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Reaproveitamento do concreto com uso de aditivo estabilizador de


hidratação em concreteira

Conference Paper · October 2013

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2 authors, including:

Antonio D. Figueiredo
University of São Paulo
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The effect of fire on the mechanical properties of fiber reinforced concrete View project

Quality control of FRC View project

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Reaproveitamento do concreto com uso de aditivo estabilizador de hidratação em
concreteira
Reuse of concrete with use of hydration stabilizer additive on batching plant

Luiz de Brito Prado Vieira 1; Antonio Domingues de Figueiredo 2


1
Coordenador de projetos – Engemix/Votorantim Cimentos Brasil LTDA
o
Av. José Cesar de Oliveira, 21 – 10 Andar; São Paulo/SP
2
Professor Associado - USP, Escola Politécnica, Departamento de Engenharia de Construção Civil.
Av. Prof. Almeida Prado - Travessa 2. Edifício de Engenharia Civil, Cidade Universitária

Resumo
O concreto é um material cuja vida útil no estado fresco é bem restrita. Dessa forma, um concreto rejeitado
nem sempre tem a possibilidade de ser reaproveitado quando retorna à concreteira. Uma das alternativas
que possibilita o reaproveitamento do concreto que retorna à concreteira envolve o emprego de aditivos
estabilizadores de hidratação (AEH), cuja função é controlar a taxa de hidratação do cimento. Algumas
pesquisas já foram publicadas sobre o uso deste tipo de aditivo no reaproveitamento do concreto fresco e
houve o consenso de que sua utilização não provoca efeitos negativos às propriedades mecânicas do
concreto que inviabilizem sua utilização. Foi realizado um estudo experimental onde mais de vinte tipos
diferentes de cimento foram avaliados em ambientes com três níveis de temperatura. Aplicações piloto da
metodologia foram realizadas em algumas concreteiras. A partir dos resultados, produziu-se um modelo
utilizado com sucesso em concreteiras, o que permitiu o reaproveitamento de quase 80% do total de
resíduos gerados em cerca de 100 plantas espalhadas pelo Brasil através da utilização de AEH.
Palavra-Chave: Sustentabilidade, Gestão de Resíduos, Meio Ambiente, Estabilizador de Hidratação, Concreteira.

Abstract
Concrete is a material whose pot-life is very restricted. Thus a concrete rejected on the job site does not
always have the ability to be recycled when it returns to the batching plant. One of the alternatives that allow
the reuse of concrete that returns to batching plant involves the use of hydration stabilizing admixtures
(HEA), whose function is to control the rate of hydration of cement. Some previous researches have been
published on the use of this type of admixture in the reuse of the fresh concrete. There was a consensus that
HEA use does not because negative effects on the mechanical properties of concrete that impede its use. An
experimental study was conducted using more than twenty different types of cement in three levels of
ambient temperature. Pilot applications of the methodology were performed on some batching plants. From
the results, a model of HEA use was produced and applied successfully in about 100 concrete mixing plants
spread along Brazil where the HEA use allowed the reuse of almost 80% of total waste generated.
Keywords: Sustainability, Waste management, Environment, Hydration Stabilizer, Concrete Plant

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ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC
1. Introdução

Uma das alternativas que possibilita o reaproveitamento do concreto que retorna à


concreteira envolve o emprego de aditivos estabilizadores de hidratação (AEH), cuja
função é controlar a taxa de hidratação do cimento. É consenso que o AEH não provoca
efeitos negativos às propriedades mecânicas do concreto que inviabilizem seu uso.
(Kinney, 1989) (Paulon & Granato, 2003) (Benini, 2005)

Os aditivos estabilizadores de hidratação se diferem dos aditivos retardadores de pega


pelo intervalo de controle sobre a variedade de reações que ocorrem na superfície do
grão de cimento em contato com a água.

Comumente as concreteiras utilizam aditivos em suas dosagens, que aumentam a vida


útil do concreto fresco, proporcionando mais tempo para se realizar o transporte e o
lançamento do concreto, eles também, normalmente tornam mais lento o processo de
endurecimento da pasta.

Os fenômenos de enrijecimento associados à pega e ao endurecimento são


manifestações físicas das reações progressivas de hidratação do cimento. O
enrijecimento do concreto ocorre pela perda da consistência da pasta plástica de cimento
e está relacionada à perda de abatimento do concreto. A água livre presente na pasta de
cimento é responsável pela sua plasticidade. A redução gradual de água livre do sistema
ocasionada pelas reações iniciais de hidratação, adsorção física na superfície dos
produtos de hidratação de baixa cristalinidade e a evaporação causam o enrijecimento da
pasta seguida da pega e endurecimento. (Mehta & Monteiro, 2008)

A propriedade “tempo de início de pega” é dividida em dois componentes, o inicio e o fim


de pega. O inicio de pega determina o ponto no tempo, em que a pasta começa a perder
trabalhabilidade dificultando o manuseio do concreto para lançamento, compactação e
acabamento. O fim de pega está relacionado com o período de tempo necessário para a
solidificação da pasta de forma a torna-la completamente rígida. (Petrucci, 1979)

É importante o entendimento destes fatores para se desenvolver uma solução que utilize
os aditivos estabilizadores de hidratação no reaproveitamento do concreto.
2
ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC
Para tornar viável o uso do AEH no “dia a dia” de uma concreteira, não devem ocorrer
impactos não previstos no tempo de pego, o atraso de pega pode impactará o cliente e
poderá trazer prejuízos comerciais, por outro lado, o adiantamento da pega aumenta o
risco do concreto endurecer dentro do balão betoneira e isso poderá reduzir a
produtividade gerando prejuízos financeiros e logísticos na operação da concreteira.

Logicamente que há uma série de outros pontos que são relevantes no fornecimento de
concreto. No entanto, não há evidência que indique a possibilidade do AEH impactar
qualquer outra característica do concreto, com exceção do tempo de pega e a resistência
à compressão axial. Assim, neste trabalho apenas estes dois aspectos serão abordados.

2. Estabilização do Concreto x Tempo de Pega

Quanto maior a dose de aditivo estabilizador de hidratação adicionado, maior será o


tempo de início de pega do concreto, ocorrendo pequena modificação no tempo entre o
início e fim de pega (Paulon & Granato, 2003). Ou seja, a utilização de aditivos
estabilizadores irá impactar, fundamentalmente, na indução das reações de hidratação e,
uma vez vencida seu efeito, a taxa de hidratação do concreto volta a ter um
comportamento normal.

Figura 1 - Tempo de pega x Dosagem de aditivo (Paulon & Granato, 2003).


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ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC
Resultados similares foram encontrados para dosagem de AEH nos teores de 0,3%, 0,6%
e 0,9%, sobre a massa de cimento, verificando a eficácia de seu uso no reaproveitamento
de concretos retornados. (Kouhrausch, 2010)

O atraso na adição do AEH ao concreto em até 4 horas após o início de mistura não
compromete seu efeito. Desta forma, ao se adicionar o AEH posteriormente à mistura do
cimento com a água garante-se que haverá efeito estabilizante na mistura. (Benini, 2005)

O período de estabilização também está relacionado ao tipo de cimento. Cada cimento


apresenta uma curva de estabilização pelo teor de AEH utilizado. Quanto maior a
quantidade de clínquer no cimento maior será o teor de aditivo necessário para estabilizar
o concreto por um mesmo período de tempo. (Benini, 2005).

A temperatura também influencia na interação do AEH com o cimento. A American


Society for Testing and Materials, indica que concretos preparados a 10 oC possuem o
início de pega três horas mais longo e final de pega nove horas superior que os mesmos
concretos se preparados a 23oC. (ASTM C 403, 1992)

Quando da operacionalização de um método para reaproveitamento de resíduos a


influencia da temperatura deve ser considerada, principalmente se for levado em conta
que a gradiente de temperatura anual no Brasil muito é bastante amplo.

3. Estabilização do Concreto x Resistência a Compressão

A adição de aditivo estabilizador de hidratação provoca reduções da resistência à


compressão, nas primeiras idades, entretanto nas idades maiores a perda é compensada,
fazendo com que o cimento retorne à atividade química normal de hidratação dando como
resultado uma resistência superior aos 28 dias. (Paulon & Granato, 2003).

O AEH tem poder dispersante atuando também como redutor de água, compensando em
alguns casos, as perdas de resistência apresentadas nas primeiras idades do concreto.

A adição do aditivo estabilizador em tempos variados, posteriores à mistura do cimento


com a água, não altera de forma significativa a resistência se comparado com a dosagem
do aditivo no momento da mistura. (Paulon & Granato, 2003)
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ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC
4. Resistência a Compressão x Perda de Trabalhabilidade

Um dos problemas enfrentados pelas concreteiras é a perda de trabalhabilidade entre a


pesagem e o lançamento do concreto, para a correção desta perda, pode haver a
suplementação de água o que irá afetar diretamente a qualidade do produto.

A perda da trabalhabilidade pode ser definida como a perda de fluidez do concreto no


estado fresco com o passar do tempo e ocorre quando a água livre da mistura é
consumida pelas reações de hidratação, por adsorção na superfície dos produtos de
hidratação e pela evaporação. (Mehta & Monteiro, 2008)

A redução da trabalhabilidade é um fenômeno normal e resulta no enrijecimento gradual


da pasta de cimento. O ganho de resistência que ocorre a partir do fim de pega está
associado à formação de produtos de hidratação (etringita e C-S-H). Em condições
normais, na primeira meia hora após o contato entre a água e o cimento, a perda de
trabalhabilidade é insignificante em função do pequeno volume de produtos de hidratação
formados no período. Após esse tempo, o concreto começa a perder sua trabalhabilidade
que será mais intensa quanto maior fora temperatura ambiente. (Neville, 1997)

Sob elevadas temperaturas, o endurecimento do concreto é acelerado e o incremento da


taxa da perda de trabalhabilidade poderá apresentar sérios problemas devido à adição de
água não prevista na dosagem, uma vez que essa adição eleva o fator água/cimento do
concreto para níveis acima do pré-definido na dosagem experimental gerando,
divergências entre a resistência esperada e a entregue. (Falcão Bauer, 1994)

Vários estudos já demonstraram a relação entre a variação da consistência do concreto


com o passar do tempo e a variação de resistência do concreto com a adição de água
para corrigir a fluidez perdida. (Petrucci, 1979) (Mehta & Monteiro, 2008)

Para a definição de uma metodologia que use o AEH na concreteira, é importante avaliar
a perda de abatimento, pois este quase sempre implica no decréscimo da resistência
mecânica do concreto em obra, principalmente tendo em vista que apenas uma parcela
das construções tem sua entrega de concreto controlada adequadamente por profissional
responsável e capacitado para o recebimento do concreto.

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ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC
5. Método para implantação reaproveitamento com AEH

Em face ao exposto anteriormente, o modelo para reaproveitamento de concreto com


AEH visando a redução dos resíduos gerados na concreteira deve considerar:

 O tempo de estabilização da hidratação é diretamente proporcional ao percentual


de aditivo sobre a quantidade de cimento utilizada no concreto
 O impacto do aditivo estabilizador de hidratação é diferente para cada tipo de
cimento utilizado no preparo do concreto.
 Não há adição de água suplementar ao traço o atraso na adição do estabilizador
de pega não compromete o desempenho mecânico do concreto.
 A temperatura interfere diretamente no tempo de pega do concreto principalmente
se ele estiver estabilizado.
 Não há na literatura estudos demonstrando ser possível a estabilização de
concreto em condições normais com atraso de adição superior a 4 horas.
 O concreto estabilizado perde resistência em idades inferiores que 7 dias, entanto
em idade maiores ele atinge ou até mesmo ultrapassa a resistências de referência.
 A perda de consistência do concreto estabilizado é um fator que exige cuidados
visto que ele pode gerar efeitos negativos à qualidade do produto.

Somam-se aos fatores retro expostos os resultados dos ensaios realizados, nos testes
efetuados em laboratório:

 0,4% de estabilizador de hidratação conseguiu parar a reação do cimento por


intervalos que variaram entre 11 e 30 horas
 0,8 % de estabilizador de hidratação conseguiu parar a reação do cimento por
intervalos que variaram entre 20 e 65 horas

Outro ponto importante é que é possível a adição de cimento suplementar no concreto


estabilizado atua como forma de ativação do conjunto. Foi demonstrado que em alguns
casos ativação ocorre quando a proporção de estabilizado: novo é de 1:1, em casos de
uso de teores maiores a proporção precisa ser de 1:2. (Benini, 2005)

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ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC
Em vista do retro exposto estabeleceu-se uma metodologia que permite avaliar através de
ensaios de tempo de pega em concreto, qual era a quantidade de aditivo necessário para
estabilizar uma carga de concreto que retornasse a concreteira de forma a reaproveitá-la.

O estudo foi realizado para todos os cimentos utilizados na concreteira abrangendo assim
a todas das plantas que estavam ativas e operando. No total foram avaliados mais que
vinte diferentes tipos de cimentos.

Os estudos foram realizados em ambiente de laboratório controlado em caixas herméticas


contemplando três faixas temperaturas de trabalho distintas, 15oC ± 2oC, 25oC ± 2oC e
35oC ± 2oC, para analisar se havia correlação entre a temperatura ambiente e o teor de
aditivo necessário para a estabilização do concreto.

Em cada situação foram realizados ensaios com seis diferentes dosagens de aditivo
estabilizador de hidratação (0%; 0,20%; 0,35%; 0,6%; 0,8% e 1,0%). Esta dosagem de
aditivo se refere ao percentual sobre o peso de cimento do traço.

Como menos que 2% dos concretos devolvidos tinham tempo de vida útil superior a 4
horas, o estudo experimental foi restringido a esse limite. Assim sendo o AEH foram
sempre adicionadas 4 horas após o concreto em estudo haver sido preparado, de forma a
simular à pior situação passível de ocorrência em condições práticas.

Após a adição de aditivo estabilizador de hidratação nas amostras de concreto, iniciavam-


se as medições para determinação dos tempos de inicio e fim de pega através da agulha
de Proctor para determinar qual o tempo de estabilização obtido em cada uma das
situações de ensaio.

Os resultados obtidos determinaram a correlação entre o tempo de estabilização com o


teor de aditivo estabilizador de hidratação, para cada uma das três temperaturas estudas
e para cada um dos cimentos avaliados.

Desta forma foi possível definir o valor teórico para a estabilizar o concreto nos períodos
de tempo de 6, 18 e 36 horas, e assim criar de um gráfico onde é possível obter o
percentual de aditivo sobre o peso de cimento que deve ser adicionado para estabilizar o
concreto para o período de tempo que se necessita. , conforme apresentado na Figura 2.

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Santa Helena CP II - E - 40
100 y = 83,571x + 4,7143
Tempo de estabilização (horas)

80 y = 73,429x + 0,619

60 y = 56,714x - 2,8571

40 15oC

20 25oC

35oC
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Porcentual de aditivo sobre o peso de cimento (%)

Figura 2 - Gráfico utilizado na determinação dos teores de AEH para estabilização de concretos

Após a execução dos testes de laboratórios, iniciou-se a fase de teste de validação


através de ensaios de campo com o intuito de verificar se na rotina do dia a dia da
operação da concreteira era possível e viável a implantação desta metodologia

6. Implantação da solução em escala com AEH

Como a concreteira possui mais de 100 filiais, optou-se pela realização dos testes pilotos
em três fases. A primeira seria realizada em uma única filial, nesta fase coloco-se em
prática o reaproveitamento de sobras e lastro de concreto utilizando como base os
resultados obtidos nos ensaios de laboratório.

O teste piloto foi precedido de um lançamento oficial pela diretoria da empresa.


Inicialmente houve uma grande campanha de conscientização de todos os funcionários
da empresa através dos canais formais de comunicação da mesma.

Quando o projeto de redução de resíduos foi apresentado à filial piloto, a aderência foi
total, o que facilitou a relação entre o pessoal da operação e a equipe do projeto.

Nos primeiros dois meses de testes foram implementados apenas a o reaproveitamento


do lastro de concreto através de um procedimento extremamente simples. O
procedimento consistia na adição do AEH juntamente com uma quantidade determinada
de água no final do dia de operação visando evitar o desperdício da água de lavagem e
do resíduo retido na betoneira.
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Para controlar a efetividade do projeto, os caminhões foram verificados e seus balões
limpos antes do início dos testes para garantir que nenhuma betoneira apresenta-se
problemas de mistura ou que possuísse material aderido nas facas.

O seguinte procedimento foi implantado para reaproveitamento do lastro:

 Ainda na obra, ao verificar que o descarregamento foi total o motorista deve


adicionar ao menos 20 litros de água através da mangueira de pressão do
caminhão lavando bem as primeiras facas.
 Após essa lavagem, o motorista deve completar a adição de 100 litros água no
balão através do dosador do caminhão.
 Chegando a filial o motorista faz o carregamento do caminhão conforme o padrão
adotado na filial (o balanceiro efetuará o corte de 100 litros de água do traço)
 Caso não haja previsão de viagem subsequente, o motorista deve se dirigir a
plataforma de dosagem para verificar se só há lastro dentro do caminhão.
 Caso haja somente o lastro dentro do balão o motorista deve adicionar um litro de
AEH, adicionar 100 litros de água, misturar o lastro e o AEH por 3 minutos em
velocidade de mistura, girar o balão no sentido de descarga por cinco vezes de
forma a garantir que todo o resíduo de concreto se deposite no fundo do balão.
 Após, o motorista deve efetuar a mistura por um período de mais 3 minutos, ao
final do qual deve estacionar o caminhão no local costumeiro de guarda do veículo.

Logo após a implantação do reaproveitamento do lastro foi detectado que o volume de


resíduos de concreto retirados da filial foi reduzido significativamente, além disso houve
um aumento na produtividade da filial devido a redução do tempo gasto pelos motoristas
de betoneira na retirada do lastro, o que motivo a concreteira a iniciar o processo de
reaproveitamento da sobra.

O método adotado exigia que caminhão betoneira com sobra fosse verificado pelo
laboratorista, que efetuava a o ensaio de abatimento, moldava uma série de 6 corpos-de-
prova, media a temperatura e anotava os dados em formulário juntamente com algumas
outras informações: o horário de pesagem do concreto, o horário de retorno do caminhão,
motivo da devolução do concreto, acréscimo de água na obra e temperatura ambiente.
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ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC
De posse das informações relatadas pelo laboratorista, o responsável pela definição o
responsável técnico da concreteira estabelecia se a sobra em questão poderia ou não ser
reaproveitada e em caso de reaproveitamento informava a quantidade de AEH que
deveria ser adicionada para estabilização do concreto.

O endurecimento do concreto dentro da betoneira era um risco e precisava ser mitigado,


pois se isso ocorresse, grande parte dos envolvidos iriam se voltar contra o projeto. Por
isso inicialmente a estabilização da sobra somente era realizada em concretos cuja vida
útil não ultrapassasse duas horas. E cuja que a diferença de temperatura entre o concreto
e o ambiente ficasse abaixo dos 4oC. Caso qualquer uma destas condições não fosse
atingida o concreto era descartado no bota-fora.

Sendo o reaproveitamento realizado para o mesmo dia, um laboratorista era designado


para acompanhar o descarregamento do concreto estabilizado na obra e efetuar ensaio
de abatimento e a moldagem de corpos-de-prova que posteriormente seriam ensaiados.

Quando o reaproveitamento era realizado para o dia seguinte, o laboratorista


acompanhava o concreto durante o período noturno medindo a temperatura a cada meia
hora até o momento que esse caminhão era redosado e encaminhado à obra.

Os resultados obtidos dos ensaios de resistência a compressão nos corpos-de-prova


moldados antes e após a estabilização eram comparados para verificar se o desempenho
mecânico do produto estava de acordo com o esperado.

Esse procedimento foi seguido por quatro meses antes de sofrer qualquer alteração, mas,
após análise dos resultados, constatou-se a necessidade de implementação de mudanças
para reduzir alguns riscos observados, entre elas pode-se citar:

 A adoção um porcentual de AEH ligeiramente superior ao encontrado nos testes de


laboratório. Em campo, se percebeu que as vezes, o concreto demorava mais de
18 horas para ser encaminhado a outro cliente, impossibilitando com isso seu o
reaproveitamento. Para corrigir essa distorção encontrada, optou-se por adotar o
percentual determinado para a estabilização do concreto de 10, 24 e 48 horas.

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 Todo o carregamento de concreto estabilizado deveria ser ativado com uma adição
complementar de cimento, pelo menos na proporção 1:1 nos casos de concreto
para o mesmo dia e na proporção 1:2 nos casos de concreto para o dia seguinte ou
para o fim de semana. Essa decisão foi tomada devido aos problemas que
surgiram de ocorrência de atrasos de pega em alguns clientes.
 Preferencialmente um concreto quando estabilizado deveria ser reaproveitado em
outro com menor especificação de desempenho mecânico. Apesar dos resultados
não demonstrarem perda de resistência no concreto estabilizado, a política da
empresa quanto à qualidade era bastante rígida e em reunião de acompanhamento
a diretoria da concreteira optou por postura conservadora para a preservação da
qualidade do concreto.
 Nos casos em que o novo carregamento possua uma maior quantidade de cimento
do que aquele que consta do concreto a ser reaproveitado, foi definido que haveria
um acréscimo de cimento suplementar ao traço de 10% sobre a massa total de
cimento, isso também em virtude da política de qualidade da empresa.
 Limitar o volume de reaproveitamento de concreto dentro do caminhão para a
metade da capacidade do balão. Isso foi feito para permitir uma melhor
homogenização do AEH dentro do balão. Desta forma quando um caminhão com
mais que quatro metros cúbicos de concreto fossem devolvido, far-se-ia necessário
à divisão da carga em 2 volumes.
 A adição do AEH deve ocorrer apenas quando o abatimento do concreto estiver
superior a 10 cm Isso também foi feito para permitir a melhor homogenização do
aditivo dentro do balão. Assim, adicionava-se água a concretos que retornavam
com abatimentos menores que esse limite. Naturalmente que essa água era
descontada posteriormente na pesagem para complementação da carga.
 O volume mínimo de AEH para reaproveitamento de carga a ser utilizado é de 3
litros, essa medida foi tomada devido ao grande numero de concretos que
endureciam no balão quando o volume devolvido era pequeno.
 Concreto estabilizado não deveria ser reaproveitado em traços para piso acabado
ou em concreto colorido, isso para evitar reclamações de clientes.
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Após a implantação destas alterações no procedimento de reaproveitamento de sobras do
concreto, houve o acompanhamento por mais três meses antes de se iniciar a replicação
do piloto para as demais filiais da empresa.

Para a primeira leva de replicação do projeto piloto foram escolhidas seis filiais de
diversos portes, situadas nas regiões sul, sudeste centro-oeste e nordeste do país.

A dificuldade surgiu quando se notou que havia filiais que não possuíam balança
rodoviária que permitisse realizar a pesagem das betoneiras para se determinar o volume
de concreto que havia sobrado no balão.

A correta verificação da quantidade de resíduo que retorna é muito importante Isso visa
reduzir os riscos de se adicionar AEH em demasia ou em déficit e, desta forma, prejudicar
o desempenho do concreto estabilizado. Em vista disso foram estudados vários modos de
se realizar essa aferição da quantidade de resíduos com o intuito de determinar qual o
modelo a ser utilizado em cada uma das filiais da empresa.

Após alguns testes optou-se pela determinação do volume através de análise visual,
apesar desta análise não ser de grande precisão. No entanto, em testes realizados na
concreteira, observou-se que os erros de medição poderiam ser minimizados se a analise
fosse efetuada por 2 pessoas em conjunto, conforme pode ser visto na Figura 3.

Analise Visual

100%

80%

60%
% Erro

40%

20%

0%

Amostras

Motorista Mot.+Ajud.

Figura 3 - Avaliação visual do volume devolvido

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Um ponto que é preciso destacar é que para a correta verificação do volume de resíduos
que sobra no caminhão betoneira através do método visual, é necessário que se possua
um local com iluminação adequada.
De forma a instituir uma competição saudável entre as filiais estabeleceu-se uma forma
de divulgação dos resultados do projeto em cima de um ranking onde as filiais, regionais e
áreas de negócio eram classificadas em função do volume reaproveitado de concreto.

Essa forma de comunicação foi extremamente benéfica ao programa. Em filiais que se


mostraram reticentes ao uso do aditivo estabilizador de hidratação houve uma mudança
de postura das lideranças com a divulgação do comunicado para toda empresa. Assim
elas acabaram por aderi ao programa uma vez que havia metas a serem atingidas que
seu atendimento era divulgado de forma transparente.

7. Análise da viabilidade do reaproveitamento com AEH

Do ponto de vista econômico, os resultados do reaproveitamento de resíduo de concreto


são compensadores. Mesmo na pior situação analisada, os ganhos econômicos
decorrentes apenas da economia de matéria-prima é superior ao custo do AEH utilizado.

Outros ganhos econômicos associados foram verificados como, por exemplo, o custo de
retira e disposição de resíduos que diminuiu em 74%, ou o custo de água adquirida de
terceiros foi reduzido em quase 65% e o custo de diesel por volume transportado foi
reduzido em 8% Este último aspecto ocorreu devido a menor perda de tempo na lavagem
de caminhões betoneira.

A eliminação de resíduos através do uso de aditivo estabilizador de hidratação também


impactou positivamente nos resultados financeiros da empresa como um todo, pois, além
da diminuição do custo de operação, houve o incremento no volume produzido sem
aumento de pessoal ou frota. Isso gera um retorno do investimento mais rápido para os
acionistas e uma maior lucratividade com o negócio.

Operacionalmente, a aplicação de aditivos estabilizadores de hidratação é bastante fácil,


não se diferenciando em nenhum aspecto do uso de qualquer outro tipo de aditivo com

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uso regular em concreto. A maior dificuldade junto à operação se deu no cálculo da
quantidade de produto a ser adicionada a cuba do caminhão. Essa questão foi sanada
criando-se um programa que foi acoplado ao sistema automatizado de pesagem utilizado
pela empresa para gerenciar a produção concreto e despacho de caminhões.

Sob a ótica ambiental, os resultados também se apresentaram altamente satisfatórios. O


AEH não é um produto classificado como um produto de transporte perigoso, não é
inflamável, não é tóxico e nem é corrosivo. O uso do aditivo estabilizador possibilitou uma
grande economia de água Reduziu o tempo de lavagem dos caminhões em quase 80%, o
que fez diminuir a emissão geral de CO2. Além disso, criou-se uma cultura de eliminação
de desperdícios nas filiais, o que é sempre bem vindo.

Anteriormente ao reaproveitamento de resíduos através do uso de AEH, por ano a


concreteira gerava de 102 mil metros cúbicos de resíduos, na soma de todas as plantas
cerca, após a implantação da metodologia esse volume reduziu para menos que 26 mil
metros cúbicos de resíduos.

O aumento da produtividade também foi percebido nas filiais, o que possibilitou o


aumento do número de viagens de fornecimento de concreto e, consequentemente, no
volume de concreto transportado por cada motorista.

8. Comentários finais sobre reaproveitamento de concreto com AEH

O reaproveitamento de resíduos através do uso de aditivo estabilizador de hidratação é


viável e lucrativa para as concreteiras. No entanto, esse projeto demanda tempo e
dedicação da equipe envolvida, além de algum investimento em pesquisa e
desenvolvimento, visto que existem algumas variáveis cujo conhecimento e
parametrização são necessários.

A forma de divulgação do projeto junto ao público interno é muito importante, pois são os
motoristas, operadores de concreteira e encarregados de filial que operacionalizam o uso
do AEH para reaproveitamento dos resíduos no dia a dia. Se eles não estiverem aderidos
ao projeto, fatalmente o programa estará fadado ao fracasso.

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9. Referências

Andriolo, F. R., & Sgarboza, B. C. (1993). Inspeção e controle de qualidade do concreto.


São Paulo: Newswork.
ASTM C 403. (1992). Standart test Method for time of setting of concrete mixtures by
penetration resistence. Filadelfia: American Society for Testing and Materials.
Benini, H. (2005). Reaproveitamento de concreto fresco dosado em central com o uso de
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ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC

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