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Vol. 45, abril 2018. DOI: 10.5380/dma.v45i0.50627.

e-ISSN 2176-9190

Técnica e ética ambiental: um debate entre Jonas e Larrère e


Larrère

Technique and environmental ethic: a debate between Jonas, and


Larrère and Larrère

Antônio Carlos dos SANTOS1*, Karoline Ketilin Moura SOUZA1


1
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão, SE, Brasil.
*
E-mail para contato: acsantos12@uol.com.br

Artigo recebido em 10 de fevereiro de 2017, versão inal aceita em 18 de março de 2018.


RESUMO: Este texto tem por objetivo analisar as implicações do poder da técnica sobre a natureza e os princípios éticos
que devem visar à superação desses problemas no mundo contemporâneo, com base em três autores centrais:
Hans Jonas e Catherine e Raphäel Larrère. A problemática central do texto é a de que os três autores estão de
acordo quanto ao fato de que a promessa da tecnologia moderna converteu-se em ameaça para a humanidade
e de que os pressupostos da ética tradicional já não se mostram suicientemente adequados para contornar
essa situação. No entanto, eles entram em conlito quanto à operacionalização de uma resposta mais eicaz a
esse problema. Jonas propõe o princípio responsabilidade, enquanto Larrère & Larrère sugerem o princípio
de precaução. Assim, este artigo visa contribuir com o debate atual sobre a ética ambiental nas ciências
ambientais, sob uma perspectiva interdisciplinar.

Palavras-chave: ética; natureza; política; técnica.

ABSTRACT: The aim of this paper is to analyze the implications of the power of technique over nature and the ethical
principles that aim to overcome these problems in the contemporary world, with Hans Jonas and Catherine
and Raphäel Larrère as central authors. The central issue of this text is that these three authors are in agreement
about the fact that the promise of modern technology has been converted into a threat to humanity, and that
the assumptions of traditional ethics are no longer suiciently adequate to overcome this situation. However,
there is conlict regarding the operationalization of a more efective response to this problem. Jonas proposes
the "responsibility principle," while Larrère & Larrère suggest the "precautionary principle." Thus, this article
aims to contribute to the current debate on environmental ethics in the environmental sciences, from an
interdisciplinary perspective.
Keywords: ethics; nature; politics; technique.

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1. Introdução cações da técnica e a ameaça à sobrevivência das
gerações futuras. Jonas apresenta um entendimento
O aumento do poder e da coniança depositada sobre as consequências do atual e incomensurável
na técnica tem causado enorme temor à sobrevivên- poder da técnica, cuja dimensão jamais tinha sido
cia da humanidade, em razão de seu uso desordena- alcançada, o que justiica a necessidade de uma nova
do. A im de evitar, ou ao menos retardar, os efeitos ética para a utilização da técnica. O autor propõe,
negativos desse empreendimento, em meados do sé- então, a aplicação do princípio responsabilidade
culo passado surgiu a necessidade de uma ética para e suas ponderações têm como base o diagnóstico
melhor utilização da técnica. Em relação à discussão inicial da crise e a apresentação de uma solução
sobre esse assunto, três autores se destacam: Hans para os problemas decorrentes dela. A segunda parte
Jonas, autor do livro Princípio responsabilidade: é dedicada ao pensamento de Larrère & Larrère
ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, (2001), que criticam duramente o pensamento de
e o casal Catherine e Raphäel Larrère, autores do Jonas, principalmente em relação a sua dimensão
livro Do bom uso da natureza: para uma ilosoia prática, que é pouco analisada pelos estudiosos de
do meio ambiente. Assim, o objetivo deste texto é Jonas. A terceira parte é dedicada à proposta de Lar-
analisar as implicações do poder da técnica sobre rère & Larrère, que apresentam seus pressupostos
a natureza e os princípios éticos que devem visar à sobre as implicações da ética perante a técnica e
superação dos problemas decorrentes da técnica no as consequências socioambientais de seu uso, com
mundo contemporâneo, por meio de duas diferentes base no princípio de precaução. Os autores desen-
interpretações. A problemática central do texto é a volvem suas ideias concordando em alguns aspectos
de que Hans Jonas e Catherine e Raphäel Larrère sobre o poder da técnica, porém, no ápice de suas
estão de acordo quanto ao fato de que a promessa da discussões, vão de encontro às medidas propostas
tecnologia moderna converteu-se em ameaça para a por Jonas, principalmente no que diz respeito à
humanidade e de que os pressupostos da ética tradi- heurística do medo como estratégia para a proteção
cional já não se mostram suicientemente adequados do ambiente físico e o controle social.
para contornar essa situação. No entanto, os autores Embora os três autores discordem quanto
entram em conlito quanto à operacionalização de ao tipo de ética que possa combater os problemas
uma resposta mais eicaz a esse problema. Jonas gerados pela técnica, eles concordam que a ética
propõe o princípio responsabilidade, enquanto Lar- ambiental, que se constituiu a partir da segunda
rère & Larrère sugerem o princípio de precaução. metade do século passado, tem se solidiicado cada
Este artigo visa contribuir com o debate atual sobre vez mais como uma relexão ilosóica, na qual as
a ética ambiental nas ciências ambientais, sob uma questões clássicas da ilosoia estão associadas aos
perspectiva interdisciplinar. problemas contemporâneos voltados para a nature-
Este artigo é composto de três partes, além da za. É em torno dessa questão que este texto pretende
introdução e da conclusão. A primeira tem início colaborar com o debate atual.
com os argumentos de Jonas (2006) sobre as impli-

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2. As implicações políticas do princípio a longo prazo, pois os pontos positivos e negativos
responsabilidade de Jonas são evidenciados no decorrer da ação, ou seja, as
consequências icam a critério do acaso. Além
No momento em que a promessa da tecnologia disso, a perspectiva de futuro limita-se à extensão
moderna converteu-se em ameaça, Jonas (2006) previsível do tempo de vida do indivíduo. Assim, a
desenvolveu seu pensamento para demonstrar a ação e as suas consequências são evidenciadas em
necessidade da elaboração de uma nova ética e um momento presente comum.
apresentou suas justiicativas para airmar que a Com base nessas características, as conside-
ética tradicional já não se mostra suicientemente rações sobre os efeitos das ações como boas ou
adequada para orientar a situação e garantir a exis- más são inteiramente decididas tendo como base o
tência da humanidade no futuro. Segundo Jonas curto prazo. Jonas aponta a invalidade de uma “ética
(2006), a ética tradicional não consegue contem- tradicional”, do próximo ou do “curto prazo”, pois
plar as novas situações e perspectivas, visto que esta implica o fato de que “Ninguém é julgado res-
não considera o comportamento cumulativo, nem ponsável pelos efeitos involuntários posteriores de
a condição global da vida humana e tampouco as um ato bem-intencionado, bem-reletido e bem-exe-
condições de existência em um futuro distante. Essa cutado” (Jonas, 2006, p. 37). Além disso, devido à
ética envolve apenas a natureza dos seres humanos, extensão do poder e do fazer coletivo, “ator, ação e
subjugando o aspecto extra-humano. efeito não são mais os mesmos da esfera próxima”
De acordo com o ilósofo, a ética tradicional (Jonas, 2006, p. 39).
compartilha os seguintes pressupostos: 1) a condi- Além desses aspectos, o autor apresenta outra
ção humana, conferida pela natureza do homem e característica que é insuiciente na ética tradicional:
pela natureza das coisas, encontra-se ixada, de uma o caráter cumulativo dos efeitos da técnica. Isso sig-
vez por todas, em seus traços fundamentais; 2) com niica dizer que as situações têm se tornado cada vez
base nesses fundamentos, pode-se determinar sem mais difíceis de serem revertidas, ou, pelo menos,
diiculdade e de forma clara aquilo que é bom para as condições para o restabelecimento das situações
o homem; 3) o alcance da ação humana e, portanto, atuais já não são as mesmas que as anteriores. Jonas
da responsabilidade humana, é deinida de maneira não questiona a validade das éticas tradicionais, mas
rigorosa (Jonas, 2006, p. 29). Ainda segundo o autor sim a insuiciência delas, considerando-se as novas
(2006), para essa ética, a natureza não é objeto de dimensões e projeções do agir humano. O ilósofo
responsabilidade humana, por isso, diante dela, argumenta que o conhecimento e sua aplicabilidade
são “[...] úteis a inteligência e a inventividade, não técnica inicialmente “neutralizaram” a natureza,
a ética” (Jonas, 2006, p. 34). Nesse contexto, a deteriorando seu valor intrínseco a favor de um
técnica é compreendida apenas como um atributo valor cientíico e comercial. O autor pensa, então,
determinado pela necessidade; ela é considerada sobre a nova condição da ciência, apresentada como
antropocêntrica e, por isso, o homem não é objeto um conhecimento voltado exclusivamente para o
da técnica. Não há necessidade de um planejamento desenvolvimento da técnica, tornando-se perigosa

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devido ao poder para controlar a natureza e orientar teúdo, e não como certeza, visto que a velocidade no
as decisões humanas. avanço dos conhecimentos e seu desenvolvimento
Baseando-se em tais características, o ilóso- prático têm suprimido o tempo que seria necessário
fo alemão considera que essa ética não se mostra às eventuais correções, tornando-as cada vez mais
suiciente para contemplar as relações humanas na limitadas. Daí a necessidade de vigiar os primeiros
era tecnológica, principalmente porque o papel e a passos, cuidando para que “a herança de uma evo-
responsabilidade sobre o agir humano foram mo- lução anterior seja preservada” (Jonas, 2006, p. 79).
diicados. Nessa perspectiva, Jonas (1999) airma Em Jonas (2006), a prudência representa o
que a ética tem algo a dizer sobre os assuntos da cerne do agir moral, devendo-se considerar como
técnica, ou melhor, que a técnica deve subordinar-se certo aquilo que é duvidoso. Ou seja, se determi-
às considerações éticas. nada ação implica consequências que não podem
Ao analisar o modo como a técnica inluencia ser estabelecidas previamente ou que vão ocasionar
a natureza do agir humano, Jonas (2006) manifesta- risco para a humanidade futura, é certo preferir sua
-se a favor de uma ética que aponte os valores e os interrupção. O autor apresenta, desse modo, sub-
objetivos a serem atingidos, utilizando os meios (a sídios para o estabelecimento de novos princípios
técnica) como aquilo que realmente são, para que para o agir humano não só em relação à natureza
não sejam transformados em ins em si mesmos. física, mas também em relação à natureza humana.
Visto que, para o autor, a ameaça à vida humana Com o objetivo de proporcionar mudanças
é decorrente do “excesso do nosso poder de fazer, na concepção de que o homem deposita total
de prever [...] de conceder valor e julgar” (Jonas, coniança no aparato tecnológico e na velocidade
2006, p. 64), torna-se necessário ordenar as ações das descobertas para efetivar seus objetivos, Jonas
humanas e regular seu poder de ação diante do (2006) defende a “ética da responsabilidade” como
“agir-coletivo-cumulativo-tecnológico”. bandeira de sua proposta, a qual deve orientar a
Nesse sentido, o primeiro dever da nova ética a conduta das ações humanas. Para garantir que não
que o autor se refere é visualizar os efeitos de longo se torne apenas uma norma, o autor discorre sobre a
prazo, entendendo que aquilo que deve ser temido utilização da política como instrumento voltado para
ainda não foi experimentado. O segundo dever é a a prática e as orientações implícitas nessa nova ética.
mobilização de um sentimento adequado para repre- Considerando as ações do homem público,
sentar essa ética, que, segundo Jonas, seria o medo caracterizadas pela praticidade e pela imediaticida-
diante da situação temida; caso contrário, a possi- de, Jonas (2006) propõe a expansão dos limites de
bilidade seria deixar-se afetar pela salvação ou pela sua responsabilidade, estabelecendo o conceito de
desgraça das gerações vindouras. Para adoção de responsabilidade total, que compreende o resultado
uma postura a favor dessa nova ética, considera-se de uma ação no contexto atual e na posterioridade,
a impossibilidade de exigir um saber que ainda não determinando previamente qual resultado se dese-
pode ser apresentado com rigor crítico-cientíico, ja alcançar e a que custo. De acordo com o autor,
de forma antecipada. Por isso, Jonas se baseia em com a responsabilidade total, ousa-se renunciar
possibilidades e em projeções de futuro como con- ao desenvolvimento de ações mal planejadas, ou

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desaconselháveis, por conta do desconhecimento imprima o medo por meio da força. Com base nesse
sobre a totalidade de seus efeitos. pensamento, são apresentadas a seguir as medidas
Nesse sentido, a responsabilidade política deve políticas de Jonas.
considerar as características do novo contexto em Segundo Jonas (2006), não se deve permitir
que se processam as ações e seus efeitos, tendo em que haja um aumento do bem-estar mundial. Para
vista que “o dinamismo é a marca da modernidade; garantir a estagnação do crescimento econômico
ele não é um acidente, mas a propriedade imanente e da capacidade produtiva, o ilósofo defende a
desta época e, até nova ordem, o nosso destino. postura de advertência em relação a um mal maior
Isso quer dizer que temos de contar com o novo, por vir, acreditando no medo altruísta ao invés da
embora não possamos calculá-lo” (Jonas, 2006, p. esperança. Prevendo a irme oposição – e mesmo
203). Mesmo preocupando-se com a necessidade reação – a essa ideia, Jonas (2006, p. 294) airma:
da existência humana tanto no presente quanto no “[...] eu acredito que a solução está nesse caminho,
futuro, não é a responsabilidade que vai determinar se possível de forma voluntária; se necessário, for-
o suprimento de tais necessidades, ela emerge na çada”. Para garantir o princípio responsabilidade,
tentativa de possibilitar tal fato. A responsabilidade o governante, para Jonas, não pode medir esforços,
pretende evitar a emergência de efeitos pelos quais podendo recorrer à força bruta, a im de garantir uma
o responsável não poderá responder no futuro, seja espécie de redenção futura. Diante dessa análise, o
por falta de informação ou de tempo. autor apresenta o paradoxo da situação atual: “[...]
Levando em consideração tal característica, de precisamos recuperar esse respeito a partir do medo,
acordo com Jonas (2006), para a efetivação do prin- e recuperar a visão positiva do que foi e do que é o
cípio responsabilidade, a prevenção é uma postura homem a partir da representação negativa, recuando
muito mais eicaz que a sedução de uma promessa de horror diante do que ele poderia tornar-se, ao
incerta. Mesmo o desconhecido, ou aquilo em que encararmos ixamente essa possibilidade no futuro
não se deve apostar, pode tornar-se objeto de uma imaginado” (Jonas, 2006, p. 353).
política de prevenção. Assim, diante de tal desco- Para o autor, somente o respeito em decorrên-
nhecimento, Jonas opta pelo cenário do pior, pois a cia do medo protegeria o homem da destruição do
profecia do mal é feita para evitar que ele se realize. presente em nome do futuro. Entretanto, tal medo
Baseando-se na visão que projeta um cenário não se refere à incerteza. De acordo com o ilósofo,
negativo para conseguir garantir a participação de “O medo que faz parte da responsabilidade não é
todos na efetivação da proposta de responsabilidade aquele que nos aconselha a não agir, mas aquele
pelas gerações futuras, Jonas (2006) desenvolveu que nos convida a agir. Trata-se de um medo que
suas medidas práticas, aproximando-se da ideia de tem a ver com o objeto da responsabilidade” (Jonas,
que, quanto menos comunicação e discussão sobre 2006, p. 351). Ou seja, o temor é favorável à pre-
os temas, mais eicientes, rápidas e poderosas po- servação do objeto e as ações devem estar voltadas
dem ser as decisões para solucionar esses mesmos para esse im.
problemas. A sociedade, então, coniaria plenamen- Em uma tentativa de justiicar o rumo pa-
te suas decisões ao homem público, mesmo que ele ternalista e autoritário que vigora na aplicação

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prática de sua argumentação, Jonas (2006) airma 3. As críticas de Larrère e Larrère às
que, independentemente do modo como as atitudes estratégias do princípio responsabilidade de
sejam manifestadas, o que importa é possibilitar Jonas
a continuidade da vida humana e sua essência
natural, bem como a da natureza física, da melhor Larrère & Larrère (2001) caracterizam a im-
forma possível. O ilósofo entende que os males portância da obra de Jonas em seu contexto histórico
oriundos da degradação do patrimônio físico natural e apresentam críticas às soluções preconizadas
estendem-se proporcionalmente aos seus herdeiros. pelo ilósofo alemão e, principalmente, ao caráter
Impedir que esse quadro seja efetivado signiica autoritário da proposta de Jonas. Além disso, os
assumir a responsabilidade pelo futuro do homem. autores mostram-se contrários aos procedimentos
Além disso, é possível airmar que o ilósofo e às justiicativas utilizadas pelo ilósofo para in-
compartilha do pensamento antropocêntrico, quan- formar suas medidas, as quais visavam estabelecer
do airma que a natureza conserva sua dignidade e uma heurística do temor.
contrapõe-se ao poder humano. Para Jonas (2006, p. De acordo com Larrère & Larrère (2001),
229), “Quando a luta pela existência frequentemen- durante os primeiros anos da publicação de Jonas,
te impõe a escolha entre o homem e a natureza, o não havia consenso a respeito da crise ambiental,
homem, de fato, vem em primeiro lugar”. Por isso, razão pela qual seu pensamento não recebeu a aten-
proteger o futuro da humanidade é o primeiro dever, ção devida. Porém, a globalização transformou a
o qual inclui o futuro da natureza unicamente por recepção de sua obra e trouxe a possibilidade de uma
ser a condição para efetivá-lo. crítica mais apurada. Conforme airmam os autores,
Enim, as relexões de Jonas sobre o poder “[...] quando nosso poder técnico crescente revela ao
da técnica não implicam, necessariamente, uma mesmo tempo a fragilidade das condições naturais
preocupação com a natureza, entendida como o de que ele depende para continuar e as ameaças
ambiente físico, mas sim uma preocupação com a que elas fazem pesar sobre nós, começa-se a ouvir
manutenção da natureza para a sobrevivência do Jonas” (Larrère & Larrère, 2001, p. 266).
homem. Entende-se que sua inquietação está cen- Em sua obra, Jonas tenta estender à natureza
trada na sobrevivência da humanidade, ameaçada uma preocupação que icou circunscrita às comu-
pela técnica, e na necessidade de uma ética para nidades humanas, pois, até certo ponto, as ações
a utilização desta. Jonas não discorda do fato de antrópicas perturbavam a natureza apenas superi-
que a ciência é importante para o desenvolvimento cialmente. Porém, quando o poder e a capacidade
do homem; seu problema não está na ciência, mas técnica intensificaram essa relação, tornando-a
na maneira como esta pode ser manipulada, a im perigosa para o homem, surgiu a necessidade de
de possibilitar sua aplicação, ou seja, no perigo uma nova dimensão de responsabilidade. Isso
proveniente do poder que a técnica exerce sobre o signiica dizer que, para Larrère & Larrère (2001),
homem e a natureza. Jonas analisa a questão da técnica com lucidez,
mas a proposta política feita por ele para a solução

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do problema não coincide com sua postura ética: a mesmos a obrigação provinda do futuro” (Larrère
heurística do medo de Jonas antecipa a catástrofe, & Larrère, 2001, p. 275). O ilósofo alemão ignora
retirando toda a capacidade humana de pensar ações a racionalidade argumentativa e tem enorme dii-
livres que possam contornar o problema de outra culdade de entender a democracia como valor do
maneira, levando em conta o debate público e o mundo contemporâneo. Portanto, o posicionamento
conhecimento cientíico esclarecido. autoritário de Jonas não permite a compreensão da
Larrère & Larrère (2001) afirmam que a política em pleno século XX.
ambiguidade presente na obra de Jonas se deve ao É importante destacar que Larrère & Larrère
fato de que, mesmo denunciando a utopia técnica, o (2001) não são os únicos a fazer essa crítica a Jonas.
ilósofo continua preso à ilusão do poder total, acre- Semde (2015), ao analisar a ética e a política em
ditando na capacidade técnica para controlar todas Jonas, também faz coro às críticas ao alemão sobre
as ações humanas, por meio de uma previsibilidade a mesma questão, fundamentando-se em dois argu-
programada. Assim, Jonas, ao procurar “substituir mentos: a) Jonas pensava que a falta de dados cien-
a ciência pela ética, mantém sua separação” (Lar- tíicos absolutos sobre as consequências danosas à
rère & Larrère, 2001, p. 267), na medida em que natureza deixava margem a dúvidas, razão pela qual
exclui das decisões o debate público, por meio da não se pode fundar uma ética em um pensamento
“aterrorização” sobre uma catástrofe natural da duvidoso; 2) Jonas defendia uma mudança política
qual todos deveriam proteger-se para evitar o pior. global, na qual os cidadãos deveriam se sacriicar
Ora, essa ideia não só é incômoda, pois se trata de em nome do bem maior, o comum, especialmente
um princípio político, mas também é perversa, pois tendo em vista as gerações futuras, e, com isso,
traz um elemento religioso intrínseco, que vai na pressupunha cidadãos virtuosos e abdicados. Em
contracorrente das éticas laicas modernas. A ética tom sarcástico, Semde (2015, p. 160) pergunta:
da responsabilidade de Jonas é como uma ética “O homem de Estado preocupado em conservar
religiosa, de abstinência e de sacrifício, e não como seu poder pode optar em sacriicar as necessidades
uma ética da moderação. Por isso, airmam Larrère presentes e às vezes urgentes dos cidadãos atuais
& Larrère (2001, p. 274), Jonas faz “[...] da mesma sobre o qual ele deve contar para se manter no po-
forma que se ameaçam os crentes com os horrores der em nome de um cidadão apenas virtual?”. Ou
do inferno, já que não é possível incliná-los direta- seja, a diiculdade maior do pensamento de Jonas
mente para o bem”. é justamente fazer a ponte entre seu pensamento
No entanto, por que Jonas faz tão bem a análise ético e as atividades políticas que exigem questões
da técnica e, ao mesmo tempo, é tão obtuso do ponto práticas, urgentes e necessárias.
de vista político? Para Larrère & Larrère (2001),
Jonas teria diiculdade de estabelecer essa ética 4. A proposta de Larrère e Larrère ao
no campo político porque não se presta ao debate problema da técnica
democrático. “Jonas não acredita na capacidade das
democracias para se libertarem dos seus interesses Com base na crítica ao pensamento de Jonas e
presentes, para preverem a ameaça e imporem a si ao seu princípio ético da responsabilidade, Larrère

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&Larrère apresentam como alternativa o princípio Baseando-se no modelo do debate público para
de precaução. Esse conceito é problemático porque propor o princípio de precaução, Larrère & Larrère
não se tem consenso sobre sua deinição, razão pela defendem que a razão deve sobrepor-se ao medo.
qual Guillaume (2012, p. 491) airma que há uma Esse princípio apresenta-se muito mais adequado
verdadeira “querela do ‘princípio de precaução’”. ao espaço político da democracia e evita aplicações
De qualquer modo, esse conceito é uma norma absolutistas ao andamento das atividades sociais,
prática, que toma a forma jurídico-política nas por meio das articulações entre prudência, política
sociedades democráticas como resposta aos even- e ciência. Tal posicionamento, além de prevenir
tuais riscos ambientais, sejam estes relacionados a riscos, minimiza a insegurança oriunda da falta de
comunidades especíicas ou a toda a humanidade. informação por parte da população. Além disso,
Grosso modo, há duas versões explicativas. Na é em meio aos conlitos e às pressões sociais que
primeira (versão forte), a ideia de precaução é um surgem as melhores formas de se extrair soluções
critério absoluto, instituindo-se como uma regra de positivas e autênticas.
abstenção, que tem como consequência a paralisa- O princípio de precaução não se encerra na
ção das atividades existentes e o desencorajamento pura e simples interdição das ações e na paralisa-
à inovação. Na segunda (versão fraca), é um critério ção das atividades. Por meio da inversão do ônus
parcial, que abre espaço ao debate público, à deli- da prova, esse princípio introduz mecanismos
beração e aos processos de justiicação em razão de que permitem ultrapassar tal processo, devido ao
riscos à natureza e ao homem. Independentemente estímulo ao desenvolvimento dos conhecimentos
da versão, em ambas há o afastamento do cenário que envolvem o risco. O objetivo não é imputar a
único, caracterizado pela profecia do medo e da culpa, a im de paralisar as atividades econômicas e
desgraça de Jonas. técnicas, mas sim impor a obrigação de saber sobre
Segundo Larrère & Larrère (2001), o medo não a dinâmica das consequências indesejados sobre a
convence e, por isso, nada melhor que combatê-lo população a longo prazo.
por meio da negociação, da conversa, do conven- É nesse sentido que o princípio de precaução
cimento público da palavra. Além do mais, exigir requer três importantes aspectos: 1) o engajamento
um respeito à natureza baseado no temor é ineicaz. de toda a sociedade em relação ao conhecimento da
Assim, é preciso “[...] estabelecer pelo debate pú- natureza que envolve determinada população; 2)
blico as regras do que é justo para que a sociedade os riscos eventuais que possam atingir esta mesma
imponha a todos os membros” (Larrère & Larrère, população; 3) as ações necessárias que possam
2001, p. 279). O objetivo não é encontrar uma solu- contornar os problemas potenciais, razão pela qual
ção perfeita, de maneira técnica e institucionalizada, esse princípio tem sentido político e ético. Político
mas sim organizar os processos de decisão conforme porque exige que as instituições se preparem para
o tempo disponível, prezando, acima de tudo, pela os riscos causados pela própria técnica, por meio
informação e pela participação da opinião pública, de políticas públicas; ético porque deve mobilizar
ou seja, pela aprendizagem coletiva. todo cidadão consciente de seu papel na sociedade.
Como airma Guéry (2012, p. 611), “a precaução

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é uma incitação ao melhor cenário, a um futuro Não é verdade que os problemas nascidos da
melhor, cultivando uma imaginação preventiva, técnica devem ser resolvidos por meio de soluções
complementar à inovação”. técnicas, porque a tecnologia contemporânea é a
De acordo com Larrère & Larrère (2001), ciência convertida em poder. A ciência apenas in-
na medida em que o agir técnico deliberadamente forma a técnica; ela não lhe impõe normas, razão
possibilita a transformação do conhecimento em pela qual a técnica torna-se um processo ilimitado.
ação, há um crescimento do poder e uma eventual Para Larrère & Larrère (2001), as proposições para
busca de solução para os problemas das populações a limitação da ação técnica não consideram o agir
atingidas pelos mesmos riscos que a técnica criou. humano de maneira isolada, mas sim situado na
Já a natureza, onde o poder é empregado, é vista co- natureza. Isso implica decisões que, para serem
mo algo desprovido de valor e que, sem a presença realizadas com base no princípio de precaução,
humana, traz sérios danos. A igualdade e a univer- precisam do conhecimento da ação do homem na
salização no tratamento dispensado à preservação natureza, e não apenas sobre a natureza. Portanto,
da natureza consistem em apagar as diferenças de a relação que Larrère & Larrère estabelecem é a de
posicionamento da humanidade entre as gerações “copertencimento”: o sentimento de que homem e
presentes e futuras. O homem deve ser visto como natureza estão próximos e são mutuamente afetados.
uma parte pertencente à natureza e que inluencia Nesse sentido, a ética ambiental pretende
o modo de vida dela. Portanto, a limitação da ação pensar a natureza como portadora de uma dignidade
técnica tende a reconhecer a ação do homem na moral, ou seja, de um valor intrínseco, mas também
natureza – e sobre a natureza –, estabelecendo uma entende que essa mesma natureza não está apartada
relação de pertencimento. A relação de copertença, do homem e, por isso, tem preocupação política. Por
baseada em tais princípios, pretende mostrar que essa razão, para Larrère & Larrère (2001), os princí-
o conhecimento transforma o mundo por meio pios do ecocentrismo estão fundados no pensamento
da ação, mas que este não é apenas um mundo daquele que é considerado o fundador da ética
que pode ser moldado ou manipulado de maneira ambiental americana: Aldo Leopold. Uma “coisa é
imparcial. Este mundo, ou seja, a natureza, é antes justa quando ela tende a preservar a integridade, a
de tudo um mundo valorizado, e não apenas algo estabilidade e a beleza da comunidade biótica. Ela
estático percebido de forma neutra. Isso signiica é injusta quando tende ao inverso” (Leopold, 1995,
dizer que a ética do princípio de precaução é, no p. 283). Isso implica dizer que o homem está imerso
fundo, ecocentrada, ou seja, fundada na relação de na natureza e dela faz parte todo ser existente, e
pertença, que não implica apenas uma representação todos os elementos dessa grande comunidade têm
cientíica do mundo, mas sim uma maneira de nele importância para o próprio equilíbrio da natureza
situar o homem e suas relações sociais, com base na (Callicott, 1989).
valorização da natureza. Por isso, não se restringe a
modiicações normativas, mas favorece, principal-
mente, mudanças comportamentais.

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5. Considerações inais compreendidas por meio da necessidade de controle
total das decisões por parte do dirigente político.
As contestações sobre a viabilidade e a inocui- Apesar de reconhecer a importância das deci-
dade do progresso, o qual está fortemente baseado sões tomadas em momentos de crise, Jonas as carac-
no poder da técnica e na garantia da ciência sobre teriza como um dever imposto ao homem, surgido
a segurança em relação aos efeitos decorrentes da de uma ameaça maior, razão pela qual tais decisões
utilização desse poder, indicam que Jonas (2006) são permeadas por um aspecto impositivo. Essa
e Larrère & Larrère (2001) situam-se no terreno solução política é controversa. Para esse ilósofo, o
da ética ambiental. Suas análises exercem grande poder sobre a decisão e a necessidade de aplicação
inluência no mundo contemporâneo e implicam um das ações voltadas para a preservação das futuras
posicionamento político que tem como inalidade gerações parte impreterivelmente do homem pú-
reorientar a maneira de pensar e almejar o progresso blico: é ele quem pode decidir sobre o melhor para
e, consequentemente, o posicionamento humano a sociedade. As medidas de Jonas são impositivas,
diante da necessidade de sobrevivência do homem uma vez que o autor não acredita na participação
na Terra. A grande pergunta que deve ser feita é: social para a resolução de questões coletivas, mas
Como superar as diiculdades da técnica, visando sim na eiciência de um Estado paternalista e, co-
preservar de suas catástrofes tanto as sociedades mo dito anteriormente, autoritário. As imposições
presentes quanto as futuras? Conforme vimos, duas devem ser acatadas tendo em vista o temor coletivo
possibilidades foram apresentadas: a de Jonas e a sobre um mal maior que poderá emergir no futuro,
de Larrère e Larrère. tendo em vista a ameaça do desaparecimento da
Jonas (2006) defende o princípio responsa- espécie humana na Terra.
bilidade. Para esse ilósofo, a diiculdade maior Assim, Jonas constrói um cenário baseado na
não é o fato de que o emprego da técnica tenha profecia do mal, espalhando um medo coletivo (que
modiicado e degradado a natureza física, mas sim considera “altruísta”), tendo em vista tratar-se de
o fato de a técnica estar manipulando a natureza um temor pela salvação da vida no presente, mas
humana. Assim, o homem tem perdido o controle também pela vida da humanidade que está por vir.
sobre a técnica e já não exerce a capacidade de Seus objetivos são possibilitar a continuidade da
perceber como ela tem determinado as formas de existência humana e impedir a qualquer custo que
organizações sociais e, principalmente, acarretado os males estendam-se às gerações futuras, ainda que
perigo à existência da humanidade. Por isso, Jonas as decisões do homem público não sejam acatadas
argumenta a necessidade de expansão dos limites com o consenso da sociedade.
da responsabilidade como cerne do agir moral. A proposta de Larrère & Larrère (2001) para
Nesse sentido, a responsabilidade pelo emprego da a mesma questão é de outra ordem: o princípio de
técnica passa a incluir as consequências posteriores precaução. Isso signiica dizer que o sentido de pre-
de sua utilização, em todos os níveis. Entretanto, servação da natureza e a garantia da existência das
as orientações para aplicação desses princípios são gerações futuras situam-se longe da manutenção de
uma perspectiva de natureza selvagem, preservada

114 SANTOS, A. C. dos; SOUZA, K. K. M. Ténica e ética ambiental: um debate entre Jonas e Larrère e Larrère.
em seu estado primitivo, sem qualquer interferência sível, em Larrère & Larrère este é compreendido
humana. O que se considera importante preservar é a como um bem comum, cuja gestão se dá mediante
capacidade evolutiva dos processos ecológicos, pois negociação. Neste ponto, é válido questionar qual o
só assim é possível proporcionar condições para a tipo de natureza se pretende transmitir às gerações
existência da humanidade no futuro. Além disso, futuras, com base na oposição de ideias dos autores.
essa proposta não compreende as ações humanas Ao tratar a questão ambiental de forma impositiva,
e a utilização da técnica unicamente sob o prisma pensando no meio ambiente como um espaço físi-
de seus efeitos negativos e destrutivos para o meio co, Jonas reforça a dicotomia homem/natureza, na
ambiente. As relexões políticas dos ecologistas medida em que as decisões não consideram a par-
expõem até que ponto os problemas do meio am- ticipação da comunidade local, ou seja, do homem
biente, ocasionados pela má utilização da técnica, em seu meio ambiente. A partir do momento em que
têm inluência nas condições de vida das populações se pensa na preservação do meio ambiente por meio
e reforçam as desigualdades sociais. da negociação, o homem é tomado como um ser da
No entender de Larrère & Larrère (2001), a natureza e na natureza, extraindo de sua convivência
dimensão ética dos problemas ambientais, a im- e de seus costumes os aspectos positivos que favo-
portância da publicidade do debate público sobre recem a preservação tanto da natureza física quanto
essas questões, a necessidade de diversiicação da humana. Ao se entender que cada comunidade
nas investigações cientíicas, a im de tornar mais tem uma relação peculiar com o meio ambiente e
sensíveis as limitações da ciência, e a coniança que este não é neutro, o meio ambiente passa a ser
no aparato tecnológico são aspectos essenciais na valorizado e percebido de forma diferente. Assim,
resolução dos problemas sociais e ambientais, de as relações não podem ser homogêneas.
modo a se ter clareza de que o homem deve estar Por im, a principal contribuição de Larrère
contemplado na natureza, e não fora dela. e Larrère para os propósitos deste artigo, além do
Se Jonas propõe a “heurística do medo” como debate com Jonas, está no fato de que os autores
ápice de seu princípio responsabilidade, o que acaba defendem as implicações do poder da técnica para
por caracterizar uma ética religiosa, de abstinência além da perspectiva dos impactos na natureza física,
e de sacrifício, Larrère & Larrère propõem o debate de modo a possibilitar, então, a relexão sobre os
público para seu princípio de precaução, no qual a valores e os objetivos da sociedade, bem como sobre
participação social é estimulada e a informação é as consequências negativas da coniança imputada
fundada na ética ecocentrada, que denota a maneira exclusivamente à técnica na resolução dos proble-
de o homem situar-se no mundo com suas relações mas ambientais. Essa relexão culmina com a busca
sociais, considerando aí a própria natureza. Essas por uma nova ética que possibilite a utilização da
ações visam evitar as aplicações absolutistas no técnica como aquilo que ela realmente é, ou seja,
tratamento das questões ambientais requeridas por um meio, e não um im em si mesma.
Jonas, conforme analisado neste estudo. Portanto, os três autores estão de acordo quan-
Enquanto em Jonas o meio ambiente é carac- to ao fato de que a promessa da tecnologia moderna
terizado como um patrimônio homogêneo e previ- converteu-se em ameaça e que os pressupostos da

Desenvolv. Meio Ambiente, v. 45, p. 105-116, abril 2018. 115


ética tradicional já não se mostram suicientemente Guéry, F. La précaution comme souci. Revue de méta-
adequados para orientar a situação. No entanto, physique et de morale, 76, 611-621, 2012. doi: 10.3917/
rmm.124.0611
entram em conlito quanto às perspectivas éticas
que se impõem e às circunstâncias práticas do ho- Larrère, C.; Larrère, R. Do bom uso da natureza: Para uma
ilosoia do meio ambiente. Lisboa: Instituto Piaget, 2001
mem, ou seja, quanto à operacionalização desses
(Coleção Perspectivas Ecológicas).
mesmos princípios. Jonas volta-se para a dimensão
político-paternalista presente em seu princípio Leopold, A. Almanach d’un comté des sables. Paris, Aubier,
1995.
responsabilidade, enquanto Larrère & Larrère
orientam-se na direção próxima ao republicanismo, Jonas, H. Por que a técnica moderna é um objeto para ética.
Tradução Oswaldo Giacoia Júnior. Natureza Humana: Re-
pressupondo o exercício da alteridade, da cidadania vista Internacional de Filosoia e Práticas Psicoterápicas,
e da participação comunitária, por meio do princípio 1(2), 407-420, 1999.
de precaução. Jonas, H. O Princípio Responsabilidade. Rio de Janeiro:
Se entendermos a crise ambiental como con- Contra ponto Editora, 2006.
sequência da técnica que foi posta a serviço do
Semde, C. Éthique et politique chez Hans Jonas: pour une
desenvolvimento econômico, precisamos compre- philosophie politique de l’environnement. Paris: l’Harmat-
ender que a resposta a essa mesma crise não pode tan, 2015.
ser apenas técnica, muito menos econômica. Essa
resposta passa por outros modos de valorização da
natureza que, no fundo, passam por uma preocu-
pação conosco, mesmo porque nós não estamos
sós no mundo. O perigo do desaparecimento não é
só de determinada espécie de animal ou de planta,
mas da própria condição humana. É esse fato que
nos impõe repensar nosso lugar no mundo atual e
pensar nas gerações futuras, se quisermos deixar
algum legado a elas.

Referências

Callicott, J. B. The conceptual Foundations of the Land


Ethic, In: Defense of the Land Ethic: Essays in Environ-
mental Philosophy. Albany (NY), State University of New
York Press, 75-100, 1989.
Guillaume, B. L’esprit de la précaution. Revue de méta-
physique et de morale, 76, 491-509, 2012. doi: 10.3917/
rmm.124.0491

116 SANTOS, A. C. dos; SOUZA, K. K. M. Ténica e ética ambiental: um debate entre Jonas e Larrère e Larrère.

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