos demoram a “engrenar”; depois, gasta-se em ritmo acelerado; e, perto do fim,
novamente os gastos desaceleram.
O problema da curva S é que ela não apoia as decisões de controle de gastos, porque não se sabe
se gastos acumulados menores que o previsto se devem a atrasos na execução ou por economia. Falta
uma informação importante: o que foi realmente executado, comparado ao planejado.
Vamos aos conceitos:
Valor Planejado (VP) – em um dado momento, é a parcela do orçamento do projeto
correspondente ao trabalho planejado para ser executado até o momento.
Custo Real (CR) – é o somatório dos custos realizados no projeto até o momento.
Valor Agregado (VA) – é a medida do trabalho realmente realizado, expressa em valores
extraídos do orçamento. O valor máximo de VA corresponde ao Orçamento do Projeto,
ocasião em que todo o escopo foi concluído. Para que seja consistente, é usual considerar
apenas trabalhos concluídos, dada a falta de precisão de percentuais executados.
96
O gráfico abaixo mostra a curva S que a cada momento determina o VP – Valor Planejado. Mostra
também, até o momento (“data dos dados” ou data date, no inglês) a curva do Custo Real (CR) e
a curva S do Valor Agregado (VA). A curva do VP termina com o custo acumulado equivalente ao
Orçamento No Término (ONT). Note que a curva CR projeta para o futuro gastos maiores que
os orçados – Estimativa No Término (ENT) – se nenhuma medida de controle for adotada.
Contudo, a posição da curva do VA ilumina o problema: se ela está abaixo da curva VP, significa
que o avanço da execução é inferior ao planejado, porque VA representa o trabalho realizado, mas
a preços do orçamento, não a custos reais. Como calcular os valores de CR, VP e VA?
97
Calculados os três valores, vamos à análise para tomar decisões de controle. O Cronograma
exemplificado ao lado mostra a duração de cinco meses – suponha que estamos a 30% dessa
duração. Suponha que o orçamento é $ 1.000 e já foram consumidos $ 500. O que se pode
concluir? Nada: pode ser que gastamos mais que o planejado, o que é ruim, mas pode ser também
que a execução está acelerada, o que seria bom.
Nesse exemplo, VP corresponde a 30% do orçamento, portanto, é $ 300. CR é $ 500, como
foi apurado na contabilidade do projeto. Para calcular VA, vamos usar o critério 0-50-100. A
atividade A foi concluída, representa 100% do custo orçado dela; a atividade B não chegou à
metade, portanto, consideramos 0% do valor orçado; a atividade C está atrasada, consideramos 0%
do orçado; a atividade D não deveria ter iniciado, mas realmente passou da metade da execução,
portanto, consideramos 50% do seu valor orçado. Somando os valores de cada atividade
multiplicados pelos percentuais correspondentes, chegamos ao VA de $ 400.
Para analisar a situação, podemos medir variações de prazo e de custo, ou então medir índices
de prazo ou de custo. Prefiro a segunda opção, cujas fórmulas são:
IDP – Índice de Desempenho de Prazos: IDP = VA/VP
IDC – Índice de Desempenho de Custos: IDC = VA/CR
No exemplo IDP = 400/300 = 1,33. Toda vez que o índice de prazos é superior a 1, significa
que o ritmo de execução é maior que o planejado. Se for inferior a 1, o IDP indica ritmo mais lento
que o planejado. Por sua vez, o IDC = 400/500 = 0,8. Toda vez que IDC é maior que 1 significa
que se gasta proporcionalmente menos que o orçado; se for inferior a 1 significa que se gasta
proporcionalmente mais que o orçado para aquilo que foi efetivamente realizado. Conclusão: o
projeto está acelerado, o que é bom, contudo, gasta-se demais. As decisões de controle poderiam
ser: manter o ritmo acelerado, porém aumentando a eficiência de custos, fazendo esforço para
reduzir os gastos futuros.
98
No caso de projetos de construção, há gastos com materiais e gastos com pessoal. Os materiais
podem ter sido comprados antecipadamente e estão armazenados prontos para uso. Separando
materiais e mão de obra, poderemos aplicar os critérios para percentuais concluídos.
Sintetizando, a Gestão pelo Valor Agregado (GVA) permite controlar ao mesmo tempo o
ritmo de execução e de gastos. Uma terceira variável pode ser igualmente controlada: o esforço de
recursos. O critério usado para medir a conclusão de atividades cria uma nova mentalidade: concluir
atividades, sem deixar “rabichos” para trás.
Agregando valor
Ao comparamos a evolução do IDP e IDC ao longo do ciclo de vida do projeto, evidencia-se o
esforço do gerenciador do projeto em “agregar valor” ao projeto. A muitos escapa a razão de nomear o
trabalho executado em valores orçados como “valor agregado” – vamos refletir sobre isso.
Suponha que o projeto, em um dado momento, realizou exatamente aquilo que havia sido
planejado, tanto em prazos quanto em custos. Como ficariam os índices de desempenho? Claro,
IDP = 1 e IDC = 1. Não está ruim nem bom, está neutro. Significa que o gerenciador e a equipe se
esmeram por cumprir os planos, mas não estão agregando valor na execução do projeto.
Então, o que é “gerir pelo valor agregado”? É simplesmente fazer mais por menos, mais
rápido com menor custo; isto é, fazer melhor que o planejado. Durante o planejamento, a equipe
do projeto se esforça para otimizar recursos e mitigar ameaças; durante a execução, a equipe se
esforça para economizar tempos e recursos.
A Gestão pelo Valor Agregado cria uma mentalidade de melhorar sempre, não aceitando
gastar todo o tempo e dinheiro alocados para o projeto. É típico do perfil empreendedor.
Experimente praticar a gestão pelo valor agregado. Certamente, recuperará a governabilidade
dos seus projetos.
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Gerir conhecimentos
Se os projetos são desafios únicos, temporários e empreendidos por equipes temporárias, é de
se supor que só aprendem aqueles que tiveram o privilégio de participar da execução de um projeto
bem-sucedido. Não aprendem aqueles que tiveram uma participação periférica e de reduzida
dedicação ao projeto. Não aprendem aqueles mobilizados durante a execução e desmobilizados
antes do fim do projeto, porque não vivenciaram o ciclo de vida completo do projeto, nem quem
participou de projeto malogrado ou desprendeu o que sabia ou aprendeu como “defender-se” diante
de malogros.
Aprendem aqueles que transformaram experiências únicas em vivências criticamente
refletidas; aqueles que aprendem por comparação com outros projetos e com situações similares;
aqueles que tiveram mentores e coaches, ou que encontraram momentos durante a execução do
projeto para mensurar, avaliar e criticar o próprio desempenho. Como os projetos são únicos,
aprendem aqueles que criam técnicas, codificam, praticam e compartilham o seu uso com colegas
e, por fim, apreendem, isto é, assimilam os erros e acertos, para criar melhorias na sua própria
prática. É o que denomino “espiral do conhecimento”.
Aqueles que pouco aprendem pela experiência tendem a repetir práticas em outros projetos,
sem perceber que se eles são únicos. Toda repetição tem chance diferente de apresentar sucesso.
Aqueles que aprendem atingem o “estado de arte”: a sua prática torna-se autêntica, a sua perícia
torna-se evidente, e o sucesso tem maior chance de ocorrer, quaisquer que sejam as variações em
futuros projetos.
Seria fantástico se esses “artistas”, e não meramente técnicos, pudessem educar os seus colegas
na organização. Contudo, participar de um projeto é algo tão envolvente que pouca dedicação
restaria para isso. Pior: sem um sistema de gestão do conhecimento no projeto ou na organização,
isso seria impossível.
100
As edições anteriores do Guia PMBOK mencionavam apenas a coleta de lições aprendidas,
como prática isolada de gestão de conhecimentos. Também a norma ISO-10.006, editada em 1997
e reproduzida como norma brasileira em 2000, tratava da qualidade em projetos. A cláusula 6,
“aprendendo com o projeto”, sugeria:
101
distribuição geográfica de instalações e recursos) e ativos de processos organizacionais (políticas,
gestão de RH, requisitos de comunicação e procedimentos para lidar com informação e
conhecimento). Como ferramentas, cita a opinião especializada, a gestão de conhecimentos, a
gestão de informação e as habilidades interpessoais e de equipe (competências brandas). Os
produtos desse processo de gestão são: registro de lições aprendidas, atualização de planos e de ativos
de processos organizacionais. Note: os ativos de processo são as políticas, os processos e
procedimentos – é a materialização de conhecimentos tácitos, portanto, é essencial atualizá-lo.
Gerir informação envolve coleta, registro e repositório de informação, além da gestão da
qualidade da informação, da sua disseminação e do seu uso. Isso é importante em projetos? Claro
que sim, mas não basta gerir os conhecimentos explicitáveis, aqueles que se transformam em
informação. Possivelmente, é mais relevante em um ambiente único, desafiador, onde são mais
eficazes as competências brandas (soft skills), a gestão dos conhecimentos tácitos.
Contudo, conhecimentos tácitos residem na mente dos seus possuidores, que muitas vezes
nem sabem que têm, ou se sabem não conseguem explicar de forma objetiva. Como gerenciar
conhecimentos tácitos? Afirma o Guia PMBOK:
Entre as técnicas para gestão do conhecimento, o Guia PMBOK exemplifica: redes sociais;
comunidades de praticantes; reuniões, fóruns, eventos e oficinas; feiras e treinamento participativo.
Gostaria de acrescentar: desenvolvimento de competências; coaching e mentoria; políticas para
incentivar o compartilhamento de conhecimentos; políticas e práticas para aprender com os erros.
Entre as técnicas para gestão da informação, a norma cita: métodos de codificação;
bibliotecas; lições aprendidas; coleta de informação e pesquisa; Sistema de Informação de
Gerenciamento de Projetos (SIGP). Gostaria de acrescentar: sistemas para trabalho colaborativo;
“páginas amarelas”; repositório de conhecimentos (vai além do SIGP porque armazena memórias
técnicas, artigos, propostas, planos e todos os produtos da criatividade humana).
Gerir conhecimentos na organização envolve promover criação, codificação, compartilhamento
e apropriação de conhecimentos. Para estimular a criação, as políticas e a mentalidade de inovação
são indispensáveis. Para a codificação, todo esquema, mapa mental, imagem, metáfora, conceitos e
definições são usados. Para o compartilhamento, é necessário promovê-lo. Como é um ativo
102
profissional importante, muitos podem protegê-lo. É preciso criar um ambiente em que todos os que
compartilham têm visibilidade e são reconhecidos por isso, mas não devemos desprezar o trabalho em
equipe, arranjo organizacional em que há cooperação mais profunda e intensa. Para a apropriação de
conhecimentos, recomendo avaliação de capital intelectual.
Fontes
ABNT/CB-25 – Comitê Brasileiro da Qualidade. NBR ISO 10.006: gestão da qualidade – diretrizes para a qualidade
no gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro: ABNT, 2000.
BRESNEN, M.; GOUSSEVSKAIA, A.; SWAN, J. Organizational routines, situated learning and processes of
change in project-based organizations. PM Journal, p. 27-41, September 2005.
NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. The knowledge-creating company: how Japanese companies create the dynamics of
innovation. New York: Oxford University Press, 1995.
PMI – Project Management Institute. Guia PMBOK: um guia para o conjunto de conhecimentos em gerenciamento
de projetos. 6. ed. Newtown Square: PMI, 2017.
POLANYI, M. Personal knowledge: towards a post-critical philosophy. Chicago: The University of Chicago Press,
1958.
SABBAG, P. Y. Gerir projetos requer gerir conhecimentos. Mundo Project Management, p. 9-15, junho/julho 2009.
______. Espirais do conhecimento: ativando indivíduos, grupos e organizações. São Paulo: Saraiva, 2007.
103
Código de ética e conduta profissional: pmi
Ética existe?
Você julga que as organizações são éticas? Sobre governos e política já temos opinião formada.
Mesmo as organizações que têm código de conduta e um canal para reportar desvios éticos são
éticas? Se temos frustrações nesse campo, possivelmente ocorre porque há incongruências entre os
nossos valores e os valores efetivamente praticados nas organizações.
104
Em geral, códigos de conduta são prescritivos e taxativos, portanto, são condutas obrigatórias.
Referem-se a questões morais mais do que éticas. A virtude desse código é que não se restringe à
moralidade das normas obrigatórias, mas também ressalta a ética das normas ambicionadas.
A ética, por ser um dever de consciência, é mais fecunda quando baseada em valores. O
Código do PMI estabelece normas baseadas em quatro valores fundamentais abaixo. Curiosamente,
são quase idênticos aos defendidos por Aristóteles há 2.500 anos, o que sugere serem esses valores
universais da humanidade: responsabilidade, respeito, justiça e honestidade.
O ambiente organizacional apresenta inúmeros desvios da ética:
falta de responsabilidade com interessados e afetados (stakeholders);
comportamentos contrários a normas e opostos a respeito, confiança e consideração;
conflitos de interesses entre sociedade, comunidade, organizações e indivíduos;
plágios, usurpação de propriedade intelectual;
uso indevido de informação institucional (quebra de confidencialidade);
mau uso de bens materiais da organização;
descuidos em relação à segurança, ao meio ambiente e ao clima organizacional;
manipulação dos preços e do mercado;
fraudes fiscais e evasão de impostos;
ocultação de provas e de informação, abuso de autoridade;
adulteração de documentos oficiais;
apropriação indébita;
subornos, corrupção, tráfico de influências e
nepotismo, favorecimento, assédio sexual, intimidação.
105
MÓDULO V – EXECUÇÃO
Governança em projetos
Delegar
Gestores irônicos fazem uma distinção sagaz: “Há diretores que delegam e há aqueles que ‘de-
largam’”. Os primeiros oferecem liberdade e apoio, mas fazem a supervisão e intervêm sempre que
necessário. Os últimos oferecem liberdade e se isentam de quaisquer riscos, não apoiam nem
supervisionam e, tempos depois, quando precisam controlar o progresso, criticam tudo o que foi feito.
É uma questão de governança. Imagine que há mais chances de “de-largar” um projeto que
qualquer outra tarefa. Esse é o pano de fundo.
Governança define a gestão
Management, o trabalho de diretores, gerentes e gerenciadores, é um termo que deriva do
Latim maneggiare. O uso mais antigo do termo contava as proezas de um general que era tão hábil
no comando das suas tropas como era manejando o seu cavalo: o cavalo é mais forte, mas o cavaleiro
está tão vinculado ao cavalo que facilmente o dirige ou governa na trilha desejada. É uma boa
metáfora para a governança.
108
organização que hospeda o projeto. Além do mais, como desenhar um organograma de equipe de
projeto que funcione em estrutura matricial, em rede ou grupo-tarefa?
Diante disso, quando planejo um projeto, prefiro fazer um desenho que evidencie a
governança. Ele contém quatro aspectos:
1. Em que ponto há tangência entre a organização e o projeto – esse é o vínculo criado por
patrocinadores do projeto.
2. Como é formada a equipe do projeto, gerenciador e membros, indicando as suas relações
funcionais com os setores da organização que hospeda o projeto – esse é o vínculo dos
representantes de área e pontos focais; ou então é o que define a organização matricial.
3. Como se relacionam os membros da equipe e gerenciador – esse revela o vínculo entre
pessoas, se é hierárquico ou em equipe.
4. O sistema de gestão se completa evidenciando parceiros e organizações externas que
também “governam” o projeto: decidem e comandam – esse é o vínculo contratual, que
apresenta relações institucionais e relações funcionais.
O sistema de gestão pode ser complexo, por questões estruturais. Se é complexo, exigirá maior
esforço em horas de trabalho, maiores competências brandas e maior disciplina de método. Quanto
mais intrincado, mais depende de uma boa Matriz de Responsabilidades. A geografia também
dificulta as relações, tornando essencial que o Plano de Comunicações a considere e regre também
os processos decisórios.
Quando se trata de políticas e processos, a governança compreende: decisão, comando,
comunicação, alinhamento, abordagem e controles.
Vamos discutir as decisões. Se não é definido um patrocinador, assume-se que alguém na
estrutura da organização assume esse papel: pode ser um gerente, um diretor, vice-presidente ou
dirigente. Pode haver uma política que endereça a comitês existentes ou ad hoc (caso a caso). Se a
organização dispõe de um Escritório de Projetos (EGP ou PMO, na sigla em inglês), é preciso
definir o seu papel nas decisões, pois ele varia. Se a organização adota o modelo de programas e de
portfólios, é preciso definir como os respectivos gestores atuam nas decisões. Em certos campos de
aplicação, a obrigação de prestar contas é também uma política de decisões, e foi mencionada no
PMBOK Guide.
Sobre o comando, em geral, ele não é cercado de formalidade, mas nas relações entre
instituições isso é necessário: em consórcios, alianças, joint-ventures e relações contratuais, mas o
comando deve respeitar sempre os costumes e a cultura da organização para que seja efetivo. O
mesmo vale para a comunicação: usa canais e modelos costumeiros; também inclui como
encaminhar questões e pendências.
A governança promove o alinhamento: entre o projeto e as estratégias da organização, caso
em que a gestão de portfólio contribui decisivamente; entre os interessados e os requisitos aprovados
para o projeto; entre critérios de sucesso para o projeto.
109
Inclui a abordagem: na definição e revisão de datas-marcos (milestones); na abordagem do
ciclo de vida do projeto (timing); na aprovação de mudanças, que pode incluir um Controle
Integrado de Mudanças como parte da governança.
Por fim, a governança também estabelece controles: ferramentas e sistemas de coleta e
processamento de informação (Management Information System); relatórios formais; auditorias.
110
é raro que membros da equipe se reportem hierarquicamente ao gerenciador do projeto. Se ele não
“chefia” a equipe, como orientar e gerenciar a equipe?
111
navios e obras de construção pesada adotam esse modelo. É esse também o caso de projetos do
terceiro setor ou de organizações sociais.
Se a organização responde bem ao planejado, assumindo compromissos, ou se as atividades
são pouco dependentes das demais, recomendo a estrutura horizontal. Ou então, quando o pessoal
é contável (accountable): cumpre o que promete. Um exemplo disso são os projetos corporativos de
organizações empreendedoras.
A estrutura híbrida significa reservar à equipe do projeto as atividades mais críticas e a gestão,
enquanto o restante do escopo é descentralizado. Também permite o engajamento de clientes,
usuários e parceiros compartilhando o escopo do projeto. Permite definir “pontos focais” em cada
área ou trazer para a equipe de gestão os “representantes” de cada área. Essa parece ser a forma mais
usada atualmente, nos três setores, governo, particular e social.
Cada escolha tem consequências. Escolher execução vertical significa formar equipes
numerosas, com hierarquia e especialização, com parte do pessoal com dedicação grande (>70%)
ou exclusiva ao projeto. Escolhendo execução horizontal, o perigo é o gerenciador cuidar de
demasiados projetos simultâneos, sem apoio de pessoal; a vantagem é formar uma equipe com
representantes de cada setor (grupo-tarefa) ou definir “pontos focais” como único canal para o
relacionamento com cada área. Escolhendo execução híbrida, forma-se uma estrutura mista: a
equipe de gestão (core team, no inglês) dedica-se mais que os demais membros (soft team).
A partir daí, pode ser definido o tipo de organização. Estrutura vertical com equipe numerosa
requer hierarquia: equivale à organização por projeto. Estruturas híbridas e horizontais fazem uso de
estrutura matricial, em que o núcleo do projeto coordena (na linha da matriz) o pessoal de diferentes
setores (colunas da matriz) alocados ao projeto. Como também faz uso de estruturas em rede, que
correspondem à negação da hierarquia, tornando mais fácil e provável obter o trabalho em equipe.
Resolvida a “arquitetura” organizacional para o projeto, é necessário dimensionar essa
organização – estimar os recursos. Adoto o seguinte processo:
Define-se previamente o modelo de equipe, com primeira estimativa da quantidade
de pessoas.
Essa organização é confrontada com o Escopo do Projeto, visando a repartir o trabalho —
a técnica usada é a Matriz de Responsabilidades, que reúne organizações externas, setores
da organização que hospedam o projeto e a Equipe do Projeto, esta última detalhada
membro a membro. No cruzamento entre atividades do escopo e cada pessoa, são
definidos os papéis e as responsabilidades daquela pessoa ou daquele grupo.
Conforme o somatório de papéis e responsabilidades de cada membro da Equipe do
Projeto, decide-se o montante de dedicação (integral ou parcial) de cada membro.
No cronograma, o pessoal é alocado a cada atividade do Escopo do Projeto, visando a
estimar o esforço e a dedicação — forma-se o Quadro de Alocação de Pessoal. Como estamos
tratando de recursos em geral, também podem ser alocados no cronograma os
equipamentos custeados por hora trabalhada.
A partir daí, são deduzidos os recursos necessários.
112
O Plano de Recursos do Projeto apresenta o organograma acompanhado de esclarecimentos,
apresenta a matriz de responsabilidades e o quadro de alocação de pessoal (idem para
equipamentos). Pode incluir também as demandas de treinamento da equipe do projeto e o
fluxograma do sistema de tomada de decisões.
Há um aspecto adicional que o Guia PMBOK menciona com pouca ênfase. As questões de
ética e conduta muitas vezes precisam ser planejadas, sobretudo se a equipe do projeto é híbrida e
reúne pessoal de diferentes organizações. Nesse caso, é conveniente arrolar os valores esposados no
projeto, e, como decorrência deles, as normas de ética e de conduta são definidas e divulgadas.
Geralmente, as organizações designam o gerenciador do projeto e alguns membros da equipe,
supondo que são suficientes para o desafio de execução. Não se sabe, e é bom duvidar, se essas
pessoas têm comprometimento e dedicação assegurada ao projeto; não se sabe se têm habilidades
complementares; não se sabe o que os chefes e gestores de cada uma delas sabem a respeito do
projeto. É a rota para o fracasso. Diante disso, o Guia PMBOK preconiza a aquisição dos membros,
melhor dizendo, arregimentação: o seu papel é conceber a organização que deseja para o seu projeto,
negociando com os chefes e gestores a liberação do pessoal que deseja; e depois estabelecendo
compromisso com todos.
Para adquirir os recursos, note que eles podem ser internos ou externos à organização. Pessoas
podem ter contratos temporários ou permanentes, assim como equipamentos e instalações podem ser
alugados, mas o problema não e de planejar e adquirir, é preciso transformar esse grupo de pessoas
em uma verdadeira equipe, coesa e contável. É preciso compartilhar o desafio assumido pelo
gerenciador do projeto com essa equipe. Alerte-se para as dificuldades envolvidas nas equipes virtuais.
Fontes
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PINTO, J. K.; TRAILER, J. W. Leadership skills for project managers. Newtown Square: PMI, 1998.
PMI – Project Management Institute. Guia PMBOK: um guia para o conjunto de conhecimentos em gerenciamento
de projetos. 6. ed. Newtown Square: PMI, 2017.
113
Organização: tipos
A sua organização é de qual tipo?
A estrutura ou forma de organização, como não poderia deixar de ser, afeta o desempenho e
a qualidade das relações e do trabalho. É difícil definir a organização onde atuamos, até porque não
é raro encontrar diferentes formas de organização dentro de uma empresa ou fundação. As
hierarquias são tão compartimentadas que, se o setor de Recursos Humanos for complacente,
muitos diretores criarão a sua própria forma de organização para o seu setor. Você já viu isso?
114
O paradoxo é que a lógica horizontal é tangível, enquanto que a lógica vertical é apenas uma
condição estrutural da hierarquia. Resultado habitual: cada setor atua independentemente dos outros,
mas com comando e controles internos perfeitos – enquanto prospera a falta de sincronia na cadeia.
Para solucionar esse paradoxo, algumas alternativas de organização são usadas desde o século
XX. A primeira alternativa requer verticalizar o processo horizontal: um único setor da organização
cuida de toda a cadeia ou processo. Essa solução resultou em estruturas denominadas: organização
por produto, unidade de negócio e organização por projeto. Um único diretor comanda todo o
setor especializado por tipo de produto e o seu mercado, ou seja, comanda uma hierarquia
focalizada. Não é diferente de uma construtora que cria uma organização temporária para cada um
dos seus empreendimentos imobiliários. Essas estruturas focadas são complementadas por pequenos
setores corporativos de apoio. Tanto Toffler, Mintzberg e Waterman denominam a organização
por projetos como adhocracias,2 do latim ad hoc: configuração em que deliberadamente se forma
uma organização temporária enquanto se busca alcançar certos objetivos. Reputam como a melhor
estrutura para a inovação porque formam constelações de projetos na organização. Mintzberg
afirma: “A adhocracia é a única configuração para aqueles que acreditam em uma democracia com
menos burocracia”.
Outra resposta ao paradoxo é eliminar compartimentos horizontais, gerando a estrutura por
grupo-tarefa. Forma-se um grupo contendo representantes de diferentes organizações ou
instituições. O grupo não admite chefe; no máximo, acolhe uma secretaria executiva. Há um
princípio: as decisões são tomadas por consenso. Depois de decidido, cada representante comanda
as suas organizações para a execução.
Uma alternativa ao paradoxo admite a dualidade horizontal-vertical: é a chamada estrutura
matricial. Na vertical, há uma hierarquia com diretores, gerentes e profissionais, dividida por
especialidades. Na horizontal, há coordenadores de projetos ou de processos. O comando é vertical,
enquanto a coordenação é horizontal: harmoniza a cadência de execução, converte a ação isolada
em sistema, concentra demandas de relacionamento com o cliente externo.
A negação completa da hierarquia é representada pela organização em rede. “A intenção
essencial de todas as redes é a redistribuição do poder”, afirma Marylin Ferguson3 e completa:
2
O termo Adhocracia foi usado por TOFFLER, A. O choque do futuro. São Paulo: Record, 1994.
3
FERGUSON, Marylin. A conspiração aquariana: transformações pessoais e sociais nos anos 80. 6. ed. Rio de Janeiro:
Record, 1988.
115
Gandhi se valeu desse conceito, adotando a estratégia de coalizões de pequenos grupos para
levar a Índia à independência. Eram então chamadas agrupamentos de unidades. A partir daí,
diferentes agrupamentos políticos passaram a adotar a organização em rede. É a forma de
organização das células de guerrilha, dos movimentos sociais e ambientais.
Pela novidade e importância, vale a pena deter-se na discussão da organização em rede. Ela
apresenta as seguintes características:
É plana, despreza níveis hierárquicos ou de autoridade. Não pode ser chefiada ou
comandada. Em uma burocracia, o título do cargo determina o poder do seu ocupante;
na rede, o que faz e a quem se vincula é que determinam o seu poder.
Despreza cargos ou funções, privilegiando “nós” (pessoas ou grupos) e as suas conexões.
Busca vínculos entre todos, fazendo com que em cada movimento um membro se torne
o centro da rede.
A liderança e a coordenação são circunstanciais: podem ser compartilhadas ou migrar de
pessoa a pessoa, dependendo das necessidades do momento. A coordenação deixa de ser
exercida de cima para baixo, substituída pelo mútuo compartilhamento dessa função.
É um sistema aberto que busca sempre o equilíbrio. As suas fronteiras são mais psicológicas
que estruturais. Está em constante fluxo, pronta para ser reorganizada, capaz de uma
transformação contínua. É amoldável, flexível ou mutante.
É uma estrutura polimorfa e dinâmica, ao contrário da hierarquia, que se pretende estática.
É autogerativa e auto-organizativa (e, às vezes, autodestrutiva). Agrega e dispersa membros
todo o tempo. Representa um processo, e não uma estrutura cristalizada. Para tanto, precisa
ser constantemente estimulada, seja por meio de ação seja de comunicação.
É cooperativa, e não competitiva, como a hierarquia. Os seus membros buscam confiança,
empatia, contribuição espontânea, complementaridade e reciprocidade. Visam ao apoio e
ao enriquecimento mútuo. Conquista muitas vezes a sinergia, energia suplementar que
deriva da cooperação harmônica.
“A rede é, ao mesmo tempo, íntima e ampla”, afirma Ferguson (1988); serve à exploração
pessoal tanto quanto à ação coletiva. Muitas vezes, é invisível, o que para muitos denuncia
um caráter conspiratório ou de conluio. Na realidade, a rede ressalta a coesão dos vínculos.
Em síntese: as redes representam o ideal democrático em todos os sentidos.
116
Note a cronologia: enquanto a hierarquia é adotada há milênios, a estrutura por produto data
do início do século XX. O grupo-tarefa, popularizado em inglês como task-force, data da II Guerra
Mundial. Parece ter sido a NASA que popularizou em 1960, nos EUA, a estrutura matricial. Nos
anos 1970, adeptos da “era de Aquário” confrontavam toda forma de autoridade, postulando redes.
Organizações por produto desdobraram-se nas organizações por projeto, a partir dos anos 1960.
Grupos-tarefa desmembraram-se nas equipes, enquanto as redes se tornaram a organização do mundo
digital e geraram o conceito de organização virtual, a partir dos anos 1980.
Hoje em dia, as hierarquias públicas e privadas dividem espaço com as organizações por projeto
adotadas no terceiro setor. Há tanto hierarquias nas grandes organizações quanto há estruturas
matriciais, equipes e verdadeiras redes, para não mencionar inúmeras configurações híbridas.
Cada estrutura condiciona uma mentalidade específica. Imagine o que ocorre em uma grande
organização hierárquica, onde o setor de tecnologia e o de desenvolvimento de produtos se
organizam por projetos, e o setor de recursos humanos se organiza de forma matricial (consultoria
interna e business partner). É o “samba do crioulo doido” das mentalidades.
117
Escritório de gerenciamento de projetos (egp ou pmo)
Demasiados projetos
Não é estranho que o setor dedicado a apoiar projetos na sua organização seja chamado de
“escritório”? Talvez por isso muitas organizações prefiram usar o nome em inglês: Project
Management Office (PMO). É um assunto controverso, contudo visa a oferecer solução para um
problema sério: a quantidade excessiva de projetos nas organizações.
Escritório ou pessoa?
Quanto maior a reflexão estratégica de uma organização, mais projetos são criados. Quanto
maior o apetite e a competência em criatividade e inovação, mais projetos são criados. Quanto
maior a capacidade empreendedora e ambição da organização, mais e mais projetos são criados.
Quanto mais a mentalidade de atuar por projetos se instala na organização, mais projetos são
criados. Resultado: centenas e milhares de projetos disputam os recursos escassos da organização.
Diante dessa triste realidade, muitas organizações passam a isolar os projetos estratégicos, para
os quais toda a competência e prioridade são atribuídas, abandonando os demais projetos à própria
sorte. Eu não creio que essa seja uma solução viável, porque ela resulta em enorme proporção de
projetos terminados com sucesso parcial ou com insucesso.
A meu ver, há três soluções adequadas para o problema: a gestão de múltiplos projetos por
meio de Escritórios de Projetos; o agrupamento de projetos em programas, adicionando mais gestão
para essa coordenação; e o agrupamento em portfólio, visando a adicionar gestão capaz de priorizar
componentes do portfólio. Aqui, tratamos da primeira solução.
Gerenciar múltiplos projetos é considerar a diversidade e a diferença entre contribuições
empreendedoras. Essa solução (no inglês, multiple project management) requer unificar os processos
de gestão. Se cada projeto fosse gerenciado usando idêntica metodologia, técnicas e sistemas
informatizados, seria possível somá-los, verificando: sobrecarga de recursos (humanos, financeiros e
equipamentos), simultaneidade de eventos, interdependências entre atividades e benefícios obtidos.
Uma competente estrutura de apoio poderia fazer essa verificação e controle, de modo a evitar
conflitos entre projetos, perda de ritmo, incongruências, etc. Essa estrutura de apoio é formalizada como
Escritório de Gerenciamento de Projetos – EPG (no inglês, Project Management Office – PMO). Por
que escritório? Porque privilegia funções de gabinete ou assessoria. Há também uma razão histórica: esse
nome homenageia o pioneiro Special Project Office da Marinha norte-americana, criado para o Projeto
Polaris em 1957 (informa Johnson e colegas).
118
Diferentes escritórios, cada qual com a sua finalidade
O PMI define o Escritório de Gerenciamento de Projetos como
Note que EGP é um setor da organização, portanto, presume-se que tenha gestores e equipe
de trabalho. Não é raro encontrar no Brasil organizações que chama de PMO as pessoas que coletam
informação sobre a execução do projeto e preenchem relatórios (o que o norte-americano chama de
Project Controller Officer – PCO). Não é um erro crasso, mas presume que cada projeto precisa de
um controlador, isso, sim, um erro porque fragiliza o gerenciador desses projetos.
Há diferentes tipos de EGP em funcionamento nas organizações para atender a finalidades
distintas. O Quadro explora sete tipos de EGP, atribuindo a eles apelidos jocosos com o intuito de
diferenciá-los. À direita estão os três tipos definidos no PMBOK Guide:
Apoiador – PMO apoiador fornece consultoria aos projetos fornecendo templates,
melhores práticas, treinamento, acesso a informação e lições aprendidas de outros projetos.
Esse tipo de PMO serve como repositório. Grau de controle desse PMO é baixo.
Controlador – PMO controlador fornece apoio e requer cumprimento de vários planos.
Cumprimento pode envolver modelos e metodologias, uso de templates específicos,
formulários e sistemas, ou conformidade com governança. Grau de controle desse PMO
é moderado.
Diretivo – PMO diretivo assume o controle de projetos passando a gerenciá-los. O grau
de controle desse PMO é elevado.
119
Os riscos de a organização não discriminar adequadamente o tipo e a finalidade específica do
EGP são:
ambiguidade na definição de papel e responsabilidade;
mentalidade burocrática e tecnocrática, voltada para processos;
possibilidade de tornar-se um “multiplicador de erros” ao padronizar técnicas de
efetividade duvidosa;
resistência a controles pelos envolvidos gera ressentimentos;
dificuldade de avaliar o valor agregado do EGP frente aos custos fixos envolvidos e
perda da capacidade empreendedora, quando o EGP limita a expansão do número
de projetos.
Mais de um EGP
Muitas organizações tentaram mais de uma vez implantar um EGP antes de obter sucesso.
Há também as que têm mais de um EGP, provando a necessidade de distintos papéis, cada qual
desempenhado por um EGP. Quaisquer que sejam os tipos, os escritórios necessitam de sistemas
informatizados de apoio. É questão crucial para a gestão de múltiplos projetos.
Uma novidade promissora: muitas organizações recentemente optam por elevar o nível do
EGP. Ao invés de um EGP controlador, redefinem o EGP para a função de gestão de portfólio,
para priorizar e autorizar execução ao invés de elaborar relatórios de controle.
Qualquer que seja o tipo de EGP, é necessário homogeneizar a qualidade do gerenciamento
dos projetos, mas como fazer isso, se há tipos tão diferentes de projetos? O ideal é difundir na
organização uma metodologia suficientemente ampla e flexível, porém única, exigindo que cada
gerenciador de projetos selecione quais processos de gestão e instrumentos pretende usar no seu
projeto, sem abalar a necessidade de controle global dos investimentos.
Nos últimos anos, é notável a difusão de EGP nas organizações. Em muitos casos, parece até
um modismo, mas persiste a dúvida: criar estruturas permanentes, com elevados custos fixos, é
justificável? Ampliar controles, e não competências de gerenciadores, poderia ser de fato efetiva?
120
Um perfil especial de competências
Projetos são diferentes de processos. Projetos são desafios temporários, únicos e arriscados,
associados à inovação e mudança. Processos em geral são permanentes e contínuos; portanto,
remetem à melhoria incremental. Enquanto a gestão de processos é enfatizada na educação superior,
a gestão de projetos foi desenvolvida há 50 anos; portanto, ainda é pouco ensinada.
Por ser temporário, o projeto é gerido por uma equipe temporária, quase sempre
multidisciplinar, incluindo até pessoal externo. Os membros dessa equipe temporária raramente se
reportam ao gerenciador designado para o projeto. Isso cria uma situação em que esse gestor tem
perfil oposto ao de gestores com mentalidade hierárquica e burocrática.
Projetos têm incerteza e riscos elevados, o que remete a atitudes, capacidades e
conhecimentos especiais. Projetos em geral visam à mudança significativa, o que novamente
requer habilidades especiais.
Para tornar ainda mais difícil desenvolver competência em projetos, há um pressuposto de
que cada habilidade ou estilo pode demandar muito ou pouco tempo para o seu desenvolvimento.
O desenvolvimento exitoso requer disciplina.
4
PMI – Project Management Institute. Project manager competency development (PMCD) framework. Newtown: PMI, 2007.
5
IPMA – International Project Management Association. ICB – Individual Competence Baseline, version 4.0. Nijkerk: IPMA,
2015. Disponível em: <www.ipma.ch>.
121
Atributos de
Competências do gerenciador associadas
projetos
122
Atributos de
Competências do gerenciador associadas
projetos
Note que há poucas competências técnicas generalistas. Essa lista precisa ser complementada
caso a caso com competências técnicas especialistas, ou seja, específicas para o tema do projeto. Há
uma discussão interminável sobre a questão: o gerenciador de projetos deve ser um generalista ou um
especialista? Algum conhecimento técnico sobre o tema do projeto julgo relevante que ele disponha,
para que possa gerenciar melhor o projeto, mas a ênfase é nas competências generalistas – afinal, ele é
um gestor, acima de tudo.
123
São tantas as competências que julgo necessário agrupá-las por outros critérios, visando a criar
estratégias para o seu desenvolvimento. A categorização que proponho classifica por dois critérios
que estabelecem quatro diferentes categorias de um gráfico. O eixo horizontal reparte as
competências entre aquelas padronizáveis porque resultam de processos definidos e aquelas em que
predomina o estilo autêntico e as atitudes. O eixo vertical reparte as competências fáceis e rápidas
de obter daquelas que requerem longo período de maturação.
Formam-se quatro quadrantes. O quadrante abaixo e à direita reúne as competências
padronizáveis de fácil desenvolvimento – competências PRÁTICAS. O acima e à direita reúne as
competências padronizáveis, porém de longa maturação – competências VIVENCIAIS. O abaixo
e à esquerda reúne as competências autênticas e pessoais de rápida apreensão – SAGACIDADE; o
acima e à esquerda contém as competências autênticas de longa maturação – SABEDORIA.
Distribuindo as 50 competências (exceto a última, que não cabe classificar) nos quatro
quadrantes, resulta a classificação apresentada na figura abaixo. Alerta: essa classificação não é
perfeita, depende do entendimento sobre cada competência listada. Por exemplo, na comunicação:
as técnicas de comunicação e apresentação julgo competências práticas; contudo, a arte da
comunicação, a oratória, eu classificaria como vivência.
124
Note que os nove componentes da resiliência pertencem à sagacidade e sabedoria. A resiliência
capacita na gestão de crises, que se fosse listada estaria na mesma região. O mesmo se dá com
capacidade empreendedora, liderança e presença executiva. Há competências relacionadas à
sagacidade em que predominam atitudes, e isso é notável. Não são ensinadas na escola e requerem
tempo para evoluir.
As competências mais relevantes para lidar com projetos na sua maioria foram classificadas
nos quadrantes: sabedoria, vivência e sagacidade. Significa que a gestão de projetos requer longa
experiência e maturidade. Note que os exames de certificação e os treinamentos convencionais
enfocam apenas as competências práticas: um profissional de projetos aplica adequadamente as
técnicas, mas não obtém maior sucesso por falta dessas outras competências.
Vale ressaltar: a maioria do classificado como sabedoria e sagacidade são competências brandas,
aquilo que os norte-americanos denominam soft skills. Nas competências duras (hard skills),
prevalecem conhecimentos técnicos e habilidades complexas, predominantemente intelectuais. Nas
competências brandas, prevalecem atitudes (estilos) e comportamentos sociais.
125
Dura uniformiza, branda diferencia
Não há oposição entre competências duras e brandas: quem deseja ser profissional do
gerenciamento de projetos precisa de ambas. As competências duras geram a disciplina de planejar,
documentar, decidir e comandar tão relevantes na gestão. As competências brandas geram o estilo
sagaz e sábio de lidar com a incerteza, riscos e relações humanas, sociais e políticas.
Contudo, as competências duras uniformizam; portanto, criam um padrão de gestão
profissional que iguala a todos os gestores. As competências brandas geram valor agregado e,
sobretudo, diferenciam gestores. Quanto mais competitivo o “mercado” de gestores de projetos em
uma organização, mais eles serão valorizados pelo domínio de competências brandas. Invista nas
suas competências!
Se ainda não se entusiasmou para desenvolver as suas competências como gestor de projetos,
deixe-me adicionar uma informação. Desde o início do século 21, as organizações perceberam que
a gestão de projetos é o repositório para a seleção e a educação de futuros diretores. Isso se deve ao
fato de que a mentalidade de projetos é mais próxima da de um diretor que a mentalidade de
gerentes. Se quiser chegar a diretor, invista na gestão de projetos.
126
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130
PROFESSOR-AUTOR
Paulo Yazigi Sabbag é doutor em Administração de Empresas pela EAESP/FGV (2002),
especialista em Grupos pela Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos (SBDG) (2012), mestre
em Engenharia Urbana e de Construção Civil (1986) e graduado em Engenharia Civil (1979) pela
Universidade de São Paulo. Atuou como vice-coordenador e responsável por cursos in company no
Programa de Educação Continuada (GVpec), da EAESP/FGV, de 1995 a 1999. Foi fundador e
dirigente do PMI em São Paulo, onde atuou desde 1996 e é certificado como Profissional de
Gerenciamento de Projetos (PMP), pelo PMI, desde 1998. Atualmente, é professor da FGV desde
1988, co-coordena o curso de Gerenciamento de Projetos desde 1989 e dirige a Sabbag Consultoria
desde 1993 e a Zagaz Aprendizagem Digital desde 2016. Autor dos livros: Resiliência, competência
para enfrentar situações extraordinárias na vida profissional, pela editora Campus Elsevier (hoje
Altabooks), em 2012 (recebeu o Prêmio Jabuti 2013); Gerenciamento de Projetos e
Empreendedorismo, pela editora Saraiva, em 2013 (com mais de 25.000 exemplares vendidos em
duas edições) e Espirais de Conhecimentos, pela editora Saraiva, em 2007 (entre os finalistas para o
Prêmio Jabuti 2008).
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